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mundo bolha
novas
Para os Zappaheads de plantão:
Napoleon Murphy Brock, Don
Preston e Roy Estrada estão em

promoção
digressão pela Inglaterra tocando
o creme do material clássico do
Mothers. Até agora foram 12 datas
em 15 dias de tour! O grupo se
apresenta com o nome de The
Grandmothers Of Invention.
poeira Zine/Michel Leme
e Rainer Tankred Pappon
O selo britânico Market Square
“Devemos nossa carreira lançou no começo deste ano o
a Eddie Cochran” álbum inédito Abbots Langley, um
projeto do sensacional guitarrista
Ollie Halsall (ex-Patto, Tempest,
Pois é, segundo muitos críticos de
Boxer, Kevin Ayers, Rutles e Dre-
peso, e até músicos de bandas concor- ambox). A bolacha foi registrada no
rentes, como o Cream, o Blue Cheer foi o começo dos anos oitenta e contava
‘pai da matéria’ no quesito Heavy Metal. com o batera John Halsey, também
Isso aconteceu em 1968, quando o trio um ex-integrante do Patto. Abbots
lançou sua vigorosa estréia, Vincebus Langley é um retrato da fase mais
Eruptum, álbum que continha aquela difícil da carreira de Halsall: nesse
versão avassaladora de “Summertime período o guitarrista vivia numa
casa sem energia elétrica e gás e
Blues”, faixa essa que, segundo a própria
roubava comida e leite da porta
banda, serviu de trilha sonora da força dos vizinhos para se manter em pé;
armada yankee nos campos de batalha gravou o disco com uma guitarra
vietnamitas. roubada e com um amplificador
O que interessa agora é que a detonado. Para mais informações
banda voltou depois de um hiato de 16 anos longe dos sobre esse lendário guitarrista,
estúdios, silêncio esse rompido pelos acordes endiabrados de acesse o The Ollie Halsall Archive
What Doesn’t Kill You, o mais recente atentado do trio de São (www.olliehalsall.co.uk)
Francisco.
Que tal conferir algumas gemas
Dickie Peterson; baixista, fundador, vocalista e frontman do da coleção particular de Bob Hite,
BC está no comando da embarcação, que conta também com a

Tati Mello
o lendário e saudoso crooner e
presença ilustre do batera Paul Whaley como convidado, sujeito frontman do Canned Heat? Sempre
que foi morto e enterrado por engano pela imprensa rocker, um foi sabido que Hite era um ávido
par de anos atrás. Inclusive sua saúde definitivamente não é a colecionador e estudioso do velho
mesma, como confessa Peterson: “Paul era tão louco como eu Blues, mantendo uma volumosa
em nossos primeiros dias de banda. As vezes ele sofre alguma coleção de discos de 78 rota-
ções. Recentemente, graças a um Dois dos maiores guitarristas do país estão
reação em função desses excessos de tempos passados, mas
trabalho de garimpagem de seu
posso garantir que Paul está ok agora, inclusive devo admitir ex-companheiro de banda, Fito De lançando e divulgando seus novos trabalhos!
que é muito bom tocar com ele novamente. Tocamos juntos, La Parra, e do DJ Walter De Paduva O guitarrista, compositor e arranjador Michel
mas a sensação é de como estivéssemos tocando um contra (Dr. Boogie), uma pequena amostra Leme, lançou recentemente seu CD Michel
o outro... pura provocação mesmo”. O baixista aproveita e dos arquivos de Hite chegam ao Firma contendo nove impecáveis
Leme & A Firma,
emenda: “Durante as gravações Paul adoeceu, então algumas formato digital via o CD Dr. Boogie
Presents Rarities From the Bob temas. O guitarrista se mostra cada vez mais
das faixas foram gravadas por outro baterista, Joe Hasselvan-
der, que já tocou com o Raven e com o Hites Vaults, cortesia do selo Sub abençoado e seu estilo livre e inspirado são a
Rosa. Neste primeiro exemplar tônica das composições, todas de sua autoria.
Pentagram”.
da série temos 19 faixas, dentre Essa nova orgia sonora de Michel contém mais
As guitarras do novo disco estão elas uma gravação de 1941:
por conta do experiente Andrew “Death Ray Boogie”, original de de 70 minutos de duração, passeando por
“Duck” McDonald, músico que está Pete Johnson. O melhor de tudo: diversos climas, andamentos e sabores. Mais
há 22 anos no Cheer e que manda aqui você ouve tais pérolas do informações no site michelleme.com
muito bem em todo o álbum, como jeito que Hite também as ouvia, Já o guitarrista Rainer T. Pappon lançou um
comprova a faixa de abertura e novo com todos os ruídos e chiados
originais do LP. DVD, Live in Havaí, produzido pela grande Tati
hino dos motoqueiros mundo afora:
Mello. O divertido DVD traz o Rainer T. Pappon
“Rollin’ Dem Bones”. Na regrava-
Em abril rola uma mega con- Trio ensaiando, brincando e se divertindo num
ção de “Born Under A Bad Sign”, venção de fãs do Free na Ingla-
do mestre Albert King, “Duck” cuida clima totalmente ‘em casa’. Os destaques são
terra. O evento comemora os 40
também dos vocais. Pegada forte total. anos do primeiro ensaio do grupo as maravilhosas faixas do mais recente CD
Segundo Peterson, somente agora foi dada ao grupo a e acontece no Tynemouth’s Park homônimo de Rainer e os extras do dvd, con-
chance de fazer o que der na cuca e o novo álbum é a prova Hotel. Os novatos do Get Vegas tendo versões para clássicos de Zappa, King
dessa espontaneidade. Tal liberdade fica evidente, principal- estão escalados para fazer um Crimson e Focus. Para adquirir o DVD, que
mente na balada “Young Lions In Paradise”, sim o Blue Cheer set especial em tributo ao grupo
e espera-se a ilustre presença de vem acompanhado de uma palheta e de dois
pode fazer uma boa balada em pleno século 21 e soar ok. porta-copos, você pode entrar em contato com
algum ex-integrante da banda.
O líder do Blue Cheer está contente, pois através da asso- Mais informações você encontra o guitarrista pelo myspace.com/rtpappon
ciação do grupo com a geração Stoner Rock dos anos 1990, o em myspace.com/freeconvention
público nos shows da banda está cada vez mais jovem: “Nos
shows, nosso público atual é composto de jovens; eles apare- Falando em ex-integrante do Ganhe na faixa: CDs do Michel, do Rainer e
cem num número bem superior ao dos nossos antigos segui- Free, quem está de banda nova é edições da poeira Zine!
dores. Quem vem ao nosso show esperando um trio de coroas o batera Simon Kirke. Muito bem Para levar essa boiada, escreva uma carta pra
fazendo algo nostálgico quebra a cara. A energia é imensa e acompanhado por sinal: Ian McLa- gente, escrita a mão, respondendo a seguinte
gan (Small Faces/Faces), John
estamos dispostos a colocar a casa abaixo todas as noites”. questão: Quais os nomes de cinco bateristas
Waite (The Babys/Bad English) e
Quanto aos 40 anos do lançamento de Vincebus Eruptum Audley Freed (Cry Of Love/Black que já tocaram com Frank Zappa?
este ano, Peterson comenta empolgado: “Vamos celebrar na Crowes). O nome do combo ainda
estrada, creio que essa seja a melhor maneira de comemorar. não foi revelado. Envie sua carta para:
Não faremos como as bandas antigas, que estão tocando seus
álbuns clássicos na íntegra durante os shows. Prefiro pensar Steve Hackett está trabalhando Promoção Michel/Rainer pZ
em relançar o disco num formato mais atraente e caprichado, num novo projeto mais voltado Caixa Postal 12089
ou até pensar no lançamento de um box set cobrindo toda a para o rock e que de lambuja traz Cep 02013-970 - São Paulo/SP
participações de Chris Squire e
carreira do Blue Cheer”.
Simon Phillips.

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mundo bolha

Ca
a p a s H i s t óri ca s do lado de cá...
Irmandade do blues (SP)

Para afirmar a
importância desse
pessoal na música
brasileira basta
lembrar que eles são
a banda de blues
de São Paulo que
está a mais tempo
na ativa: 14 anos.
Isso fica pra lá de
evidente na com-
petência de Good Feelings, o
novo trabalho de estúdio da Irmandade.
A banda, formada por Vasco Faé (gaita, voz e gui-
tarra), Silvio Alemão (baixo), Edu Gomes (guitarra) e
Fernando Lóia (bateria), chega ao seu segundo regis-
tro esbanjando bom gosto nos timbres das 14 faixas,
dentre elas versões para clássicos de Dave Mason,
Janis Joplin, Big Bill Broonzy e Alphonse Mouzon,
além de sons próprios.

