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Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de


Janeiro

Apelação Cível nº: 0210610-94.2007.8.19.0001

Apelante: SERASA S.A.


Apelado: Wandelina Balbina da Silva

Relatora: Des. Mônica Maria Costa

APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZATÓRIA.


PROTESTO DE TÍTULO. NEGATIVAÇÃO.
AUSÊNCIA DE PROVA DA EFETIVA
NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. NÃO
CUMPRIMENTO DO ESTATUÍDO NO
ART.43, §2º DO CDC. DANO MORAL
CONFIGURADO. MANUTENÇÃO DA
SENTENÇA.
1. Cuida-se, na origem, de ação de
indenização em virtude da anotação do
nome da autora nos cadastros restritivos
de crédito sem prévia notificação.
Sentença de procedência parcial que foi
alvo do inconformismo da ré pugnando
pela improcedência dos pedidos
formulados na inicial ou pela redução da
verba indenizatória fixada.
2. A regra do Código de Defesa do
Consumidor é a da solidariedade entre o
fornecedor originário e o banco de dados,
conforme preceitua o seu art.7º, parágrafo
único. Sendo assim, os arquivos de
consumo são sempre parte passiva
legítima em ação proposta pelo
consumidor.
3. Segundo a linha da jurisprudência
uníssona do Superior Tribunal de Justiça,

0210610-94.2007.8.19.0001 1
Rel. Des. Mônica Maria Costa

Assinado por MONICA MARIA COSTA DI PIERO:000029835


Data: 24/04/2013 17:42:42. Local: GAB. DES(A). MONICA MARIA COSTA DI PIERO
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mesmo que verdadeiro o débito e


existente a dívida, o consumidor tem o
direito de ser previamente informado
acerca da inclusão de seu nome no
cadastro restritivo.
4. A obrigação estatuída no § 2º do
artigo 43 do Código de Defesa do
Consumidor considera-se cumprida com
o envio de comunicação ao endereço do
devedor constante da informação enviada
ao banco de dados pelo credor,
prescindindo a mesma do aviso de
recebimento.
5. Prévia notificação não demonstrada
nos autos pela empresa responsável pelo
aponte.
6. Verba indenizatória fixada dentro
dos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, atendendo aos aspectos
compensatório e sancionatório,
observadas as circunstâncias que
envolveram o dano moral sofrido no caso
concreto.
7. Recurso ao qual se nega seguimento.

DECISÃO

Wandelina Balbina da Silva ajuizou ação indenizatória


com pedido de tutela antecipada em face de SERASA. Relata que
teve protestado indevidamente um título e que ao tentar realizar
crediário em uma loja de departamentos descobriu de maneira
vexatória que seu nome e CPF estavam inseridos nos cadastros dos
órgãos de restrição ao crédito. Destaca que a ré não cumpriu o
comando contido no art. 43, § 2º do CDC, deixando de efetuar o
prévio aviso acerca da referida negativação.

Pede a concessão do benefício da gratuidade de justiça,


a antecipação dos efeitos da tutela para determinar que a ré exclua o
seu nome dos cadastros dos órgãos de proteção, a inversão do ônus
da prova, a transformação da tutela antecipada em definitiva, a
condenação da parte ré ao pagamento de indenização a título de

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dano moral e no pagamento das custas e honorários advocatícios,


estes na base de 20% sobre o valor da condenação.

Decisão de fls. 21 que deferiu o beneficio da gratuidade


de justiça à autora.

Sentença de fls. 78/82 que julgou extinto o processo sem


resolução do mérito em face do pedido de baixa de restrição ao
crédito, nos termos do art. 267, VI do CPC e julgou procedente em
parte o pedido para condenar a réu a pagar a parte autora o valor de
5.000,00 (cinco mil reais), a título de compensação por danos morais
com correção monetária a contar da publicação da presente (súmula
362, STJ) e juros de mora a contar da citação (art.405 do CC/2002).
Condenou, ainda, o réu a arcar com o pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% do
valor da condenação, nos termos do art. 20,§ 3º do CPC.

