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Módulo 02: Conceitos e efeitos

Conteúdo:

2.1. Definições e conceitos associados aos Explosivos...................................................... 04


2.1.1. Definições de Explosivo
2.1.2. Explosivos industriais

2.2. Tipos de Explosões. ......................................................................................................... 07


2.2.1. Explosões atômicas.
2.2.1.1. Bombas por fissão nuclear.
2.2.1.2. Bombas por fusão nuclear (bomba H).
2.2.1.3. Bomba suja
2.2.1.4. Bomba de nêutrons (neutrões)
2.2.2. Explosões mecânicas.
2.2.3. Explosões químicas.
2.2.3.1. Bomba termobárica.
2.2.3.2. Bomba MOAB.
2.2.3.3. Bomba FOAB.

2.2.4. Efeito cogumelo nas explosões.

2.3. Teoria da detonação.......................................................................................................... 31


2.3.1. Considerações gerais.
2.3.1.1. Combustão
2.3.1.2. Deflagração
2.3.1.3. Detonação
2.3.1.4. Energia de Ativação
2.3.1.5. Cadeia Explosiva
2.3.2. Fenômenos envolvidos na explosão
2.3.2.1. Necessidade de Excitação.
2.3.2.2. Grande pressão.
2.3.2.3. Grande volume de gases.
2.3.2.4. Curto espaço de tempo.
2.3.2.5. Calor desprendido.
2.3.2.6. Velocidade de transformação.
2.3.2.7. Tipos de transformação
2.3.2.8. Excitação

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2.3.2.9. Onda explosiva (Onda de choque)
2.3.3. O fenômeno da explosão e o plano CJ
2.3.4. A teoria de Chapman-Jouguet (CJ)
2.3.5. Processo de Detonação e o plano CJ
2.3.5.1. Detonação Ideal
2.3.5.2. Detonação não ideal
2.3.6. Equação de Chapman–Jouguet
2.3.7. Classificação quanto à velocidade de detonação (VOD).

2.4. Ondas de choque.............................................................................................................. 52


2.4.1. Formação da onda de choque
2.4.2. Fundamentos da onda de choque
2.4.2.1. Tempo de chegada (Ta):
2.4.2.2. Tempo de Duração positivo (Td+):
2.4.2.3. Tempo de duração negativo (Td-):
2.4.2.4. Pressão máxima (Pmáx):
2.4.2.5. Pressão ambiente (P0):
2.4.2.6. Pressão máxima da fase negativa (P-):
2.4.3. Parâmetros que influenciam nas ondas de choque
2.4.4. Danos oriundos da reflexão da onda de choque
2.4.5. Danos oriundos da pressão de arrasto
2.4.6. Danos em estruturas oriundos da sobrepressão
2.4.7. Danos em paredes de concreto oriundos da onda de choque
2.4.8. Efeitos de cargas dinâmicas em placas de concreto armado.
2.4.8.1. Efeito “Spalling”.
2.4.8.2. Rotura por flexão.
2.4.8.3. Rotura por corte.
2.4.9. Energia liberada pela onda de choque.
2.4.9.1. Lei de Hopkinson-Cranz.
2.4.9.2. Dimensionamento da explosão.

2.5. Efeito Munroe (efeito carga oca)...................................................................................... 80


2.5.1. Histórico
2.5.2. O pesquisador Charles Edward Munroe
2.5.2. Outros pesquisadores do efeito da Carga Oca
2.5.3. Fundamento do efeito Munroe
2.5.4. Aplicações do efeito Munroe
2.5.4.1. Aplicações militares do efeito Munroe
2.5.4.2. Aplicações não militar do efeito Munroe

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2.5.5. Dimensionamento da Carga Oca.

2.6. Efeito craterante das explosões...................................................................................... 97


2.6.1. Considerações.
2.6.2. Dimensionamento de crateras matematicamente.
2.6.3. Dimensionamento de crateras por gráficos.

2.7. Efeitos das explosões sobre o corpo humano............................................................... 102


2.7.1. Efeito da sobrepressão sob o corpo humano.
2.7.2. Danos cerebrais oriundos de ondas de choque.
2.7.3. Teorias sobre lesões cerebrais causadas pelas explosões.
2.7.4. Classificação de lesões por explosões.
2.7.4.1. Lesões primárias.
2.7.4.2. Lesões secundárias.
2.7.4.3. Lesões terciárias.
2.7.4.4. Lesões quaternárias.

2.8. Distância segura de explosões.......................................................................................104


2.8.1. Distância segura dos efeitos da sobrepressão.
2.8.2. Dimensionamento da distância segura da sobrepressão.
2.8.3. Dimensionamento da distância segura usando o fator ‘K’.
2.8.4. Dimensionamento da distância segura a partir da carga explosiva.

2.9. Balanço de Oxigênio...................................................................................................... 127


2.9.1. Reações de oxidação.
2.9.2. Efeitos Estequiométricos.
2.9.3. Produto de reação.
2.9.4. Balanço de oxigênio BO – Método I.
2.9.5. Balanço de oxigênio BO – Método II.
2.9.6. Balanço de oxigênio BO – Método III.

2.10. Bibliografia utilizada..................................................................................................... 158

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Módulo 02: Generalidades dos explosivos.

2.1. Definições e conceitos associados aos Explosivos.

2.1.1. Definições de Explosivo.


Os explosivos possuem várias definições, das quais podemos citar:

‘Explosivos’ são substâncias químicas ou misturas de substâncias


químicas que, ao serem convenientemente iniciadas, sob a ação de um agente
excitante, sofrem uma decomposição muito rápida, produzindo grande
quantidade de calor, gases e criando, no local, uma zona de alta pressão, que
atua em todas as direções (polidirecional), com liberação de energia.

A figura 2.1, abaixo mostra um exemplo de explosivo industrializado.

Figura 2.1: Explosivo de uso industrial.

‘Explosivos’ são substâncias químicas ou misturas que sofrem uma


decomposição muito violenta, produzindo grande quantidade de calor e gases,
podendo o volume gasoso chegar até 19.000 vezes o volume original e a
velocidade de até 8.000 metros por segundo.

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De forma resumida o explosivo poderá ser definido como: “Produto que,
por meio de uma excitação adequada, se transforma rápida e violentamente de
estado, gerando gases, altas pressões e elevadas temperaturas”.

2.1.2. Explosivos industriais.


A figura 2.1 mostra um exemplo de explosivo industrial que são
substâncias e/ou misturas de substâncias que, quando excitadas por algum
agente externo, são capazes de decompor-se quimicamente gerando
considerável volume de gases a altas temperaturas.
A figura 2.2 mostra outro exemplo de explosivo industrial indicado para
uso em minas, tanto na exploração a Céu aberto como em explorações
subterrâneas, o que não impede outros usos deste tipo de explosivo.

Figura 2.2: Emulsão explosiva fabricada pela ELEGEL.

As reações de decomposições dos explosivos podem ser iniciadas por


agentes mecânicos (pressão, atrito, impacto, vibração, etc.) pela ação do calor
(aquecimento, faísca, chama, etc.) ou ainda pela ação de outro explosivo
(espoletas, boosters, ou outros iniciadores).
A tendência atual sugere que na sua fabricação sejam utilizados
componentes que isoladamente não sejam substâncias explosivas, de forma a
garantir completa segurança dentro das fabricas. É o caso da moderna lama

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explosiva (Slurry) que é misturada no próprio local de consumo e bombeada para
dentro dos furos na rocha. Somente alguns segundos após o lançamento da
mistura dentro dos furos, tempo necessário para a complementação da reação
química, o produto torna-se uma substância explosiva pronta para uso.

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2.2. Tipos de Explosões.
Quando ocorre uma explosão há uma expansão violenta provocada seja
pela decomposição de matéria explosiva, seja por alívio descontrolado de
pressão, como na explosão de uma garrafa de gás. A figura 2.3 mostra uma
detonação que é o tipo de explosão de interesse industriais.

Figura 2.3: Exemplos de explosões.

Há três tipos de explosões:


2.2.1. Explosões atômicas;
2.2.2. Explosões mecânicas;
2.2.3. Explosões químicas.

2.2.1. Explosões atômicas.


São explosões realizadas através de dispositivo explosivo cuja força
destrutiva consiste em reações nucleares, tais como fissões nucleares e/ou com
uma combinação entre fissão e fusão nuclear. Nas explosões nucleares os
principais dispositivos explosivos podem ser: Bombas por fissão nuclear;
Bombas por fusão nuclear; bombas sujas e bombas de nêutrons.

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2.2.1.1. Bombas por fissão nuclear.
Neste dispositivo explosivo ocorre à fissão nuclear onde o núcleo pesado
dos átomos de urânio ou plutônio se desintegra em elementos de núcleo mais
leves, quando bombardeados por nêutrons. E o núcleo do Urânio e do Plutônio
quando bombardeados, produzem-se mais nêutrons, que outros núcleos,
gerando uma reação em cadeia. Estas bombas são historicamente chamadas
"Bombas A" cujo poder destrutivo reside na chamada fusão nuclear e é tão
atômica quanto à fissão. O isótopo mais utilizado para sofrer fissão nuclear é o
urânio-235, o qual ao capturar um nêutron transforma-se em U-236, sofrendo a
fissão mostrada na reação descrita na equação a seguir.
95
235
U  n  Sr 139 Xe  2n  198MeV

A figura 2.4 mostra o funcionamento de uma ogiva de fissão nuclear.

Figura 2.4: Funcionamento de uma ogiva de fissão nuclear.

A figura 2.4 mostra (A) a ogiva antes do disparo, com o primário em cima,
secundário em baixo, ambos componentes são bombas de fissão intensificadas
por fusão. (B) Alto-explosivo dispara no primário, comprimindo o núcleo de
plutônio e levando-o a super criticidade e ao início da reação de fissão. (C) A
fissão no primário emite raios X que são canalizados ao longo do interior do
invólucro, irradiando a espuma de poliestireno que enche o canal. (D) A espuma
de poliestireno torna-se um plasma, comprimindo o secundário, e uma vela de
ignição de plutônio dentro do secundário inicia a fissão, fornecendo calor.

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(E) Comprimido e aquecido, o combustível de hidreto de lítio inicia a reação de
fusão e o fluxo de nêutrons começa a fissionar o material da calçadeira,
formando uma bola de fogo.

2.2.1.2. Bombas por fusão nuclear (bomba H).


Neste dispositivo explosivo ocorrem à fusão nuclear onde núcleos leves,
de hidrogênio e hélio, combinam-se num processo, que forma elementos mais
pesados e libera uma elevada quantidade de energia. As bombas que utilizam a
fusão são também chamadas ‘bombas H’ (bombas de hidrogênio ou bombas
termonucleares), pois a fusão requer uma altíssima temperatura para que a sua
reação em cadeia ocorra numa das bombas de maior força destrutiva já criada
pelo homem, embora nunca tenha sido usada numa guerra.
A figura 2.5 mostra a detonação da mais poderosa Bomba de fusão
nuclear, Bomba TZAR, com poder destrutivo de 57 Megatons, que foi detonada
num teste pela URSS em 30 de outubro de 1961 numa ilha do círculo polar ártico,
cujo elevado poder explosivo superou em mais de 5 mil vezes a bomba de
Hiroshima, a maior das bombas usadas na II Guerra Mundial somadas e
multiplicado 10.

Figura 2.5: Explosão da bomba de fusão atômica conhecida como TZAR.

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Para podermos compreender melhor, 1 libra (453,59237 gramas) do
urânio 235 são iguais, sob o ponto de vista calorífico, a 1.370 toneladas de
carvão, ou seja, podem gerar cerca de 9 bilhões e 324 milhões de calorias.
Transformando-se todo esse calor em energia elétrica e se o rendimento for de
apenas 25%, serão produzidos 2.700.000 quilowatts-hora, que é energia
suficiente para alimentar, ininterruptamente e durante 3 longos anos um motor
de 100 HP funcionado a plena carga.

2.2.1.3. Bomba suja.


O termo ‘Bomba Suja’ é empregado para designar uma arma radioativa
e/ou bomba não nuclear que ao explodir dispersa o material radioativo contido
em seu interior, causando uma contaminação nuclear que por sua vez
desencadeia doenças semelhantes às causadas pela contaminação pela
radiação de uma bomba atômica, deixando o local inabitável por décadas.
Um exemplo prático do que pode acontecer no caso de um lançamento
de uma bomba suja foi o bombardeamento da Usina Nuclear iraquiana (Israel
bombardeou o reator nuclear iraquiano de Osirak em 1981, o que causou a morte
de milhares de iraquianos). Após o bombardeio por Israel, pessoas
apresentaram problemas respiratórios irreversíveis e contaminação corporal
intensa vindo a falecer ou desenvolver sintomas cancerígenos irreversíveis.
A bomba suja, mesmo com poucos quilos de lixo atômico, quando
dispersados na atmosfera, pode ocasionar uma nuvem de material radioativo e
envolver uma cidade inteira provocando a morte de milhares de pessoas.

2.2.1.4. Bomba de nêutrons (neutrões).


A bomba de nêutron foi inventada pelo cientista Samuel T. Cohen, figura
2.6, no período da ‘Guerra Fria’ como uma última variante da bomba atômica,
geralmente é um dispositivo termonuclear pequeno, com corpo de níquel ou
cromo, onde os nêutrons gerados na reação de fusão intencional e não são
absorvidos pelo interior da bomba, permitindo que escapem. A figura 2.7 ilustra
uma detonação de uma bomba de nêutron desenvolvida por Samuel Cohen.

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Figura 2.6: Samuel Theodore Cohen (Janeiro 25, 1921 – Novembro 28, 2010).

Os pais de Cohen eram judeus austríacos que


emigraram para Londres, Inglaterra. Ele nasceu no Brooklyn e
foi criado em New York, estudou matemática e física na
Universidade da Califórnia, Los Angeles antes de ingressar no
Exército Americano após o ataque japonês a Pearl Harbor. Em
1944, ele trabalhou no Projeto Manhattan no grupo eficiência em
Los Alamos onde calculou comportamento dos nêutrons na
bomba atômica que mais tarde foi detonada sobre Nagasaki,
Japão. Depois da guerra ele fez seu Ph.D. em Berkeley antes de
juntar à Rand Corporation, em 1950, seu trabalho sobre a
intensidade da radiação se tornou público quando seus cálculos
foram incluídos num apêndice especial do livro de Samuel
Glasstone sobre os efeitos das armas atômicas. Ele foi
pessoalmente responsável pelo recrutamento do famoso
estrategista Herman Kahn para a Rand Corporation.
Durante a Guerra do Vietnã, Cohen argumentou que o
uso de pequenas bombas de nêutrons iria acabar com a guerra
de forma rápida e salvar muitas vidas americanas, mas os
políticos não aceitaram suas ideias. Ele foi membro do Painel
Tático de Armas Nucleares Los Alamos, no início dos anos 1970.
O presidente Carter atrasou o desenvolvimento da bomba de
nêutrons em 1978, mas durante o governo de Ronald Reagan,
Cohen o convenceu a fazer 700 bombas de nêutrons e ogivas
para mísseis.

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Figura 2.7: Detonação de bomba de nêutron.

Os mecanismos destrutivos da bomba de nêutrons são suas emanações


de raios X e de nêutrons de alta energia que são mais penetrantes que outros
tipos de radiação. Como os materiais que bloqueiam raios gama são pouco
eficientes contra os nêutrons, a ação destrutiva das bombas de nêutrons atua
apenas sobre organismos vivos, mantendo a estrutura física intacta, cuja
vantagem reside na eliminação apenas os inimigos e deixa os recursos.

2.2.2. Explosões mecânicas.


Ocorre quando há um alivio descontrolado de pressão em reservatórios
de média e alta pressão e/ou quando dispositivos destinados a produção de
vapor operando em altas pressões o líquido de trabalho se aquece
demasiadamente acima da pressão de trabalho, podendo ocasionar explosões.
Este tipo de explosão ocorre em caldeira, gerador de calor, dentre outros.

2.2.3. Explosões químicas.


A figura 2.8 ilustra uma explosão química que é uma transformação
extremamente rápida de um composto explosivo estável, acompanhado da
formação de um grande volume de gás e liberação de calor.

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Figura 2.8: Explosão química.

Nas explosões químicas também devemos de incluir as explosões


termobáricas que envolvem as bombas termobáricas MOAB e FOAB.

2.2.3.1. Bomba termobárica.


As primeiras tentativas de desenvolvimento destas bombas ocorreram
durante a Segunda Guerra Mundial pela Luftwaffe Alemã, cujo pesquisador
responsável foi Mario Zippermayr, ele partiu do efeito destrutivo causado por
gases em minas de carvão nos anos 1920. A bomba desenvolvida era chamada
Taifun (Typhoon) e consistia em pó de carvão e oxigênio concentrado no artefato
que era detonado. Em seguida os alemães desenvolveram o ‘Taifun B’ que
empregava um aerossol de querosene, pó de carvão e pó de alumínio que era
lançado por canhões sobre um alvo (tanques e/ou tropas). Em 1944 esta arma
foi usada com sucesso pelos alemães num contra-ataque contra os aliados
durante a Segunda Guerra Mundial que tinham desembarcado na Normandia
para conter a fuga dos americanos. Nesta época apresentou dificuldades para
continuar sendo empregada em bombardeio de rotina devido à escassez de
materiais, principalmente do alumínio em pó puro.
Após a Segunda Guerra Mundial, na década de 60, essas armas foram
desenvolvidas pela União Soviética e pelo EUA. As Forças Armadas Soviéticas
desenvolveram extensivamente armas FAE e RPO-A que posteriormente foram
utilizadas pela Rússia durante a guerra na Chechênia.

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As bombas termobáricas quando são detonadas consomem o oxigênio
atmosférico, invés dos elementos oxidantes como nas bombas convencionais,
gerando desta forma um forte vácuo que lhes rendem o nome de ‘bombas de
vácuo’ e/ou ‘bomba de ar e combustível’.
Nos explosivos convencionais existem uma pré-mistura de combustível e
oxidante, como por exemplo, a pólvora contém combustível de 25% e 75%
oxidante já a bomba termobárica é quase 100% combustível por causa do
consumo do oxigênio atmosférico ao redor do epicentro da explosão, permitindo
que haja uma maior e mais significativa quantidade de energia, em relação aos
explosivos condensados, por isso, há um impulso maior, mais calor e mais
pressão. Portanto, as bombas termobáricas são significativamente mais
energéticas, em relação aos explosivos convencionais por que liberam muito
mais energia que as bombas convencionais não nucleares de igual peso.
As duas principais características das bombas termobáricas são: a
formação de um forte vácuo devido ao consumo do oxigênio atmosférico e a
duração de sua onda de choque que é muito mais significativa e amplia a
destruição causada pela mesma, deixando um número maior de vítimas e danos
as estruturas no raio de ação da mesma.
Na frente de detonação destas bombas é emanada uma única fonte que
cria em seu epicentro uma grande explosão que acelera um grande volume de
ar produzindo várias frentes de pressão tanto dentro da mistura de combustível
e oxidante e, em seguida, no ar circundante devido a dependência de oxigênio.
A dependência de oxigênio atmosférico que os explosivos termobáricas
possuem os tornam consideravelmente mais destrutivos em ambientes abertos,
devido em parte à onda sustentada de explosão consumir parte do oxigênio
disponível possibilita sua aplicação com bom efeito destrutivo em tanto em
alguns ambientes de campo aberto (como por exemplo, contra fortificações de
campo como trincheiras, túneis, bunkers, cavernas, dentre outros) como em
ambientes confinados com presença de oxigênio (como por exemplo, túneis,
cavernas e bunkers, por que a formação do vácuo com a explosão produz um
efeito destrutivo bem significativo).
Por outro lado, esta característica tornam as bombas termobáricas
impróprias para serem utilizadas em ambientes com baixa oxigenação como por

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exemplo, ambientes subaquático, em altitudes elevadas e/ou em condições
atmosféricas adversas. Neste contexto as condições climáticas têm forte
influência sobre o seu emprego.
O sistema da arma termobárica consiste de um recipiente cheio de uma
substância combustível, no centro da qual existe um pequeno explosivo
convencional chamado de ‘carga de dispersão’. Os combustíveis são escolhidos
com base em sua oxidação, que variam de metais em pó, tais como alumínio ou
magnésio, ou materiais orgânicos, possivelmente com um oxidante autocontido
parcial. O desenvolvimento mais recente envolve o uso de nano combustíveis.
O rendimento efetivo de uma bomba termobárica requer a combinação
mais apropriada de uma série de fatores, entre eles o quão bem o combustível
é disperso, a rapidez com que se mistura com a atmosfera envolvente do início
da ignição e sua posição em relação ao recipiente de combustível. Em alguns
casos, o combustível e o ignitor são separados para dispersar e inflamar o
combustível. Em outros projetos existem casos que permitem que o combustível
seja contido por tempo suficiente para que o combustível aqueça bem acima de
sua temperatura de autoignição, de modo que, mesmo a sua refrigeração
durante a expansão do recipiente, resulta em ignição rápida uma vez que a
mistura está dentro dos limites de inflamabilidade convencionais.
Em confinamento, uma série de ondas de choque reflexivas são geradas
e viajam numa velocidade superior a 3,2 km/s mantendo a bola de fogo que
pode estender a sua duração entre 10 e 50 milissegundos. O resfriamento dos
gases faz a pressão cair drasticamente, levando a formação de um vácuo parcial,
poderoso o suficiente para causar danos físicos a pessoas e estruturas com uma
sobrepressão que pode chegar a 430 psi. Sua temperatura pode atingir de 2.500
a 3.000 graus centigrados numa nuvem de fogo.
Em um estudo feito em 01 de fevereiro de 2000 pela Agência de
Inteligência de Defesa dos EUA diz que: A explosão contra alvos vivos é único e
desagradável.... O que mata é a onda de pressão, e mais importante, a rarefação
subsequente "vácuo", que rompe os pulmões .... Se o combustível deflagrar, mas
não detonar, as vítimas serão severamente queimadas e provavelmente também
inalem o combustível em chamas. Uma vez que os combustíveis mais comuns
utilizados, são o óxido de etileno e óxido de propileno, que são altamente tóxicos,

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uma vez detonados deve ser tão letal para o as pessoas dentro da nuvem como
a maioria dos agentes químicos.
“O efeito de uma explosão dentro de espaços confinados da arma
termobárica é imensa, chega a desaparecer o objeto que estiver perto do ponto
de ignição. As pessoas na orla são propensas a sofrer muitos ferimentos
internos, e, portanto, invisível, incluindo o estouro do tímpano, concussões
graves, pulmões e órgãos internos, e, possivelmente, a cegueira”. De acordo
ainda com o documento especula-se que “as ondas de choque causem danos
ao tecido cerebral ... é possível muitas das vítimas de tal arma ainda que
inconscientes pela explosão, sufoquem por alguns segundos ou minutos”.
Devido a sua capacidade destrutiva a bomba termobárica passou a ser
empregada em plataformas portáteis de lançamento que os russos
desenvolveram e posteriormente também criaram munições termobáricas para
várias de suas armas cujos poderes destrutivos são bem variados. Como por
exemplo, GM-94, com peso de 250g sendo 160g de material explosivo com raio
de letalidade de 3 metros; A KAB-1500S GLONASS guiada por GPS cuja ogiva
de 1.500 kg ao detonar forma uma bola de fogo num raio de 150 metros e com
zona de letalidade no raio de 500 metros.

2.2.3.2.Bomba MOAB.
Inicialmente a referida bomba era conhecida como “bomba de
fragmentação” e já havia sido testada com sucesso contra edificações. Devido a
sua eficiência os americanos a batizaram com o a sigla inglesa de MOAB que
significa Massive Ordnance Air Blast, ficando popularmente conhecida como
“Mother Of All Bombs” (MOAB, em português: “Mãe de Todas as Bombas”) que
na época era a arma de destruição em massa não-nuclear mais potente que
existia e sem poder de penetração. Esta bomba era destinada a alvos de
superfície macia a média abrangendo áreas e alvos estendidos em um ambiente
contido, como por exemplo, um cânion profundo e/ou um sistema de cavernas.
Os americanos desenvolveram a bomba termobárica designada BLU-82
(Bomb Live Unit) que foi utilizada em combates durante a Segunda Guerra
Mundial, Guerra do Vietnã, Guerra do Golfo e Guerra do Afeganistão. No

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decorrer dos anos houveram vários testes que possibilitaram aperfeiçoamentos.
Esta bomba foi empregada na guerra do Vietnã com o objetivo de detonar as
minas presentes nos campos minados e como propaganda psicológica. Ela
continha 6.500 kg de explosivo, era lançada de uma aeronave, portanto, suas
precisões sob os alvos dependiam da perícia dos pilotos.
Na dinâmica de um teste realizado com a bomba termobárica BLU-82,
após o seu lançamento por uma aeronave próximo do alvo (figura 2.9) ela se
aproxima da edificação que possui um bunker. Quando a bomba está bem
próxima do alvo (figura 2.10) libera e dispersa o material combustível que se
espalha formando uma nuvem bem fina de material volátil e explosivo que vai
circundando a edificação conforme os ventos.

Figura 2.9: Míssil se aproximando da edificação.

Figura 2.10: Material combustível sendo disperso e circundando a edificação.

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A figura 2.11 mostra o material combustível que circunda a edificação e
vai reagir com o oxigênio atmosférico (O2) e em seguida entrar em combustão
formando uma grande bola de fogo que destrói e edificação. O raio de ação desta
bomba é de 300 a 600 metros, dependendo da direção, velocidade e intensidade
dos ventos. A figura 2.12 mostra a detonação da última das 225 unidades
produzidas da BLU-82/B no Campo de Testes e Treinamento de Utah nos EUA.