Space Ritual {Hawkwind}


Site: irmandadedoblues.com.br

lado de lá...
United Artists: 1973 Design: Barney Bubbles

do
Barney Bubbles merecia ser muito do Hawkwind naquele tempo
mais reconhecido, além do que é cultu- após o sucesso do single “Silver
ado. Mais popular? Não seria apro- Machine”. Era um espetáculo com
priado. Não é do mesmo tipo de artista poesia, artes plásticas, o show
gráfico que um Roger Dean, cujo de luzes de Liquid Len and The
apelo é mais para o belo e o épico. Lensmen e a dançarina Stacia ao
Barney (nome real: Colin Fulcher) era som em alto volume dos Hawks
o inquieto, o típico freak da Portobello comandados pelo guitarrista Dave
Road, onde viviam os doidões naquela Brock. A capa desdobra-se em seis
Londres pós-psicodélica. Nesse partes, frente e verso, e mostra
cenário, nada mais natural do que ele uma deusa (Stacia) guardada por
estar associado ao Hawkwind. Toda felinos, antigas imagens egípcias
a concepção da banda casava com o e balinesas, e o grupo fotografado
estado de espírito e a arte de Barney. por Laurie Lewis e Gabi Naseman
A parceria começou em In Search em plena orgia sonora. Frases de
Of Space (1971), segundo álbum letras de músicas sobre imagens
do Hawkwind, e seguiu em Doremi cósmicas conferem um charmoso Get Vegas (UK)
Fasol Latido (1972) e até 1978, tudo e simplório mistério a alguns dos
muito bem-elaborado e bem-sucedido, painéis, e os envelopes dos elepês Chega a surpreender. De todos os integrantes do
incluindo cartazes e ocasionalmente são literalmente “decorativos” (mas Get Vegas, apenas um já ultrapassou a casa dos 20
cenários de palco. Mas o trabalho dele seu exemplar não estará completo anos de idade! E sabe qual a principal influência dos
que causou mais impacto foi a arte do sem eles). caras? Free, Bad Company, Montrose e Foreigner.
álbum duplo ao vivo da banda, Space Barney cometeu suicídio em O grupo tem apenas 18 meses de vida e até agora
Ritual, de 1973, o segundo LP com 1983. Além do Hawkwind, também não assinou contrato com nenhuma gravadora. Os
Lemmy no baixo e em alguns vocais, trabalhou com Edgar Broughton garotos garantem que fazem cerca de seis shows por
e também a primeira gravação oficial Band, The Damned, Ian Dury & The semana e estão no momento gravando sete faixas para
em disco do muito subestimado artista Blockheads, Michael Moorcock e um mini-álbum a ser lançado em julho.
Robert Calvert. Elvis Costello. Em 1978 criou o novo Trechos de quatro sons você confere no myspace da
Abrir a capa da edição original logotipo do semanário New Musical rapazeada: myspace.com/getvegas. A bolachinha pro-
inglesa enquanto se ouvem as bola- Express, que seria usado até fins mete, principalmente pelo vocal classudo e cheio
chas é viver o que se pode, hoje, da dos anos 80. de confiança de Jonny Cole. Confira o poder de
experiência sensorial que era o show (Ricardo Alpendre) fogo do sujeito em “Lying Dreams”.
Site: getvegas.co.uk

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Gentle
Giant
“A gente não curtia muito sociali-
zar com outras bandas. Na maioria
do tempo, preferíamos contar com a
companhia dos integrantes do nosso
próprio grupo, conservando e pro-
tegendo assim a sinergia que rolava
entre nós. A verdadeira força do Gentle
Giant era a forma de como tocávamos
e encarávamos a música em sua tota-
lidade. Apesar de toda essa complexi-
dade, nosso desejo era extremamente
simples: apresentar o material com
honestidade e humor, convidando
o verdadeiro ouvinte a dividir
conosco esse nosso pequeno
cantinho do mundo”.
Gary Green

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Desvendamos os mitos do gigante:
a sagaz trajetória dos irmãos Shulman, a dedicação e a busca pela verdade musical, os instrumentos pouco usuais, os discos legendários, as tours equivocadas e muito mais...

A
casa da família Shulman vivia sempre agitada. Músicos não conseguiria empresariar o grupo e ser músico ao mesmo tempo.
amadores e profissionais, professores, novos aspirantes e O jeito foi contratar um sujeito famoso em Portsmouth, que cuidava de
outsiders de meia idade conversavam, rodeados por muitos alguns outros grupos da região e descolava shows nas mais distantes
instrumentos, espalhados pelos quatro cantos da modesta, porém acon- cidades! O novo manager deu as caras, mas fez exigências: o nome da
chegante residência. Para quem tinha começado a vida nos Gorbals de banda deveria mudar para Simon Dupree and The Big Sound. Apesar de
Glasgow, na região barra pesada da Escócia, reiniciar tudo num sobrado soar oportuno e picareta demais, os irmãos Shulman toparam a parada,
de Portsmouth, mais precisamente na Eastney Road, Southsea, era mas resolveram deixar tudo em família, contratando o cunhado como
bom demais. novo empresário. O sujeito atendia pelo nome de John King e era produ-
O dono da casa, o mentor da família Shulman, era um genuíno repre- tor da conceituada rede BBC de televisão. Não tinha muita experiência
sentante da classe operária britânica do pós-guerra. Trabalhava de dia com bandas de rock e pop, mas possuía muitos contatos e conhecia as
como representante de vendas, para depois cair na noite tocando pessoas certas.
trompete em grupos de jazz. Nas horas vagas ministrava aulas King descolava uma média de seis shows mensais para os garotos
de música, daí o fato de sua residência estar sempre abarro- e um cachê médio de 25 libras, o que ainda não era nada razoável.
tada de gente interessante. Pelo menos serviu para deixar o grupo mais conhecido na região Sul
No meio desse clima crescia a nova geração da família da Inglaterra. Nessa altura, um dos pontos altos dos shows do Simon
Shulman: o mais jovem, Raymond, começou tocando trom- Dupree and The Big Sound era uma versão para uma canção dos Five
pete aos cinco anos de idade e dois anos depois já dominava Americans: “I See The Light”. King sacou isso e colocou a banda para
o violino. Derek se interessava pelo violão e percussão e Phil registrar essa faixa num estúdio em Bristol. Sem perder tempo, o empre-
pelos instrumentos de sopro. A garotada cresceu praticando sário levou a gravação para os executivos da EMI, que na seqüência
ao menos uma hora por dia, já que o papai Shulman trazia recrutou um show particular do grupo. Segundo Derek essa experiência
consigo tradições familiares judaicas e escocesas; musical- foi traumatizante e uma das mais embaraçosas de sua carreira: fizeram
mente, era um bocado severo com os garotos, mas nunca fez um show particular, de cerca de uma hora de duração, na frente de três
imposições religiosas, por exemplo. Logo Derek e Raymond caras engravatados. Apesar da sensação ruim deixada em Derek, a gra-
montaram uma dupla, com Derek na guitarra e Ray no violino. vadora gostou do que viu (e ouviu) e contratou o grupo por cinco anos, o
Não demorou muito e na adolescência eles já tinham um grupo que naquela época significava muito.
semi-profissional: The Howling Wolves. Com o contrato debaixo do braço os irmãos Shulman partem atrás de
Rolava o ano de 1965: os Beatles lançavam Rubber Soul e uma agência de negócios e trombam com Arthur Howe, que os coloca
arquitetavam ainda de forma sucinta uma drástica mudança nos na estrada com Beach Boys e Helen Shapiro; bastou para os tablóides
rumos da música. Nessa altura do campeonato, Derek e Ray Shul- sensacionalistas estamparem que o grupo havia assinado um contrato
man estavam mais para o R&B e o blues elétrico de Chicago; influên- milionário. Claro que não era bem isso...
cia maior de grupos como os Rolling Stones, Animals e Yardbirds. Os Segundo Ray, a experiência daquela tour foi muito proveitosa. Pas-
Howling Wolves iam nessa onda e se apresentavam uma vez por mês saram a tocar para um público médio de 2000 pessoas por noite, sendo
na escola local. que um mês antes apresentavam-se para no máximo 400. No embalo da
Os rapazes tinham apenas um par de amplificadores, que preci- tour a EMI lança “I See The Light”
savam ser transportados de um local para outro, então a primeira como compacto. O disquinho
necessidade da moçada foi descolar uma Van. Como a grana era entra no Top 50 e a lendária rádio
pra lá de curta para a compra da Van, o jeito foi solicitar os serviços Caroline executa-o à exaustão.
de um empresário, Phil Shulman, irmão mais velho da dupla (Phil é Com cerca de seis shows
cerca de 10 anos mais velho que Derek, que por sua vez é três anos semanais, Simon Dupree and The
mais velho que Ray). Big Sound começava a chamar
O primeiro mérito de Phil foi descolar um show para os rapazes atenção pelo país. Derek havia
na escola em que lecionava música, isso por um cachê de 18 libras encerrado os estudos, no entanto
(cerca de 60 reais). Bastou para a garotada achar que Phil era uma Ray ainda estava no colégio e
espécie de empresário que caiu do céu. Para animar ainda mais a Phil continuava dando aulas.
moçada, Phil tinha uma grana guardada e comprou a tão desejada No meio tempo a EMI lança
Van. A glória foi tamanha que resolvem mudar o nome do grupo para mais dois compactos da banda:
The Road Runners. “Reservations” e “Daytime
Com o tesão adolescente impulsionando-os cada vez mais, resol- Nightime”. A projeção dos dis-
vem que precisam incrementar o som e caprichar cada vez mais no quinhos serviu para melhorar o
R&B. Agora todos tinham amplificadores individuais, guitarras Fender cachê dos rapazes, que faziam
e um organista; só faltava algum instrumento de sopro para dar um tours numa van e contavam com
molho, de preferência um saxofone. Claro que sobrou para Phil, que um roadie e com uma ainda
não só adquiriu o instrumento como também passou a tocá-lo em pequena aparelhagem. Chega-
shows e ensaios. ram a dividir o palco com The
Tocavam coisas diversas, desde Howlin’ Wolf até Johnny Rivers e Jimi Hendrix Experience em três
rapidamente chegaram à conclusão de que Phil diferentes ocasiões, sendo uma
5
Beatles No fim de 1969 os irmãos
Shulman colocam um fim no
disfarçado projeto. Haviam conseguido
grana suficiente para passar
o próximo ano gerando
aquela que seria talvez a
mais ousada banda do que
viria a ser conhecido como
rock progressivo.
Antes de passarmos
para a biografia do Giant,
um pequeno toque para os
Simon Dupree and The
completistas. Por muitos
Big Sound, mais conhe- anos foi divulgado entre os
cido como o pré-Gentle fãs que o pré-Giant, Simon
Giant, chegou a gravar Dupree and The Big Sound,
uma canção psicodélica teria gravado somente um
sob o pseudônimo The único compacto, “Kites”. Na
Moles. O compacto, pro- verdade, a banda lançou
curadíssimo hoje pelos
ao todo nove compactos
colecionadores, trazia
as faixas “We Are The
e registrou 16 faixas em
Moles Part 1” e “We Are estúdio. Todas elas podem
The Moles Part 2” e seu ser encontradas no CD Part
lançamento foi acompa- Of My Past - The Simon
nhado de um estrondoso Dupree and The Big Sound
boato entre a imprensa Anthology, lançado pela EMI
e os clubes noturnos: em 2004.
The Moles nada mais

