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09/05/2020 Acordão do Tribunal Central Administrativo

Acórdãos TCAS Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul


Processo: 1386/19.9BESNT
Secção: CT
Data do Acordão: 23-04-2020
Relator: CRISTINA FLORA
Descritores: RECLAMAÇÃO JUDICIAL;
DEVER DE DECISÃO.
Sumário: Não se verifica a omissão do dever de decisão quando no
despacho reclamado se aprecia o fundamento invocado no
requerimento da Reclamante, nomeadamente, a nulidade da
citação por violação do art. 239.º do CPPT.
Votação: UNANIMIDADE
Aditamento:
1
Decisão Texto Integral: Acordam, em conferência, os juízes que constituem a Secção
de Contencioso Tributário do Tribunal Central Administrativo
Sul:

I. RELATÓRIO

M... vem recorrer da sentença proferida pelo Tribunal


Administrativo e Fiscal de Sintra que julgou improcedente a
reclamação por si deduzida, na sequência da sua notificação, de 8
de Agosto de 2019, da decisão proferida pelo Director de Finanças
Adjunto, por delegação de competências em 2 de Agosto de 2019,
no âmbito do processo de execução fiscal (PEF) n.° 3... e apensos.

A recorrente apresentou as suas alegações e formulou as


seguintes conclusões:
«1. A Reclamante, lançando mão das prerrogativas que a Lei lhe
confere, apresentou em 15/04/2019 no Serviço de Finanças
Cascais 2 Carcavelos, um Requerimento, dirigido ao Exmo.
Senhor Director Geral de Finanças de Lisboa (Órgão Periférico
Regional), identificando o processo de Execução Fiscal, cujo
conteúdo e forma não suscitaria dúvidas a ninguém, muito menos
à entidade a quem foi dirigido, no sentido de saber, qual era a sua
pretensão, mas também aferir da sua legitimidade para obter esse
efeito. Tudo em conformidade com o transcrito no n.º 2 desta peça
processual, com especial enfoque para os art°s. 1º, 2º e 3º desse
Requerimento.
2. Sem motivo aparente a entidade competente para tomar uma
decisão sobre o requerido, à qual foi dirigido o Requerimento,
fosse ela qual fosse, assim como o dever de notificar e informar a
Requerente da decisão que tomou, remeteu-se ao silêncio, num
completo desrespeito pela Lei e obviamente pela Requerente.
3. Nesta circunstância viu-se a Requerente ora Reclamante
forçada a apresentar novo Requerimento em 19/07/2019, tal como
se alega no n° 2 desta peça.
4. Estranhamente, a Requerente, recepcionou em 14/08/2019 um
Despacho do Sr. Director de Finanças Adjunto, sobre "Incidente de
anulação de venda", nos termos em que é referido no n° 3 desta
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peça.
5. Não se conformando nem aceitando esta decisão, pelos motivos
elencados em 4 e 5 desta peça, independentemente da demora,
sem motivo aparente, cerca de 4 meses a Requerente ora
Reclamante reclamou desta decisão para o TAF de Sintra nos
termos do artigo 276°. e ss do CPPT, em 26/08/2019, tal como se
alega em 5 desta peça.
6. A Requerente, com a falta de informação sobre esta
Reclamação, atendendo ao tempo já decorrido sobre a entrada
desta encetou diligências, a expensas suas, tal como se alega em
7 e 8 desta peça.
7. Por mais estranho que pareça a Requerente continuou sem
obter resposta por parte do Sr. Director de Finanças ou por parte
do TAF de Sintra, tal como se alega em 8 desta peça, e, mais uma
vez, se viu forcada a requerer que lhe fosse dada informação, tal
como se alega em 9 desta peça onde se transcreve o
Requerimento entregue.
8. Depois da entrega do Requerimento, antes referido, para o qual
se requer particular atenção de V. Exas. Venerandos
Desembargadores, para o facto de, o Sr. Director de Finanças de
Lisboa só ter feito subir a Reclamação para o TAF de Sintra, após
a entrada da mesma em 26/08/2019, mais de 100 dias depois, ou
seja, em 09/12/2019, tudo em conformidade com o que se alega
em 10 desta peça.
9. No seguimento da notificação recebida, respondeu a
Requerente, ora Reclamante, da forma que se verifica em 11 desta
peça.
10. Na resposta à defesa da Fazenda Pública por exepção
respondeu a ora Reclamante na forma como se descreve em 14
desta peça.
11. Atendendo a tudo o que antes se relata e prova, com especial
enfoque para a Questão Prévia, e para todos os números, ínsitos
nesta peça processual, que a Requerente ora Reclamante
considera fundamentais para a decisão da causa, não será menos
importante uma análise global para que de forma simples V. Exas.
possam concluir, que, para além dos atropelos a Lei por parte do
Sr. Director Geral de Finanças de Lisboa, das mais variadas
formas, como amplamente se descreve, a sua conduta, salvo
opinião em contrário, está ferida de má fé, na medida em que, com
esta sua actuação originou mais prejuízo, ainda, para a ora
Reclamante, para além do que, antes, já lhe tinha causado com a
falta de citação após penhora, em Julho de 2009, sobre o imóvel
"casa de morada de Família", nos termos do artigo 239°. do CPPT
que a impediu de defender os seus direitos e interesses como co-
executada. Já no que tange à decisão da Mrma. Juíza, não terá, a
mesma, observado, no seu todo, as razões que assistem à
Reclamante em matéria de facto e de Direito, dando total cobertura
às alegacões da Fazenda Pública, corroborando e mantendo na
Sentença que proferiu, o Despacho do Sr. Director de Finanças de

