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A preparação do cão de desporto

Desde há alguns milhares de anos que o cão se tornou o companheiro do


homem: inicialmente, para ajudá-lo nas suas tarefas diárias, e progressivamente,
para contribuir para o seu prazer, antes de começar, no século XIX, a dividir
totalmente o seu lazer. Gradualmente, o homem tem-se envolvido, dia após dia, na
vida do cão, com a finalidade de o selecionar, educar, treinar e alimentar da melhor
forma possível para que haja boas condições de vida para ambos. Foi assim que, de
simples caçador, guarda ou animal de carga instintivo, o cão se tornou companheiro
do homem, cão de field-trial,de pulka, de ring, de pastoreio ou de trenó. Por ser o que
é, o homem criou regras e competições para que o lazer se tornasse desporto e o
companheiro, um atleta. Nasceram os desportos caninos. Quatro elementos
condicionam o desempenho do desporto canino: a seleção genética, a relação
psicológica homem-cão, o treino (baseado no conhecimento das suas características
fisiológicas no esforço) e a nutrição, sendo que cada um desses elementos deve ser
necessariamente considerado.

Fisiologia do esforço físico


Tanto no cão como no homem, o trabalho intenso e a competição estão na
origem de um stress ao mesmo tempo orgânico e psicológico. Assim sendo, o
conhecimento geral das modificações fisiológicas induzidas pelo esforço físico permite
ao dono um melhor entendimento do cão. Por este facto, a sua preparação para uma
competição será melhor, prevenindo as eventuais afecções patológicas que possam
surgir.

Adaptações cardiovasculares e
respiratórias
As adaptações cardiovasculares e respiratórias ao esforço têm a finalidade de,
por um lado, garantir o fornecimento de oxigênio e de nutrientes necessários para a
atividade muscular e, por outro lado, permitir a eliminação dos resíduos,
particularmente do gás carbônico e do calor, produzidos pelo metabolismo muscular.
Estas adaptações são indispensáveis, não só para o bom desenvolvimento de uma
prova desportiva, mas também para manter o esforço para além dos instantes iniciais.
Assim sendo, devem distinguir-se dois tipos de resposta do organismo: - uma
resposta imediata adaptada às necessidades instantâneas do organismo, ou seja,
concomitante ao esforço;
- uma resposta de longo termo, que antecipa as necessidades do organismo e
corresponde às adaptações induzidas pelo organismo.

Durante o exercício físico

O papel essencial das alterações da função circulatória durante o trabalho é o de


aumentar o fluxo sanguíneo e, consequentemente, o fornecimento de oxigênio para os
tecidos cujo metabolismo aumenta, principalmente os músculos. O organismo realiza
esta função aumentando o ritmo cardíaco e redistribuindo a massa sanguínea até
locais em atividade, em detrimento dos locais em descanso. Estas modificações são
complementadas por um aumento da capacidade do sangue em transportar o
oxigênio, graças à contração do baço, que envia um grande número de glóbulos
vermelhos até ao sangue aumentando, assim, o hematócrito e a quantidade de
hemoglobina.
O ritmo cardíaco pode elevar-se consideravelmente e atingir dez vezes o seu
nível de descanso; a freqüência dos batimentos cardíacos aumenta de maneira muito
sensível: em função da intensidade do esforço, pode chegar a 300 batimentos por
minuto no galgo de corrida e 200 no cão de trenó. Ocorre uma intensa vasodilatação
nos músculos que trabalham, permitindo um aumento do fluxo interno.

Por fim, o fluxo ventilatório evolui em várias fases durante o esforço:

- durante os três a quatro primeiros segundos, a ventilação aumenta brutalmente;


- após alguns instantes ocorre uma segunda fase de aumento, mais lento;
- a seguir, alcança-se um patamar que se mantém até ao final do esforço;
- em fase de recuperação, ocorre uma lenta diminuição da freqüência respiratória, que
diminui de mais de 200 movimentos por minuto para aproximadamente 30.

Sob o efeito do treino

Após um treino diário de 4 a 5 semanas, o organismo do cão apresentará


alterações significativas no seu sistema cardiovascular e respiratório. Assim, as
modificações cardíacas e hemodinâmicas, causadas por um exercício físico repetido,
tendem a minimizar a energia necessária para o trabalho cardíaco, bem como a
desenvolver as capacidades de bombeamento do coração. Nos cães treinados, o ritmo
cardíaco em repouso é inferior ao dos cães sedentários e a arritmia respiratória é mais
acentuada. O volume plasmático aumenta, o retorno do sangue venoso melhora e,
consequentemente, o fluxo cardíaco global aumenta. Por vezes, um treino intenso
conduz a uma hipertrofia cardíaca. No Greyhound, por exemplo, seis meses de treino
diário intenso levam a um aumento de 50% da espessura da parede do coração e de
30% do volume da cavidade do ventrículo esquerdo. Da mesma forma, o treino irá
conduzir a um aumento do número e da densidade dos vasos sanguíneos capilares do
músculo. Por fim, ao contrário do que se acredita, um exercício físico regular no cão
com boa saúde gera pouca ou nenhuma alteração no aparelho respiratório;
verifica-se, apenas, que a capacidade global do organismo para consumir oxigênio
(fala-se em "V02max", consumo máximo de oxigênio) aumenta de maneira
considerável com um treino de resistência. Essas modificações só poderão ocorrer de
modo ideal nos indivíduos que apresentem um bom estado de saúde geral. Qualquer
alteração ou insuficiência dessas funções irá diminuir as possibilidades de adaptação
às condições do esforço, e, consequentemente, o desempenho desportivo ou de
trabalho.

Consequências do stress biológico de


esforço
Nos cães de desporto, o stress gerado pelo meio ambiente ou pelo esforço físico
produz modificações comportamentais (latidos, distúrbios da motivação, etc.),
modificações neurovegetativas (salivação, taquicardia, midríase, etc.), distúrbios
digestivos (vômitos, diarréias, úlceras gástricas) e anemia (fala-se até de anemia do
desportista). Portanto, um grande número dessas manifestações, relatadas pelos
utilizadores de cães no meio das competições desportivas, podem ser atribuídas a
este tipo de processo fisiopatológico.

Não raramente, o excesso de treino é uma causa preponderante destas


modificações, mas, também, não se deve ignorar o fato de que um cão sabe distinguir
bastante bem o treino do contexto de uma competição ou de uma intervenção real no
plano psicológico. De maneira geral, as situações causadoras de stress costumam
gerar angústia nos animais, que exteriorizam comportamentos característicos da sua
espécie. No cão, os comportamentos de angústia ou de grande temor exprimem-se
por reações bem conhecidas de eliminação (micções, defecações repetidas), de
vocalização (latidos, uivos) e outros comportamentos cuja repetição pode gerar
verdadeiras estereotipias: morder objetos, a jaula ou cavar o chão.

Por estas razões, reações comportamentais, neurovegetativas, digestivas e


outras podem, sem objeção, ser consideradas como decorrentes do stress. Do
conjunto das reações, parece bastante evidente que, no contexto de provas físicas
frequentemente muito desgastantes sob o aspecto metabólico, os distúrbios
digestivos estejam entre os mais prejudiciais para a condição física, principalmente
quando aliados a perdas de água e eletrólitos ou à insuficiência de água para beber ou
de consumo de alimentos.

Um plano de treino correto e inteligente, um ambiente psicológico calmo e


normal, mas, principalmente, uma alimentação adaptada serão as chaves da
prevenção dos problemas associados ao stress de esforço ou de excesso de treino no
cão.

Alterações metabólicas
Ao mesmo tempo em que o trabalho muscular influi de modo muito direto sobre
a natureza e amplitude da necessidade energética, também se repercute,
grandemente, sobre o equilíbrio global do organismo.