S
era do que os Beatles
disfarçados. Tudo veio egundo os
por água abaixo graças a irmãos Shulman,
Syd Barrett, que revelou o que mais os
ao mundo que The Moles aborrecia era o fato dos
era na verdade o Simon músicos que faziam parte do
delas durante a gravação do primeiro instante. King insistiu e alertou: “Se Dupree e não os Beatles. Simon Dupree and The Big
O então líder e mentor Sound não serem capazes
programa germânico de TV Beat não gravarem eu caio fora!”. O grupo cedeu;
do Pink Floyd costumava
Club. gravou a canção, participou do conceituado de alçar vôos mais altos,
assistir os ensaios para as
Pouca gente sabe, mas depois programa televisivo Top Of The Pops e se gravações do programa musicalmente falando. Não
dos Beatles e dos Moody Blues, mandou para uma tour pela Suécia. Top Of The Pops e des- é segredo, inclusive, que
Simon Dupree and The Big Sound “Kites” chegou ao quinto posto das para- vendou o mistério. Bastou os Shulman ensinavam os
foi um dos primeiros grupos a das, apimentando os shows e os cachês, para as vendas despenca- caras e mostravam como
usar o Mellotron no estúdio e mas no fundo os irmãos Shulman não esta- rem e para Simon Dupree queriam uma levada de
nos palcos. O pessoal entrou em vam contentes; a banda estava agora sendo and The Big Sound ser bateria, ou um solo de
conhecido como um pica- guitarra ou uma harmonia
contato com a novidade quando vendida como a nova salvação do pop. Esse
reta de marca maior.
gravavam seu primeiro álbum no caminho era definitivamente o que eles mais nos teclados. Uma situação
Abbey Road Studios, em 1967. queriam evitar. Segundo Ray, infelizmente Na foto acima: Simon Dupree constrangedora para os
and The Big Sound contando com irmãos era ter que realizar
Durante a noite, os Beatles grava- pelo fato de talvez serem ainda muito um ilustre integrante; Reg Dwight,
vam seu Sgt. Peppers no estúdio jovens, estavam ouvindo demasiadamente ou melhor, Elton John, o segundo overdubs sobre as partes
2 e, durante o dia, a banda dos a opinião de terceiros e com isso ficando da esquerda pra direita. dos demais integrantes e
irmão Shulman usava e abusava sem força suficiente para controlar o próprio segundo os Shulman’s,
do mesmo espaço. Segundo destino musical. Ao vivo, eram uma banda quando chegaram a con-
Peter O’Flaherty, integrante do de rock de verdade, um autêntico misto de pré-punk garage sound e clusão de que tocavam bateria
Simon Dupree, a atmosfera criada freakbeat soul, mas a imprensa começou a vender o grupo como a nova melhor do que o próprio baterista
pelos Beatles dentro daquele e careta revelação do mundo pop. Isso, acrescido do ridículo e bufante do grupo, era mesmo o fim.
estúdio era algo imensamente novo guarda-roupa, acabava minando a paciência dos Shulman’s. Rapidamente ficou muito claro
prazeroso: “Ali podíamos flutuar Até 1969, Simon Dupree and The Big Sound lançou um álbum que tais músicos certamente não
pés”, declarou.
sem sentir nossos pés” (Without Reservations) e mais cinco avulsos: “For Whom The Bell Tolls”, contribuiriam em nada no próximo
Durante as gravações os Beatles “Part Of My Past”, “Thinking About My Life”, “Broken Hearted Pirates” projeto.
não tiravam seu equipamento e “The Eagle Flies Tonight”. Toda essa profusão não impediu o fim O primeiro passo foi estabe-
do local, apenas deixavam tudo precoce do grupo. lecer um padrão para avaliar os
amontoado num canto da sala, A gota d’agua aconteceu quando começaram a fazer o circuito de novos candidatos. As exigências
inclusive o Mellotron. Lógico que cabarés pela Inglaterra. Aquilo era humilhante demais, então ficou naturais eram: ser brilhante no
os Shulman brothers usavam o resolvido que o grupo encerraria suas atividades, pois o mútuo respeito próprio instrumento, saber cantar,
mesmo equipamento dos Beatles musical entre os integrantes havia desaparecido por completo. encarar sem crise o aprendizado
para gravar suas canções e no O constrangimento era tamanho que Derek era obrigado a conceder de um novo instrumento e não
fim de cada sessão colocavam entrevistas como sendo o próprio Simon Dupree: “Era muito embara- se prender a um estilo musical
cuidadosamente tudo de volta em çoso, eu me sentia muito mal ao encenar toda aquela falsidade. Durante específico.
seu devido lugar. um período fui obrigado a repetir o que os publicitários me diziam, mas O primeiro novo reforço veio
Apesar de tudo e de toda em certo ponto fiquei enfurecido e comecei a falar o que não devia”. com o nome de Kerry Minnear,
essa ousadia sonora, faltava Ray também passou a ter ódio dessas estratégias de marketing da um tecladista graduado na Acade-
emplacar um hit de verdade. gravadora: “Esse exagero de publicidade começou a funcionar contra mia Real de Música, indicado por
John King sugeriu então que a gente, pois na grande imprensa rolavam boatos absurdos como o de um amigo de Phil Shulman. Kerry
gravassem uma canção chamada uma cobra que foi entregue de presente para nós num teatro onde nos havia recentemente passado
“Kites”, mas os rapazes odiaram apresentaríamos. Falaram que era presente de um fã do oriente e que por uma autêntica roubada: se
a canção e se recusaram num logo depois a cobra desapareceu...”. mandou para a Alemanha com
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um grupo chamado Rust.
Lá, literalmente comeu o
pão que o diabo amassou;
passou fome e chegou
a dormir na rua, já que
a banda foi um fracasso
entre os germânicos.
Juntou grana por
quatro meses para
conseguir voltar
para a Inglaterra,
onde foi repatriado
pelos pais. Segundo
os Shulman’s, Kerry
parecia um refugiado
de guerra naqueles
idos de 1970.
O tecladista do
Giant teve uma infân-
cia e uma adolescên-
cia completamente
musical. Gostava muito
de cantar com o seu pai
e aos sete anos de idade
já tocava piano. Depois
passou para a bateria e