Figura 2.11: Destruição da edificação pela bomba BLU-82.

Figura 2.12: Detonação da última BLU-82/B (15/07/2008).

Em 2001 o engenheiro pesquisador Albert L. Weimorts Jr (figura 2.13) da


Força Aérea Americana começou a desenvolver no Laboratório de pesquisas da
Força Aérea uma bomba MOAB mais moderna que ficou pronta em 2002 e foi
denominada de bomba GBU-43/B (figura 2.14) cujo projeto previa que ela fosse
levada por um avião cargueiro até o local onde seria detonada.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Figura 2.13: Albert L. Weimorts Jr, projetista da Bomba MOAB GBU-43/B.

Figura 2.14: Detalhes da bomba MOAB desenvolvida pela Força Aérea.

A figura 2.15 mostra a GBU-43/B no museu de Armamento da Força


Aérea Americana em Eglin Air na Flórida. Esta bomba continha um explosivo
tritional (80% de TNT + 20% de alumínio em pó para potencializar).

Figura 2.15: Bomba MOAB GBU-43/B em exibição no museu da Força Aérea na Flórida.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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A figura 2.16 mostra o teste do primeiro protótipo da bomba MOAB GBU-
43/B, instantes antes do impacto no solo, em 11 de março de 2003, no Range
70 da Base Aérea em Englin no Estado da Florida nos EUA.
Na figura 2.17 vemos a explosão do referido protótipo que foi equivalente
a 11 toneladas de TNT, ela foi carregada com um explosivo chamado H6, que
consiste em uma mistura de RDX (ciclotrimetileno-trinitramina), TNT e alumínio
que tinha a ação potencializadora do explosivo. A bomba foi guiada por meio de
sistemas de GPS para minimizar o risco de erros relacionados ao local de
detonação e o seu raio de impacto era maior do que 1,5 km. Naquela época a
GBU-43/B era a bomba não nuclear mais potente conhecida.

Figura 2.16: Teste do protótipo da bomba MOAB GBU-43/B (2003).

Figura 2.17: Explosão do protótipo da bomba MOAB GBU-43/B (2003).

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 20 -
Em 21 de novembro de 2003, oito meses após o primeiro teste, foi feito
realizado um segundo teste com a bomba termobárica BGU-43/B (figura 2.18)
que foi projetada para ser transportada por aeronave cargueira, como por
exemplo, o C-130 Hercules ou similares que são bombardeios que alcançam
grandes altitudes sendo altamente eficaz para cobrir grandes áreas.

Figura 2.18: Esquema básico da bomba MOAB que foi utilizada no Afeganistão.

A bomba GBU-43/B (figura 2.18) continha 8.165 quilos de tritonal (mistura


com 80% de TNT e 20% de pó de alumínio) cujo pó de alumínio tem ação
potencializadora do poder detonante do TNT em cerca de 18%. Esta bomba
pesava 9,5 toneladas, das quais 8,4 toneladas era explosivo cuja raio da
explosão teve um diâmetro de 1,4 quilômetros e a destruição na zona de impacto
alcançou a distância de 1,5 km do epicentro.
Segundo, Marc Garlasco, ex-oficial militar americano, que serviu durante
o período do governo de George W. Bush, relatou que a bomba MOAB nunca foi
lançada no Iraque por que tinham preocupações com possíveis danos colaterais.
Mas, em 13 de abril de 2017, os EUA lançaram em solo afegão a bomba
termobárica GBU-43B contra os terroristas do Daesh (organização terrorista
proibida na Rússia) na província de Nangarhar, próxima da fronteira com o
Paquistão. A figura 2.19 mostra a dinâmica do emprego bélico da GBU-43/B que
foi transportada por uma aeronave MC-130H.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Figura 2.19: Detalhes da detonação da bomba MOAB GBU-43/B (Fonte: JANES).

Na figura 2.19, (1) o pallet é lançado do compartimento de cargas do avião


MC-130H, o paraquedas abre e puxa o pallet; (2) o pallet e a bomba se separam,
os estabilizadores direcionam a bomba e o GPS entra em ação; (3) ocorre o
impacto com uma detonação primária que espalha uma nuvem com poeira
vaporizada por uma grande área; (4) ocorre a explosão termobárica o material
presente na nuvem se incendeia criando uma bola de fogo com 1km de diâmetro;
(5) surge uma onda de choque devido à explosão cuja sobrepressão atinge 73
kg/cm2, que é um valor próximo ao produzido por uma arma nuclear tática e (6)
a queima do oxigênio atmosférico no local que circunda a bola de fogo gera um
vácuo parcial que suga o ar no solo levantando bastante fumaça surgindo o
chamado ‘efeito cogumelo’.

As figuras, 2.20 mostra a detonação da bomba MOAB GBU-43/B ocorrida


na província de Nangarhar, no leste do Afeganistão. Segundo o Pentágono, este
foi o primeiro uso desta bomba numa ação de combate real cujos alvos foram os
túneis utilizados por militantes do grupo terrorista autoproclamado ‘Estado
Islâmico’ (em inglês ‘ISIS’ ou em português ‘EI’). Autoridades militares afirmaram
que tudo ocorreu como planejado, aproximadamente 90 terroristas do EI
morreram e os alvos foram destruídos neste ataque.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Figura 2.20: Detonação da bomba MOAB GBU-43/B no Afeganistão (13/04/2017).

Esta bomba foi aperfeiçoada para ser empregada em áreas edificadas,


permanecendo com a mesma dinâmica (figura 2.21) ao ser lançada por uma
aeronave se aproxima do alvo com auxílio de seus estabilizadores e de sistemas
de navegação, com um novo sistema que libera uma nuvem de material volátil e
explosivo que se circunda o alvo, entra em ignição explodindo criando uma bola
de fogo, consome o oxigênio na área da explosão, cria um vácuo parcial e uma
forte sobrepressão que destrói as coisas num raio de aproximadamente 1.500
metros. A eficiência desta bomba vai depender das condições climáticas.

Figura 2.21: Resumo da dinâmica da detonação da bomba MOAB em área edificada.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 23 -
2.2.3.3. Bomba FOAB.
Em setembro de 2007 os russos detonaram a maior bomba termobárica
que já se tinham fabricado, designada por eles como Bomba Termobárica de
Aviação de Poder Aumentado (AVBPM, na sigla russa).
O anuncio do desenvolvimento desta bomba foi proferido por um site de
notícias russo de forma irônica como “Crianças, conheçam o papai” por isso esta
bomba ficou conhecida como FOAB (Father of All Bombs) como uma resposta a
bomba MOAB desenvolvida anteriormente pelos americanos que detinha o título
da arma não nuclear mais poderosa da história.
A figura 2.22 apresenta um esquema básico desta bomba russa que
continha uma carga explosiva de aproximadamente 7 toneladas de combustível
líquido, como óxido de etileno pressurizado, misturado com nanopartículas
energéticas ao redor de um alto explosivo que ao ser detonado criou uma
explosão equivalente a 44 a 49 toneladas de TNT.

Figura 2.22: Esquema básico da bomba FOAB.

A figura 2.23 mostra o primeiro teste da bomba FOAB ocorrido em solo


russo cujo acionamento gerou uma nuvem explosiva que pegou fogo e se
alastrou por todos os lados, destruindo tudo, com a vantagem de não ser
radioativa. O efeito destrutivo do vácuo atinge até 90 metros. Já em 300 metros,
ocorre a destruição quase completa de estruturas não fortificadas, como casas.
E em 2,3 km do epicentro pode derrubar uma pessoa. Segundo os russos, a

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 24 -
bomba FOAB tem potência de cerca de quatro vezes maior que a bomba MOAB.
E o artefato é menor devido o emprego de nanotecnologia.

Figura 2.23: Primeiro teste da bomba termobárica FOAB em solo russo (2007).

As figuras, 2.24 e 2.25, mostram as detonações de bombas termobáricas


FOAB de fabricação russa, detonadas na Criméia com a intenção de exibição do
poderio bélico. Nestas explosões pode-se observar as ondas de choque bem
mais intensas, duradouras e nítidas, em relação as explosões convencionais.

Figura 2.24: Detonação da bomba FOAB (2016).

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Figura 2.25: Detalhes da detonação da bomba FOAB (2016).

Nestas detonações foram gerados um vácuo capaz de sugar o ar dos


pulmões de uma pessoa e cujo calor e as ondas supersônicas puderam destruir
tudo em um raio de 300 metros. Estas características possibilita o emprego em
áreas abertas e fechadas, e podendo atingir cavernas e bunkers, matando quem
está dentro com a onda de pressão. Diferentemente das bombas nucleares, as
termobáricas não usam elementos radioativos (como o urânio e o plutônio) e,
portanto, não fazem vítimas por contaminação, deixando o ambiente atingido
com aspecto lunar, com o solo pontilhado de crateras.
A dinâmica destas detonações, o lançamento foi feito por uma aeronave
que sobrevoou o alvo a cerca de 600 metros de altura e lançou as bombas de
paraquedas, algumas bombas podem ser teleguiadas por sistemas de
navegação como o GPS. Na demonstração da FOAB os russos usaram um avião
Tupolev TU-160 que é o maior avião de combate do mundo, que atinge até 2.220
km/h de velocidade, mas poderia ter sido outro avião.
Ao sobrevoar cerca de 10 metros de altura do alvo, uma parte do líquido
foi liberada e ao entrar em contato com o ar, ocorreu uma pequena detonação
que libera material combustível, formando uma nuvem de spray de 30 metros de
diâmetro e 2,5 de altura, com poder explosivo concentrado. Nas detonações das
figuras, 2.24 e 2.25, acredita-se que foram usados 30 quilos de óxido de etileno,
líquido incolor, tóxico e altamente inflamável.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Logo depois ocorre a segunda explosão cujo detonador é acionado
automaticamente e reage com a nuvem de spray. Esta explosão gera um calor
de até 3.000ºC, a bomba gera ondas supersônicas num raio de 300 metros. A
destruição da FOAB equivale a 44 toneladas de TNT e só perde para a bomba
atômica cujo poder chega a aprox. 20 mil toneladas de TNT.
A explosão da mistura é tão potente que consome todos os reagentes,
gerando um forte vácuo devido à ausência de partículas provocando uma nova
onda de choque com uma baixa pressão do local detonado e a pressão normal
do ambiente, cujo efeito é similar ao sopro no sentido inverso, até a pressão se
equilibrar. Quando comparada com uma bomba nuclear, a FOAB é equivalente
a apenas 0,3% do poder da bomba atômica usada contra Hiroshima.
A tabela 2.1 mostra uma comparação entre as bombas termobáricas,
MOAB e FOAB.

Tabela 2.1: Comparação entre as bombas MOAB e FOAB.


Parâmetro MOAB FOAB
Massa 8,2 toneladas 7,1 toneladas
Equivalência em TNT 11 toneladas 44 toneladas
Raio da explosão 150 metros 300 metros
Guia INS/ GPS GLONASS*
(*) GLONASS é um sistema de navegação via satélite russo.

Nos projetos de munições termobáricas a pressão de explosão pode ser


contida tempo suficiente para que o combustível seja aquecido bem acima de
sua temperatura de autoignição, de modo que ao explodir o recipiente, o
combustível superaquecido se acende automaticamente à medida que ele
avança em contato com oxigênio atmosférico. Os limites superior e inferior
convencionais de inflamabilidade aplicam-se a essas armas. Lacrada, explosão
da carga de dispersão, compressão e aquecimento da atmosfera circundante,
terá alguma influência sobre o limite inferior. O limite superior influencia
fortemente a ignição de nevoeiros acima de piscinas de óleo. Esta fraqueza pode
ser eliminada por desenhos onde o combustível é pré-aquecido bem acima da

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 27 -
sua temperatura de ignição, de modo que o seu arrefecimento durante a sua
dispersão resulte num atraso de ignição mínimo na mistura. A combustão
contínua da camada externa de moléculas de combustível à medida que entram
em contato com o ar, gerando calor adicional que mantém a temperatura do
interior da bola de fogo, sustentando a detonação.
No confinamento, uma série de ondas de choque reflexivas são geradas,
mantendo a bola de fogo, podendo prolongar sua duração entre 10 e 50 ms uma
vez que ocorrem reações de recombinação exotérmica. Com o esfriamento dos
gases a pressão poderá cair drasticamente, criando um vácuo parcial, efeito de
rarefação, dando origem à chamada “bomba de vácuo”. Acredita-se também que
a pós-combustão do tipo pistão ocorre em tais estruturas, à medida que as
frentes de chamas se aceleram através dela.

2.2.4. Efeito cogumelo.


Nas explosões atômicas os resíduos das explosões sobem com muito
mais força, em relações as explosões convencionais, devido ao calor liberado
pela explosão que por sua vez produz uma bolha de gás muito quente, que
aquece violentamente o ar em sua volta que devido ao calor se torna muito mais
leve que o ar atmosférico, formando uma espécie de jato de matéria que sobe
numa velocidade de centenas de quilômetros por hora, levando toneladas de ar
e de poeira inclusive os resíduos do material radioativo da bomba.
A figura 2.26 mostra que após a explosão a liberação de energia aquece
o ar que lança um jato de ar quente e matéria para cima, arrastando o ar frio
junto, formando a haste do ‘cogumelo’ com sua força, mas, em poucos segundos
o ar quente esfria e perde energia deixando o material vaporizado um pouco
mais pesado para continuar subindo freneticamente, que acaba por se
espalhando para os lados, em movimento toróidal, formando um toróide que
mistura a poeira com gotículas de água suspensas na atmosfera, criando uma
nuvem gigantesca, com formato de cabeça do cogumelo, por isso, este
fenômeno é denominado de “efeito cogumelo”.
A figura 2.27 uma correlação entre a altura que o cogumelo atinge e a
força da explosão (em quilotons e/ou megatons).

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Figura 2.26: Detalhes do efeito ‘cogumelo’.

Figura 2.27: Correlação entre a altura do ‘cogumelo’ e a potência das bombas.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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“As bombas da Segunda Guerra Mundial criaram cogumelos com cerca
de 8 quilômetros de altura”, segundo o físico Philip Morrison, do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.
As figuras, 2.28 e 2.29, mostram explosões que produziram o ‘efeito
cogumelo’, que não é exclusivo das explosões atômicas, podendo ocorrer em
algumas explosões químicas, erupções vulcânicas, dentre outras desde que
estas explosões liberem quantidade significativa de energia. Na figura 2.29 a
nuvem ascendente do Vulcão Redoubt devida à erupção.

Figura 2.28: Efeito cogumelo oriundo de explosão atômica.

Figura 2.29: Efeito cogumelo oriundo de erupção do Vulcão Redoubt (21/04/1990).

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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2.3. Teoria da detonação.

2.3.1. Considerações gerais.


Para podermos compreender a teoria da detonação faz-se necessário o
conhecimento de algumas definições e parâmetros básicos. São eles:

2.3.1.1. Combustão.
A combustão explosiva é uma reação química de oxidação muito rápida
que se propaga pela condutividade térmica, liberando energia sob a forma de
calor. Nesta reação formam-se gases que se expandem com o calor, produzindo
uma forte pressão. A combustão explosiva é aproveitada em vários inventos
como: motores de combustão interna (automóveis e aeronaves), explosivos
(para abertura de minas; construção de túneis; demolições de estruturas; dentre
outras aplicações).
No fenômeno da combustão o parâmetro de velocidade de queima do
explosivo dada em “centímetros/segundo” cuja camada superficial se volatiza e
se inflama ao atingir o ponto de fulgor. Com a necessidade de um oxidante
(oxigênio do ar ambiente ou insuflado) para continuar a reação de combustão.
Os principais parâmetros para avaliar a intensidade da combustão são:
a) Limites de inflamabilidade;
b) Ponto de fulgor;
c) Temperaturas de autoignição;
d) Velocidades de queima;
e) Taxas de aumento de pressão em vaso fechado.

2.3.1.2. Deflagração.
É uma reação de decomposição química, acelerada e exotérmica, com
aumento local de temperatura e pressão. A velocidade da deflagração varia de
400 a 1.000 m/s, como exemplo mais típico é a queima da pólvora. E se dá por
uma condução térmica, num fenômeno superficial onde cada partícula que se

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 31 -
queima, transmitindo calor à partícula adjacente, que se inflama ao atingir a
temperatura de explosão. A deflagração ocorre em propelentes por que estes
possuem, intrinsecamente, os elementos combustíveis e comburentes para a
reação, não necessitando, portanto, do oxigênio do ar para a reação.

2.3.1.3. Detonação.
É uma reação química, extremamente violenta, que envolve elementos
oxidantes (oxigênio) e combustíveis (carbono, hidrogênio), cuja velocidade varia
de 1.000 a 8.000 m/s com liberação de calor (reação exotérmica). Esta reação,
uma vez iniciada, é auto propagada por ondas de choque associada à reação
química, característico de alto explosivos. A figura 2.30 mostra a detonação de
explosivos militares realizada para efeito de estudos.

Figura 2.30: Detonação de explosivos militares.

Na detonação cada partícula, cria uma onda de alta pressão, que se


somam gerando a ‘onda de choque’ que comprime adiabaticamente as
partículas adjacentes, as aquecendo até atingir a ‘temperatura de explosão’
quando detonam, que por sua vez geram a pressão de impacto (efeito de
ruptura), produzindo elevadas ‘ondas de choque’.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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A tabela 2.2 mostra os parâmetros que possibilitam observar a transição
que ocorre entre deflagração e detonação que gera um aumento da turbulência
e da pressão na frente de reação, provocando a aceleração da sua celeridade
relativamente à da frente sônica.

Tabela 2.2: Diferença entre Deflagração e Detonação.


Parâmetro Detonação Deflagração
D 5 – 10. 0,00001 – 0,03
c
P 13 – 55 0,98 – 0,976
P0

T 8 – 21 4 – 16
T0

 1,4 – 2,6 0,06 – 0,25


0
(: Densidade do ar ao nível do mar; 0: Densidade do ar no local da detonação).

2.3.1.4. Energia de Ativação.


Corresponde a energia necessária para iniciar a reação de detonação,
considerando-se que o fenômeno da detonação ocorre naturalmente, isto é, com
aumento líquido de entropia, porque, os produtos da decomposição do explosivo
são mais estáveis que os reagentes que tem menor disponibilidade de energia.
Havendo desta forma uma barreira a ser vencida que é a pequena estabilidade
do explosivo, cujos produtos possuem pequena estabilidade que devem ser
rompidas. O processo pode ser assemelhado a um reservatório de líquido com
uma determinada energia potencial, onde um sifão (energia de ativação) faz todo
o líquido escoará para um nível abaixo (produto da reação).
A figura 2.31 representa a energia de ativação (b) necessária ao início da
reação, a energia dissipada após a reação exotérmica (c) e o estado de transição
formado entre reagentes e produtos denominado complexo ativado.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 33 -
Figura 2.31: Representação do comportamento energético de uma reação exotérmica.

2.3.1.5. Cadeia explosiva.


A cadeia (ou trem) explosiva corresponde ao encadeamento lógico dos
explosivos, segundo uma relação de sensibilidade versus efeito. Onde temos:
a) Explosivo Iniciador;
b) Explosivo Reforçador;
c) Explosivo de Ruptura.

Devido à necessidade de romper a barreira da estabilidade do explosivo,


temos duas categorias de explosivos: iniciadores e de ruptura (propelentes, tais
como pólvora coloidal, PN, composite, etc.).
E os explosivos iniciadores são destinados a fornecer a energia de
ativação ao explosivo de ruptura, os quais têm a função de realizar o trabalho
pretendido. Por isso, os explosivos iniciadores devem ser altamente sensíveis o
que exige cuidado durante a manipulação e armazenamento em pouca
quantidade, obrigatoriamente separados dos explosivos de ruptura.
Numa ‘cadeia explosiva’ padrão, poderíamos identificar:
a) Explosivo iniciador ou primário: elemento ativador inicial, ou seja, explosivo
empregado na excitação de cargas explosivas, sensíveis ao atrito, calor e
choque. Sob o efeito do calor explodem sem se incendiar;

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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b) Explosivo reforçador (“booster”) ou secundário: serve como carga
intermediária entre o explosivo iniciador e a carga explosiva principal, com
propriedades intermediárias;
c) Explosivo de ruptura, principal ou terciário: principal elemento de
fornecimento de energia e, portanto, de maior quantidade na cadeia. É
relativamente insensível, mais seguro no manuseio e armazenamento.
d) Explosivo de propulsão: é um baixo explosivo, usado em casos bem
específicos, de fácil fabricação, é muito útil para a fabricação de outros tipos
de explosivos bem mais fortes.

A figura 2.32 mostra um esquema básico de iniciação de um artefato


explosivo a base de nitroglicerina, a dinamite, que pode ser misturado com terra
diatomácea (dióxido de silício em pó) ou com outro material absorvente, para
ficar mais seguro que a própria nitroglicerina em seu estado puro.

Figura 2.32: Esquema da cadeia explosiva para dinamite.

Legenda da figura 2.32:


A. Material absorvente poroso misturado à nitroglicerina;
B. Capa cilíndrica que envolve o material explosivo;
C. Ponta do detonador e/ou iniciador (booster);
D. Cabo elétrico que conecta o iniciador ao detonador.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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2.3.2. Fenômenos envolvidos na explosão.

2.3.2.1. Necessidade de excitação.


A excitação sempre é necessária, por que é raríssima a explosão
espontânea (sem a necessidade de excitação), por exemplo, a explosão da
pólvora de nitrocelulose seca.

2.3.2.2. Grande pressão.


É por esta pressão que a carga de projeção de um cartucho desengasta
o projétil e o lança a alguns quilômetros de distância. Um explosivo se
transformando dentro de um recinto fechado, deve arrebentar as paredes desse
recinto, se elas tiverem resistência suficiente.

2.3.2.3. Grande volume de gases.


Um explosivo que tenha certo volume se transforma em uma quantidade
de gases de volume muito maior.

2.3.2.4. Curto espaço de tempo.


A velocidade de transformação varia segundo as espécies dos explosivos,
embora pareça instantânea.

2.3.2.5. Calor desprendido.


Em toda transformação que envolve explosões há um grande
desprendimento de calor. Até mesmo porque se trata de reação química de
oxidação e exotérmicas.

2.3.2.6. Velocidade de transformação.


Esta velocidade nunca é instantânea como parece aos nossos sentidos,
pois envolve uma reação química de decomposição que varia em função das
características químicas da substância explosiva, bem como das condições de
iniciação e confinamento desta.
Quando a velocidade de transformação é muito rápida, quando toda
massa se transforma, os gases ainda não se expandiram e formam um pequeno

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 36 -
volume com considerável pressão, causando descompressão dos gases de
forma muito mais violenta. Os principais fatores que influem são:
a) Estado físico dos reagentes: os gases reagem mais rapidamente que os
líquidos e estes mais rapidamente que os sólidos;
b) Superfície de contato: pulverizam-se os sólidos com a finalidade de aumentar
a superfície de contato entre os reagentes, aumentando também a
velocidade da reação.
c) Calor e luz: essas duas formas de energia são usadas como energia de
ativação de algumas reações. O aumento da temperatura implica um
aumento da energia cinética molecular, aumentando os choques efetivos e,
consequentemente, aumenta a velocidade da reação.
d) Catalisador e inibidor: catalisador é a substância que aumenta a velocidade
de uma reação (forma um complexo ativado de menor energia) sem ser
consumida durante o processo. Catálise é o aumento de velocidade da
reação, provocado pelo catalisador. O inibidor é a substância que diminui a
velocidade de uma reação (forma um complexo ativado de maior energia) e
é consumida durante o processo.
e) Pressão: só apresenta influência considerável na velocidade de reações
quando pelo menos um dos reagentes é gasoso. O aumento da pressão
diminui o volume, aumenta o número de choques e a velocidade da reação.
f) Concentração dos reagentes: um aumento na concentração dos reagentes
provoca um aumento na velocidade da reação, pois se aumenta o número de
moléculas reagentes e, consequentemente, o número de choques.

2.3.2.7. Tipos de transformação.


Corresponde ao comportamento do explosivo mediante excitação. Este
comportamento é verificado experimentalmente com várias amostras dos
explosivos na forma de fio, sem compressão, excitando-os ao ar livre, onde a
velocidade de transformação variável fará uns detonarem mais rapidamente e
outros mais lentamente. Assim, um mesmo explosivo pode queimar e depois
deflagrar ou explodir dependendo das condições citadas no item “velocidade de
transformação”.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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2.3.2.8. Excitação.
Geralmente é necessária uma excitação involuntária ou imprevista
(choque, calor, etc.) para se iniciar a transformação de um explosivo.
Há basicamente três tipos que estão descritos abaixo:
a) Mecânica: Dispositivo de percussão das armas, choque, atrito, etc.
b) Física: Corrente elétrica, chama, centelha, aumento de temperatura, etc.
c) Química: Outra substância explosiva, geralmente, mais potente, causa
explosão de uma carga explosiva próxima por simpatia, por exemplo,
encadeamento explosivo de uma granada de mão onde a espoleta explode
fazendo a carga de arrebentamento de a granada explodir.

2.3.2.9. Onda explosiva (Onda de choque).


A figura 2.33 mostra que no epicentro da explosão, há liberação de
energia que causa variações de pressões positivas, representando pela letra ‘G’,
variando de acordo com a distância do epicentro.

