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PERIÓDICO IITfEl.ll.IO.
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POMPREHENDE OS N.« 73 A 84
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JL*- SEMESTRE DE 1 8 4 8 ^
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aris© Pm®*?©
TYPOGRAPHIA IMPARCIAL DE BERNARDO XAVIER PIM0 DE SOUSA,
1848
im-*, 1
ASSIGNANTES
que se dignarão subscrever para esta folh<j(
no semestre próximo passado.
Os Illms. Srs.
Bernardo Jaciiitho da Veiga Campanha
C ti mi Uo Josc de Faria (vigário) Santa Anna de Sapuzáhfi
Domingos José Ferreira Gualda Forc/uim
José Ankmio da Costa Minas Novas
José Francisco das Chagas Patrocínio
José Ijmrcnçn Estaitisldu Carmo da Itabira
Marciano A Irares Pereira Ubd
tVenccsUío Pereira de Oliveira Curvclo
RECENSEAMENTO DA REDACÇAÕTRIENNAIJ
DG RECREADOR MI2EIR0.
E S C H O L I O AOS 6 V O L U M E S DO
RECREADOR MINEIRO.
laçaõ , ainda que havia tanto aggravo. quellas povoaçSes , vivendo tedos mistu-
Eraõ os complices mais freqüentes dotes rados , mas desunidos ; c querendo Ueo*
delictos os Paulistas .* porque como vi- castigal-os, permittiu que no arraial do
viaõ abastados de Índios, que tinliaõ tra- Rio das Mortes mata-se um Paulista a
zido do sertaõ , e de grande numero de um forasteiro, que vivia de uma pobi**.
escravos, que com o ouro tinhaõ comprado, agencia. Como os os ânimos estavaS taS
se fizeraÕ notavelmente poderosos, che mal dispostos, e eraõ contínuos os aggra-
gaudo alguns a tanta soberania , que fol- vos que recebiaõ os forasteiros, deter-
iando coirr os forasteiros os tratavaõ por vós, minarão unidos vingar com o titulo do mor»,
como se fossem escravos; e porisso eraõ to as próprias injurias ; e ainda que com
delles maiores as queixas, ainda que em diligencia procurarão ao matador, com tudo
grande parte nasciaÕ dos Mamalucos, que elle, ou estimulado da própria consciência,
tinhaõ em casa, sem que talvez cheiras ou porque o leservava o Ceo para algum
sem à noticia dos amos os seus desmanchos. desino de altíssima providencia, se au»
Dava oecasiaõ a estes insultes o or- sentou com tal pressa, que 0 nao po-
dinário modo de viver daquelles tempos; derão alcançar. A este, ao p-ieoer,pe»
porque como o intento de muitos, prin- queno açcidenle se a juntou culro, com
cipalmente Europeos, era adquirir 11a- o qual se perturbarão as Minas ; porque
fjiiellcs lugares o que haviaõ de gastar estando no adro da igreja do arraial d»
nos povoados , entravaõ como .Jacob pe . Caeté Jeronimo Pedroso e Júlio Cezar,
regrinos . e encostados a um bordão , o naturaes de S Paulo, succPtleu passar
qual, ainda que lhe servisse para o al- acaso um forasteiro com uma clavinav •
livio do corpo, de nada servia para a re- e querendo elles tomar-lha , o descom- ,,
putação da pessoa , a qual só pendia em
pu.zeraÕ brotando naquellas palavras, qiw'1
tempos taÕ mui ordenados do estrondo das
subministra a cólera na falta da razaõ. Q
armas, e multidão dos pagens. Adver-
tiao neste descuido algumas pessoas, e Bem sei que o auetor da A^merica Pori
entre ellas um religioso Trino , cujo solar tugueza, informado deste caso, escreveu;!
era a illustrissima casa de Águas-Bellas, que elles a queiiao furtar : mas eu naõ .
e condoídos dos muitos aggravos, com que me atrevo a pôr este labéo em sujeitos,
viaÕ ultrajados muitos homens de bem . a quem o nascimento dei**, mais altos brios.
começarão a persuadir aos sujeitos, que Bem pode ser que na casa de algum del-
tomavaõ o officio de conduzir escravos, les falta-se alguma clavina , que fosse em
que d'alli por diante entrassem com elles tudo similhanle,e que o forasteiro a oom-
armados: para que, indicando o lustraso prasse ao mesmo que a furtou .* irias de
das armas o esplendor da pessoa, se d i - qualquer sorte que fosse o caso, o eerto
tassem os desatinos, que sem remédio é, que estando presente áquelle acto Ma-
tanto se lamentavaÕ Como esta dontrina noel Nunes Vianna, forasteiro poderoso,
«se fundava nu experiência , pois se tinhaõ e conhecendo a inmcencia do injuriaUo,
por grandes e de respeito os que tinhaõ lhes estranhou o meio e o modo com qfíe
quem os fizessp respeitados , começarão queiiaõ haver a arma. Como estavaõ ai-»
d'alli por diante a entrar armados, c a fazer- terados os ânimos, seguiraõ-se os desa-
se poderosos , adquirindo com os cabedaes fios de. parte a parte, ainda que por en-
e lespeito , de que íanló necessitarão. tão com alguns pretextos se torrarão a
Neste Miberavel este tio se acbavftõ 2». rejeitar pelos deis aggressorcí*. Mas com»
ficou mal apagada aquella fais-a, comt-
O RECREADOR MINEIRO; I.-;I
choque . por julgar o partido comrario com ticía dos distúrbios das Minas, determi.
I
poJer superior ao sen , voltou a dar oonta noii,- ir em pessoa socegal-os , elegend»
a Bento de Amaral Era csie sujeito pou- i a a sua guarda quatro companhias pagas.
co soflíido . e cheio de cólera partiu logo Chegou ao Rio das Mortes, onde se
a buscai-os. DiverliaÕ -se elles naquella deteve algumas semanas ; e como neste
occasiaÕ com o exercício da caça em tempo se mostrasse inclinado ao partido
uma dilatada campina, que cercava um dos Pauistas, ti atando mal aos forastei-
capaõ , ou pequena matta, onde tinhaõ tro , deraõ elles logo aviso aos outros
os seus alojamentos, e sunponuo que n arraiaes , dizendo que o novo Governador
cabo era o mesmo Amaral a quem el- carregado de correntes' e algemas vinha
les conheciaõ por lira*'o e cruel , se re- a castigal-os , provando o seu pensamen-
tirarão á matta com animo de resistirem to com as companhias, r-ue pára sua gu«-
Á fúria dos forasteiros, que os buscavaõ arda tinha levado. Alteiaraõ-se' tanto com
Tanto qiíe estes os viraÕ recolhidos, cer- estas vozes os forasteiros, que unidos
carão a malta • mas Ibraõ recebidos com buscarão Manoel Nunes Viana, para se
uma descarga das clavinas, que empre«- opporeni á entrada'de seu legitimo Go-
gando a sua violência nos sitíadores, ma vernador. Com esta determinação foram
iaraõ logo um valente negro, e a min- esperal-o ao sitio das Congonhas,'distan-
tas pessoas principaes deixarão feridas te do Ouro .Preto quatro légua,, e avis-
Corno os forasteiros os naõ podiaõ of*- tando a casa onde estava, se lhe apresen-
ftndter, e só pertendiaõ tirar-lhes as ar- tarão cm um "alto em forma de batalha,
mas-, e naõ as vidas, persi-tiraõ no cerco pondo a inlanteria no centro, e a ca-
lima noite c um dia despachando logo para 'vallarla' nos lados
'o- arraial os feridos para serem curados Tanto que os viu D Fernando, des-
No dia seguinte mandarão os cercados um pachou um capitão de irifanteiia eonl al-
boletim com bandeira branca , pedindo bom gumas pessoas mais, pára que Roubes-*-
quartel, e promettendo entregar as ar« sem de Manoel Nunes Viarinii, que ca-
inas. Concedeu-lhes Bento de 'Amaral o pitaneava ó exercito', qual era o intento
que* pediaõ . mas faltando como pérfido e
daquella acçaÕ Recebeu Manoel Nunes
cruel, tanto qne os viu sem armas, deu
o enviado e depois de ter com elle al-
ordem em alias vozes para que os ma-
gumas conferências, fo"**, acompanhado
tassem ; e sem mais conselho, acompa
nhadó dos escravos e ânimos mais vis da- de alguns homens do seu partido, fallar
quele exercito, ainda que com pena e a D Fernando; e estendendo-se a ,pra»
reprehensaõ das pessoas de maior sop** tica a uma larga hora, voltou para o posto
jrosiçaõ e qualidades, que nelie se acha que tinha deixado Desta conferência se
vaõ fez um tal estrago naquelles mi - seguio dar volta ao Rio de Janeiro D. Fer-
seraveis, que deixando o campo'coberto nando , e Manoel Nunes conli.iuando com
de mortos e feridos foi causa de que ainda o seu governo creou os ministros e ofíi-
hoje se conserve a memória de tanta (vi- ciacs, que julgou necessários para o exettt*
lania, impondo aquelle Jogar o infainc creio .das armas e justiças. Mas julgando
titulo de Capaõ da traição os homens de maior capacidade que a»
quclic governo naõ era seguro , nem po-
Governava neste tempo a Praça do Rio dia durar muito , enviarão a Fr. Mi-
de Janeiro D Fernando Martins Masca- 4cc! Ribeira, Religioso de N, Senhora
renhas de Aleauastro, o qual tendo jig- das Mercê» coai cm ias para Antônio dé
O RECREADOR MINEIRO. I17*
>
Albuquerque Coelho, que tinha chegado — único amigo de quem não tem1 amigos
v s de Lisboa com o governo d" Rio de Ja
s ibre a terra — que exiende ao moribao-
neiro, pedindo-lhe, que os fosse gmer-* d a;|uella cruz que tantas vezes tem re-
liar , e 1 Ar em paz Em quanto elle faz cebido o derradeiro suspiro do honum na
"• soa viagem, demos uma volta a S hora do passamento, e aquella mão que
Paulo, para darmos noticia do que Ia é a uliima que se aperta ao despedir do
«e obrava. mundo, já diante da eternidade ! — de-
pois da missão d'este honrem, a mais -u-
( Continuar-ee-ha ) bhme de todas as missões sociaes é a do
m;dico
Sacerdote do fogo sagrado da vida, o
medico, como o sacerdote elmstSo. tem
O MEDICO deveres a cumprir igualmente nobres e i^
gualmente sublimes. Diante do doente deve
1. desapparecer para elle toda a idéia de ir.»
tecesse pessoal; deve sacrificar todas as
Lâ pios haute mwsione de l'homme, suas conveniências, a sua reputação mesmo:
aprés ccllc «lu xervice dus atileis , est, depositário dos preceitos da arte de curar
délrn prelre du f<:u sacro du Ia vie , não ha para elle descanço nem no leito ,
ditpensatuur des pius bcaux dons de porque a qualquer hora deve elle correr a
Diou , et maitrc der torce» ocçultai toda a parte onde ouvir um gemido do ho-
de Ia natrue, c'e»t-á dire, d'6 rc Me» mem "que soffre.
decin. IlupíLAfiB — AGhorismet. Apparece um contagio que caminhando
de cidade em cidade vai em cada um de
Depois da missão do homem que , rom seus passos esmagando milhares de exis-
pidos os laços da pátria e de família, corre tências ; que fazendo desapparecer, um
por toda a pai te onde, ha uma alma que por um , todos os membros de uma fa-
resgatar para o Cèo *. que, alfrontaiido as mília deixa apenas ficar, no seu leito de
iras de povos bárbaros e selvagens, vai morte, um que viu morrer os pães e de-
sereno plantar no meio ri'elles a cruz du pois dos pães os irmãos, que viu morrer a
Redemptor; e só , erfl paiz desconhecido, esposa e depois da esposa os filhos j cuja
sem esperança de gloria, ao som do rugir fronte amarcllada já está cingida pelo *ni-«
fio tigre, levanta a Deos uma oração pe- dario da morte: — um , que ficou sò, sem
los homens; —- que , desgarrado do mun- esperanças de soecorro, sem ter ao menos
do , se sujeita a uma yida austera de so uma creaturn humana que o ajude a mor-
lidão para ir, no alto dos. Alpes, appa- rer porque todos o fogem e todos o aban-
recer como um anjo ao desgraçado, cujo donão horrorisados pelo contagio ! , . . .
corpo cnregcliido com o frio dormia já , dous homens ha que caminhão direito para
sobre,, osm leito de neve, um, somno d'onfle o agonisante, porque ha naquelle homem
nunca havia de acordar: — depois (|a, mis- dous elementos que precisão ambos de soe-
são d'este hoineriV^que inclina a sua Irou» corro, •—- o corpo,, de saúde e de vida • a
te. encaneoitla ná..virtude e . na piedade ., alma , de consolação e de esperança
sobre o leito do pobre, tomo do rico , d'> Grande deve de ser a coragem do me-
grande como do pequeno ; a qiicm se con- dico que assim caminha sereno' para o eon»
f i o es segredos mais' intimo? do curarão tagio !
O RECREADOR MINEIRO
*b
eom elle : aqui só se tem que fazer o chris-voava a igreja de mil formas mal .de - f
Uo „ senhadas que, apparecendo de relance,
E o ohrislio entrou na igreja para figuravão á imaginação do homem o as-^
tinir a sua á voz do sacerdo e que en- pecto de phanlasmas.
toavu as sublimes palavras da oração pelo- " E' a luz a luetar com as trevas —-
fiiiados;—ultimo serviço que o medico pôde murmurou elle — como o homem a quem
prestar ao seu doente. o deslin-j vai desenrolar a ultima paging,
Se este homem não tivesse cumprido da vida, a debater-se nos braços da)|
morte*
cs seus deveres, se tivesse conimétlido al«- - *
fumu negligencia ou descuido , é impossí- Mas n'um momento eu posso fazer rév
vel que a voz da consciência lhe não mur- viver essa luz amortecida .esse fogo quan
murasse lá dentro — Alli vai o cadáver cio extineto,'—não poderei lazer o mesmo
homem que tu assassinaste ao fogo da existência que se apaga ? não.
O medico nada tem com os tribunaes poderei
«ei soprar
soprar aa vrua
vida naqueue
naquelle corpocorpo que'que
dos homens ; do que se passou entre ei» assimii escorrega para o túmulo ? r,ão ha-
le e o seu doente ninguém lhe pede con«- verá alguma esperança para ella ? J,
v
tas senão Deus e a consciência Meu ueus // porque
leu Deus porque fizeste o soffri»'
Que será pois do medico que não c i ê / meu to tão grande e a medicina tão pe>»
que não pensa que os homens que elle quena! ?
precipitou na sepultura são outras tantas E o medico saiu : a idéia de salvar o
testemunhas que hão de ser chamadas para doente lhe absorvia todo o pensamento .-'
a sua coiidemnação no dia tremendo do saiu a consultar os livros escriptos por
julgamento ! homens, médicos como elle, que fingão
Que será do medico sem consciência / legado aos seus collegas pela imprensa 9
que não teme que as sombras das suas frueto de uma experiência de muitos annos.
viclimas venhão persegui Io na hora ter- Ahi o tendes então-:—o medico,para
rível do remorso! quem o curar é um fim e não um meio,
que oomprehende bem a sua missão,è
111. que conhece quaes farão as obrigações
• que oontrahiu quando deixou que com a
coroa de Hypocrates lhe ciogissem a fron».
".. . ne songe jamais â toi te — a trocar o repouso pela fad.iga, o
mais penseuniquemenlaux somno pela vigília, porque sabe ^q-ie é *
inalades. Uura-anD.
um dever seu esgotar todos os recursos,,
da arte e porque havia de ,empregar to-
O corpo foi entregue á terra. O me- dos os meios que a arte lhe fornece a-
dico ficou sò no meio do profundo silen- inda que nisso sacrificasse a vida : ,— para.
cio do templo, e o seu pensamento se elle todos os affeotos jfo coração lhe desi-
volveu» então para o doente cuja salvação appareoerão diante de um affecto, fará**
lhe estava confiada. elle não ha naquella hora no mundo se-
Em uma lâmpada pendente do tecto não o medioo e o doente .. . ,
briixiileava uma luz que espalhava em torno Ao jer as paginas do scík livrg as -se-j
uma claridade vaga e incerta. guintes reflexões jhe .ôqcprrJiai*. ., ' '
Ora quasi que se extitiguia de todo, 0
»» ' i' • *»* •- * *.-ií»-i»-f* Ç'-«l.. . 1 >*F
•ru, conto em um derradeiro esforço, po-a ! „ Revolver, uma por uma , Todas efU^n
paginas, e Ter por Ioda a parte, a par'
*-76 O RECREADOR MINEIRO
QUADRO LITTERARIO.
Litlcrario» e «cientificou.
—Jornal do CommereiQ*
—Mercantil.
^Diário do Rio*
-~Courrier Brèsilien.
V
Poli lisos.
-Sentinetta 4a M.onarchia.
~->Brazil.
Social.
—Tempo,
-~Brado do Amazonas.
tiSo " 0 RECREADOR HINEIRO.
Kictlieroy —O Socialista.
uj) Governisla, Provinciano.»
Campos • ._0 Monitor Campista.
~0 Commercial Campista.
Políticos.
Gojaz ~ 7 —Correio.offlcial.
-O Goyano. ^
S. Paulo , . jQ Governista.
—O Censor. ,«.*,
Porto Alegre —-O Imparcial.
. —O Çommercio..
Rio Grande _.; JO Rio Grandense..
ScientiGcos e litter.no».'
-*0 Mercantil.
~X) Çommercio.
-Gazeta commercial.
—Correio Mercantil.
Políticos,
***© Guaycurü.
OCabalisla.
r~A Sove Ia.
Caxoeira. . —O Brasileiro.
0'RECREÁlf0R MIN EI R d •1.81
Poliliccs.