Gentle
pela guitarra e na juven-
tude achou que seria uma
boa estudar composição,
regência e música erudita.
Foi essa ânsia que o levou
Sabbath
para a Academia Real de
Música, onde se graduou
um pesadelo
em composição, con- pela América
quistando um título muito
atípico para um músico do
‘universo rock’. Aliás é muito
O GG foi escalado para
falado dentre os fãs do GG abrir um show do Black
que quando Minnear se curtiram nem um pouco seu “No anúncio tinha um telefone, então Sabbath em Los Ange-
graduou, fazia mais de dez anos amigo guitarrista; como falar isso liguei e marquei uma audição num pub, les, durante a terceira
que ninguém conquistava esse para Minnear? Tudo se acalmou ao norte de Londres. Chegando lá me tour norte-americana da
título na Academia (Outro músico quando chegaram a conclusão de deparei com um bumbo de bateria que banda de Tony Iommi.
graduado pela Academia foi Rick que Minnear também não curtia o trazia o logotipo de Simon Dupree and Era a primeira vez que o
Wakeman). Giant excursionava pela
som do amigo. The Big Sound. Por um momento pensei
Segundo o próprio Minnear, América e contavam com
O próximo e natural passo foi que estava fazendo a coisa errada, um pequeno, porém fiel
nos anos em que se dedicou aos inserir um anúncio no semanário mas logo percebi que os caras tocavam séquito de fãs na costa
estudos eruditos na Academia musical Melody Maker
Maker, algo do muito; muito mais do que eu, inclusive. oeste do país. Apesar
Real ele raramente acompanhou tipo: “Banda de nome e com con- Rapidamente eles estavam pedindo disso, a platéia obvia-
o que acontecia na cena pop. trato assinado procura guitarrista”. para eu tocar certas coisas e percebi mente estava lá para
Apenas duas bandas o tiraram de Gary Green foi o 45º guitarrista a que estavam curtindo. Foi uma bela assistir o Black Sabbath,
seu casulo: King Crimson e Yes; ser testado, porém com um tre- experiência, já que naquele instante o que causou uma tensão
ambas aprovadas pelo jovem mendo diferencial; foi o primeiro decidi sair um pouco do universo do imensa sobre o grupo dos
músico, que assistiu seus pri- irmãos Shulman.
a pedir para afinar sua guitarra blues, que eu tanto adorava e ainda
meiros concertos em 1969. Uma O pior aconteceu
com o teclado e com o baixo adoro. Apesar disso, o blues soava um quando o GG executava
vez por ano, Minnear pintava antes de começar a tocar. Isso pouco restrito e o que eu queria era uma de suas calmas
no Ronnie Scott’s, um conceitu- encorajou bastante os Shulman’s, ousar musicalmente, então aqueles passagens com violino e
ado e caríssimo bar de jazz. Lá que desde o início olharam para eram os caras...”. violoncelo: uma bomba
ele conferia timidamente o que o jovem guitarrista com outros Para a bateria veio Martin Smith, de fumaça foi atirada
estava despontando no cenário. olhos. Quando perguntado sobre também recrutado via anúncio na pelo público e estourou
Sua idéia era lecionar e escre- suas principais influências, Gary Melody Maker. Com o grupo formado, em pleno palco!
ver música quando deixasse a respondeu: Freddie King, B.B. ensaiaram pra valer, durante seis meses Imediatamente, Phil, o
Academia, no entanto achou mais mais tímido e contido dos
King e Soft Machine. em Portsmouth, um repertório já par-
interessante ingressar antes num irmãos Shulman, inter-
Gary havia passado por cialmente escrito pelos irmãos Shulman rompeu o show, para
grupo de rock, foi daí que acabou diversos grupos e era um fanático durante o ano anterior. o espanto de todos os
no Rust. estudioso do blues, como muito O nome Gentle Giant é escolhido e os demais integrantes. Che-
Minnear foi o primeiro músico outros músicos de sua geração. experimentos sonoros começam a rolar gando ao microfone ele
que os Shulman’s contacta- Como suas bandas sempre livremente nos ensaios (seis horas por simplesmente apontou
ram visando o novo projeto. O davam em lugar algum, começou dia, diga-se de passagem). A menor pre- para a platéia e gritou:
tecladista chegou a Portsmouth e a participar do maior número de ocupação que tinham era se o público “Vocês não passam de
trouxe um amigo guitarrista a tira audições possíveis. Fez cente- ou as gravadoras iriam ou não gostar um bando de cuzões!”.
colo. Ensaiaram por uma semana A vaia foi geral e o Giant
nas delas via Melody Maker e foi do material. O panorama parcial era
e logo o primeiro problema deixou o palco com o
através de uma delas que caiu encorajador: Derek, Ray e Phil Shulman rabo entre as pernas.
surgiu: os Shulman’s adoraram na banda dos Shulman’s, como estavam frustrados com a maquinaria
o estilo de Minnear, mas não relembrou recentemente: pop que havia envolvido e sugado 7
Miles naalargando
esquina os limites
alargando os limites do
funk hipnótico

As explorações psicodélicas/meditativas de Miles Davis


do período 1972-1975 em box de luxo.

On The Corner foi um álbum difícil para Miles. Suas extra-


polias e flertes com o rock psicodélico e o funk e sua admira-
ção por Hendrix e Sly Stone angariavam o ódio dos puristas lá
pelos idos de 1972, época que Hendrix não estava mais entre
nós e Sly estava fritando os poucos neurônios que ainda lhe
restavam. Miles por sua vez estava empolgado; sua audiência
agora era mais jovem e muito mais ampla. O lendário ícone
do jazz sentia que os anos 70 seriam o ápice da música negra
norte-americana e não queria ficar de fora da festa. Marvin
Gaye, Stevie Wonder e muitos outros eram superstars do
momento e Miles apostava que sua música intricada e com-
plexa poderia chegar aos jovens negros dos guetos.
No primeiro dia daquele junho de 1972, Miles adentrou o
estúdio B da Columbia Records ao lado de 12 músicos, dentre
eles, John McLaughlin, Chick Corea e Jack DeJohnette, figuras
que já haviam brilhado ao lado do mestre num divisor de
águas chamado Bitches Brew. Herbie Hancock, um tocador de
tabla e um especialista em cítara elétrica também estavam
presentes para as sessões, assim como o arranjador e multi-
instrumentista Paul Buckmaster, sujeito batuta de Bowie e
Elton John. Paul trabalhou uma espécie de pré-trilha sonora
para as sessões: criou padrões rítmicos de percussão, melo-
dias e trechos para sintetizadores, tudo para deixar o pessoal
mais a vontade com os improvisos.
De todos os músicos envolvidos, talvez o mais inquieto era
o percussionista indiano Badal Roy. Sua inquietação tinha uma
razão: Badal nunca havia participado de uma jazz session
antes. Miles, percebendo a tensão no ar, chegou para o
percussionista e ordenou: “Just play like a nigger!” (“Apenas
toque como um negro!”).
O então ‘novo’ Miles concentrava-se menos nos longos
solos e nas harmonias; jogava mais para o seu próprio time.
Timbres, efeitos, texturas e grooves eram as preocupações da
vez do músico; seu trompete servia agora de ‘rhythm device’.
Segundo Buckmaster, tal fato ocorreu devido ao fascínio do

Três detalh es que Miles daquela época por Stockhausen. As manipulações de


cê pr ec is a saber tapes do vanguardista deixavam Miles maluco – em sua Lam-
vo e Co rner:
sobr e On Th borguini, o cartucho mais executado era Hymnen. Por volta
de outubro de 1972, Miles sofreu um grave acidente com essa
edita o álbum
1} Brian Eno cr sua Lamborguini, que resultou em oito semanas de internação
o pio ne iro no quesito
como trumento”, já num hospital.
dio co mo ins
“estú m montadas The Complete On The Corner Sessions é o nono e último
as fai xa s fo ra
que
o, onde foram box da Sony dedicado à genial obra do músico; traz 30 takes,
na pós-produçã ps, fades e
sc en tad os loo sendo que um terço deles ultrapassa a casa dos 20 minutos
acre
overdubs. de duração. O mantra está garantido. Das faixas, 16 delas
s, são inéditas e a maioria retrata as sessões na íntegra, sem os
cio das sessõe
2} Antes do iní
Bu ck ma ste r passou dois overdubs e cross-fades realizados pelo produtor Teo Macero
Paul sa
o no sofá da ca na versão original do álbum. Alguns trechos e jams deste box
meses sentad ando traba-
les ap re se nt também apareceram em outros álbuns de Miles, como Big Fun
de Mi o
ausen ao músic
lhos de Stockh e Get Up With It.
-am er ica no .
norte A parte gráfica do lançamento também é um primor; um
um incrível libreto de 120 páginas traz muitas informações, ensaios dis-
3} Miles tinha
tin to de ind uzir seus músi- sertativos de Paul Buckmaster e Tom Terrell, fotografias inédi-
ins
à um no vo território. On tas e novas ilustrações de Cortez McCoy, o artista responsável
cos
Co rn er tra z muito disso:
The o pela capa original do álbum.
sic os ex ce pcionais tocand a
mú nc The Complete On The Corner Sessions é um marco do genial
tru me nt os pelos quais nu
ins -
ntato anterior Miles Davis, que após o verão de 1975 se retirou do showbizz
tinham tido co
nt e, tu do po r cima de uma pelo restante daquela década.
me
como segredo.
base mantida Sendo assim, fica claro que essas sessões alimentaram o
8 próprio Miles e o jazz por um belo (e triste) par de anos.
Have A Nice Day bandas que tiveram um ou dois hits