Fontes de energia

A energia química utilizada na contração muscular provém, unicamente, de


ligações químicas de "fosfato" ricas em energia, presentes numa molécula
fundamental, a adenosina trifosfato, ou ATP.

Durante o esforço, as concentrações de ATP da célula serão diminuídas e


deverão ser reconstituídas de maneira instantânea, enquanto o animal estiver a correr
ou a realizar o seu trabalho.

Essa reconstituição faz-se de acordo com três processos cujos respectivos


papéis e intensidades dependerão do tipo de esforço exigido do cão:

- Anaerobiose não-láctica : durante um esforço muito breve e muito intenso (alguns


segundos), o ATP é reconstituído a partir das reservas do músculo em fosfocreatina,
sem haver necessidade de oxigênio (anaerobiose) e sem produção de ácido láctico
(aláctica).
- Anaerobiose láctica : neste caso, que envolve os esforços intensos com menos de
dois minutos de duração (galgos de corrida, agility, ataque lançado), a energia é
reconstituída a partir do glicogênio armazenado no músculo e da glicose sanguínea,
sempre sem consumo de oxigênio, porém, desta vez, com a produção e a acumulação
de um resíduo metabólico, o ácido láctico. De maneira muito esquematizada, é quase
sempre a acumulação deste último que leva, por exemplo, ao aparecimento da fadiga
muscular e de cãibras.
- Aerobiose : trata-se de um processo metabólico que supre a necessidade energética
do cão assim que o esforço se torna resistência (intensidade menor, porém duração
de alguns minutos até algumas horas). Num primeiro momento, a glicose sanguínea é
oxidada, graças ao oxigênio levado até ao músculo pelos glóbulos vermelhos, mas,
diferentemente do homem, os lípidos irão constituir muito rapidamente a principal
fonte de energia do cão.

Sem entrar em grandes detalhes sobre aquilo que acabaria por se tornar um
tratado de medicina desportiva canina, o treino e a nutrição serão novamente
condicionados pelo conhecimento destes dados metabólicos específicos.

Para descobrir as qualidades do seu cão de caça: o gundog working test (gwt)
Nascidos em Inglaterra, os "Working Tests" destinam-se aos Spaniels e
Retrievers e permitem avaliar o cão e o seu dono em concursos. As classificações
baseiam-se numa tabela de pontos que evidencia a eficácia de recobro, o estilo do
cão que recobra (em função das diferentes raças) e a conduta do dono. Estas provas
não dão direito a prêmios oficiais, como as outorgadas nos field-trials. Foram
instituídos três níveis: a classe Puppy (para os cães nascidos após 01 de Janeiro do
ano anterior ao ano em curso), a classe Novato (para os cães nascidos antes de 01 de
Janeiro do ano anterior ao ano em curso e que nunca participaram num field-trial à
inglesa) e a classe Open (para os cães que já participaram num field-trial à inglesa).
Dominique Lebrun, - Juiz Société centrale canine

Seleção genética do cão de desporto


Ao contrário das outras grandes espécies de animais domésticos, o cão ainda
não foi afetado pela revolução dos métodos e técnicas de melhoramento genético.
Deve-se, essencialmente, ao fato, da posição socioeconômica do cão ser,
fundamentalmente, oposta à dos animais chamados "de produção" nas nossas
sociedades desenvolvidas. Essa constatação é que tem determinado a principal
orientação genética da espécie canina, que se caracteriza por uma diversidade
morfológica, procurada e orientada em primeiro lugar por critérios estéticos. Não
obstante, e paralelamente, a seleção tem envolvido, também, determinadas aptidões
físicas ou comportamentais, conduzindo à conhecida divergência genética
"beleza/trabalho", que conduziu aos diversos cães de trabalho a partir dos quais
surgiram os cães de desporto.

A importância dos resultados no trabalho


Atualmente, como desde sempre, os critérios primários de escolha dos
reprodutores caninos com vocação desportiva são os seus resultados no trabalho.
Para o geneticista, o objetivo é realizar a melhor comparação possível entre os
candidatos com potenciais genéticos transmissíveis (valores genéticos aditivos) sob o
ponto de vista dos seus desempenhos (fenótipo): tal abordagem só pode ser
concebida no contexto de provas desportivas sujeitas a um regulamento preciso.
Assim sendo, no estado atual da situação, sem querermos subestimar o valor e a
experiência de alguns criadores, ainda não é possível efetuar uma classificação dos
cães de uma raça com base no seu valor genético. Consequentemente, a escolha dos
melhores reprodutores de desporto caninos continua a ser aproximativa e, quase
sempre, muito empírica.

Assim, há ainda um longo caminho a percorrer para implementar boas


ferramentas de seleção genética no caso do cão de desporto, de trabalho e de
utilidade. Num esquema de seleção direta (busca da melhoria de um objetivo de
trabalho), o primeiro problema que se apresenta para o desempenho desportivo
reside na freqüente dificuldade em se medir este último com a precisão (ou
objetividade), a exatidão e a fidelidade (garantia de repetição) exigidas.

A corrida cronometrada do galgo de corrida representa a situação ideal mais


favorável, embora durante a corrida possam ser considerados vários parâmetros de
seleção:
- o melhor tempo realizado nas diferentes corridas de uma competição,
- o tempo médio calculado nessas corridas.
No caso do concurso em ring, a escolha do parâmetro torna-se mais ampla:
- classificação conforme escala dos juízes ou outra,
- classificação,
- ganhos que refletem o nível da competição e do desempenho (sistema utilizado para
o cavalo de desporto).

Podem ser aplicados critérios de seleção indireta (que influem sobre o


desempenho), como, por exemplo, testes de desempenho realizados em condições
standardizadas; o comprimento de perna do galgo de corrida, desde que
positivamente correlacionado com a sua velocidade, ou, até mesmo, o ângulo dos
segmentos ósseos durante a prova desportiva.

De fato, tal como estudada por Jean-François Courreau, especialista em


genética do cão de desporto na ENVA, a orientação atual dirige-se para um sistema de
índice de seleção genética, obtido a partir de vários desempenhos próprios do cão,
submetidos a um sofisticado tratamento matemático. Já foram obtidos os primeiros
resultados para o Whippet de corrida e para o Pastor Belga Malinois em concurso em
Ring. No futuro, irão permitir adaptar os métodos da genética moderna ao cão de
desporto.

Tamanho : para todos os gostos


O tamanho dos cães varia muito em função de modas e a relação entre
qualidade e tamanho está longe de ser evidente. Em França, prevalece a teoria do
respeito ao standard. A natureza é muito variada e existem apaixonados
incondicionais por cães de pequeno tamanho, ou o contrário, por razões que
frequentemente nada têm a ver com sua utilização prática. É verdade que a idéia dos
caçadores, que constitui a base da criação das raças que conhecemos hoje, era,
antes, bem mais utilitária.
As diferenças de tamanho estavam relacionadas com um trabalho específico e
essa noção técnica continua atual, principalmente entre os caçadores especialistas.
Há sempre modas mais ou menos duráveis e, aliás, interessantes.
Quando um determinado cão está na moda, em função por exemplo de seu êxito
nos field-trials, ele efetuará um grande número de acasalamentos e deixará a sua
marca na raça. Se ele gerar cães de pequeno tamanho e estiver bastante na moda,
dentro de poucos anos ver-se-á, forçosamente, uma diminuição global da altura
média da raça. Na verdade, é provável que os seus próprios descendentes também
façam muitos acasalamentos, se seguirem a mesma via e se reproduzirem tanto
quanto ele.
A seguir, talvez haja uma mudança na moda e os cães crescerão.
Não raramente, observam-se grandes efeitos de pêndulo na evolução da morfologia
das raças.