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BBfia.aBã-i
' LEVANTAMENTO EM MINAS GERAES de de religioso e patricio grave pacificasse
NO ANNO DE I 8 0 3 i os ânimos, e de.«fizesse as tropas-que ik
(Continuação do n.* antecedente) estivessem alistadas, armando-u para •***<•
Escandalizados os Paulistas da aiortan- c m umas cartas que dizia serem d'EiRei,
dade rr que por ordem de Amaral se tinha nas quaes se prohibia aos Paulistas o sa-
feito no Capaõ da Traição, se'recolherão turem de S. Paulo armados. Quiz (ambo-ru
4 S. Paulo com animo de se despicarem; com os raios das censuras impedir o ea«ou«-
e convocados os moradores, lhes propu- n lio, e atalhar os damnos que se teria-
zeraõ a desgraça sucoedida, as fazenda» ao, o grande Prelado D. Francisco de
e reputação perdidas l e , declarando*.ti es S Jeronimo, mandando publicar um mo -
juntamente com graves^razões a tençaõ nitorio : pois naõ era bem que deixasse de
que tinliao de se vingarem, lhes pedi- concorrer a igreja para a desejada paz.
rão adjutorirJi, artimando-os á empreza core Mas como todas estas diligencias acharão
a elficacia que costuma subministrar a hon- oi ânimos taÕ mal dispostos, só poderão
ra gravemente' òffendifla. Foíaõ ouvidos esfriar o fervor de alguns , que mais te-
com altençaõ, e em breve tempo alista- mentes a Deos , e reverentes ao Rei, dei-
is.5 mil e trezentos .hamens , os quaes por xarão de seguir as bandeiras dos apai-
conimiim consentimento elegerão para go- xonados, os quaes antes de emprehendereiii
vernar' a todo o exercito a Amador Bu- a jornada, imitando aos bons catholicos,
eno da Veiga, tJaro.dc a outras pessoas de quizeraÕ implorar o favor divino, mandan-
major suppo,|lçaS os postos inferiores. Fo- do oantar uma missa, á qual assistiu o
..inenyitaõ a empreza alguns Iheologos, novo Governador e seus «equazes.
daodo por justo o titulo da guurra, e Partirão finalmente em direitura de Ta •
naÕ faltou quem esqiitisjdd da paz que bate, para se incorporarem com mais al-
deixeu Christo cm pltruitonio á sua igreja , gumas tropas, que de outras partes es«
do mesmo púlpito os animou á . jornada peravaÕ, e caminharão com tanto vagar,
NaÕ se obrava isto em S. Paulo com que em quasi vinte dias só vencerão o
tanto segreda, que naõ chegasse logo ao caminho , que. em cinco dias coinmoda-s
Hifr.de Janeiro a noticia desta desordem • mente se pótle andar. Nesta villa se de-
e querendo atallial-a Antônio de Aliou- tiveraõ lar«*o tempo , esperando que se u«-
-uci*q.ue Coelho , que jii tinha tomado pos- nisse a gente, que pouoo a"pouco ia con-
se do Governo,despachou a toda a pre* correndo ; e querendo Deos dar-lhes a co-
a ao Padre Simaõ de Oliveira, da Com- nhecer o pouco que lhe agradara a jor-
•.anliia.de .Jesus, para que com autonóa-. nada, pcnnittiu que se abrisse nó convento
! 1 Sò O RECREADOR MINEIRO.)
tes , onde os forasteiros, avisados pelo Al- hir do fortim dezeseis cavaüos; os quar*
buquerque , tinhaõ formado para sua de— encontrando ao sahir aos Paul>las, th«>«.
fensa em uma eminência, que distaria das deraõ uma valente car«ja. e«os obriçaiaõ
canas da povoaçaÕ um tiro de pedra, um a buscar as casas, junto ás quaes se tra-
fortim , no qual emavaÕ recolhidos; e a- vou a escaramuça, ainda que com par-
vistando estes as primeiras fileiras do ex- tido muito desigual, porque os Einl.nábns
ercito , que descia de uma serra, sabiraõ pelejava© em campo razo e a peito dos,
a recebei-os com animo determinado a paz, coberto com alguns Paulistas, que dandu
e á guerra: e como naõ admittirnõ os a conhecer o feu valor se deix-nnõ ficar
Paufistas as uondiçõe-i da paz, travarão no campo, relirandfj.se os mai«« ás casa-,
uma brava escaramuça, que apartou a donde a peito coberto e com pontaria cer-
noite , sem mais perda de parte a parte do ta damnificaraõ muito aos Embuába». Ki-
que a de alguns cavallos, ficando os Pau- gnalou-íe nesta oceasiaõ Fiancisco Bircnr,,
listas senhores das casas e os Embuába. re a quem acompanhava um filho de poucos
colhidos no seu fortim , o qual cercarão Io annos, mijo valor mereceu especial me-
go os Paulistas continuando por quatro dias mória ; porque ferido com uma bafa em
e noites as baterias com vario0 suecessos, e um braço, respondeu ao pai, que o re?
talando os gados, mantimentos, e tudo o prehendia de ter saindo ao campo, que
que podia satisfazer a sua ira, e causar para taõ generoso succe«so tinha entradq
tlamrio ao partido contrario. na peleja. Signalou-se também Luiz Pc-
Cercado o fortim, mandou o Governa- droso, e outros; e finalmente chegada a
dor Amador Bueno guarnecer as casas noite, e mortos quasi todos os Êmbu«òbn» ,
com alguma gente; e para que melhor apartou o escuro a contenda
podesse attender ás necessidades dos oer» Acabado o choque , mandarão os Pau-
cadores, se retirou a uma alta atalaya listas , que guarneciaõ as casas, pedir ao
com o resto das tropas. De noite inten Bueno, que eslava na atalaya com a maior
taraÕ os cercados queimar as casas, c naõ parte do exercito , munições ; noas aclrnn»
faltarão logo cinco Embiúbas , que, fin- do-o os mensageiros com animo de levan-
gindo»se Paulistas fugidos do forte, se a tar o cerco, e retirar se, ou porque o
•limassem i empresa , e pegassem o fogo, medo os inciiava áqurlla resolução, ou
mas com taõ mau«*successo, que conhe- porque se tinha mettido entre elles a dis-
cendo os Paulistas o engano , lhes tirarão córdia, voltarão para as casas, desani-
as vidas; e para evitarem novo accidenle mando muito com esta nolicia aos que as
se conservarão d'alli por diante ambos os defendiaõ. Naõ faltarão logo alguns, a
partidos em vigia. Ao amanhecer torna- quem parecesse bem a resolução, e qui-
TaÕ ás armas, e mostrou o suecesso que zessem seguir o exemplo ; mas Luiz IV-
na mesma noite tinhaõ cuidado os Pau- droso, sentindo o desmaio , lhes fez uma
listas em queimar- também as casas do pratica, dizendo que estando a victoria na.*.
forte-, porque de manliãa viraÕ uma gua» mãos, seria cobardia deixar o i.iimigo já
rita fabricada por JoaÕ FalonÕ cm um lo- prostrado, e quasi rendido; e que auseiir-
g«ir, que descortinava o interior do forte, de tandor-se to companheiros, caberia maior
donde lhos lançarão tantas freehas acceza* gloria aos poucos que vencessem : que
•obre as casas, que eraõ de palha, que a- para elles vencerem naõ eraõ necessários
teando-se o fogo, foi mui diificil apagai o. mais, pois os tinha ensinado ja a expe
Mandou tanibcn Ambrosio Caldeira «a rienc*a que sem elles tinhfo atj* então per
I iS8 O RECREADOR MINEIRO.
de mil e tresentos homens , que do Ouro lillcnl eílava a esprciln cerro «ot
Preto marchavaõ a soecorrer os sitiados, atirador rm sri liw lia perdida , que.
tinhaõ (ugido naquella noute sem serem espera o morr.cnlo de surprender uniu
.etitidos. vedela do inimigo. Escondido 110 an-
Foi voz constante que ao voltarem os gulo de «ma porta cocheira , ajfiiar
Embuábas paro o fui te aeliaraõ a S An- dava alguma cousa eom a paciência
tônio em outro higar eom uma bala en- natural aos an antes e que sempre
gastada ro cordaõ, e a uma imagem de
acaba por lhes fornecer a occauiao
N. Senhora com um milagroso suor ; e
que agradecido» ao seu bemfeitor o le- que proouraõ e da qual elles saiuIU
varão enuprocèssBÕ , e o eollcoarüõ com aproveitar-se. Quasi defronte do i c -
grande júbilo- no seo antigo lugar Km canto , em que Leopoldo estava e s -
quanto porém se celebrava no forte a condido, elevava-se uma linda casa
na6 esperada liberdade, caminhavaõ para que o manctbo n.ô perdia de vista :
S: Paulo o* deseitores eom tal pi essa , a poiln d*«s(a casa abriu-se, e sabiu
qne chegando poueo depois a? tropas, que um oilicial de lanceiros, dinda 11 ôço,
vinhaÕ soecorrer aos sitiados , ja naõ os vestido cem o sen grande uniforme r
encontrarão, ainda que leiader, da fuiia Leopoldo d eixo 11-o passar ficando
milhar lhes seguirão por oito dias os al- muito quieto. Alguns miuulos depois-
cances. Com;- este mau suecesso naõ des
sahiu d'esla casa um lu rr.cm já de i -
maiaraõ os Paulistas, antes como valen-
tes Antheos cuidarão-em alistar soldados, dade , e apenas elle passou para outra
e eleger novos cabos : mas estando ja rua , Leopoldo sahiu de seu conto,
cm boBS termos* a «uptexa, apparrceu bateu mansamente, e dando seu non.r-
Antônio 'le Albuo-***«|*Me com o governo ao porteiro, suLiu a um salaô rica»
ile S. Paulo , e ape-taJas ordens d'EIRei, mente adornado, onde estava certo
para que fossem os Paulistas habitar pa- que havia de encontrar a pessoa quo
cificamente as Minas, impondo graves pe- procurava. Com efieilo alli se achava
nas aos que primeiro violassem a paz; uma menina , sentada junto do fejrSo,
e entendendo o Sobeiano que ânimos ge- o sústentaqebo em suas niveas tirai .*
nerosos se dcixaÕ ««vencer com qutrlquer um livro que folheava sem ler : logo
affago,lhes enviou pelo novo Governador
que cila avistou Leopoldo , largou o
um retrato seu-, que ainda hoje se con-
sewa1 na easa da Câmara, para que en- livro, n com ocotoveüo apoiado no
tendessem que visitando-os daquelle modo, braço du cadeiia, e a face enco*'ada
já que pessoalmente o naÕ padia fazer, na maõ , | òz-se a olhar al.cnlamcu .
tomava aos Paulistas debaixo da sua real te para elle.
pretecçaõ» Com este sii**^**»r favor se .«-n-
tisfizjraÕ os Paulistas, ti esquecidos dos — E eiitJo" Cecilia'• lhe diz Leopoldo-
aggravos «-lassados deptizeraõ as armas — E então, meu caro Leopoldo! diz
a menina com um ar tri«te.
— Bem o vês, Cecilia, eu estou per-
A EXPEKIEJÍCIA.
dido , não tei.Iio já esperança... e
comtudo tu anias-me.
Na rua Du^asis^. em Versalhes • —Ara o o duvidas ? repliteu cila a»
am marjcekv**, chamado* Leopoldo Du baixando, os olhos. •**
nOo O RECREADOR MINEIRO.
O' meu Deus, não! diz Leopoldo • mas uma paixão violenta por mim.
também eu oão duvidava de leu pae; — E o senhor Dubois, teu pae, nlo
é verdade que elle nada me tinha pro- pode recusar cousa alguma aos senhoe
medido , mas via com gosto o nosso res de Marsan , pie e tilho ?! pergun-
amor , « isto , e tudo me induzia a tou Leopoldo pálido e tremulo de co«-
crer , que me acceitaria para gemo : e lera.
tu vês o que aconteceu. —- E* verdade , responde a menina
Dizendo isto , havia-se aproximado de Dubois.
Cecilia ; e seu olhar, sua altitude, seus — E tu ?
suspiros, tudo annunciava o mais vi- — Eu, amo-te , Leopoldo , mas toda
olento amor. a minha vida obedecerei a meu pae ,
— .VI. DJbois, meu pae , quer-me e elle quer que eu case com o capi-*
•mais que a si mesmo , meu caro Le» tão. Não fatiando de sua riqueza, e de
«opoldo, e está disposto a dar minha suas qualidades exteriores, disse-me que
-mão ao homem que julgar irnis pro- se eu o recusasse, isso o malquistaria
jirio , por sua posição , e por tua for- com o senhor de M irsan , um amigo
tuna , a fazer a minha felicidade. de trinta annos. Além d*isso , pensa elle,
— Mas o amor ] exclamou o joven a- que Gustavo de Marsan é o uuico ho-
mante. mem que possa fazei-me feliz, e ac*
— Sim , o amor ! replica Cecilia, é crescenta , que se eu * não obedecer ,
u única cousa que vemos no mundo, elle nSo dará seu consentimento a ne«
nós que somos moços; mas os pães nhum outro casamento , e que morre»
tem outras idc.es , elles põem o amor rá de dôr.
ou classe das cousas futeis, passagei» A voz da senhora Dubois ia enfra*.
i a s , e.... quecendo á proporção que fallava, por
— E na podes crer qne o amor que fim os soluços sulTocaião-n* , e derra-
tenho por ti se enfraquecerá ? mou uma torrente de lagrimas.
Eu t não , Leopoldo , é meu pae que — Assim , tu me és roubada ! e x -
lem essas idéas, tu sabes que M. de clamou Leopoldo ; *u a quem eu amo,
Musa ri, capitão de lanceiros, nova- tu que eu adoro , por quem 'daria cem
mente de guarniç-So em Versalhes, che- vcz:*s a minha Tida p e sem a qual me
cou antes de hontem. sei ã impossível viver! I
— Sim. e eu esperei que teu pae e — Eu serei victima da minha obe-
elle tivessem saindo de casa , para a- diência filia" repetiu Cecilia ; eu obe-
«mi entrar f t o r n e i a sido impossível decerei para não passar per má filha í
conter me diante d'este odioso rival mas eu amo-te, Leopoldo , só a ti é
— O capitão de Marsan é íilho de que amo*
tini iniimo amigo de meu pae, está Então LeopoMo levantou s e . passe-
<*in relações mui intimas com meu ir- ou no salão com um ar afflicto », de»
mão , que , como sabes , serve também pois aproximando-se da sua amada,
na o.v.'llaria. Os dous pães proinette- lhe disse:
jão unir seus filhos , ou para me ex- — Não me esqaecerás nunca ?
plicar meliior, o senhor de Marcan — Nunca , Leopoldo.
pediu este favor a meu pae, e o senhor — Mas obedeceras a teu pae ?
tapii-lo de lanceiros julgou que tinha • — Farei todas as deligeacias para te*
O» BECttEAOOR MINEIT.O iir,.
se consigo rfazel-o mudar de resolução. cília ; eu sou moço ainda . e po»so es-
— Mas confesfo-le qüe não me pa- peiar uma longa vida, pnis bem! o .
.ece um meio infallivel, disse DutiU a daria toda por seis mezes, por três,
leul cem vote sombria. por dous.. que digo? por um inez ,
— Diz, meu amigo , diz qual ét com tanto que eu vivesse couitigo du-
— Eu me encarrego de o pôr em rante esse mrz.
pratica. >*.-. — Üe que amor me priva meu pae!
— Deveras , tens tenção de fallar com exclamou involuntariamente C«*cilia. En-
meu pae? ...« tão , accrescenlou e4la , se me aronte-
. •— Não , Ceeilia , eu faltarei com o cesse urna desgraça imprevista , se per-
senhor de Marsan. •»« • desse as minhas riquezas , meu pae....
— Que pretendes fazer meu querido?! se a opinião me censurasse, se a ca*
armar uma pendência por minha causa? lutnnia lançasse uma mancha na mi-
coinproinetlcr-me , fazer de mim o pre- nha reputação , esse amor , seria sem*
90* ,de sangue, e condemnar-me as la- pre o mesmo ?
grimas e íi desgraça qualquer que seja —> E podes -kiviJar d'isso? replicou
o resultado do combate ? 1 Oh ! não , Leopoldo. Toda a minha desgraça pro.
meu amigo , não ! tomemos meios mais cede de tu seres rica , feliz, estimada....
suaves. Vae ter com meu pae , falia- se assim não fos»e o senhor de .Mar-
lhe do teu amor, e também tio meu, san não te procuiaria, e nós seriamos
que isso te permitto , e depois .-ataque- dilosos.
mos o senhor de Marsan por meio de — Ouve, Leopoldo, replicou a me-»
considerações mais judiciosas, a que nina , meu casamento roín o senhor d<*
ha de ceder, . se for homem de brios Marsan está resolvido , mas ainda não
cavalheiros,. 1. está feito , temos ainda tempo, sus.
O joven amante não quiz escutar es- pende por ora esses projectos de vin-
tes, conselhos , enfureceu-se , disse que gança que me fazem estremecer, e per •
não podia viver sem a m a amada ; que mitte me que tente um ultimo esforço
sabia muito bem que a vontade do se- junto de meu pae.
nhor Dubois não mudaria , e que de Leopoldo Dutilleul sahiu triste e ir.
Marsan não mudaria também de amor, ritado , e longe de seguir o conselho
pois Cecilia era muito bella para que de sua amada , apenas chegou a casa,
alguém voluntariamente renunciasse h foi seu primeiro, cuidado enviar um
sua posse; que erajypreciso acabar com cartel ao seu rival-, fechou depois a
isto, desembaraçar-se d'um rival odioso, carta , pnz-lhe o sobrescripio «
ou morrer aos seus golpes , terminan- deitou-se cheio «1'cstns idéas de de*.
do aaiim uma vida desgraçada. alio, que per imbuo o soiiino: SIM
— Então , amas-mc tu muito ? lhe noite foi agitada , elle dormio mal, n
dissq, Cecilia chorando. de madrugada j.i o seu criado o achou
—.Se eu te amo 1 Houve por ven- levantado.
tura em tempo algum paixão mais vi- — Leva .esta caita á pessoa a quem
olenta que a minha?.... Fortuna.... se dirige.
riqueias..., futuro.... eu daria tudo pe- O criado leu o sobrescripto, e r e s -
la felicidade de ura só momento,, Ce- pondeu a Dutilleul;
flgft 0 REGRE ADOR MINEIRO.
CORRESPONDÊNCIA.
Rogo-lhe o favor de admittir na sua folha, para ter a
devida publicidade, a presente Tabeliã, ou regulador dos.
\alores da Prata , que foi o segundo metal a que os ho-
mens derão estimação, e descoberta por Mercúrio 5.» mui
próximo ao Monte Pangeo em Tracia.
A Prata nasce em muitas partes das índias, de'Hespa-
nlta. e também em as faldas da Serra Morena, e Guadal-
cauái, muito nomeada, e rica mina que em nossos tempos ap->
pareceo, donde sahia a Prata pura , que sem trabalho se
reduzia á sua maior iineza.
A Prata é um metal branco, e claro brilhante, de tex-
tura solida , e por conseguinte capaz de bom polido; ven-
ce em malleabilidade, e ductilidade a todos os demais me-
taes , excepto ao Ouro*
A Prata é de menos valor que o Ouro na proporção
( regulada na Lei de k de Agosto de 1688 que subsiste, até
hoje) como de l para 16.
A Prata divide-se em dous gêneros; uma perfeita . e
outra imperfeita: a perfeita é a que é pura sem mescla
incorporada em si d'algum outro metal; a esta chama-
mos de 12 Dinheiros, e delia se acha alguma* a outra se re**
fina com chumbo por copellação.
A Prata imperfeita é aquella que não cnega á sua ma-**
ior fineza , em razão de ter em si incorporada liga de co-
bre, e alguma de mistura com latão, que faz declinar da sua
perfeição descendo-a de valor.
A Tabela que abaixo apresento , instruirá o justo va-
lor da Prata no peso de um marco ,'ho de onça, e"no
de uma oitava reduzido do de dose dinheiros a um $ -
wheiro , em concordância, com o actual valor do Ouro na
proporção de 1 como para 16.
{Segue-se a Tabela do valor da Prata)
0 R E C R E A D O Ri M I N E I R O . 1.99
Véspera de S. Pedro á noite desceu do ou cabeça , que fosse seu língua, No dia
morro do Ouro Preto um motim de gente seguinte de S Pedro mandarão um bo-
armada, e da parte do Padre Faria se letim , com uns ca-nlulos ao ronde de As»
levantou outro, e juntos ambos acomette- suniar,general das Minas, que ooin pru-
rio a casa do ouvidor geral o doutor Mar' dência lhes respondeu qua se aquietassem,
linho Vieira; e sahindo este da caía, cs» porque elle paternalmente trataria do bem
capo.it da fúria, e da morte. Subindo commum do povo, e que algumas tou-
una desses amòtinadores acima-, lhe des- sas que pedião, vinha o resolutas por S.
truirão tudo o que tinha cm casa, lan- M. nas cartas que recebera da frota : e
çando das janetlas ns Ordenações do quanto As demais, tinha chamado os ou-
lletoò, es livros da Fazenda Real, vidores para outros negocias . c de cami-
e todos os mais papéis pertencentes nho lhes proporia as suas razões, para se
no teu ministério, ;tendo-«é as serítenças tomar e parecer que a todos fosse oon-
c despachos com cscarnco e vittiperio veniente.
do ouvidor, cuja vara empunhava t-iti Nas noites seguintes até 16 de julho
cfas amòtinadores, clamando ao povo se 'parecia toda aquella villa um interno t?irn
niorião que lhes fizesse justiça , que as desordens, motins, e distúrbios ciui-
cite nlti estava, .tfcompanhaitdo com esta sados por uns mascarados , que descião do
acçSo algumas vôze9 c palavras d e igno- morro do Ouro Preto, os quaes de ma*
mínia contra o dito ministro nhãa se aquartelavão, vindo abaixo a-
íeífo este primeiro insulto , começarão companhadus ile negros e mulatos, arrom-
a dar vozes dizendo: viva o povo, viva bando ca*as, ferindo, espancando , e ma-
o poro, e nssim lorão augnrciitanilo par- tando aos que lhe resistião. Os da vi-la.
ciaes, dos quaes uns por vontade, c ou- do Ouro Preto tirarão as fazendas das lo-
tros á força, e por evitarem os dam nos jas, e as esconderão nos matos com medi»
tle filies 'quebrarem as portas e mais ex- dos roubos e insultos que fazião : e com
tal pertinácia, que parecião demônios
torsões sanguinolentas, que fazião , os se-
saltos cora poder de diflundir a ville
guião nesse motim. Vierão lo-jo a in
e toda a povoação «\o primeiro de ju-
corporar»se, e a fazer-se fortes no alto
lho mandou o conde general a um reli-
da casa da caraaia , e igreja de S. Qui
teria: e alii elegei So um juiz do povo, I gioso da companhia Uc Jesus, dos que
120. O RECREADOR MINEIRO.
I.Ml ÍMII
a«.*istiáo em sua casa , a que intentasse rorosa a sua marcha com gritos , alaridos,
apaziguar o povo, persuadil-o a bem, e e vozes de vioa o poro : e mandando o
lhes mostrasse o inconveniente a que se conde general religiosos e sacerdote- que
expunhão com o inutirn : e que se tinhão no alto do Rozario i_ ermida na entrada do
algum requerimento que fazer ás ordens Ribeirão) os detivesse.i* com modo ur-
de S. M. , que o fizessem por modo co- bano e sem estrepito algum de ira , e me»
medido e usado nos povos, qual é o dos nos de guerra, para o que mandou , até
procuradores das câmaras. E'les, sem o SenvJo da câmara desta villa, oom o
adiuiltirem razão, ( deixados outros mo- seu pendío arvorado, e acompanhado dos
do-i de impropério com que tratarão a este homens bons da ierra, não bastou esta
teliij-ioso ) o qaizerão represar, metten- brandura e comedi mento da oonde gene-*
f!o»ílie armas aos peitos E no mesmo dia ral para pôr em razão ao povo. Chega-
despachou o oonde general da villa do rão em fim ao palácio, e adi expuzerão
Ribeirão do Carmo ao tenente general com publicamente o seu intento, e ás claras
o perdão, o qual não aeoeitsrão antes iifanifestaraõ a razão do motim , que era
insultarão ao tenente, e o qiuzerão re« não quererem acceijar. pasa de fundição
presar. ; , ,., de quintos , como havia um anno que S.
