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Resumo
Atualmente os iluminadores em nosso país têm livre escolha para representar graficamente
seus Projetos de Iluminação Cênica comumente chamados de plano, planta ou mapa de
iluminação ou de luz. O problema investigado foi a existência, ou não, de uma padronização
da representação gráfica de um projeto de iluminação cênica. O objetivo do estudo foi
verificar quais informações estão contidas nos mapas de luz para a representação gráfica de
projetos de iluminação cênica no Brasil e se há uniformidade nos mesmos. A pesquisa
baseou-se na análise de mapas de luz nas áreas do teatro, dança e espetáculos musicais
confeccionados por profissionais atuantes no mercado e coletados em empresas locadoras de
iluminação cênica ou publicados na internet. Para esta verificação desenvolveu-se um
questionário para investigar as características dos mapas e confeccionou-se tabelas com os
resultados. Os resultados indicaram que não há uma uniformidade na forma de representar
graficamente a montagem dos equipamentos de iluminação cênica no Brasil. Tendo em vista a
importância da padronização de desenhos técnicos para melhor intercomunicação entre os
profissionais que atuam na área da iluminação cênica conclui-se que há a necessidade do
desenvolvimento de um estudo para a normatização dos mapas de luz.
Palavras-chave: Iluminação cênica. Mapa de luz. Representação gráfica.
1. Introdução
De acordo com Cunha (2004, p. 1) "a necessidade que o homem teve, desde sempre, de se
comunicar com o seu semelhante levou-o inicialmente a procurar uma linguagem falada e,
mais tarde, a recorrer à expressão escrita".
O homem pré-histórico comunicou-se através de imagens de seus afazeres cotidiano, ainda
que de forma inicialmente desorganizada, por intermédio das pinturas rupestres.
A utilização destes desenhos de forma cada vez mais esquemática revela a melhoria do
processo de comunicação escrita levando, lentamente, às escritas ideográficas.
Na Mesopotâmia e no Egito antigos foram desenvolvidos, quase concomitantemente, sistemas
particulares de escrita. Placas de barro com escrita cuneiforme eram empregadas pelos
sumérios para registrar seu dia-a-dia e o mundo administrativo e econômico. Os egípcios, por
sua vez, lançaram mão de duas formas específicas de representação simbólica: uma mais
simplificada (demótica) e outra mais rebuscada composta por símbolos e desenhos
(hieroglífica).
Da mesma forma que os papiros egípcios contendo idéias e conceitos religiosos e políticos
subsistem conservados até os dias de hoje, encontram-se pergaminhos romanos escritos com
um alfabeto composto somente por letras maiúsculas.
Durante a consolidação da forma escrita de comunicação os desenhos não abandonaram sua
função de representar pensamentos e anseios de quem os utiliza.
Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013
Como dizem os chineses, uma imagem vale por mil palavras e, fiéis aos seus ditados,
continuam até os dias de hoje representando a escrita através dos logogramas, símbolos
gráficos que denotam conceitos abstratos (ideogramas) ou concretos (pictogramas) da
realidade.
Ainda afirma Cunha (2004, p. 1) que "o desenho pode, assim, considerar-se uma linguagem e
como tal possuir uma gramática, uma ortografia e uma caligrafia próprias, cujo estudo é
necessário a quem pretenda ler e escrever corretamente essa linguagem."
Para representar determinado objeto em situação real empregam-se desenhos figurados ou
rigorosos no que diz respeito à semelhança com a realidade.
Levando-se em consideração a existência do registro gráfico distinguem-se dois tipos de
desenhos a saber: o Desenho Artístico e o Desenho Técnico.
Há uma diferença básica entre os desenhos artísticos e técnicos; aqueles apresentam
subjetividade de expressão em seu conteúdo, enquanto estes possuem códigos normativos
bem definidos e não permitem interpretações variadas.