Diferenças segundo as raças

Correr pelas silvas ou por um pinhal impenetrável em busca de coelhos ou


galinholas nada tem em comum com o apanhar de uma raposa ou de um
cabrito-montês ferido e trazê-los de volta. Por esta razão, os ingleses criaram o
Cocker e os alemães, o Drahthaar (Braco Alemão de pêlo duro). É verdade que todos
os cães são polivalentes, porém na medida das suas possibilidades.
A seleção inicial, que culminou com os diferentes cães que conhecemos, levava
em consideração situações de caça que não eram, necessariamente, as que
conhecemos hoje. Assim, algumas raças criadas com uma determinada finalidade
servem agora para outra e, tecnicamente falando, o critério de tamanho, outrora
importante, pode muito bem deixar de o ser. É então que o respeito pelo standard
permite conservar a morfologia típica de uma raça, quando a sua utilização no campo
deixa de estar relacionada, obrigatoriamente, com o respeito pelo tamanho inicial.
Inversamente, o respeito intangível e estrito por um determinado tamanho, sob o
pretexto de que nada deve ser mudado da morfologia inicial de uma raça, pode ser a
causa de uma falta de adaptação que acaba por provocar a extinção da referida raça.

"Trabalho" e "beleza"

Quando os cinófilos não conseguem encontrar um ponto de entendimento sobre


o ponto anterior, acaba-se por ter, nas raças de caça, dois tipos diferenciados: os
cães chamados "de beleza" e os cães "de trabalho", cuja morfologia e tamanho se
tornam então muito diferentes. É sintomático observar que o tamanho dos segundos,
e também o seu peso, costumam ser inferiores aos dos primeiros, o que tende a
mostrar que as qualidades físicas de caça não exigiam forçosamente centímetros e
quilogramas suplementares. No caso de raças oficialmente diferenciadas, entre
trabalho e beleza, assim como nos países anglo-saxônicos, pode-se dizer então, sem
excesso, que os pequenos costumam ser os melhores no campo. Em França, onde
existe apenas um clube responsável por cada raça, prevalece a teoria do "belo e
bom", onde está claro o respeito pelo standard da raça e, nesse contexto, a
manutenção ou, melhor, a melhoria das qualidades de caça. Assim, alguns cães fora
do standard, devido a um tamanho pequeno ou grande demais, não poderão
reproduzir-se oficialmente, mesmo que a sua inteligência e as suas qualidades de
caça sejam grandes. Será isso um bem ou um mal para a raça em questão? Ninguém
sabe, mas não é por um cão não corresponder aos tamanhos admitidos pelo clube da
sua raça que ele caçará mal. Sem sair dos standards, existem pequenos e grandes
numa mesma raça e essa diferença pode ser um acaso ou o resultado de um efeito de
seleção em direção a uma atividade especializada.

Uma questão de especialização

Dentro de uma mesma raça, observam-se regularmente diferenças de tamanho


entre cães de origens diferentes, de acordo com a seleção própria de cada criador e
no contexto do respeito pelo standard. Os campeões de trabalho são mais ágeis do
que os campeões de beleza. Não é uma questão de moda, mas sim de especialização.

Mais precisamente ainda, há também pequenos e grandes numa mesma


ninhada. Terá isso alguma influência sobre a eficácia de uns e outros? Talvez,
novamente, dependendo do especialista, pois há atividades que se adaptam melhor a
um tamanho inferior ou superior. Caso contrário, a relação entre as qualidades e o
tamanho está longe de ser evidente: por exemplo, os meus dois melhores Setters
para galinholas são um macho pequeno e uma fêmea grande, enquanto que os meus
dois cães de parar são um macho grande e uma fêmea com o tamanho mínimo, ou
seja, exatamente 53 cm. As duas equipas foram escolhidas na mesma ninhada com
oito semanas de idade. Sendo impossível fazer prognósticos sobre o futuro de
cachorros com dois meses de idade, a primeira equipa foi escolhida pela cor da
pelagem (limão claro por razões de visibilidade nos bosques), enquanto a segunda,
blue belton, foi pelo seu visual apelativo, semelhante ao da mãe. Um apaixonado por
Setters, que veio recentemente escolher um cachorro macho, preferiu o mais
pequeno. Ao proceder assim, sempre tivera bons cães. Talvez estivesse com sorte ou
ainda tirasse proveito de uma seleção natural que faz com que o menor de uma
ninhada que se impõe entre os mais fortes seja necessariamente inteligente e
esperto? Não tentemos fazer mudar de opinião aquele que acredita que o tamanho do
cão influi sobre sua eficácia: não está mal começar a vida sob os bons augúrios de um
juízo favorável.

O treino do cão de desporto


Sempre que se fala de desporto canino e de determinados desempenhos que levam os
cães a se comportarem como verdadeiros atletas, somos levados a falar do treino do
cão de desporto . Parece evidente que um desportista humano deva passar por um
treino físico específico relacionado à atividade praticada e ao seu nível. Se quisermos
que o cão tenha um bom desempenho, a situação é exatamente a mesma para o
animal de boa saúde e feliz.

Os grandes princípios do treino


Treino significa "preparação física, técnico-táctica, intelectual e psicológica do
atleta através de exercícios físicos". Aplicando-se essa definição ao cão,
descrever-se-á uma sequência de exercícios físicos solicitados pelo dono num
ambiente que conserve um aspecto lúdico para manter a motivação do cão.

Noções de carga de trabalho

É fundamental a noção de carga de trabalho. Essa carga deve ter uma duração e
intensidade suficientes para poder qualificar uma atividade física como sendo um
treino. Essa carga deve aumentar à medida que o desempenho desejado melhora,
sem por isso tornar-se extenuante ou penosa para o animal, que perderia então toda
e qualquer motivação.

Características da carga de trabalho

A carga de trabalho deve ser aplicada de forma gradual, principalmente para o


cão principiante (para um animal já bastante treinado pode-se, às vezes, acelerar
algumas etapas), e de modo contínuo (só a regularidade permitirá a eficácia das
várias sessões de treino).

Deve variar com o tempo, pois, é impossível manter um cão na mesma


condição física o ano todo.

Portanto, deverá ser feita uma distinção entre períodos de preparação, de


competição e de treino.

A carga de trabalho também deve variar quanto ao seu conteúdo. Para uma
mesma atividade, serão solicitados vários fatores físicos ao cão, como potência,
velocidade, resistência e coordenação. Estes fatores requerem várias adaptações do
organismo do cão, com um período de recuperação diferente para cada adaptação. Se
um fator solicitar o organismo durante a recuperação de um fator diferente, o primeiro
não interferirá na recuperação do segundo; ao contrário, irá potencializá-lo e esse
sistema de cargas alternadas permite ganhos em termos de tempo e desempenho. Por
exemplo, durante a recuperação de uma corrida, pode-se exigir do cão um exercício
muito diferente, tal como um exercício de alongamento muscular.

A sucessão das cargas de trabalho deve seguir uma ordem precisa, dentro de
uma mesma sessão; de maneira geral, os exercícios de força explosiva, velocidade e
coordenação, são realizados no início do treino, seguidos pelos exercícios cuja
eficácia tem por base uma recuperação incompleta e, por último, pelos exercícios de
resistência pura.