Continuou o conde general, este ex- M. a mandara erigir por lei nova, e d*
pediente com patcrnal prudência., amor e que esiavão os povos noticiados em todo
brandura, despachando ao mestre ,de cam- esse tempo de espere, para consu mo do
po Domingos Teixeira, que se achava ouro em pó, e. como tinha sido acecita-
nas Minas , ao qual commetteu que tra-, da ppr um termo , em que se * assigna-.
balhasse muito, por serviço dflj, Deo(s. e. raõ todos os homens pri.icipaes das Mi-
de S. M . , de accomínodar o povo, e de nas : e também de não acccitarcm casa
o pôr capaz de razão , e ,não obstante de moeda, como,para allivio do mesmo
estas diligencias , nem as pessoas que para povo, e por carta da paruara do Ribeirão,
esse rim mandara, nem se aquietarão com se havia .pedido a S. M ': e á vplta des*.
o perdão, nem com os respeitos, se sa-- tes pontos principaes sahirão com Outras
t:-,fi/.erão : e incitados na iiumliãa seguinte petições de tão pouco momento , que bem
a brados, que se ouvirão d) morra) mar- se via que só os dois, que encontravão
charão para o Ribeirão, tenda na noite as ordens de S. M. , ^ra o seu facto to<
antecedente escripto ao conde general a do , e o porque se levatítarão.
câmara de Villa Rica que o povo queria Concedeu»lhes o conde general o que
que o dito conde fosse áquella villa, mas pedião, por não querer derramar sangue
que havia de ir só sem acompanhamento, do povo que governava, e lhes mandou
•Iorque o povo se nao irritasse, cuidan- publicar perdão em nome de S. M. pelo
do que ia a castigal-o. E mandándo-lhe crime então commettido, do modo e com
dizer o conde gener-d que o esperassem as circunstancias que elles quizerão, pro»
até ás nove horas da manhãa, elles an* mettendo elles de se aquietarem, e não
tes de romper o dia partirão de Villa Ri-* continuarem no motim. Parecia que aqui
ca para o Ribeiião. devião ficar sepultadas todas as inquieta-
No dia duis deste mez marcharão do ções das Minas : mas oomo o fim úni-
Ouro Pieto formados ao Ribeirão, tra- co deste motim era a rebelltão , que in<»
zendo comsigo, e obrigando ao seu se- tentavão contra o general do soberano, r.So
gui mento os que cnc.ntravão, fazendo hor- por outra causa mais qut quererem vi*
O RECREADOR MINEIRO lãoS
ver sem1 governador; e ministros de jus- e todos clamando por justiça pedião fa-
tiça que os governassem , e talvez sem o- vor ao conde general.
bediencia do monarcha ; pouco a pouco Mandou o conde general prender aos
forão descobrindo a sua intenção. que prudentemente julgou por causa, mo-
Aos 6 de julho tornarão a amotinar- tivo , e occaziao deste motim .- e ne.n com
se | e a pedir que mandasse retirar ao estas prisões se aquietou a rebellião, an-
doutor ouvidor geral, e a câmara as» tes se exasperou mais, e acccndeu com
sim o escreveu ao conde general com ter» maior fúria, e já com suspeita evidente
mos indecentes de ameaços O conde ge- de maior ruína nas Minas. No dia 11
neral o mandou sahir da comarca: po- de julho foi tão horroroso o motim, que
rém nio se contentando com o juiz mais desceu do morro, e eomjtal ímpeto,que
velho por ouvidor, na forma da lei, em forão á casa do rm. ° mestre escola vi-
auzencia do proprietário por elles expulso, gário da vara do Ouro Preto, e o tizerãi»
pedirão com novo motim nuclurno ao dou» levantar da cama, para que lhes abrisse
tor- Mosqueiia por ouvidor. O conde ge- a porta da igreja, suppnndo que o res-
neral , para cs aquietar, lhes concedeu pro- tante do povo estava nella, aonde forão,
visão para o tal doutor servir de ouvi- e revolverão com indecência até os alta-
dor: tanta era a paciência do conde ge- res. Nesta noite forão maiores as dcsoiv:
neral em eoffrer o povo pelos accomíno- deus , quebrando as portas e jnnellas dos
dar, ainda prevendo que tudo quanto o moradores, e matando a um homem do
novo ouvidor fizesse era nullo e de ne» mesmo morro, que, suppunhão dava os a»
nhum vigor, esperando que em melhor visos ao conde general,-;
tempo a razão os convencesse deste ab- No dia 15 avisarão ao conde gene-
surdo. Vendo-se o povo como queria ral da insolcncia ja declarada desses le-
em parte , mas não com tudo quanto que* vantamentos , e do ultimo rim e ruína tlcsst
ria, declararão de todo a conjuração em rebellião : e desabridamente Ibe mandarão
expulsar das Minas o conde general, seu dizer que tomasse as medidas da -ahidn,
governador . para o que se ajuntava gente porque certamente o expul-avão das Mi-
dos subúrbios desta villa , convidando mais nas. Os moradores do Ouro Freto, que
gente das outras povoações, e com voz se vião já desesperados do que padf ciao,
oommum que sò depuis de um motim ge» instavão com supplicas que os fosse <>
ral se aquietarião, e que nas Minas não conde general soecorrer, e livrar da op.^
entraria outro governador, nem justiças pressão que padecião. Os moradures du
postas por S. M, As mais povoaçõc* das Padre Faria, por mais appostos aos do
Minas estavSo observando o fim deste le-* morro, ( e tanto que sempre se oppuze-
vantamento e rebellião do Ouro Preto , rão ao atigmento des-a povoaçãi* ou ar-
para assim se declararem. O perigo actu- raial do morro ) padecião com mais im •
al, alem de grande, fazia mais temerc- paciência eslas insolencias, e com tal de-
so e eminente o futuro que se temia de sesperarão se virão na primeira noile d.i
maior conseqüência. Os de Villa Rica motim, que quizerão subir ao morro com
experimentavaÕ extorsões*, assaltos, e in- guerra declarada a se matarem uns aos
sultos grandíssimos dos que descião do mor- outros com hostilidades, e destruir t.»da--
ro eom maldados de homens jà íácino- as casas do morro, chegando de pai te n
rcsos. uns espancados , outros acomet parte a empunhar se as arrr as no mesmo
tidos em suas casas , a quem roubavão» acto do tumulto ; e suecedera grande mor-
1904 O RECREADOR MINEIRO.
tandade pela opposição dos dois partidos, zerão E logo o dito oapitão de dragSes
se o reverendo doutor Luiz Ribeiro os chegando á casa do mestre de campo Pas»
não dissuadisse disso, dizendo-lhes que coal da Silva Guimarães , mandou entrar
procurassem o remédio para esta oppres- um capitão de ordenanca, que oomsigo
.são pelo conde general. levava , para que retirasse as imagens e
Delrberou-se em fim o conde general, ornamentos do oratório da dita casa, e
carregado de razão, paciência , prudência mandou entregar tudo o que pertencia ao
e justiça, partir do Ribeirão aos 16 de culta divino ao reverendo vigário da ma»
julho, dia felicíssimo por ser dia de Nos- triz de Antônio Dias, conforme a ordem
sa Senhora do Carmo , padroeira do Ri- do oonde general: e começando a pôr
beirão , e marchou para \ illa Rica a-» o fogo, acudiraÕ três visinhos a se la-
companhado dos dragões e dos mirado mentarem , cuidando que a todas, as ca-
res desta villa , e com seus escravos tam- sas se ateava o fogo, ao que aoudtu o
bém com armas,, para se oppor á rebel capitão Antônio da Costa de Gouvêa , e
jião , que com tanta prudência e paciên- lhes segurou que o fogo só era para
cia procurava aquietar e entrando em as casas dos conhecidos autores, e que
Villa Rica, sabendo de certo que ainda se aquietassem, ooma fizera© aJguns . &
110 morro eslavão actualmc-nte aquartela porisso livrarão as suas «asas
fios os assassinos , amutiuadores e levan- Mas oomo no dito morro mineraõ dois
íados, e que pelos matos vizinhos tinhão mil negros, ou perto de três mil, vendo
mettido gente armada , ou para invasão» aquelle espectaculo de fogo se alterarão ,
ou para defensa de sua rebellião ( o que e sahindo das covas, e>n que.cavavaõ ou-
«jcrlameiile exccutarião se se lhes não im- ro , cuidando que se punha geialmente
pedisse ou atalhasse o intento ) tomou a fogo a todas as casas sem distineçai,
o conde general por expediente mandar foraõ entrando, pelas que se achavaõ deo
jrôr fogo ás casas dos principaes autores sertas , e as roubarão e queimara**': a»
c fautores do motim. que o capitão Joaõ de Almeida naõ po-
E assim mandou o capitão de dragões dia acudir; porque naõ só o fogo e o
João de Almeida de Vasconcellos subir terreno escabroso o embaraçava.» mas era
ao morro, destinando..lhe o sargento niór preciso , segundo a ordem do oonde ge-
JHanoel Gomes da Silva, o oapiirão An- neral , estar com os^seus soldados fo»ia-
tônio da Costa Oouvêa, e o alteres Bal. dos, em quanto se executava a casa de
thasar de Sampaio, moradores, no morro, Pascoal da Silva, pelo risco de gente
para que estes lhe nomeassem as casas armada que se dizia estar no inato vi»
dos que publica e notoriamente fossem ar zinho, pana assim evitar o perigo de al-
inotinadorcs e fautores deste motim, e gum assalto repentino. E passando este
compiices neste delicio , e lhes poses»e capitão a fazer a mesma execução no
logo. Chegado o capitão de dragões ao Ouro podre, ( logar sito no mesmo mor-
morro com os homens que lhe nomeou, o ro ) pôde pôr guardas em uma passagem
«•onde general, lhes protestou que de nc estreita, para. que os negros se nJfe mis.
uhjma maneira encarregassem suas cons tarassem com os soldados ; a isto fe* que
ciências por ódio algum, ou paixão par- a execução- se fizesse ahi só em, uma
ticular , e só lhe signalassem as casas casa de um culpado, e sem confusão nem
dos conhecida mente autores, fautores, e ruína dos que o naõ eraõ.
eempüces a-j delicio, o que asíiro o ü- Até arui a relação. a quaj ainda que
(KBECREADOR MINEIRO. ÍIOO
naÕ declara os sujeitos, qne foraõ, cm sotr tinhaõ feito um niu/.cu i-cinplft.), de ;*e-
corro do conde generql, e os castigos que çai destacada**, repreM*nian*.« «.-aiia unia
depois se executarão em alguns, que ou algum ponto de vísKa ao nluam-f* de «ua.
eraõ ou se julgarão cúmplices no crime prisaõ fluptaitte, e c«*ilamente o at-a-o ilc
da rebellião, que eu deixo, por serem sua posição os serviu á medida de sua
sabidos e fora do meu intento*, com tudo vontade, porque o-trabalho dos homeii*»- e
delia bem se emende a razaõ porque o da natureza prodigou perspectivas ailmi-
padre Belchior de Pontes prohibiaa Joaõ .raveis entre King-ton e Dublin , até o
da. Costa Aranha chegar no Ribeirão, promontorio de llowth-IIill
mandando.lhe que vendesse fórá daquel» : Julgavaõ os UOSSJS dou-; marinheiros ter
Ia villa as suas cargas. uma fortuna'que desfru'*'fir, mo.*.! raudo
este muséo á capital ria Manda, e so-
( R. Triineiisal. \ , bretudo provocando a polit<ou iiiunificencia
de algum riou |.<rd qnè comprasse por
preço enorme este bello trabalho. Ceies -
tino e Xavier naõ tinhaõ um. schelling-
Ulí ACTO OE DESESPERAÇAO. na algibeira, mas naõ teiiaõ vendido sen
museu por vinte mil libras slerliuas .- em
Quando se fez o tratado de paz de 1811, seu amor próprio úe autores, avaliava»
foraõ postos cm liberdade todos os pri- seu capital em quatro vozes, pelo mc>*
sioneiros francezes que se aehavaõ a bordo nos , este valor.
do pontaÕ de Kingston, na Irlanda, e Alugarão um quarto de snbrelojn na
no dia immediato ao de sua soltura, quasi praça de C/irist Churclt, e afixarão esl-
todos atravessarão o canal de S George, rotulo: .,
para se transportarem á França Entre
o pequeno, numero d'aquelles que naÕ ma- CREAT ArTRACTlO". !
nifestarão a mesma sollicittide em tornar
'* (
a ver a pátria, Dublin conservou os nu-
vinde ver .
mes dos insignes Celestino e Xavier: e-
todas as maravilhas do porto e da
raS dous orphãos que , por seu nasci men.,
cidade do Dublin !
to , pertencia» an^s ao mar do que á
esta flor da terra, esta pérola
terra, e que., nada,«tendo em suas. lem»
do mar!
brancas, nem carioias maternas, nem cam-
panário de aldêa, nem esponselias sus- Um schelling por entrada.
pensas pela oonsoripçaõ, acharão que
Dublin era uma cidade que merecia ser Nunca a multidão falta ás exibições em
habitada como qualquer outra, e resol- Inglaterra ,* é um paiz cheio de gente que
verão ficar, ao menos provisoriamente, tem muita satisfação em trocar um *-«-liel-
ii'esta magnífica e hospitaleira • capital. ling por uma emoção de dous minutos: as
ifavia alem d'isso uma razaõ maior, leceitas eraõ magníficas. Celestino e Xa-
que os levava a fundar um modesto es- vier sonhavaõ sonhos de ouro; em oito
tabelecimento em Dublin. Em seu longo dias tinhaõ jà em cofre cem libras ster-
oaptiveiro elles utilisavaõ um talento mui linas em notas de cinco libras, que saõ
notável de artistas em fina marcenaria: as mais pequenas das notas do banco.
i *" 6 ORECREADOR MINEIRO.
YiitÕ se inillionnriris no fim do anno , por- ma olhada a prumo sobre as águas ama-
que seu plano era correr todas as grsn» rella.las e correntes e o mesmo olhar
fies cidades da. Inglaterra, e voltar á fatal se voltou para n cara de Xavier.
França com uma sege de posía e dous — Eu te comprehendo ! disse Xavier ;
lacaios somos destinados a perecer na água dôoe.
Acaso ou ódio destruiu em um instan- Abracemo-nos , c assim seja !
te estes bellos projectos. — Condemnado seja eu se recuar! disse
Um incêndio devorou o museu de Ce- Celestino
le.-tino e' de Xavier , elles mesmos es- E saltou sobre o parapeito de Stepkens*
caparão de perder a vida tentando ar Bridge Xavier deu igual salto. Ambos
rançar ás chammas sua fortuna, desgra- cruzarão fortemente os braços no peito,
çadamente muito combustível. A moda como para exprimirem a si mesmos a e-
dos seguros contra o incêndio era ainda nergica resolução de naÕ nadarem como
nessa epecha quasi desconheci Ja em Du perfeitos marinheiros que eraõ , e se pre-
Win. Demais d'isso , os nossos dous ma- cipitarão de cabeça para baixo no Liffey.
íinbeiros naõ se teriaõ lembrado de to- O grande estrondo que fez esta dupía
mar esta precaução. queda de dous grandes corpos despertou
"" Kean e Kemble se confrangeraÕ mui» sobresaltada uma matilha de cães da Ter»
tissimas vezes de desesperaçaõ ante o . ra Nova que, havia pouco, tinhaõ cn-
publico inglêz ; mas a pantonuma deao** eetado seu serviço na entrada da ponte.
lauto destes adores foi vencida pelas COH- Liord O' Calligham , celebre pbilantropo
vtil.õcs dos nossos dous* pobres marinhei- irlandez, era o fundador deste corpo de
ro.* I ogo que pôde uma * palavra chegar guarda de cães salvadores , e n'esse dia
aos lábios cadavericos de Celestino, elle" precisamente abria a matilha da Terra Nova
exclamou: «eus trabalho*} de salvamento Os a»*eis
— Maldita sorte ! (elle era de Marse animaes ühegaraõ ao fundo do Liffey ao
lha ) fomos certamente amaldiçoados nos mesmo tempo que Celestino e Xavier.
beiço! Saltamos, no Oriente, em Al» Os dous marinheiros se seutiraõ agar-
«Hitikir; somos pescados e enviados ás ga- rados ás abas das suas casacas por duas
lés de Pliiuoulh ! bem! Fugimos. Em bocas vigorosas ; mas como era irrevo»
Trafalgar, mettein-nos a pique com o In- cavei o seu projecto #e suicídio , lutta»
fernei ! tornaõ a peícar-uos e a enviar- raõ com incrível energia contra seus ge«-
nos a Kingstou '. ainda melhor! Rema- nerosos salvadores. Homens e cães subi-
mos dez annos nos balelões , fazemos rnõ de súbito _ superfície das águas • o
vinte primores de obra com nossos dedos , rio escumava revolvido por estas convul-
eom nosso* dentes, e com ruim ma- sões de patas, de mãos e de péz. Já
deiia manada : d'esta vez-tocámos á for- dous cães , mais exercitados que os ou-
tuna. Eis que o inferno nos envia uma tros em salvar , e mais encarniçados sobre
*rno«,'-a rle suas caldeiras e nos queima os dous marinheiro.»», eslavaõ a pont%de
vive»! Maldição ! sotfrer a pena de seu zelo, e apenas ex*
Faltando a***im ia Celestino atravessan- balavaõ <la garganta "alguns gritos suffo-
do a ponte de Saint-Stephens ; debaixo de oados, semelhantes ao da agonia , porque
seus pés roncava o rio de Liffey, que o tinhaõ bebido mais água lodosa do que
derretimento das neves tinha engrossado é mister a dez christãos para se afoga-
consideraieluierite, Ornariiihciro lançou u- tem , quando Celestino e Xavier, movi»
O RECREADOR MINEIRO. .-07
dos de compaixão a favor d'estes dous rêm sim um crime combinado pela inveja,
pobres' animaes agonisantes, os arrasta- ou pela vingança , em prejuízo de dous
rão comsigo a nado para a margem do francezes; de maneira que cada homem
Liffey, e os salvarão da morte. que passava julgavaõ ver seu incendiario
Também se salvarão a si do mesmo inimigo. Estes dous desgraçados , depois
lance , por descuido e sem o quererem de terem uma vez lançado sua vida **<•
A multidão que acudiu , testemunha d'es fundo di Liffey, e suppondo naÕ ter mais
ta scena, tributou sua admiração aos cães dever algum que cumprir sobre a terra,
e sua compaixão aos dous marinheiros nem mais pumçaõ alguma humana que ie-
O soheril Edmundo Thaoker, velho de «rear, combinarão um plano inferna! con-
setenta annos, lez um pequeno discurso se tra aquella cidade de Dublin , que os ti-
gundo a circunstancia aos estrangeiros sal nha morto pela sgua e pelo fogo.
vados das acuas, e os oonduzio processio- — Escuta , Xavier, dizia Celestino : rrt
nalmente á igreja oatholica de Saini-.Patrick. ouvi contar a bordo, na minha infância,
•* Celestino e Xavier gorravaõ do beneficio à historia de M. Roux , negociante de
de uma segunda vida: tinhaõ morrido uma Marselha. M. Roux tinha suas razões
VPZ e re-usoítavaõ. Estes dous Lar/aros da de queixa dos inglezes, como nós. Era
marinha tinhaõ adquiiido em Dublin, so- um rico particular que emprestava dinhei-
bretudo entre o povo, uma celebridade ro a Luiz XVI e que naõ sabia o que
merecida , por causa de seu suicídio a- tinha de seu; teria posto, durante um
boTtado. Esta illustrnçaõ , conquistada nas quarto de hora, cifras adiante da unida-
aguaft do** Liffey , era entretanto assaz es» de, sem dar a conta de suas riquezas.
teril para elles: naõ lhes restituia riem o Tinha uma esquadra de vinte navios mer-
seu bello museu queimado , nem a gran- cantes, e naõ sei quantos corsários M.
de fortuna que os aguardava no fim de Roux, vendo que Luiz XVI ficava tran.
cem exibi-ÕrtpO scheril tinha-lhes dito : qiiillo, declarou a guerra, elle Roux
„ Trabalhai, meus filhos, ganhai v«t»u ao rei da Gram Bretanha Sua carta que
poõ , e ' Ririda encontrarei.** a felicidade » annunciáva as hostilidades começava as,
No essencial, o seherif tinha razaõ. ,Na sim:» Ei; Roux 1 A GEORGE III. Es-
idade de trinta annos, em qualquer po tava em regra. Roux 1 começou por fa-
ziçaõ que seja , hafsempre paõ no fim de zer muito mal aos inslezcs; mas o rei
dous braços. Mas Celestino e Xavier se de Hespanha e Luiz XV) interyieraõ en-
tinhaõ oollocado , por um raciocínio lalso , tre as duas potências beltigerantes , c as-
fora do dever oommum : soffriaõ e traba signou •«- o tratado de paz
lhavaõ desde a idade de dez annos; ti-
nhaõ se ennervado na ittlmobilidade irido- — Sei er*sa historia , disse Xavier, veja-
lente do pontaõ ; os primores sabidos das mos onde nos deve ella levar.
pontas de seus dedos naõ tinhaõ podido dar — Pois naÕ o comprehendes, meu amigo?
energjj alguma a seus mu seu'os; este tra- — Falia sempre , meu Provençal.
balho de bordadura os tinha , pelo con- — Pois bem ! nós vamos fazer como o
trario , efleminado e tornado impróprios meu compatriota Roux 1 : declaramos a
ás obras viris. - Depois tinhaõ chegado , guerra a Dublin.
marchando da conjectura á convicção , a ' — Declaremos.
se persuadi-* que o incêndio do seu mu- — Temos um antecedente : a nossa po-
seu naÕ era um' sutcestso de acaso , poe sição é melhor qtje a' de Roux 1 ,- es-
tamos no coráçaÕ do nosso inimigo.
