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A DEUSA MAMACOCHA

A maior parte do que se sabe sobre a deidade Mamacocha se perdeu nas


histó rias e memó rias. nesse mundo cheio de divindades, onde eles sã o seres de
grande poder e agraciados com a imortalidade, ela foi uma das entidades mais
distante e com poucos contatos fora de seus domínios.
Ela já foi venerada como a Mã e das Á guas, considerada a deusa de todas as
á guas, representava o mar e suas marés, estava relacionada com os lagos, rios e
fontes de á gua, e consideravam que ela tinha dado à luz aos mananciais.
Encontramos até relatos arqueoló gicos apresentando cultos a Mamacocha,
normalmente pedindo para acalmar as á guas bravas e obter boas pescas. Entre os
documentos mais antigos do templo d’agua, vemos que uma naçã o afastada da
globalizaçã o woof-landiana, tratava seus dobradores de á gua como os filhos
abençoados de mamacocha. Acredita-se que as antigas tribos e pequenas cidades
primitivas a conheciam e até a cultuavam, tendo provas arqueoló gicas
contundentes em algumas poucas, mas bem conservadas ruínas do arquipélago
das ilhas fantasmas, onde estã o ilustradas prá ticas e rituais feitas para mamacocha,
aparentemente com o intuito de proteçã o contra maremotos, além disso existem
indícios que ela era venerada nos povoados pró ximos de grandes lagos, lagoas e
nascentes.
Entre as poucas descobertas arqueoló gicas que se tem a respeito dessa
divindade, uma destoa pela sua dataçã o e origem, um explorador acadêmico dessa
prestigiosa entidade educacional, encontrou nas ruínas de um antigo conjunto de
ninhos de dragõ es, uma pequena pedra lascada, que aparenta fazer parte de uma
texto histó rico, provavelmente destruída a muito tempo. Nela, em Dracô nico,
aparece uma mençã o a mamacocha.
Segue a reconstruçã o do texto encontrado:
As quatro maes elementais outrora senhoras caminhantes deste mundo
partiram para as suas moradias no mundo acima e agora guardam os caminhos
Pacha Mama protege o caminho de terra
Mama cocha vigia o caminho de agua
Mama Nina guarda o caminho do fogo
e
Mama Waira zela o caminho do ar

Vale ressaltar, que é este misterioso trecho que motivou o levantamento


histó rico e as pesquisas que permeiam este artigo acadêmico. Como podem ver o
texto dá a entender que Mamacocha realmente existiu, e além disso relata a
existência de mais outras “mã es elementais”, nã o é o escopo dessa pesquisa
investigar a suposta existência dessas outras figuras, entã o atentemos à s mençõ es
diretas a Mamacocha, ela era vista por algumas culturas como deusa e na
subcultura dos dragõ es como mã e elemental, dá se entender que ela já esteve em
woof-lands, mas que nã o existe mais nessa realidade, nã o temos certeza de onde é
esse mundo acima citado na pedra, mas como veremos adiante, outras culturas
conheciam o caminho de á gua como referência a uma regiã o específica do plano
d’agua.
Os dados a seguir foram conseguidos através de extensiva pesquisa e
buscas na comunidade arcana, nã o só nos meios usuais, como também com
contatos de intelectuais de outras raças menos acessíveis, as quais foram
necessá rias extensas negociaçõ es e garantias de segurança, espero que
compreendam que por meio dessas questõ es as informaçõ es nã o possuem a
mesma comprobabilidade que os dados citados anteriormente.
iniciaremos com o relato de Norben Bearcharger, um membro da exclusa
comunidade das fadas, porventura um mago historiador, especializado nas forças
elementares, historiografia arcana e mitologia má gica. Bearcharger, aceitou tirar
algumas de nossas dú vidas em troca de alguns dos nossos saberes e informaçõ es
sobre as prá ticas, feitiços e runas envolvendo a força á gua, promovendo um
compartilhamento amistoso do material intelectual disponível pelas partes.
Realizamos uma petiçã o para o conselho dos anciõ es e recebemos a aprovaçã o com
as devidas restriçõ es. Segue uma transcriçã o das falas do mago historiador.