A forma precisa de representar e visualizar objetos reais em desenhos, ou seja, o desenho
técnico, tem sua origem no Egito, Mesopotâmia e Roma de onde chegaram legados de
representações até os dias de hoje.
Os egípcios fizeram projetos para a construção de suas pirâmides com as especificações
necessárias a uma boa localização dentro das mesmas; alguns destes, é sabido, foram
destruídos ou escondidos justamente para não dar pistas se caíssem em mãos erradas. Os
sumérios, por sua vez também, construíram seus monumentos e edificações baseados em
plantas bem determinadas. Já os romanos edificaram fortalezas e aquedutos por intermédio de
seus engenheiros com o auxílio de ilustrações como a da figura abaixo:
Ainda na antiguidade Grécia e Roma vêem florescer a arte do teatro e, em paralelo com a
mesma, o desenvolvimento da cenografia e dos descritivos técnicos necessários à sua
construção.
A representação gráfica evolui desde então, para finalmente chegarmos a desenhos com maior
clareza e objetividade minimizando quase a zero as imprecisões em seu conteúdo. Segundo
Cunha (2004):
Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013
A forma de criação dos efeitos de luz que comporão as cenas de um espetáculo é trabalho
extremamente individual e realizado por estes profissionais que pintam com luz e cor,
emprestando seu talento através de uma arte de apoio aos artistas em cena.
Múltiplos efeitos de luz serão obtidos em cena com a utilização deste ou daquele equipamento
indicado pelo iluminador baseado na sua experiência curricular e prática através de seu
conhecimento técnico consolidado.
A iluminação já serviu unicamente para clarear o palco: o espaço do espetáculo a ser visto
pela plateia. Com o passar do tempo, e cada vez mais, ela define ambientes e cria climas,
estruturando as três dimensões do espaço cênico, modulando formas e volumes, revelando ou
ocultando determinadas partes do todo.
"Para um espectador médio é impossível se manter informado das proezas tecnológicas; já
seria muito se ele estivesse sensibilizado pela dramaturgia da luz" (PAVIS, 2003 p. 179).
Os avanços tecnológicos vividos pelo mundo nas últimas décadas tem reflexo imediato no
âmbito da Iluminação Cênica, tanto no que tange à modernização da aparelhagem como nas
ferramentas colocadas à disposição para a criação dos efeitos de luz bem como planificação,
programação e operação dos mesmos durante o espetáculo.
No capítulo Tomorrow do livro Stage Lighting escrito pelo produtor de teatro e iluminador
Richard Pilbrow pondera-se sobre o futuro da iluminação após discorrer-se sobre o processo
do desenho de luz para palco e suas problemáticas: "A evolução do mundo fora do teatro
estimula ainda mais a atividade no palco. Escritores, diretores e designers vão aprender a usar
cada vez mais, com expressão, este novo membro em seu elenco" (PILBROW, 1979, p. 125).
A representação gráfica da criação de luz para a atividade artística no palco é expressa
fisicamente em folhas de papel e convencionou-se chamar de plano de luz, mapa de
iluminação ou, simplesmente, mapa de luz.
Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013
Mais adiante Pilbrow (1979, p. 129) apresenta uma gama de símbolos de projetores;
modernamente chamados de blocos por influência da utilização dos softwares de desenhos
assistidos por computador (CAD), utilizados no Reino Unido e nos Estados Unidos para
representar aparelhos reais, não sem antes ter preconizado que a forma dos mesmos mudaria
com o passar dos anos, o que realmente ocorreu e certamente continuará ocorrendo vide a
enxurrada de aparelhos a base de tecnologia LED oriundos de fabricantes chineses.
Hoje em dia também encontra-se o emprego do desenho 3D para a compreensão da forma de
montagem dos aparelhos e estruturas de sustentação na caixa cênica mas, os mapas de luz
ainda são os mais utilizados com esta finalidade e constituem o escopo do estudo.
