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06/12/2019 Cá e lá... - 26/12/2013 - Pasquale - Ex-Colunistas - Folha de S.

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Fábio Assunção diz que é bom falar de drogas na dramaturgia e não com

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Professor de português desde


pasquale cipro neto 1975, é colaborador da Folha
desde 1989. É o idealizador do
Escreveu até dezembro de 2016
programa "Nossa Língua
Portuguesa" e autor de obras

Cá e lá... inculta@uol.com.br

EM COLUNISTAS
26/12/2013 03h00
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Mais Mônica Bergamo: Justiça
opções 1 suspende reforma da
Previdência de Doria em SP
Por motivos profissionais, fiz duas viagens a Portugal nas últimas quatro
semanas. Nessas e nas tantas outras idas à sempre comovente terra de Reinaldo Azevedo: Mataram
Camões o ouvido se acomodou paulatina e naturalmente aos falares lusitanos. 2 o sono de Bolsonaro
Macbeth
É preciso algum treino (e boa vontade) para a rápida familiarização com as
emissões lusas, muitas vezes bem diferentes das nossas. Mônica Bergamo: Deputado
3 do PT vai à Justiça para
suspender Previdência
Não é só a emissão de algumas palavras que exige algum treino ou cuidado. estadual de SP
Os vocábulos de cá e de lá muitas vezes não são os mesmos. A nossa xícara é Tati Bernardi: O chato
"chávena"; o ônibus vira "autocarro", e a parada ou o ponto do autocarro é 4 apaixonado
"paragem". O sorvete é "gelado", e o palito de sorvete é "pau de gelado". O
pedágio é "portagem", e o acostamento é "berma". Outra diferença: os Hélio Schwartsman:
portugueses não transformam a "berma" em faixa de rolamento... 5 Revolução judicial

Na língua do dia a dia, muitas vezes também são diferentes os pronomes e as


flexões verbais. Não raro se ouvem e se leem formas cujo emprego, entre nós,
já morreu há algum tempo, como "Férias que nunca esquecem" (= "Férias que
nunca caem no esquecimento") ou "A vida sabe bem" (= "A vida tem gosto
bom"). A primeira frase, que se referia aos Açores, estava num cartaz do
Ministério do Turismo de Portugal; a segunda, numa peça publicitária
(impressa) da Coca-Cola.

É claro que, para quem não vai além da linguagem do dia a dia, muitas dessas
palavras e construções parecem ser de uma língua estrangeira; para os que
têm bom conhecimento da língua, quando muito pode haver algum
estranhamento com a audição ou a leitura de formas como as citadas, que, no
Brasil de hoje, são pouco ou nada comuns. Esse bom conhecimento da língua
pressupõe um arco linguístico bem amplo, o que certamente é fruto de muita
leitura (dos modernos e dos clássicos -brasileiros, portugueses e africanos),
sem preconceito contra NENHUM registro linguístico.

Também chama a atenção a semelhança no trato de alguns "calos" da língua.


Um deles é o verbo "haver", cujo emprego atormenta brasileiros e lusos,
letrados ou não. Tanto cá como lá são muito frequentes, na fala e na escrita,
construções como "Houveram várias discussões entre..." ou "Naquela época
ainda haviam pessoas interessadas em...". No padrão formal da língua,
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2013/12/1390039-ca-e-la.shtml 1/3
06/12/2019 Cá e lá... - 26/12/2013 - Pasquale - Ex-Colunistas - Folha de S.Paulo
sobretudo na escrita, não se registra esse emprego do verbo "haver", que,
como se sabe, é impessoal, isto é, não tem sujeito, por isso não sai da terceira
pessoa do singular quando é empregado com o sentido de "existir", "ocorrer",
"acontecer" etc.

Parece que tanto o falante brasileiro quanto o lusitano só reconhecem a


impessoalidade do verbo "haver" no presente do indicativo ("Há várias
discussões entre..." ou "Hoje ainda há pessoas interessadas em..."); nos
demais tempos (do indicativo e do subjuntivo), esse verbo é visto e/ou sentido
como pessoal, o que explica o seu constante emprego no plural em casos em
que o padrão culto registra o singular.

Para muita gente, as diferenças que há entre o nosso português e o europeu


bastam para a declaração de uma mais do que estúpida guerra entre as duas
"línguas", apoiada numa insossa tese de que o que há por aqui já deixou de ser
português. Devagar com o andor, moçadinha! Há diferenças, sim, mas daí
para achar que isso vai além da caracterização de duas vertentes da mesma
língua a distância é um tanto considerável. Quanto maior é a necessidade do
emprego do padrão formal (um texto sobre direito, ciência ou língua, por
exemplo), maior é a semelhança entre a vertente brasileira e a europeia;
quanto maior é o envolvimento com um dos universos do dia a dia, maior é a
probabilidade de algumas incompreensões e estranhamentos, de ambos os
lados. É isso.

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Dewey 26/12/2013 09h10 0 1 Denunciar COMPARTILHAR

As diferenças entre o português brasileiro e europeu apareceram em


parte devido a chegada dos imigrantes ao Brasil, a começar pelos
africanos. Como chegaram como escravos não frequentavam escolas e
aprendiam o idioma na oralidade. A partir do século 19 foi a vez dos
imigrantes europeus e asiáticos deixar suas marcas no idioma. As
briguinhas para provar quem fala melhor não passam de um exercício de
futilidade, até porque o idioma pertence a Portugal por direito.
O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor

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Alberto 26/12/2013 06h14 0 0 Denunciar COMPARTILHAR

O que não se pode fazer é "furar a fila" em Portugal.

O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor

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