“bem, o mito de mamacocha, engendrar-se as bases das civilizaçõ es primitivas de


woof-lands, era histó ria comum de um tempo que atribuía a manipulaçã o arcana
aos feitos sobrenaturais, demoníacos e divinos. Era recorrente que esses povos
vissem a manipulaçã o dos elementos como graças e bênçã os dos deuses, nessa
época existia um panteã o extenso, onde cada fenomenologia natural e arcana, tinha
seu correspondente divino. Deuses davam a magia, os tomavam, fortificavam e por
aí vai, o que conhecemos atualmente como rituais má gicos eram vistos por eles
como ritualística teoló gica sendo os sacerdotes(magos) aqueles abençoados que
tinham suas preces atendidas (realizaçã o da magia/ritual) ... “
“... existia vá rias mençõ es á deuses responsá veis pelos elementos, alguns teriam o
criado, outros eram responsá veis pela manutençã o.... entendam que a diversidade
cultural atual é em grande parte similar ao que era encontrado naquela época,
tinha-se assentamentos, cidades e grupos distintos, cada qual com seus deuses,
mas a constante troca de recursos e conflitos acabavam misturando e apropriando
muitas histó rias, no fim das contas fica difícil dizer de onde que tal mito surgiu,
principalmente em figuras como a mamacocha... era atribuída vá rios feitos a ela,
mas na maior parte dos grandes grupos e panteõ es divinos, ela era uma figura de
pouco destaque, uma coadjuvante”
“..., mas alguns pontos sã o recorrentes, ela nã o era responsá vel por punir ou julgar,
sempre apareceu como vigia, protetora e ajudadora, nã o me lembro de ter lido ou
achado qualquer mençã o que diga o contrá rio... ela também nã o era responsá vel
por dar a magia e os domínios sobre a á gua... pura bobagem esses filhos
abençoados por mamacocha, ela nunca foi patrona dos magos á gua!!! Existe sim,
mençã o à s dá divas que ela compartilhava, mas essas dá divas nã o eram realmente o
domínio da força á gua... pensando bem, acho possível que para os povos de pouca
instruçã o esses “milagres” pudessem ser entendidos ao ponto de acharem que
dobradores d’á gua tivessem recebidos essas dá divas...”
“Se eu acredito que ela era realmente uma deusa?!? Achei que isso era um encontro
de acadêmicos! Claro que nã o! ..... vejam, quando mais pesquiso sobre a mitologia
arcana, mais contundente é o fato de que, o que eram vistos como deidades sã o
meros mortais, que alcançaram grande prestígio e eram prodígios, e por meio
disso foram venerados ao ponto de que no decorrer das geraçõ es acabaram sendo
vistos como “deuses” ... alguns nem conseguiram alcançar a imortalidade... sobre a
mamacocha, se eu fosse chutar diria que era uma maga da á gua de algum outro
plano que acabou dando as caras por aqui, os mitos dela está ligado com algumas
histó rias antigas das fadas, nã o que seja extensos em nossa cultura, quase ninguém
sabe dela atualmente. Entã o acredito que ela deve ter feito contatos conosco e com
outros seres na primavera das raças, pode ser que ela seja imortal, entretanto ela
nã o aparece a milhares de anos”
“..., essa pedra dracô nica, corresponde com algo que eu li num antigo livro
teoló gico... a Mamacocha normalmente era vista em lagos, nascentes e qualquer
outra porçã o de á gua que fosse pura, que nã o tivesse sido manipulado por mã os
racionais, á guas intocadas. Quando a ú ltima á gua foi manchada pela ganâ ncia,
quando o ú ltimo lago foi descoberto e explorado, nã o tinha restado qualquer
refú gio à Mamacocha, ela nã o pertencia mais a esse mundo e teve que partir,
ascendendo ao plano da á gua... também já vi citaçõ es ao caminho da á gua,
normalmente é um nome antigo para um lugar intermediá rio entre o plano da á gua
e outro plano, em alguns textos fazem referência à interseçã o do plano da á gua e o
plano do espírito, o plano da á gua e o plano da aura... sinceramente, pode ser algo
entre o plano da á gua e qualquer outro lugar, pode muito bem ser um portal ou
algo similar.”