Apelo tempestivo da ré em fls. 83/102 sustentando que o


entendimento esposado pelo juízo a quo destoa da letra da lei, na
medida em que o § 2º do art. 43 do CDC não impõe o dever da
comunicação quando ela apenas reproduz a informação em seu
banco de dados, sem, no entanto, proceder a abertura de cadastro
em nome do consumidor. Destaca que a imposição legal contida no
aludido preceito não abrange as ocorrências negativas que militam
em desfavor do consumidor e que sejam oriundas de Serventias
Públicas Cartorárias.

Afirma que no caso em tela a Serasa, na qualidade de


bancos de dados cadastrais, apenas reproduziu a informação em
questão (protesto) para o seu banco de dados, nos exatos termos do
constante do assentamento do Tabelionato de Protestos. Assevera
que reproduziu informação de domínio público e que a sentença
proferida diverge totalmente do entendimento prevalente no STJ. Por
fim, ressalta que a notificação prévia neste caso mostra-se totalmente
dispensável, já que de acordo com o art. 14 da Lei 9.492/97, compete
ao Tabelião de Protesto expedir a referida intimação ao devedor do
título a ser protestado.

Pede o provimento do presente recurso para que seja


reformada a sentença e julgado improcedente o pedido indenizatório
ou, alternativamente, pela redução de sua condenação ao pagamento
de indenização a título de dano moral e pela contagem dos juros
legais a partir de tal condenação.

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Contrarrazões tempestivas ofertadas pela autora em fls.


109/114.

É o relatório.

O presente recurso é tempestivo, estando presentes os


demais requisitos de admissibilidade.

Impõe-se o julgamento monocrático como forma de


solução mais célere do procedimento recursal, haja vista tratar-se de
recurso veiculando questões cuja solução possui parâmetros
delineados pela jurisprudência assentada neste Tribunal.

Alegou a autora que teve o seu nome incluído nos


cadastros da empresa ré, sem a mesma ter lhe enviado a devida
comunicação, de acordo com o previsto no art. 43, & 2º do CDC.
Sentença de procedência parcial dos pedidos autorais que condenou
a ré ao pagamento de indenização a título de dano moral no valor de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Apelo da ré pugnando pela
improcedência dos pedidos autorais ou pela redução da verba
indenizatória fixada.

A regra do Código de Defesa do Consumidor é a da


solidariedade entre o fornecedor originário e o banco de dados,
conforme preceitua o seu art.7º, parágrafo único. Sendo assim, os
arquivos de consumo são sempre parte passiva legítima em ação
proposta pelo consumidor.

Com efeito, a comunicação prévia ao consumidor da


inscrição de seu nome em cadastros de proteção ao crédito, da qual
trata o artigo 43, § 2º do CDC, é efetuada por meio de notificação
enviada pelas próprias entidades responsáveis pelos bancos de
dados, sendo tal entendimento objeto do enunciado 359 da Súmula
do STJ.

Dessa maneira, segundo a linha da jurisprudência


uníssona do Superior Tribunal de Justiça, mesmo que verdadeiro o
débito e existente a dívida, o consumidor tem o direito de ser
previamente informado acerca da inclusão de seu nome no cadastro
restritivo.

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A obrigação estatuída no § 2º do artigo 43 do Código de


Defesa do Consumidor considera-se cumprida com o envio de
comunicação ao endereço do devedor constante da informação
enviada ao banco de dados pelo credor, prescindindo a mesma do
aviso de recebimento.

Este entendimento encontra-se sumulado no verbete nº


93 desta Corte, in verbis:

“A comunicação a que se refere o art.43,


parágrafo 2º, do Código de Defesa do
Consumidor, independe de maior formalidade e
prescinde de comprovação por aviso de
recebimento, bastando prova da postagem a
consumidor no endereço constante do contrato.”

Corroborando tal posicionamento, o STJ editou a Súmula


nº404:

“É dispensável o aviso de recebimento (AR) na


carta de comunicação
ao consumidor sobre a negativação de seu
nome em bancos de dados
e cadastros.”

Observe-se que, a lei não exige qualquer solenidade


para a eficácia da comunicação, bastando a simples postagem para
remessa ao consumidor no endereço mencionado pelo credor. Os
dados são colhidos junto aos cadastros formulados pelos próprios
consumidores, a quem cumpre manter a atualização dos
assentamentos.