Back is Black
talentoso guitarrista iniciante que atendia
pelo nome de Jimmy Page). Apenas Mike teria
<Los Bravos (1966)> participado de fato da gravação. O sucesso de
Nos anos 60, época em que estávamos a “Black Is Black” (um rock bem ao estilo dos
anos-luz da globalização que hoje impera anos 60 e com letra falando de uma garota
no mundo, o cenário do pop e do rock era que largou um sujeito falando sozinho) elevou
dominado basicamente por grupos e artistas Los Bravos ao status de primeira banda espa-
dos EUA e da Inglaterra. Isso até surgir este nhola de rock a conquistar sucesso fora de seu
quinteto espanhol. Criado na primeira metade país, atingindo o 2º lugar na parada inglesa,
daquela década através da fusão dos grupos o 4º posto nos EUA e vendas superiores a um
Los Sonor (de onde vieram o guitarrista Anto- milhão de cópias em todo o mundo. No ano
nio Martinez e o tecladista Manuel Fernández) seguinte, a banda sofreu um duríssimo golpe
e Mike & The Runaways (que contribuiu com o com o suicídio de Fernández, aos 23 anos – ele
batera Pablo Gómez, o baixista Miguel Viçens se envolveu num acidente automobilístico,
e o vocalista Mike Kogel, nascido na Alema- aparentemente por sua culpa, em que morreu chamar a si mesmo de Mike Kennedy e partiu
nha), o grupo caiu nas graças de um produtor sua noiva, Lottie Rey, e jamais se recupe- em carreira solo, sendo substituído por Robert
francês radicado na Espanha, Alain Milhaud, rou da culpa. Os jornais sensacionalistas da Wright e, posteriormente, por Andy Anderson
que tratou de arrumar um hit para o quinteto época, provando que o mau gosto é uma coisa (irmão de Jon Anderson, do Yes). Como nada
gravar. Ele veio na forma de uma composição que não tem limites, passaram a se referir ao deu certo, a banda encerrou atividades no
assinada pelos ingleses Tony Hayes e Steve caso como “A Tragédia de Romeu e Julieta”... início da década de 70. Em 86, Mike, Antonio
Wadey e se chamava “Black Is Black”. Talvez Depois disso, por mais que se tentasse, o e Miguel se reuniram e gravaram mais um
esse nome não te diga absolutamente nada, grupo jamais emplacou um hit do nível de disco, apenas com músicas antigas, e pouco
mas é só ouvir os dois primeiros compassos da “Black Is Black”. Chegaram a ser feitos dois depois o guitarrista morreria num acidente de
introdução para reconhecê-la. Aliás, chama filmes com a banda, no espírito daqueles moto.
a atenção a competência na execução do gravados com os Beatles, mas nada aconte- De lá para cá, eventualmente Mike reúne
tema – que, mais tarde, descobriu-se não ter ceu. Os três álbuns (lançados em 67, 68 e 69) um bando de músicos e se apresenta como Los
sido gravada pela banda, mas por músicos de tampouco repetiram o êxito de seu primeiro Bravos apenas para satisfazer os saudosistas
estúdio (entre os quais, diz-se, estaria um single. Em seguida, Mike Kogel resolveu de plantão. (Antonio Carlos Monteiro)

Shape Of Things To Come <Max Frost And The Troopers (1968)>

O cinema, por incrível que pareça, já A partir daí, a trama se envolve em


rendeu ótimas bandas para o mundo do rock. episódios rocambolescos que levam Max à
Dois exemplos clássicos e recentes são The presidência dos EUA. Porém, o que realmente
Wonders, grupo em torno do qual gira a ação resistiu ao tempo disso tudo foi a música
do divertido filme homônimo, que tem Tom “Shape Of Things To Come”, composta pelo
Hanks na direção e no elenco, e Steel Dragon, casal Barry Mann e Cynthia Weil (que escreveu
protagonista da história de “Rock Star” e que, temas gravados por gente como Dolly Parton,
numa prova definitiva de que nada é perfeito The Animals, B. J. Thomas, Elvis Presley e
nesta vida, traz lado a lado no elenco a até o brasileiro Sérgio Mendes) e gravada por
maravilhosa Jennifer Aniston e o tenebroso músicos de estúdio não creditados. A música,
Mark Wahlberg. Porém, muito antes disso um pop rock denso, muito bem executado e
um outro grupo de rock estrelou um filme e covardemente grudento, a despeito de durar
acabou se tornando maior do que a própria menos de 2 minutos, acabou chegando ao 22º
película. Trata-se de Max Frost And The Tro- lugar da parada Billboard, além de render um
opers, personagem principal do inexpressivo álbum do mesmo nome, lançado também em
filme Wild In The Streets, lançado há exatos 68. Além disso, ao longo dos anos foi regra-
40 anos. O enredo até que era interessante: vada por inúmeros grupos e artistas, como
o tal do Max Frost, interpretado pelo “famoso Slade, Ramones, Fuzztones e Gary Moore,
quem?” Christopher Jones, é, além de voca- entre outros (bem) menos cotados. Curiosa-
lista de uma banda, um jovem inconformado mente, “troopers” não era o nome da banda
com tudo que vê à sua volta. Assim, quando de Max no filme – na verdade, ela nem tinha
sua banda é convidada para participar da nome. Essa palavra teve origem na forma
campanha de um político americano, Max como ele chamava seus parceiros de música
dá um passa-moleque no sujeito e começa a – entre eles, o já falecido comediante Richard
pregar que o direito de votar seja estendido Pryor, que interpretava o baterista Stanley X
aos jovens de 14 anos e encerra o show com – e acabou sendo usada posteriormente para
um tema que levava o pacifista título de designar a banda.
“Fourteen Or Fight!” (“catorze ou luta!”). (Antonio Carlos Monteiro)
9
10
A verdade é que o selo “swirl”
“swirl”,, da Vertigo nada tem a ver com o estilo

F
oi graças ao bom Deus que na virada de Roger Dean, famoso pelas capas mais ousadas do Yes, Uriah Heep,
introdução da década de 1960 para a de 1970,
praticamente todos os selos respeitáveis
Budgie, Paladin, Osibisa, Greenslade, Giant, Asia, etc.
Vale lembrar que os colecionadores ingleses não gostam de usar o
do mercado fonográfico criaram ambiciosas termo “espiral” para denominar o selo Vertigo. Eles preferem chamá-lo
subsidiárias, totalmente engajadas num único ideal: tratar o rock como de “redemoinho”, ou seja, “swirl”.
uma séria forma de arte.
A RCA lançou a estampa Neon, a EMI pintou com a Harvest, a Pye
com a Dawn e a Decca com a Deram, todos esses também altamente

A as capas
arte gráfica da Vertigo sempre primou
colecionáveis e trazendo sempre grandes pérolas do rock mais experi- por ousadia e qualidade. A matéria-
mental, seja ele progressivo (como depois ficou conhecido), psicodélico, prima usada na prensagem original
hard, etc. inglesa é de tirar o fôlego: robusto
Interessante que o mais ‘colecionável’ de todos papel cartão, sempre capa dupla (‘gatefold’)
( e em alguns
seja mesmo o selo Vertigo, talvez o que mais honro- casos, cortes e dobras ousadas, pôsteres adicionais, etc.
samente trabalhava com uma estética não-comercial; Todos os títulos também contavam com um transado enve-
colocado no mercado sob a batuta da Philips/Phono- lope (‘inner sleeve’ que além do logotipo oficial ampliado,
‘inner sleeve’),
gram. Quando a Vertigo chegou tardiamente ao mer- trazia também uma mensagem importante: “Sacos de plás-
cado, esse último já estava dominado pelos demais tico podem ser perigosos! Para evitar perigo de sufocação
selos anteriormente citados, além de ter também a mantenha esse plástico longe do alcance das crianças!”.
concorrência de estampas independentes como a Dentre os designers que trabalharam para a Vertigo,
Island e a Transatlantic. Isso acabou interferindo talvez podemos destacar Roger Dean e Marcus Keef.
nas vendas, mas não na idéia original do selo; oferecer
um novo produto com conteúdo musical ousado, ofere-
cido numa embalagem mais elaborada e artística.
Olav Wyper, o manager da Philips britânica, teve um Brasil
N
o Brasil, o selo
estalo em 1969: “Por que não lançar um selo dedicado Vertigo chegou ao
às bandas mais undergrounds, experimentais e pesa- mercado esbanjando
das?”. Artistas folk e com influência esotérica também peculiaridades em relação aos lançamentos originais
seriam bem vindos; o que contava era a necessidade de ingleses e alemães.
extravasar uma total liberdade artística. Wyper declarou Alguns títulos saíram com a bandeira “Rock Power”
no livro Still Dizzy After All These Years: “Apesar da como é o caso do álbum Released, do Jade Warrior,
gente reestruturar a companhia, assinando com novas lançado por aqui em versão enxuta, sem pôster e com
bandas e retrabalhando os antigos contratados com um conteúdo idêntico ao da edição britânica, mas capa da
certo sucesso; falhamos ao perder um certo impacto edição alemã. Essa série “Rock Power” chegou a trazer
emocional. No fim de cada dia nos encontrávamos no também álbuns de bandas como T.Rex, Manfred Mann,
meu escritório, tomávamos um vinho e discutíamos Audience, etc, mas nem sempre com o selo da Vertigo.
nosso progresso. Foi numa reunião informal desse tipo Outra exclusividade nossa é o álbum Break, do
que surgiu a Vertigo. Três meses depois estávamos Aphrodite’s Child, na verdade o álbum duplo 666 pico-
lançando o selo”. tado, já que nossa edição era simples. Na capa uma
Outra figura que teve papel de suma importância na reprodução da parte interna do original inglês.
existência do selo foi o empresário Gerry Bron, que Talvez o mais valioso título ‘swirl’ brasileiro é a
ofereceu a Wyper um contrato com uma lista particular de coletânea Crazy Baby Crazy, de 1971. Nela, artistas
bandas contratadas: Colosseum, Uriah Heep, Juicy Lucy e do selo, com outros que nunca deram as caras pela
Manfred Mann. Bron depois formaria o selo Bronze. Vertigo, aparecem todos juntos, sem intervalo entre as
O primeiro baque levado pelo selo Vertigo aconteceu faixas, criando uma espécie de ‘sampler’, já que os temas foram edita-
em 1971, dois anos depois do aparecimento do mesmo. Wysper pediu dos para encaixar na canção seguinte e consequentemente se adequar
as contas e se mandou para a RCA, onde lançou, através da subsidiá- a limitada duração do elepê. Em Crazy Baby Crazy temos participações
ria Neon, artistas que haviam sido apenas listados anteriormente pela de grupos como Sir Lord Baltimore, Lucifer’s Friend, Warhorse, May
Vertigo: Indian Summer, Dando Shaft, Tonton Macaute e outros. Blitz, Black Sabbath, Exuma e Blue Cher, escrito assim mesmo na capa,
com apenas uma letra ‘e’.
Interessante ressaltar também que o selo foi bem divulgado na época

o selo por aqui, com propagandas nas lojas de discos (pôsteres, cartazes, etc.)

