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Décima Quinta Câmara Cível

Apelação Cível n° 0008502 - 63.2009.8.19.0209 - Capital


Apelante 1: Élio Xavier de Lima
Recorrente Adesiva: Ana Lúcia França Pinto
Recorridos: os mesmos

AÇÃO REINTEGRATÓRIA.
APELANTE QUE OCUPAVA IMÓVEL NA
QUALIDADE DE CASEIRO E, DEPOIS, DE ME-
RO COMODATÁRIO.
PERMANÊNCIA NO LOCAL APÓS NOTI-
FICAÇÃO EXTRAJUDICIAL PARA DESOCU-
PAÇÃO.
ESBULHO CONFIGURADO.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DO PE-
DIDO.
APELO ALEGANDO USUCAPIÃO. DES-
CABIMENTO, POIS SE TRATAVA DE MERA
POSSE DIRETA, QUE NÃO GERA DIREITO A
USUCAPIR.
RECURSO ADESIVO QUE NÃO PODE
SER CONHECIDO, POIS SOMENTE PLEITEIA
CONCESSÃO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA,
O QUE FOI NEGADO EM PRIMEIRO GRAU,
POR DECISÃO ATACADA POR AGRAVO DE
INSTRUMENTO, A QUE FOI NEGADO SEGUI-
MENTO. A PRETENSÃO NÃO É CABÍVEL EM
SEDE DE ADESÃO A APELO, MAS SOMENTE
PELA VIA DO AGRAVO.
DECISÃO MONOCRÁTICA, COM FUL-
CRO NO ARTIGO 557 DO CÓDIGO DE PRO-
CESSO CIVIL, NEGANDO SEGUIMENTO AOS
RECURSOS.

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DECISÃO

Trata-se de ação de reintegração de posse proposta pela recorrente adesiva contra o


apelante, dizendo ser proprietária e legítima possuidora do imóvel situado na Rua Itália Fausta nº
400, Itanhangá, nesta cidade, e que o réu foi seu empregado, na condição de caseiro, de 1996 a
2006.

Ocorre que, desde o término do contrato de trabalho, vem, constantemente, reque-


rendo sua saída do imóvel, mas não obtém êxito, tendo notificado-o extrajudicialmente para tan-
to, em 11/03/2009, concedendo o prazo de 30 dias para sua desocupação, sem êxito, contudo.

Requereu sua reintegração na posse direta do bem, sendo arbitrado aluguel pena du-
rante o prazo de indevida permanência.

Audiência de justificação conforme fls. 46.

Decisão à fls. 47, deferindo a liminar.

Contestação às fls. 56/8, alegando que foi empregado da autora em outro imóvel na
mesma rua, de nº 300, e não no nº 400, onde reside desde 2004 e vem exercendo a posse mansa e
pacífica, até ser turbado pela autora, há 16 anos, deduzindo a exceção de usucapião em sua defe-
sa.

Nova decisão às fls. 52/5, revogando a anterior, que havia deferido a liminar.

Audiência de conciliação às fls. 197, sendo colhidos depoimentos de informantes


arrolados pelo réu (fls. 198 a 200).

Sentença às fls. 209/10, julgando procedente o pedido, para determinar a reintegra-


ção da autora na posse do imóvel objeto da lide de forma definitiva, concedendo liminar e con-
denando o réu ao pagamento das custas e honorários advocatícios, fixados em 20% sobre o valor
dado à causa, ressalvada a gratuidade de justiça a ele deferida.

Auto de reintegração na posse e depósito às fls. 219/20.

Apelação às fls. 221/4, reeditando os mesmos argumentos da contestação, no senti-


do de ter sido turbado em sua posse e que nenhuma testemunha comprovou a posse anterior da
apelante.

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Decisão à fls. 225, recebendo a apelação no duplo efeito e outra à fls. 227, determi-
nando a expedição de novo mandado, para imitir o réu na posse.

Foi interposto agravo de instrumento, pela recorrente adesiva, conforme fls. 287/92.

Recurso adesivo às fls. 294/8, reeditando os argumentos da inicial, aduzindo que o


imóvel objeto da lide está devidamente registrado no RGI em seu nome, às fls. 12/9; que o réu
não é nenhum coitado, pois além de ter dois imóveis, ainda possui carro importado. Pede sua
imediata reintegração na posse do bem.

Contrarrazões ao apelo às fls. 251/4.

Contrarrazões ao recurso adesivo às fls. 261/4, juntando cópia da decisão que negou
seguimento ao agravo de instrumento interposto (fls. 265/6).

