Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas
Destinado a temas sobre avaliação
educacional. Contra a destruição do
sistema público de educação e contra a
desmoralização dos professores pelas
políticas de responsabilização.
Cid caça milagres
Publicado em 10/01/2015
O Ministro Cid Gomes está à caça de milagres educacionais pelo Brasil afora. E como esta dádiva só é dada a
reformadores empresariais, é bem provável que oriente a política do ministério para a reprodução das ideias
destes milagreiros.
O critério da cúria ministerial para se chegar à conclusão sobre o que é ou não um milagre educacional é ter
melhora destacada no ranqueamento do IDEB. Como Pernambuco saltou 16 pontos no ranking do IDEB (e não na
nota) enquanto outros estados caíram, indo o Estado para a 4ª. posição no ensino médio no Brasil, isso é
considerado pela cúria educacional um milagre e digno de ser visitado.
Ou seja, se entendo bem a análise, Pernambuco aparece em relevo porque outros caíram ou estagnaram. Belo
critério de milagre…
De fato Cid está fazendo jogo de cena, pois conhece a experiência de Pernambuco já que a importou para Fortaleza
e Sobral quando governador do Ceará. O namoro é antigo.
Sobre a experiência de Pernambuco já comentamos várias vezes neste blog. A evolução do IDEB em Pernambuco
nos últimos anos foi 2,7 – 3,0 – 3,1 – 3,6 em 2013. As experiências com a privatização do ensino médio em
Pernambuco (com forte apoio dos empresários) começaram mais ou menos neste mesmo período. A evolução não
tem nada de surpreendente. O que ocorre é que Pernambuco tinha um Ideb baixo demais. Apenas igualouse com
os outros que estão neste mesmo patamar sem terem aplicado nenhum milagre.
A comparação numérica feita por Cid não é suficiente (quantos pontos se saltou no ranking do Ideb), já que oculta
a realidade das notas do Ideb daquele Estado e a cúria ministerial enganouse ao promulgar o milagre
pernambucano. Note que o milagre já havia sido antes copiado pelo Estado de São Paulo na gestão Alckmin e por
Seguir
aqui, não surte o mesmo efeito. A medida, aqui em São Paulo, nem sequer ajudou a melhorar o Ideb do Estado
que caiu de 3,9 em 2011 para 3,7 em 2013.
Seguir
“AVALIAÇÃO
EDUCACIONAL -
Mas o empresariado vai adorar replicar a experiência de Pernambuco que começa com uma cópia do que foi feito
Blog do Freitas”
em Nova York com a implantação das Escolas Charters. (Veja aqui também.)
Obtenha todo post novo
entregue na sua caixa de
A visita a Pernambuco foi para conhecer:
entrada.
Junte-se a 761 outros seguidores
… experiências que levaram o ensino médio de Pernambuco a ter registrado crescimento de 16% — o
Insira seu endereço de email
maior do País — na avaliação do índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb) de 2013.
Cadastreme
O objetivo do MEC é expandir experiências bemsucedidas a todo o Brasil na busca da melhoria da
qualidade nos últimos anos Crie
da umeducação básica. Entre 2011 e 2013, o estado subiu 17 posições no
site com WordPress.com
ranking desta etapa do ensino.
“Entre todos os grandes desafios da educação no Brasil, melhorar a qualidade do ensino médio é um
dos maiores” disse o ministro. “No Brasil, nos últimos dois anos, o estado que teve a melhor
http://avaliacaoeducacional.com/2015/01/10/cidcacamilagres/ 1/4
16/01/2016 Cid caça milagres | AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas
evolução percentualmente foi Pernambuco.”
Cid Gomes pediu ao governador Paulo Câmara e ao secretário estadual da educação, Fred Amâncio,
uma exposição da experiência do estado. “Para que possamos multiplicála”, afirmou.
Segundo Amâncio, as estratégias de melhoria da educação no ensino médio envolvem investimentos
em infraestrutura, ensino integral e técnico, formação continuada e programas de incentivo aos
professores e alunos.
“Além de ter uma das melhores notas no Ideb, Pernambuco apresenta hoje a menor taxa de
abandono escolar do ensino médio do Brasil”, ressaltou Amâncio.
Leia mais aqui.
É claro que implantar educação de tempo integral, dotar as escolas de professores e com boa infraestrutura é uma
iniciativa louvável em educação (digamos, uma obrigação). Apesar disso, a objeção à experiência de Pernambuco é
que ela é feita com recursos da iniciativa privada que desobrigam o Estado e sob o comando de uma concepção de
educação baseada na lógica empresarial. Segundo o ICR – Instituto de Coresponsabilidade Educacional, uma
Organização Social que é responsável pela condução da experiência:
“O padrão de gerenciamento das escolas baseiase na experiência empresarial, modelada para
atender as necessidades da organização escolar. A aplicação dessa experiência se traduz na
tecnologia chamada Tecnologia Empresarial Socioeducacional – TESE. Ela é definida como a arte
de coordenar e integrar tecnologias específicas e educar pessoas por meio de procedimentos
simples e que facilmente podem ser implantados na rotina escolar.”