Figura 2.33: Variação da pressão da onda explosiva em relação ao epicentro.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Observe que quanto mais próximo ao epicentro maior a intensidade da
pressão oriunda da explosão. Daí, a camada 1 da esfera influenciará na
formação da camada 2, fazendo-a se transformar; e a da camada 2 acionará a
camada 3, e assim sucessivamente. Neste contexto, se explica a ‘explosão por
simpatia’, influência ou indução. A onda explosiva de um explosivo “A” poderá
influenciar outro explosivo “B” que esteja próximo.

2.3.3. O fenômeno da explosão e o plano CJ.


A explicação de como numa explosão o material explosivo se converte em
energia química, havendo propagação de ondas de choque, expansão de gases
e “subprodutos” (calor desprendido, luz, vibração na superfície, vibração do ar
(som) dentre outros) não possui apenas uma teoria que possa explicar todos
esses fenômenos relacionados à detonação. Para qualquer meio e situação a
maioria dos autores reconhece que o processo utiliza basicamente ondas de
choque (compressão) e rápida expansão dos gases produzidos.
Neste contexto a detonação é considerada como uma reação acelerada
de combustão em cadeia, causada pelo aumento na temperatura ou pelo
progresso de reação de combustão. Quando a reação vai acelerando
rapidamente, a chama avança com velocidade supersônica, a compressão da
onda de choque aumenta a temperatura causando autoignição.
O fenômeno de detonação não ocorre se a energia desprendida da área
de reação exceder certo limite (Persson et al., 1994). Por isso uma das
características da detonação é que a onda de choque gerada alcança um nível
de equilíbrio, em termos de temperatura, velocidade e pressão, mantendo-as
constantes durante todo o processo.
Na deflagração, a onda de choque tende a diminuir à medida que termina
o processo. Na detonação a turbulência provocada pelos produtos gasosos dá
origem à formação da onda de choque, com uma região onde a pressão se eleva
rapidamente, e é designada por “frente de choque”, onde ocorrem reações
químicas que transformam progressivamente as substâncias que constituem o
explosivo nos seus produtos finais.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 39 -
Na detonação, imediatamente atrás da frente de choque, que avança ao
longo do explosivo, se forma uma zona de reação, que na última etapa, fica
limitada por um plano ideal, denominado “Plano de Chapman-Jouguet (CJ)” que
se caracteriza por atingir o equilíbrio, em relação aos parâmetros da velocidade,
temperatura, pressão dos gases, composição e densidade no momento de
reação, condições que correspondem ao estado de detonação.
No plano (CJ) os gases encontram-se no estado de hiper compressão e
as zonas de reação dependem do tipo de explosivo em que se dá a reação. Nos
explosivos gelatinosos a zona de reação é muito menor do que em explosivos
lentos como o ANFO.

2.3.4. A teoria de Chapman-Jouguet (CJ).


Esta teoria é uma modelagem da explosão em meio dimensional,
comparado a um cilindro que foi desenvolvida pelos pesquisadores, David
Leonard Chapman (figura 2.34) e Jacques Charles Émile Jouguet (figura 2.35).

Figura 2.34: Pesquisador David Leonard Chapman.

A figura 2.34 mostra o físico-químico e pesquisador


inglês Chapman, nascido em 06 de dezembro de 1869 e falecido
em 17 de janeiro de 1958, que ajudou a desenvolver a Teoria da
Detonação de gases. Em 1907 ele trabalhou no Colégio Jesus,

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 40 -
em Oxford, por 37 anos no laboratório de ensino e pesquisa e
por último na Universidade de Manchester, onde se aposentou
em 1944. Em 1947 este laboratório foi fechado. Longe de seus
trabalhos de ensino e pesquisa ele gostava de ser considerado
excêntrico, casou-se com uma de suas estudantes e
pesquisadora, Muriel Holmes em 1918. E em 1958 ele morreu
de câncer em sua casa em Oxford.

Figura 2.35: Pesquisador Jacques Charles Émile Jouguet.

O pesquisador francês Jacques Charles Émile Jouguet


nasceu em 5 de janeiro de 1871, Bessèges e faleceu em 2 de
abril de 1943, Montpellier. Filho do engenheiro de minas Félix
Jouguet (1831-1887). Ele foi engenheiro e cientista graduado
pela l'École Polytechnique (ficou em 3 lugar na classe de 1889)
e em 1 lugar na classe de 1895 dos l'École des Mines de Paris,
trabalhou como engenheiro nas minas no Corps (1895-1898) e
foi conhecido principalmente pelos seus trabalhos em
termodinâmica e hidrodinâmica, aplicado a motores térmicos e
explosivos (pela Teoria da Detonação de Chapman-Jouguet
(CJ)). Em 1910, em Paris, foi nomeado engenheiro-chefe do
controle das ferrovias, onde desenvolveu um sistema de
operações e sinalização utilizado em toda a rede ferroviária da
França. De 1910 a 1914 e de 1920 a 1939, foi professor na École
des mines de Paris; Durante WWI foi tenente-coronel da

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 41 -
artilharia. Em 1921 Jouguet ganhou o Prêmio Poncelet. Em
1930, foi eleito como membro do l'Académie des Sciences, em
1936 ele foi homenageado com o posto de commandeur de la
Légion d'honneur.

No final do século XIX, as explosões que ocorriam nas minas de carvão


atraíram a atenção dos cientistas de diferentes países que realizaram
experiências em tubos cheios com gás para mostrar que este fenômeno era
diferente dos outros fenômenos de propagação da chama. Este processo era tão
rápido quanto os processos de difusão. Mallard e Le Chatelier foram os primeiros
a propor que a propagação ocorria devido à pressão.
Em 1893 o primeiro pesquisador a desenvolver esta teoria foi o físico
russo Michelson, que não tornou pública sua teoria. Em 1899 o britânico David
Chapman (figura 2.34), desenvolveu sua teoria de forma independente, e que
posteriormente teve importantes contribuições do pesquisador francês Jouguet
(figura 2.33) por isso a Teoria da Detonação ficou conhecida como Teoria de

Chapman-Jouguet (CJ), conforme o gráfico (figura 2.36).


A figura 2.36 mostra os gráficos da teoria de Chapman-Jouguet (CJ) que
estabelece a condição da detonação infinitamente fina, δ ≈ 0, para a onda de
choque, dividindo a onda explosiva em duas áreas diferentes, física e química.
Na frente da onda de choque das explosões de baixa pressão, detrás das suas
alterações de estado, ficaram os produtos de detonação do explosivo de alta
pressão. A compressão e reações químicas ocorrem simultaneamente com a
onda de choque e a detonação se propaga numa velocidade onde os produtos
de reação são separados a partir da frente da velocidade do som no meio.
A detonação de acordo Chapman-Jouguet ocorre na velocidade do som
criando um “gargalo” que permite que a onda de choque e a zona de reação se
deslocar numa velocidade constante, sem perturbação pela expansão do gás na
região de baixa pressão por detrás do ponto Chapman-Jouguet (CJ).

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Figura 2.36: Teoria de Chapman-Jouguet (CJ)

A curva de Hugoniot é obtida através da equação de conservação de


energia no diagrama for desenhado à pressão e volume específico (densidade
inversa). Nesta curva existem infinitas linhas de Rayleigh, dependendo do
declive (velocidade). As linhas podem ser cortadas em dois pontos tangentes ou
não. Na linha de Rayleigh é duplamente tangente a linha de Hugoniot, onde a
pressão aumenta com a diminuição do volume específico e os pontos
tangenciam definindo os dois estados possíveis da CJ.
De acordo o ponto de Chapman-Jouguet onde a tangência é produzida dá
velocidade mínima e máxima a partir do qual os produtos de reação geram gases
que se expandem pelo meio circundante. Se a velocidade for superior dois
pontos de intersecção, ocorrerá apenas um aumento de pressão.
Este modelo unidimensional, simples, ajuda a explicar as detonações. No
entanto, as observações sobre a estrutura química real de detonações mostram
uma estrutura tridimensional complexa, com reações mais rápidas do que a
média e ondas que se movem mais lento que serviram de base para maioria dos
modelos desenvolvidos posteriores.
A interpretação física desta teoria possibilitou o desenvolvimento de
outros modelos, o de Zeldovich (1943) e o de Zeldovich-von Neumann-Döring.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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2.3.5. Processo de Detonação e o plano CJ.
O detonador ao ser iniciado gera uma onda de choque que rapidamente
avança ao longo do explosivo, que ao atingir altas velocidades interage com a
massa, promovendo a reação interna dos constituintes do explosivo; esta reação
ocorre primeiramente num ponto, intensificando-se a toda a secção do explosivo
(diâmetro). Este processo desenrola-se até atingir uma velocidade máxima de
detonação, que ao longo do explosivo se mantém em regime constante também
conhecida como velocidade estável de detonação.
A figura 2.37 apresenta um esquema de um explosivo com o detonador e
que a figura 2.38 mostra o que acontece quando este detonador é acionado. Na
figura 2.38 o ponto ‘1’ refere-se ao estimulo do detonador que por sua vez no
material explosivo cria o ponto ‘2’ PCJ (Ponto Chapman-Jouguet) e o ponto ‘3’
FC (Frente de choque). E a figura 2.39 apresenta alguns detalhes do processo
de detonação do explosivo, considerando-se alguns parâmetros.

Figura 2.37: Esquema de um explosivo com detonador.

Figura 2.38: Etapas da iniciação do detonador dentro do explosivo.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Figura 2.39: Esquema de um explosivo sobre o efeito da detonação.

A figura 2.39 mostra que o processo de Detonação pode ser dividido em


duas etapas principais: o momento antes da reação E para condições de pressão
e temperatura naturais P0T0; e o momento de ocorrência da reação química. A
reação química, que ocorre na ZR (zona de reação), gerada pela detonação, sob
determinadas condições de pressão e temperatura (P1T1) pressão e temperatura
de reação, e dá origem ao plano CJ, limite entre a reação e a explosão. Por
sua vez, origina a explosão em ZE (Zona de Explosão), que ocorre a P2T2
(pressão e temperatura de explosão). O fenômeno de explosão permite atingir
P3, originando uma onda de choque a qual é designa por pressão de trabalho.
Quando ocorre a explosão, a ‘onda de choque’ se forma gerando uma
‘onda de pressão explosiva’ cuja taxa de dissipação de seus efeitos é
proporcional a raiz cúbica da distância entre o epicentro da explosão e o objeto,
diminuindo os efeitos da detonação com ao epicentro da explosão.
Por isso a ‘pressão da detonação (PD)’ vai decair e/ou se dissipar
rapidamente ao mesmo tempo em que a onda de choque e de tensão se propaga
e a ‘onda de choque’ viajará a través pelo contorno do epicentro da explosão
inicialmente de forma cilíndrica e depois de forma esférica.
Quando a frente de onda de choque se move encontra pontos de
descontinuidades e interfaces, os quais transferem parte da energia através do
objeto e parte é refletida. Disto resultam os efeitos destrutivos dos explosivos.
A figura 2.40 ilustra alguns detalhes dos efeitos dinâmicos que ocorrem
durante a propagação da onda de choque que circunda o epicentro da explosão,
cujo efeito dinâmico ao gerar a onda de choque que cria uma grande pressão no

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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mesmo eixo. Porque quando há detonação da carga explosiva, parte se
transforma violentamente em gases a alta pressão e temperatura. Neste caso o
plano Chapman-Jouguet (CJ) ocorre num plano transversal que delimita a área
do explosivo detonado, o não detonado. É útil, em muitos casos, onde se deseja
conhecer a distância do topo do explosivo e deste plano, uma vez que conhece
o tempo em que é necessário para detonar esta seção, podemos aproximar a
VOD (velocidade de detonação) do explosivo, o que poderá ser utilizado para
determinação de algumas propriedades do explosivo.

Figura 2.40: Efeitos dinâmicos da explosão.

As figuras, 2.41 e 2.42, mostram os detalhes da detonação de um


cartucho de dinamite capturados por uma câmera e utilizados para descrever o
processo de sua detonação. Nas referidas imagens vemos a geração dos gases
que dependem da composição química do explosivo, que por sua vez influencia
diretamente na sua velocidade da detonação (VOD) que rege a pressão de
detonação (PD) do explosivo. E a alta velocidade de detonação do cartucho de
dinamite mostra sua detonação ocorrendo na frente do plano CJ e se
propagando pela coluna do explosivo, do lado direito onde se iniciou com o
detonador que continua seguindo ao lado esquerdo.

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Figura 2.41: Imagem real dos efeitos dinâmicos da explosão.

Figura 2.42: Imagem real de uma sequência de explosão (Fonte: IMACAP).

A importância prática deste fato é por que durante e após a detonação a


onda de choque gerada devido a pressão de detonação se propaga fraturando
o maciço rochoso, com a velocidade de detonação de 2.000 a 7.000 m/s, gera
um grande volume gasoso a alta temperatura e a alta pressão que se estendem
pelas gretas radiais e/ou qualquer fratura que o empalme da descontinuidade da
energia do explosivo tornando sempre a trajetória de menor resistência. Quando

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 47 -
não encontra locais para ‘escapar’ os gases a altas temperaturas e pressão
fratura o maciço rochoso.

2.3.5.1. Detonação Ideal.


De acordo com Persson et al. (1994) e Drury e Westmaas (1978), na
detonação ideal, figura 2.43, o plano da onda de choque se propaga através do
explosivo (carga cilíndrica) gerando a reação química que mantém o processo.

Figura 2.43: Processo de detonação ideal (Adaptado de Sarma, 1994 e Hopler, 1999).

A zona de detonação é seguida pelo plano de Chapman-Jouget (CJ) e


precedida pela onda de choque. Após o plano CJ, são localizados produtos
estáveis da detonação (gases em alta temperatura e pressão). A velocidade de
propagação da onda de choque também é chamada de velocidade de detonação
(VoD). E a onda de choque é considerada a primeira parte da detonação, que é
acompanhada com velocidade supersônica e alta pressão e calor. Por isso, a
onda de choque continuamente inicia no explosivo ainda não detonado. E a
energia gerada pela decomposição das substâncias do explosivo mantém a
onda de choque devido à conservação da pressão desencadeada após a
passagem dessas. Na detonação ideal, é assumido que toda a energia potencial
do explosivo é liberada quase instantaneamente na zona de detonação.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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2.3.5.2. Detonação não ideal.
A figura 2.44 ilustra uma detonação não ideal, que normalmente ocorre
com agentes explosivos e muitos dos explosivos comerciais que apresentam
reação de detonação classificada como ‘não ideal’ devido a uma parte das
reações químicas ocorrerem após o plano CJ.

Figura 2.44: Processo de detonação não ideal (Adaptado de Sarma, 1994 e Hopler, 1999).

Neste caso, a frente de onda de choque não é planar, mas sim curva
devido à menor pressão e velocidade de reação que ocorrem nas bordas do
explosivo, após o plano CJ que não contribui para suportar a propagação da
onda de choque como numa detonação ideal, porém participa efetivamente do
processo de quebra dos materiais circundantes do explosivo, já que a rápida
expansão dos gases de detonação fornece boa parte da energia para o processo
final de fragmentação. Segundo, o pesquisador Sarma (1994), no caso do agente
explosivo ANFO uma porção substancial de nitrato de amônio (38% a 55%) não
reage na zona de detonação, mas sim após a passagem dessas, algumas
frações de milissegundo após a frente de detonação.

2.3.6. Equação de Chapman–Jouguet.


Esta equação evidencia que a velocidade de detonação (VOD) é igual à
soma da velocidade do som (S) e a velocidade dos produtos resultantes da
reação a partir do momento em que se inicia da detonação (W).

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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VOD = S + W

Os fenômenos de Deflagração e Detonação apesar de serem reações


oxidação e de redução se diferem no quesito VOD. A deflagração é subsônica
por que as partículas movimentam-se no sentido contrário à reação e a onda de
compressão é de baixa intensidade. Na detonação a velocidade é superior à
velocidade do som, promovendo uma onda de compressão de alta intensidade
por que as partículas movimentam-se na mesma direção da detonação num
curto espaço de tempo. Então:
 VOD < S neste caso trata-se de uma deflagração.
 VOD > S neste caso trata-se de uma detonação.

2.3.7. Classificação quanto à velocidade de detonação (VOD).


Seguindo este critério podemos classificar os explosivos em:
a) Explosivo Deflagrante: quando a velocidade de detonação é inferior a 1.000 m/s.

b) Explosivo Detonante: quando a velocidade de detonação, VOD, está acima


de 1000 m/s e abaixo de 1800 m/s. As figuras, 2.45 e 2.46, mostram os limites
que distinguem a deflagração da detonação.
c) Detonantes de regime normal: quando a velocidade de detonação é superior
a 1800 m/s e inferior a 5000 m/s (categoria dos explosivos Civis).

Figura 2.45: Representação da velocidade de detonação e velocidade de deflagração.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Figura 2.46: Esquema em que se identifica o momento de equilíbrio CJ.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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2.4. Ondas de choque.

2.4.1. Formação da onda de choque.


A figura 2.47 os efeitos oriundos energia liberada pela detonação de um
explosivo ao redor do ponto de detonação, forçando um volume gasoso a se
expandir, causando o “shock up” que gera a ‘onda de choque’.

Figura 2.47: Sequência de efeitos causados por uma onda de choque.

O primeiro efeito mecânico danoso da explosão é a onda de choque


devido ao acréscimo súbito e significativo na pressão atmosférica na frente da
onda, seguida por diferentes mecanismos de dano como colisão de fragmentos
e incêndios (devido às altas temperaturas). A região de pressão alterada se inicia
de forma hemisférica que se desloca radialmente do centro da explosão
(epicentro) com uma velocidade superior a do som, assumindo a forma, na

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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medida em que se afasta do epicentro, a onda com velocidade supersônica
(onda de choque). A figura 2.48 ilustra a variação da pressão devido à explosão.
.

Figura 2.48: Caso genérico ilustrando as fases de uma explosão e seus efeitos sobre os alvos.

A figura 2.48 mostra o pico de pressão da onda de choque em função da


distância ao epicentro, que decai no decorrer do evento apresentando uma

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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pressão negativa (sucção) que puxa o ar que e depois se estabiliza, e este
comportamento pode ser divido em quatro fases distintas.
Inicialmente, na fase (A) antes da detonação do explosivo; (B) após a
detonação ocorre o ‘pico de sobrepressão’ com aumento súbito de pressão
acima da pressão atmosférica e que irá determinar a forma da onda de choque.
Seguida de um decréscimo em forma similar e logarítmica até uma fase de
pressão “negativa”, fase (C). Por fim, a tendência natural que é a estabilização,
atingindo novamente a pressão atmosférica (D).
A pressão “negativa” que é a sucção do ar devido à diminuição da
pressão, a valor abaixo da pressão atmosférica, devido à contração dos fluidos
que se expandiram na explosão para proporcionar o equilíbrio do sistema. Logo
atrás da onda de choque, há um movimento de partículas de ar provocando uma
pressão dinâmica, formada pelos ventos gerados na explosão. No caso de
grandes eventos (como por exemplo, em explosões nucleares), o vento pode ser
de fundamental importância na resposta das estruturas, porém não é fator
predominante para os casos menos severos, em geral com explosivos químicos.
A incidência da onda de choque sobre corpos (corpo humano, estruturas,
árvores, dentre outros) gera reflexões que também devem ser consideradas,
porque modificam a forma como a pressão é aplicada em diferentes pontos.

2.4.2. Fundamentos da onda de choque.


A figura 2.49 mostra as variações das pressões da onda de choque em
função da distância ao epicentro, quanto mais próxima do epicentro mais intensa
é a pressão positiva e há formação de pressão negativa (sucção) e efeitos
danosos às edificações. No ponto (1) a explosão eleva a pressão positiva; No
ponto (2) um pequeno afastamento do epicentro, a pressão positiva é menor e
no ponto (3) um afastamento maior, em relação ao ponto (2), diminui bastante a
pressão positiva e no ponto (4) com uma distância maior do epicentro, em
relação ao ponto (3) já forma a pressão negativa.
Apesar da complexidade do fenômeno, pode ser feito uma estimativa
simplificada dos danos, a partir das pressões de pico. A figura 2.50 mostra um
gráfico com a pressão em função do tempo para onda de choque, porque torna

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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possível à definição de vários parâmetros importantes como, por exemplo,
tempos de chegada, tempos de duração, sobrepressão máxima, dentre outros.
Este estudo permite prever o comportamento das estruturas ou alvos quaisquer
com a onda de choque.

Figura 2.49: Curva típica da pressão x distância da explosão. Fonte: Kinney e Graham (1985).

Figura 2.50: Gráfico da pressão em função do tempo típica para uma onda de choque.

A partir da figura 2.50 a seguir definiremos alguns parâmetros.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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2.4.2.1. Tempo de chegada (Ta).
É o tempo que define o tempo decorrido do início da explosão até que a
onda de choque atinja um determinado ponto.

2.4.2.2. Tempo de duração positivo (Td+).


Corresponde ao tempo de duração da fase positiva da onda, inicia quando
a onda de choque atinge o ponto de análise (Ta) e permanece ao longo da fase
positiva até o início da fase negativa da onda. O tempo de duração da fase
positiva e as pressões que caracterizam esta fase, é utilizado no estudo do pulso.

2.4.2.3. Tempo de duração negativo (Td-).


Corresponde ao tempo de duração da fase negativa da onda de choque,
tem início ao fim da fase positiva da onda e permanece até que as pressões
decorrentes da onda de choque se estabilizem com a pressão ambiente. O
tempo de duração das fases da onda de choque está relacionado, onde o tempo
de duração da fase positiva da onda é cerca de ¼ do Td-, ou seja, 25% do tempo
total de duração das fases correspondem ao tempo de duração negativo. E é
durante este tempo em que ocorre a sucção do ar.

2.4.2.4. Pressão máxima (Pmáx).


É a pressão máxima da fase positiva, caracterizada pelo pico de pressão
que ocorre quando a onda de choque atinge um determinado ponto de análise.

2.4.2.5. Pressão ambiente (P0).


É a pressão de referência do ambiente onde ocorreu a explosão, em
situações normais de temperatura e pressão possui um valor de 101,3 kPa.

2.4.2.6. Pressão máxima da fase negativa (P-).


É a pressão máxima atingida durante a fase negativa, possui valor bem
inferior ao da pressão máxima da fase positiva. As pressões da fase negativa
geralmente possuem uma grandeza muito baixa, servindo apenas para arrastar
os detritos oriundos da primeira colisão da onda de choque com o alvo.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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É importante salientar que a diferença entre a pressão máxima (P) e a
pressão ambiente (P0) é o que caracteriza a sobrepressão (ΔP).

2.4.3. Parâmetros que influenciam nas ondas de choque.


As ondas de choque são influenciadas por vários parâmetros que tanto
podem ser avaliados experimentalmente, dependendo do nível de
complexidade, vão exigir o uso de métodos numéricos e computacionais. As
características fundamentais que influenciam na onda de choque são:

2.4.3.1. Energia de ativação ou de ignição.


É a energia mínima necessária para provocar a reação, dependendo dos
reagentes exigirão uma fonte de ignição de maior ou menor intensidade para
iniciar o processo.

2.4.3.2. Local da explosão.


Influi muito no que diz respeito às barreiras, reflexão da onda gerada e
efeitos nas estruturas próximas, etc., por exemplo, o confinamento, que acelera
o processo devido à turbulência que causa.

2.4.3.3. Quantidade.
Quanto maior a quantidade, nas mesmas condições de explosividade e
velocidade de queima, por exemplo, maior será a quantidade de energia
liberada, e consequente, maior o efeito.

2.4.3.4. Riqueza da mistura.


Por serem reações químicas, existe uma quantidade exata de elementos
constituintes que define o balanceamento correto da equação (equilíbrio
estequiométrico). Se não for alcançado este valor para a reação em questão,
chamar-se-á uma mistura desbalanceada, “rica” ou “pobre” conforme for o caso
e, consequentemente, menor será a velocidade obtida para a queima.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Aplicação 01: Com base na curva do comportamento da pressão em função do
tempo oriunda de uma explosão, figura 2.51, mencione os principais dados que
podemos obter por esta curva.

Figura 2.51: Curva do comportamento da onda de choque.

Resolução:

O tempo de chegada, Ta < 10 ns (10 x 10–9 s).

O tempo de duração positivo (Td+ ~ 10 ms).

O tempo de duração negativo (Td- ~ 13 ms).

A pressão máxima (PMáx = 510 bar).

A pressão máxima da fase negativa (P- = – 90 bar).

Nota: O milissegundo é representado por ‘ms’.

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2.4.3.5. Tipo de explosivo.
Diversas combinações e mistura de elementos químicos são capazes de
gerar explosões, porém, as queimas de combinações entre sólidos e líquidos
normalmente acontecem mais rapidamente. E estes parâmetros irão definir o
comportamento da reação, que pode ir de uma queima acelerada (deflagração)
até uma explosão efetivamente. Numa detonação as velocidades de queima são
suficientemente altas para criar a onda de choque.
Na deflagração, a reação se propaga fundamentalmente por transmissão
de calor na mistura onde já ocorreu a reação de combustão para aquelas ainda
não reagidas.
Na detonação, a reação ocorre rápida com formação de uma onda de
choque que passa com velocidade sônica na parte da mistura ainda não reagida,
não podendo ser vista a olho nu. Nas figuras, 2.52 e 2.53, temos fotos extraídas
de explosões reais, a primeira do campo de provas experimental do
Departamento de Investigação de Defesa e Desenvolvimento canadense nas
quais podemos observar as ondas de choques que distorcem a paisagem em
torno da bola de fogo à medida que ela se expande. Na figura 2.53 podemos ver
uma sequência de explosões oriunda de um ataque terrorista.

