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“Essa união é que possibilita a vitória da Revolução de 1930, depois da

qual se processa uma luta, em muito idêntica à da crise da ‘República’, entre


fração da classe dominante que participou da revolução e os elementos da
classe média que lhe constituíram o fermento e que eram nitidamente
representados pelos militares oriundos do tenentismo. ”
SODRÉ, Nelson Werneck. O que se Deve Ler para Conhecer o
Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973. p. 205.

“O agravamento das tensões ao longo da década de vinte, as peripécias


eleitorais das eleições de 1930, a crise econômica propiciam a criação de uma
‘frente difusa’, em março/outubro de 1930, que traduz a ambiguidade da
resposta à dominação da classe hegemônica: em equilíbrio instável, contando
com o apoio das classes medias de todos os centros urbanos, reúnem-se ao
setor militar, agora ampliado com alguns quadros superiores, e as classes
dominantes regionais.
Vitoriosa a revolução, abre-se uma espécie de vazio de poder, por força
da decadência política da burguesia do café e da incapacidade das demais
frações de classe de assumi-lo, em caráter exclusivo. O ‘Estado de
compromisso’ é a resposta para esta situação [...]. O novo governo representa
mais uma transação no interior das classes dominantes, tão bem expressa na
intocabilidade sagrada das relações sociais no campo. ”
FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: Historiografia e História.
8ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 112-113.

“Mas poder-se-á afirmar que se trata de uma ‘revolução’? Temos nesse


trabalho nos referido ao movimento de outubro de 1930 como Revolução mais
cedendo ao título que o movimento recebeu que propriamente ao seu real
conteúdo e significado técnico ou político.
Na verdade seria preferível inventar outro nome para dar à palavra
Revolução um significado mais profundo e mais rico de conteúdo.
Que houve pois realmente em 1930? A substituição de um setor das
classes dominantes por outro, sem que nada mais alterasse no país.
Este conservou a sua estrutura econômica, a terra continuou nas mãos
de seus antigos proprietários, o café continuou a ser o elemento dominante da
nossa exportação e a fonte máxima de divisas, as classes sociais
continuaram aonde estavam, as relações de produção no campo
permaneceram as mesmas. Só que as classes pobres ficaram mais pobres.
Desse modo a Revolução de 30 não foi na realidade uma Revolução
como não foi igualmente um movimento puramente militar e menos ainda uma
guerra civil. Talvez de pudesse classificá-la como uma insurreição político-
militar com apoio parcial do povo, embora possa continuar chamando-se
Revolução de 30, nome que, com as devidas ressalvas, não prejudica a
ninguém. ”
BASBAUM, Leôncio. História Sincera da Republica: de 1889 a
1930. 4ª ed. São Paulo: Alfa-Ômega, 1981. p. 293.

“Essa saraivada de discursos em nome da ordem, contra organizações


operarias, contra as leis sociais, que, segundo o CIESP, apenas elementos
subversivos defendiam encontrava já em 1929, durante a greve dos gráficos,
respaldo de vários setores da sociedade. Enfim, era necessário o
encaminhamento da solução da questão social, justamente para impedir o
avanço e a proliferação das ideias subversivas. ”
DE DECCA, Edgar Salvadori. 1930. O silêncio dos vencidos.
São Paulo: Brasiliense, 1981. p. 198.

“Antes de mais nada é preciso dizer que a ideia de ‘Revolução de 30’


talvez seja a construção mais bem elaborada do pensamento autoritário no
Brasil. Como tal, foi e continua sendo um poderoso instrumento de
dominação, na medida em que apagou a memória dos vencidos na luta e
construiu o futuro na perspectiva dos vencedores. [...].
A sistemática exclusão, repressão e manipulação do movimento
operário pelas classes dominantes e por aqueles que se autodenominaram
representantes dos trabalhadores – esses são os suportes da ideia de
Revolução de 30. ”
TRONCA, Ítalo. Revolução de 30: a Dominação Oculta. São
Paulo: Brasiliense, 1982. p. 7 e 13.

“A revolução paulista foi tipicamente uma revolução pelo alto [...]. Foi
assim que, a despeito de todas as concessões do governo e de todos os
favores do Tesouro, a união dos elementos representativos dessa falsa
civilização – industriais, capitalistas, comerciantes, políticos, etc. – fez-se com
o fim de estabelecer a velha ascendência econômico-política a cuja sombra
prosperavam com o empobrecimento e o sacrifício do resto do país. ”
SILVA, Hélio. Apresentação. In: GASMAN, Lydnéa. Documentos
Históricos Brasileiros. Rio de Janeiro: FENAME, 1976. p. 233.

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