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Lisboa, quando, em boa verdade, nem a Requerente ora


Reclamante tem legitimidade para requerer um cedido de
"anulação de venda", nem nunca teve, e, por isso, nunca o fez,
independentemente da Mrtª. Juíza, não ter observado da
extemporaneidade da Reclamação, muito menos observou da
responsabilidade do Sr. Director de Finanças de Lisboa, que
quando não faz subir a Reclamação em tempo útil, 10 dias, para o
TAF de Sintra, sem que tenha havido impedimento legal, assume a
responsabilidade de anular o acto requerido, não podendo jamais,
remeter para o TAF de Sintra essa Reclamação, muito menos
depois de 100 dias passados, como aconteceu.
12. Por último, cumpre informar e esclarecer que, contrariamente
ao que é afirmado no douto Despacho do Senhor Director Geral de
Finanças, corroborado pela Mrtª. Juíza no seu Relatório da
Sentença proferida, a Reclamante nunca interferiu neste processo,
em tempo algum, na qualidade de co-Executada, como se quer
fazer crer. Precisamente, por, nunca ter sido citada ao abrigo do
art° 239° do CPPT, como antes se refere. Facto que constitui, nos
termos do n° 1 do art° 165.º do CPPT, uma "UMA NULIDADE
INSANÁVEL", invocável a todo o tempo.
NESTES TERMOS E NOS MAIS DE DIREITO, E, SEMPRE COM
O MUI DOUTO SUPRIMENTO DE V.EX"AS. VENERANDOS
DESEMBARGADORES. SE REQUER A REVOGAÇÃO DA
SENTENÇA. DA QUAL SE RECLAMA. SUBSTITUÍNDO-A POR
OUTRA QUE DETERMINE A “ANULAÇÃO DE TODO O
PROCESSADO APÓS PENHORA. INCLUÍNDO A PRÓPRIA
PENHORA", COM TODAS AS CONSEQUÊNCIAS LEGAIS.»

A Recorrida, devidamente notificada para o efeito, não apresentou


contra-alegações.
****

Foram os autos a vista do Magistrado do Ministério Público que


emitiu parecer no sentido da procedência do recurso.

****
Com dispensa dos vistos legais, atento o carácter urgente dos
autos, cumpre apreciar e decidir, considerando que a tal nada
obsta.

****

As questões invocadas pela Recorrente nas suas conclusões das


alegações de recurso, que delimitam o objecto do mesmo, e que
cumpre apreciar e decidir consistem em aferir se a sentença
recorrida enferma de erro de julgamento de facto, e de direito,
porquanto não considerou o seguinte:

1) O despacho recorrido não decidiu o que se peticionou ao tratar


da “anulação de venda” não requerida;
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2) O órgão de execução não deu à reclamação o tratamento


adequado ao a ter remetido mais de 100 dias após a sua
apresentação;
3) A Reclamante não foi citada ao abrigo do art. 239.º do CPPT.