Como podemos ver os relatos de Norben Bearcharger, dã o uma ampliaçã o


sobre as histó rias contadas sobre a Mamacocha e a relaçã o dos povos antigos com
suas crenças e a magia, mas sã o poucas as informaçõ es factuais sobre a figura da
Mamacocha ou da cosmologia de seu mito, a maior parte dos dados de Bearcharger
trazem uma visã o geral e cética da deusa, isso ocorre pela pró pria escassez de
relatos diretos, livros e outras tradiçõ es que preservassem a histó ria original,
segundo o mago historiador, pode ser que as bibliotecas feéricas já tivessem tido
extensos documentos sobre Mamacocha, já que ela parece ser uma figura ligada à s
fadas, mas os ataques, atentados e outras atrocidades que a sociedade das fadas
sofreu no passado devem ter contribuído para a perda desses saberes .
Em detrimento disso, com a ajuda da grande Arquimaga Hangpharstyth,
conseguimos entrar em contato com uma outra visã o da Mamacocha. O indivíduo
em questã o, nã o quis entrar em contato direto, dizer seu nome, cargo ou até naçã o
de origem, conversamos com ele por meio de cartas que eram dadas a Arquimaga.
A ú nica informaçõ es que tivemos do entrevistado, foram dados pela pró pria
Hangpharstyth; sendo essas informaçõ es: 1-é alguém do gênero masculino, 2-
pertence à uma raça antiga e de grande longevidade, 3-ele teve contato com a
tradiçã o oral dos mitos da mamacocha na sua infâ ncia, 4-mesmo para a sua raça,
ele está numa idade extremamente elevada.
Segue a seguir a transcriçã o das cartas do contribuidor anô nimo