2. Mapas de Luz
Para a melhor compreensão das necessidades desta representação para que os técnicos
identifiquem e executem a montagem pretendida pelo iluminador, procuraram-se subsídios
nas normas descritas na NBR 6492 - Representação de Projetos de Arquitetura.
Em relação ao corte a norma afirma que é um "plano secante vertical que divide a edificação
em duas partes, seja no sentido longitudinal, seja no transversal" (ABNT, 1994, p. 1).
O corte mais executado para os mapas de Iluminação Cênica é efetuado tomando como base
um plano horizontal imaginário por sobre as varas de iluminação que estão no contra-luz, ou
seja, acima do piso do palco e dos artistas.
A escolha da cota deste corte determina uma situação definida para os aparelhos que estão
nesta altura e serão representados por um mapa de luz comumente chamado de mapa aéreo
ou, não raramente, mapa de teto.
Na prática observa-se que os projetores localizados no piso do palco são representados em um
mapa a parte chamado de mapa de piso ou mapa de chão.
Os aparelhos que estão em cotas diferentes destas devem ser representados através da
indicação das cotas verticais respectivas ou através da aplicação de novos cortes e a produção
de novos mapas de luz.
Na secção 5.3.3.4 a NBR 6492 normatiza quais informações os cortes executados no desenho
arquitetônico devem conter:
Nem todas estas informações são necessárias em um mapa de luz mas estas recomendações
foram tomadas como referência para a análise das plantas-baixas de representação dos
projetos de iluminação cênica.
O mapa de luz é um desenho plano composto que fornece uma visão o mais
descritiva possível dos projetores para que o equipe técnica possa executar a
intenção do projeto mais eficientemente. Pode consistir em mais do que uma única
Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013
prancha, no entanto, todas pranchas devem ter o mesmo tamanho para facilitar a
reprodução. As distâncias entre as posições para ancoragem dos aparelhos na plateia
(varas de frente) e na área do palco podem ser comprimidas em um mapa de luz
(USITT, 2006, p. 2).
Algumas das informações contidas nas plantas-baixas arquitetônicas servem de base para que
o iluminador projete mas não são essenciais para que o técnico de luz monte os equipamentos
previstos nos mapas de iluminação.
Os mapas se restringem aos compartimentos do palco e plateia e às varas de luz e deveriam
fornecer somente informações básicas sobre o local.
Os eixos do projeto não são essenciais pois normalmente só há um corte no plano horizontal e
as elevações quando apresentadas se dão num eixo externo ao local do palco.
A caracterização dos elementos de projeto: fechamentos externos e internos; circulações
verticais e horizontais; áreas de instalação técnica e de serviço; cobertura/telhado e captação
de águas pluviais; forros e demais elementos significativos são informações dispensáveis
pois, ou não existem na área do palco e plateia, ou não há a influência de nenhum destes itens
no posicionamento das varas de iluminação e dos projetores.
A marcação dos cortes transversais nos cortes longitudinais e vice-versa, são de menor
importância pois usa-se um único corte e dificilmente encontra-se representações em
elevação ou vista.
Para o estudo retirou-se das recomendações da NBR 6492 (ABNT, 1994, p. 9) os itens que
não são fundamentais ou não interessam à confecção dos mapas de luz resultando no que
segue:
No exterior existiu, nas décadas de 70 e 80, uma preocupação com a unificação de linguagem
dos desenhos técnicos em Iluminação Cênica, Warfel (1973, p. VI) na tentativa de dar
diretrizes para que o iluminador cênico faça seus mapas de luz menciona o seguinte: "este
manual é impresso com a plena consciência dos perigos da normatização, mas as razões para
sua existência são muitas" referindo-se à possível esterilização do processo criativo.
Ainda pode-se mencionar o fato de que as indústrias, que manufaturavam aparelhos,
distribuíam ou vendiam gabaritos correlacionados diretamente com os seus produtos, portanto
a escolha dos símbolos a serem utilizados estava atrelada ao fabricante e isto também poderia
ser arriscado.
