Você está na página 1de 3

06/12/2019 'E deixe os Portugais morrerem...' - 24/10/2013 - Pasquale - Ex-Colunistas - Folha de S.

Paulo


Login

Assine a Folha

Atendimento

Acervo Folha SEXTA-FEIRA, 6 DE DEZEMBRO DE 2019 20:39

Opinião Poder Mundo Economia Cotidiano Esporte Cultura F5

Sobre Tudo

Últimas notícias Buscar...


Fábio Assunção diz que é bom falar de drogas na dramaturgia e não com

ex-colunistas colunistas co

Professor de português desde


pasquale cipro neto 1975, é colaborador da Folha
desde 1989. É o idealizador do
Escreveu até dezembro de 2016
programa "Nossa Língua
Portuguesa" e autor de obras

'E deixe os Portugais morrerem...' inculta@uol.com.br

EM COLUNISTAS
24/10/2013 14h54
+ + + ÚLTIMAS
LIDAS COMENTADAS
ENVIADAS
Compartilhar 0
Mais Mônica Bergamo: Justiça
opções 1 suspende reforma da
Previdência de Doria em SP
Estava na capa da Folha do último dia 15: "Dilma manda rivais estudarem;
Marina vê retrocesso no país". Alguns leitores reclamaram do emprego da Reinaldo Azevedo: Mataram
forma "estudarem", ou seja, reclamaram do emprego da forma flexionada do 2 o sono de Bolsonaro
Macbeth
infinitivo. Para esses leitores, a forma correta seria "Dilma manda rivais
estudar". Mônica Bergamo: Deputado
3 do PT vai à Justiça para
suspender Previdência
Ai, ai, ai... Como diz uma querida senhora (que não está longe dos 80), "pode estadual de SP
até pensar, mas não pode dizer". Tradução: é melhor eu não dizer o que penso Tati Bernardi: O chato
da arbitrariedade dessas "autoridades linguísticas". 4 apaixonado

Quem já teve dois segundos de interesse pelos fatos da língua sabe muito bem Hélio Schwartsman:
que o emprego do infinitivo é verdadeira cilada. Vale a pena ver o que diz 5 Revolução judicial
sobre o tema a sempre importante "Nova Gramática do Português
Contemporâneo", dos queridos e saudosos Celso Cunha (brasileiro) e Lindley
Cintra (português):

"O emprego das formas flexionada e não flexionada do infinitivo é uma das
questões mais controvertidas da sintaxe portuguesa. (...) Em verdade, os
escritores das diversas fases da língua portuguesa nunca se pautaram, no
caso, por exclusivas razões de lógica gramatical, mas se viram sempre, no ato
da escolha, influenciados por ponderáveis motivos de ordem estilística, tais
como o ritmo da frase, a ênfase do enunciado, a clareza da expressão. Por
tudo isso, parece-nos mais acertado falar não de regras, mas de tendências
que se observam no emprego de uma e de outra forma do infinitivo".

Em seguida, os autores dão uma relação de algumas das tendências


observadas, o que também se vê em outras boas gramáticas, que, como a de
Cunha e Cintra, também se baseiam na observação das tendências.

Uma dessas tendências se refere ao caso em tela (o da manchete da Folha),


em que há um verbo auxiliar chamado causativo ("mandar") + infinitivo
("estudar"). Dizem as boas gramáticas que, nesses casos, quando o sujeito do
infinitivo é expresso por um pronome oblíquo, o infinitivo costuma ocorrer
em sua forma não flexionada: "Eu as deixei entrar"; "Ele os mandou sair";

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2013/10/1361455-e-deixe-os-portugais-morrerem.shtml 1/3
06/12/2019 'E deixe os Portugais morrerem...' - 24/10/2013 - Pasquale - Ex-Colunistas - Folha de S.Paulo
"Não nos deixeis cair..."; "Mande-os ler"; "Faça-os ficar"; "Deixai-as vir a
mim".

Quando o sujeito do infinitivo é um substantivo, posto entre o verbo auxiliar e


o infinitivo, qual é a tendência? Ocorrem as duas formas do infinitivo: "Deixai
as criancinhas vir (ou virem') a mim"; "Quero (...) ver as águas dos rios
correr" (como escreveu Candeia em "Preciso me Encontrar") ou "Quero ver as
águas correrem".

