Você está na página 1de 4

A escravidão na África: Uma história de suas transformações

A escravidão dos africanos, 1600-1800

Paul E. Lovejoy

Fichamento para apresentação

- O autor inicia o texto destacando dois fenômenos importantes para o sistema


emergente de escravidão. O primeiro seria o processo de fragmentação política presente
em grande parte do continente, e o outro seria a consolidação de uma rede comercial
independente, que permitiria o movimento dos escravos dentro da África e além.

“A característica mais difundida da história africana no período de 1600 a 1800 era a


incapacidade dos líderes militares e políticos de consolidar grandes áreas em estados
centralizados, apesar da presença de um grande número de pequenas organizações
políticas. No século XVI, apenas Songai e Bornu podem realmente ser chamados de
impérios. Os outros estados nesse período eram muito menores que esses, e grandes
áreas não tinham nenhum estado. Em 1800, não existiam grandes impérios, embora de
maneira geral o número de estados tivesse aumentado, e a área de sociedades sem
estado tivesse sido reduzida. A fragmentação política acompanhada de instabilidade era
uma característica do período. Essa situação política era muito propícia à escravização
das pessoas.”

- O autor fala ainda da questão das guerras, que gerava um grande contingente de
escravos, e da ausência de grandes estados que pudessem oferecer unidade e segurança.

- O papel da África na economia mundial: Os avanços tecnológicos e econômicos do


período não foram suficientes para fazer com que o continente pudesse desenvolver um
papel de maior destaque na comunidade mundial. A função da África era a de fornecer o
seu povo para as plantations e minas nas Américas e para os haréns e exércitos do Norte
da África e da Arábia.

Uma outra informação importante é que esse período de dependência seria caracterizado
pelos senhores de guerra, figura que será bastante explorada ao longo do texto.

- Lovejoy destaca o papel das secas e das guerras na instituição da escravidão:


“Durante os períodos de seca, as pessoas tinham que se mudar para salvar a si mesmas,
fossem elas escravas ou livres; a derrota na guerra também podia levar a uma migração
similar. Essa mudança demográfica reabastecia as terras despovoadas pelos ataques em
busca de escravos e pelas guerras e tornava possível que os futuros comandantes
escravizassem ou reescravizassem as pessoas, uma vez que as condições climáticas e
políticas se estabilizassem.”

- Guerras entre muçulmanos e não-muçulmanos: Estas perpetuavam a tradição do Islã


belicoso, que afirmava que a escravização e a ação militar eram métodos apropriados de
conversão. A realidade política dos séculos XVII e XVIII conflitava com essa ambição,
pois os governos islâmicos não tinham o poder de subjugar grande parte do território
não-muçulmano. Consequentemente, a escravidão era concebida como um meio
necessário para o mesmo objetivo.

- Muitos estados muçulmanos organizavam ataques para a captura de escravos. O


volume desses ataques refletem a importância da escravidão para a economia política.
Para o sultão de Senar era a segunda maior fonte de renda, depois da tributação direta
sobre o campesinato.

- África Centro-Ocidental: Durante os séculos XVI e XVII foi a principal fonte de


escravos para a venda aos europeus.

- Três facilitadores para a exportação desses escravos:

1- A desintegração do reino do Congo, que passou pela experiência da guerra civil na


última metade do século XVII. O Congo era então uma importante fonte de escravos.

2- As expedições portuguesas ao interior, na tentativa de expandir a colônia e capturar


escravos.

3- A ascensão dos grupos de guerra de imbangalas que operavam na área onde os


ambundos viviam ao sul do Congo. Havia uma tendência a instabilidade política. Onde
anteriormente o reino do Congo havia dominado a área, agora nenhuma autoridade
central podia aplicar a lei a ordem. Em vez disso o período era dos grandes senhores da
guerra, fossem eles nobres do Congo, chefes imbangalas, comandantes portugueses ou
novos príncipes guerreiros do interior do continente. O elemento comum era a ênfase na
guerra e na pilhagem, e a conseqüência era a escravização em grande escala.
- Século XVIII: Nesse momento exigiu-se a inclusão de áreas mais no interior do
continente de modo a manter o nível das exportações, mas isso significava que outros
senhores da guerra foram acrescentados à lista de participantes nas campanhas de
fornecimento de escravos para exportação.

- África Central: O padrão da escravização nesse local era semelhante ao da África


Centro-Ocidental. Os chefes guerreiros operavam numa escala relativamente pequena,
arrecadando escravos nas populações exploradas e remetendo esses escravos para a
costa. Como em Angola, os portugueses estavam ativamente envolvidos na
escravização.

- Costa Ocidental Africana: A grande maioria dos escravos do interior do Golfo do


Benim, Costa do ouro e Senegâmbia era capturada em guerras. Já aqueles escravos que
vinham do Delta do Níger e do rio Cross- a baía de Biafra- tinham antecedentes mais
variados, embora as guerras fossem também um fator. Mas as razias, os seqüestros, as
condenações judiciais, o não pagamento de penhores e a escravização sancionada pela
religião eram as principais causas.

- O autor afirma que a disseminação de seqüestros, ataques e a aplicação de sentenças


aos criminosos condenados a escravidão eram outros meios de solucionar o problema da
oferta de escravos. De qualquer forma, tanto as razias quanto os seqüestros eram
indicadores de uma anarquia dominante, que a ausência de um governo central torna
possível.

- Mais uma vez ganha destaque a questão da fragmentação política. Segundo Lovejoy,
“sem uma autoridade centralizada que pudesse salvaguardar as liberdades individuais e
a propriedade em grandes áreas, os indivíduos tinham que enfrentar os riscos das
viagens se quisessem levar a cabo um empreendimento comercial, e as comunidades
sempre temiam guerras, seqüestros e ataques. Em muitos casos, é difícil separar o
desejo de capturar prisioneiros para a escravidão de rivalidades econômicas e políticas
não diretamente relacionadas com a escravização.”

- A captura ilegal de escravos e os limites da escravidão

O autor relata uma série de casos, onde alguns indivíduos se mostravam preocupados
com os abusos da escravidão e, de fato tentavam impedir as práticas inescrupulosas de
certos comerciantes. Havia sim um código, ou melhor, vários códigos de conduta que
deveriam ser respeitados. Por exemplo, para os muçulmanos, somente eles e membros
de grupos súditos que pagavam tributos especiais estavam livres da escravização.

Além disso, essa batalha moral afetava os procedimentos legais, como pode ser visto na
mudança para a escravização de muitas das punições penais, como a compensação
material às partes prejudicadas e a morte aos assassinos e outros condenados por crimes
particularmente graves. A escravização tornou-se cada vez mais a penalidade mais
comumente imposta.

- Por último o autor conclui que essa erosão na sociedade deve ser explicada dentro do
seu contexto político. Portanto, isso inclui fatores externos mas sobretudo internos,
como verificado na ausência de governos fortes e centralizados.

Você também pode gostar