Figura 2.52: Onda de choque num campo de prova experimental.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Figura 2.53: Sequência de formação e dissipação da onda de choque na explosão.

2.4.4. Danos oriundos da reflexão da onda de choque.


A figura 2.54 mostra como ocorre a reflexão de ondas de choque sob as
superfícies sólidas que se somam aumentando consideravelmente o seu poder
destrutivo sob as estruturas edificadas.
A onda incidente e a refletida formam um ângulo que diminui à medida
que se afastam do ponto de detonação. Quando este ângulo é inferior ao ângulo
limite (aprox. 40), as ondas de choque, incidente e refletida, se fundem em uma
única onda, chamada onda de Mach. O ponto de encontro entre as duas ondas
é chamado de ponto triplo, acima do qual as ondas, incidente e refletida,
permanecem separadas. A zona existente entre a reta que define a trajetória do
ponto triplo e o solo é chamada de Zona de Mach.

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Figura 2.54: Efeito da detonação no ar sobre a pressão e impulso.

Os pontos de reflexão das ondas sob o solo são caracterizados por


pequenos picos de sobrepressão, que aumentam seu poder destrutivo. Porque,
quando a onda reflete no solo e posteriormente sob os alvos (estruturas) por
onde a onda passa, dependendo do ângulo formado entre a onda e a superfície
do solo “esta reflexão acaba por aumentar a sobrepressão efetiva que gerando
maior ação resultante sobre a estrutura”.
A reflexão de ondas de choque é um fenômeno complexo que engloba
inúmeros fatores e parâmetros, de modo que a determinação do valor da pressão
da onda de choque refletida é de difícil obtenção. Para facilitar a análise deste
fenômeno, a reflexão das ondas é dividida em três tipos básicos:
 Reflexão normal;
 Reflexão oblíqua;
 Reflexão Mach.

Basicamente, a reflexão normalmente ocorre quando a superfície da onda


de choque é paralela à superfície em que ela incide, ou seja, ocorre com um
ângulo zero de incidência. Por isso, a reflexão normal trata do produto de um

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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choque frontal da onda com a superfície, daí se espera que haja uma interação
entre a onda de choque e a estrutura, onde as forças resultantes dessa
interação, assim como os modos das estruturas reagem ao carregamento de
pressão que é uma aplicação direta para se dimensionar os explosivos para
neutralizar um determinado alvo.
A figura 2.55 mostra uma estrutura submetida a um carregamento por
difração, onde a onda de choque aplica uma pressão repentina sobre todas as
faces do alvo, de forma aproximadamente simultânea.

Figura 2.55: Estrutura sujeita a carregamento por difração I.

Numa condição onde a frente da onda de choque não envolve todo o alvo,
ocorre um diferencial de pressão entre a parte dianteira e traseira, produzindo
uma força lateral (“diffraction loading”) que tende a deslocar o alvo na mesma
direção da onda de sopro. Uma vez o alvo é totalmente envolvido, o diferencial
de pressão deixa de existir. Porém, a pressão aplicada ainda é superior à
pressão normal e a força lateral (“diffraction loading”) dá lugar a uma pressão
que tende a comprimir (“esmagar”) o alvo.
A figura 2.56 mostra a sequência de danos causados em um edifício
submetido a um carregamento por difração.

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Figura 2.56: Estrutura sujeita a carregamento por difração II.

2.4.5. Danos oriundos da pressão de arrasto.


A pressão de arrasto causa o carregamento por arrasto. Os coeficientes
das superfícies refletoras com formas geométricas facilmente encontrados na
literatura, porém seus valores para as superfícies cujo ângulo de incidência não
mais permite reflexão (acima de 90º) possuem valores negativos, o que
corresponde à formação de vórtices e zonas de baixa pressão aerodinâmica
nestas regiões, diminuindo aí a sobrepressão total sobre a superfície.
A figura 2.57 ilustra a dinâmica da passagem da onda de choque sob o
alvo, mostrando que o carregamento por arrasto e o vento reverso, ambos
ocorridos devido a ação da onda de choque. A influência do carregamento por

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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arrasto é tanto menor quanto mais longo for o período da fase positiva de
pressao ou quanto menor for a dimensao da estrutra na direcao de propagacao
da onda de choque como será visto adiante.

Figura 2.57: Estrutura submetida a carregamento por arrasto.

Durante todo o período em que a fase positiva da onda de sopro estiver


atuando, o alvo fica sujeito a um carregamento de pressão dinâmica oriundo dos
ventos transientes de grande intensidade que acompanham a frente da onda de
choque, produzindo uma força lateral na direção da onda.
De acordo com a geometria da estrutura ela será mais susceptível a danos
por um ou por outro tipo de carregamento. Para edifícios e tanques de
armazenamento é mais importante o carregamento por difração, já estruturas
físicas altas e esbeltas, como por exemplo, postes e torres são mais afetados
pelos carregamentos por arrasto. Por este critério costuma-se chamar as
primeiras de Alvos de Difração (diffraction target) e as últimas de Alvos de
Arrasto (Drag Target), em alusão ao uso militar desses termos.
Alguns alvos são relativamente flexíveis, portanto, não são danificados
pelo carregamento por difração, podendo ser vulneráveis aos danos pelo
carregamento por arrasto, mesmo estes alvos que não sendo firmemente fixados
serão arrancados e poderão ser deslocados por vários metros. As pessoas são

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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muito vulneráveis a este tipo de dano, há possibilidade de ser atingido por outros
objetos e destroços lançados pela explosão. Aeronaves e equipamentos leves
também são susceptíveis de serem danificados pelo carregamento por arrasto.
A tabela 2.3 apresenta alguns exemplos de possíveis alvos com suas
indicações de efeito de carregamento que são mais vulneráveis.

Tabela 2.3: Mecanismos de danos para o efeito da onda de choque.


Alvos Mecanismos de danos
Edifícios industriais Difração
Estradas e pontes Difração
Veículos blindados leves Arrasto
Veículos blindados pesados Difração
Tropas em campo aberto Arrasto
Tropas em bunkers Difração
Aeronaves estacionadas Arrasto

2.4.6. Danos em estruturas oriundos da sobrepressão.


A maior parte dos danos resultantes da detonação de um alto explosivo
ou de uma explosão nuclear é devida, tanto direta como indiretamente, à onda
de choque que acompanha a detonação.
A detonação de altos explosivos pode gerar pressões de até 700
toneladas/ pol2 e temperaturas da ordem de 3.000 a 4.500ºC, antes da ruptura
do corpo, podendo implicar em incêndios. Aproximadamente metade da energia
dos gases produtos pela detonação é utilizada para expandir o corpo recipiente
em cerca de 1,5 vezes o seu diâmetro antes da fragmentação e ejeção dos
fragmentos e cuja energia restante é gasta para comprimir o meio circundante
que é a responsável pelo efeito de sopro. A destruição ocorre através da geração
de uma sobrepressão de tal forma que o alvo não resiste estruturalmente. Daí
fatores como a resistência estrutural do alvo, sua resiliência (capacidade de se
deformar e retornar ao estado original), seu tamanho, e sua orientação em
relação à detonação influenciam o efeito de sopro sobre a estrutura. O sopro

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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deve ser concentrado e precisamente direcionado contra os elementos vitais
para produzir um dano significativo.
A tabela 2.4 exemplifica a variação de pressão, causada pela onda de
choque, com os respectivos danos sofridos pelas diversas estruturas.

Tabela 2.4: Efeito da sobrepressão em estruturas.


Sobrepressão
Danos estruturais
(BAR) (PSI)
0,01 – 0,015 0,15 – 0,22 Quebra dos vidros das janelas.
0,035 – 0,075 0,52 – 1,12 Danos mínimos em construções.
0,075 – 0,125 1,12 – 1,87 Danos em painéis metálicos.
0,075 – 0,150 1,12 – 2,25 Falha de painéis de madeira (construções).
0,125 – 0,2 1,87 - 3 Falha em paredes de tijolos.
0,2 – 0,3 3 – 4,5 Rompimento de tanques de refinarias.
0,3 – 0,5 4,5 – 7,5 Danos em edifícios (estruturas metálicas).
0,4 – 0,6 6,0 – 9,0 Danos em estruturas de concreto.
0,7 – 0,8 10,5 – 12,0 Destruição total da maioria das construções.
1,034214 15 Morte de 100% das pessoas expostas.
Fonte: Tese do ITA.

1 lb/in2 (1 PSI)  0,0069 MPa  0,069 Bar = 6.895 kPa

A figura 2.58 mostra três diferentes tipos de danos causados pela onda
de choque sobre uma estrutura, para uma mesma quantidade de explosivo a
severidade do dano é inversamente proporcional à distância do foco, isto é,
quanto mais longe menores são os efeitos destrutivos da onda de choque.
No gráfico (figura 2.58) podemos dimensionar a quantidade de explosivo,
em TNT, para romper alvenaria, de forma que podemos ter uma noção da
quantidade de explosivos para causar danos sobre determinadas estruturas. Por
exemplo, a detonação de 500 kg de TNT a uma distância de 75 metros do
epicentro poderá causar rachaduras em paredes de tijolos.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Figura 2.58: Estimativa de danos sobre uma edificação.

2.4.7. Danos em paredes de concreto oriundos da onda de choque.


Há uma correlação entre a distância e a massa explosiva que estabelece,
por estimativa, à distância na qual o efeito descrito na tabela 2.5, pode é
esperado para uma quantidade específica de explosivos. Essa relação pode ser
aplicada em situação inversa, para estimar a quantidade de explosivos
necessários para causar um determinado efeito numa distância especifica. Mas,
a quantidade de explosivos necessária para a ruptura de paredes de concreto
pela detonação em contato direto é um tipo inverso dessa relação. Experimentos
controlados demonstraram que a relação entre a espessura da parede de
concreto e a quantidade de explosivo necessária para rompê-la, pode ser obtida
através de a fórmula a seguir:

W   3 R

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 67 -
Onde:
W: Quantidade de explosivo em kg de TNT necessária para abrir a parede;
: Coeficiente de ruptura (kg de TNT/ m3);
R: Espessura da parede em metros.

O coeficiente de ruptura para concreto comum ( = 15 kg de TNT/ m3) e o


coeficiente de ruptura para concreto reforçado ( = 27 kg de TNT/ m3).
A figura 2.59 apresenta duas curvas para romper paredes de concreto
comum e concreto reforçado. Para o efeito esperado é necessário que a
detonação do explosivo ocorra em contato com a parede a ser rompida.

Figura 2.59: Estimativa para ruptura de paredes de concreto comum e reforçado.

A figura 2.59 exemplifica que a bomba BAFG 230 com média de 100 kg
de tritonal, equivalente a 102 kg de TNT, atingisse diretamente uma parede de
concreto ou se quantidade equivalente de explosivo fosse colocada em contato

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 68 -
com essa parede, conseguiria rompê-la caso sua espessura fosse de até 1,90 m
para o concreto comum e de até 1,57 m para o concreto reforçado.
No caso de uma bomba BAFG 120, cuja massa equivalente de TNT é de
45 kg, a espessura máxima da parede deveria ser de 1,44 m e 1,20 m
respectivamente para concreto comum e para o concreto reforçado.
Desprezando-se a energia cinética de impacto no caso de lançamento da bomba
Deve ser observado que esta estimativa é válida somente no caso de contato
direto com a superfície do alvo.
A tabela 2.5 mostra as cinco classes de danos e suas descrições.

Tabela 2.5: Classes de dano causadas por explosões nas estruturas.


Classe Descrição dos danos
A Colapso completo, estrutura reduzida a escombros.
B Estrutura muito danificada além de reparos.
C Sérios danos, a estrutura não pode ser usada até ser reparada.
D Dano estrutural, a estrutura permanece parcialmente utilizável antes do reparo.
E Sem danos estruturais apenas vidros quebrados e fissuras em peças de gesso.
Fonte: Kinney e Graham (1985)

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Aplicação 02: Consideração a bomba BAFG 230 que possui uma carga líquida
de 102 kg de TNT. Calcule por meio de fórmula matemática a espessura que
poderá sofrer danos para concreto comum e concreto reforçado.
Resolução:

Cálculo da espessura para o concreto comum

W  102 kg de TNT 


R  3   R  3    R  3 6,8m3  R  1,90m
    15 TNT/m 
3

Cálculo da espessura para o concreto reforçado

W  102 kg de TNT 


R  3   R  3    R  3,78m  R  1,57m
3 3

   27 TNT/m 
3

Análise: Partindo-se da premissa de que o concreto reforçado é mais resistente


de que o concreto comum, ou seja, para uma mesma resistência mecânica uma
parede de concreto comum deve ser mais espessa que a parede de concreto
reforçado. Para os alvos numa mesma distância do epicentro. A detonação de
102 kg de TNT poderá causar danos a uma parede de concreto comum de até
1,90 m de espessura, já para o concreto reforçado com os danos surgiram para
paredes de até 1,57 m de espessura.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 70 -
2.4.8. Efeitos de cargas dinâmicas em placas de concreto armado.
Sabemos que o concreto se comporta de maneira distinta quando
submetido a esforços trativos e esforços compressivos devido a sua natureza de
material frágil.
O efeito das cargas explosivas num elemento de concreto faz com que a
água se movimente dentro do elemento, gerando pressões internas, as quais
vão ajudar o elemento a resistir às cargas externas. Estudos indicam que em
elementos de concreto saturados o fator de incremento dinâmico (DIF) tem um
crescimento mais elevado.
Quando uma placa de concreto armado é sujeita a cargas dinâmicas
provenientes da detonação de um explosivo podem acontecer os seguintes
fenômenos:
 Efeito “Spalling”.
 Rotura por Flexão.
 Rotura por Corte.

2.4.8.1. Efeito “Spalling”.


A figura 2.60 mostra o efeito spalling causado por uma onda de choque.

Figura 2.60: Efeito spalling.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Quando uma onda de choque de uma pequena explosão a uma curta
distância embate na superfície de uma placa de concreto armado, uma parte da
energia da onda vai ser refletida para fora da parede e a restante, com
proporções significativas, vai-se propagar através da parede como se fosse uma
onda de compressão. Quando esta onda chega à face tardoz da parede existe
uma nova reflexão. Nesta reflexão, uma parte da energia propaga-se de novo
para dentro da parede e a outra parte propaga-se para o ar. O choque entre a
onda de compressão refletida e a onda de compressão incidente vai gerar
grandes tensões na face tardoz da placa. Não resistindo às elevadas tensões, o
concreto na face tardoz parte-se e as suas partículas são ejetadas para fora da
parede a alta velocidade. Chama-se a este fenómeno o efeito Spalling (figura
2.60). Como este fenómeno ocorre na face do concreto, o aço que se encontra
como reforço no interior da placa não ajuda a controlar este evento.

2.4.8.2. Rotura por flexão.


A figura 2.61 mostra a ruptura por flexão causada pela onda de choque.

Figura 2.61: Ruptura por flexão em muro de concreto devido a onda de choque.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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A rotura por flexão é a rotura mais provável quando um explosivo é
detonado a uma distância não muito curta de uma placa de concreto (figura
2.61). Nestes casos a rotura dá-se na zona de maior momento a meio do vão.
Quando a rotura é total, este modo de rotura passa por 3 fases: na primeira fase
dá-se a fendilhação na face tardoz da placa de concreto, na segunda fase os
varões de aço da armadura entram em cedência e na terceira fase as armaduras
entram em rotura e, devido a efeitos de compressão na face frontal, pode haver
esmagamento do concreto. A rotura por flexão é normalmente uma rotura dúctil.

2.4.8.3. Rotura por corte.


A figura 2.62 mostra a ruptura por corte causada pela onda de choque.

Figura 2.62: Ruptura por corte em muro de concreto devido a onda de choque.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Quando um explosivo é detonado a uma distância muito curta de uma
placa de concreto armado, o modo de rotura mais provável é a rotura por corte.
Este modo de rotura acontece antes que a parede tenha tempo de responder às
cargas de flexão. A rotura dá-se em zonas mais localizadas onde os esforços de
corte são maiores. Nestes casos, a placa de concreto parte-se em bocados
grandes que são ejetados a alta velocidade. O efeito Spalling pode ainda ocorrer
localmente. A rotura por corte tem um comportamento frágil.

2.4.9. Energia liberada pela onda de choque.


Durante a formação e propagação da Onda de Choque, dependendo das
características do explosivo (composição química, força, brisância, dentre
outras) haverá liberação de energia, a qual segue alguns parâmetros, os quais
serão mencionados a seguir.
A figura 2.63 ilustra uma detonação hipotética onde há liberação máxima
de energia no epicentro da explosão com uma sobrepressão de 100 kgf/cm2 que
vai diminuindo conforme a distância do epicentro. Neste item mostraremos como
a distância influência nos efeitos da explosão.

Figura 2.63: Liberação de energia na explosão.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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2.4.9.1. Lei de Hopkinson-Cranz.
Aplicando o princípio da semelhança para explosões, duas explosões
podem ser consideradas idênticas às distâncias que são proporcionais a raiz
cúbica da energia liberada, para produzir o mesmo efeito de sopro a uma
distância duas vezes maior é necessária uma carga explosiva oito vezes maior.
O pico de pressão da onda de choque será o mesmo a 1 metro de uma carga de
1 Kg de TNT e a 2 metros de uma carga de 8 Kg de TNT.
A equação a seguir mostra matematicamente esse fenômeno.

 D   D 
Z  f   1   Z  f   3 
   W
W 3
Onde:
D: Distância a partir do centro da explosão, em metros;
Z: Distância escalonada em metros (equivale à detonação de 1 kg de TNT).

1
   3   
Sendo: f     f  3  
 0   0 

Onde:
: Densidade do ar ao nível do mar;
0: Densidade do ar no local da detonação.

   D 
Associando as equações teremos: Z  3     3 
 0   W 

Porém a massa de TNT equivalente ao explosivo é dada por:

W  1,2  F  CF  C 
Onde:
F: fator de eficiência do explosivo em relação ao TNT;
C: Massa do explosivo em questão;

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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CF: Fórmula de Fano (fator de casco);
1,2: Fator para máximo efeito direcional (20% fator de segurança).

Parte da energia química do explosivo liberada na detonação é utilizada


para romper o invólucro metálico, por isso deve-se considerar o efeito de
confinamento, cujo Fator do Casco (CF) é dado por:

1
 
 2 
CF  0,6  0,4   1  
 C
 M 
  
Onde:
M: Massa metálica do invólucro;
C: Massa do explosivo.

2.4.9.2. Dimensionamento da explosão.


Esta lei admite que a energia liberada na detonação dependa apenas da
massa do explosivo utilizado, onde o TNT é o explosivo padrão utilizado devido
a sua boa reprodutibilidade em ensaios de explosão e, principalmente, quanto à
sua constituição química pura. Por isso nos estudos e publicações a este é
referido sempre como “massas equivalentes” a um “padrão”, o TNT, utilizando-
se então WTNT ou W [kg] como símbolo e unidade, respectivamente.
Devido à alta densidade dos explosivos sólidos em relação às misturas
gasosas, para cargas semelhantes o volume se torna muito menor. Isso permite
a consideração de carga concentrada nestas situações, gerando então uma
onda de pressão esférica no ar, por isso, o volume atingido pelos efeitos da
explosão vai depender da distância ao cubo (R3) do epicentro. Numa distância
em escala (Z), pela Lei de Dimensionamento da explosão de Hopkinson-Cranz
está calculada dada pela fórmula a seguir:

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 76 -
 R 
Z3 
 W
Onde:
Z: Distância em escala;
R: distância.

Para qualquer parâmetro de distância (R) e quantidade de explosivo (W),


desde que mantidos o mesmo explosivo e a distância em escala, produzirá efeito
semelhante de sobrepressão sob o alvo, considerando-se a hipótese de
propagação esférica no ar.
A tabela 2.6 apresenta as energias especificas e equivalências de massas
de alguns explosivos, não devendo descartar o uso de equivalências
relacionadas ao TNT, como por exemplo, o “impulso equivalente”.

Tabela 2.6: Relação de alguns explosivos com suas equivalências em TNT.


Energia Específica TNT Equivalente
Explosivo
Mássica Qx (kJ / kg) (Qx / QTNT)
AMATOL 80/20 2650 0,586
(80% Nitrato de Amônia, 20% TNT)
RDX 5360 1,185
Nitroglicerina (Líquida) 6700 1,481
PETN 5800 1,282
Pentolite 50/50 5110 1,129
(50% PETN, 50% TNT)
TETRIL 4520 1,000
Dinamite de Nitroglicerina 2710 0,600

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Aplicação 03: Mostre matematicamente que a distância em escala dos efeitos
de 1 kg de PETN a 100 m do epicentro são iguais aos efeitos causados por 1 kg
de Dinamite de Nitroglicerina a 77,64 m de distância do epicentro, haja vista que
suas distâncias em escala (Z) têm o mesmo valor (92,052 m/kg1/3).
Resolução:

Considerando-se que 1 kg de PETN equivale a 1,282 kg de TNT, logo W=


1,282 kg, há uma distância do epicentro da explosão de 100 m, então:

 R   100m 
Z3   Z     Z  92,053m/kg
1/3
3 1,282kg 
 W   

E que 1 kg de Dinamite de Nitroglicerina equivale a 0,6 kg de TNT, logo


W= 0,6 kg, há uma distância do epicentro da explosão de 77,64 m, então:

 R   77,64m 
Z3   Z     Z  92,052m/kg
1/3
3 0,6kg 
 W   

Análise: Como as distâncias em escala, Z, são numericamente iguais, temos


provado matematicamente que os efeitos de sobrepressão oriundos da
detonação de 1 kg de PETN a 100 metros do epicentro são os mesmos de 1 kg
de Dinamite Nitroglicerina detonados a 77,64 m do epicentro.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Aplicação 04: Calcule a quantidade de explosivo plástico C-4 necessária para
causar os mesmos efeitos que 1 kg de PETN a 100 m do epicentro, para uma
estrutura a 50 m de distância do epicentro.
Resolução:

Como 1 kg de PETN = 1,282 kg de TNT, logo W= 1,282 kg, há uma


distância do epicentro da explosão de 100 m, então:

 R   100m 
Z3   Z     Z  92,053m/kg
1/3

 W  3
 1,282kg 

Mas, 1 kg de C-4 = 1,34 kg de TNT, logo W= 1,34 kg, então:

 R   R 
Z3  1/3
   R  101,47 m
 3 1,34 kg 
 92,053 m/kg
 W   

Análise: Os efeitos de sobrepressão resultantes da detonação de 1 kg de PETN


a 100 metros do epicentro são os mesmos que 1 kg de C-4 a 101,47 metros do
epicentro. Observe que quanto maior for a força do explosivo maior a área de
influência da sobrepressão oriunda da detonação do mesmo.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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2.5. Efeito Munroe (carga oca).

2.5.1. Histórico.
Em 1860 quando um engenheiro do exército alemão chamado Karl
Hermann Waldemar Max von Förster (1845-1905) iniciou seus estudos na área
de tecnologia dos explosivos, sendo um dos pioneiros nesta área além de ter se
tornando um dos maiores especialistas em explosivos na Alemanha. Nesta
época, tratava-se de experiências de explosão com o litorote, uma variedade de
dinamite da Gebr. Krebs & Co em Kalk que foi usada em 1871 para explodir os
canos de ferro nos fortes de Paris.
Em 1872, ele fundou com Emil Müller (1844-1910) a fábrica de dinamites
de Rhenish em Opladen, onde eles queriam produzir nitroglicerina com seu
método melhorado mas, que devido aos acidentes que ocorriam na época
desencorajaram.
Em 1883, Max von Förster, percebeu por meio de experimentos de
explosão com explosivo comprimido que o efeito da cavidade na carga explosiva
(carga moldada) poderia ter uso militar em bazuca, daí ele escreveu uma
publicação sobre o efeito cavidade (Cavity Effect, mais tarde também chamado
de efeito Neumann ou efeito Munroe)
Em Hoherlehme, perto de Wildau, Max von Förster fundou sua própria
fábrica de pólvora sem fumaça e nitroglicerina em pó. A partir de 1898 ele vendeu
pó B ao exército otomano e espanhol. No mesmo ano, ele participou com sua
fábrica na formação do Escritório Central de Investigação Científica e Técnica
em Neubabelsberg.
Em 1792 já tinham citações antigas, não publicadas, sobre emprego de
explosivos com cavidade conhecida como ‘cargas de superfícies cavitárias’ ou
‘cargas direcionais’ estas citações foram atribuídas ao engenheiro de minas
Franz Von Baader que publicou um trabalho associando a perfuração, o
confinamento de propelentes, os efeitos de pequenas cavidades entre o
propelente e alvo a distâncias variadas e a fragmentação de rochas. Estes
experimentos utilizaram pólvora negra que não eram capazes de detonar as

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 80 -
cavidades e não continham revestimento, cujos efeitos de concentração de
energia devido à configuração geométrica foram observados. Avanços na
estabilização de explosivos com maior liberação de energia e a produção de
detonadores só foram possíveis após os trabalhos de Alfred Nobel em 1867
(Walters, 2008).
A figura 2.64 mostra a forma como os mineradores no século XIX
utilizavam cartuchos de dinamites arranjados em forma de círculo no solo e com
as outras extremidades amarradas em forma de um cone vertical, resultando em
penetrações mais profundas do que explosivos dispostos sobre o solo de outras
maneiras (Guimarães, 2009).

Figura 2.64: Efeitos do posicionamento dos cartuchos de explosivo (Barbour, 1981).