No título desta coluna, há um trecho da antológica canção "Língua", de


Caetano Veloso. Diz a letra: "E deixe os Portugais morrerem à míngua".
Caetano optou por "morrerem", forma que enfatiza o sujeito do infinitivo
("Portugais"); poderia ter optado por "morrer", forma que enfatizaria o
processo expresso pelo verbo, e não o seu agente.

Como se vê, o título da Folha ("Dilma manda rivais estudarem...") se apoia


numa das tendências verificadas no uso do infinitivo. A outra tendência é a
opção pela forma não flexionada ("estudar"), igualmente abonada nos
registros cultos da língua.

Moral da história: é perfeitamente possível substituir a forma escolhida pelo


jornal ("estudarem") pela não flexionada ("estudar"), mas é bom lembrar que
"perfeitamente possível" não equivale a "obrigatório".

A esta altura, algum defensor do reducionismo geral talvez já esteja dizendo


que bastaria dizer que tanto faz. Não "tanto faz", caro leitor. O que se diz,
nesse caso (e em tantos outros), é "depende". E depende de quê? Repito um
trecho do que dizem Cunha e Cintra: "...influenciados por ponderáveis
motivos de ordem estilística, tais como o ritmo da frase, a ênfase do
enunciado, a clareza da expressão". É isso.

Compartilhar 0
Mais
opções
comentários Ver todos os comentários (2)

Caro leitor, Termos e condições

para comentar, é preciso ser assinante da Folha. Caso já seja um, por favor
entre em sua conta cadastrada. Se já é assinante mas não possui senha de
acesso, cadastre-se.

Faça seu login Cadastre-se Assine

Turco 24/10/2013 17h37 0 0 Denunciar COMPARTILHAR

O comentário do sr Boston foi uma boston. Incompreensível.

O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor

da mensagem

Responder

Login PAINEL DO ESPORTE TEC


LEITOR Esporte Tec
Assine a Painel do Leitor Basquete
Folha F5
A Cidade é Sua Seleção brasileira
FOLHA DE Bichos
Envie sua Notícia Surfe
S.PAULO Celebridades
Tênis
Acervo Folha Atendimento COTIDIANO Colunistas
Turfe
Sobre a Folha Cotidiano Fofices
Versão Velocidade
Expediente Aedes aegypti Televisão
Impressa Vôlei
Fale com a Folha Aeroportos
+ SEÇÕES
Feeds da Folha PROJETO Educação CIÊNCIA
Agência Lupa
Folha Eventos EDITORIAL Loterias Ciência
As Mais
E-mail Folha Princípios editoriais Praias Ambiente
Dias Melhores

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2013/10/1361455-e-deixe-os-portugais-morrerem.shtml 2/3
06/12/2019 'E deixe os Portugais morrerem...' - 24/10/2013 - Pasquale - Ex-Colunistas - Folha de S.Paulo
Ombudsman Conheça o Projeto Ranking SAÚDE Empreendedor
Atendimento ao Editorial In English Universitário Equilíbrio e Saúde Social
Assinante Folha's Editorial Revista sãopaulo Erramos
CULTURA
ClubeFolha Principles Rio de Janeiro Folhaleaks
Ilustrada
PubliFolha Read the Editorial Simulados Folha en Español
Cartuns
Banco de Dados Project En Español Trânsito Folha in English
Comida
Datafolha Principios Folha Tópicos
MUNDO Melhor de sãopaulo
Folhapress Editoriales Folha
Mundo Banco de receitas
Treinamento Lea el Proyecto Transparência
Governo Trump Guia
Trabalhe na Folha Editorial Folhinha
BBC Brasil Ilustríssima
Publicidade en Français Fotografia
Deutsche Welle Serafina
Política de Principes Horóscopo
Financial Times
Privacidade Éditoriaux Infográficos
Folha Internacional
Lisez le Projet piauí
OPINIÃO Radio France
Éditorial Turismo
Editoriais Internationale
Minha História
Blogs POLÍTICA The New York
Colunistas Poder Times
Colunistas Lava Jato
convidados
ECONOMIA
Ex-colunistas
Mercado
Tendências/Debates
Folhainvest
Indicadores
MPME

ACESSE A VERSÃO PARA TABLETS E SMARTPHONES

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer m
comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2013/10/1361455-e-deixe-os-portugais-morrerem.shtml 3/3

Você também pode gostar