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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL

Apelação Cível no Processo nº 0031108-97.2009.8.19.0205


Relator: DES. Antônio Iloízio Barros Bastos

AÇÃO INDENIZATÓRIA. ACIDENTE


ENVOLVENDO COLETIVO. DANO MORAL
CONFIGURADO. ARBITRAMENTO CORRETO.
DENUNCIAÇÃO DA LIDE. DEDUÇÃO DO
VALOR DA FRANQUIA.
1- A responsabilidade do transportador é de
natureza objetiva, fundada na teoria do risco, que
gera uma obrigação não apenas de meio e de
resultado, como também de garantia.
2- Comprovação da condição de passageira e da
ocorrência de lesões.
3- Deve ser reputado como dano imaterial a dor,
vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à
normalidade, interfira no comportamento
psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições,
angústia e desequilíbrio em seu bem-estar, sendo a
hipótese dos autos.
4- Incapacidade de alguns dias. Ausência de
sequelas. Dano moral configurado e adequadamente
indenizado em R$ 4.000,00, de acordo com os
princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
5- Honorários advocatícios corretamente
arbitrados.
6- Responsabilidade da seguradora fixada nos
limites do contrato, devendo ser admitido o
abatimento da franquia.
7- Recurso da autora ao qual se nega
seguimento. Recurso da denunciada a que se dá
desde logo provimento para autorizar a dedução da
franquia na quantia a ser paga pela seguradora.

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Apelação Cível no processo nº 0031108-97.2009.8.19.0205
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DECISÃO DO RELATOR

Trata-se de ação indenizatória ajuizada por VALESCA BIANCA


LIRA MOREIRA contra TRANSPORTE ZONA OESTE LTDA., aduzindo que
estava no coletivo de propriedade da ré, tendo o motorista empreendendo
velocidade excessiva, vindo o veículo a capotar. Narra que sofreu lesões.

A ré denunciou a lide em face de CONFIANÇA COMPANHIA


DE SEGUROS.

O feito culminou com a respeitável sentença de folhas 182/187 e


196, que julgou procedente em parte o pedido, condenando as rés ao pagamento
de indenização pelos danos morais arbitrados em R$ 4.000,00 (quatro mil reais) e
R$ 168,00 (cento e sessenta e oito reais) pelos danos materiais.

A autora apresentou razões recursais (fls. 197/201) pleiteando a


majoração da verba indenizatória e dos honorários advocatícios.

A denunciada recorreu às folhas 202/208 asseverando a


necessidade de dedução do valor da franquia do total da condenação.

Contrariedade recursal às folhas 216/222 e 223/225.

É o relatório. Decido.

A responsabilidade contratual do transportador é de natureza


objetiva, fundada na teoria do risco, que gera uma obrigação não apenas de meio
e de resultado, como também de garantia.

Comprovada a condição de passageira e a ocorrência de lesões,


deve ser reputado como dano imaterial a dor, vexame, sofrimento ou humilhação
que, fugindo à normalidade, interfira no comportamento psicológico do
indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar,

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sendo a hipótese dos autos.

As irresignações limitam-se ao valor da indenização a título de


danos morais e a possibilidade de abatimento do valor da franquia prevista no
contrato de seguro.

Para a fixação do quantum indenizatório dos danos morais


suportados pela primeira apelante, deve-se ater a uma quantia que, observando os
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, amenize a ofensa à honra e
não se afaste do caráter pedagógico da sanção imposta. Deve, portanto, ser fixado
tomando-se em conta a gravidade do fato, suas consequências, condição social da
vítima e infrator, porém sem configurar enriquecimento sem causa.

A matéria referente à fixação de indenização por danos morais,


no Direito Brasileiro, é delicada, e fica sujeita à ponderação do magistrado,
fazendo-se necessário, para encontrar a solução mais adequada, que se observe o
princípio da razoabilidade, tal como já decidido pelo Egrégio Superior Tribunal
de Justiça, não havendo critérios determinados e fixos para a quantificação do
dano moral, sendo, portanto, recomendável que o arbitramento seja feito com
moderação e atendendo às peculiaridades do caso concreto (in RESP 435119;
Relator Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira; DJ 29/10/2002).

Haja vista o acidente e, felizmente, a inexistência de sequelas,


havendo apenas a incapacidade por poucos dias, entendo que o valor arbitrado
pelo juízo a quo, R$ 4.000,00, mostrou-se equilibrado e observou o caráter
pedagógico da condenação.

Considero que a quantia fixada pela sentença vergastada atendeu


aos princípios norteadores do instituto da reparação civil, sendo que sua
majoração se aproximaria do enriquecimento sem causa.

O pedido de abatimento do valor da franquia merece ser


acolhido, porquanto estabelecido contratualmente. Assim, tal ônus deve ser
suportado pela ré/denunciante, conforme reconhecido pela petição de fls. 210.

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Quanto ao pedido autoral de majoração dos honorários


advocatícios, o patamar de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação está
adequado aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, bem como aos
ditames do art. 20, §3º e § 4º do Código de Processo Civil.

Por tais fundamentos, como permite o art. 557, caput e § 1º-A,


do C.P.C., desde já nego seguimento ao primeiro apelo e dou provimento ao
segundo recurso para autorizar o abatimento do valor da franquia da quantia a ser
adimplida pelo recorrente, mantendo os demais termos da sentença vergastada.

Rio de Janeiro, 26 de julho de 2012.

Antônio Iloízio Barros Bastos


DESEMBARGADOR
Relator

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Certificado por DES. ANTONIO ILOIZIO B. BASTOS


A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br.
Data: 01/08/2012 09:12:51Local Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0031108-97.2009.8.19.0205 - Tot. Pag.: 4

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