Em 1883, na Alemanha, o engenheiro Max von Förster fez a primeira


demonstração dos efeitos da cavidade utilizando alto explosivos, surgindo o
conceito original de Carga Oca, onde o engenheiro proferiu a seguinte afirmativa:
“Uma carga explosiva cilíndrica livremente suportada em uma placa de metal
tem um poder penetrante menor que outro semelhante em forma, tamanho,
peso, mas em forma cônica”.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 81 -
Ele também insistiu que o uso de energia explosiva depende em grande
medida da conformação externa do explosivo, isto é, que mantendo o peso da
carga explosiva constante, cuja apresentação pode ser, por exemplo, cúbico,
esférico, cilíndrico, cônico, etc.

2.5.2. O pesquisador Charles Edward Munroe


O efeito Munroe foi descoberto e publicado pelo químico americano
Charles Edward Munroe (24 de maio de 1849 - 07 de dezembro de 1938), figura
2.65, que também foi o presidente do Departamento de Química da Universidade
George em Washington nos EUA.

Figura 2.65: Charles Edward Munroe (1919).

O pesquisador Monroe nasceu em Cambridge,


Massachusetts e estudou na escola científica Lawrence de
Harvard, graduando-se em 1871. Ele conseguiu um emprego
como professor assistente de química na faculdade até 1874,
quando se mudou para Anápolis para se tornar um professor de
química na Academia Naval dos Estados Unidos.
Em 1886 ele se juntou à Estação de Torpedo Naval e
Escola Superior de Guerra em Newport, Rhode Island como um

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 82 -
químico, onde descobriu o efeito Munroe, ao observar o formato
da base dos explosivos. De 1892-1917 Munroe foi chefe do
Departamento de Química e reitor da Escola Científica Corcoran
na Universidade Columbian (renomeada George Washington
University em 1904). Neste período ele também foi decano da
Faculdade de Pós-Graduação obtendo seu Ph.D. Ele escreveu
mais de 100 livros sobre explosivos e sobre química.
Em 1898, ele foi presidente da Sociedade Americana de
Química e consultor do United States Geological Survey e no
United States Bureau of Mines. Em 1900 foi nomeado candidato
ao Prêmio Nobel de Química pela Academia Sueca de Ciências.
Em 1919, tornou-se professor emérito de Química da Escola de
Pós-Graduação, título que manteve até sua morte.

E em 1888, Charles Munroe conduziu experimentos com cargas ocas


observando que a profundidade da penetração pode ser consideravelmente em
função da configuração do explosivo no artefato, para uma pequena quantidade
de explosivo. O aumento da penetração se deve concentração dos produtos da
detonação. Munroe realizou várias publicações sobre o assunto popularizando o
seu conceito (Walters, 2008).
Neste experimento, Munroe percebeu que um bloco explosivo, com o
nome do fabricante estampado nele, foi detonado ao lado de uma placa de metal,
as letras foram cortadas sob a placa. Ele percebeu que as letras foram
levantadas em relevo acima da superfície do explosivo e sob a também.
Em 1894, Munroe, em suas experiências construída a primeira carga de
forma bruta, sob um cofre cúbico de vinte e nove polegadas, com paredes de
quatro polegadas e espessura de ¾ de chapas de ferro e aço quando uma carga
oca de dinamite de 9,5 libras de peso foi detonada sobre ele, formando um
buraco de três polegadas de diâmetro nas paredes devido a um sopro de
material derretido, o cartucho oco foi feita ao amarrar as bananas de dinamite
em torno de uma lata, com a boca aberta e voltada para baixo.
Esta descoberta de Munroe foi amplamente divulgada em 1.900 na revista
popular cientifica mensal, porém a importância da carga oca permaneceu sem
reconhecimento por quase 44 anos.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 83 -
Em fevereiro de 1945, o artigo foi reimpresso descrevendo cargas ocas
como ogivas e revelado ao público em geral como uma bazuca pode destruir
veículos blindados durante a Segunda Guerra Mundial.
Devido aos trabalhos de Munroe, é comum utilizar a expressão “efeito
Munroe” para representar os efeitos de carga oca. Experimentos conduzidos por
outros pesquisadores em outros países deram origem a diferentes
denominações: carga cumulativa e “Hohlladung” na antiga União Soviética e na
Alemanha, respectivamente, para se referir a este efeito. Os experimentos
conduzidos por M. Neumann, em 1911 e em 1914 na Alemanha deram origem
ao termo “efeito Neumann” para o efeito gerado pela detonação da carga oca.

2.5.2. Outros pesquisadores do efeito da Carga Oca.


Em 1886 o pesquisador Guslov Bloem patenteou um enrolamento
detonador com um revestimento hemisférico oco que concentrou seu efeito em
comprimento do eixo simétrico.
Em 1910, o alemão Egon Neumann descobriu que um bloco de TNT,
poderia tranquilamente abrir uma chapa de aço, abrindo um furo de passagem
se o explosivo tiver uma reentrância cônica.
A utilidade militar do trabalho de Munroe e de Neumann não foi apreciada
por muito tempo. Entre as duas guerras mundiais, acadêmicos de vários países
como Myron Yakovlevich Sukharevskii na União Soviética, William H.
Pagamento e Donald Whitley Woodhead na Grã-Bretanha e Robert Williams nos
EUA descobriram que os projéteis poderiam se transformar durante as
explosões.
Em 1932, Franz Rudolf Thomanek, um estudante de física na de Viena
Technische Hochschule, concebeu uma arma antitanque arredondada baseada
no efeito da carga oca. Quando o governo austríaco não mostrou nenhum
interesse em desenvolver a ideia, Thomanek mudou-se para Berlim onde
continuou seus estudos sob a balística com o especialista Carl Julius Cranz.
Em 1935, Thomanek e Hellmuth von Huttern desenvolveram um protótipo
antitanque, cujo desempenho foi decepcionante, mas, Thomanek continuou o
seu trabalho, desenvolvendo e colaborando com Hubert Schardin na

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 84 -
Waffeninstitut der Luftwaffe (Instituto de Armas da Força Aérea Alemã) em
Braunschweig.
Em 1937, Shardin acreditando que os efeitos da carga oca foram devido
às interações de ondas de choque, durante um teste desta teoria em 4 de
Fevereiro de 1938, Thomanek criou a carga explosiva com o efeito da carga oca.
E em 1938, Gustav Adolf Thomer visualizou por meio de flash radiográfico o jato
metálico produzido por uma explosão em forma de carga. Enquanto isso, Henry
Hans Mohaupt, um engenheiro químico suíço desenvolveu de forma
independente a mesma teoria que em 1935 foi demonstrada às forças armadas
suíças, francesas, britânicas e americanas.

2.5.3. Fundamento do efeito Munroe.


O efeito Monroe foi aproveitado na indústria bélica, principalmente nos
projéteis perfurantes de blindagem, sob uma cavidade cônica contendo uma
carga explosiva e revestimento de cobre ou alumínio.
O efeito Munroe também é denominado de efeito ‘carga oca’ por que
utiliza uma chapa cônica de na direção oposta ao alvo com um espaço vazio e
cuja detonação do explosivo a uma determinada distância da blindagem, faz com
que a onda de detonação percorra o explosivo até atingir a cavidade onde
concentra os efeitos da detonação impostos e pela configuração geométrica
desta, aumentando a capacidade de penetração do artefato. Daí o fino
revestimento metálico em contato com a referida cavidade do explosivo amplifica
significativamente sua capacidade destrutiva porque as altas taxas de
deformação devido à pressão juntamente com a elevada energia cinética
imposta ao revestimento produzem um jato fino de metal derretido de altíssima
velocidade (mais de 8.230 m/s) que perfura blindagens (padrões) com mais de
cinco vezes o diâmetro da ogiva, abrindo na blindagem um orifício de oito a dez
vezes o diâmetro do próprio jato. Dentro do carro blindado há um sopro letal,
seguido por um jato divergente de partículas de metal em alta velocidade.
A figura 2.66 mostra um esquema de carga oca onde a cavidade cônica
tem um revestimento e iniciador (ou detonador). Nesta configuração de carga
produziu grande alongamento no revestimento, com deformações maiores que

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 85 -
10 (dez) vezes, devido às elevadas pressões da detonação do explosivo (Walters
e Zukas, 1989). Com o passar da onda de detonação pelo revestimento, este é
acelerado formando um pequeno ângulo com a superfície original do
revestimento, fazendo o material convergir no eixo de simetria, formando o jato
de material fundido da carga oca (Cooper, 1997). Geralmente o revestimento da
origem a uma parte que não contribui para a perfuração que neste trabalho será
denominado escória (em inglês slug). Na figura 2.66 vemos esquematicamente
a montagem da carga oca (figura 2.67) com a formação do jato de metal fundido.

Figura 2.66: Configuração de carga oca cônica.

Figura 2.67: Colapso da carga oca.

A figura 2.67 mostra que o jato de metal fundido interage com o alvo
(blindagem) produzindo uma perfuração devido ao deslocamento lateral do
material que compõem o alvo, com pouca influência dos efeitos térmicos

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 86 -
(Walters, 1990), caracterizando uma deformação plástica sob o alvo, onde a
blindagem, com recurso de um projétil que viaja a uma velocidade bastante
reduzida, sem necessidade de recorrer a um canhão de alta velocidade.
As figuras, 2.68 a 2.70, mostram a simulação computacional da detonação
de projetil de Carga Oca, fundamentada em dados experimentais, com a carga
oca atuando sobre o alvo (blindagem), detalhando a coloração das regiões
avermelhadas que correspondem aos locais de temperaturas elevadas.

Figura 2.68: Simulação da Carga Oca iniciando a formação do jato de metal fundido.

Nesta simulação o projétil usa uma cabeça explosiva com uma cavidade
cônica dentro dela, revestida de cobre e seu rosto aberto voltado para frente, de
modo que a explosão da carga à distância apropriada do escudo, forma um jato
de metal fundido dirigido contra a blindagem a mais de 6000 m/s, podendo formar
um furo na blindagem, que pode ser passante ou não.
Este sistema tem um ponto fraco que é a necessidade de uma placa para
que não entre em contato com a explosão, mas que mantenha uma certa
distância. Daí a utilidade da armadura espaçada que “desloca” o cone explosivo
da armadura principal que mais tarde foi utilizado por muitos veículos militares.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 87 -
Figura 2.69: Simulação da Carga Oca com jato de metal fundido atingindo a blindagem.

Figura 2.70: Simulação da Carga Oca com jato de metal fundido atingindo a blindagem.

2.5.4. Aplicações do efeito Munroe.

2.5.4.1. Aplicações militares do efeito Munroe.


Este efeito foi largamente utilizado pelos alemães no início da Segunda
Guerra Mundial, quando tiveram que utilizar canhões de baixa velocidade
(inadequados para atacar tanques) com munição de carga oca. Este tipo de
munição evoluiu após a guerra, passando a ser conhecido como HEAT (High
Explosive Anti Tank, Alto Explosivo Antitanque), perfurador de blindagens.
A figura 2.71 ilustra a secção transversal de um projétil HEAT com os seus
respectivos componentes que são empregados em mísseis antitanque guiados,

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 88 -
não guiados foguetes, projéteis disparados (ambos fiados e não fiadas),
granadas de fuzil, minas terrestres, pequenas bombas, torpedos, dentre outras.

Figura 2.71: Secção de um projétil HEAT mostrando seus componentes.

A figura 2.72 mostra a peça cônica de cobre que é posicionada de forma


especifica para criar o ‘efeito Monroe’.

Figura 2.72: Cone de cobre, que tem sua direção invertida pela detonação do explosivo.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 89 -
A figura 2.73 mostra que ao se acionar o projétil HEAT detona o explosivo
que gera calor sobre a peça de cobre (figura 2.72) que se funde formando um
jato de metal líquido em alta velocidade que atinge e perfura a blindagem. A força
desse jato de metal líquido pode ser dissipada pela ação da força centrifuga, por
isso, o bom desempenho e a precisão, dependem da estabilidade do projétil.

Figura 2.73: Detalhes da formação do jato de metal de alta velocidade.

A figura 2.74 mostra uma munição que utiliza o efeito Munroe (Carga Oca)
para causar seus efeitos, utilizada intensivamente em armas portáteis contra
veículos blindados, em granadas de tubo, dentre outras. Esta arma é composta
por um bloco de cobre moldado em forma cônica cujo vértice é apontando para
atrás e rodeado de explosivo. Ao impactar a espoleta contra o metal a
determinada distância, o explosivo detona e funde o conteúdo de cobre (desde
o centro do vértice orientado para atrás a sua base orientada à frente), em seu
interior enviando um jato de metal quente contra a blindagem, que inverte o cone
e direciona o jato em uma pequena área, que se rompe em partes diminutas; a
qual se expande a grande velocidade, provocando um efeito de metralha. É
especialmente efetiva contra blindagens de carros leves, sendo pouco efetiva
contra blindagens reativas.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 90 -
Figura 2.74: Munição HEAT com 84mm.

2.5.4.2. Aplicações não militar do efeito Munroe.


Nas aplicações não militares as cargas moldadas são usadas em
demolição explosiva de edifícios e estruturas, em particular para o corte através
de pilhas de metal, colunas e vigas e para abrir furos. Na siderurgia, estas cargas
são usadas em pequenas formas para perfurar panelas de fundição onde ficam
escória presas. Eles também são usados em pedreiras, quebrando o gelo,
quebrando compotas, derrubando árvores e buracos de estacas de perfuração.
Cargas moldadas são usadas mais extensivamente na perfuração e
completação de poços de petróleo e nas indústrias de gás natural, onde são
detonadas para perfurar o invólucro metálico do poço em intervalos para permitir
o fluxo de petróleo e gás.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 91 -
2.5.5. Dimensionamento da Carga Oca.
Os estudos da Munroe sobre a direção e concentração da energia
explosiva (velocidade erosiva dos gases) levaram-no a descobrir a capacidade
de perfuração de uma carga explosiva provida de uma cavidade cônica no final
anexada à superfície de submissão. Os primeiros testes de Munroe permitiram
que ele observasse o efeito produzido pelo arranjo de cartuchos de dinamite na
configuração cônica, com iniciação no ápice. A energia explosiva irradiou da
superfície interna do cone e concentrou-se em seu eixo longitudinal, projetando-
se em direção a sua base. O efeito desta energia em uma superfície de sujeição
é muito maior que o observado em configurações axiais e radicais das cargas
explosivas. A partir daí, Munroe determinou experimentalmente que a
profundidade da cratera erosiva na superfície submetida correspondeu a
aproximadamente 50% do diâmetro respectivo; uma vez que o peso da carga
explosiva oca é aproximadamente a metade da carga explosiva sólida, e o último
quase não produz um colapso da placa de aço.
Durante a Segunda Guerra Mundial os alemães utilizaram deste efeito em
armamentos. A granada poderia tinha modelos, entre 0,68 e 1,59 kg de uma
composição explosiva cuja composição era 46,4% de TNT e 53,4% de RDX.
Esta carga em combinação com o efeito unidirecional permitiu que Panzerfaust
penetrasse armaduras até 190 mm. Este dispositivo tinha uma granada com 4
barbatanas estabilizadoras que se abriram ao sair, estabilizando o voo do
pesado e lento granada.
A figura 2.75 mostra o ‘Panzerfaust 30’ surgido em agosto de 1943 como
uma versão melhorada do Faustpatrone cuja ogiva aumentou a capacidade de
penetração de armadura para 200 mm, mas com o mesmo alcance (30 m).

Figura 2.75: HEAT Panzerfaust 30.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 92 -
A figura 2.76 mostra o Panzerfaust 60, produzido em setembro de 1944,
com um alcance mais prático, 60 m, no entanto, com uma velocidade de saída
de apenas 45 m/s, o projétil leva 1,3 segundos para alcançar um alvo a essa
distância. Para alcançar a maior velocidade, o diâmetro do tubo foi aumentado
para 5 cm e utilizou 134 g como propelente. Ele pesava 6,1 kg e poderia penetrar
200 mm de armadura.

Figura 2.76: HEAT Panzerfaust 60.

A figura 2.77 mostra o Panzerfaust 100 que foi a última versão produzida
em grandes quantidades, desde novembro de 1944. Possui uma faixa nominal
máxima de 100 m. Os 190 g de propulsor explosivo lançaram a cabeça explosiva
a 60 m/s de um tubo de 6 cm de diâmetro. O aumento teve vistas para 30, 60,
80 e 150 m, e teve tinta luminosa para obter maior precisão em tiros noturnos.
Esta versão pesava 6 kg e poderia penetrar 220 mm de armadura.

Figura 2.77: HEAT Panzerfaust 100.

A tabela 2.7 mostra uma comparação com suas principais características


dos dispositivos supracitados desenvolvidos pelos alemães com base no efeito
Munroe e que foram utilizados durante a Segunda Guerra Mundial.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 93 -
Tabela 2.7: Principais características de HEAT usados na IIWW.
Modelo Faustpatrone Panzerfaust Panzerfaust Panzerfaust
30 60 100
Alcance 30 m 30 m 60 m 100 m
Velocidade 28 m/s 30 m/s 45 m/s 60 m/s
Penetração (30⁰) 140 mm 200 mm 200 mm 200 mm
Carga propulsora 54 g 95 g 134 g 190 g
Conjunto total
Longitude 98,50 cm 104,50 cm 104,50 cm 104,50 cm
Diâmetro (tubo) 3,3 cm 4,4 cm 5,0 cm 6,0 cm
Peso 3,2 kg 5,1 kg 6,1 kg 6,8 kg
Projetil
Largura 36 cm 49,5 cm 50 cm 49 cm
Diâmetro 10 cm 15 cm 15 cm 15 cm
Peso 1,47 kg 3,06 kg 3,06 kg 3,06 kg
Carga explosiva 0,80 kg 1,59 kg 1,59 kg 1,59 kg

Ao detonar a carga explosiva, a onda da detonação ataca o revestimento,


que é posicionado na direção ao eixo e cuja massa metálica é parcialmente
fundida e projetada para a frente e é rapidamente separada em duas partes "o
Noyo" animado com uma velocidade relativamente pequena e o "Jet" constituído
por uma massa menor, mas com velocidade muito alta (ordem de 10 km/s).
Para a formação do jato, constituído na peça por metal fundido, constitui
não apenas o revestimento de metal, mas os gases resultantes da detonação da
carga explosiva com alta densidade, pressão, temperatura e velocidade.
A perfuração deste tipo de projétil depende dos seguintes fatores:
 Ângulo do cone da carga;
 Peso e potência do explosivo;
 Classe e espessura do cone metálico;
 Distância da explosão para o escudo;
 Velocidade de rotação do projétil.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 94 -
Quando a carga oca acompanha o movimento de rotação do projétil, a
perfuração é menor, sendo assim mais efetiva as cargas vazias liberadas com
tubos de furação lisa do que com um tubo entediado.
No entanto, os tubos de diâmetro liso estabilizam o projétil menos do que
o furo, de modo que a tendência é usar tubos de fita, mas tentando evitar que a
rotação do projétil seja transmitida para a carga oca.
A velocidade restante não deve exceder certos limites para que o projétil,
ao bater na placa de armadura, não se desorganize, pois sua resistência ao
impacto é menor que a dos outros projéteis perfurantes.
A perfuração que é obtida com os projéteis de carga oca em fortificações
de concreto é quatro vezes maior do que na placa de armadura, praticando furos
de pequenos diâmetros (de 2 a 5 cm, dependendo do peso da carga) sem
produzir a desorganização da concreto portanto, seus efeitos são pequenos
contra o pessoal protegido por este tipo de trabalhos.
A perfuração pode ser determinada pela seguinte fórmula:

 pd 
e  L 
 pt 

Onde:
e: Espessura perfurada;
L: Longitude do dardo em centímetro;
pt: Densidade do material a ser perfurado;
pd: Densidade do dardo.

Os dos últimos valores são determinados mediante ensaios


experimentais.

 3 
e c
 4,5 
Onde:
e: Espessura perfurada;
c: Calibre do tudo da carga oca;

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 95 -
Os valores desta fórmula se ajustam aproximadamente aos resultados
reais.

e  0,6  p

Onde:
e: Espessura perfurada;
p: Peso da carga explosiva em quilos.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 96 -
2.6. Efeito craterante das explosões.

2.6.1. Considerações.
Historicamente este efeito foi observado numa cratera com um pouco
mais de 120 metros de diâmetro e cerca de 30 metros de profundidade na cidade
alemã de Oppau, em 1.921, figura 2.78, devido à explosão de cerca de 4.000
toneladas de fertilizantes a base de nitrato sulfato de amônio.

Figura 2.78: Cratera do acidente na cidade de Oppau na Alemanha (21-09-1921).

Daí análises forenses de incidentes envolvendo explosivos, muitas vezes


obrigou os peritos a estimarem a quantidade de explosivo usada a partir dos
danos observados a infraestrutura, o que não é uma simples tarefa. No entanto,
a base de cálculos práticos é a lei de Hopkinson, a qual afirma que a distância
de perturbação do centro de uma explosão é proporcional à raiz cúbica da
energia dissipada na explosão.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 97 -
2.6.2. Dimensionamento de crateras matematicamente.
No caso de explosivos químicos, em vez da energia, consideramos a
massa total do explosivo, no equivalente padrão que é o TNT. Como resultado
de medidas empíricas (Kinney e Graham, Explosive Shocks in Air, Springer-
Verlag, 1985), essa lei pôde ser estendida para uma fórmula simples obtida
experimentalmente (estudo estatístico de cerca de 200 explosões acidentais),
dada por:

D  0,8  M1/3

Onde:
M: Massa de explosivo, em quilogramas de TNT;
D: diâmetro da cratera, em metros.

A figura 2.79 mostra que a partir de 50 kg, mesmo, dobrando-se a massa


de explosivos, o efeito será aumentado em cerca de apenas 30%.

Figura 2.79: Processo de formação da cratera.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 98 -
2.6.3. Dimensionamento de crateras por gráficos.
A figura 2.80 mostra a curva de correlação entre as cargas e o diâmetro
da cratera, até 25 kg de TNT. E quanto maior a massa da carga explosiva irá

influenciar no diâmetro da cratera. A partir da fórmula empírica D  0,8  M ,


1/3

pode ser estimada não só a quantidade de explosivo em função do diâmetro da


cratera, mais podemos traçar a curva do comportamento desta equação para
podermos prever possíveis situações oriundas deste efeito.

Figura 2.80: Gráfico de estimativa de efeito de crateramento.

Segundo a equação D  0,8  M , na detonação do explosivo no solo, o


1/3

diâmetro e a profundidade da cratera, variam com a raiz cúbica da massa do


explosivo. Embora outros parâmetros também iram influenciar no diâmetro da
cratera, a exemplo da altura e da profundidade do centro de gravidade da carga,
em relação à superfície do terreno, tipo de explosivo, relação entre a Massa
metálica do invólucro do explosivo (C) e a massa do explosivo (M), tipos de solos,
condições do solo, dentre outros fatores.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 99 -
A figura 2.81 mostra o efeito de crateramento, para até 500 kg de TNT, de
forma teórica possibilita uma ideia para criar crateras para atender a finalidade
desejada como interdição de pista clandestina de pouso, estradas, criação de
trincheiras, etc.

Figura 2.81: Estimativa de efeito de crateramento.

A profundidade da cratera criada pela explosão é normalmente cerca de


¼ do diâmetro, dependendo também do tipo de solo envolvido. Para o explosivo
abaixo da superfície, o diâmetro da cratera aumenta inicialmente com a
profundidade da explosão, atingindo um máximo e então diminui
substancialmente.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 100 -
Aplicação 05: Para explosões.

(a) Calcule o diâmetro aproximado da cratera resultante de uma carga explosiva


equivalente a 60 kg de TNT.

D  0,8  M1/3  D  0,8   60 


1/3
 D  3,132 metros

(b) Calcule a massa aproximada de TNT responsável por uma explosão que
resulte numa cratera de 4 m de diâmetro.

4
    5   M  125 kg de TNT
3 3
D  0,8  M1/3  4m  0,8  M1/3  M1/3   5  M1/3
0,8

(c) Qual deve ser o aumento percentual na massa de um explosivo a fim de


dobrar o diâmetro da cratera resultante?

Considerando-se que: D  0,8  M


1/3

D1


0,8  M11/3


D1


0,8  M11/3

 1
3


 M11/3
3
 1 M1
2  1/3    
D2 
0,8  M21/3 
2D1 
0,8  M21/3     M2  8 M2

1 M1
 1 M2  8  M1  M2  8  M1  M2  800% de M1
8 M2

Análise: Para dobrar o diâmetro da cratera, devemos aumentar a carga do


explosivo em 800%, ou seja, aumentar 8 vezes mais.

Conclusão: O aumento da quantidade de explosivo aumenta até um valor que


varia de acordo com a situação e depois tende a não aumentar tanto, mesmo
com o aumento da carga explosiva.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 101 -
2.7. Efeitos das explosões sobre o corpo humano.

2.7.1. Efeito da sobrepressão sob o corpo humano.


Os efeitos da explosão sobre o corpo humano variam de acordo com a
intensidade da sobrepressão liberada. A tabela 2.8 apresenta alguns os
principais danos ao corpo humano conforme a intensidade da pressão.

Tabela 2.8: Efeito de sobrepressão em indivíduo adulto.


Pressão (BAR) Pressão (PSI) Dano
Até 0,0001 Até 0,0015 Suportável.
0,07 – 0,1 1,05 – 1,5 Derruba a pessoa.
0,35 – 1,0 5,25 – 1,5 Ruptura do tímpano.
2,0 – 5,0 30 – 75 Lesões nos pulmões.
7,0 – 15,0 105 – 225 Morte.