“estou impressionado que alguém ainda conheça esse nome, a última vez que ouvi
falar disso foi através da minha tetravó. E isso na minha infância”
“Como ela sabia dos mitos? ela iniciou um treinamento como sacerdotisa d'água, não
que ela tenha conseguido termina-lo, sua cidade natal foi atacada e destruída,
acabando com as tradições e estruturas. mesmo assim ela mantinha sua fé; e ensinou
à nossa família o pouco que aprendeu, ela contava a história dos deuses da água, os
grandes responsáveis pela vida, alguns temperamentais ou até destrutivos. Eu
particularmente sempre gostei dela e de suas histórias, passava horas ouvindo-as,
uma das últimas histórias que ela me contou foi dela, da Mamacocha e por isso me
marcou tanto, o suficiente para ainda me lembrar da história”
“bem... a história da Mamacocha... minha tetravó a chamava de “a deusa que sofre”.
Certa vez ela referiu a ela como “aquela que ainda não tem um lar”. Não era uma
deusa com grandes adeptos. São poucos os milagres atribuídos a ela, sendo a sua
maioria só aparições. Tudo que sabemos sobre ela foi dito por ela mesma, de forma
fragmentada. Acredito que seus primeiros seguidores devem ter tido um grande
trabalho para juntar as pontas soltas. Ela nunca foi muito ativa, suas ações sempre
foram indiretas, normalmente feitas pelos abençoados de Mamacocha, são raros
aqueles que recebem as suas dádivas”
“suas dádivas são bem variadas, normalmente os escolhidos possuem uma ou várias
bênçãos. Tudo depende se eles aceitarem a deusa como sua guia ou se ignoram-na.
Os filhos de Mamacocha normalmente são magos, isso tem a ver com a natureza da
deusa. Como vigia, ela preferencialmente observar as águas puras e límpidas -- não
tem água mais pura que a do plano d’agua -- quando mais contato um mago faz com
o plano maiores são as chances dela o notar, minha tetravó dizia que por ela
protegia os magos d'água que passavam por crises, quando maior a corrupção do
mundo maior seria a sua proteção, isso porque Mamacocha começou sua queda e
ascensão pela manipulação livre da água num mundo decadente pela corrupção”
“essas dádivas são verdadeiros milagres, os jovens magos os chamam de habilidades
especiais, feitos excepcionais que os magos normalmente não alcançam só com o
treinamento e aperfeiçoamento. Vivi muito e ouvi rumores de pessoas que
conseguiram essas bênçãos, os rumores dizem que sempre ter a ver com a própria
Mamacocha ou com o seu reino e seus protegidos. Milagres envolvendo a invocação
de seres marinhos com habilidades excepcionais, a cura proveniente da água,
proteções ou até a elevação da conexão arcana com a própria força água. Os filhos
da Mamacocha sempre são instigados a salvar o mundo e suas dádivas tem esse
objetivo”
“passei esses últimos dias relembrando a história e juntando o trama, infelizmente
não poderei narrar na riqueza de detalhes que minha tetravó contava, e também não
sou de encaixar comentários morais, de orientação e de exaltar os exemplos dos
deuses que devem ser seguidos, como ela fazia hahahahaha mas farei o meu melhor
nessa carta.
A deusa Mamacocha, a vigia das águas, não nasceu deusa e nem vinha de
qualquer linhagem sagrada ou mágica. Ela veio ao mundo da forma mais comum
possível, num mundo qualquer, de um universo qualquer. Situado num local
relativamente interessante para os estudiosos dos planos, aos empolgados sobre a
Yggdrasil e dos próprios mistérios do tempo.
Ela vem de um universo desconhecido, situado nos ramos mais distantes da grande
árvore da vida, num galho retorcido no espaço e no tempo, tecnicamente o seu
universo ainda não existe, ele está num eterno futuro, tão distante e inalcançável
para magos como para deuses, representa um desses mistérios lógicos e paradoxais.
Não que alguém daquele universo sabia disso, eles são ignorantes a qualquer um dos
conhecimentos arcanos que pudessem mostrar sua frágil condição. sua distância dos
pontos centrais da Yggdrasil tornam o lugar estéril na magia, sua ligação com os
planos das forças é ínfima. E o véu que protege todas as realidades é tão grosso e
rígido que qualquer tentativa de manipular a magia seria como mover montanhas
com as mãos. Tudo isso impossibilitam-nos de ver a verdade multiversal e arcana que
representa a Yggdrasil, mesmo as tecnologias normais não conseguem ultrapassar o
paradoxo espaço-temporal que retorce e limita as bordas daquele universo. O que
resta é a ignorância.
E é nessa ignorância que a Mamacocha nasceu, junto com suas irmãs ela cresceu
num mundo cercado pelo fanatismo. Teve uma infância exemplar e no início da
adolescência elas foram confrontadas com a realidade de seu mundo. Como tiveram
uma vivência reclusa nas fazendas de sua família, elas viam o mundo na sua forma
mais natural, amavam os animais e seus habitats. Isso durou até a perda dos
terrenos de sua família, elas tiveram que mudar para a metrópoles. E perceberam
que seu mundo estava no ápice da revolução industrial e tecnológica, e como
consequência disso, o mundo e a ecologia estavam sendo corrompidos pela poluição
e uso excessivo dos recursos naturais. Biomas inteiros estavam sendo destruídos,
espécies extintas a cada dia. Tudo o que elas amavam estavam sendo perdidos,
destruídos ou mortos. A própria saúde das pessoas estava se deteriorando.
As irmãs se uniram e decidiram lutar contra a destruição da natureza, as três irmãs
mais velhas tinham uma afinidade maior com alguns biomas e animais, mamacocha
era aficionada com a vida marinha, e na maturidade salvava peixes e outras
criaturas da poluição, criando um centro de cura e resgate. Pachamama amava os
animais terrestres e as plantas, ela passava a maior parte do seu tempo tentando
fracassar a exploração de madeiras e a destruição das florestas. Mamawaira era
