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Poder Judiciário

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro


Gabinete da Desembargadora Denise Levy Tredler
DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL
ORIGEM: 18ª VARA CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL
AGRAVO INOMINADO NA APELAÇÃO CÍVEL Nº. 0274655-05.2010.8.19.0001
AGRAVANTE: ANONA EMPREENDIMENTOS S/A
AGRAVADOS: MARCOS AUGUSTO DE OLIVEIRA MADEIRA E GISELY
GOMES DE ALMEIDA
INTERESSADA: BASIMÓVEL CONSULTORIA IMOBILIÁRIA S/A
RELATORA: DES. DENISE LEVY TREDLER

AGRAVO INOMINADO EM APELAÇÃO. DIREITO DO CONSUMIDOR.


REPETIÇÃO DE INDÉBITO. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL “NA
PLANTA”. COMISSÃO DE CORRETAGEM. Pretensão de modificação
do decisum, sob reiterados argumentos de precedente recurso, além da
alegação de tratar-se de matéria não passível de julgamento conforme o
artigo 557, do Código de Processo Civil. Decisão que se funda em
iterativa jurisprudência deste Tribunal de Justiça. O aludido artigo 557
tem por escopo desobstruir as pautas dos tribunais, a fim de que as ações
e os recursos, que realmente precisam ser julgados por órgão colegiado,
possam ser apreciados o quanto antes. Aplicação dos princípios da
economia e da celeridade processuais. Ação de restituição de quantia
paga. Cobrança indevida de comissão de corretagem. Relação de
consumo. Aplicação da Lei nº 8.078, de 1990 (Código de Defesa do
Consumidor – CDC). Pagamento daquela remuneração, que é obrigação
do vendedor, salvo disposição legal em contrário, ou diverso acordo das
partes, consoante o artigo 724, do Código Civil. Possibilidade de
transferência deste encargo aos compradores, desde que haja previsão
contratual neste sentido e o cumprimento do prévio dever de informação,
o que restou inobservado na espécie. Contrato de compra e venda
celebrado pelas partes, cujas cláusulas foram unilateralmente redigidas
pela construtora e incorporadora do empreendimento imobiliário.
Embora exista previsão contratual no sentido de ser dos compradores a
obrigação de pagar a comissão de corretagem, não foi discriminado o
valor desta no quadro de resumo anexo ao instrumento. Ausência de
informações claras e precisas acerca do ônus a ser suportado pelos
consumidores. Cobrança que se mostra abusiva, consideradas as
circunstâncias do caso em exame. Ratificação da decisão anterior.
Agravo, que nada acrescenta para que se a modifique. Desprovimento
do recurso.

Assinado em 14/08/2013 17:04:21


DENISE LEVY TREDLER:000007273 Local: GAB. DES(A). DENISE LEVY TREDLER
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Gabinete da Desembargadora Denise Levy Tredler
Visto, relatado e discutido o Agravo Inominado nos autos da Apelação
Cível nº. 0274655-05.2010.8.19.0001 entre as partes acima nomeadas,
ACORDAM os Desembargadores da Décima Nona Câmara Cível do Tribunal
de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso, nos termos do voto da Desembargadora Relatora,
como segue.

Voto
Trata-se de agravo inominado interposto contra decisão desta Relatora,
que negou seguimento à precedente apelação formulada pela ora agravante.

Pretende a recorrente a reconsideração do decisum. Para tanto reitera os


argumentos de seu recurso anterior, assim como alega tratar-se de matéria não
passível de julgamento na forma do artigo 557, do CPC.

É o relatório.

Com efeito, segundo previsto no art. 557, do CPC e no verbete nº. 253,
da súmula do e. Superior Tribunal de Justiça, cabe ao relator negar seguimento
a recurso manifestado, voluntariamente ou de ofício, quando em confronto
com reiterados julgados consolidados em súmula ou jurisprudência dominante
dos tribunais, de acordo com a almejada celeridade da prestação jurisdicional,
da economia processual e da efetividade do processo, sem que isto implique
cerceamento a direito da parte sucumbente.

A propósito, a jurisprudência desta e. Corte Estadual, como segue.