Neste sentido também é a maciça jurisprudência do


TJRJ:

AÇÃO INDENIZATÓRIA. NEGATIVAÇÃO.


NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. ART. 43, § 2º DA
LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA.
INEXISTÊNCIA DE FORMALIDADES NA
COMUNICAÇÃO, TAIS COMO AVISO DE
RECEBIMENTO. SÚMULA 93 DO TJERJ.

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Rel. Des. Mônica Maria Costa
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Restou cabalmente demonstrado o envio da


notificação prévia pelo apelado, em observância
ao artigo 43, § 2º do Código de Defesa do
Consumidor, sendo certo que a referida
comunicação não depende de maiores
formalidades e prescinde de comprovação por
aviso de recebimento, conforme súmula 93
desta Corte. Assim, se o apelado comprovou
que efetuou o apontamento mediante prévia
notificação ao autor, não incorreu em qualquer
defeito na prestação do serviço, na forma do art.
14, § 3º, I do Código de Defesa do Consumidor.
DESPROVIMENTO DO RECURSO,
MONOCRATICAMENTE. (Ap. Cível
2009.001.74355, Des. CARLOS SANTOS DE
OLIVEIRA, em 18/12/2009, Nona Câmara Cível)

CONSUMIDOR - INSERÇÃO DO NOME DA


AUTORA NO CADASTRO DE
INADIMPLENTES - NOTIFICAÇÃO PRÉVIA
ART. 43, §2º, DO CDC - Negativação do nome
do consumidor junto ao cadastro de
inadimplentes. Necessidade de prévia
comunicação, nos termos do art. 43, §2º, do
Código de Defesa do Consumidor, a ser
efetivada pelo órgão responsável pela
manutenção do cadastro. Desnecessidade de
maiores formalidades, bastando apenas que a
correspondência seja enviada para o endereço
do devedor, constante do contrato. Incidência do
enunciado nº 93, do TJRJ, bem como da Súmula
nº 404, do STJ. Sentença que se confirma.
Recurso a que se nega seguimento, nos termos
do art. 557, do CPC. (Ap. Cível 2009.001.69080,
Des. RICARDO COUTO, em 03/12/2009, Sétima
Câmara Cível)

Como corretamente entendeu o Douto Sentenciante, a


situação em comento não foi devidamente informada à autora que foi
surpreendida pela negativação de seu nome junto aos cadastros da
ré no momento em que tentava efetuar uma compra a crédito.

A própria ré afirma que não enviou a notificação prévia,


já que na qualidade de banco de dados cadastrais, apenas

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reproduziu a informação em questão (protesto) para o seu banco de


dados, nos exatos termos do constante do assentamento do
Tabelionato de Protestos.

Tem-se, assim, que houve falha na prestação de


serviço por parte da empresa ré. Já é entendimento consolidado em
nosso TJ que a empresa de banco de dados pode ser
responsabilizada pela ausência de notificação do consumidor acerca
da inclusão de seu nome e CPF nos cadastros dos inadimplentes,
salvo se lograr êxito em demonstrar que enviou a correspondência
para o endereço fornecido pelo credor, constante do contrato.

Destarte, a conduta negligente da ré ora apelante deve


ser punida a título de danos morais, cuja verba possui não só um
caráter repressivo, mas também preventivo, em uma atitude
verdadeiramente pedagógica e não somente reparatória. Diante de
tais circunstâncias, observa-se que, apesar de termos o dano moral
como reconhecido, o valor da reparação não deve constituir causa de
enriquecimento, mas sim indicar um juízo de reprovação.

A questão do valor cabível a título indenizatório por


danos morais possui evidentemente um caráter subjetivo que acaba
variando de um magistrado para outro. O juiz, ao valorar o dano
moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com seu prudente
arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a
intensidade e duração do sofrimento experimentado pela vítima, a
capacidade econômica do causador do dano e as condições sociais
do ofendido.

Dentro deste contexto e levando-se em conta as


considerações acima tecidas, entendo que a indenização arbitrada
pelo Juízo a quo em R$ 5.000,00 (cinco mil reais) não merece
qualquer reparo, encontrando-se perfeitamente adequada aos
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade e em consonância
com o que vêm sendo aplicado em casos similares por esta Corte.