uma sonhadora, que queria ter a liberdade dos pássaros; quando ela viu a poluição
do ar, tráfico e extinção das aves ela começou a organizar protestos pacíficos e lutou
pela criação de leis e normas que protegessem a vida e a ecologia. Não podemos nos
esquecer de Mamanina, a irmã mais nova, rebelde e revoltada; ela não possuía a
passividade das outras irmãs, sabia que era necessárias medidas drásticas para
acabar com a destruição, seu ardor e garra, fomentou o surgimento de grupos
vândalos, onde ela era vista atuando como líder.
Nessa época as quatro irmãs chegaram ao seu ápice, bem-sucedidas dentro de suas
buscas, reconhecidas em seus meios, elas começavam a salvar a sua realidade, numa
perspectiva impossível elas estavam realmente fazendo a diferença. E foi aí que
começou... quem notou primeiro foram Mamanina e Mamacocha, a primeira
conseguiu criar uma faísca numa de seus atos vândalos, e a outra percebeu que a
água que usava nos tratamentos facilitava a cura dos animais de uma forma
incomum, além é claro de que ambas desmaiaram e por dias foram acometidas por
forte cansaço após as observações. Elas tinham alcançado a magia, veja bem... no
mundo delas a magia era algo impossível, coisas das histórias infantis e nos casos
mais crente, de bruxas e demônios... como eu disse anteriormente, esse era um mundo
fanático, as crenças eram se resumiam aos que seguiam os ditames da sociedade e
eram abençoadas ou aqueles impuros adoradores de demônios. Nesse mundo,
despertar a magia era o mesmo de ser amaldiçoado, e assim aconteceu a elas...
Elas não eram burras, elas sabiam que não deviam mostrar o que podiam fazem, mas
ao mesmo tempo, elas viam seu despertar na magia como um sinal, de que estavam
fazendo a coisa certa e que foram abençoadas, e assim elas praticaram a magia, a
manipulação livre, cada uma tinha como força primária o seu elemento
correspondente; água, terra, ar e fogo, mas pelo que é descrito elas também tinham
outros, possivelmente espírito e healing. Para os magos woof-landianos elas seriam
vistas como iniciantes, no mais baixo domínio arcano, provavelmente no primeiro
rank arcano, se seguirmos o que o Olonix escreveu naquele livro de magia para
ignorantes dele. Mas isso, no mundo delas era excepcional, tão difícil quanto seria
para nós, alcançarmos o ultimo rank arcano.
Pelo que parece, uma delas não teve escolha e num caso de necessidade, acabou
demonstrando os seus poderes na frente da população. E isso acarretou a ruína, elas
foram perseguidas, houve o levantamento das empresas poluentes e dos órgãos
religiosos, se antes elas eram mal vistas, agora eram hereges e adoradoras do diabo,
foram presas e julgadas, vistas coma bruxas, foram condenadas à morte. Cada uma
teve que morrer “pagando pelos próprios pecados contra deus”, Mamacocha foi
afogada nas águas que tanto amava, deixada para ser comida pelos peixes;
Pachamama foi enterrada viva, numa das matas que ela manteve protegida, para ser
comida pelos vermes da terra; Mamawaira foi sufocada até a morte, desprovida do
ar que trazia a liberdade aos pássaros, tendo seu corpo largado as aves carniceiras e
Mamanina foi queimada vida, ardendo no fogo, num ardor que só poderia ser
comparado às suas próprias lutas, destruída até só restar às cinza.
As quatro moças morreram ao mesmo tempo, entre a dor, o desespero e a tristeza,
todas partiram juntas
Mas algo aconteceu... enquanto suas vidas iam se apagando e sua alma se esvaia,
uma força surgiu.
Alguns seguidores da Mamacocha dizem que essa energia veio da própria Yggdrasil,
num reconhecimento de suas filhas que tentaram tão ardorosamente proteger
aquele mundo decadente, num reconhecimento do alcance da magia e do coração
puro daquelas moças o próprio mundo as protegeu... não em vida! Não em matéria,
mas em espírito.
Hoje sabemos que a Yggdrasil não é um ser vivo e muito menos tem consciência,
então alguém muito poderoso, possivelmente uma outra entidade, deve ter notado
elas e as salvado ou talvez o próprio paradoxo instigado pela magia das irmãs e pela
natureza de sua morte, as levou para um lugar onde poderiam existir sem ferir a
estrutura da realidade. Esse mistério continua, mas uma coisa é inquestionável, elas
não morreriam do mesmo jeito que acontece a todos os outros, a essência do próprio
paradoxo que preenche aquele local, retirou a alma dessas quatro santas, e a levou
para as raízes da própria árvore Yggdrasil. Elas foram infundidas de uma energia
arcana, algo que elas mesma já tiveram em vida, mas não naquela intensidade. E
saíram de uma existência mundana para se tornar deusas.
Não é muito certo as coisas que devem ter acontecido nesses primeiros instantes da
vida divina delas, mas uma coisa é clara. Ao sair do paradoxo que circulava o
universo delas, elas foram lançadas nos primórdios do tempo, na época que woof-
lands era recém surgido.
Elas não vieram primeiro pra cá, ficaram vagando pelos mundos, buscando uma
forma de voltar a sua casa, queriam se aproveitar do seu poder arcano e divino atual,
para assim salvar o mundo que as rejeitaram em vida. Bem... em todas as histórias,
isso não aconteceu, o universo peculiar de onde elas vinham, não existia ainda, e
mesmo quando elas alcançaram meios para viajar no tempo e chegaram em sua
época real, elas viram-se impedidas pelo paradoxo. Desorientadas... não tinha nada
que pudessem fazer.
Então pela segunda vez elas criaram um pacto, as quatro irmãs iriam esperar o
tempo que fosse necessário, juntariam e acumulariam suas forças, gastando o
mínimo possível de seu poder divino. Elas acreditam que em algum momento os
planos elementares tiveram uma conexão mais forte com o universo natal delas,
talvez o segredo não fosse forçar a passagem do espaço-tempo, ou tentar quebrar as