“AGRAVO INOMINADO. AÇÃO DE COBRANÇA DE DIFERENÇA DO SEGURO
DPVAT. SEGUIMENTO NEGADO AO RECURSO POR MANIFESTA IMPROCEDÊNCIA.
É manifestamente improcedente o recurso em que o apelante sustenta tese sem
base jurídica, o que justifica que se negue seguimento por ato monocrático do
relator. O artigo 557 do CPC tem como escopo desobstruir as pautas dos
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Tribunais a fim de que as ações e os recursos que realmente precisam ser
julgados por órgão colegiado possam ser apreciados quanto antes. Por isso, os
recursos contrários à jurisprudência consolidada no tribunal de segundo grau
deverão ser julgados imediatamente pelo relator, através de decisão singular,
acarretando o tão desejado esvaziamento das pautas, bem como prestigiar o
princípio da economia processual e o princípio da celeridade processual que
norteiam o direito processual atual. Em relação à alegada prescrição esta não se
verifica, embora o sinistro tenha ocorrido em 1984, o fato jurídico descrito na
inicial submeteu-se à vigência do Código Civil de 1916, o que levou à
prescrição vintenária, nos termos do artigo 177 do Código revogado. A
indenização securitária tem validade e eficácia pelo valor efetivamente
recebido, constituindo direito líquido e certo do autor, ora agravado, receber a
diferença da indenização, posto que, o requerimento feito administrativamente é
causa interruptiva da prescrição. Conhecimento comum segundo o qual não
poderia o autor ter recebido o seguro antes de sessenta dias do requerimento,
presumindo-se a não incidência da prescrição. Quanto ao cerceamento de
defesa este é inexistente, visto que, em nome da segurança das relações
jurídicas, nas fls. 109, foi determinado por esta relatoria que fosse expedido
ofício à FENASEG, para que informasse se fora pago efetivamente a
indenização do seguro DPVAT, não tendo ela comprovado que o autor havia
recebido a indenização na sua totalidade. Decisão que se mantém pelo
Colegiado por estar de acordo com dominante Jurisprudência deste Tribunal.
Nega-se provimento ao agravo inominado interposto”. Ap. Cível nº.
2007.001.23738, Des. Maria Augusta Vaz, julg. 21/08/2007, 1ª Câmara Cível.
Grifos apostos.

A melhor doutrina tem conferido ampla abrangência ao controle do


relator sobre o juízo de admissibilidade do recurso, e mesmo sobre o seu
mérito, buscando a celeridade da prestação jurisdicional, evitando a sua ociosa
protelação. Neste sentido lecionam Nelson Nery Junior e Rosa Maria de
Andrade Nery:
“2. Juízo de admissibilidade. Ao relator, na função de juiz preparador de todo e
qualquer recurso do sistema processual civil brasileiro, compete o exame do
juízo de admissibilidade desse mesmo recurso. Deve verificar se estão presentes
os pressupostos de admissibilidade (cabimento, legitimidade recursal, interesse
recursal, tempestividade, preparo, regularidade formal e inexistência de fato
impeditivo ou extintivo do poder de recorrer). Trata-se de matéria de ordem
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pública, cabendo ao relator examiná-la de ofício. Pelas novas regras o relator
tem, também, o juízo de mérito do recurso (...).” In Código de Processo Civil
Comentado e legislação extravagante, Editora Revista dos Tribunais, 8ª
Edição, 2004, pág. 1041.

Ademais, tem entendido o egr. STJ, que, se o Tribunal que o relator


integra possui reiteradas decisões sobre a matéria objeto do recurso, é cabível
a sua decisão monocrática, pois o objetivo da modificação trazida pelo art. 1º,
da Lei nº. 9.756, de 1998, é reservar as pautas dos tribunais,
preferencialmente, a julgamentos de recursos que encerram matéria
controversa.

No mesmo sentido o seguinte aresto:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ART.


544 DO CPC. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. NEGATIVA DE SEGUIMENTO A AGRAVO
INTERNO. VIOLAÇÃO DO ART. 557, DO CPC. DECISÃO MONOCRÁTICA DO
RELATOR RESPALDADA EM JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL A QUE PERTENCE.
INOCORRÊNCIA. SÚMULA 83/STJ. 1. A aplicação do art. 557, do C.P.C. supõe
que o julgador, ao isoladamente, negar seguimento ao recurso, confira à parte,
prestação jurisdicional equivalente à que seria concedida caso o processo fosse
julgado pelo órgão colegiado. 2. A ratio essendi do dispositivo, com a redação
dada pelo art. 1º, da Lei nº. 9.756/98, visa a desobstruir as pautas dos tribunais,
dando preferência a julgamentos de recursos que encerrem matéria controversa.
3. Prevalência do valor celeridade à luz do princípio efetividade. Precedentes do
STJ. 4. Agravo regimental desprovido”. AgRg no Ag 7410.396/RJ, Min. Luiz
Fux, julg. 03/08/2006, 1ª Turma.