J5oS O RECREADOR MINEIRO.
««*•«-—•»
— A peça está começada, e vai mar Greame-.il, e pediu com voz marítima è
chando muito bem ; Dublin será pruden-* provençal que lhes servissem que almoçar*
te, e nós seremos gratos, ToduS os criados de ambos os sexos,
— Senhor disse o scherif, o serviço do com o land/ord na frente, acoorreraõ ás
r.-rreio soffre muito , as lojas naõ se a- ordens de Celestino ; seiviraõ-lhe trinta
b.-em èm Sctkeoille-Street : vede, ha in- pratos sobre a mesa * e vinhos do Porto,
«jiiietaçaõ de sheriye de Claret. Terminado o al-
— Oh ! de que se inqnietaõ honrado . moço, elle escolheu entre os pratos ih-
scherif? nossas intenções saõ puras, De- lactrs, metleu-us n'uma cesta, e, cha-
viaõ inquietar se quando a maõ de um mando o Innd lord, lhe disse :
criminoso incendiou o nosso museu e nos —«•- Senhor, isío é para meu irmaõ Xa-
reduziu á indigencia. Hoje, faça Du- vier ; é seu almoço. Agora, dae tudo o
blin o seu dever, que tudo irá bem. E J que deixei a èstésgrupos.de mulhereâpc
vou encommendar o nosso almoço no ho- bres que assistirão pelas janellas ao meu
tel de Greamesh o primeiro hotel do almoço.
mundo. Desnecessário é dizer-vos , sche- O dispense|ro se inclinou, fazéndd -um
rif, que, á menor dôr de entranhas, nós aceni muito expressivo de obediência ás
vos accusamos de envenenamento, e Sakvil- 'vontades do barril de pólvora : visinho ,
le salta em cem milhões de pedaços representado peta marinheiro* francezé
Tudo está previsto, scberif, tudo, mes- •Celestino deu o signal conveneionado an«
mo a tentativa de envenenamento. tes de abrir a po'rta do quarto vbfoanieo,
— Naõ tenbaes receio , senhor .. e Xavier aproximou o morraõ acce,so do
— Receio! qual ! é Dublin que deve barril de pólvora. Celestino tarnVu a fe-
tremer/ Receio! eslaes zombando de niim? char a porta com três1 voltas , e pôz as
De-de o meu nascimento a bordo do In- '. provisões sobre uma mesa ,,n
dien , passo a minha Vida a morrer; te-, *— Aperta-mé esta maõu, Xavier, •<disse
írho visto o inferno cinco ou seis vezes elle sentando se :l tudo vae bem ; a ma-
diflcrentes, assim como vos estou vendo china está admiravelmente bem montada;
— Porém , senhor** acrescentou o sche- Dublin é-nopso . Que almoço acabo de
rif com voz branda e persuasiva , reiuin- devorar em casa de Greamesh .' que vi-
ciacs a esta abominável loucura, a . . . nhos! que criados amáveis ! . Almoça, a!»
— Scherif, naõ acrescenteis mais uma moça por teu turno", meu amigo ' eu en-
só palavra, ou eu faço um aceno , e nós commendei o nosso jantar paia. as sete
saltamos por cima das nuvens ! horas . . . .
Depois*, dirigindo**se á multidão que o — E o scherif, o scherif? perguntou Xa-
rodeava, o marinheiro acrescentou: vier/trrnchando um rumpsleake de presunto.
— Senhores , ordeno-vos que vos reti» -— O scherif tem medo, conhece--nos ;
i eis, que tenho precisão de ar; deixae-tiie só. tudo Dublin nos conhece , Xavier / todos
Eii um momento a multidão tinha des- sabem que nós- somos homens capazes de
appareoidó bem como o scherif. fazer seguir-se o facto á ameaça. A po«
Celestino resentiu um justo sentimento licia está embaraçada, procura um expe-
de orgulha ao ver cõm que facilidade u- diente e nada acha. Quando eu vinha me
ína de suas palavras lançava a consterna recolhendo , encontrei Com um indivíduo
çii3 no povo de Dublin. Com passo ma- que se chegou a mim com polidez e me
gtuto3o encaminhou-se para o hotel de disse: —Em nome de Deus, capitão,
Ú RECREADOR MINEIRO. 1119
•*•*•»
ver o scherif, e havemos de trazer-vos o em que se achava Dublin pelos dous ma-
festival. rinheiros francezes.
Celestino tornou a subir ao seu a- Operários de Ricardo Shawb, empre-
posento e antiunuiou a Xavier o concerto gados de Posl-Office, convivas habitu-
da tarde, que acabava de encommendar ados de Greamesh, todos mais immedi-
ao senhor Ricardo atamente interessados que,; os outros ci-
— Ha de ser um bello t-iumpho, dis. dadãos n'este singular negocio, se fazião
se lhe , se tivermos esse exercito de mú- notar pela violência de seus discurso0..
sicos. — Não é justo , dizia-se n'este grupo,
E poz-se á janella para esperar pelo fes- que duas ou três pessoas ricas paguem
por toda a cidade. Só essa loucura do
tival.
festival tirou mais de duzentas fibras da
Uma hora antes do pôr do sol, viu-se algibeira de M. Greamesh. - Outras ve-
apontar na extremidade de Sakeville M. zes dizião .- — Se se prolongão estas fan-
Shawb triumphante, que servia de .van- tazias dos marinheiros, Greamesh e Rj-
guarda ao festival. O exercito deT:eon- cardo ficão arruinados em oito dias — E '
certantes de.-lilou -por aquella rua, a mais evidente ! — E que quereis que se laça.?
larga de todas as ruas do universo , e se
jrôz em linha de batalha diante de Post* — Escreveu-se liontem ao governo; — Bel-
Office .Uma synphonia serviu de introito; lo recurso ! O governo não ha de fazer
cada musico, conforme o uso , locou a sua nada — Mandará tropas.—Oh ! elles _-,-.
ária favorita, com aquella nobre indepen- zem bem caso de tropas ! — O mais des«
dência que caracterisa c artista inglêz agradável é que em Dublin se forma um
Depois preoi pitarão-se trezentas bocca* pai tido a favor d'esses dous marinheiros.
scbre Haendel, e o dilacerarão sem mie — Um partido ? —Sim , os pobres são
seiicordia. .por elles. Esta noite os músicos, ebrios
Celestino, do alto de sua janella , a** de cerveja, gritarão .* Houra for Cetestin !
gradeceu aos choristas e aos 'músicos, e , e era Greamesh quem pagava Oh!
em sua munificencia de rei , ordenou a isto não pôde durar ;. ,
Greamesh que matasse a »êde do^exer- A multidão correu para a procissão que
cito com a fabrica de serveja de Luxton. ia atravessandp Pha>nix-Park, Celestino
Greamesh se inclinou. No. entanto-, fa^ se voltou e se achou ^sara a cara com o
cil era ver que Greamesh se constrangeu senhor Ricardo. ... »
violentamente para não deixai* escapar u» — Ah /, eu não vos deixo , disse-dhe
ma violenta desesperação este em voz muito baixa/., ,
A's nove horas, estando a noite muito — T o m a i sentido , senhor Ricardo; não
se inbria por causa de uma trovoada do façaes o papel de meu a n j o . da «guarda,
começo do verão, não pôde Celestino re- tomae sentido! , *-«*, <* —.
sistir ao desejo de sahir, porém em tra- - • — C a p i t ã o , reoçlheiijros, recolhei.vps,
jo» os mais desconhecidos , para ouvir j à é tarde ; pdde o vosso amigo fazer ai.
as conversações que havião a seu respeito guina a c ç ã o desagradável , «•*"".*
ücs passeios públicos. Havia muita gente —» Ficae d e s c a n ç a d o ; o m e u amigo
em Phtenix-Park. O marinheiro se intro- tem as minhas i n s t r u c ç Õ c s . . . A propó-
duziu tenebrosamente nos grupos , e sua sito , senhor R i c a r d o , quero, que m e deis
curiosidade teve motivo de ficar satisfeita. um . c o n s e l h o ; tomae _o m e u b r a ç o , e
Não se fallava senão do estado de assedio conversemos como bom visinhos, , --.§
Ü AKCREADOU M I N E1W O, 1S1?)
pstn passos ; n»a., parou , e pereceu para atua amada; chamava-a .ocando-a
aterrado de tudo, o que o cercava. Co- e lhe pedia que foliasse", para se
mo a agitação de sua alma era extre- assegurar se era ella , que elle tocava.
ma , disseraõ-lhe que era necessário Tudo o admirava : confundia t i d o : o
qtie elle voltasse por algum tempo ao «6 por gráog chegf>u a distinguir eco»
sau primeiro estado, a fim de dar pouco nhecer as fôrmas, as c >res e as distancias.
a-pouco a seus alhos a força dé suppor-
tar,tgraduajr~**rente •» «npresseõ da luz; CtUI-iADA.
e que era necessário que elle se fosse * * •
cauto, Naõ podia cansar-se de olhar ; A charada d.j n." antecéâtuiie es.-»,
a prime palavra — Campainha.
1
M LIVRARIA DE
Z&, iX* P» «.ftl
E S T A B E L E C I D A MO OURO P R E T O ,
@VI£SI^*2'7I-.**@u_ IPi-IRA <ü IP«IBM«l.«f-$í-(í) -Da.
os
•*_i PARÁ P I A N O .
PELO GOMMENDADOR
FRANCISCO XAVIER•BOMTEMPÒ
r
OFFICIAL MAIOR PRAPUADO OA SECRETARIA D*ESTAD3 DOS NEGÓCIOS
DA MARIKH A.
fértil região , qúe se acha si» I nas contava cem annos; e por
tuada nas faldas do monte isso que era em extremo ar-
Tirzah , ao sul da China. Sha- rogante e insolente, fez es-
lum,(que na lingua Chineza carneo de seu irmão Shalum,
significa lavrador ) , possuía o qual, não possuindo mais
todos os outeiros circumvisi- do que uma extensa cadêa de
nhos, e aquella corda de ser- rochedos e de montes , tivera
ras, geralmente chamada Cor*, a ousadia de aspirar á mão
dilheira de Tirzah. Harpa th da formosa Hilpa. Shalum re-
era dotado de um caracter al- senho-se tanto d'este insulto,
tivo e desprezador ; tinha Sha*- que amaldiçoou a seu irmão
lum um gênio meigo e bran- na amargura de seu coração,
do , gosava da estimação de e fervorosamente pédio a Deos1
Deos, edo amor dos homens. que o fizesse expirar esmagado
Dizem que antes do dilúvio, pela queda de um de seus
ehegárão as filhas de Cohu a montes, se elle algum dia ,
fazer-se celebres , em conse- fugindo aos ardentes raios do
qüência do muito apreço, em sol, viesse procurar descansar
que tinhão as riquezas: c foi á sombra d'elles.
por este motivo que a bella Desde então nunca Harpa*-"
líilpa, vendo os numerosos th se aventurou a passar os
rebanhos deHarpath espalha- limites de seu| valles* mas,
dos pelas vastas e ricas terras affogando-sé n u m rio, ao que-
que rematão nas faldas da Cor- rer atravessal-o, terminou por
dilheira de Tirzah, e admiran- uma morte prematura a sua
do as claras fontes , e os mui- brilhante carreira , aos duzen*'
tos ribeiros , que as aformosê-- tos e cincoenta annos de idade.
ão , preferio este a Shalum. Em conseqüência d'este^ri§te
Harpalh andou tão depres- acontecimento, dêo-se ao tal
sa com o seu namoro, que. ca- rio o nome de Harpath ; e o
sou com Hilpa ainda na flor que não deixa de parecer ex-
da idade , pois que ella ape- traordinário , é que elle nas*
0'RICITEiriTOR MINEIRO. 12.5
COMPÊNDIO
J3A
WDSJtBVál IÍÀ<B*2®JtA& •
PELO PROFESSOR
de crear no liio de Janeiro uma po- gumas dessas peças abi foraõ applau-
esia e um thealro brasileiro. Anima- didas; mas a falta de impressão ás
do pela estimação do protector das fez cahit* em esquecimento, e alé os
feltras o vice-rei Luiz de Vasconcel- nomes de seus auetores foraõ devo»
los e Sousa , elle prestom-se de bom rados pela negligencia.
grado aos conselhos do seu particu- Cheio da idéa de que o Brasil a*
lar amigo José Bazilio da Gama no preseuta objeclos magestosos e gran-
estabelecimento de uma Arcadia, que des como solo virgem ha pouco sa-»
.se ramificou em Minas Geraes , e da hido das mãos da- natureza, enrique-
qual ainda nos reslaõ excedentes po- cido de preciosos thesouros , quiz
esias Esta associação foi lego ac- Manoel Ignacio crear uma poesia Iam*
crescenlada com outros ramos de bern nova e brasileira, que se pro-
Philolrgia , que a tornarão ulil e de porcionasse aos grandes sentimentos
Jionra á nossa pátria. Cláudio Ma» que deixa nas almas dos philosophos
jnoel da Costa pelos seus poemas, que pensadores o aspecto deste paiz por
se podem ler no Pamazo Brasileiro, tantos motivos admirável. A empre»
dâ provas des»a associação de arca- sa era grande de certo; e a honra
des , que por algum tempo abrilhan- de a tentar levou Manoel Ignacio aos
tara a comarca do Rio das Mortes em primeiros passos de taõ difficullosa
Minas. Manoel Ignacio pela sua sa- carreira. Substituindo em suas cem*
lyra aos vícios, pelo seu poemeto em posições aos similes sediços e velhas
louvor das artes, pelas suas odes e similes brasileiros mais arrebatadores
canções á Vasconcellos na fundação e de melhor monta , elle queria as-
de excellenles obras publicas com que sim por seu exemplo chamar os estu-
aformoseara a cidade do Rio de Ja- diosos a uma occupaçaõ mais patri»
neiro e que também se encontraõ no ótica e de maior novidade, casan-
Pamazo Brasileiro , deixou viva lem- do a poesia com* a musica , porque
brança do seu ardente zelo pelo cul- a experiência o convencia que ella
to das musas. Os seus esforços nes- muito se prestava*ao nosso gênio;
ta parte foraõ até fazer crear um pe- compôz elle os seus Bondas, cantan-
queno thealro doméstico , onde é do assim as nossas arvores, fruclos,-
hoje o palácio do visconde do Rio flores , montanhas . rios , e florestai,
Comprido para nelle ensaiarem-se com tal harmonia , qne parece que a
algumas composições cômicas c trá- musica acompanha necessariamente o
gicas, tanto de seus discípulos, como pensamento do poeta, A* esta collecçaO
de seus amigos : eiias eraõ depois de Bondas, que um seu discipubi fi-
censuradas eui jury particular dos ar° zera publicar em Lisboa, juntou elle
cades, alé que levadas á maior per- harmoniosos JHadrigaes , que podem
feição pela lima de seus auetores se ser modelos aos que se derem a taõ
tornassem dignas de serem represen- sentimentaes composições.
tadas no lheatro publico do Rio. Al- Desgraçadamente naõ era ainda «hei
O RECREADOR MINEIRO -.35
;ado o tempo de taõ almejada re« Meias dos homens pardos da sua co-
fnecessária
orma; a dependência
a das leltras.
colonial fazia
Nem os Ren-.
marca do Rio das Mortes ; era de
core semblante carregado, e de falia
dós , nnm os Madrigaes nem outras pausada, estatura alia, repleta, e forte,
compoMÇÕes de Manoel Ignacio , e« ü seu gosto e delicada critica roí
mlnentementt brasileiras, liveraõ em todos os ramos de lilteratura ainda
seus dias a voga que entaõ merece-* se fazem conhecer em suas poesias,
raõ outros poesias suas adubadas com e sentia-se complacentemente no seu
as figuras e donaires da poesia por- trato familiar. A estimação que elle
tugueza. Ü Tejo e o Mondego eraõ consagrava aos seus dicipulos, quan-
mais applaudidos nos versos do que do nelles (obrigava talentos e gênio „
o Amazonas e o Prata ; o louro e o eraõ o assomo do mérito em que de-
myrto muito móis do que a manguei- pois appareceriaõ e talvez uma recom-
ra e o cajueiro"; flores cahiaõ da penr, mendaçaõ respeitável para quem sa-
na dos poetas que nunca se haviaõ bia apreciar as raras qualidades da
oflerecido a vistas brasileiras, e a taõ dislineto philologo. Fora uma hon-
mythologia com iodo o seu nume- rosa empresa publicar em uma só col-
roso cortejo empunhava despotica o lecçaõ as muitas e boas poesias que
sceptro de"seu dominio. A idéa do nos- sahiraõ da sua penna e que avulsas
so poeta naõ foi ainda assim perdida ; correm o mundo litter-rrio estampa-
porque novos gênios vão apparecen- da* em diversas épochas mas já quo
do na terra de Santa Cruz, levando naõ podemos pagar este tributo d*
avante a diflicultosa empresa de pro- gratidão á memoiii de um mestre, a-
porcionar a nossa poesia á grandeza quem devemos inslrucçaõ, e nos hon*.
dos objectos que de todas as partes rara com sua particular amizade,
nos cercaõ. Assim também o theátro conteniamo-nos em salvar o seu nome
se vai enriquecendo de peças brasi- da voragem do esquecimento , para
leiras, moldadas por exemplares da que seja conhecido como um dos nos.
nova escola , qu§> na Europa tem fei- sos melhores litteratos, dos nossos
to grandes progressos, bons poetas que honraõ a lilteralu*
ra brasileira. .-*'
Manoel Ignacio voltando de Lisboa
recebeu a patente de coronel de mi» | O. G J. C. B.
l_3G O RECREADOR MINEIRO.
GRUTA AMERICANA.