A experiência de Pernambuco tem posto em relevo o avanço de 16 posições do Estado no ranking do Ideb entre
2011 e 2013, mas não contrasta de onde a nota partiu e onde chegou (2,7 a 3,6). O Ideb de São Paulo, por exemplo,
é 3,7. Não há nenhum milagre nisso a não ser o interesse de louvar experiências financiadas pela iniciativa privada
que permitem a introdução da lógica empresarial no interior da educação, cria mercado educacional e controle
sobre a escola.
Não vou entrar aqui em outras questões, mas seria interessante que se investigasse como andam as matrículas do
Estado de Pernambuco em Educação de Jovens e Adultos, ou seja, no depósito de jovens que vão
“voluntariamente” deixando a escola sem serem contabilizados como evasão. Se estou certo, Pernambuco é o
segundo Estado do nordeste (só perde da Bahia) que mais tem jovens em EJA, cerca de 214 mil, sendo 44 mil em
EJA na rede estadual do ensino médio, onde tem cerca de 357 mil matrículas regulares em 2013.
O destino desta linha de ação do ministério será, com o tempo, passar de “caça milagres” a “caça fantasmas”. Mais
tempo perdido para a educação brasileira, não sem antes abrir caminhos para a privatização da educação básica
via Organizações Sociais.
Avalie isto:
5 Votes
Share this:
210
Relacionado
http://avaliacaoeducacional.com/2015/01/10/cidcacamilagres/ 2/4
16/01/2016 Cid caça milagres | AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas
Nenhuma consultoria para trás Sobral: o “feijão com arroz” de Veveu do PT Preparando o terreno... para as escolas
Em "Escolas Charters" Em "Estreitamento Curricular" charter
Em "Links para pesquisas"
Sobre Luiz Carlos de Freitas
Professor da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP (SP) Brasil.
Ver todas as mensagens por Luiz Carlos de Freitas →
Esse post foi publicado em Cid no Ministério, Ideb, Links para pesquisas, Privatização, Segregação/exclusão. Bookmark o link permanente.
6 respostas para Cid caça milagres
Valéria Benittes disse:
10/01/2015 às 10:51 AM
É muito preocupante a expansão da política educacional de Pernambuco para todo o Brasil. Sou Pernambucana e apresento
em minha dissertação de mestrado, ” A Política de Ensino Médio no Estado de Pernambuco: um protótipo de gestão da
educação em tempo integral”(2014), como os reformadores empresariais apoiados pelo governo estadual tentam deixar
intocadas as determinações do mercado como regulador do direito fundamental à educação em nosso estado. Na prática, a
política educacional pernambucana, apontada como um sucesso, apenas acelera a privatização da educação pública
ocultando formas particulares da diferenciação socioeducativa.
Responder
Maria Gorette Gomes disse:
11/01/2015 às 8:58 AM
So implantar Ensino Médio Integral sem ter uma infraestrutura adequada, sem destinar recursos financeiros de nada
adianta, e sim tende a piorar. Com isso faz com quer a escola perca os seus educando para outras escolas de tempo normal.
Na escola que leciono nem recursos para a alimentação vem suficiente.
Responder
Luiz Carlos de Freitas disse:
11/01/2015 às 10:42 AM
Ola Valéria, obrigado pela disponibilização do seu trabalho. Há um link eletrônico para ele?
Responder
Valéria Benittes disse:
11/01/2015 às 11:05 AM
A dissertação, orientada pelo professor Jamerson Antonio de Almeida da Silva, será disponibilizada nos próximos
dias no banco de teses da UFPE. Quando for publicada deixarei o link aqui. Agradeço a atenção.
Responder
Ítalo Agra disse:
14/01/2015 às 10:14 PM
Parabéns pelo Post Prof. Freitas, utilizei publicações suas como perspectiva de análise crítica da reforma educacional em
Pernambuco. No mestrado fiz uma pesquisa documental para demonstrar as bases da reforma iniciada em Pernambuco, que
como eu pressupus, é mais do mesmo. Inclusive os sujeitos envolvidos na formulação e implementação tem relação direta
com a experiência de Minas, bem como, a propalada reforma do ensino médio começa de fato no Governo Jarbas e já começa
http://avaliacaoeducacional.com/2015/01/10/cidcacamilagres/ 3/4
16/01/2016 Cid caça milagres | AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas
a “fazer água”. Como professor e analista educacional da rede, estou testemunhando a proliferação das práticas de burla e
discriminação que o professor Freitas expõe fartamente neste blog. Há um esforço muito grande para fabricar o sucesso das
escolas integrais, há omissão de resultados negativos, há manipulação nas matrículas, discriminação dos alunos com baixo
rendimento, e fechamento de turmas e escolas que atendem os alunos “de baixo rendimento” através da municipalização.