Hoje em dia temos a utilização dos mais variados meios para esta representação, desde o
desenho a mão livre até blocos eletrônicos para utilização com softwares tipo CAD (Desenho
Assistido por Computador) específicos para projetar.
As recomendações do Instituto de Tecnologia Teatral dos Estados Unidos (USITT, 2006, p. 2)
é que os blocos colocados no mapa recebam anexadas a ele algumas das informações
descritas a seguir:
a) número de identificação do projetor que é o número individual de cada aparelho.
b) ângulo de facho ou o tipo de facho do aparelho para fornecer a informação em graus
do facho de luz emitido pelo aparelho ou seu tipo, como para as lâmpadas PAR
(Refletor Parabólico Aluminizado) cuja diferenciação é feita por foco.
c) indicação de acessórios internos ou externos ao aparelho.
Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013
A indicação das cotas verticais é de extrema importância para não incorrer-se em equívocos
ou erros em função do mapa de luz referir-se a uma única cota horizontal.
Quando o iluminador confecciona seu mapa de luz em forma de planta-baixa está definindo,
consciente ou inconscientemente a altura do corte para esta representação. Esta informação
deveria estar clara na apresentação gráfica do projeto de iluminação, qual seja, o pé-direito
necessário para a montagem da iluminação deste espetáculo.
Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013
Os aparelhos que não estão nesta cota deveriam ser representados de outra forma, uma
possibilidade é a indicação de uma cota vertical para estas individualidades.
Em uma análise piloto investigou-se impressões dos técnicos de iluminação e iluminadores
com relação ao posicionamento vertical de varas de luz utilizando símbolos comumente
usados para o aparelho PAR64.
Apresentou-se a seguinte planta baixa enviada por email ou em um de dois eventos da ABRIP
(Associação Brasileira de Iluminação Profissional), o Lighting Day e a Lighting Week Brasil
ambos em São Paulo no ano de 2011:
Diagonal 2 3,51%
Lateral e horizontal 1 1,75%
Lateral esquerda, horizontal e suspensa 1 1,75%
Lateral esquerda no piso 1 1,75%
Paralela não tendo inclinação 1 1,75%
Perpendicular ao piso do palco 1 1,75%
Transversal 1 1,75%
Os dados coletados indicam a prática de uma representação gráfica sem informação precisa;
neste caso a altura da vara e dos aparelhos, gerando dúvidas no profissional de iluminação que
lida com projetos de iluminação cênica, seja aquele que o produz, seja aquele que o lê e
interpreta.
"Piso de palco é o plano de piso no palco executado sobre uma caixa de ressonância com um
espaço interno livre que permita uma boa emissão sonora, aberturas e elevações do mesmo.
Com altura máxima de 1,10m com relação ao piso da plateia" (CTAC, 2003, p. 48).
Uma das cotas de nível a ser considerada em um espetáculo é aquela do nível zero do piso da
platéia em relação ao piso do palco e que indicará o conforto visual do público para assistir ao
espetáculo, seja sentado ou em pé.
A medida desta cota é feita com o palco acabado já considerando o material de revestimento,
em geral madeira.
Ao encontrar-se a ausência desta cota em um mapa de luz é possível haver dúvidas em relação
ao posicionamento das varas de iluminação e dos aparelhos desejado pelo projetista no
momento de sua criação e planejamento.
A diferença de um metro na altura, se levarmos em consideração a altura de cinco metros
como usual para a altura das varas é significativa, pois representa 20% deste valor e alterará a
execução do projeto.
4.5 - Denominação dos compartimentos seccionados: palco e plateia
4.6 - Escalas
A NBR 6492 (ABNT, 1994, p. 2) afirma que escala é a "relação dimensional entre a
representação de um objeto no desenho e suas dimensões reais."
Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013
Ainda segundo a NBR 6492 a planta-baixa deve vir acompanhada de um carimbo e legenda
com as informações pertinentes ao projeto arquitetônico: "O carimbo (sic) inferior direito das
folhas de desenho deve ser reservado ao carimbo destinado à legenda de titulação e
numeração dos desenhos" (ABNT, 1994, p. 2). A palavra "carimbo" no início da citação pode
estar equivocada e o correto seria "canto".
Fazendo-se um paralelo com estas normas, a legenda de um mapa de luz deverá mostrar
claramente todos os símbolos de referência que representam objetos concretos e reais, isto é,
aqueles que serão usados no espetáculo para o qual foi confeccionado o mapa de luz.
O carimbo deveria fornecer informações indicativas sobre o artista, nome do espetáculo, local
e datas da apresentação, nome do iluminador que criou o projeto de iluminação cênica, datas
desta criação, versão do mapa de luz, meio de confecção do mesmo e nome do arquivo
eletrônico que guardará o mapa em versão eletrônica entre outras informações que o
iluminador julgar pertinente.
Os mapas podem ter o logotipo do cliente ou artista estampado para uma rápida identificação
do mesmo entre outros mapas.
6. Método adotado
Para a análise utilizou-se 10% das representações totalizando uma amostra de 45 mapas
escolhidos ao acaso.
Como os iluminadores cênicos costumam trabalhar com mais de um artista poder-se-ia
incorrer em erro tabulando duas ou mais vezes a mesma forma de representação, considerou-
se somente o primeiro mapa coletado de cada profissional para a análise dos dados.
Investigaram-se as informações contidas ou ausentes em cada mapa de luz da amostra
utilizando o questionário na tabela 2 a seguir:
Artista:
Iluminador:
Mapa número: sim não
Mapas de Luz
O mapa está em planta-baixa?
Escala
O mapa está em escala?
O mapa possui cotas?
Denominação dos diversos compartimentos seccionados
Há indicação do local do palco no mapa de luz?
Há indicação do local da plateia no mapa de luz?
Indicação da cota do corte
A altura usada pelo iluminador para fazer o corte está indicada?
O projeto está dividido em mapa aéreo e de piso?
Indicação das cotas de nível acabado
O mapa contém a indicação das cotas de nível acabado do piso do palco?
Indicação das cotas verticais
Há indicação de cotas verticais?
Sistema estrutural
Há indicação de sistema estrutural?
O sistema estrutural possui indicação de cota?
Simbologias de representação gráfica - símbolos
Os símbolos estão inseridos precisamente com indicação de cotas?
Os símbolos (blocos) tem relação de semelhança com o aparelho real?
Existem blocos rotacionados em ângulos diferentes de 0º, 90º, 180º ou 270º?
Informações contidas nos símbolos
Os blocos contém indicação de número de identificação do aparelho?
Os blocos contém indicação de ângulo de facho ou tipo?
Os blocos contém indicação de canal de mesa, dimmer ou circuito elétrico?
Os blocos contém indicação de filtro?
Os blocos contém indicação de potência do aparelho?
Os blocos contém indicação de peso do aparelho?
Os blocos contém indicação de afinação do aparelho?
Os blocos contém indicação de acessórios?
As PAR64 possuem indicação de posição do filamento?
Caligrafia técnica nos blocos
As informações estão somente no sentido da leitura da folha?
Notas gerais, desenhos de referência e carimbo
Possui legenda?
Possui carimbo?
Consta nome do artista?
Consta nome do espetáculo?
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Analisando-se o conjunto dos mapas verificou-se que nenhum possui exatamente as mesmas
características de outro, ou seja, a distribuição da presença de parte das 37 características nos
mapas não se dá de forma homogênea demonstrando que não há padrão nos mapas avaliados.
Tabulou-se os resultados quantitativos das perguntas investigadas através de duas tabelas.