-**-*-
clara e formalmente o santo matri- elle nunca havia procurado a inclina-
mônio. A viuva, que o nlo espera ção de Leoncio, que, liberal por es-
Ta, ficou admiradissima de ver que sência , era tolerante , e tinha por
tinham tomado em serio seus galan- princípio naõ contrariar as inclinações
teios; mas ella apreciava em demazia e gostos dos outros. Tendo de partir
a viuvez para ir assim á tôa re- para uma longa viagem elle disse a seu
nunciai' a tão doce estado ; ella a- sobiinho :
gradeceu a seu respeitoso adorador, — Naõ te afflijas, rapaz , eu me en**
o qual por ter querido ser marido vior carrego de procurar-te uma esposa per-
se despedido de ser amante. feita , arranjar-te-hei tudo , tu náõ te
Este revez atordoou Leoncio, e de incommodarà. se nao para ir casar:
'então seus passos eram regulados por confia em mim que tenho boa ma5
uma desconfiança desageilada que lhe para escolher. D'aqui a um mez, terá»
foi funesta. Quando por três vezes noticias minhas.
foi recusado, não se fallou mais se- Havia M, Lombard desempenhado
não de suas derrotas, esquecidas su- sua palavra : três semanas depois da
as bellas partes; as famílias cuja a- sua partida escreveu a seu sdbrinho :
liança procurou assustaram*-se. Nãi o ,, Meu caro amigo, tenho a fortu-
quiz, diziam, M"* de.... não o quizerani na de informar-te que , conforme com
M. r \...e....è impossível que debaixo a nossa convenção , porcurei-te , e a»
de tão bellas appaiencias não en- chei-te uma noiva soberba. E'uma mo«-
cubra este m: ço algum vicio oceulto. ça linda como um anjo , que tem ma-
O campo era vasto e azado para gníficos olhos azues, bellos cabellos lou»
terríveis commentarios e extraordinárias tos , e é filha única de uma mulher
supposiçf es. Muitos annos se passa- que possue quinze mil francos de ren-
vam assim; e de mais opprimido pelo dimentos de bens de raiz. O dote que
pezo de suas desventuras, alquebrado leva ser à de cem mil francos. Espero
por tantas derrotai, cahiu n u m pro- que não teias razão de queixa contra
fundo desanimo e abatimento. mim. Põe te de viagem apenas rece«
Veio felizmente em seu socorro o beres esta, e apressa-He de casar. Nao
tio Lombard. M. Lomb«rd lia via si* poderei assistir a teu casamento porque
do em sua mocidade caixeiro viajan- devo sem demora sffguir paia Marse*
te; tendo enriquecido, e achando-se lha e demorar-me na Provença perto
como sócio á frente de uma opulen. de dons mezes. Quando voltar terei
Ia casa de çommercio, elle havia re- grande prazer de te achar casado, e
servado para si a parte das viagens, ! no entanto fico fazendo sinceros votos
afim de que u-o perdesse seus antigos e por tua felicidade. Adeus , meu amigo.
queridos hábitos. Haviam já trinta Teu tio que te ama , *
annos que M Lombard percorria a IsiDf-RO LOMBiBD,
França, e vaidoso pretendia que em t >- P. S. Eis aqui o nome e a morada de
das as cidades e aldeias do reino dei- tua noiva — Me. Euphrasia DutiTlois,
xara enamoradas. Para justificar esse em casa de Mme. Dutillois, sua mãe, em
cosmopolismo amoroso convém advertir Bony perto de Montargis.
que M. Lombard era elegante e bem Esta carta encheu Leoncio de insólito
feito : paitidista estrenuo do cçlibato, júbilo ; elle partiu apressado, cheio de,
DOR MINEIRO. i»4">
preço nos homens senão a uma espé- ado. Euphrasia dirigio se à dona dá
cie de belleza. Para ser bello , em sua casa que respondeu com boa vontade
opinião, preciso"'era teí- oito a nove a todas as suas petrguntaS,
palmos de altura , fortes espadiias, fa- — Entre as pessoas chegadas hoje dè
ces bem vermelhas e suissas bem cabel- Pariz, veio também um M, Durand ?
ludas ' não reunia Leoncio fao brilhan — Sim , minha senhora, sim , um
tes dotes , e porisso M. Lõinbard que moço que veio casai se aqui na terra,
achava que a natureza o hívia^inal^ tra- ao que pude colher das conversações'
tado , só havia dito a respeito d elle: que ouvi. Elle disse que pretendia ir
— Tenho quasi certeza que vós não amanhãa até ã aldêa de Bony. Tl.omaz
desgosta reis de sua pessoa. — Palavras deve leval-o no carrinho da casa pa-
ambíguas que tinhão lahçado Eujfmra- gando elle cinco francos. A viagem fiV
S*ia na duvida e na inquietação. caria bem paga com três francos, mas
— Pois bem , continuou M ne. Dutil- quando se vae ver sua noiva que impor»
lois , estas ainda perfeitamente livre ta se pague mais caro ! As senhoras
Amanhãa veremos M. Duranfl , e si el- conhecem M. Durand ? Querem que vá
le te não agradar, nòs o despediremos. avis.il-o , que o procurão ? Elle ainda
Mas apoàto que elle le lià'de agradar. não está deitado ; em seu quarto a ve*
— E' assim mesmo ; vossa confiança U ainda não esta acceza. Sim, qué
faz vossa força ; julgaes que è fácil di- n'este mesmo instante acaba Cathari-
_er m cara de alguém ide»vo* embo- na de trazer me o passaporte d'clle: ,
ra , acho-vos desagradável e feio ? vou escrever seu nome no registo da ;
Tião minha mãe , quando chegardes ca.-ia ; que é preciso obedecer as aUtò*1
a esse ponto , eu vos Verei tão emba ridades e não nos involver-mcs com a
j-açada tão afflicta que por compaixão, policia. As senhoras querem cear ?
por dó , sacriíicar-me**hcis, cizarei.... — Sim , respondeu Euphrasia , sim,
S i m , que me conheço ... Felizmente fazei que nos sirvãó depressa.
lia um recurso que tudo concilia. Dentro de mu minuto, senhoras, ''
— Qual é P Ella retirou-sé deixando em cima da
Eil-o : mandai que Estevão prepare meza o passaporte. Euphrasia lançou
a sege, vamos a Montargis, d'aqui a mão d*elle dizendo *.
três horas lâ chegaremos, apeiemos. — Talvez não nos"* seja preciso ver
nos na estalagèm em que parão os co- M. Durand ; seu retrato ha de achar-se
ches de Paiiz, ninguém nos conhece , n'este papel.
ceiamos à meza commnm com os vi- Ella abriu e leu.
ajantes por ultimo chegados ; encon- „ Ern nome d'El-Rei.. Pedro Igna-
tro-me com M. Durand ; se me não cio Durand....
servir escreveis-lhe uma carta que lhe — Chama-se Ignacio!-que nome tão
poupe o trabalho de ir a Bony , e a feio ! - •*
vós uma explicação que não deixa de — Escolher-lhes-has óutr i mauf bo*.
ter seus embaraços: que tal achaes meu nito, respondeu Mine. Dutillois , è que
plano ? mais te agrade.
Quando Mme. Dutillois e sua filha n- Euphrasia passou á desdrlpi/âó da pes*
pearãose na estalagein dcslimdi eiao soa .- ella empallideceu , a tnao. trémcui
nove horas da noite, já se havia ce- lhe-, e ella disse paraísua mSe;
O RECREADOR MINEIRO. fc-47
— Dar lheJiei, também outros ca» tem está preso a três léguas daqui...
Sbcllo. que mais m«, agradem ? , Ignacio Durand, cabellus vermelhos,
— Como ? marcado de bexigas» com uma verru-
— Tem cahellos vermelhos. ga, — é elle mesmo, ceila-do .' e des»
— Verintlhos 1 exclamou Mine. Du «robrando enião outro papel; Leoncio
tillois...' Ah i,M. Lombard. M. Lom- , Ürirand , cahellos pretos nariz medio
bard 1 M. Lombard ! cirrr.oval....é isso mesmo* Tomae, se-
— Não é só isso mama , continu- nhor, tivemos Irontein um engano
ou Euphrasia com-sangue (rio de riuem erão dous Puraijd. XJm vinfin de Pa-
já esta resolvida a oitvit" o reHof* riz , outro para lá ia : trocarão vossos
i — Sobrancelhas cor de «fogo , olhos pissaportes .quando voi-os entregarão j
eívcrde.ulos, n««riz ar hatado, boca gr a n leve esse en o, funestas conseqüências
de , barba avermelhada , cara toda in.ii- pura -vosso fiomniiyuro que foi,preso,
Cida de, bexigas. — Signal parlicufai: e acha-se' a e.-la, hora na cadeia desla
Uma verruga em cima di venta esquenta. cidade, Tu tio agora se explica , c vou fa-
— Mine. Dutillois caliiu cnns-ierjia» zel-o soltar. Deveis dar-vos por feliz,
d a ; Euphrasia já tinha «leci-dido o que senhor Leoncio Durand , de que não
liavia de fazer ,. como moça que sabe vos trouxe semelhante engano conse-
que nunca lhe faltarão maridas qaiando qüência nenhuma desagradável.
< ijuizer escolher. A esulrj.ideira Voltou, — Dou me com effeiio por mui feliz./
annunciou que a cia estava na meza -,. Depois da desgraça de Montargis, Le-
e« ajuntou : oncio iorncu.se philosopho: vendo que
— 11. Durand ainda não está deita- lhe eía impossível cazar-se, reconc-
do • elle acaba de pedir pennas, pa* liou-se com i vida de solteiro , a he-
pel c tinta. ... rança de seu tio veio permitiu-lhe que
Que nos importamos com* isso? respon. se entregasse a todos os divertimen-
deu Euphrasia .* não conhecemos-esse tos de un>,opulento celibatario M. Lom-
senhor, o de que ainda agora vos fal- bard morreu repentinamente em Mar-
íamos é meu pae, e tem cincoenta selha , ileis indo a sen sobiinho O me-
annos. lhor d e quinhentos mil francos. Des«
No dia seguinte'Leò-ncto se dispu- de então Leoncio venceu sua índole»
nlià a* pariir para Bony no 'carrinho entregou-se aos prazeres, e encarou,
do Thouia quando recebeu uma cai* o casrtineuto debaixo de muito diverso
ta de Mme* Dutillois. A despedida es- aspecto. • . «"
.
tava phrascada de um inodo* polnti**o! .vUm anno tinha passado depois de
allegavão-se fovtuitas circiimstanciasj, sua desvenuirada viagem de Montai»
desculpas que -ão admitiiâo replica. gis , quando Leoncio encontrou n um
Leoncio comprehendcu que uma.-fala- baile uma moça liiui bonita, que ou»
lidada o ligava ao celibato, resignou-se vindo seü nome, lhe disse: ' -***
c tomou cheio fie tristeza o caminho — Eu estive* por pouco a chama r-
de* Pariz Em iônlaineble.iu ò cabo da ine Mme. Durand. *<\
«jcndarmai ia que examinou seu passa- .— Ah:, talvez algum dos meus na*
porte, exclamou 5 reriies! -7
-r- Ah I cisaqui rriíia grande venta» — O'senhor-Ignacio Duiaiid , ren-
íiv \wi\ aquelle«cnlifoi;que de-Álc hon*- deiro de Pariz, c vosso conhecido'.•J
is4S ò RERECADOR MINEIRO.
No centro do bazar esta situado o que melhores mestres de Paris alli tomarilo
chan Si Bezessein, com quatro lados, e lições quanto aos gelados. O assucar»
só patente ao publico desde as sete ho- oandi não está encerrado em reJomai;
ra da nianliãa até ao meio dia; é o ergue-se em figura de rochedos ou de
coração de Constantinopla, é o loeo do columnas atè o teoto das loja*, e, bii*
orientulismo; sò ahi se vendem armas e lhando com todas ns cores do íris, é
outros objectos de grande preço. Neste uma maravilha das mil e tuna noites
sitio è mais alio o tecto, e ha mais realisada, e o preço que custa è outra
obscuridade que nos outros babares; os maravilha; por dous vinténs compra-se
mercadores destas lojas são velhos, de um pedaço de certa casta mui lina, poe-
credito bem firmado. Todo o lugar é ticamente denominada ôalsamo peitoral,
pitoresco. Depois de terdes admirado de tamanho tal, que o maior gblòso dé
as espadas de Damasco com riquíssimas assucar-candi dificilmente vencerá a
bainhas e punhos resplandecentes, guar* quarta parte. Se dermos credito aos Tur-
hecidos de pedras preciosas, os punhos cos, as mulheres de Constantinopla qua-
com seus cabos . em que scintillão a si que vivem só de doces. Cem mulhe*
esmeralda e o diamante, as espingardas res do sultão oecupão quinhentos cozi-
embutidas em nacar, prata e ouro, nheiros, e consomem 2,5oo libras de
voltai cs clhos para outra galeria. Que assucar por dia. E' esta a maior des»
aspecto respeitável o de tantas veneran- peza da cozinha do serralho.
das cabeças cobeitas de cans, coroadas Uma das cuiiozidades da immcnsa capi-
peles turbantes alvos como a neve! São tal do império ottomano è uma casa
os Turcos do antigo regimen, os res- de pasto turca. Diz a este respeito certo
tos poéticos do Oriente, os destroços da viajante: « N'um gyro que fiz com o
nação que Mahmoud desfigurou la.en- meu cônsul, aconteceu achai mo-nos qua-
do-lhe adoptar os usos occidentaes; são ; si em jejum, ao meio dia, defronte de
os consumidores de ópio que o fumão uma casa de pasto afamada, sita ao pi
até a dormir, e que não beberião vinho do mercado dos escravos. Confesso
ainda quando Ih*o ministrassem, as for- que à primeira vista não fiquei muito
mosas huris do paraíso musulmane; são satisfeito, e tive poucas tentações de
os fatalistas que rão lotnarião o traba- saciar o appetite em* semelhante lugar.
lho de se ai rodarem de um leão furioso , Um Turco rochnnchudo, luzindo lhe a
e que duvidão tanto dos milagres de Mafo- pelle com gordura, de braços arregaça-
rria como do tamanho do caximbo por dos, estava de pè á porta da caza e
onde fumão. A riqueza das mercadorias convidava os passageiros batendo com
que estes negociantes chãos e abonados uma enorme faca de cozinha na polpa
vendem é estupenda; as fazendas mais da perna de um carneiro já aviado,
delicadas alli se encontrão, bem como as pendente da banda de fora. Chegava
mais preciosas, e os preços são incom- qualquer- curioso: o bom do Tureotcor-
paravelmente mais baratos que na Eu- tava logo uma talhada, partia-a em pe-
ropa- dacinhos, e, enfiando-os em um espeto,
O armamento ou bazar dos confeiteiros os punha ao lume. E* isto o que em
c também esplendido e muitíssimo bem Constantinopla chamão kibodsi o nosso
prwidó. Staaibul é* afamado pelos seus I cônsul, -que já estava fajniliarisado com
cxccilcnte3_ doces, e não sem razão; os ' este guisado, entrou na casa sem hesi-
O RECREADOR MINEIRO. i*èa
•dor naõ foi taõ néscio que naõ sou- Mas ó medico Ifios havia o ambas
besse assegurar o futuro da filha è prohibido essas imprudências, que
porisso no contrato de cazamento es- ambas eraõ doentias e podiaõ as**
tipulou que ella conservaria inteira! sim cornprometter sua saúde .' um
a propriedade , administração è usu- rlieiimalismo agudo «lliacava Sarah,
íructo dos bens que lhe daVa , Ou que e Mistriss Philipps éra valotudinaria,
por suà 'rnorte herdasse. Prudente è depoi* de sèu parto ia diariamen-
foi a èstipulaçáõ parque, o lortl era te elanguecendo. Quando seecnoti»
•um debochado , e perdulário , queStravaõ as duas frises :—Quis vindes
dava mnito ma Vida a sua mulher, j fnzer aqui senhora , dizia S.arah
Elle tinha sido desterrado de Londres, e yossa lànguidez ! 'Que Vindes fazer
e de seu .desterro só se lembrava de aqui Sarah I è vosso rhcumaiismol
escreverr-Hie pára «pedir-lhe dinheiro — Eu ouvi a menina chorar, senho*» ,
para ameaçal-a , e para desejar-lhe ra. — K' mentira , Sarah ha mais
** morte . a fim de poder-, tutor de de duas horas que esWa acordada. —
sua filha, , entrar na administração \h 1 senhora , tanto'tempo acordada,
'« goso àe süa fortuna e esbàn'al-«a. e ò m'edico , 'e vossa sàude 1 — Olha.
Uflistriss Philipps tinha*, como 'já an- Sarah 1 olha para Lucy-, Ve com»
•"•huiiciamos', uma filha , era a peque- dorme I 'como e**'tá stirrindo! •*-- e am*<
na Lury, menina encantadora,— has emmudèciaõ contemplando, adp»
como ô "Sàõ todas as méhina*s na In- rando sua filha. Sim, que os me*
glaterra.— Na époch-t em que V&s riinos , quando dormem , ?aõ aWjos
representamos e^sa 'família . Lucy t subém àos ceos, — e se ríòs naõ dizetís
nha quatro ànnose nada havia mais I o que lá .-êm é porque o èsquacem.
epgraçddo, mais lindo-, inais ciôr de Mas quem éra esse médico , a cujas
rosa do (jüê a pequena Lucy. E por ordens tanto ébedcciaõ as doas mães ?
isso éra efla ò oVjedto único dos pen- Gonsinta O leitor que 'com vlle gas-
sares dos desvellos de sua mae , *è temos algumas pa!a*'*.is. ..
de Sarah, criada da caza, ja meia; 'Ghamavaõ--o o doolor Yoh-g , bàvià
madura , que havia carregado com sido o medico de IVfi.«,tiiss Phitípps •,
o maior pe*zo de sua crèaçaõ. Mil quando donzella, e medico de suà
vezes ambas sé encorttravaõ alta boi- mãe ;'e por isso tinha naquella fanri •
te ao pé do berço de Lucy.* vinhaõ tia uma autoridade de avô: confiden-
ver se Lucy estava 'beto coberta, se te das enfermidades do corpo , tinha
Lucy estava socegada , Se a *Iu'z da alcançado sem indiscripçaõ , 'pélo^s-
jampada nao lhe dava nos olhos : cendente «único de sua posição, con-
mas tudo isso eraõ pretextos; o que fidencia das enfermidades da alma.
as levava ao pè do 'berço era o de- Amigo da mae de Mistriss Philipps
sejo de respirar o hálito dè LtícV, de tinha aconselhado seu cazamento, é
beijar-lhe a angélica boca, e de contem o bom emprego de sua fortuna ê
filar absortas as graças de sua filha. agora que a u-ii ccaducti*, e o al#an«
•O 'RECREADO* MINEIRO. 1*07
m.
'dono de seu marido a f<>zi*>õ des- ! hora doítfrosà -do parto, -passa a nai-
graç-sdi , 'condemnava se com a de- j te em pé, junto delia, aôompanh*»
voçad de um bom pae a reparar 'o | suas dores , awimando-a com o lis*
erro, com que sua imprudência ha-; raro da •mafernidade. Eí-fa mae; ei***
via carregado o 'futuro dè tua filha, le se rtlira sem 'duvida para des*
•K quando fls forças de nua protegida •cançar : na«5 , á porta o "espera uma
cediaõ an pefco dos desgostos , qna/n carruagem; élhe precio ir ver um
'do à ir-rítaçao taoral, influindo no velho que a apopfexia accoinaíelteu.
sangue se transtornava em langríi- AcabB -de dar vida a -um infante
'dcz febril, 'depois de ter combatido vae arrancar á moite um Velho ! Sua
a tristeza 'com 'palavras ctfnsofladtrfa-s, existência •ei-la -ahi ,«éuin Comba-
'combalia a enfermidade com as ar- te •continuo cotn a destruição ., f5 o
mas da scieiícia Aponlando-lhe Lu«- •espectaculo 'da htirr.anidcdc 'cm peri*
*cy taõ fecunda cm graças, e belle»*! go-, pálida /e àgonrsaiíte. E quando
za , obliriha que iiin surriso de Cs-« o 'menino nasceu , quando o ÍCHIA
•jierança animasse as macilcntas •fa-* «ollou a existência, daõ-lhe algnfrs
•cês, e ps lábios descorados de Mis»; vinténs a esre anija da ressurif-içaõ-,
•triss Philipps; e 'assim por meio da e dizem : — Pogueihlhe ?èn .'«mpu.
mãe' salvava a mulher 'como as ve •É o medico recebe esses "vinténs, 'o
zes se cura um membro doente Ira,: naõ tem direito de queixar-se da'frr-
lando de Outro'membro grátida*õ:! Kis o que *èra o dl*. -Vong.
