Você está na página 1de 4

16/01/2016 Cid caça milagres | AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas

AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas
Destinado a temas sobre avaliação
educacional. Contra a destruição do
sistema público de educação e contra a
desmoralização dos professores pelas
políticas de responsabilização.

Cid caça milagres
Publicado em 10/01/2015

O  Ministro  Cid  Gomes  está  à  caça  de  milagres  educacionais  pelo  Brasil  afora.  E  como  esta  dádiva  só  é  dada  a
reformadores  empresariais,  é  bem  provável  que  oriente  a  política  do  ministério  para  a  reprodução  das  ideias
destes milagreiros.

O  critério  da  cúria  ministerial  para  se  chegar  à  conclusão  sobre  o  que  é  ou  não  um  milagre  educacional  é  ter
melhora destacada no ranqueamento do IDEB. Como Pernambuco saltou 16 pontos no ranking do IDEB (e não na
nota)  enquanto  outros  estados  caíram,  indo  o  Estado  para  a  4ª.  posição  no  ensino  médio  no  Brasil,  isso  é
considerado pela cúria educacional um milagre e digno de ser visitado.

Ou  seja,  se  entendo  bem  a  análise,  Pernambuco  aparece  em  relevo  porque  outros  caíram  ou  estagnaram.  Belo
critério de milagre…

De fato Cid está fazendo jogo de cena, pois conhece a experiência de Pernambuco já que a importou para Fortaleza
e Sobral quando governador do Ceará. O namoro é antigo.

Sobre a experiência de Pernambuco já comentamos várias vezes neste blog. A evolução do IDEB em Pernambuco
nos  últimos  anos  foi  2,7  –  3,0  –  3,1  –  3,6  em  2013.  As  experiências  com  a  privatização  do  ensino  médio  em
Pernambuco (com forte apoio dos empresários) começaram mais ou menos neste mesmo período. A evolução não
tem nada de surpreendente. O que ocorre é que Pernambuco tinha um Ideb baixo demais. Apenas igualou­se com
os outros que estão neste mesmo patamar sem terem aplicado nenhum milagre.

A comparação numérica feita por Cid não é suficiente (quantos pontos se saltou no ranking do Ideb), já que oculta
a  realidade  das  notas  do  Ideb  daquele  Estado  e  a  cúria  ministerial  enganou­se  ao  promulgar  o  milagre
pernambucano. Note que o milagre já havia sido antes copiado pelo Estado de São Paulo na gestão Alckmin e por
 Seguir
aqui, não surte o mesmo efeito. A medida, aqui em São Paulo, nem sequer ajudou a melhorar o Ideb do Estado
que caiu de 3,9 em 2011 para 3,7 em 2013.
Seguir
“AVALIAÇÃO
EDUCACIONAL -
Mas o empresariado vai adorar replicar a experiência de Pernambuco que começa com uma cópia do que foi feito
Blog do Freitas”
em Nova York com a implantação das Escolas Charters. (Veja aqui também.)
Obtenha todo post novo
entregue na sua caixa de
A visita a Pernambuco foi para conhecer:
entrada.
Junte-se a 761 outros seguidores
… experiências que levaram o ensino médio de Pernambuco a ter registrado crescimento de 16% — o
Insira seu endereço de email
maior do País — na avaliação do índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb) de 2013.

Cadastre­me
O objetivo do MEC é expandir experiências bem­sucedidas a todo o Brasil na busca da melhoria da
qualidade  nos  últimos  anos Crie
da umeducação  básica.  Entre  2011  e  2013,  o  estado  subiu  17  posições  no
site com WordPress.com

ranking desta etapa do ensino.

“Entre todos os grandes desafios da educação no Brasil, melhorar a qualidade do ensino médio é um
dos  maiores”  disse  o  ministro.  “No  Brasil,  nos  últimos  dois  anos,  o  estado  que  teve  a  melhor

http://avaliacaoeducacional.com/2015/01/10/cid­caca­milagres/ 1/4
16/01/2016 Cid caça milagres | AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas

evolução percentualmente foi Pernambuco.”

Cid Gomes pediu ao governador Paulo Câmara e ao secretário estadual da educação, Fred Amâncio,
uma exposição da experiência do estado. “Para que possamos multiplicá­la”, afirmou.

Segundo Amâncio, as estratégias de melhoria da educação no ensino médio envolvem investimentos
em  infraestrutura,  ensino  integral  e  técnico,  formação  continuada  e  programas  de  incentivo  aos
professores e alunos.

“Além  de  ter  uma  das  melhores  notas  no  Ideb,  Pernambuco  apresenta  hoje  a  menor  taxa  de
abandono escolar do ensino médio do Brasil”, ressaltou Amâncio.

Leia mais aqui.

