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07 a 09 de Maio de 2012
Este artigo volta seus olhares ao entendimento e alguns autores da nova história
cultural, assim como a Revista dos Annales, sobre como se escreve a história, história
essa não linear, narrativa ou factual. Esse novo pensamento não concorda, como até o
século XIX era gerido, com uma ciência inquestionável, pretendendo o revés dessa
história que toma como critério a verdade dos fatos, que fazem história pela análise de
documentos tidos como verdadeiros e autênticos.
Questionar os fatos é o que propunham inclusive o que se entendia por
documento até então. Pretendia-se interligar diversos campos da história, da vida do
homem, abrindo novos objetos de investigação, que não eram pensados. As fontes
tradicionais usadas pelos historiadores se modificam, trazendo outras reflexões
metodológicas, criando assim, diferentes noções de temporalidade no fazer
historiográfico. Com todos esses aspectos a palavra do século XX foi “crítica”, pois na
criticidade que se tem a imprecisão no qual a história se movimenta.
Na obra O Mundo como Representação de Roger Chartier (1991), o autor aborda
as noções de representação, que se pode notar, enquanto historiador, sua limitação, ou
seja, de onde você fala advém de onde você delimita suas leituras. Cada documento esta
imbuído de representações (individuais e coletivas), mas que é uma composição social,
no momento em que cada período o pesquisador constrói representações, baseado em
seu universo. Neste instante diferenciamos história de memória, história atribui sentido
e a memória a intenção de preservar.
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“[...] a questão essencial, que na minha opinião, deve ser colocada por
qualquer história do livro, da edição e da leitura é a do processo pelo o
qual os diferentes atores envolvidos com a publicação dão sentido aos
textos que transmitem, imprimem e lêem. Os textos não existem fora
dos suportes materiais (sejam eles quais forem) de que são os
veículos. Contra a abstração dos textos, é preciso lembrar que as
formas que permitem sua leitura, sua audição ou sua visão participam
profundamente da construção de seus significados. O “mesmo” texto,
fixado em letras, não é o “mesmo” caso mudem os dispositivos de sua
escrita e de sua comunicação.” (CHARTIER, 2002, p.62).
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Para este autor, não é possível copiar literalmente a ideia de uma obra, pois a
cada análise de leitura, mesmo ao reproduzir já produz algo novo, diferente; sendo um
processo novo, criativo, inventivo. Quem copia estabelece uma leitura que personifica
essa outra leitura, pois é subjetiva e cada indivíduo, levando em consideração suas
características, se apropria diferentemente, “[...] como é que um texto que é o mesmo
para todos aqueles que o leem pode tornar-se um << instrumento de lid o contenda a sus
lectores para ponerlos em diferencias, dando cada una sentencia sobre ella a sabore de
su voluntad>>?” (CHARTIER, 1990, p.122).
A dinâmica de leitura e escrita tem suas contradições, comenta Chartier (1990)
que
Nesse sentido, está à mercê da liberdade que os leitores dispõem. Por isso a
importância do historiador em identificar nas suas pesquisas a diversidade dos escritos,
verificar sua época e entender que autores e editores de tal período tentam impor uma
perspectiva a quem lê. Algumas dessas intenções são explícitas, mas algumas implícitas,
fazendo com o leitor tome essas verdades e encontram-se inscritos no texto, pois não se
desprendem das suas relações.
Deve-se levar em conta o contexto no qual estamos e o qual estava o texto no
qual nos deparamos não se pode julgar o passado, esse é um grande equívoco do fazer
historiográfico, em querer explicar o dia de hoje voltando ao passado, como já
mencionado, é uma reconstrução constante se pensado que a cada olhar para a história,
uma nova intenção e sentido percebemos. Em cada época há um motivo cultural,
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econômico, social (entre outros) do fato proceder da forma como ocorreu, não cabendo
um julgamento.
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Mais do que saber o que a história diz de uma sociedade, é preciso conhecer
como funciona dentro dela, o que permite e o que proíbe este lugar, e é na escrita que se
cristaliza essa representação, pois é nesta que sabemos de onde o autor fala, de que
época ele se pronuncia, verificando na escrita, mais características de sua época do que
a época em que ele se volta a falar e analisar.
A juntura da história com um lugar é a condição para um exame da sociedade,
hospedando o discurso em um não lugar, coíbe a história de falar da sociedade e da
morte, quer dizer, veda-a de ser história.
Na pesquisa, para Certeau (1982), é na possibilidade de erro, na transformação
dos limites em problemas solucionáveis que deve se embasar. Vai ao contrário dos
modelos seguidos no passado, onde tinha como princípio os vestígios, como
manuscritos (que eram limitados) e usava-se para explicar toda a sua diversidade,
tentando unificar em uma única explicação dita coerente. O valor dessa totalização
dependia então, da quantidade de informações acumuladas. Como sequela
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“[...] o lugar que ela destina ao passado é igualmente um modo de dar lugar a um
futuro.” (CERTEAU, 1982, p.93).
Contudo o presente trabalho prontifica-se a acentuar a importância do fazer
historiográfico, sua posição enquanto personagem desta história. Tal particularidade que
caracteriza não uma história pronta e acabada, mas apropriar-se dos vestígios de uma
história, acontecimento em que ele estabelece olhares.
Por isso sua pertinência, principalmente pra nós, estudiosos da História da
Educação, por ser um fato subjetivo, em que se mostra pelo discurso de suas
problematizações e não de soluções, uma não padronização ou busca de linearidade, ao
contrário, caminhar para problematizações e tensões a serem instigadas, investigadas,
postas à prova, estas representações que movem a história.
Responsabilidade tal do historiador, pois nas suas representações escritas, é que
ficará como meios de apropriação de sentido pelos indivíduos é a memória da qual vai
ser constituir história, olhares nunca iguais, mas escritos sempre únicos, que
possibilitem variadas interpretações das particularidades, desmistificando noções de
verdades, causas ou consequências. Refazendo o sujeito, o autor, que em cada fim de
obra restaura-se. Responsabilizando-se tanto pela sua mudança, a da obra quanto do
leitor que faz suas próprias indagações, apropriações e o que ele toma como entendido,
não sendo, o que a princípio o historiador quis que fosse interpretado, por isso ter essa
liberdade, dar margem à novas sugestões e produções, nada tido como acabado e pronto.
REFERÊNCIAS
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CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estud.av., Abr 1991, vol.5, nº11,
ISSN 0103-4014.