P
ensando no e anúncios de página inteira na Rolling Stone local.
novo público Outros grupos que tiveram selo “swirl” no Brasil: Warhorse (Red Sea),
alvo; mais Freedom (Through The Years), Beggar’s Opera (Pathfi nder) e outros,
Pathfinder
crescido intelectualmente e monetariamente, a além dos mais ‘tradicionais’: Uriah Heep, Sabbath, Rod Stewart, etc.
Vertigo tinha mais uma preocupação de suma Não podemos encerrar sem comentar os dois compactos duplos do
importância: o selo que iria adornar seus lança- Black Sabbath lançados por aqui pelo selo: um com a capa do Vol. 4,
mentos. O escolhido foi um conglomerado de linhas contendo as faixas “Tomorrow’s Dream”/ “Laguna Sunrise”/ “Changes”/
pretas e brancas, sobrepostas e repetidas. Ao colocar “St.Vitus Dance”; e outro com a capa do Sabbath Bloody Sabbath,
o elepê para rodar na vitrola, algo inevitável acontecia: o trazendo as faixas “Sabbath Bloody Sabbath”/ “Rat Salad”/ “Fluff”/
ouvinte ia ouvindo a música sem tirar os olhos da sedutora estampa, “Paranoid”. Ambos alcançam uma ótima marca nos eBays da vida.
que oferecia uma branda sensação de vertigem (“vertigo”). Outra carac-
terística peculiar: todas as informações ficavam concentradas no selo

F
ora a Inglaterra, o país que mais rece-
do lado B; nome das músicas, número de série, data de lançamento,
créditos das canções (em alguns casos), etc. No lado A temos sempre o
beu lançamentos com o selo Vertigo
foi a Alemanha. Os colecionadores
outros países
desenho tradicional do “redemoinho”, com a inscrição “Side A”. costumam dividir o catálogo alemão em dois
Apesar dessa ser mais uma grande sacada da Vertigo, muita grupos: um com os equivalentes germâni-
polêmica ainda ronda o artista responsável por tal magnífica obra. cos dos lançamentos ingleses e outro com os lançamentos exclusivos
A revista Record Collector cita o conceituado artista Roger Dean para o mercado alemão, já que diferentemente da maioria dos demais
como criador do desenho, porém outras fontes citam a designer países, ali o selo tinha liberdade para contratar artistas e bandas locais.
Linda Glover como autora. Linda trabalhava como capista da Philips Dentre os treze títulos exclusivos do mercado alemão, podemos desta-
na segunda metade dos anos sessenta, então muitos preferem dar car o Lucifer’s Friend, Atlantis, Frumpy, Agitation Free, Kravetz, Brave
crédito a ela do que a Dean. New World, Odin, Tiger B. Smith, Between e Peter Michael Hamel.
11
Clear Blue Sky Patto
Clear Blue Sky Patto
(6360013, 1970) **** B (6360016, 1970) ***** B

Veja se o que temos no menu lhe agrada: Um dos maiores pecados musicais da
abundantes e implacáveis solos de guitarra, história foi protagonizado pelo Patto. Essa
arte gráfica estonteante de Roger Dean e banda de nome engraçado e visual freak foi
uma sonoridade na mesma veia de grupos responsável por alguns dos melhores álbuns
como Stray e Budgie, forjada por um power- do período e o ‘pecado’ é justamente o fato
trio onde todos os integrantes tinham menos de 18 anos de idade! do grupo ser completamente desconhecido até hoje.
Apesar de termos todo esse emolumento, a produção deixa a desejar A fenomenal estréia dos caras pintou na época certa, já que a banda
e de certa forma arruinou um pouco a proposta inicial da banda, apa- vinha causando um tremendo impacto nos clubes britânicos, o que
drinhada por Patrick Campbell-Lyons, membro do Nirvana; homem de chamou atenção de um ex-integrante do Spencer Davis Group, Muff
negócios da Vertigo e também produtor desse álbum. Winwood, irmão de Steve; convertido a produtor e homem de negócios
Na linha de frente do Clear Blue Sky estava o guitarrista e vocalista da gravadora.
John Simmons, acusado de ter um timbre de voz semelhante ao de Jack Misturando licks agressivos de jazz do guitar hero Ollie Halsall e
Bruce. Simmons compôs sozinho as cinco faixas dessa estréia; infeliz- os vocais rudes de Mike Patto, a banda passou a abrir shows de Joe
mente o único álbum lançado pelo grupo. Detalhe: o título original do Cocker e do Ten Years After, mostrando a mesma destreza contida nas
álbum era Play It Loud, mas foi abandonado no último instante, pois o oito faixas deste LP, que além de tudo ainda trazia uma bizarra capa
Slade estava lançando um disco com o mesmo nome. A edição germâ- contendo uma inédita textura que imitava tapeçaria.
nica, no entanto, saiu com o nome de Play It Loud. CD: Repertoire
CD: Repertoire

Juicy Lucy Colosseum


Lie Back And Enjoy It Daughter Of Time
(6360014, 1970, BR) *** D (6360017, 1970) **** E

Após o lançamento de seu álbum estréia Para o terceiro álbum de sua carreira e o
o Juicy Lucy quase acabou; três integrantes segundo lançado pela Vertigo, o Colosseum
se mandaram: o baterista, o guitarrista e o pintava com várias mudanças em sua line-
vocalista Ray Owen, que partiu para montar up: Clem Clempson vinha para a guitarra,
um novo grupo chamado Moon. egresso do Bakerloo, um grupo que abria os
Quando tudo parecia mesmo encerrado, uma nova versão da banda concertos do próprio Colosseum. No baixo pintava o renomado Mark
encetou-se novamente na cena local, trazendo agora o vocalista Paul Clarke e nos vocais estava o experiente Chris Farlowe.
Williams (ex-Zoot Money) e o guitarrista Micky Moody (ex-Tramline). Tão perfeito quanto o álbum anterior, Daughter Of Time tinha como
Lie Back And Enjoy It marcou por trazer uma genial versão para destaques a insolente “Take Me Back To Doomsday” e uma versão glo-
“Willie The Pimp” de Frank Zappa, localizada ao lado de outros bons riosa para “Theme For An Imaginary Western”, original de Jack Bruce e
números. também revisitada pelo grande Mountain.
Além do teor musical da obra, não podemos deixar de destacar a O grupo depois se mandou para o selo Bronze, onde lançou um álbum
opulência do trabalho gráfico. Lie Back And Enjoy It abria em seis ao vivo, mas logo se desmantelou, com cada integrante partindo para
partes idênticas, se transformando num pôster gigante. De um lado um lado.
estavam fotos individuais dos integrantes in action e do outro uma Das cinzas dessa grande banda, surgiram membros que participaram
geral do pessoal no palco. Sensacional! de outros geniais grupos como Tempest, Humble Pie, Atomic Rooster,
CD: BGO Greenslade, etc.
CD: Sanctuary

Warhorse Beggar’s Opera


Warhorse Act One
(6360015, 1970) **** C (6360018, 1970) *** D

Grupo de hard que adquiriu uma modesta O grupo que pegou seu nome emprestado
fama por trazer em suas fileiras um ex-Deep de uma ópera do século 17 era formado por
Purple (o baixista Nick Simper) e um futuro jovens entusiastas da música erudita.
integrante da banda de Rick Wakeman (o Oriundos de Glasgow, Escócia, a banda
vocalista Ashley Holt). Além deles, o grupo trazia uma garota tocando Mellotron (Virgi-
contava também com um ex-integrante do Velvet Fogg, o organista nia Scott), um ousado tecladista (Alan Park) e um excelente guitarrista
Frank Wilson. (Ricky Gardener).
Esse quinteto inglês era também movido a duelos de guitarra e Hoje, a mistura de música Barroca com pirotecnias virtuosas pode
orgão, e teve seu primeiro compacto bastante executado nas rádios, soar um tanto indigesta aqui nessa estréia, já que a banda foi amadu-
uma versão para “St. Louis”, original dos australianos do Easybeats. recendo e colocando de lado toda essa pretensão em função de um som
Apesar da boa execução o compacto não foi um sucesso de vendas mais conciso e certeiro.
e acabou sendo incluído como a última canção do lado A desse álbum, Na época, o conceitual Act One sofreu severas críticas e trazia,
que é colocado por alguns fãs mais exaltados (e malucos) ao lado de segundo os detratores, a pior tentativa de se misturar rock com eru-
obras do quilate de um Deep Purple In Rock e Led Zeppelin II. dito.
Warhorse, o álbum, costuma agradar não só os purpleheads de Act One, no entanto, possuía uma grande capa, repleta de surrea-
plantão, mas todos aqueles que apreciam o bom hard pesado do início lismo visual, cortesia de Marcus Keef e suas lentes aguçadas.
dos 70s. CD: Repertoire
CD: Angel Air
12
Legend Gravy Train
Legend Gravy Train
(6360019, 1970) *** C (6360023, 1970) *** C

