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“estou impressionado que alguém ainda conheça esse nome, a última vez que ouvi
falar disso foi através da minha tetravó. E isso na minha infância”
“Como ela sabia dos mitos? ela iniciou um treinamento como sacerdotisa d'água, não
que ela tenha conseguido termina-lo, sua cidade natal foi atacada e destruída,
acabando com as tradições e estruturas. mesmo assim ela mantinha sua fé; e ensinou
à nossa família o pouco que aprendeu, ela contava a história dos deuses da água, os
grandes responsáveis pela vida, alguns temperamentais ou até destrutivos. Eu
particularmente sempre gostei dela e de suas histórias, passava horas ouvindo-as,
uma das últimas histórias que ela me contou foi dela, da Mamacocha e por isso me
marcou tanto, o suficiente para ainda me lembrar da história”
“bem... a história da Mamacocha... minha tetravó a chamava de “a deusa que sofre”.
Certa vez ela referiu a ela como “aquela que ainda não tem um lar”. Não era uma
deusa com grandes adeptos. São poucos os milagres atribuídos a ela, sendo a sua
maioria só aparições. Tudo que sabemos sobre ela foi dito por ela mesma, de forma
fragmentada. Acredito que seus primeiros seguidores devem ter tido um grande
trabalho para juntar as pontas soltas. Ela nunca foi muito ativa, suas ações sempre
foram indiretas, normalmente feitas pelos abençoados de Mamacocha, são raros
aqueles que recebem as suas dádivas”
“suas dádivas são bem variadas, normalmente os escolhidos possuem uma ou várias
bênçãos. Tudo depende se eles aceitarem a deusa como sua guia ou se ignoram-na.
Os filhos de Mamacocha normalmente são magos, isso tem a ver com a natureza da
deusa. Como vigia, ela preferencialmente observar as águas puras e límpidas -- não
tem água mais pura que a do plano d’agua -- quando mais contato um mago faz com
o plano maiores são as chances dela o notar, minha tetravó dizia que por ela
protegia os magos d'água que passavam por crises, quando maior a corrupção do
mundo maior seria a sua proteção, isso porque Mamacocha começou sua queda e
ascensão pela manipulação livre da água num mundo decadente pela corrupção”
“essas dádivas são verdadeiros milagres, os jovens magos os chamam de habilidades
especiais, feitos excepcionais que os magos normalmente não alcançam só com o
treinamento e aperfeiçoamento. Vivi muito e ouvi rumores de pessoas que
conseguiram essas bênçãos, os rumores dizem que sempre ter a ver com a própria
Mamacocha ou com o seu reino e seus protegidos. Milagres envolvendo a invocação
de seres marinhos com habilidades excepcionais, a cura proveniente da água,
proteções ou até a elevação da conexão arcana com a própria força água. Os filhos
da Mamacocha sempre são instigados a salvar o mundo e suas dádivas tem esse
objetivo”
“passei esses últimos dias relembrando a história e juntando o trama, infelizmente
não poderei narrar na riqueza de detalhes que minha tetravó contava, e também não
sou de encaixar comentários morais, de orientação e de exaltar os exemplos dos
deuses que devem ser seguidos, como ela fazia hahahahaha mas farei o meu melhor
nessa carta.
A deusa Mamacocha, a vigia das águas, não nasceu deusa e nem vinha de
qualquer linhagem sagrada ou mágica. Ela veio ao mundo da forma mais comum
possível, num mundo qualquer, de um universo qualquer. Situado num local
relativamente interessante para os estudiosos dos planos, aos empolgados sobre a
Yggdrasil e dos próprios mistérios do tempo.
Ela vem de um universo desconhecido, situado nos ramos mais distantes da grande
árvore da vida, num galho retorcido no espaço e no tempo, tecnicamente o seu
universo ainda não existe, ele está num eterno futuro, tão distante e inalcançável
para magos como para deuses, representa um desses mistérios lógicos e paradoxais.
Não que alguém daquele universo sabia disso, eles são ignorantes a qualquer um dos
conhecimentos arcanos que pudessem mostrar sua frágil condição. sua distância dos
pontos centrais da Yggdrasil tornam o lugar estéril na magia, sua ligação com os
planos das forças é ínfima. E o véu que protege todas as realidades é tão grosso e
rígido que qualquer tentativa de manipular a magia seria como mover montanhas
com as mãos. Tudo isso impossibilitam-nos de ver a verdade multiversal e arcana que
representa a Yggdrasil, mesmo as tecnologias normais não conseguem ultrapassar o
paradoxo espaço-temporal que retorce e limita as bordas daquele universo. O que
resta é a ignorância.