É claro que implantar educação de tempo integral, dotar as escolas de professores e com boa infraestrutura é uma
iniciativa louvável em educação (digamos, uma obrigação). Apesar disso, a objeção à experiência de Pernambuco é
que ela é feita com recursos da iniciativa privada que desobrigam o Estado e sob o comando de uma concepção de
educação  baseada  na  lógica  empresarial.  Segundo  o  ICR  –  Instituto  de  Co­responsabilidade  Educacional,  uma
Organização Social que é responsável pela condução da experiência:

“O  padrão  de  gerenciamento  das  escolas  baseia­se  na  experiência  empresarial,  modelada  para
atender  as  necessidades  da  organização  escolar.  A  aplicação  dessa  experiência  se  traduz  na
tecnologia chamada Tecnologia Empresarial Socioeducacional – TESE. Ela é definida como a arte
de  coordenar  e  integrar  tecnologias  específicas  e  educar  pessoas  por  meio  de  procedimentos
simples e que facilmente podem ser implantados na rotina escolar.”

A experiência de Pernambuco tem posto em relevo o avanço de 16 posições do Estado no ranking do Ideb entre
2011 e 2013, mas não contrasta de onde a nota partiu e onde chegou (2,7 a 3,6). O Ideb de São Paulo, por exemplo,
é 3,7. Não há nenhum milagre nisso a não ser o interesse de louvar experiências financiadas pela iniciativa privada
que  permitem  a  introdução  da  lógica  empresarial  no  interior  da  educação,  cria  mercado  educacional  e  controle
sobre a escola.

Não vou entrar aqui em outras questões, mas seria interessante que se investigasse como andam as matrículas do
Estado  de  Pernambuco  em  Educação  de  Jovens  e  Adultos,  ou  seja,  no  depósito  de  jovens  que  vão
“voluntariamente”  deixando  a  escola  sem  serem  contabilizados  como  evasão.  Se  estou  certo,  Pernambuco  é  o
segundo Estado do nordeste (só perde da Bahia) que mais tem jovens em EJA, cerca de 214 mil, sendo 44 mil em
EJA na rede estadual do ensino médio, onde tem cerca de 357 mil matrículas regulares em 2013.

O destino desta linha de ação do ministério será, com o tempo, passar de “caça milagres” a “caça fantasmas”. Mais
tempo perdido para a educação brasileira, não sem antes abrir caminhos para a privatização da educação básica
via Organizações Sociais.

Avalie isto:

            5 Votes
Share this:

 
210
  

Relacionado

http://avaliacaoeducacional.com/2015/01/10/cid­caca­milagres/ 2/4
16/01/2016 Cid caça milagres | AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas
Nenhuma consultoria para trás Sobral: o “feijão com arroz” de Veveu do PT Preparando o terreno... para as escolas
Em "Escolas Charters" Em "Estreitamento Curricular" charter
Em "Links para pesquisas"

Sobre Luiz Carlos de Freitas
Professor da Universidade Estadual de Campinas ­ UNICAMP ­ (SP) Brasil.
Ver todas as mensagens por Luiz Carlos de Freitas →

Esse post foi publicado em Cid no Ministério, Ideb, Links para pesquisas, Privatização, Segregação/exclusão. Bookmark o link permanente.

6 respostas para Cid caça milagres

Valéria Benittes disse:
10/01/2015 às 10:51 AM

É muito preocupante a expansão da política educacional de Pernambuco para todo o Brasil. Sou Pernambucana e apresento
em minha dissertação de mestrado, ” A Política de Ensino Médio no Estado de Pernambuco: um protótipo de gestão da
educação em tempo integral”(2014), como os reformadores empresariais apoiados pelo governo estadual tentam deixar
intocadas as determinações do mercado como regulador do direito fundamental à educação em nosso estado. Na prática, a
política educacional pernambucana, apontada como um sucesso, apenas acelera a privatização da educação pública
ocultando formas particulares da diferenciação socioeducativa.
Responder

Maria Gorette Gomes disse:
11/01/2015 às 8:58 AM

So implantar Ensino Médio Integral sem ter uma infra­estrutura adequada, sem destinar recursos financeiros de nada
adianta, e sim tende a piorar. Com isso faz com quer a escola perca os seus educando para outras escolas de tempo normal.
Na escola que leciono nem recursos para a alimentação vem suficiente.
Responder

Luiz Carlos de Freitas disse:
11/01/2015 às 10:42 AM

Ola Valéria, obrigado pela disponibilização do seu trabalho. Há um link eletrônico para ele?
Responder

Valéria Benittes disse:
11/01/2015 às 11:05 AM

A dissertação, orientada pelo professor Jamerson Antonio de Almeida da Silva, será disponibilizada nos próximos
dias no banco de teses da UFPE. Quando for publicada deixarei o link aqui. Agradeço a atenção.
Responder