Os métodos de treino
Treino da força muscular

Durante esforços muito intensos e muito curtos seguidos por períodos breves de
recuperação, é possível aumentar o trabalho e a força muscular sem aumentar o
consumo de oxigênio ou acionar um processo de catabolismo anaeróbio (fermentação
láctica). É o princípio de todos os exercícios de força pura, sendo o melhor exemplo o
"weight pulling" (competição de tração de cargas numa distância curta).
Treino da potência anaeróbia

A potência anaeróbia permite um trabalho muscular intenso na ausência de


oxigênio, sendo esse o caso numa corrida rápida (Galgos, ataque em ring). Na
prática, para desenvolver essa potência, alternam-se os exercícios intensos muito
curtos (velocidade de 10 segundos a um minuto) e os períodos de recuperação (2 a 4
minutos). Este tipo de treino é muito extenuante para o animal, física e
psicologicamente. Só deve ser considerado pouco antes do período de competição.
Treino da potência aeróbia

A potência aeróbia envolve os esforços longos que requerem uma melhoria do


transporte e da utilização do oxigênio. É o tipo de esforço solicitado aos cães
corredores e aos cães de trenós. Para isso, preconiza-se a corrida contínua de longa
duração a velocidade moderada, ou a sucessão de pequenas corridas a velocidade um
pouco mais rápida (3 a 5 min.), seguidas por períodos de exercício leve (caminhada
ou trote leve).

A divisão dos diferentes tipos de treino deverá ser feita em função do tipo de atividade
praticada, sendo a experiência e a audição do cão os melhores indicadores da eficácia
do treino.

O treino e a competição
O aquecimento

Todo atleta faz aquecimento antes de uma competição, de maneira a acionar


uma intensa atividade do seu sistema enzimático e de oxigenação (que entrarão em
ação para lhe fornecer a energia de que precisa) e diminuir os tempos de reação da
contração muscular.

Para o cão, o aquecimento pode consistir numa série de alongamentos-flexões


musculares, seguida de uma brincadeira que tem a vantagem de estimular tanto a
motivação do cão como, ao mesmo tempo, os seus músculos. Bem conduzido, este
aquecimento melhora a coordenação neuromuscular do cão, evita distensões e
contrações, e garante um ótimo estado fisiológico e psicológico, no início da
competição.
O arrefecimento

Após a competição, o arrefecimento é um ponto que não deve ser ignorado.


Entre outros, garante o êxito das próximas competições. Uma sequência de exercícios
muito leves conserva uma circulação a nível muscular suficiente para a eliminação dos
resíduos acumulados durante o esforço (ácido láctico, toxinas...). Uma leve
massagem também aumenta a eliminação das toxinas e acalma o animal. O cão sofre
uma fadiga muscular e articular bem menor, conservando uma melhor forma e moral
para as futuras provas.

Destreinar

No final da temporada de competição, a interrupção total e brutal do treino é


fortemente desaconselhada. O animal que interromper o treino irá perder muito
rapidamente o benefício adquirido e ficará mentalmente desestabilizado. Convém
diminuir progressivamente as cargas de trabalho, orientando-se a atividade física para
uma atividade cada vez mais lúdica.

Recuperação e excesso de treino

Após um período de esforço intenso, como é o caso de uma competição, é


natural que o cão passe por um período de fadiga fisiológica. Se esse cão for
corretamente alimentado e treinado, o seu organismo irá recuperar-se desta fadiga e
até a sob recompensará, isto é, durante um curto período após a sua completa
recuperação, estará em melhor forma do que antes da competição. Esse é o momento
ideal para exigir dele um novo esforço intenso.

Se, ao contrário, esse período de tempo não for respeitado e um novo esforço
for solicitado durante o período de recuperação, o organismo irá exceder os seus
limites, não conseguirá recuperar-se normalmente e irá desenvolver uma síndrome de
excesso de treino: perda de apetite e de peso, sensibilidade exagerada e grande
fadiga.
A garantia de uma temporada de competição equilibrada depende muito do
respeito dos tempos de recuperação do cão e do conhecimento do seu "relógio
biológico".

Treinar bem o cão é garantir-lhe uma saúde, desempenhos e uma moral "de
aço" ao longo do ano. É respeitar o seu trabalho e trabalhar para que ele perdure o
maior tempo possível, dentro do respeito das capacidades do animal, tanto no plano
físico como psíquico.

Para isso, a experiência e os conselhos dos especialistas, assim como a atenção


e o respeito pelo cão, são parâmetros que caracterizam um bom treinador.
Obs.:
Influência da relação homem-cão sobre o trabalho do cão
Esquematicamente, são três os modos de relacionamento num grupo restrito:
"autoritário", "democrático" e "laissez-faire". Em situação de trabalho, o cão executa
uma tarefa a pedido do seu dono. Encontra-se em situação de dominado enquanto o
homem tem o estatuto de dominante (estrutura social de tipo alfa-ómega). Nesse
quadro, deve-se proibir o modo relacional "laissez-faire", pois ele não permite a
execução da tarefa. A escolha do modo relacional entre o homem e o cão deve,
portanto, operar-se entre uma atitude "autoritária" ou "democrática". Durante a
expedição "Licancabur-Cães dos cumes" que ocorreu no Chile, em Abril de 1996, e
cujo objectivo, entre outros, era o estudo do comportamento dos cães de escombros
em alta altitude, foi-nos possível comparar a influência dos modos relacionais sobre o
comportamento dos cães em situação extrema.
A atitude "autoritária" consiste em deixar um grau mínimo de liberdade para os cães.
A busca das vítimas é totalmente guiada pelo dono, que induz a técnica de
exploração. O cão está em constante contacto visual com seu dono e a marcação da
vítima só ocorre após este tê-la incentivado. Dentro da díade, cada indivíduo cumpre
uma tarefa complementar.
O cão pode ser considerado como o "nariz" do dono, sendo este último aquele quem
decide sempre. No caso do modo "democrático", a zona de busca era percorrida em
separado pelo cão e o dono. A marcação de uma vítima resulta de um processo de
confrontação entre o cão e o homem. O trabalho de busca efectua-se numa relação de
sinergia entre os parceiros.
Quanto ao trabalho em si, ambas as relações revelam uma eficácia comparável. Em
ambos os casos, as vítimas são descobertas. Em situações extremas, ao contrário,
quando os cães experimentam um grande sofrimento fisiológico, o modo
"democrático" parece mostrar a sua superioridade.
Os cães das díades "democráticas" suportam mais um trabalho prolongado e em
condições penosas. Incentivados pelo seu dono, parecem aceitar e suportar um
sofrimento maior.
Os cães das díades "autoritárias" negam-se a seguir o dono quando aparece um
sofrimento que pode comprometer o seu prognóstico vital. Essa rebelião pode
conduzir ao aparecimento de comportamentos agressivos para com o dono. A relação
entre o homem e o cão é determinante para a execução de uma tarefa em situação
extrema.
A aceitação da dor pelo cão parece bastante mais forte quando a relação dentro da
díade se apoia em trocas mútuas. Portanto, num quadro de trabalho entre homem e
cão, parece interessante orientar a relação para um modo "democrático" e incentivar
um processo de decisão colectivo entre os parceiros.
Jean-Marc Poupard, Pesquisador do Laboratório de bio-sociologia animal e humana. -
Universidade de Paris V – Sorbonne - René Descartes.
Esquemas da sequência de busca de uma vítima em função dos modos relacionais
Díades "democráticas"
1. Reconhecimento visual da zona de busca.
O cão dirige-se imediatamente até uma zona restrita onde estão as vítimas.
2. Explorações da zona e da área circundante.
O cão percorre a zona.
Fareja (colecta de informações olfactivas) o local onde estão as vítimas. A exploração
estende-se à região ao redor. Os deslocamentos são mais rápidos. O dono pode
chamar o cão de volta sempre que este se afastar do local. Durante essa fase de
exploração, o cão e o seu condutor trabalham de maneira mais ou menos
independente. Os cães e os treinadores estão relativamente afastados uns dos outros.
3. Descoberta da vítima.
O cão volta aos lugares previamente explorados e reconhecidos como sendo um lugar
provável de soterramento de uma vítima. Fareja com maisinsistência. O cão espera
que o seu treinador se aproxime e estabelece um contacto visual com ele.
O cão efectua a marcação logo que o dono oincentiva a fazê-lo. Tudo acontece como
se existisse uma confrontação entre as deduções do cão e as do seu treinador.
Díades "autoritárias"
1. O cão é levado até a zona de busca.
O cão segue o seu treinador na zona de busca.
2. Exploração da zona e da área circundante.
O cão caminha junto ao treinador. O cão olha periodicamente para o treinador.
Durante esse período, cão e treinador trabalham juntos. O cão está constantemente
sob a autoridade do seu treinador.
3. Descoberta da vítima.
Durante a exploração, o cão imobiliza-se num provável lugar de soterramento de uma
vítima.
Fareja. Contacto visual com o treinador.
O cão efectua a marcação logo que o treinador o incentiva a fazê-lo.Tudo ocorre como
se o cão esperasse pela autorização do treinador para marcar a vítima.