E é nessa ignorância que a Mamacocha nasceu, junto com suas irmãs ela cresceu
num mundo cercado pelo fanatismo. Teve uma infância exemplar e no início da
adolescência elas foram confrontadas com a realidade de seu mundo. Como tiveram
uma vivência reclusa nas fazendas de sua família, elas viam o mundo na sua forma
mais natural, amavam os animais e seus habitats. Isso durou até a perda dos
terrenos de sua família, elas tiveram que mudar para a metrópoles. E perceberam
que seu mundo estava no ápice da revolução industrial e tecnológica, e como
consequência disso, o mundo e a ecologia estavam sendo corrompidos pela poluição
e uso excessivo dos recursos naturais. Biomas inteiros estavam sendo destruídos,
espécies extintas a cada dia. Tudo o que elas amavam estavam sendo perdidos,
destruídos ou mortos. A própria saúde das pessoas estava se deteriorando.
As irmãs se uniram e decidiram lutar contra a destruição da natureza, as três irmãs
mais velhas tinham uma afinidade maior com alguns biomas e animais, mamacocha
era aficionada com a vida marinha, e na maturidade salvava peixes e outras
criaturas da poluição, criando um centro de cura e resgate. Pachamama amava os
animais terrestres e as plantas, ela passava a maior parte do seu tempo tentando
fracassar a exploração de madeiras e a destruição das florestas. Mamawaira era
uma sonhadora, que queria ter a liberdade dos pássaros; quando ela viu a poluição
do ar, tráfico e extinção das aves ela começou a organizar protestos pacíficos e lutou
pela criação de leis e normas que protegessem a vida e a ecologia. Não podemos nos
esquecer de Mamanina, a irmã mais nova, rebelde e revoltada; ela não possuía a
passividade das outras irmãs, sabia que era necessárias medidas drásticas para
acabar com a destruição, seu ardor e garra, fomentou o surgimento de grupos
vândalos, onde ela era vista atuando como líder.
Nessa época as quatro irmãs chegaram ao seu ápice, bem-sucedidas dentro de suas
buscas, reconhecidas em seus meios, elas começavam a salvar a sua realidade, numa
perspectiva impossível elas estavam realmente fazendo a diferença. E foi aí que
começou... quem notou primeiro foram Mamanina e Mamacocha, a primeira
conseguiu criar uma faísca numa de seus atos vândalos, e a outra percebeu que a
água que usava nos tratamentos facilitava a cura dos animais de uma forma
incomum, além é claro de que ambas desmaiaram e por dias foram acometidas por
forte cansaço após as observações. Elas tinham alcançado a magia, veja bem... no
mundo delas a magia era algo impossível, coisas das histórias infantis e nos casos
mais crente, de bruxas e demônios... como eu disse anteriormente, esse era um mundo
fanático, as crenças eram se resumiam aos que seguiam os ditames da sociedade e
eram abençoadas ou aqueles impuros adoradores de demônios. Nesse mundo,
despertar a magia era o mesmo de ser amaldiçoado, e assim aconteceu a elas...
Elas não eram burras, elas sabiam que não deviam mostrar o que podiam fazem, mas
ao mesmo tempo, elas viam seu despertar na magia como um sinal, de que estavam
fazendo a coisa certa e que foram abençoadas, e assim elas praticaram a magia, a
manipulação livre, cada uma tinha como força primária o seu elemento
correspondente; água, terra, ar e fogo, mas pelo que é descrito elas também tinham
outros, possivelmente espírito e healing. Para os magos woof-landianos elas seriam
vistas como iniciantes, no mais baixo domínio arcano, provavelmente no primeiro
rank arcano, se seguirmos o que o Olonix escreveu naquele livro de magia para
ignorantes dele. Mas isso, no mundo delas era excepcional, tão difícil quanto seria
para nós, alcançarmos o ultimo rank arcano.
Pelo que parece, uma delas não teve escolha e num caso de necessidade, acabou
demonstrando os seus poderes na frente da população. E isso acarretou a ruína, elas
foram perseguidas, houve o levantamento das empresas poluentes e dos órgãos
religiosos, se antes elas eram mal vistas, agora eram hereges e adoradoras do diabo,
foram presas e julgadas, vistas coma bruxas, foram condenadas à morte. Cada uma
teve que morrer “pagando pelos próprios pecados contra deus”, Mamacocha foi
afogada nas águas que tanto amava, deixada para ser comida pelos peixes;
Pachamama foi enterrada viva, numa das matas que ela manteve protegida, para ser
comida pelos vermes da terra; Mamawaira foi sufocada até a morte, desprovida do
ar que trazia a liberdade aos pássaros, tendo seu corpo largado as aves carniceiras e
Mamanina foi queimada vida, ardendo no fogo, num ardor que só poderia ser
comparado às suas próprias lutas, destruída até só restar às cinza.