O corpo humano pode resistir a algumas explosões, dependendo da


intensidade da sobrepressão, a melhor forma de proteção é a “distância”.
 Bomba caseira: ocasiona uma explosão relativamente pequena, aprox. 1 psi
de sobrepressão e ventos de aprox. 65 km/h. Danos: ferimentos leves.
 Carro bomba: gera uma sobrepressão de 2 a 3 psi e ventos de até 160 km/h.
Danos: lesões graves, grandes danos estruturais, suficientes para matar
algumas pessoas.
 Ogiva nuclear de 1 MT: sobrepressão de 5 psi. Danos: força suficiente para
aniquilar várias cidades, causar ferimentos generalizados e diversas mortes.
 Bombas de 10 a 20 psi: com uma sobrepressão máxima de 10 psi, os ventos
atingem cerca de 500 km/h e nem o concreto reforçado aguenta tamanha
explosão. Acima de 20 psi, é morte na certa. No caso desse tipo de explosão,
os ventos podem chegar a até 800 km/h e os melhores exemplos disso são
as armas nucleares muito grandes (algumas já registraram efeitos de até 100
psi, como bombas de hidrogênio).

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 102 -
As explosões têm a capacidade de causar tanto ferimentos contusos
como penetrantes, além de outros danos devido ao deslocamento da onda de
choque sobre os tecidos cerebrais.
As explosões não são exclusivas das guerras, mas também à violência
civil, às atividades terroristas e ao transporte e armazenamento de materiais
explosivos, as explosões ocorrem de modo rotineiro. Nas explosões de volumes
relativamente pequenos de materiais sólidos, semissólidos, líquidos ou gasosos,
estes rapidamente ocupam volumes maiores. Tais produtos, em rápida
expansão, assumem a forma de uma esfera, a qual possui no seu interior uma
pressão muito mais alta que a atmosférica. Na sua periferia, se forma uma fina
camada de ar comprimido que atua como uma onda de pressão que oscila o
meio em que se propaga. À medida que se afasta do local de detonação, a
pressão rapidamente diminui (à 3ª potência da distância).
A energia contida no explosivo é convertida em: luz, causando danos
oculares, calor provocando queimaduras e pressão, criando ondas de choque
que arremessa objetos, desloca a própria vítima e acarreta aumento súbito de
um gradiente de pressão entre o ambiente e o interior do corpo acarretando dano
principalmente aos tímpanos e pulmões.
A fase positiva pode atingir várias atmosferas e durar bem pouco, porém
a fase negativa pode durar bem mais.
Quando uma bomba detona, a energia liberada irradia em todas as
direções ao mesmo tempo, em velocidades entre 3 a 9 km/s. À medida que esta
esfera de energia se expande, ela comprime e acelera as moléculas de ar ao
redor em uma onda de choque supersônica. Esta pressão extra só existe por
alguns milissegundos, mas é a principal causa de lesões e danos materiais
causados por explosivos. Quanto mais perto a pessoa estiver do epicentro da
explosão, mais grave é a ação da sobrepressão sob o corpo.
A força inicial da onda de uma explosão é imediatamente seguida por
ondas de choque de alta velocidade, que dão mais energia a tudo o que
atravessam, seja um muro de concreto ou seus órgãos vitais. À medida que uma
onda de choque passa por uma área, ela literalmente não deixa nada para trás:
essa parede de ar supersônico deixa um vácuo quase perfeito.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 103 -
Então, um segundo depois que seu corpo é severamente comprimido, ele
é submetido a uma força oposta de despressurização igualmente massiva.
As explosões de bomba ou dispositivos explosivos improvisados (IEDs)
que produzem uma onda sonora chamada ‘onda supersônica’, cujo movimento,
a amplitude e a duração da onda sonora resultam em pressão dentro do celebro
suficiente para causar danos ao tecido cerebral e as ondas cerebrais. Um
indivíduo não precisa estar fisicamente em movimento ou em contato com a
explosão para que esta lesão seja enorme.

2.7.2. Danos cerebrais oriundos de ondas de choque.


Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) já havia o entendimento
de que os militares expostos a explosões de bomba experimentaram
frequentemente problemas que eram conhecidos como choque de concha ou
“commotio cerebri” que deixavam muitos soldados incapazes de lutar. Nesta
época pouco se sabia sobre esta patologia, nem havia estudos sobre ela.
Atualmente é sabido que as pessoas expostas a ondas de choques
oriundas de explosões sofrem lesões cerebrais, as quais são semelhantes às
lesões cerebrais causadas por impactos mecânicos.
As ondas de choque causadas por explosões danificam os tecidos
cerebrais, desencadeando a Encefalopatia Traumática Crônica (CTE) cujos
sintomas podem surgir até duas semanas após a exposição.

A Encefalopatia Traumática Crônica (CTE) é uma


doença neurodegenerativa progressiva comum em pessoas que
receberam impactos na cabeça, tais como: ex-boxeadores e ex-
jogadores de Futebol Americano, que exerceram a profissão por
mais de 10 anos. Esta doença além de incurável só é detectada
através de autopsia.

A figura 2.82 mostra que em função da distância do indivíduo ao epicentro


da explosão influencia na intensidade da onda de choque irradiada, cujos danos
aos indivíduos incluem a morte. Nas proximidades do epicentro da explosão o
corpo sofre lesões primárias devido às ‘ondas de choque’ sobre o corpo serem

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 104 -
mais intensas; lesões secundárias causadas por fragmentos; lesões terciárias
devido ao lançamento do corpo sob o solo e/ou objetos e por último as lesões
quaternárias relacionas com todos os outros ferimentos não abrangidos pelos
três primeiros tipos, a exemplo de queimaduras.

Figura 2.82: Danos causados por explosões.

Outra doença neurológica oriunda da exposição as ondas de choque é a


TBI leve (neurodegeneração) e interrupções nos tratos de substância branca,
cujo dano é agravado se a pessoa tiver sofrido um TBI anterior (Davenport, Lim,
Armstrong et al., 2011). O sintoma do TBI inclui concussão cerebral que muitas
vezes diminuem ao longo de semanas, no entanto, algumas pessoas ainda
podem desenvolver sintomas crônicos ou síndrome pós-concomitante, distúrbios
do sono e sofrimento psicológico prolongado e complicações cerebrais cujos
efeitos patológicos ainda não são compreendidos pela medicina.

A Lesão Cerebral Traumática, representada pela TBI, é uma


lesão que não é de natureza degenerativa ou congênita, causada por
uma força física externa que produzi um estado de consciência
diminuído ou alterado, levando ao impedimento das capacidades
cognitivas e/ou de funcionamento emocional e de comportamento.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 105 -
Outras lesões cerebrais causadas por ondas de choque oriundas de
explosão incluem: concussão cerebral (Lemonick, 2011); Embolismo gástrico
agudo sistêmico induzido por barotrauma pulmonar pode obstruir os vasos
sanguíneos que vão ao cérebro, causando danos como edema, lesão axonal
difusa (LAD) e hemorragia (Fuse et al., 2011); Vaso espasmo, a constrição dos
vasos sanguíneos, pode ocorrer em regiões cerebrais e durar até um mês
(Levine & Kumar, 2013); Concussões cerebrais também podem aparecer nas
regiões fronto temporais e lóbulos occipitais devido ao deslocamento cerebral
(Elder, Mitsis, Ahlers et al., 2010).

A Lesão Axonal Difusa (LAD) é micro rupturas de axônios na


substância branca, nos grandes tratos dos hemisférios cerebrais e do
corpo caloso, responsáveis pela associação de áreas corticais distantes
e inter hemisféricas.

Concussão cerebral é uma lesão que afeta todas as áreas do


cérebro, principalmente no corpo caloso, podendo ocorrer em acidentes
de carro, quedas ou pancadas mecânicas como socos, chutes, dentre
outros. Até traumas leves podem causar pequenas concussões que
podem ocasionar problemas na memória, concentração, equilíbrio, e
deixar sequelas como epilepsia. Em casos mais graves, pode ocorrer
encefalopatia traumática crônica, doença degenerativa além de inchaços
e sangramentos.

2.7.3. Teorias sobre lesões cerebrais causadas pelas explosões.


Neste item trataremos resumidamente, as duas teorias que podem
explicar melhor como as ondas de choque causam lesões cerebrais.
A primeira teoria refere-se ao mecanismo da onda de pressão que postula
que as ondas de choque geradas pela explosão viajam pelo ar, impactando a
cabeça, passando pelo cérebro e causando sua aceleração e deformação
(Kovacs et al., 2014).
A figura 2.83 mostra que a onda de choque gera uma sobrepressão que
arremessa a vítima causando danos externos, e quando passam pelo corpo e
atinge o crânio fazendo o cérebro bater contra as paredes internas da caixa

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 106 -
craniana causando neurotraumas nos pontos do celebro que se deslocaram
violentamente contra o lado oposto do crânio num movimento conhecido como
“contragolpe” resultando em lesões neurológicas semelhantes às lesões
causadas por golpes mecânicos.

Figura 2.83: Cérebro sendo comprimido dentro do crânio.

A segunda teoria foi desenvolvida pelo Dr. Ibolja Cernak, desde as


Guerras dos Bálcãs, na década de 1990, entende que as lesões neurológicas
são induzidas pelas explosões, uma vez que os soldados expostos a explosões
ao serem examinados apresentaram déficits de memória, problemas de fala,
tonturas e dificuldades em tomada de decisão, sem apresentar quaisquer sinais
externos de lesão. Mas, uma ressonância magnética mostrou que os referidos
soldados apresentaram muitos danos internos no cérebro, incluindo ventrículos
alargados e hemorragias internas (Bhattacharjee, 2008).
Soldados que sofreram exposição a explosões e tiveram perda de
consciência sem lesões visíveis na cabeça ao retornarem da guerra no Iraque
reclamando de problemas cognitivos e comportamentais, resultando na
elaboração da teoria de Cernak para a patologia TBI, conhecida como ‘a teoria

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 107 -
da transmissão vascular, aduzindo que o soldado ao ser atingido pela onda de
choque, a energia cinética viajava através dos vasos sanguíneos em direção ao
cérebro. E afetava a área do tronco comprimindo os órgãos, forçando o sangue
dentro do crânio (Dennis & Kochanek, 2007). O pulso oscila rapidamente através
do pescoço entrando no cérebro, danificando axônios e neurônios no
hipocampo, tronco cerebral e estruturas ao redor dos vasos cerebrais. Os
animais que foram experimentalmente expostos a efeitos de explosão, tiveram
sérios danos neurológicos devido a alterações estruturais no cérebro. Mesmo
em bunkers de concreto, estes animais apresentaram microglial generalizada
devido ação das ondas de choque da explosão.

2.7.4. Classificação de lesões por explosões.


A figura 2.84 ilustra os efeitos básicos da explosão sob o corpo humano
que podem lesionar o mesmo, tanto no exterior, como no interior do corpo
humano. Os mecanismos de lesões por explosões classificam-se em: primárias,
secundárias, terciárias e quartanárias.

Figura 2.84: Lesões sob o corpo humano.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 108 -
2.7.4.1. Lesões primárias.
São causadas por ondas de sobrepressão, oriundas da explosão e que
se movem com velocidade aprox. de 3.048 m/s causando o deslocamento de ar
inicial e ondas de choque. Provocam os maiores danos, em relação às outras
lesões, quando mais próximo a pessoa estiver perto do epicentro das
detonações, por exemplo, as minas terrestres. A figura 2.85 mostra um corpo
sujeito à ação de lesões primárias devido à proximidade do epicentro.

Figura 2.85: Corpo sujeito a lesões primárias.

Geralmente estas lesões caracterizam-se pela ausência de lesões


externas e sim por lesões internas que frequentemente não são reconhecidas e
cuja gravidade é subestimada. Estas lesões surgem quase que exclusivamente
nos órgãos que contêm ar, que sofrem os efeitos mais lesivos das ondas de
choque por que gases são mais facilmente compressíveis em relação à água.
As principais lesões primárias ocorrem: No sistema auditivo onde podem
causar ruptura da membrana timpânica (TM) e dano da orelha média; nos
pulmões podem causar pneumotórax (que é hemorragia parenquimatosa),
ruptura alveolar (que pode provocar embolia gasosa) e barotrauma (trauma
pulmonar); no trato GI; Ruptura do globo ocular (olho); Hemorragia e perfuração
abdominal e Concussão cerebral.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 109 -
As lesões nos pulmões, especialmente ruptura alveolar (que pode
provocar embolia gasosa) se manifestam na forma de sintomas bizarros no
sistema nervoso central. Por isso sempre se deve suspeitar de lesões
pulmonares em vítimas de explosão, mesmo horas ou dias após a exposição aos
efeitos de uma onda de choque poderá haver lesões gastrointestinais. Porque a
gravidade e intensidade das lesões causada pela sobrepressão da explosão vão
depender da pressão e do tempo. Quanto maior a pressão ou a sua duração,
maior será a gravidade das lesões. Nas explosões subaquáticas, os órgãos mais
acometidos são os olhos (hemorragias e descolamento de retina) e rupturas
intestinais.

2.7.4.2. Lesões secundárias


As lesões secundárias são causadas pela fragmentação de objetos
diversos impulsionados contra vitima pela explosão. A figura 2.86 ilustra o
lançamento de fragmentos que atingirem a vítima criando ferimentos
semelhantes aos produzidos por armas brancas que podem atingir qualquer
parte do corpo. A figura 2.87 mostra o corpo de uma mulher com lesões
secundárias causadas por fragmentos lançados pela explosão.

Figura 2.86: Corpo sujeito a lesões secundárias.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 110 -
Figura 2.87: Lesões secundárias oriundas de fragmentos.

Há possibilidade do corpo da vítima ser arremessado sob objetos diversos


tais como vidro quebrado, peças soltas, metais afiados, fragmentos da bomba
que podem atingir qualquer parte do corpo, resultando em lesões, traumas,
perfurações com sangramentos visíveis e/ou intenso, podendo causar a morte
da vítima. Por isso algumas bombas antipessoais (granadas, bombas de pregos,
etc.) são deliberadamente projetadas com objetos que se fragmentam contra
vitima durante a explosão, causando lesões secundárias, sangramentos
externos e/ou internos, doenças (tétano, gangrena, etc.) inclusive a morte.

2.7.4.3. Lesões terciárias.


As lesões terciárias são lesões de natureza contundentes causadas pelo
deslocamento de ar da explosão que cria um sopro que podem arremessar a
vítima contra objetos sólidos, figura 2.88, resultando em lesões traumáticas
(interna e/ou externa) devido ao impacto contra o solo e/ou sob objetos perfuro
contundentes e/ou perfuro cortantes que podem atingir pontos vitais, podendo
causar sérias lesões que podem causar a morte da vítima.
As lesões terciárias também podem apresentar-se como uma combinação
de trauma (contuso e penetrante), fraturas ósseas e lesões de golpe-golpe

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 111 -
(quando o corpo quica como uma bola e cada quicada uma sequência de
traumas).

Figura 2.88: Corpo sujeito a lesões primárias.

A figura 2.88 mostra a cabeça da vítima se chocando ao solo devido a


ação da sobrepressão e da onda de choque, ambas viajando com velocidade
sônica, portanto, atingem a vítima antes dela atingir o solo. Assim os danos
cerebrais são causados tanto devido às ondas de choque como ao impacto da
vítima ao atingir o solo. Estas lesões atingem os tecidos celebrais no lado oposto
ao local que sofreu o trauma (figura 2.83), por exemplo, um golpe sofrido no lado
esquerdo da cabeça resulta em dano cerebral no lado direito, devido ao
movimento do celebro dentro do crânio. E crianças pequenas, corre um risco
particular de lesão terciária devido ao baixo peso.

2.7.4.4. Lesões quaternárias.


Estas lesões também conhecidas como ‘outras lesões’ e correspondem a
todas as lesões e/ou doenças oriundas à explosão que não são devidas a
mecanismos primários, secundários ou terciários.
Estas lesões incluem exacerbação e/ou complicações de condições
existentes. Por exemplo, no caso do 9/11 onde o ruído elétrico dos aviões no

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 112 -
World Trade Center criou uma onda de pressão relativamente alta que resultou
no incêndio e no colapso do edifício que matou milhares de pessoas.
Neste tipo de lesão pode ocorrer em qualquer parte do corpo podendo
ocorrer: Queimaduras (flash, parcial e espessura total); Lesões por
esmagamento; Lesões cerebrais (fechada e/ou aberta); Asma, DPOC ou outros
problemas respiratórios causados por poeira, fumaça ou vapores tóxicos;
Angina; Hiperglicemia; Hipertensão.
As amputações traumáticas rapidamente resultam em morte e, portanto,
são raras em sobreviventes, e muitas vezes são acompanhadas por outras
lesões significativas. A taxa de lesão ocular pode depender do tipo de explosão.
Lesões psiquiátricas, algumas das quais podem ser causadas por dano
neurológico durante a explosão, é a lesão quaternária mais comum, e transtorno
de estresse pós-traumático pode afetar pessoas que são completamente ilesos.
Este tipo de lesão pode ser causado tanto pelo calor liberado pela
explosão como por vapores e fumos. Podendo também ser causadas por
bombas sujas (bactérias, radiações, produtos químicos), fragmentos de restos
humanos (suicidas) podem ser incorporados em vítimas que pode ser
contaminado por doenças do suicida.
Também podem ocorrer amputações traumáticas rapidamente resultam
em morte e, portanto, são raras em sobreviventes, e muitas vezes são
acompanhadas por outras lesões significativas. A taxa de lesão ocular pode
depender do tipo de explosão. Lesões psiquiátricas, algumas das quais podem
ser causadas por dano neurológico durante a explosão, é a lesão quaternária
mais comum, e transtorno de estresse pós-traumático pode afetar pessoas que
são completamente ilesos.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 113 -
2.8. Distância segura de explosões.
Como vimos neste módulo às explosões podem causar muitos danos ao
corpo humano (inclusive a morte) e danos em estruturas, para que evitar tais
danos é preciso se abrigar e/ou posicionar numa distância segura a qual poderá
ser avaliada e dimensionada de vários modos como veremos a seguir.

2.8.1. Distância segura dos efeitos da sobrepressão.


Para a proteção contra os efeitos primários decorrentes de uma onda de
choque, ou seja, mudança brusca de pressão define-se uma distância de
segurança adequada, de modo que ao atingir o homem, à frente da onda esteja
com uma intensidade em sua variação, inferior a 0,07 Bar. A figura 2.89 mostra
a curva desta distância de segurança contra os efeitos diretos da onda de choque
sobre o homem versus peso líquido de explosivo.

Figura 2.89: Distância de segurança contra os efeitos diretos da onda de choque.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 114 -
2.8.2. Dimensionamento da distância segura da sobrepressão.
A distância de segurança apresentada no gráfico acima é eficaz
exclusivamente contra os efeitos da sobrepressão gerada pela onda de
choque de uma detonação.
Apesar de não ser o foco deste trabalho, um breve esclarecimento sobre
projéteis e fragmentos deve ser apresentado, para melhor compreensão sobre a
distância de segurança adequada para pessoal contra os efeitos indiretos.
Como esta lei de escala e outras considerações estão bem definidas na
literatura, apresenta-se uma regra geral para a definição da distância mínima
segura, utilizando os mesmos fundamentos:

rSeg.  120  3 W

Onde:
rSeg: Distância radial, em metros, do centro da explosão.

À distância, rSeg, é mínima para garantir a segurança de pessoas e


estruturas. E serve como uma rápida indicação para casos experimentais sem a
necessidade de cálculos mais aprofundados. Estes se fazem obrigatórios
quando avaliados os efeitos sobre estruturas ou sobre as pessoas.
As tabelas, 2.4 e 2.7, mostram os danos a pessoas e as estruturas devido
à sobrepressão das explosões.
Quando o intuito é se proteger contra os efeitos da onda de choque, para
o explosivo padrão TNT, podemos obter a ‘distância máxima’ ou ‘distância
segura’ onde a respectiva massa de explosivo deverá ser colocada ou lançada
sem que cause danos às pessoas e/ou estruturas.
A tabela 2.9, mostra as intensidades das pressões liberadas para as
distâncias de 100 e 200 metros, respectivamente, para cargas do explosivo
padrão TNT. A partir da qual poderemos fazer algumas correlações tanto com o
intuito de defesas como para causar danos nas edificações e pessoas.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 115 -
Tabela 2.9: Relação da sobrepressão com distância e massa do explosivo (TNT).

Para distância de 100 metros Para distância de 200 metros


Massa (kg de TNT) Pressão (BAR) Massa (kg de TNT) Pressão (BAR)
1 0,0083 1 0,0041
50 0,0313 50 0,0153
100 0,0400 100 0,0194
150 0,0463 150 0,0223
200 0,0516 200 0,0246
250 0,0561 250 0,0266
300 0,0602 300 0,0283
350 0,0639 350 0,0299
400 0,0673 400 0,0313
450 0,0705 450 0,0326
500 0,0736 500 0,0338
550 0,0765 550 0,0350
600 0,0793 600 0,0361
650 0,0820 650 0,0371
700 0,0846 700 0,0381
750 0,0870 750 0,0391
800 0,0895 800 0,0400
850 0,0918 850 0,0409
900 0,0941 900 0,0417
950 0,0964 950 0,0426
1000 0,0985 1000 0,0434
1050 0,1007 1050 0,0441

2.8.3. Dimensionamento da distância segura usando o fator ‘K’


Esta distância de segurança pode ser determinada pela fórmula a seguir:

 1
 
D  K  P n 

Onde:
D: Distância de segurança (pés, ft);

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 116 -
K: Fator experimental que depende do tipo de explosivo e das condições
do local onde se produz a explosão e as do local a proteger (ft/ lb⅓);
P: Peso líquido do explosivo em libras (lb) de TNT;
n: Parâmetro empírico que varia entre 2 e 6, refletindo a natureza dos
efeitos produzidos.

As tabelas, 2.10 e 2.11, mostram que o fator experimental ‘K’ varia de


acordo com a pressão da explosão, informação pesquisada por O’ Connor que
por sua vez elaborou fórmulas matemáticas para calcular a distância segura para
operacionais equipados, projéteis leves e pesados.

Tabela 2.10: Valor do fator K em função da pressão da explosão. Fonte: O’ Connor.


Pressão da Explosão

PSI Pa Fator ‘K’

0,07 482,6 300


0,10 689,5 250
0,50 3.447,4 75
1,00 6.894,7 45
2,00 13.789,5 30
3,00 20.684,3 20
4,00 27.579,0 18
5,00 34.473,8 15
6,00 41.368,5 14
7,00 48.263,3 13
8,00 55.158,0 12
9,00 62.052,6 11
10,0 68.947,6 10
15,0 103.421,3 8
20,0 137.895,1 7
30,0 206.842,7 6
40,0 275.790,3 5
60,0 413.685,4 4
100,0 689.475,7 3,5
200,0 1.378.951,4 3

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 117 -
Tabela 2.11: Fator ‘K’ relacionados à pressão e a distância. Fonte: O’ Connor.
Fator ‘K’ Pressão da explosão
⅓ Distância segura
(ft/ lb ) PSI KPa
6 27 186,1584 Paióis protegidos por barricadas.
9 12 82,7371 Paióis e instalações com barricadas.
11 8 55,1581 Paióis.
18 4 27,579 Instalações que manipulam explosivos.
24 – 30 2,3 – 1,7 15,9 – 11,7 Rodovias públicas.
40 – 50 1,2 – 0,9 8,3 – 6,2 Prédios habitados.
300 0,07 0,4826 Contra projéteis pesados.
500 Contra projéteis leves.

2.8.4. Dimensionamento da distância segura a partir da carga explosiva.


Para cargas explosivas de até 2,5 kg de TNT por furo, podemos calcular
a distância segura através da seguinte fórmula:

D  4,4  3 C

Onde:
D: Distância segura, em metros;
C: Carga explosiva, kg de TNT.

A tabela 2.12 mostra resultados obtidos através da equação D  4,4  C .


3

Tabela 2.12: Distância segura para carga de até 2,5 kg de TNT por furo.
Carga (kg de TNT) Distância segura (m)
0,10 2,00
0,25 2,70
0,50 3,50
De 0,50 a 2,0 5,50
2,5 6,00

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 118 -
Quando a carga explosiva supera 13,5 kg de TNT, a fórmula para
determinação da distância segura é dada por:

D  100  3 2  C
Onde:
D: Distância segura;
C: Carga explosiva para TNT e/ou equivalentes.

Recomendação de segurança: Para pessoal desabrigado o raio mínimo de


segurança é de 300 metros e o raio mínimo para pessoal abrigado o raio mínimo
passa a ser de 100 metros.

A tabela 2.13 mostra valores no sistema internacional e britânico que


associam à massa explosiva a distância segura. Embora existam equações que
possam fazem a mesma associação para o explosivo padrão (kg de TNT).

Tabela 2.13: Relação entre massa do explosivo em TNT e distância de segura.