Acresce notar, como salientado na decisão de fls. 325/329, que


“(...) versa a lide sobre típica relação de consumo, enquadrando-se autores e
rés, respectivamente na qualidade de consumidores e prestadoras de serviços.
Sujeitam-se, portanto, às disposições da Lei nº 8.078, de 1990 (Código de
Defesa do Consumidor – CDC).

Cinge-se a controvérsia à legalidade de as empresas construtora e


incorporadora de empreendimento imobiliário transferirem a obrigação de

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pagar a remuneração dos corretores aos promitentes compradores dos imóveis
comercializados “na planta”.

Com efeito, acorde ao artigo 724, do Código Civil, a remuneração dos


corretores é responsabilidade dos vendedores, se não houver disposição legal
em contrário, ou diverso acordo das partes.

Releva salientar que a jurisprudência deste eg. TJRJ posiciona-se no sentido de


serem os compradores responsáveis pelo pagamento da aludida remuneração,
quando houver cláusula contratual que assim estabeleça e desde que seja
regularmente cumprido o dever de informação. (...)

No caso sob exame, embora determine a alínea “f”, da cláusula 18 do contrato


celebrado pelas partes, que é obrigação dos compradores pagar a
remuneração relativa à comissão dos corretores e da empresa, que prestarem
servido de intermediação do negócio, o que se verifica é que o prévio dever de
informação não foi plenamente cumprido, a par de inobservadas as normas
consumeristas aplicáveis na espécie.

É que, da análise do aludido instrumento (fls. 30/43), verifica-se tratar-se de


contrato de adesão, cujas cláusulas foram previa e unilateralmente redigidas
pela construtora e incorporadora do empreendimento imobiliário. Assim,
sempre ser redigido em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis,
além de serem redigidas em destaque as cláusulas que implicarem limitação do
direito do consumidor, de modo a permitirem sua imediata e fácil
compreensão.

Conforme salientado pelo magistrado de primeiro grau, a cláusula 18 refere-se


a despesas inerentes à aquisição do imóvel, que em regra constituem ônus do
comprador, com exceção da alínea “f”, que diz respeito à corretagem relativa
ao lançamento e comercialização do empreendimento imobiliário, e por
consequência, beneficia somente as sociedades construtora e incorporadora.

Dessa forma, a referida alínea deveria ter sido redigida com destaque, a par de
discriminado o valor da aludida remuneração no quadro de resumo anexo ao
contrato, juntamente com os outros valores a serem pagos pelos adquirentes
(fls. 24/25). É certo que a ausência da aludida especificação viola o dever de
informação, haja vista não trazer previamente explicitada a quantia que o
consumidor terá de suportar.
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Acresce notar que a comissão devida aos corretores foi cobrada juntamente
com a “entrada” paga pelos autores, no dia 28/12/2009. E, embora o valor do
imóvel contratualmente previsto fosse de R$275.595,00 (duzentos e setenta e
cinco mil, quinhentos e noventa e cinco reais), a aludida comissão foi
calculada sobre R$285.000,00 (duzentos e oitenta e cinco mil reais), consoante
fls. 144/145.

Ressalte-se, ainda, a vulnerabilidade dos consumidores, advogados ou não, que


se veem obrigados a cumprir as cláusulas contratuais impostas pelas empresas
no momento da celebração do negócio.

A tudo acresce que o pagamento da aludida remuneração não caracteriza


voluntária concordância com a obrigação, mas a necessidade de fazê-lo sob
pena de não concretização do negócio.

Dessa forma, as informações acerca do pagamento da comissão de corretagem


não foram corretamente prestadas aos autores, razão por que não há falar em
cumprimento adequado e satisfatório do dever de informação (inciso III, do
artigo 6, do CDC).

Assim, consideradas as circunstâncias do caso em exame, tenho por abusiva a


aludida cobrança, e por consequência, devida a restituição do valor pago pelos
autores. (...)”

Portanto, a decisão recorrida não merece reforma, vez que inexistem


novos elementos que a justifiquem. Assim, ratifico-a nesta oportunidade, por
seus próprios fundamentos, que este integram, na forma regimental.

Por essas razões, voto no sentido de negar-se provimento ao recurso.

Rio de Janeiro, 13 de agosto de 2013

Denise Levy Tredler


Desembargador Relator
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