Por inconcebível faculdade do sua Temos percorrido 'toflas as'perso-
'rtòbre prpfissáô , o dr. Yong exercia, nagens do drama': , . ah ! 'falta'v-r»«
'em 20'famílias diversas essa doce pa» nos fallar da principal, de -Rog. ;flog
ternidade da sciencia , sem nunca se era um'ca*xoi*to da 'mais'feia raça «que
esgotarem seu*s 'recursos de ivlTeiçaõ,, se 'pode imaginar , *seu ip«ílo 'era >dfe
e bondade. '. "üma côr "suja , *sitas Tfelhrrs «disfor-
Avaliaes bem o^acrificio -deste "ho £ u*es e Sempre cm nó direcçaõ::
muni , qifo em quanto pensaes em v; s- quando uma s* h'varitava •abtmava
sa fortuna , 'èm 'vossos prazeres ,-pen- se a outra ; "signal phtânnlo-tjico d -**
-welle etnvoísa "vida, 'que lhe levaes; cães ladrões, Apefcar porem 'He *SI-H
toda dilacerada pela lula do mundo, fealdade , apezar de se*tis dlbos'apn»
*e das 'paixões"? — Para -vós a alegria,, gadffs , -apezar de'tudo 'Rogcra f-ir-
— para t^lls naõ —-:üma operação! graçado , 'porque *Rog "éra moço, 'e
dolorosa p'récedeu Seu ijantar , outra' tudo o que 'é moço agraSta-; r.i.-g <-i>_
'o espera quando acorda , e 'Sua 'maõ o companheiro inseparável du ;re-
'naõ devo tremer. Em quanto vos ri- quena 'Lucy , 'que 'juntos brir-ea-v^e,
des élle pensa ; em quanto dJnça- que'juntos rolavaõ pelo chaõ qr'e
es ao som de mil inátrumculos, ao cla- juntos dcrni.íõ abraçados-; o'tiriien
rio de mil bugias, elle recebe em enfeite dò caõ era um lu-iJo c lar
seus -braços a joven esposa, n* de ialaõ «com -este -le-lre-iro-: — •tóyg
1.58 REREGADOR MINEIRO,
O
WS!
nha Lucy naõ sabe como se chama, do pregaõ. — Avental verde e cha**
nem onde mora / peo branco; exçellentes alviçaras a
A desesperaçaõ tem gradações , quem ureslituír a sua mãe. — Hi ura
não mata de uma vez : se o fizesse, erro, sr. , um erro em vosso pre-
seria um mal? Ella nos deixa, e da- gão , a menina tinha um chapeo cor
pois volta, vai Ia de forças, zotnba de roza. --.•
rniii nosco, e mente. Sen nome mesa — Ofha a ladrona, como se alfai»'
mo é uma implacável mentira ; es- coou , grilaõ mil vozes «'uma só voz,
peramos mesmo' na maior desespera1 e maldições, e ameaças, e pancadas
çaõ. cabem sobre a mísera. — Da-nos con-
A crise das lagrimas chegou em ta da menina ladra infame, da me*
fim para Mistriss Philipps. Alé a-íora, nina qtre roubaste —Naõ fui eu quem
disse, lenho procurado minha filha, a furtei, eu a procuro, sou sua mãe.
ainda por ella naõ perguntei a nin- — T J sua mae , íu auiarella como
guém- — e chegando-se para Um ho- uma criminosa! —Sou sua níi.*.
mem que ia passando : —Sr. , sa- — Tu , com esses cabellos desata»'
bei* dizer-me se acharão uma me- dos, cobertos d<* sangue, e lama)—
nina de quatro annos , muito linda , Sou sua mãe.
vestida de branco com um avental — Tu miserável , sua mae , tu
verde, c chapeo cõr de rosa ? sr. , infame, tu ladra? — Serei'o que quin
eu sou sua mãe : respondei-me pelo zerdes , mas sou sua ir.ae.
amor de Deos. — Sra. respondeu — Si és sua mãe, torna, aqui es-
elle , saheis me dizer se acharão 3 tá tua filha , — disse uma mulher tra-
siil gtiínecs muito novos . e muito zendo nos braços uma criança.
bonitos? Eraõ mens, perdi-os no Jo- Mistriss Philipps precipitou-se, e
go; respondei me pelo1 amor de Deus I depois recuou ; — fM&ã, disse , essa
A pobre mãe julgava fatiar com naõ é minha, filha. —
um homem, faltava com um jogador. — E' uma boa mae è uma mãe
Emíim ella achou-te n"um cães verdadeira, clamarão iodos à uma,
muita gente estava reunida em tor- naõ é uma ladrona de crianças.
no de um homem que lia um pre A criança havia sido trazida parar
gaõ , ella confundio-s3 com a mul- examinar se Mistriss Philipps tinha
tidão, e ouvio altenta ; o homem di- realmente perdido sua filha, ou se
zia ; —Perdeu se hoje ás quatro lio- era alguma ladra de efiicio
ias da tarde uma menina de* 4 a n ' K como a haviaõ insullaèo * Ias**
nos, que morava ern Euslon-Sqaa- timaraõ-a : como a haviaõ maltra-
ie.... — tado , abraçarão a , e acompanha-
Mistriss Philipps chegou se até o raõ-a em eortejo até sua caza , pro*
interior do circulo. —Trajava um mettendo procurar sua filha , a »e>
vestido branco um avental verde...— pararaõ-.-e repelindo pela* ruis —
a mae bebia as palavras do homem Perdeu* se uma menina, chamada Lu*
O RECREADOR MINER0; 1*6!
Víft *, e por isso eu nfiô podia dísp'r Ihoüelte i, Jhç disse o rei " o ves-
fienSo da metade da minha forlun-*; ..'• so castello de SilhüueUe é magni-
;>j.E oito annos depjis cm um pas» fijd. Qümtas janellas tem elle de
sojo de Londres, a, multidão sé api.
frente ? Não Sei ; ., respondèo ò
nhou n*um ponto , e nesse ponto viu-
se um Cflo puchando puchando pelas ministro , que de certo não con-
mangas, petas saias dè urha moça de tava com semelhante pergunta J
l5 annos. Espancad o , e elle uso a e o rei irmneilialamerite lhe vol-
abandona ; cdnçao-se de ospahcal-o, lou as dostis< »• Mr. de Silhou-
e elle se nflo cança dè srflVer ; sua etfe, „ disse Mr, de Caiácioli ,
cabeça' está toda ensangüentada, soii« embaliadot' de "Sapolès , que en-
guc e lagrimas sahem dás cavidades tão se achava presente ;.«« vós G-
de «eus c-lllos. A mpça bem que as--* ,t zestes muito mal em responder
sustada ,,pôde ler na coleira docao a .1 não sei ; quando se está con-
-fajafrá - - R d g , —- ella diz, Rog ! e 0
,. versando 1.0'ti Os* réis, é pre-
cfio larga o vestido que eslava dila-
cerando, e julgando-se reconhecido, t* ciso sempre iriostrar que se sate
èalta , pula de alegre , põe-se á an- ,,» tudo i ainda mesmo aqui Ho q«e
dar, e obriga a moça d seguil-o. Ella • > de todo se não sabe, Yale mais
vai pouco á poücÒ retcífdando cpdsas ii responder aoatíaso, do q u e c o n -
de quê já se não lembrava . está pa- 15 fessar igridranCia. Olhai ; ó rei
rede branca nao lhe é estranha , esta i, sabendo qtie eü já estive'ira
porta ,*-*•'. O cito poz-se a latir. ti Veneta , inopimdamente me
A porta abriu-se , e Sarah que n ,i perguntou antes de limitem :
veio abrir, recuou : a moça era Lücy*. >. Si*, embaixador- de quantos jú-
-r-Lord Philipps a, havia mandado; ri» izes se compõe o Conselho cios
Roubar para impossibilitar que Mistriss >, dez ? De dezoito , Senhor , lhe
Philjpps o privasse por.sua morte" da >, respondi eu logo Sem hesitar •
àdmiuislraçao dos bens de sua íiíha.
>, e S. M. ficou muito sati-.feitld
>, com a minha resposta. ,,
ANECDOfá.
gar essa tranqüilidade tão triste , sen» siderável. A affluencia dos pretendeu*
tia ir-se commorendo a alma até es* tes começou de novo a importunai a
tremecer - até chorar, mas pouco durarão seus suspiros. Não
Ella resava , e o movimento imper- sei porque ningnem se queix/m e
ceptível de seus lábios era o signal todos se affastaião.
único que revelava a rida ; nem um Chegou todavia o instante em que
instante se erguerão seus olhos nem esse coração insensível devia receber
mesmo em suas preces para encara» a faísca animadora. Entre os estran-
rem essa Virgem cujo coração foi trás- geiros que attrahe cada anno a repu-
passado por sete espidas de dór. tação de nossas festas do Pjllar a-
Há uma horrível historia inscripta chou-se um joven lord.
neste rosto , exclamei eu ! — Horrivel Cem de nossos mancebos erão mais
é verdade , disse flegmaticamente D. bellos do que elle mas elle tinha
Rafael, — E sabe la-heis por ventura? esse typo inglêz tão diverso do nos-
tornei-lhe com vivacidade. — Sei, e so 1 era instruído, espiriluoso , ele-
contar-vo-Ia h e i , respondeu-me , sur* gante , mas sua elegância não era a
1 indo se de minha impaciência , mas elegância hespanhola. Suas ideas , seu
não aqui ; saiamos. — De bom grado, modo de exprimi Ias erão ião diver-
que temo que a perseverança de meus sas dos nossos , que mal o entendia,
olhares tenha afnigido essa infeliz. — mos bem que fatiasse todavia caste-
"Miro o receieis ; ella nem si quer vos lhano mui puro, alterado por esse
vio , que para ninguém repara. tom estrangeiro que as senhoras achão
Entrei com D. Rafael era um bo- tão engraçado. De muitas conquistou
tequim -, é o lugar em que de pre- os affectos e com ella* divertio»se al-
ferencia conversão os habitantes de gum tempo , até que fallarão-lhe de
Saragoça, fomo-noi sentar no canto Luiza ; desejou vê-la , ficou delia e»
• mais escuro, e nessa bella lín- namorado * e não sei com que pliil»
gua castelhana , tão simples e tão har- thro captivou.lhe o coração tão facil-
moniosa contou-me elle a seguinte mente que dir-se-hia que ella o es-
historia * — Na #dade de i5 annos perava. A insensível moça sendo com
Luiza de V- era a moça mais for- delicias extender-se sua alma, como
mosa de Saragoça. Ainda que ro- que duplicar-se • a vida era-lhe flor
deiada das mais brilhantes homena- que desabroxava. Ella amava , e i n -
gênua o confessou: taes são as «lamas
gens ninguém tinha dispertado a po-
hespanholas ; quando amão , entre
tência de amar, que havia em seu
senlil-o e confessa-lo, vai a distancia
coração e quando sen pai instou que
única do pensamento á palavra.
aceitasse a mão do marquez de Milar
lioinqp. riquíssimo , mas de avançada A felicidade de D. Ai 1 Irus ( com esse
idade , ella condescendeo com a von- nome era conhecido o inglêz nesta ci-
tade paterna feliz por poder dar dade ) não foi mistério para niiignem.
prova de submissão de filha. No impulso de sua paixão , a inarque-
A morte do marquez deixou-a , na za parecia fazer garbo de ostenta»
idade de 17 annos , herdeira de uui Io. Nos passeios , nos bailes
fedia titulo , c de uma íormna con- no tue.tro. »»s partidas estava -em-
\%1% O RECREADOR MINEIRO.
pre pendurada ao braçq delle, co- tas : tudo estava disposto para que.
mo suspensa a suas palavras* Foi partisse n-i noite seguinte.- a irar.
por algum tempo uma fúria de cor qrezi «ionlrcceo que sua sorte estar?,
ínenUrios de contumelias femininas: va decidida.
a marquesa, nem se mostrava enver- A**" hora" marcada D,,* ^rtht*.-. entroti,
gonhada , nem se cohibia. Mas seus no palácio da marqueza : nem um
amores liuhão um não sei que , tão criado encontrou , foi a marqueza
terno , tão singelo e tão puro que quem veio recebe-lq . Elle ficou ex,«
todos se acostumarão a respeitai os lasiado '-nunca Luiza lhe havia pa«*
corno se fosse uma união consagra» reciilo tão bella , todos os soecor-
da e legitima. Havia 5 annos que ros que a arte e o desejo de agra» *
durava essa felicidade; quando Fer- dar podem ministrara uma moça for-
nando Vil e sua corte vierão pas- mos^ , brilhavão , surriàq , arredonda-
sar algum lempp em Saragoça. vão se em sua (-encantadora pessoa ,
Muitq agradou a D, Arthus esse seu vestido franco/. , as cores de seus
acontecimento que lhe promettia dis- atavios . seu p^etjteadó tudo havia
tracções e festas. Trez annos de du- sido combinado para dar realce à sua
ração lrayião bastante lesfriado seu belleza e a sua graça *. viva , mas com-
amor ; sua boca achava ainda juras primidas conimoção dava a seus olhos
e promessas , mas não as dietava mais inexplicável brillíq e fazia sobresahii*
O coração. Entre as bellezas da Cor- O azul de suas veias na fina c delica*
*.e uma moça de Sevilba , pela y}ya- da pele de seu rofto. — Pcrdoae es»
cidade de seus, olhos , e por esses en* ta reçepçfq , meu caro Arthus, disse
levos andaime» atrauio-lbe a attenção: lhe ella. vosso bilhete causou-me sur-
ella resistiu-lhe , e a resistência e os presa , que q não esperava , a to»
obstáculos que ella oppunha , «le um dos os meus criados déi hcepça pa«*
«capricho fizerão uma paixão. Nada é ra irem boje a festa de » . íiqueí
mais prespicaz do que os olhos de u- $6 com minha çainãrista, Mas sup-
*çna amante; a marquesa sentio im- piiremos a essa falia . ajimtou com
mediaiamente que Arthus lhe era in- um tom meigo e carinhoso', e en*
fiel Occuliando no entanto seus ze- quanto me ti verdes a vosso lado npn^
Jos , ella perserutava-lhe todos os pas- ca vos filtari quem vos sirva.
so? , g disfarçava quanto descobria. Graças & marqueza ', o jantar este-
Em fim soube quê o inglêz se dispu- ve qlegre e animado , £) Arthus <pn*í
nha 3 fugir secretamente com sua. "no- cantado nSo se cançava de excitai-a,
va amante. Em seu espirito germi- e de quvil-a. Ella patenteou então
narão do prompto as mais extiaya- recônditos thesouros f*.e jqvialidade e
pautes resoluções : a noi|e que pas*» de deliçade-zá: Arthqs sentia que se a t
8QU foi tão cruel que ella não dtj- leayãq , se n q em seu coração ^ a o
sej|ria igual a seu maior inimigo, Ao menos em sua cabeça algumas faís*
amanhecer recebeo um bilhete dp pér- cts «4e seu antigo amor. iVJais de u-
fido .- cqm termos cheios de ternu- n*a vez elle; achou-se triste e des-
ra supplicava-Uie licença para vir jan» contente : na véspera de sua perfídia
iar corn ella: era um meio de que teria querido vel a menos alegre é
l^Ç-ava mão atim de desviar suswei» menos feliz*. * »"
O RECREADOR MINEIRO: i*7i
«-—
Depois, do jantar , ja com seus cs»Uma voz em que mil diversas com*
íiqhos,, ja com seus folguedos , ella ir.oç3es se conftindião, jtirastes qae
o foi levando insensivelmenle para fo- me não deixarieis se não moiieiido,
ra do salão , e insensivelmenle acha-. preparai-vos pois para morrer. — Não
rão-se no jardim perto de um ban- te julgava tão perfeita no gênero ira-
co de pedra em que costutnivão sen- gico , minha linda actora, disse Ar-
tar-se. 0 inglêz uTio pôde resistir a thus si*rrindo'Se , mas com ar ínrruie»
to. —Desgraçado! inieriompeo ella,
taritos attrativos, elle tinha recupera-
do'todo o seu amor: sua linguagem nâo rias , sei de tudo ; lu me aliai-
era" terna a da marqueza chasquea* çoaeste , quizeste fugir com ouira a«
dora : elle procurou abraça-la mauhaa de noite, as escondidas, co-
ella
fugio lhe leve como um pássaro. mo um ladrão , como um cobarde,
não ti assim ? ignoro alguma coisa 1
-f-Uin beijo, Luiza, dizia Arthus cor-
rendo atraz delia. — N ã o quero da- D. Ai thus aiU-rorisado nao sabia o
]o e contra vossos ataques serve-me que respondesse.
de, abrigo este banco, — Esse banco? — E tu te attreveste, continuou ei**
disse Arthus e dando um pulo achou- Ia , a conceber semelhante piojecto,
Se ao lado delia. não recciasle minha vingança ? To»
'— A gilidade de jnglez tornou Lui- mavas-me por alguma fraca lngleza ,
Sa, um Hespanhol saltaria por cima tomavas-me por um brinquedo que
se mau.Ia deitai fora , , quando já tem
fâelle com os pés attados.; - lal-ohiéis
taiiibein? — Será minha recompensa bastante servido. Oh ! meu Deos ! co.
um* beijo ? — Sim uni beijo , e a- mo acreditar que elle um dia me ha.
baixou-se surrindo , e com sua man- via de tractar assim t Lagrimas de rai»
Va corrião-lhe dos olhos : o teriorde
ta etou-lhe 'forteAiente as pernas.» D.
Arthus ia npplicar as mãos ao ban- D. Arthus tinha subido de ponto , ei.
co para pular. — Não , dis&e a mar- le se via entregue à mercê de uma
mulher delirante de desesperaçã» e
que»,* , não, deve ser assim ,' seria ga-
nhar deslealmente , nao deveis seivn- de ciúme -. fez esforços porá levan-
•os de vossas mão* — Pois h e m l a - tar-se lançando os oluòs em derredn»;
tae*as % disse Aitim*-. do jardim como quem procurava Jcc»
Ella as tomou com. vivacidade , e c o r r o . . . . — Queres evitar-me , não é
ligou as e m solidez O mancebo dis- assim ? disse a marqueza respondeu*
punha-sc de novo para saltar ; cho- do a seu olhar e a seu pensamento.
que' imprevisto o fez cahir : elle le- E' impossível ! h* ter com a outra ?
vantou os olhos para rir com a mar. não pendes nisso ! Tu e's méu , e's
quei» dessesinistro: que súbita mudan-meu. Tu para outra t Não nâo ,
ça cin-^uas leiçôes f nunca !
Seu rosto estava pálido . seus deu. — Luiza' se me amas ... disse Ar-
tes apertados, seus olhos lançivão thus com vozsuppücante.—Se te amo!
fuga., seu peito palpitava sua mão julga pelo que faço. —Elta inclinou
convuloa eslava annula com um pu» se por cima delle , applicoullie so-
jii.al. bre os lábios um beijo -phrcnetico«
—• AÍ.bid. disse-lha- em fim co;« o Ipgle- duo um g r i l o . . .
1*7» 0 RECREADOR M1NER0.