barreiras que englobam o universo, no lugar disso, seria necessário esperar um
momento propício, onde algum fenômeno facilitasse a passagem para aquele mundo.
Elas sabiam que provavelmente mesmo em condições facilitadas seria extremamente
difícil e desgastante atravessar o paradoxo, além é claro de que a própria existência
mágica dentro daquele mundo, causaria um gasto imensurável de poder, e por isso
elas guardam ao máximo suas forças.
Depois dessa parte, a história fica mais nebulosa, sabe-se que as irmãs se separaram,
não sei o que as outras fizeram, mas mamacocha, vagou pelos mundos, tentando
ensinar aos povos a valorizar a natureza e a água. E foi assim que ela chegou a woof-
lands, ela passou seus ensinamentos adiante, criando o antigo e extinto culto à
Mamacocha, com sacerdotes que buscavam a pureza das águas como elevação ao
divino.
Normalmente ela era encontrada nas nascentes, no meio do mar, ou nos
arquipélagos menos povoados, seus seguidores mais devotos organizavam
peregrinações com a esperança de encontrar a deusa e receber seus ensinamentos...
mas o tempo foi passando, as mudanças criaram um mundo mais povoado, o
progresso acabou cobrando seu preço, e a Mamacocha se tornou uma figura cada
vez mais distante, dizem que os últimos a verem-na, encontraram uma deusa triste,
com medo de que a água fosse corrompida como aconteceu tantas outras vezes em
seu mundo natal e em todos os outros mundos que ela visitou. Era um grande
sofrimento ver tudo isso acontecer, sem poder fazer nada. Sua presença minguava,
não por falta de poder, e sim pela retração voluntária que ela fazia, ela preferia a
ignorância, isso diminuía seu sofrimento, já que ela tinha que manter sua palavra e
as promessas que fez a suas irmãs. Era tentador demais, gastar o seu poder para
manter as águas sempre puras.
No fim, ela decidiu partir, ela foi para onde acreditava ser o último lugar onde as
águas seriam corrompidas, para o plano d’agua. Dizem que ela criou um paraíso em
algum lugar daquela vastidão, um lugar sagrado onde ela protegeu e salvou da
extinção os animais marinhos dos universos, minha tetravó dizia, que se um dia as
águas de woof-lands retornassem ao seu estado original de pureza, a mamacocha
voltaria, e traria seu paraíso consigo, e assim, woof-lands tornaria o paraíso d’água”
“bem... o paraíso da água... esse é o nome que os fiéis davam para a atual moradia da
deusa, mas se for para deduzir, eu diria que deve ser mais parecido com um reino
selvagem sub marítimo, cercado de vida marinha, deve existir animais inimagináveis
por lá, nas histórias, a água nesse local é extremamente pura, um santuário, dizem
que mesmo aqueles que precisam de ar para respirar, podem viver tranquilamente
por lá, suas feridas são curadas só de beber dessa água, além disso a água lá é a água
perfeita, não num sentido geral, mas sim no sentido específico, para cada espécie e
para cada indivíduo, é simplesmente a concretização da perfeição. É difícil de
explicar resumidamente, mas tudo nessa água é a perfeição que você espera que a
água seja, nem quente demais, nem fria demais, nem saturada de gosto, nem sem
gosto algum. Ela é a pura e simples água, mas a sua perfeição é tamanha que não
parece ser apenas água, dizem que quem prova dessas águas é infundido por um
êxtase, o êxtase de ter encontrado a perfeição que sua alma buscava, mas que nem
ela mesma sabia que buscava, a pessoa fica maravilhada, da mesma forma quando
esperamos algo com expectativa e a realidade mostra-se inimaginavelmente melhor.
Quem prova dessa água lembra-se dela pra sempre, e mesmo que não seja criterioso,
lá no fundo, nenhuma outra água parece mais ser tão boa, elas perdem parte do
sabor, quando comparada com as águas do reino de Mamacocha
As águas e criaturas desse paraíso, não podem ser invocados ou trazidas para outros
planos e realidades, a não ser que a própria deusa Mamacocha permita, e essas
permissões são algumas das suas dádivas. Mesmo que sua água e seus animais sejam
convocados pelos filhos de Mamacocha, eles não podem ser corrompidos ou
deturpados por ninguém, seus sagrados animais não sentem dor, e diante de
qualquer perigo mortal, eles são levados de volta para o reino e proteção da deusa.
A deusa observa todo o plano da água, atenta às manipulações pelos magos,
feiticeiros, bruxos e afins. Mas em seu reino sua vigia é muito maior, ela sente tudo
que está nas suas águas, fisicamente e espiritualmente, a água é o seu ouvido, e os
animais são seus olhos. Dizem que existem vários guardiões, animais de grande
poder, todos agraciados com o intelecto e sabedoria da deusa. Todos que adentram
em seu reino, sentem imediatamente a sua aura, uma energia pura e bondosa, vinda
de todas as direções, mesmo aqueles mais cegos às energias do espírito e do mundo,
conseguem notar a força divina que emana da deusa.”
“eu tenho algumas antigas ilustrações, a maioria são pertences da minha tetravó,
enquanto trocávamos essas cartas, acabei pedindo para um pintor local, fizesse
umas cópias. Nesse período de correspondência acabei por me lembrando de várias
histórias antigas, mas temo que minha fonte de memórias finalmente secou
hahahaha sinto não poder responder mais perguntas ou dar mais detalhes, mas me
aquece o coração que os jovens de hoje em dia, queiram saber sobre as histórias e
crenças da minha querida tetravó. Como último agrado, eu mandei junto à este
bilhete, as cópias feitas pelo pintor, elas ficaram bem similares às originais, mas temo
que os artistas de hoje em dia, gostem de algo mais colorido, e que o copiador
colocou um pouco de suas preferências nas cópias, mas pelo menos ele não
transformou as ilustrações em quebra-cabeças abstratos hahahahahaha.”
(verso da ilustraçã o: o reino da deusa Mamacocha)