Alimentação do cão de desporto


Esquematicamente, são três as categorias de factores que têm impacto sobre as
necessidades nutricionais do cão de desporto :
- o gasto energético induzido a ser considerado, quantitativamente muito variável,
porém qualitativamente fundamental;
- o stress, na medida em que, ao ser induzido pelo treino e pela competição, é o
responsável pela necessidade de adaptações nutricionais;
- a desidratação, que pode, numa medida que não deve ser desprezada, ser prevenida
pela nutrição.
Para isso, um alimento adaptado ao cão de desporto deverá:
- fornecer uma fonte de energia de óptima qualidade, nas quantidades apropriadas;
- minimizar, tanto quanto possível, o volume e o peso do bolo intestinal;
- ajudar a manter um correcto estado de hidratação do animal;
- ter um possível efeito tampão sobre a acidificação metabólica causada pela corrida;
- contribuir para optimizar os resultados de um treino bem conduzido;
- colmatar as perdas fisiológicos causadas pelo stress.
Portanto, alimentar um galgo de corrida como se fosse um cão de caça, ou um cão de
busca como se alimenta um cão de trenó torna-se uma aberração para quem espera
do seu cão o melhor desempenho possível e uma boa prevenção dos problemas
médicos ou traumatológicos.
Obs.:
A adaptação às gorduras alimentares. o bom e o mau
Em 1970, uma equipa de cães de trenó de competição foi-me enviada para consulta
no hospital para pequenos animais da Universidade da Pensilvânia. Estes cães
cansavam-se precocemente, após poucos quilómetros de corrida, e os melhores
especialistas Médicos da Universidade não encontraram nada de anormal. Sendo,
naquela época, especialista em... gado leiteiro, fui até ao local de criação destes cães
para uma visita pormenorizada. Vi cães a consumirem os seus próprios excrementos,
constatei que a alimentação era rica demais em amido e colectei amostras de sangue
e de urina. De qualquer maneira, o simples facto de alterar, "para ver", a alimentação
desses cães, fornecendo-lhes frangos inteiros, fez desaparecer o problema e, algumas
semanas depois, os cães que tinham consumido esses frangos gordos corriam mais
depressa e durante mais tempo do que os outros. Assim, nascera o conceito da
adaptação do teor de gorduras no cão, a seguir desenvolvido cientificamente por mim
mesmo para o cão de trenó e, posteriormente, pelos professores Arleigh Reynolds,
nos Estados Unidos, e Dominique Grandjean, em França. Pessoalmente, o cão de
trenó serviu-me de modelo para os estudos que conduzo há vários anos sobre o
cavalo de desporto no Instituto Tecnológico da Virgínia: um cavalo adaptado e que
consome gorduras, tal como o cão, porém numa proporção menor de lipídios na sua
alimentação, poupando glicogénio quando corre, tornando-se mais resistente, mas
também mais calmo e, paradoxalmente, mais leve (na verdade, há uma menor
quantidade de alimentos não digeridos no seu aparelho digestivo). A adaptação do
animal ao consumo de gorduras faz desaparecer uma afecção muscular clássica no
desportista, chamada rabdomiolise de esforço (destruição das fibras musculares
relacionada com a acumulação de ácido láctico). No entanto, outros problemas
musculares (o lado negativo) podem surgir, uma vez que estas gorduras alimentares
geram um maior desgaste das protecções antioxidantes do organismo. Nos anos 80,
observara que os teores sanguíneos em vitaminas E e C (antioxidantes) no cão de
trenó diminuíam acentuadamente durante o esforço. Os trabalhos de investigação das
equipas já citadas concentram-se agora neste problema, com a finalidade de
determinar os níveis de suplementos nutricionais antioxidantes eficazes.
Professor David S. Kronfeld - Médico Veterinário, doutor em Ciências, Diplomado
pelas Faculdades Americanas de Nutrição e de Medicina Interna - Instituto politécnico
da Virgínia, Blacksburg, Estados Unidos

Especificidades nutricionais
Em primeiro lugar, a quantidade de energia a ser fornecida a um cão sofre a influência
da intensidade e duração do esforço. De uma maneira global, o objectivo de cada
treinador deve ser, antes de tudo, manter o peso ideal do cão, pesando-o, se
possível, semanalmente e adaptando as quantidades de alimentos distribuídas
diariamente, de modo a manter um peso ideal estável.
No entanto, actualmente um certo número de dados científicos permitem precisar a
abordagem em determinados casos hipotéticos: assim, para um galgo de corrida,
sabe-se que a participação numa corrida provoca um aumento de apenas 5% da
necessidade energética em relação à necessidade de manutenção do cão, enquanto
que, em condições extremas (como é o caso do Iditarod no Alasca, 150 km por dia a
umatemperatura de – 50° C), um cão de trenó de 20 kg poderá consumir até 12.000
kcal por dia (sete vezes a sua necessidade de manutenção!). De forma mais geral, e
de maneira esquemática, uma hora de trabalho leva a um aumento de,
aproximadamente, 10% da necessidade energética demanutenção, o que pode levar a
um acréscimo da alimentação diária de 40 a 50% para um "dia" de trabalho ou de
desporto . As variações da temperatura ambiente também deverão ser levadas em
conta: para combater o frio ou o calor em torno da sua "zona de neutralidade térmica"
(em torno de 20° C), o cão precisa de mais energia.
A qualidade da energia fornecida ao cão durante o esforço assume uma importância
fundamental e, assim, conduziu a uma definição dos critérios de uma energia
optimizada para o cão de desporto. Além da própria natureza dos nutrientes
valorizados, podemos reter duas considerações de qualidade:
- a energia deve estar rápida e facilmente disponível nos locais próprios da sua
utilização (a célula muscular);
- o equilíbrio dos componentes energéticos deve ser tal de modo a que a combustão
se realize com um mínimo de resíduos, um máximo de eficácia e sem risco de
bloqueio metabólico.
Assim, quanto mais longo o esforço, mais rico em gorduras deverá ser o alimento,
passando de um teor de 16 a 20 % para um cão que pratica esforços curtos, para 35
% para um cão submetido a um esforço de resistência (sendo 20 a 25 % um teor
óptimo para um esforço intermédio).
Para tornar a energia facilmente disponível e rapidamente utilizável pelo organismo
em situações de esforço, é, também, indispensável utilizar alimentos completos secos
especializados e hiperdigeríveis (aqueles que os fabricantes qualificam de "premium"
ou "superpremium"), resultando num reduzido volume alimentar e fecal. Este facto
pode ser avaliado de maneira simples, comparando-se o volume fecal ao volume
ingerido, sendo que o óptimo valor no cão de desporto situa-se a 45-50 gr de
matérias fecais para 100 gr de matéria seca ingerida.
Como o esforço constitui uma fonte de stress para o organismo, este tem
necessidades nutricionais específicas, que podem ser esquematizadas da seguinte
forma:
- aumento da necessidade em proteínas, as quais deverão representar de 32 a 40 %
da matéria seca do alimento, dependendo da intensidade do esforço;
- aumento da necessidade em vitaminas do complexo B (em particular B1, B6 e B12),
mas também em nutrientes antioxidantes (vitamina E, selénio) e em ácidos gordos da
série ómega 3 (oriundos do peixe e que podem melhorar a fluidez dos glóbulos
vermelhos, as trocas de oxigénio e diminuir os fenómenos inflamatórios gerados pelo
esforço);
- suplementos nutricionais úteis não presentes no alimento completo utilizado:
L-carnitina (essencial para a boa utilização celular dos ácidos gordos e para a
recuperação), ácido ascórbico ou vitamina C (que normalmente não é um nutriente
essencial no cão), probióticos (bactérias lácticas que melhoram a digestão dos
alimentos).
Alimentação prática
Em termos práticos, a alimentação do cão de desporto deve:

- ser nutricionalmente equilibrada,


- ser concentrada e hiperdigerível,
- ser correctamente distribuída e consumida pelo cão.
O dono deve, portanto, considerar os alimentos para cães de desporto como sendo
uma série de adaptações específicas em torno dos três critérios a seguir:
- cobertura da necessidade de manutenção,
- aumento da densidade do alimento em energia e em nutrientes essenciais,
associado a uma redução da quantidade de matérias fecais,
- enriquecimento do alimento para corresponder à necessidade energética do esforço
(gorduras) e ao stress (proteínas, vitaminas).
Obviamente que, em tal contexto, apenas os alimentos industriais completos secos
poderão ser considerados (sendo que a alimentação caseira torna-se anedótica e o
alimento húmido enlatado, excluído), os quais poderão receber suplementos
adaptados às especificidades de cada prática desportiva.
Para isso, uma vez escolhido o alimento correcto, deve-se implementar um plano
anual de alimentação, o qual deverá adaptar-se, rigorosamente, à evolução do treino:
- período de descanso anual: alimento de manutenção de qualidade excepcional,
- período de treino: passagem progressiva para um alimento de trabalho (período de
uma semana em cada transição), ou adição crescente de um suplemento alimentar de
trabalho à alimentação de manutenção
- período de competição: acrescido ao trabalho, o stress pode requerer adaptações
nutricionais suplementares. Quantitativamente, alimento diário deverá ser adaptado à
evolução do peso corporal do animal;
- período de destreino: retoma progressiva ao alimento de manutenção.
Relativamente às quantidades diárias a administrar, um cão de desporto ou de
utilidade não deverá trabalhar em jejum, uma antiga crença sem fundamento,
prejudicial ao desempenho e bem-estar; deverá receber, pela manhã, um quarto da
quantidade diária de alimento com bastante água, pelo menos quatro horas antes de
trabalhar, e o restante à noite, num horário fixo.
Finalmente, o fornecimento de água a um cão de desporto deverá ser permanente,
principalmente imediatamente após o esforço, para prevenir os problemas de
desidratação.
Elementos de medicina desportiva canina
O desenvolvimento incessante dos desportos caninos, mas principalmente do número
e do nível das competições, levou ao aparecimento de uma verdadeira medicina
desportiva dedicada ao cão, com a finalidade de enfrentar os problemas levantados
por uma patologia desportiva muito específica.
A integridade do aparelho locomotor é, evidentemente, essencial em todo e qualquer
cão de desporto ou de trabalho, onde o claudicar (coxear) é sinónimo de dor e mau
desempenho.
Este pode ser causado, primeiramente, por uma lesão nas almofadinhas e/ou espaços
interdigitais, pelo facto de ser esse o único lugar anatómico através do qual o cão
transpira. A prevenção dessas afecções, bem conhecidas pelos caçadores e pelos
mushers, passa por um endurecimento das almofadinhas através de um spray
endurecedor e a aplicação de graxa (mistura de lanolina e alcatrão de pinho da
Noruega) ou, melhor ainda, de uma pomada feita de ácidos gordos hiperoxigenados
nos espaços interdigitais (com grandes propriedades anti-inflamatórias). Nalguns
casos (cão de trenó), também é muito recomendada a utilização de botas protectoras.
Subindo ao longo dos membros, seria possível mencionar as dezenas de afecções
traumáticas ósseas, articulares, tendinosas e ligamentares próprias de determinadas
actividades desportivas. Assim como o homem, o cão de desporto e de trabalho está
sujeito a problemas tão clássicos como entorses ou luxações, e até mesmo fracturas.
Da mesma forma, no cão, o músculo poderá, em situações de esforço, sofrer
incidentes que vão desde a simples contratura ao rompimento, passando por
distensões, ou ainda afecções inflamatórias, tais como tendinites ou miosites.
Utilizam-se métodos de diagnóstico sofisticados, tais como a ecografia ou termografia
(detecção através de uma câmara térmica das zonas de calor ou frio no animal) que
permitem a implementação dos tratamentos mais adaptados; a fase de reeducação
pode tirar proveito dos benefícios dos métodos chamados "fisioterapêuticos".
Neste campo da traumatologia desportiva do cão, é importante considerar a
prevenção, que passa obrigatoriamente:

- por um treino físico bem elaborado, regular, que leve o cão ao máximo do seu
potencial desportivo em período de competição;
- pela aquisição de uma gestualidade reflexa que corresponda ao esforço solicitado. O
cão deve ser acostumado a evoluir em determinado ambiente, de maneira a que o
posicionamento das suas patas seja óptimo;
- por um aquecimento antes de qualquer treino ou competição, e uma descontracção
muscular durante o período de volta à calma após o esforço;
- por uma ingestão permanente de água que evitará toda e qualquer desidratação
prejudicial ao músculo, mesmo que seja mínima;
- por uma alimentação perfeitamente adaptada, qualitativamente ao tipo de esforço
fornecido, e quantitativamente à manutenção do peso ideal do cão.
Obs.:
A medicina desportiva canina
Os desportos caninos estão em constante desenvolvimento; alguns, aliás, ganham,
pouco a pouco, o estatuto de desporto olímpico (sempre que homens e cães
partilham o mesmo esforço, nada mais lógico para a pulka e o trenó), outros
tornam-se um extraordinário meio de educação, através da brincadeira, da criança e
do seu cão (as competições de agility comprovam esse facto), enquanto, enfim, os
mais belos valores ancestrais da mãe Natureza voltam até nós graças aos cães de
pastoreio.
Assim sendo, as populações de desportistas caninos aumentam, juntamente com a
notoriedade de cada uma das actividades e com o profissionalismo – no sentido nobre
da palavra - que delas decorre. Para corresponder a essa evolução é que, em 1985,
foi organizada na Escola Nacional Veterinária de Alfort (ENVA) a primeira jornada de
estudos dedicada, em escala internacional, à "medicina desportiva canina" e, com o
passar dos anos, aquilo que não era senão um conceito, deu origem, em 1996, à
Unidade de Medicina de Reprodução e do Desporto (UMES), uma unidade clínica e de
investigação da ENVA que dedica as suas actividades ao serviço dos profissionais do
cão. Na sua faceta de Medicina Desportiva, essa unidade inovadora para uma escola
de Medicina Veterinária (só existem unidades equivalentes em duas universidades
americanas, Auburn e Universidade da Flórida) dispõe de uma consulta três vezes por
semana, uma estrutura de fisioterapia-reeducação funcional e um laboratório de
investigação (Laboratório de fisiopatologia dos lípidos e radicais livres) que estudam
as consequências biológicas e celulares do stress de esforço no cão. A Unidade de
Medicina da Reprodução e do Desporto é também uma estrutura de campo, pois os
seus Médicos Veterinários estão oficialmente presentes em muitos locais de
competições desportivas caninas, mesmo no plano internacional. De disciplina
emergente ainda há alguns anos, a medicina desportiva canina está a adquirir
progressivamente o seu estatuto de especialidade reconhecida, em resposta a uma
procura real, vinda dos criadores, e envolvendo tanto a preparação do cão como as
afecções patológicas específicas, ou ainda os problemas da luta contra o doping.
Expedição científica "licancabur-cães de cumes - 1996"
Objectivo: conhecer as consequências biológicas e nutricionais do trabalho a grande
altitude no cão de busca de pessoas soterradas.
Realizada em Abril de 1996 no Norte do Chile, no cume do vulcão Licancabur, que
culmina a 5.980 metros, a expedição "Cães dos Cumes" tinha como objectivo estudar
os efeitos biológicos do trabalho a grande altitude (carência em oxigénio e menor
pressão barométrica) no cão de busca de pessoas soterradas. Com efeito, este é
frequentemente utilizado para salvar vidas humanas durante terramotos ou
deslizamentos de terra em altitude (Cordilheira dos Andes, Ásia), ou por ocasião de
avalanches nas montanhas. Para isso, os socorristas humanos e caninos não dispõem
de nenhuma possibilidade de adaptação progressiva à altitude, pois esses casos
requerem uma intervenção marcada pela urgência.
Para os preparar melhor para o famoso "mal das montanhas" e exercer o seu papel
nessas difíceis condições com perfeição, homens e cães do Corpo de Bombeiros de
Paris e dos Carabineiros do Chile participaram nessa manobra "natural", resgatando
vítimas soterradas em ruínas incas, situadas ao longo dos poços do vulcão
Licancabur, sem aclimatação prévia. Os resultados científicos dessa expedição
estabeleceram claramente a importância de uma preparação nutricional optimizada,
baseada no consumo pelos cães de um alimento completo seco hiper-energético e
hiperprotídico suplementado com vitaminas antioxidantes (vitaminas E e C) e com
ácidos gordos essenciais da série ómega 3 (óleos de peixe).
Aproveitando a ocasião, foi realizado um estudo comparativo semelhante no homem e
novas expedições desse tipo serão organizadas no futuro, em colaboração com a
Unidade de Medicina de Reprodução e do Desporto da Escola Nacional Veterinária de
Alfort e o Centro de Investigação da sociedade Royal Canin.
Doutor Fathi Driss - Centro Hospitalar Universitário Paris-Ouest
O cão de trenó dispõe de sua própria estrutura veterinária internacional
A Associação Internacional de Medicina Veterinária do Cão de Trenó (International
Sled Dog Veterinary Medical Association) é uma organização veterinária profissional
que reúne mais de 400 membros distribuídos pelos cinco continentes e vindos de
países tão diversos como a Nova Zelândia, a Groenlândia, o Japão ou a África do Sul.
Fundada em 1991, a ISDVMA tem como objectivos promover activamente e incentivar
acções que visem o bem-estar e a boa saúde do cão de trenó e desenvolver
investigações científicas que permitam entender melhor esse cão excepcional.
A ISDVMA organiza um simpósio anual e reuniões no mundo inteiro, com a finalidade
de apresentar aos Médicos Veterinários as mais recentes descobertas científicas nessa
área e, também, publica regularmente uma revista e obras que propiciam trocas e
intercâmbios permanentes. Edita também uma base de dados, que é actualizada a
cada ano, reunindo todas as publicações científicas ou técnicas dedicadas ao cão de
trenó. Enfim, a ISDVMA proporciona a formação dos mushers para o conhecimento
dos seus cães e fornece, para as federações e organizações internacionais,
veterinários especialistas para acompanhar as mais de 4.500 corridas de cães de
trenó organizadas anualmente em todo o mundo.
A ISDVMA oferece bolsas de estudos e investigação para vários estudantes
veterinários apaixonados por este assunto.
Professor Jérôme A. Vanek - University of Minnesota Saint-Paul, Minnesota, Estados
Unidos

Fisioterapia e reeducação funcional


A fisioterapia é uma disciplina médica que procura restabelecer a funcionalidade
normal de um elemento anatómico, recorrendo a diferentes tratamentos não
invasivos, tais como, por exemplo, tratamentos térmicos (essencialmente ultra-sons),
a mobilização passiva de um membro, a estimulação neuromuscular ou um simples
exercício de reeducação.
A utilização dos métodos científicos de fisioterapia para melhorar os processos de
recuperação no atleta canino, ou num cão que tenha sofrido uma intervenção cirúrgica
óssea ou muscular, foi recém introduzida na Medicina Veterinária e está relacionada
com a criação da Unidade de Medicina de Reprodução e do Desporto da Escola
Nacional de Veterinária de Alfort. Assim sendo, a utilização desses métodos para
melhorar os processos de recuperação do atleta canino está a dar os seus primeiros
passos.

Os aspectos benéficos da fisioterapia


O objectivo da fisioterapia é o retorno a uma função normal do elemento anatómico
(ou do animal) afectado. Muito frequentemente, com efeito, o tratamento cirúrgico de
uma distensão muscular, tendinoso ou ligamentoso, ou a estabilização de uma
fractura, não constituem senão a fase inicial da reabilitação do animal. Não sendo esta
devida e regularmente acompanhada, o resultado afectará invariavelmente as
capacidades físicas do cão e levará a um desempenho atlético menor. Assim, os
aspectos benéficos da fisioterapia para o paciente canino incluem os seguintes
elementos:
1. Aumento dos fluxos sanguíneos e linfáticos
2. Regressão precoce dos processos inflamatórios
3. Aumento da produção de tecidos de substituição
4. Prevenção das lesões periarticulares
5. Retorno ao funcionamento normal da articulação afectada
6. Prevenção dos fenómenos de atrofia muscular
Um dos aspectos positivos não desprezíveis dos métodos de fisioterapia é que eles
envolvem o dono do animal na boa condução do tratamento, pois o dono torna-se
parcialmente responsável pela boa recuperação do cão.
Tratamentos térmicos

O calor é o método de utilização mais antigo e costuma revelar-se eficaz. Estes


efeitos benéficos são os seguintes:

- diminuição da resposta inflamatória (calor, dor, inchaço, espasmos musculares),


- aumento do nível de metabolismo dos tecidos aquecidos,
- os tecidos fibrosos cicatriciais tornam-se mais facilmente extensíveis,
- aumento do fluxo sanguíneo,
- diminuição da sensação de dor.

Os tratamentos térmicos podem ser superficiais (bolsas térmicas, lâmpadas de calor,


hidroterapia), por exemplo, no caso de um ferimento nos dedos, ou basear-se na
"dispersão de calor relativa", obtida, por exemplo, com ultra-sons ou microondas.
Tratamentos térmicos também podem ser aplicados em ferimentos profundos,
utilizando-se aparelhos de ultra-sons, muito difundidos entre os cinesioterapeutas.
Mobilização passiva e massagens

A mobilização passiva é um movimento imposto pelo terapeuta com a finalidade de


recuperar uma amplitude articular ou uma perda de flexibilidade e elasticidade das
partes moles. Constitui uma importante modalidade pós-traumática de prevenção das
aderências tecidulares e de manutenção de uma dinâmica normal da articulação.
Aumenta a drenagem do sangue e da linfa e previne as lesões musculares e os
bloqueios articulares. Este tratamento deve iniciar-se no mesmo dia da intervenção
cirúrgica e prosseguir durante duas a três semanas. A massagem, por sua vez, pode
ser útil, quando não há nenhuma lesão muscular, para diminuir a sensação de dor e
melhorar a circulação do sangue.
Natação
A natação pode permitir movimentos de extensão articulares e o funcionamento dos
músculos, sem que para isso os órgãos fiquem sobrecarregados em termos de peso.
Permite também movimentos articulares de grande amplitude e pode ser
implementada muito rapidamente após uma intervenção cirúrgica.
Electroestimulação

Pequenos aparelhos autónomos de electroestimulação neuromuscular podem, através


da pele, fazer com que os principais grupos de músculos se contraiam ritmicamente.
Permitem evitar os processos de atrofia muscular, associados ao repouso forçado ou
a uma prolongada imobilização parcial.