Ítalo Agra disse:
14/01/2015 às 10:14 PM

Parabéns pelo Post Prof. Freitas, utilizei publicações suas como perspectiva de análise crítica da reforma educacional em
Pernambuco. No mestrado fiz uma pesquisa documental para demonstrar as bases da reforma iniciada em Pernambuco, que
como eu pressupus, é mais do mesmo. Inclusive os sujeitos envolvidos na formulação e implementação tem relação direta
com a experiência de Minas, bem como, a propalada reforma do ensino médio começa de fato no Governo Jarbas e já começa

http://avaliacaoeducacional.com/2015/01/10/cid­caca­milagres/ 3/4
16/01/2016 Cid caça milagres | AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas

a “fazer água”. Como professor e analista educacional da rede, estou testemunhando a proliferação das práticas de burla e
discriminação que o professor Freitas expõe fartamente neste blog. Há um esforço muito grande para fabricar o sucesso das
escolas integrais, há omissão de resultados negativos, há manipulação nas matrículas, discriminação dos alunos com baixo
rendimento, e fechamento de turmas e escolas que atendem os alunos “de baixo rendimento” através da municipalização.
Quando fiz minha pesquisa, tive muita dificuldade de obter informações pois o processo estava no início, e as consequências
não eram evidentes. Mas agora, posso dizer que a reforma de Pernambuco é uma falácia, e repete o mesmo modelo de
produção de ilhas de excelência. Há também uma blindagem política da experiência de Pernambuco, pois, os exemplos de
sucesso são alardeados, mas, as falhas estruturais do modelo implementado não aparecem. O bônus foi desmoralizado tanto
pelos resultados tímidos, quanto pelos erros de cálculo e omissão de informações por parte do governo. Mas, infelizmente, o
fato de Cid Gomes ter visitado Pernambuco prenuncia um futuro obscuro, pois, no período que o país finalmente tem
adquirido capacidade de investimento em educação, tende a seguir um modelo fracassado até na sua Matriz, os EUA. 
O Programa de Modernização da Gestão Pública: uma análise da política de responsabilização educacional em Pernambuco
no governo Campos (2007­2011) Ítalo Agra de Oliveira Silva – UFPB
Responder

Ítalo Agra disse:
15/01/2015 às 11:36 AM

Prof. Freitas, a sua hipótese para a evasão da EJA está corretíssima. O governo começou no primeiro mandato Campos com a
correção de fluxo através do programa Travessia, da Fundação Roberto Marinho. Paralelo ao projeto, que tinha como
principal chamariz o término do ensino médio em metade do tempo, 1 ano e meio. No segundo governo, ele também reduziu
o EJA MÉDIO, ou seja, a EJA regular, para metade do tempo e diminuiu bastante as turmas de travessia. Com isso, os alunos
com “perfil problemático” para os resultados, os fora de faixa, os alunos trabalhadores, foram sendo canalizados para o
projeto e depois para o EJA da própria rede que se tornou uma máquina de emitir certificação de conclusão. Para se ter uma
ideia, foi estabelecido que o aluno que já tivesse cursado o ensino médio regular (1 ano) podia se matricular direto no 3º ano
da EJA. Quer dizer.. e a questão do currículo? e o que o aluno deveria aprender do programa do 2º ano e que não estudou no
primeiro regular, para onde foi? não importa. O entendimento tácito é de que o aluno nesse perfil só quer o papel do
certificado e o governo quer as estatísticas, para comemorar o aumento da escolaridade da população e coisas do tipo. 
Sobre a evasão, tem um dado muito interessante. No sistema informatizado que foi implementado na rede (o SIEPE), quando
um aluno é transferido, não é contado como evasão. Então, o aluno evadido, foi praticamente “extinto” da rede, embora, seja
corrente que turmas da EJA tenham um nível de evasão absurdo. Dei aula em turmas que começaram com quase 50 e
terminaram o ano com menos de 20. Digo que se o governo federal exigisse pelo censo que fosse informado o destino do
aluno transferido e a confirmação da escola que recebeu o aluno, Pernambuco desceria ladeira abaixo no IDEB. E tem mais,
se um aluno tiver média 0,0, 1,0, 2,0, 0,0, por exemplo… e conseguir 6,0 na prova de recuperação, ELE SERÁ APROVADO
!!!!!, e quando uma média bimestral fica com décimos, por exemplo, 5,6, obrigatoriamente tem que se arredondar para 6,0.
Dessa forma, um aluno para não passar de ano, ele tem que ser muito persistente no erro, garantindo assim, os dividendos do
fluxo almejados pelo governo. Mas o santo tem pés de barro, se analisarmos a série de resultados de proficiência da rede,
veremos um crescimento inercial, ainda que considerando as proliferação das práticas de treino, simulados, e estreitamento
curricular, visando os testes anuais. Resumindo professor, como pesquisador da área, professor e analista em gestão
educacional, posso afirmar que “o milagre de Pernambuco”, é bala de festim, infelizmente, levará mais algum tempo para
afundar nos próprios erros, já que a contestação é mínima. E o prejuízo de fato fica para a população.
Responder

AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas
O tema Twenty Ten.  Blog no WordPress.com.

http://avaliacaoeducacional.com/2015/01/10/cid­caca­milagres/ 4/4

Você também pode gostar