Neste sentido, confiram-se os seguintes arestos:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO


CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA
MOVIDA EM FACE DO SERASA.

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NEGATIVAÇÃO. CHEQUE SEM FUNDO.


AUSÊNCIA DE AVISO PRÉVIO.
JURISPRUDÊNCIA DO STJ NO SENTIDO DE
QUE A COMUNICAÇÃO AO CONSUMIDOR
CABE AO CADASTRO QUE PROMOVE O
APONTE, AINDA QUE OS DADOS UTILIZADOS
SEJAM PROVENIENTES DO CCF DO BANCO
CENTRAL. DANO MORAL CONFIGURADO.
QUANTUM INDENIZATÓRIO QUE ATENDE
AOS CRITÉRIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. A inteligência do artigo
42 do Código de Defesa do Consumidor aliado
aos princípios informadores de proteção ao
consumidor revela norma cogente no sentido de
que a falta de comunicação acerca da abertura
de cadastro gera lesão indenizável, ainda que
verdadeiras as informações sobre inadimplência
do devedor. A Circular nº 2.250/92 do BACEN
não possui o condão de afastar a incidência do
CDC ao caso concreto, uma vez que as
informações repassadas pelo BACEN ao
SERASA, quando incluídas no banco de dados
deste último, possibilitarão publicidade em
relação ao nome da apelada, gerando potencial
restrição de direitos creditórios à mesma. No que
concerne ao quantum fixado a título de dano
moral - R$ 6.000,00 -, pode-se afirmar que o
mesmo reputa-se proporcional e razoável ao
dano suportado pela apelada, não merecendo
prosperar o pleito do apelante de redução do
valor. Aplicação do verbete nº 161 da Súmula
desta Corte para corrigir de ofício a incidência
dos juros legais, que devem fluir a partir do
evento danoso, nos termos do verbete nº 54 da
Súmula do E. STJ. RECURSO A QUE SE NEGA
SEGUIMENTO, NOS TERMOS DO ART. 557,
CAPUT DO CPC. 0258277-71.2010.8.19.0001 -
APELACAO DES. ANDRE RIBEIRO -
Julgamento: 30/09/2011 - SETIMA CAMARA
CIVEL

AÇÃO INDENIZATÓRIA. DIREITO DO


CONSUMIDOR. Negativação. Cheque sem
fundos. Ausência de aviso prévio. Jurisprudência

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do STJ no sentido de que a comunicação ao


consumidor cabe ao cadastro que promove o
aponte, ainda que os dados utilizados sejam
provenientes do CCF do Banco Central. Dano
moral configurado. Quantum indenizatório que
atende aos critérios da razoabilidade e
proporcionalidade. A inteligência do artigo 42 do
Código de Defesa do Consumidor aliado aos
princípios informadores de proteção ao
consumidor revela norma cogente no sentido de
que a falta de comunicação acerca da abertura
de cadastro gera lesão indenizável ainda que
verdadeiras as informações sobre inadimplência
do devedor. Circular 2.250/92 do BACEN não
possui o condão de afastar a incidência do CDC
ao caso concreto, uma vez que as informações
repassadas pelo BACEN ao SERASA, quando
incluídas no banco de dados deste último,
possibilitarão publicidade em relação ao nome do
apelado, gerando potencial restrição ao mesmo
de seus direitos creditórios, razão pela qual deve
ser ele comunicado, na forma do referido
dispositivo do CDC. No que tange ao quantum f
ixado a título de dano moral - R$ 5.000,00 -,
reputa-se proporcional e razoável ao dano
suportado pelo apelado, não merecendo
prosperar o pleito do apelante de redução do
valor. Manutenção do julgado.
DESPROVIMENTO DO RECURSO. 0004033-
46.2010.8.19.0206 - APELACAO DES. CELSO
FERREIRA FILHO - Julgamento: 03/05/2011 -
DECIMA QUINTA CAMARA CIVEL

Face ao acima exposto, com fundamento no art. 557,


Caput do CPC, nego seguimento ao apelo da empresa ré para
manter a sentença tal qual foi lançada.

Rio de janeiro, 19 de Abril de 2013.

MÔNICA MARIA COSTA


DESEMBARGADORA RELATORA

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Rel. Des. Mônica Maria Costa

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