(deusa Mamacocha)
(verso da ilustraçã o: As quatro irmã s)
(verso da ilustraçã o: perseguiçã o as santas)

(verso da ilustraçã o: morte da mamacocha)


(verso da ilustraçã o: guardiõ es do paraíso)
(verso das ilustraçõ es: Os Dragõ es Marinhos)
“essas últimas quatro imagens... bem... esqueci de contar uma coisa, Mamacocha
normalmente é associada às fases da lua, seu culto era lunar, as fortes relações entre
as marés e a lua, influenciou seu mito, diziam que as fases representam as fases da
vida de mamacocha, a lua nova: é sua origem, seus momentos mais escuros, seu
julgamento e morte, a crescente: representa o início de sua ascensão, sua salvação,
saída de seu mundo e ida às raízes da Yggdrasil, a lua cheia: representa seu ápice,
seu renascimento como deusa, o surgimento da sua religião e a instauração de seus
dogmas, a minguante: é a nossa era, o afastamento da deusa de seus fiéis, sua
reclusão e esquecimento. Tudo isso para retornar à lua nova, que dessa vez
representa a volta da deusa para seu mundo de origem, seu recomeço. As fases
também representam o ciclo da água, mas além disso tudo, tratam de quatro
dragões, grandes aliados de Mamacocha, amigos e companheiros que irão
acompanhar e ajudar nos momentos mais difíceis, cada dragão representa uma fase
lunar, e todos juntos, permitirão que o ciclo da Mamacocha se reinicie, quando
chegar a hora”