A tabela 3 a seguir mostra a quantidade de mapas contendo determinado número de
características encontradas nos mapas e o respectivo percentual.
Conforme se pode observar na tabela 4 acima se confirmou que a maior parte dos
iluminadores, no Brasil, utiliza a planta-baixa como forma de representar graficamente os
projetos de iluminação cênica, embora nem sempre este mapa esteja em escala e; quando está,
muitas vezes não existe a indicação da mesma.
Em geral aqueles feitos por computador estão em escala pelo fato de que o arquivo de saída
do programa contempla uma escala, mas em poucos casos está claramente indicada.
Em alguns mapas encontraram-se representações em 3D, vistas frontais ou vistas laterais para
auxiliar na compreensão dos mesmos.
Poucos mapas possuem cotas gerais, quando ocorre está no sistema métrico e em metros e
denota a preocupação com as dimensões e localização dos elementos no mapa para auxiliar a
montagem real dos aparelhos. Para este item não existe um padrão gráfico.
Em um dos mapas encontrou-se indicação de medidas para toda a extensão do palco, no eixo
y (profundidade) e no eixo x (comprimento). As coordenadas no eixo x continham números
positivos a esquerda do centro e negativos a direita do mesmo de quem olha da plateia.
Boa parte dos mapas possui indicação do palco, no entanto poucos indicam a posição da
plateia. Aparentemente os iluminadores confeccionam os mapas julgando que ao representá-lo
no sentido da visão desde a plateia automaticamente definem o posicionamento da mesma.
Quase nenhum mapa indica a altura usada para fazer o corte. Em três mapas conseguiu-se
deduzir esta altura somente pelo fato de incluírem a informação do pé-direito pretendido. Em
um dos mapas encontrou-se a expressão pé-direito para indicar que a altura a serem colocadas
as varas de luz é a máxima permitida pelo pé-direito do local.
Com relação à divisão em mapa aéreo e de piso somente 1/4 dos projetos encontra-se dividido
desta forma, outro 1/4 contém representação no mesmo mapa e metade não possui aparelhos
no chão, portanto não carecem desta divisão.
Em nenhum dos mapas constatou-se a presença das cotas do nível acabado do palco o que
sugere que a referência a ser utilizada é o próprio piso do palco ou que os iluminadores não
saibam da importância deste dado.
Em pouquíssimos mapas há a indicação de cotas verticais e quando isto ocorre, na maior parte
das vezes dá-se nos mapas de piso para indicar colocação de moving lights em cima de pilares
(pirulitos). Encontrou-se raramente vistas frontais ou laterais para auxiliar na compreensão
das alturas em que os aparelhos estão colocados.
A representação das estruturas de sustentação dos aparelhos está presente na quase totalidade
dos mapas de luz, mas somente em 1/4 deles está cotada.
Em nenhum dos mapas analisados há cotas para a inserção dos símbolos que representam
aparelhos, ou seja, não há a intenção (ou necessidade?) de transmitir a informação de onde
exatamente o aparelho deve ser colocado e parece que centímetros de diferença não irão
alterar o resultado almejado.
Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013
Os símbolos utilizados são os mais variados através de desenhos artísticos criados pelo
próprio iluminador até a representação em escala dos aparelhos inseridos nos mapas.
Quase metade dos mapas possui algum aparelho rotacionado, principalmente os que tem
descrição de afinação dos aparelhos, o que talvez demonstre porque o interesse do iluminador
em girar os símbolos.
Das informações contidas no bloco as que mais aparecem nas representações são ângulo do
facho de abertura, canal de mesa e filtro.
A indicação para os aparelhos muitas vezes não estão presentes nos símbolos, somente na
legenda ou em documento a parte.
Os filtros aparecem indicados das mais diversas formas: somente por números, por nomes de
cores abreviados, através da inicial do fabricante seguida do número do filtro ou colorindo os
aparelhos na legenda e no mapa.