Explosivo Distância de segurança


Libra (lb) Quilograma (kg) Pés (ft) Metros (m)
1 -27 0,453 – 12,25 900 274,3
28 12,7 910 277,4
30 13,6 930 283,5
32 14,5 951 289,9
34 15,4 965 294,1
40 18,1 1020 310,9
42 19 1030 314,0
44 19,9 1050 320,0
46 20,9 1065 324,6
48 21,8 1080 329,2
50 22,7 1104 336,5
55 24,9 1141 347,7

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 119 -
60 27,2 1170 356,6
65 29,5 1200 365,7
70 31,7 1225 373,4
75 34 1260 384,0
80 36,3 1290 368,5
85 38,5 1310 399,3
100 45,3 1400 426,7
125 56,7 1500 457,2
300 136,1 2000 609,6
400 181,4 2200 670,6
500 226,8 2400 731,5

As aplicações, 05, 06, 07 e 08, a seguir mostram formas de cálculos para


distâncias seguras fazendo uso dos dados mencionados.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 120 -
Aplicação 06: Supondo uma carga explosiva de 100 libras de TNT, a uma
distância de 100 metros, pede-se para calcular: a sobrepressão e os danos
causados.
Resolução:
Pela tabela 2.10 sabemos que 100 Libras de TNT equivalem a 45,3 kg de
TNT. Então:

Cálculo da pressão liberada pela carga explosiva.

Da tabela 2.10, obtemos:


Carga Explosiva (kg de TNT) Pressão (BAR)
45,3 P
50 0,0313
100 0,0400

Para obtermos o valor desejado deveremos fazer uma interpolação,

 100  45,3   0,0400  P 


 100  50    0,0400  0,0313  
   

 0,0400  P 
1,094   
 0,0087 

0,0400  P  0,0095178 
P  0,0304822 Bar P  0,30 Bar

Conclusão: Conforme a tabela 2.5, para 100 metros, e de acordo com a tabela
2.4 a pressão liberada pela explosão de 45,3 kg de TNT (P ≈ 0,030 Bar) é
suficiente causar pequenos danos em construções inclusive danos em vidraças.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 121 -
Aplicação 07: Supondo uma carga explosiva com 7 libras de TNT, e
estabelecendo o fator K = 300 para a distância de segurança com a pressão de
0,07 psi, conforme tabela 2.5, que em nada afetaria o corpo humano. Calcule a
distância de segurança para os efeitos da pressão e para segurança contra
projéteis leves.
Resolução:
 1
n
Utilizando-se da equação: D  K  P  
 para qual arbitrariamente
adotamos n = 3, como parâmetro empírico. Então:

 1 
 n 3 
D  K P  
D  K  3 P

Cálculo da distância segura para pressão de 0,07 PSI.


Conforme a tabela 2.8, para projéteis pesados utilizaremos K = 300.

D  K  3 P D  300  3 7 D  573,8793548pés  174,9metros

Obs.: 1 pé = 0,3048 metros.

Cálculo da distância segura para projéteis leves.


Conforme a tabela 2.8, para projéteis leves, temos K = 500.
Sabemos que: 1 atm = 1,01325 BAR = 14,695949 PSI.

D  K  3 P D  500  3 7 D  956,465591pés  291,53metros

Conclusão: Para garantir a segurança contra a explosão de projéteis leves (7


libras de TNT) para K = 300 é de 174,9 metros e para K = 500 é de 291,53
metros.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 122 -
Aplicação 08: Considerando-se a detonação de 273,5 kg de TNT. Pergunta-se:
Qual a pressão resultante desta explosão numa vidraça de 2x1 m, a uma
distância de 100 metros? Neste caso qual seria a distância segura?
Resolução:

Cálculo da pressão em BAR.


Em observação a tabela 2.9, para a distância de 100 metros.
Para distância de 100 metros Para distância de 200 metros
Massa (kg de TNT) Pressão (BAR) Massa (kg de TNT) Pressão (BAR)
250 0,0561 250 0,0266
273,5 P
300 0,0602 300 0,0283

Interpolando-se os valores da tabela para a carga de 273,5 kg de TNT,


teremos:
273,5  250 P  0,0561 Bar
  P  0,0580 Bar
300  250 0,0602 Bar  0,0561 Bar

Cálculo da pressão de explosão sobre a vidraça

Como 1 Bar  1kgf / cm e P = 0,0580 Bar, logo:


2

Sendo a área da vidraça 2 m2 = 20.000 cm2

P  0,0580 Bar  0,058kgf / cm2 


P
Área
  
 P  Área  0,058kgf / cm2 
   
P  20.000cm2  0,058kgf / cm 2  P  1.160kgf

Resp.: P = 1.160 kgf

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 123 -
Análise 09: A detonação de 273,5 kg de TNT numa distância de 100 metros
gera um impacto de 1.160 kgf sobre a vidraça.
Resolução:

Cálculo da distância segura (D)


Este trabalho mostra basicamente três formas de se calcular à distância
segura, que geralmente convergem para um valor próximo. Entretanto, quanto à
terceira forma, através da tabela 2.11, para este caso não é possível por que a
carga de explosivo é maior do que o valor presente na referida tabela.

Primeira forma de cálculo da distância segura.

Este cálculo pode ser feito através da fórmula D  100  2C


3

D  100  3 2  273,5 D  817,83m

Segunda forma de cálculo da distância segura.


Através da tabela 2.5, podemos associar a pressão em PSI ao fator K,
então: 1 Bar  14,5038 PSI

Conforme a pressão calculada, no item anterior (0,0580 Bar), teremos:


0,058 Bar  0,058 14,5038 PSI  0,84122 PSI

Conforme a tabela 2.11, para pressão de 0,84122 PSI, não temos um


valor para ‘K’ na referida tabela, por isso devemos fazer uma interpolação entre
os valores.
Pressão da explosão
Fator ‘K’
PSI Pa
18 4 27.579
K 0,84122
300 0,07 482,6

500 Pressão atmosférica Pressão atmosférica

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 124 -
K  18 0, 84122 PSI  4 PSI
  K  244,66
300  18 0,07 PSI  4 PSI
 1
n
Adotando n = 5, para efeito de cálculos, utilizando-se a fórmula: D  K  P  

Mas, a carga deve estar em libras, logo, P = 273,5 kg = 602,96429 libras.

D  244,66  5 (602,9636lb) D  880,28 metros

Terceira forma de cálculo da distância segura.


Podemos ir direto a tabela 2.13, que para carga de 273,5 kg de TNT,
observe, conforme já mencionado, para carga não tem como obter um valor para
uma interpolação segura, mas, se mesmo assim interpolarmos os valores ainda
sim se chega a um valor próximo do calculado anteriormente.

Explosivo Distância de segurança


Libra Quilograma Pés Metros
400 181,4 2200 670,6
500 226,8 2400 731,5
- 273,5 - D

273,5  181,4 D  670,6


  D  794,14
226,8  181,4 731,5  670,6

Análise: Observe que o valor determinado por último através da interpolação,


chega a um valor próximo, conforme comentado, mas, não preciso. Se fizermos
um tratamento estatístico, teremos uma distância segura de (830,75 ± 62,93)
metros.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 125 -
A tabela 2.14 mostra outra relação entre distância segura em relação à
detonação do TNT. Desta maneira, para aumentar o nível de segurança, há outra
fonte de comparação como demonstrados nas Tabelas 2.9 e 2.10 desenvolvidas
pela International Association of Bomb Technicians and Investigators - IABTI5
(Associação Internacional dos Investigadores e Técnicos em Bombas) e que
podem complementar a determinação de áreas de segurança.

Tabela 2.14: Relação entre distância e dano para detonação de TNT.


Distâncias perigosas para explosões com cargas de TNT
TNT (kg) Distância da explosão em metros
Possibilidade de Possibilidade de Possibilidade de
Carga
ruptura dos tímpanos dano aos pulmões morte
0,5 5 2 1,5
1,0 6 3 2
2,5 9 4 2,5
4,5 11 5 3
7,0 12 5,5 3,75
9,0 13 6 4
11,5 14 6,5 4,33
13,5 15 7 4,66
16 16 7,33 4,66
18 17 7,66 5
20,5 17,5 8 5,25
22,5 18 8,25 5,25

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 126 -
2.9. Balanço de Oxigênio.

2.9.1. Reações de oxidação.


O caráter explosivo das substâncias químicas depende da existência nas
moléculas de certos grupos atômicos instáveis, provenientes de fracas ligações
entre átomos com pequenas diferenças de eletronegatividades.
Os explosivos consistem em sistemas químicos metaestáveis e as
explosões representam a ruptura de uma situação de equilíbrio precário com a
consequente formação de substâncias mais estáveis.
Quando explosivos reagem, produzem energia através de um processo
chamado oxidação, que varia conforme a composição química do explosivo.
Neste conteúdo veremos como prever a composição dos produtos de oxidação
e como quantificar o grau de oxidação.
Uma reação de oxidação é uma reação química que acontece quando um
combustível está queimando e/ou quando um explosivo detona. E produz calor
porque a energia interna do produto (final) é mais baixa, em relação aos
reagentes. Esta diferença entre as energias internas dos reagentes e produtos é
chamada o calor de reação.
Quando um combustível queima completamente com oxigênio, boa parte
fica num estado oxidado, e o calor da reação é chamado o calor de combustão.
E quando um material explosivo detonar para formar seus produtos, o calor de
reação é chamado o calor de explosão.
O calor de reação (combustão ou explosão) por peso de unidade de
reagentes (combustível mais oxidante) é maior quando houver bastante oxidante
para queimar todo o combustível a seus produtos deixando-os mais oxidado
possível. O estado de oxidação mais alto corresponde ao mais baixo estado de
energia interna. A maioria dos explosivos é contém carbono, hidrogênio,
nitrogênio e oxigênio (CHNO). O estado de oxidação mais alto de carbono
quando queimado com oxigênio gera o gás carbônico (CO2); o estado de
oxidação mais alto de hidrogênio quando queimado com oxigênio gera água
(H2O); as moléculas de Nitrogênio (N2) quando estão no estado mais baixo de
energia interna que os óxidos de nitrogênio (NO, NO2, N2O3, et.); então,

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 127 -
quaisquer nitrogênios nos reagentes formam (N2) nos produtos. Sempre há
alguma quantidade de NOx, mesmo que na condição de vestígio, ou seja, menos
de 1% do peso molecular do reagente.
A figura 2.90 mostra os principais gases e vapores, liberados pela
decomposição de explosivos com suas respectivas consequências, em relação
ao balanço de oxigênio.

Figura 2.90: Gases e vapores liberados com a decomposição do explosivo.

Examinando a reação equacionada a seguir, onde uma simples queima


ou reação de oxidação, nós achamos que ‘1’ quantidade de metano, um gás,

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 128 -
queima com ‘2’ quantidades de oxigênio para formar ‘1’ quantidade de gás
carbônico e ‘2’ quantidades de água.

CH4  2O2  CO2  2H2O

O calor de reação é 212,8 kcal (por Mol de metano). Desde 1 Mol de


metano pesa 16,042 gramas e 2 Mols de oxigênio pesam 64,0 gramas, o calor
de reação por peso é dado por:

Calor da Reação  212,8 kcal 
   2,659 kcal/g 
PMReagentes  16,042g  64,0g 

Nos nitroderivados, nos nitratos, nas nitraminas, nos compostos


diazóicos, nas azidas, nos fulminatos, nos cloratos, nos percloratos, nos
peróxidos e nos cloroaminas as ligações interatômicas são de baixa estabilidade,
facilitando a decomposição dos mesmos na reação química.
Devido à grande variedade de substituintes, faz-se necessário
conhecermos a nomenclatura dos compostos orgânicos. A instabilidade química,
intimamente associada à sensibilidade, é ainda favorecida se na proximidade
dos grupos instáveis coexistirem outros átomos susceptíveis de constituir com
eles ligações fortes, como exemplo, os átomos de carbono (C) e de hidrogênio
(H) presentes no explosivo nitroglicerina (NG). Estes elementos apresentam uma
maior afinidade para o oxigênio, conduzindo à formação de dióxido de carbono
(CO2) e vapor de água (H2O) e a libertação, sob a forma elementar, de azoto e
de átomos de oxigênio remanescentes.
A decomposição de substâncias explosivas é uma reação de oxidação-
redução em que ocorre transferência de elétrons, na qual uns átomos perdem
elétrons e outros recebem. Na grande maioria das decomposições explosivas o
oxidante é por excelência o oxigênio e a explosão consiste numa combustão. A
extraordinária velocidade é possível graças a uma íntima mistura do comburente
(fornecedor de oxigênio) com o combustível. Nos explosivos químicos o oxigênio

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 129 -
faz parte das respectivas moléculas sob a forma de grupos atômicos instáveis
(essencialmente, NO2).
A maioria dos ingredientes dos explosivos é composta de oxigênio,
nitrogênio, hidrogênio e carbono. Para misturas explosivas, a liberação de
energia é otimizada quando o balanço de oxigênio é zero (BO = 0), por que a
mistura tem oxigênio suficiente para oxidar completamente todos os
combustíveis (óleo diesel, serragem, carvão, palha de arroz etc.) presentes na
reação, mas não contém excesso de oxigênio que possa reagir com o nitrogênio
na mistura para formação de NO e NO2 e nem a falta de oxigênio que possa
gerar o CO, pois além de altamente tóxicos para o ser humano, esses gases
reduzem a temperatura da reação e, consequentemente, diminuem o potencial
energético e a eficiência do explosivo.

2.9.2. Efeitos Estequiométricos.


Ao adicionarmos mais um mol de metano reagir com dois de oxigênio
presente, ainda haverá combustível que permanece na reação. Considerando
que este combustível extra não queime, não irá contribuir para produção de
calor, mas acrescentado peso na combinação. Ainda que o calor evolua pela
reação permanecerá e o calor por peso de unidade de reagentes que será mais
baixo, mesmo quando houver oxidante de excesso. A relação entre combustível
e oxidante deve ser precisamente equilibrada (nenhum excesso de combustível
ou oxidante) para que a chamada a relação de estequiométrica seja equilibrada.
Para a reação entre metano e oxigênio, o metano é queimando e o oxigênio
forma água e gás carbônico, a relação de estequiométrico equilibrada
(combustível para oxidante) é 2.0.
A figura 2.91 mostra que o calor por peso de unidade de reagentes varia
em função da relação estequiométrica do raio molar. Por isso no caso do metano
há necessidade de um oxidante que não provenha de uma fonte separada do
combustível, podendo existir como parte da mesma molécula como o
combustível; este é o caso em a maioria dos explosivos. Por exemplo, o
nitroglicol (figura 2.92) o oxidante está nos dois grupos de substituintes (- ONO2)
e o combustível é a porção de hidrocarboneto (- CH2 - CH2 -).

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 130 -
2.9.3. Produtos de reação.
Como, já mencionamos, a maioria dos explosivos consiste em carbono,
hidrogênio, nitrogênio, e oxigênio, neste caso são chamados de explosivos de
CHNO, cuja fórmula genérica é expressa por:

CxHyNwOz

Este conhecimento é importante, por que, o balanço de oxigênio (BO) é


facilmente calculado quando se conhece a fórmula química do explosivo quando
puro ou das percentagens dos componentes e suas fórmulas químicas quando
em misturas. Assim, sendo a reação de decomposição devido à detonação da
substância explosiva é dada por:

CxHyNw Oz 
 x  C  y  H  w  N  zO

Onde:
x: número de átomos de carbono (C);
y: número de átomos de hidrogênio (H);
w: número de átomos de nitrogênio (N);
z: número de átomos de oxigênio (O).

Neste caso, os átomos se recombinam para formar os produtos finais da


reação, cujas reações abaixo mostram os produtos típicos formados:

2N  N2

2H  O  H2O

C  O  CO
CO  O  CO2

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 131 -
A figura 2.91 mostra que a reação ocorre com uma substância que irá
queimar quando o explosivo for detonado, cuja molécula de reagente é
completamente quebrada em seu componente individual.

Figure 2.91: Energia Específica produzida através da reação do metano com o oxigênio.

A molécula do nitroglicol (figura 2.92) possui precisamente o oxigênio


necessário para queimar todo o carbono formando o CO2. Esta reação não
ocorre com todos os explosivos. E alguns explosivos têm oxigênio mais que
suficiente para queimar todo o carbono e formar o CO2. Estes explosivos são
sobre oxidados ou detonados com combustível.

O2NO  CH2  CH2  ONO2


Figure 2.92: Nitroglicol.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 132 -
As combinações de explosivos que não têm bastante oxigênio para
queimar todo o carbono para formar o CO2 são sub oxidados por que o
combustível está pobre em oxigênio e em todos os casos, a de reação de
formação dos produtos formados pode ser calculada usando as "regras do dedo
polegar."
a) Todo o nitrogênio forma N2;
b) Todo o hidrogênio é queimado a H2O;
c) Qualquer oxigênio depois que formar H2O queime formando CO ou CO2.
d) Qualquer oxigênio depois de formação CO queima o CO a CO2.
e) Qualquer oxigênio restante forma O2.
f) Vestígios de NOx (óxidos mistos de nitrogênio) menos de 1%.

Estas regras de formação de produto para explosivos e propulsores de


fórmula molecular genérica, (CHNO), porém se o explosivo tivesse contido
qualquer aditivo de metal, estes provavelmente não oxidariam até que todos os
anteriores passos de oxidação foram completados. Os vestígios de NOx, que é
inferior a 1%, por exemplo, uma detonação de TNT ao ar livre, quando medida
mostram que 0,2 a 0,5% NOx se formam, em relação ao total nos produtos
reagente que não são diluídos.
Quando a reação entre o hidrogênio e o oxigênio ocorre de forma

estequiométrica, formando a água, 5H  2,5O  2,5H2O é recomendado que

se verifique as quantidades de átomos de produtos e reagentes.


A figuras, 2.93 e 2.94 mostram as moléculas de alguns explosivos sub
oxidados, para serem usadas em equações e cálculos.

Figure 2.93: Nitroglicerina (sobre oxidada).

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 133 -
Figure 2.94: RDX (sub oxidado).

A reação de oxidação da nitroglicerina (figura 2.85) é dada por:

C3H5N3O9  3C  5H  3N  9O

a) 3N 1,5N2

b) 5H  2,5O  2,5H2O (6,5 O, remanescente)

c) 3C  6O  3CO2 (0,5 O, remanescente).


(8,5 dos 9 átomos de oxigênio disponíveis queimaram todo o hidrogênio e a
H2O e todo o C para CO2. Ainda há 0,5 O átomo permanecendo).

d) 0,5O  0,25O2 .

A reação global é C3H5N3O9 1,5N2  2,5H2O  3CO2  0,25O2

Para o RDX (figura 2.94) a reação de oxidação é a seguinte:

C3H6N6O6  3C  6H  6N  6O

a) 6N  3N2 .

b) 6H  3O  3H2O (3 O remanescente).

c) 3C  3O  3CO (Todo O é usado na reação; não forma CO2).

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 134 -
A reação completa é: C3H6N6O6  3N2  3H2O  3CO

Para alguns explosivos, os produtos da reação são combustíveis,


especificamente o carbono livre (C) e o monóxido de carbono (CO). Depois de
queimar, a reação de detonação estará completa, os produtos gasosos se
expandem, podendo se misturar no ar com o oxigênio, gerando uma chama, que
ao queimar forma o CO2 que se mistura ao ar. Esta segunda reação é chamada
de ‘globo de fogo secundário’ cuja chama também pode ser abastecida tais
outros materiais inflamáveis presentes, como colas, solventes, dentre outros
quando estiverem misturados com o explosivo. Desde que os mesmos
explosivos ‘sub oxidados’ produzem carbono livre (formar uma fumaça preta)
cuja presença é uma indicação da sub oxidação severa.
A figura 2.95 mostra uma explosão ocorrida num posto de gasolina que
resultou na formação de ‘globo de fogo secundário’ devido a presença de
vapores voláteis oriundos dos combustíveis presentes no momento e que
acabaram sendo incinerados por causa da explosão.

Figure 2.95: Explosão com formação de Fogo Secundário.

A figura 2.96 mostra uma molécula do explosivo TNT cuja reação de


oxidação é transcrita a seguir.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 135 -
Figure 2.96: TNT (muito sobre oxidado).

A reação do TNT é dada por: C7H5N3O6  7C  5H  3N  6O

a) 3N 1,5N2 .

b) 5H  2,5O  2,5H2O (3,5 O remanescente)

c) 3N 1,5N2 (6,5 O remanescente)

 3,5CO  todo o O é usado  + 3,5C .


d) 7C  3,5O 

A quantia relativa de oxigênio em um explosivo é bastante importante por


que influencia na quantidade de energia liberada na detonação. Quando um
explosivo tem oxigênio exatamente equilibrado, nem rico nem pobre, este ao
detonar produz a energia máxima por peso de unidade daquele explosivo. A
quantia relativa de oxigênio, em relação ao oxigênio exigido para oxidar
completamente o combustível no propulsor do explosivo é expresso
quantitativamente como “Balanço de Oxigênio (BO)”.
Analisando o resultado de uma detonação com deficiência de 3 átomos
de oxigênio por unidade de CH2. Desde que cada molécula do nitrato de amônio
apresenta excesso de um átomo de oxigênio, 3 unidades de nitrato de amônio
são necessárias para o balanço de cada unidade de óleo diesel na mistura de
AN/FO. Equilibrando a equação temos a equação a seguir:

3N2H4O3  CH2  CO2  7H2O  3N2

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 136 -
Teoricamente, quando o balanço de oxigênio, BO, for zero, os principais
gases produzidos na detonação são: CO2, H2O e N2 e na realidade pequenas
quantidades de NO, CO, NH2, CH4 dentre outros gases podem ser formados.
Considere a mistura ideal do nitrato de amônio (N2H4O3) e óleo diesel (CH2):

N2H4O3  CH2  CO2  H2O  N2

A tabela 2.15 exemplifica um cálculo da necessidade de oxigênio observe


que para valores negativos correspondem à deficiência do elemento químico e
valores positivos correspondem o excesso.

Tabela 2.15: Cálculo da necessidade de oxigênio para equilibrar a equação.


Compostos Fórmula Produtos desejados Necessidade (-) ou
Químicos química na reação Excesso (+) de oxigênio
Nitrato de Amônio N2H4O3 N2; 2H2O +3 – 2 = + 1
Óleo diesel CH2 CO2; H2O –2–1=–3

Necessidade de oxigênio: – 3.

Nota: Conforme a tabela x, há uma deficiência de – 3 átomos de oxigênio.

2.9.4. Balanço de oxigênio BO – Método I.


Recorrendo à fórmula geral para explosivo ou propulsor, CHNO, e se todo
o carbono pudesse ser queimado formando gás carbônico, nós precisaríamos
do número de átomos de oxigênio duas vezes maior por que temos átomos de
carbono (ou 2x oxigênio). Semelhantemente, queimar todo o hidrogênio molar,
1 átomo de oxigênio para todo 2 átomos de hidrogênio (ou oxigênio de y/2) é
requerido. Para ser equilibrada, precisamos fazer esta combinação (2x + y/2) de
átomos de oxigênio, teremos 'z' átomos de oxigênio.
Então, a quantidade (z - 2x - y/2) é uma medida do equilíbrio do BO para
esta molécula. Quando o número é negativo, z < (2x - y/2) significa que tem
menos oxigênio que precisa para combustão completa; então, o material é sobre

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 137 -
oxidado. Quando z > (2x - y/2), a quantidade de oxigênio é positiva, significa que
há oxigênio mais que suficiente e a molécula é super oxidada.
É habitual expressar o BO em porcentagem do peso de oxigênio em
excesso em relação ao peso do explosivo, multiplicando a expressão (z - 2x -
y/2) que está em números de átomo pelo peso atômico (AW) de oxigênio e
dividindo pelo peso molecular (MW) do material explosivo. Então teremos:

AW(O2 )   y 
BO%    z  2x      100%
MW Exp    2 

1.600   y 
Como o MWO = 16, então: BO%   z  2x     %
MW Exp    2 

O peso molecular (MW) da molécula explosiva seja simples (CHNO) é a


soma do peso de todos os átomos, dada pela fórmula molecular do explosivo,
cujos pesos atômicos dos quatro elementos, CHNO, estão na tabela 2.16,
originando a fórmula a seguir para calcular o peso molecular do explosivo:

MWExp  12,01 x  1,008  y  14,008  w  16  z

Tabela 2.16: Peso Atômico dos Elementos CHNO dos Explosivos.


Elemento Químico Peso Atômico
Carbono 12,010
Hidrogênio 1,008
Nitrogênio 14,008
Oxigênio 16,000

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 138 -
Aplicação 10: Calcule o Balanço de Oxigênio para os explosivos a seguir,
analisando o referido balanço de oxigênio.

a) Explosivo Nitroglicol ( C2H4N2O6 )

Cálculo do Peso Atômico (MWExp)


Sendo: x = 2; y = 4, w = 2 e z = 6,

MWExp  12,01 x  1,008  y  14,008  w  16  z

MWExp  12,01  2   1,008   4   14,008   2   16   6 

MWExp  152,068

Cálculo do Balanço de Oxigênio (BO)


1600   4 
BO   6  2  2      BO  0%
152,068   2 

Análise: A quantidade de oxigênio está equilibrada, na quantidade certa.

b) Explosivo Nitroglicerina ( C3H5N3O9 )

Cálculo do Peso Atômico (MWExp)


Sendo: x = 3; y = 5, w = 3, and z = 9,

MWExp  12,01 x  1,008  y  14,008  w  16  z

MWExp  12,01 3   1,008  5   14,008  3   16  9 

MWExp  227,094

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 139 -
Cálculo do Balanço de Oxigênio (BO).
1600   5 
BO   9  2  3      BO  3,52%
227,094   2 

Análise: A quantidade de oxigênio está desequilibrada, em excesso.

c) Explosivo RDX ( C3H6N6O6 )

Cálculo do Peso Atômico (MWExp)


Sendo: x = 3; y = 6, w = 6 e z = 6,

MWExp  12,01 x  1,008  y  14,008  w  16  z

MWExp  12,01 3   1,008   6   14,008   6   16  6 

MWExp  222,126

Cálculo do Balanço de Oxigênio (BO)


1600   6 
BO   6  2  3      BO  21,61%
222,126   2 

Análise: A quantidade de oxigênio está desequilibrada, há menos oxigênio que


o necessário.

d) Explosivo TNT ( C7H5N3O6 )

Cálculo do Peso Atômico (MWExp)


Sendo: x = 7; y = 5, w = 3, and z = 6,

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 140 -
MWExp  12,01 x  1,008  y  14,008  w  16  z

MWExp  12,01 7   1,008  5   14,008  3   16  6 

MWExp  227,134

Cálculo do Balanço de Oxigênio (BO)


1600   5 
BO   6  2  7      BO  73,97%
227,134   2 

Análise: A quantidade de oxigênio está desequilibrada, há menos oxigênio que


o necessário.



















Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 141 -
2.9.5. Balanço de oxigênio BO – Método II.
O Balanço de Oxigênio (BO) possibilita avaliar a toxidez dos gases da
explosão, isto é, o oxigênio que entra na composição do explosivo pode estar
em falta ou em excesso, estequiometricamente, resultando uma transformação
completa ou incompleta. Quando a transformação é completa, os produtos
resultantes são CO2, H2O e N2, todos não tóxicos. Na realidade pequenas
proporções de outros gases (NO, CO, NH3 e CH4 etc.) também são geradas,
mas não comprometem a boa qualidade dos produtos finais.
A pesquisa do BO de um explosivo apresenta uma grande importância
prática, não só do ponto de vista da formação dos gases tóxicos, mas, porque
ela está correlacionada com a energia da explosão, o poder de ruptura e outras
propriedades do explosivo usado. O máximo de energia é conseguido quando o
BO é zero. Na prática, esta condição é utópica (Reis, 1992). Os explosivos
podem ser representados por uma fórmula geral ( CaHbOcNd Xe ) onde ‘X’ é um

metal.
No caso da decomposição de um explosivo que não recebe elementos
metálicos, a equação da transformação completa é dada por:

CaHbOcNd Xe 
Detonação
 x  CO2  y  H2O  z  N2

Equilibrando a equação, teremos um sistema de equações abaixo:


ax
b
b  2y  y   
2
d  2x  y

b
Substituindo os valores em ‘c’, teremos: c  2x  y  c  2  a    .
2

Desta forma quando então a transformação é completa, tendo em vista os


produtos de reação.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 142 -
Aplicação 11: Para o explosivo ANFO calcule o Balanço de Oxigênio
Resolução:

Sabemos que o explosivo ANFO é uma mistura ideal de nitrato de amônio


(N2H4O3) com o óleo diesel (CH2), cuja reação química é:

N2H4O3  CH2  CO2  H2O  N2

Cálculo as percentagens de N2H4O3, CH2 por massa de mistura de AN/FO:


Usando as massas moleculares da tabela 2.13, podemos calcular a soma
das massas moleculares dos produtos a partir das massas atômicas:
(Al = 27; C = 12; O = 16; H = 1; N = 14).

N2H4O3
PM  3   2  14  4  1  3  16  

PM  3   28  4  48  

PM  3   80  

PM  240

CH2
PM  12  2  1
PM  14

A percentagem do nitrato de amônio na mistura será:


 Peso Molecular do excesso de oxigênio 
BO     100%
 Peso Molecular da Nitroglicerina 

 240   240 
BO     100%     100%  94,4881%  BO  94,5%
 240  14   254 

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 143 -
Então sabemos que 240 g de nitrato de amônio reagem com 14 g de
carbono quando o balanço é perfeito, isto quer dizer que o óleo deve representar
em massa o seguinte percentual:

 14   14 
PÓleo     100%     100%  5,512%  PÓleo  5,5%
 240  14   254 


Conclusão: Neste caso, para o explosivo ANFO, para que o Balanço de
Oxigênio, BO, seja positivo (BO> 0). Deve haver uma proporção de 94,5% de
nitrato de amônio para 5,5% de óleo, fugindo dessa proporção o Balanço de
Oxigênio poderá ser negativo (BO < 0), o que não é interessante para um
desmonte de rochas devido aos inconvenientes tais como a eficiência do
explosivo, geração de gases tóxicos, dentre outros.

















Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 144 -

Aplicação 12: Para o explosivo Nitroglicerina calcule o Balanço de Oxigênio
Resolução:
Na reação da Nitroglicerina (C3H5O9N3) onde o oxigênio existente na
molécula, neste caso 9 átomos de oxigênio, o oxigênio necessário, poderá ser

verificado através da fórmula: CaHbOcNd Xe  C3H5O9N3 .

Portanto, ‘a = 3‘ e ‘b = 5’
b b 5
Mas, c  2x  y  c  2  a     C  2a   2  3   C  8,5 átomos
2 2 2

Análise: Há um excesso de 0,5 átomo de oxigênio.

Cálculo do peso molar da nitroglicerina (NG)


Considerando que a fórmula química da NG é C3H5O9N3

PMNG  3  12  5  1  9  16  3  14  PMNG  227

Cálculo do Balanço de Oxigênio (BO)


Para este cálculo devemos conhecer a reação química, descrita abaixo,

C3H5O9N3  3CO2  2,5H2O  3N  0,5O

Conclusão: Assim o excesso de oxigênio é 0,5  16 = 8. Portanto,

 Peso Molecular do excesso de oxigênio   8 


BO     100%  BO     100% 
 Peso Molecular da Nitroglicerina   227 

BO  3,52%  0 Há excesso de oxigênio

Nota: Explosivos mal iniciados ou desbalanceados geram mais gases tóxicos.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 145 -
A nitroglicerina (C3H5N3O9) é uma substância sobre oxidada que
apresenta um excesso de oxigênio (BO = + 3,5%). A equação química global é
a seguinte:

C3H5N3O9  3C  5H  3N  9O

3N 1,5N2

5H  2,5O  2,5H2O

3C  6O  3CO2

0,5O  0,25O2

A reação global da nitroglicerina é:

C3H5N3O9 1,5N2  2,5H2O  3CO2  0,25O2 .

A reação de oxidação do explosivo trinitrotolueno (TNT) é:

C7H5N3O6  7C  5H  3N  6O

3N 1,5N2

5H  2,5O  2,5H2O

7C  3,5O 3,5CO  3,5C

Sendo a reação global traduzida pela seguinte equação química:

C7H5N2O6 1,5N2  2,5H2O  3,5CO

Efetuando os cálculos dos balanços mássicos, constata-se que o TNT é


uma substância sub oxidada (BO < 0), apresentando uma carência química de
oxigênio de – 74%.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 146 -
O composto conhecido comercialmente como RDX (ciclo – 1,3,5-trimetil-
2,4,6-trinitroamina) cuja fórmula química é C3H6N6O6 é um composto suboxidado
(BO < 0), cuja reação de decomposição é:

C3H6N6O6  3N2  3H2O  3CO .

Apresenta um valor de BO = – 21,6% < 0.

Quando se trata da velocidade de explosão (v), isto é, a velocidade com


que se propaga ao longo da massa do explosivo a decomposição deflagrante ou
detonante, é também uma das características mais importantes, por condicionar
fortemente as suas propriedades propulsoras ou de ruptura. Quando se trata de
uma deflagração, em que o fenômeno explosivo é nitidamente químico, a
velocidade de decomposição depende da concentração dos gases e,
consequentemente, da respectiva pressão, bem como da temperatura atingida.
A tabela 2.17 apresenta algumas características de alguns explosivos
inorgânicos, ou seja, explosivos que não são constituídos por hidrocarbonetos,
geralmente são ácidos iônicos, bases ou sais.

Tabela 2.17: Propriedades físicas de alguns explosivos inorgânicos.


Densidade Ponto de fusão Velocidade de
Nome teórica (g/cm3) (C) detonação (mm/ms)

Fulminato de mercúrio 4,43 Decompõe-se 4,25


(HgO2N2C2)
Azida de chumbo 4,80 Decompõe-se 4,63
(PbN6)
Azida de prata 5,10 251,0 w/d 4,00
(AgN3)
Nitrato de amônia 1,72 169,6 5,27
(NH4NO3)

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 147 -
Como o TNT possui um balanço de oxigênio negativo (BO < 0), oxidantes
como os nitratos e os compostos explosivos sobre oxidados (BO > 0), são
utilizados como aditivos. A tabela 2.18 apresenta-se algumas percentagens (%)
de aditivos para misturas utilizadas como explosivas.

Tabela 2.18: Explosivos fundidos de base TNT.


Nome TNT NH4NO3 Ba(NO3)2 RDX Al2O3 Cera
comercial (%) (%) (%) (%) (%) (%)
AMATEX 50 50 – – – –
AMATOL 60 40 – – – –
AMONAL 67 22 – – 11 –
BARONAL 35 – 50 – 15 –
DBX 40 21 – 2,5 18 –
HBX-1 38 – – 40 7 5
PTX-1 – – – – – –
TORPEX 40,5 – – 40,5 18 1

Quanto aos aditivos da nitroglicerina, estes podem ser absorventes (e.g.


serra de madeira, farinha de milho, garapa e óxido de zinco), oxidantes (e.g.
nitrato de amônia, nitrato de sódio e nitrato de potássio) e outros como, por
exemplo, o carbonato de cálcio, cloreto de sódio e parafina. As dinamites
utilizadas para fins militares, não possuem nitroglicerina, mas sim TNT e RDX.
Os explosivos militares diferem no tamanho do cartucho, mas não na sua
composição. São geralmente designados por M1 (1,25 in diâmetro por 4 in de
comprimento), M2 (1,5 in de diâmetro e 8 in de comprimento) e M3 (1,5 in de
diâmetro e 12 in de comprimento). Estes materiais explosivos, geralmente, são
impregnados em papel de parafina, de forma a poderem ser usados, mesmo
depois de imersos 24 horas em água.
Os principais explosivos militares utilizados em combate são os
trinitrobenzenos poli substituídos [e.g.trinitroxileno (TNX), trinitrocresol,
triaminotrinitrobenzeno (TATB), ciclotrimetilenotrinitroamina (RDX) e

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 148 -
ciclotetrametilenotetranitroamina (HMX)] e os explosivos inorgânicos (e.g.
fulminato de mercúrio, azida de chumbo, nitrato de amônia e azida de prata).
A tabela 2.19 exemplifica alguns explosivos de uso militar e/ou civil com
suas respectivas propriedades de interesse prático.

Tabela 2.19: Exemplos de explosivos militares.


Nome Composição Densidade Velocidade de Pressão Energia
3
comercial (%) (g/cm ) detonação (m/s) (GPa) (MJ/kg)
Ácido pícrico 100 1,77 7.350 23,9 4,396
TNT 100 1,65 6.900 22,2 4,396
Composto B 60 RDX 1,65 7.800 24,4 4,995
40 TNT
Composto C-4 90 RDX 1,72 8.040 25,7 5,852
10 Poliisobutileno
Octol 76 HMX 1,81 8.476 34,3 4,497
24 TNT
PBX-9501 95 HMX 1,84 8.800 36,5 ——
2,5 Estano
2,5 BDNPF
HNS 100 1,72 7.000 26,2 5,695

2.9.6. Balanço de oxigênio BO – Método III.


Este método consiste no cálculo da quantidade de oxigênio (Constante de
O2) necessário para que a reação entre os reagentes seja completa numa
detonação. Esta constante se calcula por meio da equação a seguir:

Moles de O 2   Peso Molecular do O 2 em gramas 


Cte. O2 
Moles do composto   Peso molecular do composto em gramas 

Quando:
Cte. > 0: A reação libera O2.
Cte. < 0: A reação recebe O2, por que o oxigênio é insuficiente.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 149 -
Os explosivos geralmente são misturas de sustâncias químicas do tipo
oxidante e combustível.
O balanço de oxigênio (BO) se expressa geralmente em porcentagem,
neste cálculo se multiplica a porcentagem presente em cada uma das sustâncias
químicas presentes em no explosivo por sua respectiva constante de oxigeno; e
seus resultados se somam.
No caso de deficiência de oxigênio, o balanço de oxigênio se dá com sinal
negativo. Para muitos explosivos a sensibilidade, a potência e o poder rompedor
aumentam conforme o teor do Balanço de Oxigênio (BO) basta alcançar um
máximo no ponto de equilíbrio.
Quando os explosivos detonam com Balanço de Oxigênio (BO) positivo
tem oxigênio em excesso, o oxigênio disponível se combina com os átomos de
carbono para formar o dióxido de carbono (CO2) e óxidos de nitrogênio, alguns
de cor roxa. Os fumos liberados indicam uma quantidade de combustível
insuficiente na reação, que pode ser devido a uma mistura segregada de
combustível.
Os explosivos detonam com Balanço de Oxigênio (BO) negativo, a reação
ocorre com oxigênio insuficiente, se formam óxidos incompletos, em particular o
monóxido de carbono (CO) que é venenoso e incolor. Os gases nitrosos se
reduzem muito, por que em muitos casos os explosivos se formam com um
pequeno balanço de oxigênio negativo.
Os explosivos comerciais devem ter um Balanço de Oxigênio (BO)
próximo de zero para minimizar a quantidade de gases tóxicos, particularmente
o monóxido de carbono (CO) e gases nitrosos presentes nos fumos.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 150 -
Aplicação 13: Calcule a constante de oxigênio para o explosivo PETN.

C 5 H 8 N 4O12  O2    5CO 2  4H 2O  2N 2
Detonação

Resolução:

Cálculo do peso molecular da PETN.

PM PETN  5  12  8  1  4  14  12  16  PM PETN  316

Cálculo da Constante de Oxigênio


Moles de O 2   Peso Molecular do O 2 em gramas 
Cte. O2 
Moles do composto   Peso molecular do composto em gramas 

 2  16  32
Cte. O2   Cte. O2   Cte. O2  0,101
1 316 316

Análise: Como Cte. = – 0,101 < 0 a reação recebe oxigênio e libera gases.

Conforme a figura 2.88, o balanço de oxigênio

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 151 -
Aplicação 14: Calcule a constante de oxigênio para o explosivo TNT.

2C 7 H 5 N 3O6  10,5O2    14CO2  5H 2O  3N 2


Detonação

Resolução:

Cálculo do peso molecular da pentrita.


PMTNT  7  12  5  1  3  14  6  16   PMTNT  227

Cálculo da Constante de Oxigênio


Moles de O 2   Peso Molecular do O 2 em gramas 
Cte. O2 
Moles do composto   Peso molecular do composto em gramas 

 21  16  336
Cte. O2   Cte. O2   Cte. O2  0,740
2  227 454

Análise: Como Cte. = – 0,740 < 0, como o Balanço de Oxigênio é negativo a


reação ocorrer com deficiência de oxigênio, formando óxidos incompletos. Neste
caso os gases nitrosos se reduzem muito, havendo formação de monóxido de
carbono (CO) que é um gás venenoso e incolor. Os produtos gasosos se refletem
em fumos e gases cinzas em alguns casos fuligens nas paredes dos furos.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 152 -
Aplicação 15: Calcule a constante de oxigênio para o explosivo Pentolita 50/50.
Dado: Pentolita 50/50 = 50% de PETN + 50% de TNT. Há liberação de gases?
Resolução:
Como a reação da Pentolita 50/50 se dá conforme a equação a seguir:

PETN  TNT  O2 


Detonação
Água  Nitrogênio livre  CO2

C 5 H 8 N 4O12  2C 7 H 5 N 3O6  11,5O2    19CO2  9H 2O  5N 2


Detonação

Conforme tinha sido calculado nas aplicações 12 e 13, temos:

Cte. O2 PENT = – 0,101;

Cte. O2 TNT = – 0,740.

Cálculo da Constante de Oxigênio


Cte. O2 Pentrita   %PENT  Cte. O2 do PENT    %TNT  Cte. O2 do TNT 

Cte. O2 Pentrita   50%  Cte. O2 do PENT    50%  Cte. O2 do TNT 

Cte. O2 Pentrita   0,50  (0,101)   0,50  (0,740)

Cte. O2 Pentrita   0,0505    0,370 

Cte. O2 Pentrita  0,4205

Análise: Como Cte. O2 = – 0,4205 < 0, como o Balanço de Oxigênio é negativo,


faz a reação ocorrer com deficiência de oxigênio, formando óxidos incompletos.
Neste caso os gases nitrosos se reduzem muito, havendo formação de monóxido
de carbono (CO) que é um gás venenoso e incolor. Os produtos gasosos se
refletem em fumos e gases cinzas em alguns casos fuligens nas paredes dos
furo.

Resp.: Cte. O2 = – 0,4205 < 0 a reação recebe oxigênio e libera gases.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 153 -
Aplicação 16: Define-se balanço de oxigênio de um explosivo, expresso em
percentagem, como a massa de oxigênio faltante (sinal negativo) ou em excesso
(sinal positivo), desse explosivo, para transformar todo o carbono, se houver, em
gás carbônico e todo o hidrogênio, se houver, em água, dividida pela massa
molar do explosivo e multiplicada por 100. O gráfico a seguir traz o calor liberado
na decomposição dos explosivos, em função de seu balanço de oxigênio.

Para o explosivos tetranitrato de pentaeritritol (PETN, C5H8N4O12). A


equação química da decomposição desse explosivo pode ser obtida, seguindo-
se as seguintes regras:
 Átomos de carbono são convertidos em monóxido de carbono.
 Se sobrar oxigênio, hidrogênio é convertido em água.
 Se ainda sobrar oxigênio o CO é convertido em CO2.
 Todo o nitrogênio é convertido em nitrogênio gasoso diatômico.

a) Escreva a equação química balanceada para a decomposição do PETN.


b) Calcule, para o PETN, o balanço de oxigênio.
c) Calcule o ΔH de decomposição do PETN, utilizando as entalpias de formação
das substâncias envolvidas nessa transformação.
d) Que conclusão é possível tirar, do gráfico apresentado, relacionando calor
liberado na decomposição de um explosivo e seu balanço de oxigênio?

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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Substância O PETN
Massa molar (g/mol) 16 316

Entalpia de formação das substâncias da reação.


Substância PETN(s) CO2 (g) CO (g) H2O (g)
Entalpia de Formação (kJ/mol) −538 −394 −110 −242

Resolução:
a) A reação de decomposição do PETN será.
A equação química balanceada da decomposição do PETN:

C5H8N4O12 
5C  8H  4N  12O
Considerando e equacionando as decomposições temos:
5C  12O 
 5CO  7O

8H  7O 
 4H2O  3O

3CO  3O 
 3CO2

4N 
 2N2

C5H8N4O12 
Detonação
3CO2  2CO  4H2O  2N2

Ou ainda de acordo com as regras dadas:

I. Átomos de carbono são convertidos em monóxido de carbono. Como na


fórmula do PETN temos 5 átomos de carbono e 12 átomos de oxigênio,
transformamos todo o carbono em CO. Na molécula que “sobra” do explosivo,
não temos mais átomos de carbono e temos 5 átomos de oxigênio a menos.

C5H8N4O12 
 5CO(g)   H8N4O7 

II. Se sobrar oxigênio, hidrogênio é convertido em água. Como na fórmula


restante temos 8 átomos de hidrogênio, eles serão transformados em 4

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 155 -
moléculas de água. Na molécula que “sobra” do explosivo, não teremos
também átomos de hidrogênio e teremos 4 átomos de oxigênio a menos.

C5H8N4O12 
 5CO(g)  4H2O  N4O3 

III. Se ainda sobrar oxigênio, monóxido de carbono é convertido em dióxido de


carbono. Todo o nitrogênio é convertido em nitrogênio gasoso diatômico.
Como na fórmula restante sobraram 3 átomos de oxigênio, é possível
transformar 3 moléculas de CO em CO2, restando então 2 moléculas de CO.
Os quatro átomos de nitrogênio formarão duas moléculas de N2. A equação
balanceada para a decomposição do PETN fica assim:

C5H8N4O12 
3CO2 (g)  2CO(g)  4H2O  2N2

b) Cálculo da massa de oxigênio faltante na decomposição de 1 mol de PETN.


Considerando-se a equação química a seguir,
CO  [O] CO2

1mol [O] 16 g [O]


2mols CO    32 g [O]
1mol [CO] 1mol [O]

Cálculo do balanço de oxigênio é feito utilizando-se a seguinte expressão.


A equação para representar o cálculo do balanço do oxigênio é:
C5H8N4O12 
Detonação
5CO2  2N2  4H2O

Para formar apenas dióxido de carbono (CO2) e água (H2O) são


necessários 14 átomos de oxigênio no explosivo, conforme observamos nos
produtos enquanto o reagente tem apenas 12 átomos de oxigênio, portanto
faltam dois átomos de oxigênio ‘– 2’ que é a massa faltante de oxigênio. Então:

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 156 -
 Massa [O]
Balanço   100%
Massa do Explosivo

 2  16g 
Balanço     100%  Balanço  10,12%
 316g 

c) Cálculo da entalpia de decomposição do PETN (ΔH).


HDecomposição  HProdutos  HReagentes

  
HDecomposição  2HCO  3HCO2  4HH2O  2HN2  HC5H8N4O12 
HDecomposição  2  (110 )  3  (394 )  4  (242)  2  (0)   538 

HDecomposição  1.832kJ / mol

d) Analisando-se o gráfico, observa-se que quando o balanço de oxigênio


diminui, ou seja, se aproxima de zero, maior será a quantidade de calor liberada
por massa de explosivo. Neste caso, no intervalo de ‘– 80%’ a 0%, e a partir
deste ponto a quantidade de calor diminui. Vale lembrar que o melhor explosivo
é aquele cujo balanço de oxigênio tende a zero.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 157 -
2.10. Bibliografia utilizada.

a) Apostila de Explosivos e Propelentes.

b) Artigo; Título: BLAST – Efeitos da Onda de Choque no Ser Humano e nas


Estruturas. 2007. 107f. Tese de Mestrado – Instituto Tecnológico de Aeronáutica,
São José dos Campos.

c) CAP Édio Pereira Lima Júnior, Departamento de Ciência e Tecnologia do Instituto


Militar de Engenharia – IME. Orientador: Prof. Arnaldo Ferreira, Ph.D. Dissertação
de Mestrado: Simulação computacional do colapso do cone de carga oca sob
o efeito de onda de detonação. Publicação: Rio de Janeiro/ RJ, 2012.

d) Dissertação de Mestrado, ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Orientador:


Prof. Dr. Koshun Iha. Dissertação: BLAST – EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE NO
SER HUMANO E NAS ESTRUTURAS. Publicação: São José dos Campos, 2007.

e) ENRIQUE MUNARETTI, UFRGS, Tese DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE


DESEMPENHO DE MISTURAS EXPLOSIVAS A BASE DE NITRATO DE AMÔNIO
E ÓLEO COMBUSTÍVEL. Publicação: Porto Alegre/ RS, 2002.

f) IBM QUÍMICA – BRITANITE – Manual Básico de Utilização de Explosivos –


Quatro Barras – PR – BRASIL.

g) JOSÉ BERNAOLA ALONSO, JORGE CASTILLA GÓMEZ, JUAN HERRERA


HERBERT – DEPARTAMENTO DE EXPLOTACIÓN DE RECURSOS MINERALES
Y OBRAS SUBTERRÁNEAS – PERFORACIÓN Y VOLADURA DE ROCAS EN
MINERÍA – Publicacione: Madrid/ Espanha, 2013.

h) João Paulo Sousa, Major de Engenharia João Carlos Martins Rei – PROELIUM –
REVISTA DA ACADEMIA MILITAR – FORMAÇÃO EM QUÍMICA DE EXPLOSIVOS
NA ACADEMIA MILITAR.

i) PAUL W COOPER – BOOK EXPLOSIVES ENGINEERING. Publicação: New


York, EUA, 1996.

Módulo 02: Conceitos e efeitos

- 158 -
j) Notas de aulas da disciplina Instalações e Serviços Industriais – Riscos de
Explosões.

k) UNIVERSIDADE DE TECNOLOGIA DO CHILE – INACAP.

l) Manuel Tomás Marques do Souto Gonçalves; Universidade Nova de Lisboa;


Dissertação: REFORÇO DE PLACAS DE BETÃO ARMADO COM
ARGAMASSAS ARMADAS PARA ACÇÕES DE EXPLOSÃO; Publicação:
Março, 2015. 91p.

m) Wilson Carlos Lopes Silva, Koshun Iha e Paulo Cesar Miscow Ferreira; Artigo
Dimensionando explosivos em cabeça de guerra para o efeito de sopro,
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Publicação: São José dos
Campos/ SP, 2007.

n) Rincon Florez, J. F.; Fonseca Becerra, J. E. & Carvajal Medina, R. J. (2015,


julio-diciembre). Calculo de parametros termodinamicos para explosivos
militares. Aplicacion de fundamentos termodinamicos y propiedades de los
explosivos militares. Rev. Cient. Gen. José María Córdova 13(16), 221-239.

o) CNEL (Av.) MAXIMO SEMENZIN. Principio de Carga Hueca. CURSO DE


TECNICOS EN DEMOLICIONES Y DESACTIVACION DE BOMBAS Y
EXPLOSIVOS.

p) Site: https://es.wikipedia.org/wiki/Condiciones_de_Chapman-Jouguet&prev=search

q) Site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Operation_Upshot-Knothole_-_Badger_001.jpg

r) Site: http://www.geocities.com/CapeCanaveral/Launchpad/2909/page18.html

s) Site: http://www.pontoderaciocinio.com/2015/03/veja-onda-de-choque-de-uma-explosao.html

t) Fonte: http://armasvoadoras.blogspot.com.br

Módulo 02: Conceitos e efeitos

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