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Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro


Sétima Câmara Cível

Agravo de instrumento nº 0057074-17.2017.8.19.0000


Agravante: VERA LÚCIA DE OLIVEIRA
Agravado: SANDRA DA SILVA CASTRO SOUTO E OUTRO

ACÓRDÃO

Agravo de Instrumento. Reintegração de posse.


Inconformismo em relação à decisão que deferiu o pedido
liminar. Prova dos autos que comprova que o agravante
está na posse do imóvel há mais de ano e dia. Posse
velha. Em se tratando de ação possessória de força velha,
que deverá seguir o rito ordinário, a concessão de tutela
antecipatória prevista no artigo 300 do CPC/2015 será
possível desde que comprovados os requisitos da
verossimilhança das alegações e o perigo de dano
irreparável ou de difícil reparação, o que não se verifica na
hipótese dos autos.Desnecessidade de provimento
urgente. Provimento do recurso.

A C O R D A M os Desembargadores da Sétima Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em decisão unânime, em dar
provimento ao recurso, nos termos do voto do Desembargador Relator.

Agravo de Instrumento nº 0057074-17.2017.8.19.0000


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CLAUDIO BRANDAO DE OLIVEIRA:15376 Assinado em 22/03/2018 11:59:55


Local: GAB. DES CLAUDIO BRANDAO DE OLIVEIRA
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RELATÓRIO:

Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto por VERA


LUCIA DE OLIVEIRA em face de decisão da 6ª Vara Cível, do Fórum Regional da
Barra da Tijuca, proferida nos autos do processo nº 0057074-
17.2017.8.19.0000, nos seguintes termos:

“Defere-se a medida liminar.


O depoimento colhido permite concluir, corroborando o conteúdo
de fls. 22, como se vê do teor dos depoimentos de Carlos Edgard
(fls. 297);
Assim sendo, a Ré tem, atualmente, a posse injusta, a teor do
documento de fls. 22, já que instada a restituir o terreno, deixou
de fazê-lo;
Concede-se a liminar, determinando-se a desocupação do bem
imóvel sub examinen. Instimenm-se.”

Sustenta o agravante em breve síntese: a) ser descabida a liminar


deferida por tratar-se de posse velha; b) que havendo conexão entre a ação de
reintegração de posse e a ação de usucapião cumulada com anulação de negócio
jurídico (termo referido na decisão recorrida), a decisão se mostra equivocada;
c) que não foi notificada pelos agravados, o que é necessário para comprovação
do esbulho de posse por força velha; d) que a decisão padece de
fundamentação. Requer a a concessão de efeito suspensivo ao presente recurso
e ao final a reforma da decisão ante ao risco de gravíssimo dano de impossível
reparação.

Decisão às fls. 45 concedendo o efeito suspensivo.

Contrarrazões às fls. 49/66, prestigiando a decissão recorrida.

Informações do juízo a quo às fls. 231/232.

VOTO:

Presentes os requisitos de admissibilidade recursal, passo a conhecer


do recurso.

Agravo de Instrumento nº 0057074-17.2017.8.19.0000


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Insurge-se o agravante contra decisão que deferiu a liminar de


reintegração de posse do imóvel situado na Avenida João Carlos Machado nº
440, Barra da Tijuca, nesta cidade.

É cediço que a ação de reintegração de posse é o remédio processual


hábil à restituição da posse àquele que a tenha perdido em razão de esbulho,
sendo privado do poder físico sobre a coisa.

Cumpre esclarecer que enquanto não passado ano e dia do esbulho


praticado, a tutela possessória será postulada por meio do procedimento
especial (artigo 558 e 560 do CPC/2015), cujo deferimento da liminar de
reintegração de posse dependerá apenas da comprovação pelo autor, da posse e
esbulho praticado, sua data, e a perda da posse, presumindo o legislador a
urgência, nestes casos. Contudo, se o esbulho tiver sido praticado há mais de
ano e dia, o pedido de antecipação de tutela deve ser analisados à luz dos
requisitos do artigo 300 do CPC. Neste caso, a concessão da tutela antecipatória
tem como pressupostos a existência de prova inequívoca e apta ao juízo de
verossimilhança das alegações do postulante, além do fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação.

Neste sentido, confira-se julgado do STJ abaixo colacionado:

AgInt no AREsp 1089677 / AM


AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2017/0090925-2

Relator(a)

Ministro LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO


DO TRF 5ª REGIÃO) (8400)

Órgão Julgador

T4 - QUARTA TURMA

Data do Julgamento

08/02/2018

Data da Publicação/Fonte

DJe 16/02/2018

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Ementa

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DEFERIMENTO DO PEDIDO
LIMINAR. POSSE VELHA. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA
TUTELA. CABIMENTO. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
1. Não configura ofensa ao art. 1.022, I e II, do Código de
Processo Civil de 2015 o fato de o Tribunal de origem, embora
sem examinar individualmente cada um dos argumentos
suscitados, adotar fundamentação contrária à pretensão da
parte recorrente, suficiente para decidir integralmente a
controvérsia.

2. Inexiste afronta ao art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015 quando o


órgão julgador se pronuncia de forma clara e suficiente acerca
das questões suscitadas nos autos, não havendo necessidade
de se construir textos longos e individualizados para rebater
uma a uma cada argumentação, quando é possível aferir, sem
esforço, que a fundamentação não é genérica.

3. Não há falar em erro de julgamento se a decisão de primeiro


grau aplica indevidamente o art. 927 do CPC/73, e o Tribunal de
origem enquadra o fato em dispositivo legal diverso, confirmando
a liminar de reintegração de posse, porque preenchidos os
requisitos do art. 273 do CPC/73.

4. O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento de que é


possível a concessão de tutela antecipada em ação possessória de
força velha, desde que preenchidos os requisitos do art. 273 do
CPC/73, a serem aferidos pela instância de origem.

5. Segundo o acórdão recorrido, os documentos carreados aos


autos mostraram-se suficientes para comprovar a existência da
posse sobre o imóvel e o esbulho praticado. Incidência da Súmula
7/STJ.

6. Agravo interno não provido.

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O dano irreparável, exigido pelo artigo 300 do CPC, deve ser atual, na
iminência de acontecer, situação que não se verifica na espécie.

Salienta-se que as partes litigam em ação de usucapião cumulada com


anulação de negócio, na qual o termo indicado na decisão vergastada é
contestado, o que significa que a liminar deferida poderá causar dano irreparável
a agravante na hipótese do provimento da ação proposta pela mesma.

Ressalta-se, ainda, que as testemunhas ouvidas em sede de audiência


de instrução e julgamento, nos autos da ação de usucapião, confirmam tratar-se
de posse velha.

Assim, ao contrário do magistrado de primeiro grau, tenho que não se


verifica a necessidade de provimento urgente, eis que ausente a demonstração
de elementos suficientes que evidenciem a probalidade do direito da agravada e
o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

Por tais razões, voto por dar provimento ao recurso, para revogar a
liminar proferida, confirmando o efeito suspensivo concedido pela decisão de fls.
45.

Rio de Janeiro, 21 de março de 2017.

Des. Cláudio Brandão de Oliveira


Relator

Agravo de Instrumento nº 0057074-17.2017.8.19.0000


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