As quatro moças morreram ao mesmo tempo, entre a dor, o desespero e a tristeza,
todas partiram juntas
Mas algo aconteceu... enquanto suas vidas iam se apagando e sua alma se esvaia,
uma força surgiu.
Alguns seguidores da Mamacocha dizem que essa energia veio da própria Yggdrasil,
num reconhecimento de suas filhas que tentaram tão ardorosamente proteger
aquele mundo decadente, num reconhecimento do alcance da magia e do coração
puro daquelas moças o próprio mundo as protegeu... não em vida! Não em matéria,
mas em espírito.
Hoje sabemos que a Yggdrasil não é um ser vivo e muito menos tem consciência,
então alguém muito poderoso, possivelmente uma outra entidade, deve ter notado
elas e as salvado ou talvez o próprio paradoxo instigado pela magia das irmãs e pela
natureza de sua morte, as levou para um lugar onde poderiam existir sem ferir a
estrutura da realidade. Esse mistério continua, mas uma coisa é inquestionável, elas
não morreriam do mesmo jeito que acontece a todos os outros, a essência do próprio
paradoxo que preenche aquele local, retirou a alma dessas quatro santas, e a levou
para as raízes da própria árvore Yggdrasil. Elas foram infundidas de uma energia
arcana, algo que elas mesma já tiveram em vida, mas não naquela intensidade. E
saíram de uma existência mundana para se tornar deusas.
Não é muito certo as coisas que devem ter acontecido nesses primeiros instantes da
vida divina delas, mas uma coisa é clara. Ao sair do paradoxo que circulava o
universo delas, elas foram lançadas nos primórdios do tempo, na época que woof-
lands era recém surgido.
Elas não vieram primeiro pra cá, ficaram vagando pelos mundos, buscando uma
forma de voltar a sua casa, queriam se aproveitar do seu poder arcano e divino atual,
para assim salvar o mundo que as rejeitaram em vida. Bem... em todas as histórias,
isso não aconteceu, o universo peculiar de onde elas vinham, não existia ainda, e
mesmo quando elas alcançaram meios para viajar no tempo e chegaram em sua
época real, elas viram-se impedidas pelo paradoxo. Desorientadas... não tinha nada
que pudessem fazer.
Então pela segunda vez elas criaram um pacto, as quatro irmãs iriam esperar o
tempo que fosse necessário, juntariam e acumulariam suas forças, gastando o
mínimo possível de seu poder divino. Elas acreditam que em algum momento os
planos elementares tiveram uma conexão mais forte com o universo natal delas,
talvez o segredo não fosse forçar a passagem do espaço-tempo, ou tentar quebrar as
barreiras que englobam o universo, no lugar disso, seria necessário esperar um
momento propício, onde algum fenômeno facilitasse a passagem para aquele mundo.
Elas sabiam que provavelmente mesmo em condições facilitadas seria extremamente
difícil e desgastante atravessar o paradoxo, além é claro de que a própria existência
mágica dentro daquele mundo, causaria um gasto imensurável de poder, e por isso
elas guardam ao máximo suas forças.
Depois dessa parte, a história fica mais nebulosa, sabe-se que as irmãs se separaram,
não sei o que as outras fizeram, mas mamacocha, vagou pelos mundos, tentando
ensinar aos povos a valorizar a natureza e a água. E foi assim que ela chegou a woof-
lands, ela passou seus ensinamentos adiante, criando o antigo e extinto culto à
Mamacocha, com sacerdotes que buscavam a pureza das águas como elevação ao
divino.
Normalmente ela era encontrada nas nascentes, no meio do mar, ou nos
arquipélagos menos povoados, seus seguidores mais devotos organizavam
peregrinações com a esperança de encontrar a deusa e receber seus ensinamentos...
mas o tempo foi passando, as mudanças criaram um mundo mais povoado, o
progresso acabou cobrando seu preço, e a Mamacocha se tornou uma figura cada
vez mais distante, dizem que os últimos a verem-na, encontraram uma deusa triste,
com medo de que a água fosse corrompida como aconteceu tantas outras vezes em
seu mundo natal e em todos os outros mundos que ela visitou. Era um grande
sofrimento ver tudo isso acontecer, sem poder fazer nada. Sua presença minguava,
não por falta de poder, e sim pela retração voluntária que ela fazia, ela preferia a
ignorância, isso diminuía seu sofrimento, já que ela tinha que manter sua palavra e
as promessas que fez a suas irmãs. Era tentador demais, gastar o seu poder para
manter as águas sempre puras.
