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FRANK, Joseph. A Forma Espacial Na Narrativa Moderna PDF
FRANK, Joseph. A Forma Espacial Na Narrativa Moderna PDF
o
“Spatial Form in Modern Literature”
apareceu na The Sewanee Review,
edições de primavera, verão e outo-
no de 1945. Joseph Frank (nascido
em 1918) gentilmente revisou e
condensou seu ensaio para a pre-
sente publicação, encontrando-se ora
impresso em sua nova forma com a
sua permissão e com a permissão
do editor de The Sewanee Review.
v
i
A forma
u
espacial
na JOSEPH FRANK
Tradução de Fábio Fonseca de Melo q
r
literatura
a
moderna
O
pende de sua relação com os movimentos
literários de seu tempo, nem da extensão de
sua experiência direta com as obras de arte
da Antigüidade, ela pode ser tomada à par-
te dessas circunstâncias e utilizada na aná-
lise de desenvolvimentos posteriores.
Laocoonte de Lessing, notou certa No Laocoonte, Lessing funde duas
vez André Gide, é um daqueles li- correntes de pensamento que eram de
vros que é bom reiterar ou con- grande importância na história cultural de
tradizer a cada trinta anos anos. seu tempo. As pesquisas arqueológicas de
Apesar desse excelente conselho, nenhu- Winckelmann, seu contemporâneo, estimu-
ma dessas atitudes para com Laocoonte foi laram um interesse apaixonado pela cultu-
adotada pelos escritores modernos (1). ra grega entre os alemães. Lessing voltou a
A tentativa de Lessing de definir os li- Homero, a Aristóteles e aos trágicos gre-
mites da literatura e das artes plásticas tor- gos, usando seu conhecimento direto para
nou-se questão encerrada – à qual ocasio- atacar as teorias críticas distorcidas, supos-
nalmente é feita uma referência respeitosa, tamente baseadas na autoridade clássica,
mas que não suscita mais influência fecun- que haviam se infiltrado na França através
dante ao pensamento estético. Podemos en- de comentadores italianos e só posterior-
tender como isso se sucedeu no século XIX, mente empossadas na Alemanha. Ao mes-
com sua paixão pelo historicismo, mas não mo tempo, como aponta Wilhelm Dilthey
é de entendimento muito fácil no presente, em seu famoso ensaio sobre Lessing, Locke
em que tantos escritores dedicados aos pro- e a escola empírica de filosofia inglesa ha-
blemas estéticos têm se ocupado das ques- viam dado um novo impulso à especulação
tões da forma. Para um historiador da lite- estética. Locke tentara resolver o problema
ratura ou das artes plásticas, o esforço de do conhecimento, partindo idéias comple-
Lessing em definir as leis inalteráveis des- xas em elementos simples de sensação, para,
ses veículos pode bem ter parecido quixo- em seguida, examinar as operações da
tesco; mas críticos modernos, que já não se mente e verificar como essas sensações
assustam com o fantasma do método histó- eram combinadas para formar idéias. Esse
1 Irving Babbitt, em 1910, es- método foi rapidamente adotado pelos
rico, começam a considerar novamente os
creveu O Novo Laocoonte com
a intenção de fazer à arte problemas que ele tentou resolver. estetas, que, em vez de deitar regras para a
moderna o que Lessing fez à
arte de seus dias. Em suma, a As soluções dadas por Lessing a esses beleza, começaram a analisar a percepção
tese de Babbitt era a de que, problemas parecem, à primeira vista, ter estética. Escritores como Shaftesbury,
assim como a confusão de
gêneros à época de Lessing pouca relação com o pensamento estético Hogarth, Hutcheson e Burke, para citar
pôde ser atrelada a uma falsa
teoria da imitação, também as moderno. Os argumentos do Laocoonte alguns poucos, interessaram-se pelo cará-
aberrações artísticas de nosso direcionavam-se contra a poesia pictórica ter e pela combinação de impressões preci-
tempo poderiam ser atreladas
a uma falsa teoria da esponta- de seu tempo, que desde há muito deixou sos que deram prazer estético à sensibilida-
neidade. O argumento de de. Mendelssonhn, amigo e aliado crítico
Babbitt, contudo, não tem ne-
de interessar a sensibilidade moderna; e
nhuma relação com as teorias muitas de suas conclusões acerca das artes de Lessing, popularizou esse método de
de Lessing. A discussão de
Lessing na primeira metade do plásticas originaram-se de uma arqueolo- tratar os problemas estéticos na Alemanha;
livro reforça, meramente, a gia hoje antiquada, que, para piorar ainda o próprio Lessing era um estudante íntimo
analogia entre os propósitos
de Lessing e os de Babbitt. mais as coisas, Lessing conheceu, princi- dessas obras e de muitas outras com o