É o relatório.

Não existe, em verdade, recurso adesivo. Nele se pediu, tão somente, que seja afas-
tado o efeito suspensivo concedido ao recurso, concedendo-se antecipação de tutela, em ataque
às decisões de fls. 225 e 227.

Tal, porém, é matéria dedutível apenas pela via do agravo de instrumento, na forma
do que dispõe o artigo 522 do Código de Processo Civil, e não por adesão a uma apelação.

Aliás, o agravo de instrumento foi interposto e lhe foi negado seguimento (fls.
265/6).

Não pode, pois, ser conhecido o adesivo, que visa substituir um agravo já julgado.

II

Quanto à apelação, pleiteia a autora da ação sua reintegração na posse do imóvel ob-
jeto da lide, sustentando que o réu o ocupa em decorrência de vínculo laboral.

Pelo exame dos autos, verifica-se que a posse indireta do imóvel, foi e é da autora,
proprietária do bem, e jamais deixou de ser.

Ela juntou diversos documentos, como a certidão de escritura de compra e venda do


imóvel objeto da lide às fls. 12/15, o registro da mesmo no RGI, às fls. 16/19, comprovando sua
propriedade.

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Disse a autora que o réu passou a ocupar o imóvel na qualidade de seu empregado e
esse afirma que, nessa condição ocupou outro, de nº 300, mas não o de n° 400, onde hoje está,
sendo ambos de propriedade da autora.

Diz o réu que reside no n° 400 há dezesseis anos, mas não informa como assumiu
essa posse, sempre disso passando ao largo.

Os depoimentos dos informantes esclarecem, contudo, como se deu esse apossamen-


to.

Com efeito, o informante de fls. 199, presidente da associação de moradores do lo-


cal, diz:

“... que ele (o réu) trabalhou com D. Ana den-


tro da casa dela mas não sabe em que função; que
na época da enchente de 1996, quando a rua toda a-
lagou, a casa estava vazia e a autora ofereceu para o
depoente; que pelo que sabe a casa é da autora; que
crê que o réu foi morar foi morar na casa com per-
missão da autora ...”

Outro informante, que depôs à fls. 200, relata:

“... que ele morava em Realengo; que depois


a autora o chamou para ele morar na casa dela com
a mulher e a filha, que depois foi morar em um ter-
reno e casa cedidos pela autora para ele morar ...”

Ai está, de forma irretocável, descrito o comodato.

O apelante trabalhou para a autora e residiram no mesmo imóvel, no n° 300, até que,
ela o transferiu para o de n° 400.

Sempre esteve o réu ocupando o imóvel, portanto, com consentimento da autora da


ação e isso não gera direito a usucapir, pois ela manteve para si a posse indireta.

Para cessar o comodato, foi efetivada a notificação extrajudicial acostada às fls.


25/7, concedendo prazo de 30 (trinta) dias para desocupação voluntária.

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Não atendida a notificação, aposse, que até então era consentida, transmudou-se em
esbulho possessório.

Caso se entenda não existir comodato, tem-se que o recorrente reconhece que foi
contratado pela proprietária do imóvel para exercer a atividade de caseiro, inclusive havendo
documento, à fls. 62, nesse sentido, restando caracterizado, de forma induvidosa, o encerramento
do vínculo laborativo exercido.

Seriam aplicáveis, portanto, os artigos 1.198 e 1.208 do Código Civil:

Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que,


achando-se em relação de dependência para com
outro, conserva a posse em nome deste e em cum-
primento de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a com-
portar-se do modo como prescreve este artigo, em
relação ao bem e à outra pessoa, presume-se deten-
tor, até que prove o contrário.

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de me-


ra permissão ou tolerância assim como não autori-
zam a sua aquisição os atos violentos, ou clandesti-
nos, senão depois de cessar a violência ou a clan-
destinidade.

Por qualquer que seja a interpretação, o esbulho resultou caracterizado pela resis-
tência do caseiro, mero possuidor direto, devidamente notificado, na primeira hipótese, ou
simples detentor, na segunda.

A sentença de procedência do pedido, portanto, não merece reparo.

Por estas razões, na forma autorizada pelo artigo 557 do Código de Processo Civil,
NEGO SEGUIMENTO a ambos os recursos.

Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2012

Desembargador Sergio Lucio de Oliveira e Cruz


Relator

Décima Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça

Certificado por DES. SERGIO LUCIO CRUZ


A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br.
Data: 30/08/2012 15:28:02Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0008502-63.2009.8.19.0209 - Tot. Pag.: 5

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