No fim, ela decidiu partir, ela foi para onde acreditava ser o último lugar onde as
águas seriam corrompidas, para o plano d’agua. Dizem que ela criou um paraíso em
algum lugar daquela vastidão, um lugar sagrado onde ela protegeu e salvou da
extinção os animais marinhos dos universos, minha tetravó dizia, que se um dia as
águas de woof-lands retornassem ao seu estado original de pureza, a mamacocha
voltaria, e traria seu paraíso consigo, e assim, woof-lands tornaria o paraíso d’água”
“bem... o paraíso da água... esse é o nome que os fiéis davam para a atual moradia da
deusa, mas se for para deduzir, eu diria que deve ser mais parecido com um reino
selvagem sub marítimo, cercado de vida marinha, deve existir animais inimagináveis
por lá, nas histórias, a água nesse local é extremamente pura, um santuário, dizem
que mesmo aqueles que precisam de ar para respirar, podem viver tranquilamente
por lá, suas feridas são curadas só de beber dessa água, além disso a água lá é a água
perfeita, não num sentido geral, mas sim no sentido específico, para cada espécie e
para cada indivíduo, é simplesmente a concretização da perfeição. É difícil de
explicar resumidamente, mas tudo nessa água é a perfeição que você espera que a
água seja, nem quente demais, nem fria demais, nem saturada de gosto, nem sem
gosto algum. Ela é a pura e simples água, mas a sua perfeição é tamanha que não
parece ser apenas água, dizem que quem prova dessas águas é infundido por um
êxtase, o êxtase de ter encontrado a perfeição que sua alma buscava, mas que nem
ela mesma sabia que buscava, a pessoa fica maravilhada, da mesma forma quando
esperamos algo com expectativa e a realidade mostra-se inimaginavelmente melhor.
Quem prova dessa água lembra-se dela pra sempre, e mesmo que não seja criterioso,
lá no fundo, nenhuma outra água parece mais ser tão boa, elas perdem parte do
sabor, quando comparada com as águas do reino de Mamacocha
As águas e criaturas desse paraíso, não podem ser invocados ou trazidas para outros
planos e realidades, a não ser que a própria deusa Mamacocha permita, e essas
permissões são algumas das suas dádivas. Mesmo que sua água e seus animais sejam
convocados pelos filhos de Mamacocha, eles não podem ser corrompidos ou
deturpados por ninguém, seus sagrados animais não sentem dor, e diante de
qualquer perigo mortal, eles são levados de volta para o reino e proteção da deusa.
A deusa observa todo o plano da água, atenta às manipulações pelos magos,
feiticeiros, bruxos e afins. Mas em seu reino sua vigia é muito maior, ela sente tudo
que está nas suas águas, fisicamente e espiritualmente, a água é o seu ouvido, e os
animais são seus olhos. Dizem que existem vários guardiões, animais de grande
poder, todos agraciados com o intelecto e sabedoria da deusa. Todos que adentram
em seu reino, sentem imediatamente a sua aura, uma energia pura e bondosa, vinda
de todas as direções, mesmo aqueles mais cegos às energias do espírito e do mundo,
conseguem notar a força divina que emana da deusa.”
“eu tenho algumas antigas ilustrações, a maioria são pertences da minha tetravó,
enquanto trocávamos essas cartas, acabei pedindo para um pintor local, fizesse
umas cópias. Nesse período de correspondência acabei por me lembrando de várias
histórias antigas, mas temo que minha fonte de memórias finalmente secou
hahahaha sinto não poder responder mais perguntas ou dar mais detalhes, mas me
aquece o coração que os jovens de hoje em dia, queiram saber sobre as histórias e
crenças da minha querida tetravó. Como último agrado, eu mandei junto à este
bilhete, as cópias feitas pelo pintor, elas ficaram bem similares às originais, mas temo
que os artistas de hoje em dia, gostem de algo mais colorido, e que o copiador
colocou um pouco de suas preferências nas cópias, mas pelo menos ele não
transformou as ilustrações em quebra-cabeças abstratos hahahahahaha.”
(verso da ilustraçã o: o reino da deusa Mamacocha)
(deusa Mamacocha)
(verso da ilustraçã o: As quatro irmã s)
(verso da ilustraçã o: perseguiçã o as santas)