•»-T
leaõ do defunto meu pai • pois te- cios , cujas paredes so elevavíio a
nho alli mais ouro do que imagi- prumo acima das águas do Ariiga ,
nas mais do que posso dizer ; le- espécie de cidadcllas onde as dis-
nho tanto que me posso fazer rei córdias sempre renascentes, e mui*.
de Verona , se assim me agradar. Ias vezes ensangüentadas, das republi-
Sim ffa*me a fantazia de comprar cas italianas forçavao cnlao os .no-
\erona toda .* homens mulheres , bres a tomarem domicilio. Dirigem»
creanças , cães, gatos cavallos se juntos para uma torre , sobre
animacs e gente. Aqui , meus sab- a qual tinha a idade lançado um
ditos , ^sois meus i pago^vos a di- crcpi sombrio ; chamavâo-a sórnc.u*
nheiro não apreço ; ponde vos de a Torre ÍSegra, Sobem uma esca-
joelhos ante mim quero que me da estreita , tortuosa interminável;
adorem : lenho ouro quero obras em cima de tudo se acha uma por-*
-primas , imensos palácios ! Poetas , ia guarnecida de chapas de ferro :
á obra, fazei-me cousas sublimes • Gifjlio introduz uma chave na pe*
eu estou acima da lei, acima do Do sada fechadura : os dous mancnbos
ge , acima dq Conselho dos Dez , yiitrao i)'u;ii quartinho abobadado quo
acimt do imperador, estou. 11.10 recebe claridade se nao por al-
— Estas doido , trez vezes doi» gumas aberturas engradadas de fer-
do archidoido , meu caro. On- ro : corta pejo meio um tu bique de
de sonhaste tu que tinhas todo o espessas lâminas de ferro e dian»
ouro de que tens a hocca cheia ? Teu te de uma espécie de posligo so
pai era rico , bem o sei ; mas o estendo unia pequena plataforma
que elle le deixou não justifica o muito pouco elevada.
teu dilhyrambo. Giulio se appioxima com uma
— Meu pai / Julgas acaso que espécie de precaução , fuss andar u*
elle revellou a ninguém o segredo de ura mola secreta : o t ubíqua se abre
sua opulencia? Escuta , Antônio: e dei*;a ver um va.-lo» quarto enta,
nós somos desde a infância como lhado , c o termo, de moedas de
dous irmãos , nada temos tido de ouro f. de ha:ias de ouro.
occulto um para o outro ,• creio po- — Eniao ! tinha ou naõ tinha eu
der confiar em li Meu pai me ti- rasaõ ? Qne dizes aporá Antônio"?
nha recommendado expressamente E , tornando a fechar a por»
que nunca revelasse este mysterio a Ia e pegando em seu primo pelo
ninguém : mas tu és outro eu : ve- braço , Gjulio so preparou a rédea
rás meus thesouros ; segue*» me. cer Anlonío permanecia como p7j-»(
Cada vez mais exaltado e ceden- trifícadi) de pasmo,
do ao accesso de ternura que a em, — Par quem 6s flizj-me, meu
briaguez determina em certos co.-c-« caro como se acumularão em lua
bros, conduzio Giulio seu primo a casa todos estes thesouros,?
um desses sombrios e negros palá- —- Nada sei .* creio que isto re**
Ó* RE&RBADOB MINEIRO. Í*7«>
•«« n iJiá
monta* aa 'alg.iiway
a gerações : eu uno — E' um primor de obra , tor-
tjivé cütthecfinehtr* da c-inteneia des nouGíulij-* com " complacência : vês
te 'fosedndrijo iehtto por um escripto agora que o alçapão eslá fechado,
que , no seu leito de morte , 3 meu posso bater c<nn o'pé sobre «elle
pái me entregou fechado ' com trez dançar e pular cm cima ; é solido
ohreas. *" ' como nina' rocha V " edm tanto que
—- Os ladrbes poderiâo arruinar**-te. eu nao loque n'tiste'ferrolho. -**i
'••—líih piiii.eiro 'lugar deveriaoto- E batia 'com força sobre o sda»
mar conheciu.-p.nto das localidades. Ihü." ' '-»* 'Cl n<pt j ,! ,,,
1
Tu'vais ver. Toca COih ttia espada Uni ginsto rápido, como o relâm-
noite ferrolho "q-ie paretíe dever ser-' pago *í"—um grito agudo e pene-
vir''pára se abrir o póstigò. Acau- trante . — Antônio se pirei pilo» co-
tela-te." •* ' •*•• *•*••• " ' " •'"•'*• mo louco fora de-se quarto funesto,
;
' 0 soalho se entraibrio "iinmedia- estava só. «-'>*• '"t* * -M , »> .j»
tamente , e deixou ver um sombrio A corrente do Vio linha lançado
O negro abysmo , tio fundo do qual sobre a arêa ,* um > pouco abaixo de
féfaiao Adiga': lâminas agudas dís- VcWiina , o • cadáver *** mutilado de
postas; de travéz devião mutilar o Giulio. * A 'hfi -c n,r.'i :«n:
desgraçado' que cahissenaqtielle sbr- Forão apanhados na rua os pedaços
vetloütó'1: era uni alçapão que-na de sua espada, havia sangue na cal-
da . deixava que desejar ao conhece- çada,1 e pOde-se Crer com algum fun*
dor o mais difficil de satisfazer nes- damento que elle tinha 'perecido nfu-
se gênero. '• L,a '•'•'• ma d'essas contendas taõ: communs
f
- — Parece', meu caro prOseguio entaõ. Seus bens. passarão a An-
Giulio, que esta engenhosa maclii- tônio , que tomou pos«e do pa»
ná foi feita u, por Orilem *do um de iacio c que estimulou sem des**
meus antepassados ', por' uni mecha* canço, porem sem proveito , a**-
nijta0allemio muitou pi>tito ; tu vCfz diligencias da senhora justiça afim
que nella se sireriíicou inteiramente de se doícobrirem os assassinos de
o* 'agradável* ad * ulil. '•* Depois de a- seu primo. ""• • on . •*#•:
cabada, receou meu avô qüe o a*, Dilacerado de remorsos, mais des-
lemao violasse o* segredo do escoa*.* graçado cem vezes no meio de sua
drijo : allrahio aqui sob': preMÍto opulencia do que o cego que men*
de algumas re*parações , e o (fgz ca- diga seu paõ ,? Antônio arrastrava u«
hlf' no ábvstno.' Zas'.' foi tlitò e ft*i- ma vida miserável ; casou-se : sua
to^era rileíii ' d'isso , um processo mulher «i.baltiva ,'Caprichosa , lyra-
que não autorisaviio os propi-iOs-coS'- nica lhe fez solírer mil males. Mo
tumes- do fatnpo. <• '•*•>-' * • • "! cabo de dous annos , ella Ibe pres-
-Antônio';'ha*da respondeo: seu o- tou , bem 'contra a -sua vontade ,
íhéf-4-1 ostava fixo , frio auór fhe eo- um grandíssimo serviço; morreo:
bria o ro.lo.J deisava-lhe uma filha par nome Bi-
O RECREADOR MINEIRO
I»76
anca. Foi n'esta filha que Antônio dizia Bianca uma manhâa a sen es»
concentrou todas as suas affeitões ,* pose acreditara* que eu conheço
amava a com a mais fervoro-a tar» aqui um lugar onde ha dez vezes mais?
pura : ella fazia sua única felicida- E contou como seguira seu pai á
de só ella por momentos de* torre , e retrucou tudo quanto li-
senrugava um pouco a. froute car- nha visto.
regada do homicida. — A cousa merece confirmação,
Curiosa como uma creança mimo- respondeo Lorenzo, queres que Vja*.
sa tinha Bianca reparado nas con- mos verificar o faclo ? NAo;qi;e nâo.
tinuas idas e vindas de seu pai á sejamos ja bastante ricas ,* , mas meu
Torre Negra. Um dia , seguio-o pai repetia muitas vezes que , para.
de longe nas pontas dos pés , olhou se ter bastante fortuna 6 mister.ler-,
atraz da porta entreaberta , e vio«o se muita de mais. Se é nosso to-
«star a encher saccos com ouro do o ouro que vis,te , muito tojps
que tomava ás maõs cheias no for- seriamos em deixa-lo lá sem lhe to-
midável cscondrijo. Tomou a des- carmos. , ,; 0 „.
cer. Antônio tranportou todos aquel- De braço dado. rindoyse cóiuo ;
les ihezouros para as adegas do pa creanças que fogem da eschola , sa-
lacio ,* fechou enlão para sempre gnem ambos a escada da Torre Ne-
as portas do sombrio torreão , e gra ; abrem , naõ,, sem .djfficuj..,
nunca mais se aproximou d'elle. dado a porta cujas molas eslavap,
Sua filha guardou o silencio; cres- carcomidas pela le. mijem : ej-Lps
ceu e chegou á sua décima seti* no quartinho abobadado. Com, uma
ma primavera. Um mancebo de uaaõ em roda da cintura de sua
uma das melhores famílias de Ve- mulher que se indircita em seus,
rona vio-a , amou-a e lhe agradou: mimosos pés arregalando (i os olhos,,
coucordou-se no casamento ; mas, que dilata a curiosidade, Lorenzo
pouco antes da épocha aprazada carrega coma outra no ferrolho do
Antônio cada vez mais atormen- perigo, •
tado , expirou no delírio de uma O escondrijo estava vazio, Pô-
febre ardente , antas de ter podi- de-se ouvir um eslridor semelhante
do dar o nome de genro a Loren- ao de uma ponte lovadiça que se
zo delia Scalla. abaixasse e se levantasse de repen-
Um anno mais tarde, acabavão te cotizo por meio de uma mola.
Bianca o Lourenzo de ser unidos : No dia seguinte , estaca a cnihe»
as riquezas achadas nas adegas do dral de Verona illurninada e arma**
palácio linhão enchido de e-pantoa da de preto * celebravaõ-se as exe«
cidade inteira , ç forão durante três quias de Lorenzo e de Bianca: al«
mezes o ohjecto de todas as con- guns pescadores tinhaõ achado nas
versações. águas do rip seus cadáveres corber-
— A propósito deste dinheiro » los de horríveis feridas.
6 RERECADOR MINEIRO. 1*1
V
O soiiiiio. gar a controvérsia quando sôa a meia
imite, e tanto o homem jovial como o
. Entre as muitas modificações que trjsle, o esperto como o tolo, o fatia-
• orgulho do homem a cada passo en- dor como p taciturno , o trabalhador
tWOtra,, « principal é a ignorância das como o ocioso, todos cedem aquelle
(ausaa e efleilos commuiis ; defeito poder benigno , e repousão nos braços
tanto mais sensível, quanto maior é do somno,
Si diligencia que fazemos por desvane - Tern muitas vezes a philosophia di-.
ea-lo. Os entendimentos supcríieiucs .ligenciado reprimir a soberba,, in-
confundem ordinariamente o effcilo sinuando que a todas as dignidade» e
OOm a causa , e julgão conhecer a fun- condições nivela a morte ,* mas esta i-
do a natureza das cousas se alcanção déa , .posto que humilhe o homem feliz,
»aher qual é a fôrma dellas c o seu u- nao pôde confortar o desgraçado , a
so ; porôm o especulador , que senão quem será mais jucundo o pensar q^o
Satisf»z facilmente com idéas vagas, o somno, assim como a morte , iguala
cansa a.sua curiosidade, o quando lhe todas as creâturas; lembrando-se , 110
parece ter já descoberto muito,, fica meio de suas fadigas, de que mo dis-
eiilflo conhfecohdo qu_> limitados são ta muito a hora em que o halsamo do
os teus conhecimentos. repouío se derrame sobre todos os vi»
O somno c um entorpercimento em ventes , qualquer que seja a sua idade,
que se passa boa parle da vida. Não sexo ou estado.
ha animal conhecido cuja existência Refere-se de Alexandre Magno que,
não,tenha certos inlerviillos de insen- no meio de suas soberbas conquistas e
sibilidade,, e alé alguns modernos phi» cercado de tanto esplendor, declarara,
losophos estenderão o império do som» que somente se recordava de que era
no ao reino vegetal; porém ainda nin» homem quando linha precisão de dor-
fUam atinou com a causa efliciente ou mir. Seja' o somno necessário ao es-
Í inal desta alternativa tao freqüente , pirito ou seja necessário ao corpo
t»o importante , tio geral e necessária ; sempre é evidente documento da fra-
ainda se nao sabe porque força irresis- gilidade humana. O corpo que ião
tível ficão por muito tempo o espirito freqüentemente exige renovação de
e os membros n*um estado tão pareci- farças, não dá provas de immortalida-
do com a morte., de; e o espirito, que se deixa gosto-,
Seja qual for a multiplicidade e samente cahir na insensibilidade , is-
difforença de opiniões sobre este obje- tá mui |onge da verdadeira felicidade.
cto, fempre a natureza tem zombado Nada t
**. tão capaz de reprimir as vio-
das theorias. O mais solicito observa lentas paixões , perturbadoras da paz
dor nao será capaz de conservar os fo- do mundo . como a recordação de que
lhos por muito tempo abertos; o dis- muitas vezes , sem querer, se desce da
pulador mais teimoso e obrigadj a lar- j mais alia esphera ao piais iufeiior aba*.
1.78 O RECREADOR MINEIRO."
»-9
limento , de que nao poucas deixamos thodo particutaV^-^àfa ^dissuadir a$
voluntariameiito os bens da vida para idéas do seu estado pre«enle.
jios envolvermos nos seus, males; e de Não é muita a porrjáo 'de vida ojua
que n'algumas horas todo o esplendor applicamos a nossos devores , e cada
esmorece a nossos olhos os mais lt- dia deixamos fugir muitas horas eeoi
•songeiros louvores perdem-se para os proveito algum intelleclüál.' Andamos
.nossos ouvidos, os sentidos lição es» •muitas vezes oecupados em illusões
Ara n li os aos objectos, e a razão per. fantásticas, quo seremos pouco depois
•jmaiiece inactiva." obrigados a deixar para sempre , sem
Que sao pois neste mundo e a que sabermos em que tem-os --gasío1a vida.'
•se reduzem Iodas ás esperanças e ma* Alguns ha qwe-reputãof*'por . mais
gniíiccncias que lra«í com sigo a cobiça, gratos momentos os >q*ue passáo na
a ambição e a rapacidade ***' Deixai que solidão, entregue**, "á própria1 imagi*.
o ambicioso consiga quanto deseja, ve- nação que ás vozes lhes: põe sce«
ieis que nunca chega a estado lal que ptros na mão ou mitras na cabeça,
por um dia e uma noite se repute Sa- que lhes varia a scena dos prazeres
tisfeito , sem ter a'gum inlervallo" de por rril medos, e os deslumbra com
"repouso e esquecimento da vida ,' ain- fantásticas illusões de belle.as e de
da quando estivesse na sua mão dei- regalos. E' fácil, sonhando, reunir
xar de dormir. todas as felicidades possíveis, trans-
Miserável loucura é um homem in- tornar o curso do sol , fazer reviver
vejar a fortuna de outro , quando ainda o passado e anlicipar o futuro , go-
este nâo está com ella satisfeito. Ka« zar as bellozas das estações todas o
2aò ha par? acreditar que as distincçõas as producções de todos os climas.
humanas tem mais de apparencia que Tudo isto nao passará de um lison»
ún realidade, pois que todas em ge geiro sonho , ou transição momenta*»
xal se reputaò mais cheios de cuidados nea das realidades, da vida para fie-
cjuè de prazeres , e que , tanto o forte çõef aéreas que mostra a sobordi.
como o fraco, tanto o sábio como o i- nação habitual da razão â imaginação.'.
gncranle, concordão cm um desejo Outro* ha. que receiáo estar sós .-*
universal , qual é o implorar da na» e entretemrse era suecessivas compa-
lureza o doce nectar do esquecimento. nhias; porém nao 6.a differença con-»
E* tão forte o appetile que ' temos •sideravel : sonhamos na solidão e Iam*
ile abstrabir-nos de hós mesmos, que bem na assambléa e o desejado fim
bchi poucos ficão satisfeitos sô com á de tudo isto ó o esquecimento de nós
porção de somno que hasta para des» mesmos ir., o somno •' - •
canso do corpo e do espirito. O já
cíládo Alexandre jantava a intenípe-
ràriça ao somno, e com os vapores
de vinho allíviava o peso do s«beplro Our? P í e t o , ; i 8 4 8 . Typ. I « p . «Je '"'i
do mundo : quasi lorjos lem seu ráe- B. X. J». de Stm»«.
PERIÓDICO LITTERAUIO.
jazia a'i -desde muito tempo. Mas para dorme debaixo déstã' pedra teria iim no-
que er\ este silencio e este esqueci meu me brilhante, que o mármore, o ouro
to de inscripções fúnebres ? Os eriliies e o diamante ainda .não serião dignos
do defunto teriao'sido tão horríveis qnr •)e transmitir á posteridade. Mas não
fosse indecoroso publicar lhe o nome r vades vós trair-me , porque se bem qmf
Era este na verdade o único liimulo os tempos em que reinava a grande Tza««
cuja merroria naõ linviá sido conser- riria svjSo passados , e niftgufem aesfáf
vada por uma fiel afleicaõ. alJêa conheça já o pobre And rei e seu
— Pobre dormente / exclamei . eu in irmão , o velho coVeiVo , a maldade""ètrm*
voluntariamente, sozinho entre estes mor- tudo nunca morre , e eu tenho um neto
tos tu te introdiiziste entre elles como que he tambor na guarda impeíi-f.
sa fosses hum foragido ! O atijo que no Grabowi'cli calou se. Approximou-se
dia de juizo , vier a estes lugares para da humilde pedra , com o baffretc na
chamar seus habitantes que nome te mão, e os cahellos brancos fifot trato dbf
dará? P« r quem o saberá elle? Será i mercê do vento; depois lançou Uma
por esta dourada flor cuja raiz se tem comprida .vista sobre o tumu!d' eoberto
alimentado no sangne de tuas íêas ? das grandes hervas , como se elle fi**-
E terá ella (alia para contar a historia zesse penetrar seus olhos e sen espi -
«'aquelle que seus coiio-dadaõs nao on» rito 110 mais recôndito do sepulcrr*. A
sàraõ nomear? sua narração pareceu-me singular é c»-
A minha solidão foi interrompida pela -acteristica. Á* semelhança de todos o»'
apparirão de um velho monjick de liussos da classe inferior , á qual ain-
barbas brancas , que havia jà alguns da não chegou a eivilrsaçãb írarteéza ,
minutos se encostava a uma pà e mr elle gostava de eobiir com um vèo bri*.;
observava em silencio. Parecia elle in- lhante e imagens metaphuricas seus pén*»
teiramente pacifico neste reino da morte, samentos e sentimentos: he nisto, que
e assemelhava, se a Caronle em pé so- se revela a origem oriental deste povo;
bre soa baiea fatal *—* A minha memória, me disse elle
Vultei me para elle e pergiintei-.lhe o assentando-se perto do túmulo , he tão
nome desta pedra muda , e com o seu fiel às recordações desses tempos do
barrete de pelles na mão respondeu: nosso esplendor passa-lo . como o cão
— Este homem nunca viveu que guarda as riquezas do seu dono
Roguei lhe se explicasse mais clara*- jà morto. Eu estou vendo ainda esta
ir.«;nie. E depois de uma curta pausa , soberana, a representante de D e o s , a
etntinuou com tom rnaí> socegado: Tzarina quando «eus olhos se volverão
— Quizerão qne cüe morresse, e que- para mim e para meu irmã), foi na
rrm que nunca tivesse vivido; foi ris época da grande revista anterior à guer-»
endo do rol do* vives e dos mortos. ra contra os Turcos , a qual teve lu-
!Se desejais saber quem he este homem gar nos arrabaldes da noisa aldèa-j, A
ucndemnado a et-li nada , ninguém na immensa planície que acolá vedes , tão
aldéa vos pode instiuir senão eu, e triste , devíeis então vela. A linha in-.
ici.iguem melhor do que eu mesmo. Ah! imita dos uniformes , das armas e das
se o t-èo não tivesse ordenado de ou bandeiras estendia-se atè se perder de
tia maneira , não seria eu hoje o po vista; soldados, officia es, generaes , ba-
bie Grabuwüch, o c«veiro; aquelle que talho :s em columna cerrada, encliião
O RECREADOR MINEIRO. tíTflt
tra uma arvore acolá em baixo, com e para dar todo o seu coração á' Ca*«
os olhos fitos sobre um ponto afas- tharina; porque nosssos senhores,1 .são
tado , como o amante que segue de nossos senhores, e nos&a? almas lhes pèrten*-
longe os passos de sua amada: erão oem assim oomo nossos corpos.
nossos soldados que ião combater, e Entretanto que Suena suspirava em
que seus olhos seguião atè ao ultimo silencio , a vergonha e desesperaçSo' de
limite do horizonte. Andrei erão ofluscadns com rasgos do
A aldêa estava de-ierta • todos os favor imperial. Os mesmos farrapos lu»
homens que podião tinhão seguido as zcjn quando saS dourados pela luz do sol'
bandeiras da pátria; sò velhos, mu- O palácio que acolá vedes / mandou-»
lheres e crianças tinhiío fioado ; e teve a imperatriz edificar, como pòr'encan>,
também de ficar como um velho , ooino to , para o seu amante. Ella queria,
uma criança, oomo uma mulher, Ah I se dizia , passar ahi a bclla estação lon-
elle tivesse ficado por Suena, se elle ge do tumulto da capital Com Andrei;
tivesse desertado por seu amor, teria A simplicidade , sinceridade , franqueza
sem duvida esquecido sua paixão pela e afTeição de Andrei-, crao cousas to-
gloria, vivendo em obscura felioidade talmente novas para a Tzsrina. Quan -
junto da sua amante: mas não! era- d o , com olhos arrazados de lagrimas
íhe preciso renunciai* ás suas, mais ca- por causa das ternas saudades de Su-
ras illusões , ou ás mais doces - espe- ena, elle su-pplicâva a Cathárina que o
ranças ; era preciso esquecer suas duas deixasse seguir o exercito , nehum vo 1-
esposadas—«a guerra e Suena—-paia ver de olhos ameaçador linha punir a
vegetar em um palácio, para obedecer sua ousadia, Ella, viuva de um mo«
às vontades da imperatriz; porque tal narcha, converl<a-se' em aduladbra e
era o poder dos senhores neste para e escrava do aldeão, e sè entretinha a
a disciplina dos povos, que atè mes- instruil-o nas sciencias e nas artes.