Analisando as informaçõ es do colaborador anô nimo, podemos ver que seus


relatos se encaixam com alguns dos dados colhidos anteriormente, além de
esclarecer pontos em aberto e lançar uma nova luz sobre outras perspectivas. É
visível a todos, que entre os dados amostrais à s cartas anô nimas sã o sem sombras
de dú vidas, as mais difíceis de serem postas à prova e sem nenhuma
fundamentaçã o palpá vel. Entretanto é igualmente inegá vel que elas representam a
fonte mais aprofundada e completa de informaçõ es sobre a Mamacocha.
tendo isso em vista, decidimos realizar uma revisã o dos dados e um novo
levantamento de relatos e documentos, tendo como base a histó ria anô nima, feito
isso, buscou-se, criar paralelos entre os registros de magos dominadores da força
á gua presente aqui no templo, com os dados passados. Procurando, a existência de
alguma fundamentaçã o indireta à histó ria contada.
Como já tínhamos constatado que os magos do templo nã o conheciam a
Mamacocha desde os tempos ancestrais, encontrando-se como ú nica mençã o a
denominaçã o “os filhos abençoados de Mamacocha” para antigos dobradores
d’á gua. desta vez buscamos especificamente por habilidades especiais, fazendo um
levantamento bibliográ fico dos registros dos mestres, sobre os feitos de seus
alunos, com foco nas habilidades incomuns.
Nos orientamos pela descriçã o dada sobre as á guas do reino de mamacocha
e também das ilustraçõ es dos guardiõ es. Inferindo paralelos entre habilidades de
invocaçã o e cura já mostradas pelos antigos alunos do templo. Mas infelizmente
nenhuma suspeita resistiu a á rdua investigaçã o, acreditamos que podemos afirmar
com um grande grau de certeza, que nenhum mago do templo teve algumas das
dá divas da deusa.
Deste modo, nã o podemos ter certeza, se as histó rias sobre a Mamacocha
sã o realmente verídicas, sejam na perspectiva de crenças mitoló gicas e religiosas
ou na visã o factual e material. Sem as devidas descobertas e averiguaçõ es futuras,
os dados ficam delegados como uma hipó tese plausível, mas nã o comprovada.
Isso, no entanto, nã o justifica um total ceticismo sobre as lendas, já que
existe um material multicultural significativo para demonstrar que a Mamacocha,
já teve no mínimo uma forte importâ ncia religiosa. Além é claro, de que nada
garante que nossos magos nã o tenham ocultado habilidades extraordiná rias
relacionada à Mamacocha ou até mesmo, que as habilidades cedidas por ela sejam
diferentes das que esperamos encontrar.
Agradeço a todos que predispuseram se a ajudar nessa á rdua pesquisa, aos
colaboradores anô nimos e autodeclarados, aos magos, mestre e anciõ es presentes
no grande templo da á gua e principalmente à minha equipe. Espero que este
trabalho seja guardado para a prosperidade, nã o só como uma curiosidade
acadêmica, mas também para ajudar a sanar as dú vidas atuais. Que as questõ es
informadas aqui sejam passíveis de discussã o e que levantem novos
questionamentos e mais trabalhos investigativos. Por fim, termino este artigo,
esperando que todo leitor e pesquisador, nã o se esqueça dos mistérios que nos
rodeiam, e que de uma forma ou outra, este texto os tenha ajudado, nem que seja
no quesito teó rico e imaginativo.

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