Nenhum iluminador colocou número de identificação do aparelho o que vai no caminho
contrário à novíssima tecnologia utilizada nos modernos consoles de iluminação que
permitem fixture exchange, ou seja, quando há troca de aparelho eletrônico não se perde a
programação dos efeitos de luz pois estão baseadas no seu ID. Além disto a identificação faz
com que o mesmo aparelho, aparecendo em um corte ou uma vista explicativa, não seja
montado duas vezes.
Em dois mapas encontraram-se informações por escrito em função do iluminador, ao usar um
software, ter copiado e espelhado o aparelho junto com os caracteres nele contidos.
Potência, peso, afinação e acessórios dos aparelhos são raramente indicados na planta, quando
isto ocorre são vinculados à legenda ou à lista de equipamento.
Nenhum dos iluminadores julga que a informação do posicionamento do filamento das
PAR64 seja importante constar no mapa de luz para a montagem e, deste modo, os refletores
somente terão a posição da lâmpada definida na afinação dos aparelhos.
Metade dos mapas possui as informações no sentido de leitura da folha.
A legenda, encontrada em locais variados entre os mapas amostrados, está presente em 64%
das plantas indicando que a maior parte dos iluminadores faz uso desta importante referência,
porém 36% dos profissionais julgam que a simples representação dos aparelhos é suficiente
para a compreensão do projeto de iluminação.
Para referir-se à legenda encontraram-se os termos gabarito, chave e o termo key em inglês.
Os carimbos nem sempre estão representado por um quadro com as informações pertinentes,
muitas das vezes a informação está estampada na folha em locais variados.
O nome do artista e o nome do projetista têm alto índice de presença nos mapas de luz, seja
através de grafia normal, logotipo artístico, através de carimbo pequeno ou como plano de
fundo da folha.
O nome do espetáculo consta em menor percentual.
Muitas vezes encontrou-se, principalmente no caso de espetáculos musicais, o ano da turnê
(turnê 2011, por exemplo) e não o nome do espetáculo, CD ou DVD referente ao espetáculo.
Chamou a atenção o fato de que existem muitos erros de nomenclatura dos aparelhos, filtros,
acessórios e estruturas.
Outro dado alarmante é a presença de email e telefone do iluminador para contatos
esclarecedores: "Em caso de dúvidas ligar para...". Antecipadamente os iluminadores parecem
saber que vai haver discrepâncias no entendimento do mapa de luz, mas não tem ciência exata
de aonde isto ocorrerá pois, caso contrário, resolveriam o problema na sua planificação.
Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013
8. Conclusão
Os objetivos de verificar quais informações estão contidas nos mapas de luz para a
representação gráfica de projetos de iluminação cênica no Brasil e se há uniformidade nos
mesmos foram alcançados.
Os resultados indicaram que não há uma uniformidade na forma de representar graficamente a
montagem dos equipamentos de iluminação cênica no Brasil.
A distribuição desorganizada de elementos coincide o pensamento de autores como Warfel e
Moody, citados neste estudo.
Não obstante teria sido de extrema valia dispor de mais tempo e meios para aprofundar esta
análise aumentando a quantidade de mapas analisados bem como acrescendo o número de
características pesquisadas o que proporcionaria uma visão mais ampla desta forma de
representação gráfica.
Verificou-se que um estudo comparativo com mapas de luz feitos em outros países expandiria
nossa visão a respeito do assunto e talvez trouxesse uma proposta de soluções para os
problemas encontrados.
Tendo em vista a importância de uma uniformidade na comunicação dos desenhos técnicos na
área da Iluminação Cênica no Brasil, conclui-se que há a necessidade do desenvolvimento de
um estudo mais aprofundado com vistas à padronização da representação gráfica dos mapas
de luz em nosso país.
9. Referências
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Representação Gráfica de Projetos de Iluminação Cênica no Brasil Janeiro/2013
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