Mickey Jupp sempre foi uma espécie de


figura central da cena pub-rock britânica. Após o ano de 1968, ficou estabelecido
Sim, Jupp pode ser considerado o rei do rock pela maioria, estupidamente ou não, que
de boteco, já que desde o início dos 60s qualquer banda que usasse flauta em seus
ele perambulava por aí, sempre fiel a suas trabalhos era um pastiche de Jethro Tull.
raízes musicais. Exageros a parte, o Gravy Train sabia muito bem mesclar passagens
Jupp é o mentor do Legend, que é considerado por muitos como o mais pesadas e densas com trechos mais rurais e tranqüilos, com um
primeiro grupo de pub-rock da história, tanto que bandas como o Dr. característico som de flauta de fundo.
Feelgood prestaram homenagem ao grupo, regravando uma de suas O Gravy Train era resultado de uma colaboração entre membros de
grandes canções: “Cheque Book”, não por acaso, peça fundamental uma banda soul de Liverpool, o Spaghetti House, com o guitarrista/
desse disco de estréia. vocalista Norman Barrett, famoso na época por substituir Jimmy Page
Fãs ilustres como o DJ John Peel e Tony Visconti, que inclusive assi- no show de Lord Sutch e seus Heavy Friends num festival em Lin-
nou a produção da bolacha, ajudavam a manter o nome do grupo em conshire.
alta. A estréia do grupo trazia seis faixas e uma produção assinada por
A verdade é que este álbum, conhecido lá fora como ‘flaming red Jonathan Peel, que já havia trabalhado com o Toe Fat e o Panama Ltd.
boot’, até hoje é cultuado por quem gosta de encher a cara e assistir a Outro álbum lançado no início do selo Vertigo e ainda demasiadamente
uma banda se acabar num canto do bar. desejado pelos colecionadores.
CD: Repertoire CD: Repertoire

Gentle Giant The Keith Tippett Group


Gentle Giant Dedicated To You
(6360024, 1971) *** C
(6360020, 1970) **** D

A estréia do Gentle Giant combinava


elementos distintos como rock, jazz, música Tippett era figura respeitadíssima da cena
clássica e soul britânico da década anterior. britânica de jazz. Como pianista de van-
Poucas bandas da época traziam hinos guarda, Tippett vivia rodeado de excelentes
do seu repertório logo no primeiro álbum: músicos: Elton Dean, Gary Boyle e Robert
“Alucard”, “Nothing At All” e “Funny Ways”. Wyatt; todos batendo cartão em Dedicated
A faixa “Giant” foi literalmente o pontapé inicial da carreira da banda; To You.
era executada pelos Shulman’s desde as audições para novos músicos Em 1971, Tippett já havia feito muita coisa boa na vida: lançou um
e mostrava desde sempre toda a seriedade com que aqueles rapazes álbum solo pela Polydor (You Are Here I Am There); casou-se com Julie
encaravam a coisa. Ouvindo-a, ficava claro o que viria pela frente. Driscoll; tocou em dois álbuns do King Crimson e também flertou com
Curiosidade: os rapazes do Giant quase não acreditaram quando uma excelente banda psicodélica, o Blossom Toes.
literalmente tropeçaram em George Harrisson nos corredores do Trident Talvez o que mais surpreenda em Dedicated To You é o fato dele ter
Studios, durante as gravações deste primeiro álbum. O Trident estava sido gravado em apenas dois dias, o que para muitos seria um empeci-
localizado no coração do Soho, bairro boêmio de Londres, então o lho, mas não no caso desse experiente agrupamento.
guitarrista Gary Green comentou que durante as sessões o estúdio vivia Mais uma capa de Roger Dean, embalando um trabalho que pavimen-
repleto de ‘damas da noite e do dia’. tou a estrada para Tippett formar anos depois o seu mais ambicioso
CD: Repertoire
projeto, o Centipede, contando com cerca de 60 músicos.
CD: Repertoire

Graham Bond Cressida


Holy Magick Asylum
(6360021, 1970) ** D (6360025, 1971) **** A

O avantajado Graham Bond era um ícone


da cena R&B britânica da primeira metade Nesse segundo registro dessa magnífica
dos sixties. De sua mão e de seu grupo, o banda, temos faixas mais longas e mais
Organisation, vieram caras como Ginger elaboradas e arranjos mais complexos, onde
Baker, Jack Bruce, Dick Heckstall Smith e a guitarra tem um pouco mais de espaço do
outros. que no álbum anterior.
Com o fim do Organisation, Bond tentou emplacar com o Initiation Hoje, Asylum é um dos álbuns mais bem cotados do selo Vertigo,
mas logo abriu mão de tudo e formou a banda Magick, enquanto era arrancando uma boa quantia dos bolsos dos colecionadores; mas na
membro também do exótico Ginger Baker’s Airforce. época a bolacha foi um fracasso completo – inclusive foi divulgado que
Aqui, Bond contracenava com sua esposa/vocalista, Diane Stewart, apenas 800 cópias foram vendidas, o que serviu de desculpa para o selo
velejando por viagens musicais regadas a misticismo e astrologia. A colocar todo mundo no olho da rua. Tal constrangedora situação serviu
idéia de Bond, que nessa altura do campeonato se proclamava como como gota d’agua para o grupo, que encerrou suas atividades imedia-
filho bastardo de Aleister Crawley, era criar um templo astral ao redor tamente.
do ouvinte que se aventurasse a degustar esse álbum, assim como seus Só para constar: depois do precoce fim do Cressida, dois de seus
concertos do período. integrantes integraram outros grupos: o batera Ian Clark chegou a
Atenção para um aviso contido nas liner notes da bolacha: “Esse gravar com o Uriah Heep e o guitarrista John Culley se mandou para o
disco é dedicado àqueles que procuram pela luz”.
luz” Profético! Black Widow.
CD: BGO CD: Gott Discs
13
Van Halen
Brasil’ 83
O volume ensurdecedor de uma banda no auge

Durante um bom tempo, show de rock no Brasil e na América do Sul era sinônimo de bandas em
decadência. Bastava um disco encalhado e alguns shows vazios no exterior para o pessoal agitar uma
tour por esses lados.
Rara exceção foi a excursão do Van Halen pela América do Sul nos primeiros dias de 1983. Há exatos 25
anos e numa era pré-Rock In Rio, o Brasil sentia o gostinho de assistir um dos espetáculos mais concorri-
dos do planeta.
A banda vinha embalada com as vendas milionárias de seus cinco primeiros discos e estava prestes a
entrar no livro dos recordes; para encerrar o lendário US Festival, de 1983, o grupo dos irmãos Van Halen
recebeu um cachê de um milhão de dólares em troca de um set de 90 minutos de duração!
Essa era até então a maior oferta da história do show business para um único concerto.
The Hide Your Sheep Tour M&Ms
no fundo do palco já se avistava
o pano de fundo do grupo, um
feroz leão saltando em direção do