Quando fiz minha pesquisa, tive muita dificuldade de obter informações pois o processo estava no início, e as consequências
não eram evidentes. Mas agora, posso dizer que a reforma de Pernambuco é uma falácia, e repete o mesmo modelo de
produção de ilhas de excelência. Há também uma blindagem política da experiência de Pernambuco, pois, os exemplos de
sucesso são alardeados, mas, as falhas estruturais do modelo implementado não aparecem. O bônus foi desmoralizado tanto
pelos resultados tímidos, quanto pelos erros de cálculo e omissão de informações por parte do governo. Mas, infelizmente, o
fato de Cid Gomes ter visitado Pernambuco prenuncia um futuro obscuro, pois, no período que o país finalmente tem
adquirido capacidade de investimento em educação, tende a seguir um modelo fracassado até na sua Matriz, os EUA.
O Programa de Modernização da Gestão Pública: uma análise da política de responsabilização educacional em Pernambuco
no governo Campos (20072011) Ítalo Agra de Oliveira Silva – UFPB
Responder
Ítalo Agra disse:
15/01/2015 às 11:36 AM
Prof. Freitas, a sua hipótese para a evasão da EJA está corretíssima. O governo começou no primeiro mandato Campos com a
correção de fluxo através do programa Travessia, da Fundação Roberto Marinho. Paralelo ao projeto, que tinha como
principal chamariz o término do ensino médio em metade do tempo, 1 ano e meio. No segundo governo, ele também reduziu
o EJA MÉDIO, ou seja, a EJA regular, para metade do tempo e diminuiu bastante as turmas de travessia. Com isso, os alunos
com “perfil problemático” para os resultados, os fora de faixa, os alunos trabalhadores, foram sendo canalizados para o
projeto e depois para o EJA da própria rede que se tornou uma máquina de emitir certificação de conclusão. Para se ter uma
ideia, foi estabelecido que o aluno que já tivesse cursado o ensino médio regular (1 ano) podia se matricular direto no 3º ano
da EJA. Quer dizer.. e a questão do currículo? e o que o aluno deveria aprender do programa do 2º ano e que não estudou no
primeiro regular, para onde foi? não importa. O entendimento tácito é de que o aluno nesse perfil só quer o papel do
certificado e o governo quer as estatísticas, para comemorar o aumento da escolaridade da população e coisas do tipo.
Sobre a evasão, tem um dado muito interessante. No sistema informatizado que foi implementado na rede (o SIEPE), quando
um aluno é transferido, não é contado como evasão. Então, o aluno evadido, foi praticamente “extinto” da rede, embora, seja
corrente que turmas da EJA tenham um nível de evasão absurdo. Dei aula em turmas que começaram com quase 50 e
terminaram o ano com menos de 20. Digo que se o governo federal exigisse pelo censo que fosse informado o destino do
aluno transferido e a confirmação da escola que recebeu o aluno, Pernambuco desceria ladeira abaixo no IDEB. E tem mais,
se um aluno tiver média 0,0, 1,0, 2,0, 0,0, por exemplo… e conseguir 6,0 na prova de recuperação, ELE SERÁ APROVADO
!!!!!, e quando uma média bimestral fica com décimos, por exemplo, 5,6, obrigatoriamente tem que se arredondar para 6,0.
Dessa forma, um aluno para não passar de ano, ele tem que ser muito persistente no erro, garantindo assim, os dividendos do
fluxo almejados pelo governo. Mas o santo tem pés de barro, se analisarmos a série de resultados de proficiência da rede,
veremos um crescimento inercial, ainda que considerando as proliferação das práticas de treino, simulados, e estreitamento
curricular, visando os testes anuais. Resumindo professor, como pesquisador da área, professor e analista em gestão
educacional, posso afirmar que “o milagre de Pernambuco”, é bala de festim, infelizmente, levará mais algum tempo para
afundar nos próprios erros, já que a contestação é mínima. E o prejuízo de fato fica para a população.
Responder
AVALIAÇÃO EDUCACIONAL – Blog do Freitas
O tema Twenty Ten. Blog no WordPress.com.
http://avaliacaoeducacional.com/2015/01/10/cidcacamilagres/ 4/4