Laser de baixa energia

Nas afecções musculo-tendinosas também são utilizados lasers suaves e a aplicação


de campos electromagnéticos, ao que parece, com bons resultados.

Um programa de fisioterapia bem conduzido é um elemento essencial para a boa


recuperação do cão. Utilizando-se os métodos citados, torna-se possível
implementar, juntamente com o dono do cão, um plano de reeducação funcional de
várias semanas, em todos os aspectos semelhante ao que é feito para o homem.
Obs.:
O laser habitualmente utilizado no cão de desporto
Diferentes tipos de laser podem ser utilizados no cão de desporto com a finalidade de
ajudar na cura de problemas musculares ou de tendinites. A sua eficácia, é lógico,
depende das suas características técnicas e, geralmente, são utilizados lasers
"suaves" em acupunctura do cão, lasers "médios" nas afecções dos músculos ou
articulações e lasers "duros" em cirurgias, estando estas denominações ligadas à
intensidade e à potência do raio laser. Os efeitos terapêuticos dos lasers permitem
combater a inflamação, o edema e diminuir a intensidade da dor (efeito antálgico), e
aceleram o processo de cicatrização no caso de lesão ou ruptura. Por ser um
tratamento não-invasivo promissor para o cão de desporto, o laser faz parte do
equipamento do Médico Veterinário especializado, embora o seu custo continue
bastante alto.
Doutor Petra Horvatic-Peer - Médico Veterinário, Universidade de Viena.

Exemplos de protocolos de fisioterapia


Caso número 1: Greyhound que sofreu uma cirurgia ortopédica reparadora de uma
fractura do tarso.

Semanas 1 e 2 :
Imobilização com gesso.
Mobilização passiva da anca e do joelho.
Estimulação do músculo quadríceps.

Semanas 3 e 4 :
Imobilização com gesso.
Mobilização passiva da anca e do joelho.
Semana 5 :
Remoção do gesso.
Controlo radiológico da fractura.
Mobilização passiva da anca, do joelho e da articulação tibio-tarsiana.
Estimulação dos músculos gastrocnémio e tibial cranial.
Natação diária (alguns minutos).
Imobilização em jaula, com breves caminhadas com trela curta, para as necessidades
fisiológicas.
Semana 6 :
Caminhadas breves com trela curta.
Natação diária.
Mobilização passiva das articulações tarsianas.

Semana 7 :
Breves corridas em liberdade.
Natação diária.
Caminhada lenta prolongada.
Semanas 8 e 9 :
Aumento progressivo da duração e intensidade da caminhada, do trote e da corrida.
Semana 10 :
Retoma do treino.

Caso número 2: Greyhound que sofreu uma fractura fechada do fémur tratada por
redução cirúrgica e colocação de uma placa.

Semana 1 :
Mobilização passiva do jarrete e do anca.
Massagens na perna.
Aplicação de compressas geladas sobre a área cicatricial para prevenir qualquer
fenómeno inflamatório ou edematoso.
Electroestimulação dos músculos da coxa (especialmente o quadríceps).
Semana 2 :
Remoção das estruturas.
Mobilização passiva.
Massagens.
Se necessário, aplicação de compressas geladas.
Electroestimulação.
Semana 3 :
Diatermia muscular.
Mobilização passiva.
Electroestimulação.
Natação (um minuto três vezes por semana).
Caminhada com trela curta.
Semana 4:
Diatermia muscular.
Mobilização passiva.
Natação (1 a 2 minutos cinco vezes por semana).
Caminhada com trela.
Semanas 5 e 6 :
Caminhada com trela.
Natação.
Semanas 7 e 8 :
Condução da fisioterapia pelo dono.
Caminhadas com trela, declives, rampas ou escadas.
Em todos os casos de utilização de métodos de recuperação por fisioterapia, é muito
importante efectuar um acompanhamento documentado e semanal dos progressos do
animal. Num plano que compreende várias semanas, a passagem para a etapa
seguinte só deve ocorrer quando os objectivos da semana anterior tiverem sido
alcançados. A condução da parte final do tratamento pelo dono só será possível
quando os apoios do animal tiverem voltado ao normal.

Combater o doping
Face ao constante desenvolvimento das diferentes actividades de desporto canino e
considerando-se a amplitude e a importância de algumas manifestações, o respeito
pelo animal, bem como pela ética desportiva, passa pela necessária implementação
de controlos antidoping no cão de desporto. As corridas de galgos (Estados Unidos,
Austrália, Europa) e as de pulka e cães de trenó (Estados Unidos, Europa) aparecem
como os precursores, por disporem, há anos, de regulamentos internacionais e de
controlos regulares durante as competições.
O doping não é a preparação fisiológica do atleta; esta é essencial e deve ter a
supervisão do Médico Veterinário. Portanto, deve ser considerado como doping a
utilização de substâncias e meios destinados a aumentar, artificialmente, o
rendimento numa competição, prejudicando a ética desportiva e a integridade física
ou psíquica do cão.
Embora extremamente raros, existem casos de doping no cão de desporto :

- doping para vencer, quando o que está em jogo é importante;


- doping para perder, quando existe alguma aposta em dinheiro (caso do galgo de
corrida);
- doping para fazer perder, sendo o objectivo administrar ou fazer consumir ao(s)
cão(cães) concorrente(s) uma substância dopante proibida, indo nesse caso mais
além do que uma simples fraude!
As regulamentações existentes recorrem a listas de produtos proibidos, tais como,
por exemplo, a utilizada para o cão de trenó pela IFSS (International Federation for
Sled Dog Sport). Assim, neste último caso, estão proibidas:
- Substâncias analgésicas
- Substâncias anti-inflamatórias, esteróides ou não-esteróides
- antiprostaglandinas
- estimulantes do sistema nervoso central
- antitússicos
- sedativos e anestésicos
- diuréticos
- esteróides anabolizantes
- miorelaxantes
- substâncias anticolinérgicas
- substâncias anti-histamínicas
- injecções de sangue
Durante os controlos antidoping, as amostras colectadas poderão ser a saliva, o
sangue ou a urina do cão, sem perigo nenhum para o animal e respeitando regras
muito restritas (amostras contraditórias são codificadas para garantir o anonimato,
seladas antes de serem levadas, com total segurança, até ao laboratório de análises).
Exceptuando todos estes aspectos regulamentares e de controlo, é importante que
cada dono se convença do perigo que o doping representa para o cão: anabolizantes,
estimulantes, tranquilizantes, anti-inflamatórios, diuréticos ou beta-bloqueadores são
medicamentos que, quando utilizados para esse fim, provocam efeitos colaterais
prejudiciais.
Portanto, mesmo que se refira a uma ínfima minoria de indivíduos inconscientes, o
combate ao doping é uma necessidade dissuasiva, que deverá ser cada vez mais o
objecto de uma educação séria e preventiva no mundo do desporto canino.

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