Foi assim que o Van Halen batizou a tour de promoção do


público. Logo depois dessas pri-
meiras impressões a Patrulha do pelo Backstage
álbum Diver Down, como sempre, um sucesso nas paradas Espaço fez sua gloriosa apresen-
norte-americanas. Antes de chegar na América do Sul, em tação (ver box). Enquanto isso,
Uma das principais exi-
janeiro de 1983, o Van Halen havia desbravado a porção o VH se aquecia no camarim ao
gências de camarim do
norte do continente, tocando pela América e pelo Canadá. som de salsa e merengue. Van Halen parecia pra lá
A primeira ‘perna’ da tour teve 27 shows, com direito a O Van Halen veio na seqüência de bizarra: potes e mais
três concorridas noites no lendário Cobo Hall de Detroit. e foi protagonista do talvez mais potes de M&Ms espa-
A segunda parte do giro contou com 19 datas e a terceira ensurdecedor concerto de rock lhados pelo backstage.
estourou a boca do balão: 43 shows em apenas dois meses. que este país já viu. Quem esteve Todos deveriam conter
Foi nesse pique que o grupo chegou na América do Sul, no Ibira se lembra perfeitamente uma peculiaridade:
realizando de cara três espetáculos seguidos no Polie- da maçaroca sônica altíssima que nenhuma pastilha da cor
era expelida dos PAs. Todo esse amarela.
dro de Caracas, na capital venezuelana. Próxima parada:
Para quem não sabe,
São Paulo, local onde Alex Van Halen e David Lee Roth já exagero misturado a péssima
M&M é aquele confeito
haviam estado em 1980, para promover o álbum Women acústica do ginásio acabou dei- de chocolate coberto com
And Children First e possivelmente agitar uma tour por xando as músicas irreconhecíveis uma ‘casca’ de açúcar
esses lados. Nessa primeira visita, nada de música, apenas para a maioria dos presentes, colorido artificialmente.
entrevistas em rádios e no Penicilina Bar, além de mere- que agitavam bastante no refrão Como no Brasil de 1983 a
cidas férias viajando pela Amazônia, tudo regado a muita de cada som, justamente a parte importação de alimentos
caipirinha. mais reconhecível. ainda era uma utopia,
Três anos depois, foi debaixo de um temporal de verão No repertório, somente clássi- nossos organizadores se
cos do porte de “Little Dreamer”, viraram muito bem ofere-
que o Van Halen chegou a São Paulo, indo direto para o
cendo a nossa cópia da
hotel Hilton, onde um número não tão grande de fãs espe- “Everybody Wants Some”, “Dance
‘iguaria’, o nosso popular
rava a banda. Durante todos os dias em que o grupo ficou The Night Away”, “Unchained”, “confete”.
hospedado ali, os fãs mantinham uma espécie de vigília, “Running With The Devil”, “Pretty Mas você deve estar se
fazendo baderna quando aparecia um roadie do grupo, ou Woman”, “Mean Street”, “Ice perguntando: “Por que
mesmo algum segurança da banda, que ficou a cargo do Cream Man” (com David fazendo os caras do VH pediram
famoso e temido Fonseca’s Gang. A maioria dos fãs que- uma saudação a SP, como de tantos M&Ms?”.
riam autógrafos e fotos ao lado dos ídolos. Algumas garotas costume em toda a tour, homena- Na verdade essa tática
mais românticas queriam oferecer uma braçada de rosas ao geando cada cidade que o grupo funcionava perfeitamente
visitava), “Romeo’s Delight”, bem, pois o tour manager
vocalista David Lee Roth.
do grupo percebia a con-
Na primeira noite em SP, dia 21 de janeiro “Little Guitars”
fiabilidade da organiza-
de 1983, a platéia não chegou a lotar o e “Beer Drinkers ção de cada espetáculo
Ginásio do Ibirapuera, que contava com and Hellraisers”, através deste pequeno
uma de suas mais heterogêneas platéias: original do ZZ ‘grande’ detalhe: se a
rockers, punks, hippies, cocotas, um garoto Top e resquício organização local não
fantasiado de Bowie ‘Alladin Sane’, garo- de uma época deixasse passar nenhuma
tões suados e fortões sem camisa e alguns em que o VH era pastilha amarela nos
travestis. Sim, isso é o que a mídia da época a banda mais potes é porque as demais
fodona da Sunset exigências como luz,
relatou!
som, hotel, transporte e
Outro detalhe que marcou quem estava Strip. O show
Strip
comida estariam em cima
presente: um batalhão de autoridades do ainda contou com da pinta e o VH poderia
juizado de menores estava na entrada do os solos individu- assim deitar e rolar em
Ibira, barrando violentamente os menores ais de cada inte- seus shows.
de 16 anos de idade. Por mais incrível que grante, sendo o
pareça, em 1983 ainda estávamos acorren- de Eddie obvia-
tados a Ditadura. mente o mais
Enquanto o VH não subia ao palco, a ovacionado.
galera suada era amaciada por uma boa Durante sua
dose de Heavy Metal que ecoava dos PAs e execução até
os mosquitos
do Ibira ficaram
paralisados. O
solo terminou com suas tradicionais voado-
ras pra cima da parede de amplificadores.
Detalhe: quem estava pertinho do palco perce-
beu: muito dos falantes estavam na verdade desenhados
no pano de fundo do palco. Traquinagem sadia de banda
divertida como o VH.
Logo na segunda noite de show em Sampa, Alex
Valdez, o promoter local, estava preocupado. Segundo
ele, na noite anterior o Van Halen havia tocado para
a menor platéia de sua carreira, cerca de 11 mil pes-
soas. Exagero, principalmente se levarmos em conta os
selvagens tempos em que o grupo se atirava nos palcos

“Estávamos querendo tocar aqui desde 1980... A única coisa que sabíamos do Brasil é que o Queen
já havia tocado por aqui. Ninguém quis nos ajudar, nem a nossa gravadora. Como somos teimosos
mesmo, viemos por conta própria. Todos diziam: não vá para a América do Sul! Daí é que quisemos
vir de verdade, pois ficamos muito curiosos.” Alex Van Halen
O Colecionador
e suas maluquices no mundo dos discos
por Ricardo Seelig

Socram (Marcos A. M. Cruz)

pZ - Que disco mudou a sua vida? pZ - Tem algum disco que passou pela sua
Socram - Uma coletânea da Janis Joplin cha- mão e você se arrepende até hoje de não ter
mada Forever, do início dos anos oitenta. ficado com ele?
S - Me arrependo de ter trocado meus LPs por
pZ - De quais grupos você possui mais CDs quando houve o boom do formato digital.
material? Ainda bem que, senão todas, pelo menos boa
S - Do Jimi Hendrix são cerca de 350 títulos parte das “pepitas” eu consegui novamente.
entre LPs e CDs prensados (originais), sem
contar as gravações em áudio/CDR – só de pZ - Onde você costuma comprar discos?
uma série organizada por colecionadores cha- S - O eBay é imbatível, mas há lojistas espe-
mada ATM são 230 discos. cializados aqui no Brasil, como o Ray (Blue
Sonic/SP) que consegue qualquer coisa, e o
pZ - Qual o item mais raro da sua coleção? Cláudio Fonzi (Renaissance/RJ), que sempre
Adoro bootlegs editados em LP nos 70s, e tem bons preços. oficiais há muito, mas MUITO mais coisa por aí
teoricamente eles são difíceis de se conseguir, - respeito quem não curte, mas sem querer ser
mas com um pouco de paciência e bastante pZ - Qual o selo que mais te impressiona? pedante, acho impossível conhecer a fundo a
dinheiro no bolso praticamente tudo, vez por S - Os bootlegs, cujo selo é totalmente branco obra de um artista sem ouvir os seus concer-
outra, aparece nos eBay, Gemm ou Musicstack (risos). tos. E, como se não bastasse, descobri algum
da vida. Acredito que os itens mais raros que tempo depois que na realidade os bootlegs são
tenho curiosamente são dois box sets não em pZ - E a melhor prensagem de disco de apenas a ponta do iceberg, existe um mercado
LP, mas sim em CD: “Cabala” e “51st Anni- vinil, qual é? totalmente subterrâneo formado pelos colecio-
versary”, do Led Zeppelin e do Jimi Hendrix S - Acho que depende do disco em si. Veja o nadores de gravações extra-oficiais em cas-
respectivamente, ambos trazendo oito discos caso destes discos de 180 gramas da Akarma: sete ou fita de rolo, que trocam material entre
e um VHS. alguns títulos são maravilhosos, outros são si, prezando a integridade absoluta do registro
meio fraquinhos. Aqui mesmo no Brasil temos sonoro tal qual foi realizado – antigamente as
pZ - Qual foi o número máximo de itens que discos dos anos setenta que possuem quali- trocas eram feitas em fita K7, depois passou
você adquiriu de uma única vez? dade muito boa, caso do Sweet Fanny Adams, para CDR e hoje em dia se usa basicamente
S - Quando começaram a chegar os CDs da Goodthunder, etc. Por outro lado, há títulos os torrents de arquivos em “lossless”, que não
Repertoire/Second Battle eu me deparei com japoneses e europeus que são terríveis – por possuem perda, ao contrário dos MP3, que
um monte de bandas/artistas do qual nunca exemplo: a versão nipônica do E Pluribus Funk são considerados um palavrão neste meio,
tinha ouvido falar, e não raro chegava em casa do Grand Funk é uma lástima, o Steamham- pois ao comprimir o áudio ele também “apaga”
no final da tarde de sábado com mais de trinta mer inglês é terrível, enfim. uma parte do arquivo. O que acontece é que,
ou quarenta CDs – meu cheque especial vivia ao contrário dos discos ao vivo oficiais, onde
eternamente no vermelho (risos). pZ - A sua coleção tem fim? Vai chegar os overdubs muitas vezes imperam, estas
um dia em que você vai parar de comprar gravações são, digamos, mais “puras” – eu,
pZ - Qual você considera o item mais estra- discos? particularmente, não considero boa parte dos
nho e curioso do seu acervo? S - Só deixarei de comprar quando alguém discos ao vivo oficiais como sendo legitima-
S - Não é propriamente estranho, mas há resolver me dar de presente tudo que eu mente ao vivo, mas sim como “colagens de
algum tempo eu cismei que juntaria todos os quero! material registrado ao vivo” – alguns títulos
títulos que foram lançados pela Sábado Som, descritos na última edição da pZ de “ao vivo”
selo brasileiro dos anos setenta. Um deles, o pZ - Quem será o herdeiro da sua coleção não tem muita coisa...
Dschinn, eu arrumei com um sujeito fora do no futuro?
Brasil. Todas as cópias que achava por aqui S - A mesma pessoa que assumir as dívidas pZ - Então você considera que estes regis-
estavam absurdamente caras ou eu chegava que eu deixarei (risos). tros ao vivo “puros” são mais representati-
tarde demais e elas já tinham sido vendidas. vos que os de estúdio.
pZ - Você possui um grande número de S - Não é isto, não se trata de um ser melhor
gravações ao vivo. Como funciona esse ou pior que o outro. Comparo discos de estúdio
nicho de colecionadores, que trocam gra- com cinema e gravações ao vivo com teatro,
vações raras com outras pessoas em todo são coisas semelhantes, porém com algumas
o mundo? Qual o formato predominante características diferentes. Numa a colagem/
nessas gravações? edição é fundamental, noutra o calor da perfor-
S - O que posso dizer é que se trata de um mance/improvisação é o que faz a diferença.
mundo à parte, com regras próprias e que,
curiosamente, nunca foi muito disseminado no pZ - Mas se o músico acha que a perfor-
Brasil. Pra mim tudo começou quando comprei mance teve seus defeitos, ele não teria o
o Mudslide, LP “pirata” do Led Zeppelin, com direito de consertar?
uma gravação de rádio do início de 1970. S - Tudo bem, mas daí não é mais o registro
Fiquei impressionado com aquilo, até então de um show ao vivo legítimo. É que nem um
tinha como objetivo ter TUDO, mas percebi jogador de futebol que quisesse consertar uma
16 que o buraco é bem mais embaixo. Além dos jogada para que ela aparecesse na TV, saca?

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