mo ás paixões destes obedecem aquel No fim do verão, Cathárina rão
les , e atè o amor se submette no co- voltou para a capital ; as compridas
ração dos subditos. noites do inverno, pasava-as ella so-
Na França, na Itália, ou em qual- zinha com Andrei; à luz. de um can-
quer cu'.ra parte, a donzella abando- dieiro estavão os dou* aman'cs senta»
nada teria, se não realisado , ao me- J'*«! um junto do outro, embebidos nes-
nos meditado vingança; à. falta de pu ses misteriosos entretenimentos que ne-
nhai ou de veneno, votos ao menos nhum ouvido indiscreto • podia escutar,
terião attentado contra os dias de Ca- Se o tempo estava bom, davão passeios
lharina! Aqui porem a donzella curvou a a pè ou a cavallo, pelas vizinhanças do
cabeça, resignou-se a morrer, sem uai iwlacio. O cão doméstico não se«*ue,
murmúrio, sem uma queixa mais assiduo os passos de seu doiio
O mancebo, em outra nação , teria do que a rzarina seguia cs do**seu
tentado salvar-se com sua amante, ou amante. Mas neste nosso paiz a pri-^
teria continuado ao menos a ama Ia em mavera e o sol vecejão e resplánde-.
segredo; mas aqui Andrei, como su- cem com rapidez enganadora; c os ca-
bdito fez generosamente todos os seus es prichos da alma são " rápidos como os
forf-osi para esquecer o primeiro amor ardores do-verão,
O RECREADOR MINEIRO. 1281
— Como aqui ninguém nos ouve , I via com sua n t lher e seus 1*3,
posso dizer-vos que a Tzarina, em filhos , o mais velho dosquttei»
quanl > viveu, veio todos os anoos
visitar o túmulo de Andrei; e pa1*3
de idade de oito anno-i era Idiota',
vos dizer tudo o que eu penso , ac- o segundo , de cinco annos , ' m u -
crescenlou elle na sua crença meio-, do e o mais; nova contava ape-
christua e meio escandinava , se Deos nas dois annos. Aconteoeor que
vinga ,1a no céo os delidos cá da ter- .um dia deixarão o mais pequeno
ia , elle deve os ter lá juntido , co-
mo eu aqui fiz aos corpos, Estas du- só com os seus dois irmãos.
as almas separadas sobre a terra , de- Apen is a mâi se ausentou , p.o-
ve elle te-las casado no paraíso á vista zerão-se a correr de um lado
da imperatriz ; será este o castigo e para o outro , e a final furão lo»i»
d inferno dessa mulher, se ella ain-
da ama Andrei.
ge de casa brincar e siltt*.r- so»
bre os rochedos. Voltando a
O coveiro então ausentou-se pondo
o dedo na boca para aconselhir si- mâi á chftupana e nãó encon-
lencio ; mis eu quiz contar esta his- trando os filhos , foi em sua pro-
toria ignorada de um pobre moujick cura e conseguio acha-los ; mas
moscovita que pagou cara a honra de deo fó com os mais velhos ; o
ser amado de sua soberana.
mais pequeno tinha desappare-
Q tanto sangue não custa o capri-
de uma testa coroada! Quão gran- cido. 0 idiota manifestava o pra-
de he a tyrannia que se exerce até zer de que se achava possuído
sobre os corações! Como he terrível pelos mais extraordinários trejei-
aquelle idolo que só se sastifaz com tos ; o pobre mudo pelo con-
victimas humanas aos pares, e que
sobre seus altares devora homem é trario , parecia consternado , e
mulher ! a expressão de terror que se di-
visava em seus olhos dava á mãi
os mais terríveis Dresentimentos.
Debalde procurava esta infeliz
CREANÇA ARREBATADA POR rjMA advinhar os gestos pantomimicos
AGUIA DOS ALPES. de seus filhos, de que tanto
tinha a recear. O júbilo sin-
Um lavrador Suisso, pai de gular do idiota e o semblante
três filhos, tinha ido passar o ve- espavorido do mudo nada lhe pa-
rão ,a uina dessas choupanas para tenteavão. Finalmente , os gestos
onde os habitantes dos delicioso? mais expressivos do mais velho, as«
va-lltís do Vaud se relirão para a- semelhavão-se aos de uma pessoa
pascentarem seus rebanhos nas que com grande satisfação tivesse
vertentes das montonhas* Alli vi- encontrado aquiUo que prouu,ra?"t
0-: RE RECADO R MINEIRO, 1-83
—-.
ça já naõ lhe vou pedir . . pre- po procurou conciliar o somno , que
ciso paõ paõ para minha fi- só lhe veio escoltado de muita fome.
lha : e preciso delle jà Raiou finalmente o dia , e Ar»**
Poucos minutos depois aproxima- nold naõ foi como era de costu-
se um mancebo; — Arnold agar- me procurar emprego , julgava qo«
ra -lhe pela gola da casaca : a sua todos os homens descobiiiiuõ nclle
bolsa , lhe diz elle minha filha a expressão do crime. Para acftl".
naõ tem que comer 1 — Tendes máo mar a sua agitação , põZise a- u-
officio , lha responde o sujeito sur- ma janella* que doitava para .a rua.
prehendido de semelhante attaque ,- e logo reparou em dous imdiiridueib
porem vou satUfazer-vos , aqui es- que porecinõ observar a casa com
tá minha bolça — Que contem el- attençaõ ; n'um julgou reconhecer
la ? perguntou Arnold. Umas moe- o sujeito da véspera-, tinha as mes-
das d'oiro e alguma prato. —- mas feições , o mesmo facto ; fi-
Arnold abrio-a , tirou-lhe dez shil nalmente naõ havia mais uue duvi-
Iings , e restituio-lh'a. Naõ quero dar , era elle ! Arnold ficou as-
mais . diz elle , agora ja tenho paõ sombrado como do um itaitO •• fa*
para minha filha. —Ide-vos em paz, gío-lhe a luz dos olhias , tornou-ee
o pordoai-me 1 . . . pallido como um moribundo . e re-
Admirado o indivíduo de uma tal tirou-se , n'uma convulsão , para o
conducta , seguio Arnold. A pou- canto mais recôndito do seu quar«
cos passos vê-o bater á porta dum to ; depois aproximando-se da mu-
padeiro e sahir carregado de paõ .* lher e sua filhai , a 9 chega con-
alli sabe que Arnold se via redu- vulsamente ao seu coração.
sido a maior miséria , e que ha- Ouve passos pela escada , e per-
via muitos dias , que elle , sua mu cebendo que era gente que subia,
lher e suã filha estavaõ privados de foge * para um quarto inmiediato
lodo o alimento. jSensibilisado pela e fecha a porta. •
narração do padeiro, dá lhe um gui» Os dous estranhos entrarão n'es-,
néo , para que forneça o paõ a es- te momento ; Senhora , diz o mais
ta iufi liz família , e promelte vol- moço , temo a portunidade da
tar. Entrando em casa, põe Ar- minha visita , porem attento o
nold o paõ sobre a mesa , e diz: seu motivo , espero me desculpeis:
TOOID , minha querida mulher eis vós estae.s em desgraça , permitiu
aqui paõ para uma semana , já ar- me que vos offereça o meu pres-
ranjei tudo , a nossa menina naõ timo , e dizendo isto , poz*sobre
morrerá de fome e tu mesma naõ a mesa uma bolsa cheia de ouro.
jt juaiàs: quanto a mim acho-me can- A mulher de Arnold levantou os o-
tado: boa noite; e deitou-se oppri- lhos para o generoso visitador , cu-
uiido de remorsos. Por muito tem- jo olhar mavioso parecia implorar o
a RECREADOR MINEIRO. 12S?
to no meio dos garotos e dos judeos, tos . se volta para um de seus visi-
e abi encontrai eis Staszic. Desde o nhos e o cobre de apupadas e de
romper do dia ide à sua casa , qne vaias. Este homem ultrajado p u b l i -
•chareis uma pobre mulher banhada camente era Staszic. A multidão r e -
de pranto que pede e um rico es- conheceo o avaro n o actor , e acha
loico que repelle '• o homem opul- sua victima no homem que lhe ser -
lento é Staszic; a mulher desdenhada vio de modelo. Staszic oppôe uma
é sua irmãa. Este homem que of* serenidade passiva aos movimentos
lerece palácios que-manda fazer es- convulsivos do p-iblico e perinane-
tatuas para obter applausos , deveria ceo indefferente até ao fim do espe-
antes enxugar as lagrimas dos cam*- ctaculo.
ponezes que opprime , e da família JNo dia seguinte vai o estudante i
que desampara. morada do seu bemfeitor • e ahi acha
O mancebo quiz responder - mas uma mulher que chora e que praguee
•mão o escutaram. Triste e oppresso , ja seu irmão deshumuno. Este fa»
afastou-se abalado em sua opinião ares» cto o faz pasmar. despedaça-lhe a al-
peilo do homem que era seu bemfeitor. ma e lhe inspira uma resolução ina-
Querendo certificar se se os factos balável. Foi Staszic quem o metteo
erão verdadeiros , • foi de noite ao the- na eschola das minas , é elle quem
alro : representava»se o Avaro. Zolko- lhe fornece os meios de continuar seus
ivski , bufão amado do povo de Var- estudos .* o mancebo repellirà seus
sovia, devia reproduzir na scena po» dons , nSo quer receber os benefí-
faca uma da mais bellas concepções cios de utn homem que se não com»
de Moliére. A multidão entulhava as move das lagrimas de sua irmãa.
entradas da sala -, era sobretudo dif- • Ao avistar o sen favorecido pre«
ficilimo penetrar nas toninhas ; esses dilecto o sábio ministro não sus-
lugares de pouco erão reservados pa- pencleo seus trabalhos , e lhe disse
ra as bolsas desguarnecidas , e para escrevendo :
o*, judeos sem exceppão, aos quaes a — Es tu , Adolpho que queres?
intolerância vedava a entrada dos ca- Precisas de livros ? tira-os na minha
marotes e da plaléa. Resolveo o biblioteca. Faltão->le alguns instumen»
nosso joven estudante abrir caminho tos ? compra-os por minha conta. E'
p o r entre a multidão , penetrar na insufficiente para as tuas precisões a
salla e chegar ás toirinhas. Em bal- pensão qne te dei? augmenta-Ia hei
de seus olhos procurão o homem enforme os teus desejos. Falia co-
que a opinião publica aceusa , e que mo a teu amigo como a teu pai.
elle quereria admirar : não o acha nem
— Pelo contrario, venho aqui pa-
o pode reconhecer. Seu coração se
ra vos agradecer os vossos benefícios,
alegra: mas foi de enrta duração sua
e para vos dizer que a elles renun»
alegria. Levanta-se o panno , uma
cio pira sempre.
trovoada de applausos saúda o actor
que tomou a casaca , o porte e o — Pois eit.iá rico ?
andar de Staszic. O joven esludante — Sou pobre como d'antes era.
soffre , mas suadôr se augmenta quan- — E a eschola das minas ?
do o publico , composto de garo« — Abandono-.!.
— Impossível'. exclamou Star-i*
O áECREADOR MINEIRO. •|2fj3
••"S
-aa*
poderiso elles também possui-la. derem ir alé Jerusalém, sr-guindo o
Entretanto o mesmo se passava leito enxuto do .nriàr Mediterrâneo.
na Allemanha. Bandos de rapazes: Logo que virão dissipada a sua illu-
de todas as idades e todos os sexos,; t*ao!, dispersárào-se pelásndifferedtes
alguns dos quaes nao contavão ainda cidades'Tirarítlinás da Italrà , mas cm
doze annos , se reunião á voz de um parle nenhuma poderão obléí* navios
chamado Nicoláo. O seu numero ,. para a sua viagem, a liutao , diz um
em os dous paizes , subio acima de historiador,, os que restarão se vfrffo
9o,oooj e todos experimentarão os cahidos ein tão g.-andf* miséria*,
mesmos desastres. Depois dt soí'fri« que ninguém os queria recolher, e
mentos inauditos, os cruzados de, bem se lhes podido applicar as pa«
França chegarão emfim , jiV mui di-; lavraVda. Jeremias :*« Ó*'meninos^-j-
minuidos em numero, a Marselha.* dirão.pao e naõ houve quem'ltVo des-
Ahi dous mercadores desta cidade ,! se.»rBe*m poucos-dalles conseguirão*
Hugo Ferreus e Guilherme Porcus ,; voltai* a suas casas: a-maior parte
offerecsrüo-lhes transporta-los ao Ori- ficou reduzida a servirem como es-
ente sem paga algima , asseguran-! cravos os habitantes do páiz.
do ser a piedade o único motivo da Assim acabou esta singular e mi»
sua resolução. Sete navios se fizc- •serave! tentativa ds crusada , que
rão de vela carregados de rapazes. havia abalado profundamente os es-
Assaltados de uma tempestade duran- píritos mais illustrados do tempo r e
te a navegação, dous deites navios fez dizer !ào.p-ipa Inhocen*cio III: «
forão tragados pelas ondas, e os ou- Estas crianças nos- aceusaõ de estar-
tros eiueo , depois de muitos tra- mos sepultados no somno , emquaa-
balhos , chegarão a Alexandria , on- to eflW correm á dereJtã* da Terra
de os dous Marselhezes vendôráo aos Santa.p
Sarracenos es miseráveis rapazes 'co-
mo escravos. A maior parte'das chronicas con-
temporâneas fazem 'mençaõ destes
Os pequen os cruzados da, Alterna. acontecimentos r e.O%taisi he que o
nha naõ tiverão melhor sorle' Na fazem com uma espécie de apologia,
longa peregrinação que lhes foi pre- tal era a ignorância e à'cegueira d o
ciso fazer para chegarem à Itália:,: fanatismo do século í , !
a fome, a fadiga e os calores os f»
zião morrer aos milhares; Segundo
«ma revelação divina que um dele -•«••^©"êss*»
les pretendia haver reeehido, ião
IELASDEZ riavo ' «
todos persuadidos que a secca , por
faltas de chuvas , devia ser tal nes Pergurrtavão a* un lrlanrlez muito to-
te anno que os abysmos do mar lo , se entendia o Frarrcez: —. Per fet-
íicarraõ em secco; e assim chegarão a tamente, respondeu. ..elle,, com tanto
Gênova na firmo esperança de po que mo lallem em lrlandez.—»
O RECREADOR MINEIRO. 18
99
^(DQKD 7. 15 DB JUNHO DE 1 8 4 8 . N. 84
I
ta e quebrou uma perna ; e a- ridículo, olhando para elle dis-
tando lh'a fortemente com uma se :—Não me admira, porque nas
corda , um instante depois elle minhas viagens fiz outro tanto ;
pôde fazer uso d«lla como an- olhe , em Madrid matei 5 , em
tes do accidente. ,, Esta carta, Cadiz 5 . Lisboa to , 20 em
levada á academia de cirurgia , Pariz , 3o em Yienna , em Bru-
fez dar aos demônios toda a cias* xellas o dobro . outro tanto em
se cirúrgica. Elles lamentavão a Berlim » etc. , etc. , mas por Gm
inferioridade de seus talentosa atravessando o Canal de Dever
vista do praticante obscuro que para Calais , apenas tinha desem-
tio subitamente curou uma per- barcado quando Um maldito fi-
na quebrada. Um dtlles então com* lho do Diabo , me matou com
poz uma obra muito enérgica um tiro de bala. •— Matou! per.
onde explicava da maneira mais gnnta o fanfarrão todo admirado,
peremptória os procedimentos você está mangando comnosco.
cirúrgicos pelos quaes podia o- -—Amigo, replicou o assassina-
íerár-se uma cura tão maravi- do , e se eu não lhe contestei
f Hosa. 'Este * curioso livro , lá a as suas mortes para que ha de
•ser da$o ao prelo, quandq se- você duvidar da minha ?
gunda carta chega d'America e
foi apresentada á academia. Ali
se. lia esta, phrase : •' Meu ami- NOVO GÊNERO DE INDÜSTRI i,
\go » eu'folgo •> ter omittido uma
«peomena circunstancia em a nar- Um esturdio desprovido de dinhei-
1 ro , soube que um eslalajadeiro a»
• n t f o do suecé-so* de * iqúé ulti-
!
"mamente - rd$ dei parte' : a per- cubava de ser condemnado a des
'*_tátjftik o grúmette em questão escudos de multa por ter. dado u-
1
''i*aÜsm ^uétfrado era d e p á o . ma bofetada em certo cidadão. Bem
cerf» do fado foi em direitura ah
*****
t3oÍ O RECREADOR MINEIRO.
^"u>'*•*•^•-*^^,•ir^^!^|gii0a^^^
Í por haver emitlido a doutrina sub-
versiva de que — a sopa podia sem
inconveniente servir te depois iq auadçl l
- . 3
ORECREADOR MINEIRO. 1007
eos, eu me obrigo a fazer boa a di» '. será paga." E ao mesmo tempo
ta letra, e a esposar a portadora } lhe entregou a dita letra do SPU
aos quinze dias de vista; em fé correspondente, nai costas da qual
do que assígno esta, etc. se achava escripto _"" Passada á or-
O correspondente de Londres leo dem da Dama C _** Se-
repetidas vezes este artigo extraor- nhora lhe diz o Americano eu
dinário , no qual trata vi a futu- naõ tenho jamais deixado protestar
ra esposa da mesma maneira que as minhas letras de cambio, e por
os diversos pacotes de fazenda que conseguinte vos juro , quo naõ
tinha a enviar a seu amigo. lille faltarei a esta. Certamente me olha-
admirou a prudente exactidaõ, <• rei como o mais feliz dos homens
estilo lacônico do Americano; e se vós me promclteis o seu desem-
tratou de satisfazer aos desejos do penho. •• Esta primeira intervi>ta
seu correspondente. Depois de al- foi logo seguida das nupeias; e
gumas indagações julgou com ef- este casamento foi um dos mais fe-
feito achar o objecto desejado numa lizes da Colouia.
rapariga amável, mas sem fortu-
na , a qual acceilou a proposta.
Seguio-se immediatamente o seu
embarque munida dos certificados
em fôrma , endossados pelo cor- A FESTA DO FOGO DA ÍNDIA,
respondente , sendo o artigo da
sua remessa concebido nos termos Afesta do fogo, chamada pelos
seguintes: índios — nesoupyson tironai — é CB»
Item I_ Uma rapariga de 21 an- lebrada naõ em honra do fogo ,
nos de idade , da qualidade, fôr- que elles reverenceaõ de baixo do
ma , e condição segundo a or- nome de—agnimds— em memória
dem : como «consta dos attesla- do sacrificí» da prova , a que se
dos que ella produzirá."!" Antes sujeitou rToutro tempo Draopada,
da partida do navio o correspon- mullier dos filhos de Pandoa, uni
dente linha expedido ao futuro dos antigos reis de Delhi, Ella ca-
uma carta de aviso , dando-lhe sou com cinco irmaõs, chamados
conta da preciosa mercadoria que Pândavas nos poemas heróicos da
oblivera em seu nome. Tudo che- Índia ; quando deixava um dos seus
gou felizmente ao porlo : o Ame- esposos para seguir outro se pu-
ricano jà prevenido achava-se na rificava marchando sobre carvões
occasiaõ do desemhaque ; foi entaõ em fogo. Tal é , segundo a tra-
que vio suhir uma bella rapariga , dição dos indios de Coromandela,
a qual ouvindo-lhe o nome lhe origem desta festa , que nao tem
diz " Senhor eu tenho uma letra epocha fixa , mas., nâo pode cele-
•acada sobre vós ; espero pois que bra r»se sepão nos três primeiros me-
|3io O RECREADOR MINEI,«O