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06/12/2019 Agência-barco' ou 'barco-agência'? - 19/12/2013 - Pasquale - Ex-Colunistas - Folha de S.

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Professor de português desde


pasquale cipro neto 1975, é colaborador da Folha
desde 1989. É o idealizador do
Escreveu até dezembro de 2016
programa "Nossa Língua
Portuguesa" e autor de obras

Agência-barco' ou 'barco-agência'? inculta@uol.com.br

DE SÃO PAULO EM COLUNISTAS


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19/12/2013 03h00 LIDAS COMENTADAS
ENVIADAS
Mônica Bergamo: Justiça
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1 suspende reforma da
Previdência de Doria em SP
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Reinaldo Azevedo: Mataram
Recentemente, uma peça publicitária da Caixa Econômica Federal mostrou 2 o sono de Bolsonaro
um dos integrantes da sua vasta rede de atendimento: nada menos do que Macbeth
uma agência que funciona em um grande barco.
Mônica Bergamo: Deputado
O fato é que alguns leitores me perguntaram se o nome dado pela Caixa
3 do PT vai à Justiça para
suspender Previdência
("agência-barco") é correto ou se deveria haver uma inversão na ordem dos estadual de SP
elementos que compõem o termo ("barco-agência"). Tati Bernardi: O chato
4 apaixonado
A questão é interessante, mas vou logo avisando que há pelo menos um
argumento para cada lado. Se levarmos em conta o que é comum na língua, Hélio Schwartsman:
ou seja, se tomarmos como base casos análogos ("caminhão-pipa", 5 Revolução judicial
"caminhão-tanque", "navio-escola", "navio-tanque", "vagão-leito", "carro-
bomba" etc.), veremos que esses substantivos compostos têm um processo de
formação padronizado: em primeiro lugar vem sempre o substantivo que
define o que a coisa é na essência; em seguida, vem o substantivo que indica a
finalidade do elemento nomeado pelo primeiro substantivo.

Tradução: um caminhão-pipa é antes de tudo um caminhão (construído para


atuar como pipa, isto é, como reservatório de água etc.); um carro-bomba é
antes de tudo um carro (preparado para explodir).

Em sendo assim, o que a Caixa Econômica Federal tem é barco-agência, ou


seja, um barco construído com a finalidade de funcionar como agência. A
levar em conta o critério padrão, uma agência-barco seria uma agência
construída para funcionar como barco, o que, cá entre nós, não faz lá muito
sentido.

E qual seria o argumento do outro lado, o que deve ter norteado a Caixa no
momento de optar por esta ou aquela forma? Posso estar enganado, mas algo
me diz que o motor dessa escolha foi mercadológico, isto é, o marketing
mandou na parada. Em termos de comunicação imediata e/ou da intenção de
fazer o leitor/espectador/ouvinte captar de pronto a mensagem, talvez
"agência-barco" seja mais forte e convincente que "barco-agência".

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2013/12/1387690-agencia-barco-ou-barco-agencia.shtml 1/3
06/12/2019 Agência-barco' ou 'barco-agência'? - 19/12/2013 - Pasquale - Ex-Colunistas - Folha de S.Paulo
E o plural? Pois é aí que a coisa talvez se escancare de vez. De acordo com a
tradição gramatical, o plural de substantivos compostos que têm a formação
já vista (substantivo + substantivo, com o segundo limitando a extensão do
primeiro em termos de finalidade, semelhança etc.) é feito com a flexão do
primeiro (caminhões-pipa, caminhões-tanque, navios-escola, navios-tanque,
vagões-leito, carros-bomba).

Modernamente, registra-se também o plural feito com a flexão dos dois


elementos, como atestam os dicionários e as gramáticas (caminhões-pipas,
caminhões-tanques, navios-escolas, navios-tanques, vagões-leitos, carros-
bombas). Posto isso, teríamos dois plurais para "barco-agência": "barcos-
agência" (de acordo com a tradição) ou "barcos-agências" (de acordo com o
que se registra mais recentemente).

No caso do nome adotado pela Caixa ("agência-barco"), os plurais possíveis


("agências-barco" e "agências-barcos") parecem reforçar o gostinho de coisa
estranha, de coisa que não "orna", como se diz no interior. Parece que algo
não vai bem, já que, definitivamente, antes de ser uma agência, aquilo é um
barco, feito para funcionar como agência, sim, mas total e essencialmente
dependente da condição de barco para cumprir o seu papel, o de estar aqui e
ali neste imenso Brasil.

Sei que essa conversa toda não muda o preço do feijão, mas pode servir para
uma boa reflexão sobre o processo de formação de alguns vocábulos
compostos e, em termos mais amplos, sobre a relação que há entre as
palavras, os conceitos etc. É isso.

inculta@uol.com.br

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dix-huit 20/12/2013 02h41 0 0 Denunciar COMPARTILHAR

Se tivéssemos acesso a um bom Português talvez o feijão fosse de


melhor qualidade e mais barato...
O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor

da mensagem

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Turco 20/12/2013 00h37 0 0 Denunciar COMPARTILHAR

Professor, onde e como foi que o senhor aprendeu tanto sobre a nossa
língua portuguesa? A resposta parece óbvia: na escola e com muito
estudo. Mas que existe aí um sexto sentido, ah, existe. Seu saber
ultrapassa todos os limites.
O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor

da mensagem

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Alberto 19/12/2013 07h29 0 0 Denunciar COMPARTILHAR

Tudo bem desde que essa agência não "faça água".

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2013/12/1387690-agencia-barco-ou-barco-agencia.shtml 2/3
06/12/2019 Agência-barco' ou 'barco-agência'? - 19/12/2013 - Pasquale - Ex-Colunistas - Folha de S.Paulo

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