I. FUNDAMENTAÇÃO

A decisão recorrida deu como provada a seguinte matéria de facto:

“A. Corre termos contra m…, com o NIF 1…, por reversão, o PEF
n.° 3... e apensos, originariamente instaurado contra a sociedade
F..., Lda. com o NIPC 5…, para cobrança coerciva de dívidas de
IRS, IRC, IVA e coimas fiscais (cf. intróito da p. i. e informação a
fls. 23 e segs., cujo teor se dá por integralmente reproduzido);

B. Tramitou, neste Tribunal, o processo n.° 1968/14.5BESNT, sob a


forma “Reclamação dos actos do órgão de execução fiscal”,
apresentada por M… no âmbito do referido PEF, o qual se
encontra no estado “Findo”, na sequência de prolação de sentença
que julgou improcedente a reclamação contra o acto de
indeferimento, por intempestividade, do pedido de anulação de
venda do prédio urbano inscrito na matriz predial da freguesia de
União de Freguesias de Carcavelos e Parede, Concelho de
Cascais, sob o artigo 2…, fracção I, descrito na Segunda
Conservatória do Registo Predial de Cascais sob a ficha n.° 1…,
sito na Q…- Rot. dos Bombeiros Voluntários de Carcavelos, n.° …
- 2… Carcavelos, o qual foi vendido por meio de leilão electrónico
em 30 de Dezembro de 2013 tendo o bem imóvel sido adjudicado,
pelo valor de € 79.552,00, a R…, com o NIF 2…, por ter sido o
proponente que apresentou a melhor proposta (cf. Consulta no
SITAF);

C. O aí Reclamante recorreu da sentença para o TCA Sul, que a


confirmou, negando provimento ao recurso (Idem);

D. Da mesma sentença, o aí Reclamante interpôs recurso de


revisão, o qual tramitou neste TAF de Sintra sob o n.°
1968/14.5BESNT-A, sob a forma “Outros processos” e se encontra
no estado “Findo”, na sequência de prolação de sentença que o
rejeitou liminarmente, por intempestividade (Idem);

E. Tramitou, neste Tribunal, o processo n.° 2809/15.1BESNT, sob a


forma “Outros incidentes da execução fiscal”, apresentada pela
Fazenda Pública no âmbito do referido PEF, o qual se encontra no
estado “Findo”, na sequência de prolação de sentença que
autorizou o arrombamento do referido imóvel vendido (cf. consulta
no SITAF);

F. Tramitou, neste Tribunal, o processo n.° 61/16.0BESNT, sob a


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forma de “Processo cautelar”, apresentado por M… no âmbito do


referido PEF, o qual se encontra no estado “Findo”, na sequência
de prolação de sentença que indeferiu liminarmente, por erro na
forma do processo insusceptível de convolação para a forma de
processo adequada, a pretensão de obstar à entrega do referido
imóvel vendido (Idem);

G. Tramitou, neste Tribunal o processo n.° 1089/16.6BESNT, sob a


forma de “Reclamação dos actos do órgão de execução fiscal”,
apresentada por M... no âmbito do referido PEF, o qual se encontra
no estado “Findo”, na sequência de prolação de sentença que
julgou improcedente a reclamação apresentada contra o acto de
arrombamento e entrega do referido imóvel vendido ao
adjudicatário e também da decisão que indeferiu o requerimento
de reconhecimento da prescrição das dívidas exequendas (Idem);

H. O aí Reclamante recorreu da sentença para o TCA Sul, que a


confirmou, negando provimento ao recurso (Idem);

I. No mesmo processo n.° 1089/16.6BESNT, o TCA Sul julgou-se


incompetente, em razão da hierarquia, para conhecer do recurso
de revisão interposto pelo aí Reclamante;

J. Tramitou, neste Tribunal, o processo n.° 61/16.0BESNT, sob a


forma de “Processo cautelar apresentada por M... no âmbito do
referido PEF, o qual se encontra no estado “Findo”, na sequência
de prolação de sentença que indeferiu liminarmente, por erro na
forma do processo insusceptível de convolação para forma de
processo adequada, a pretensão de obstar à entrega do referido
imóvel vendido ao adjudicatário (Idem);

K. Tramitou neste Tribunal, o processo n.° 1105/17.4BESNT, sob a


forma “Outros processos”, apresentada por M... e pela ora
Reclamante no âmbito do referido PEF, o qual se encontra no
estado “Findo”, na sequência de prolação de sentença que rejeitou
liminarmente a p. i., em que invocavam se tratar da venda da sua
casa de morada de família e a falta de citação do cônjuge do
responsável subsidiário para requerer a separação de bens (Idem);

L. Pode ler-se na inerente fundamentação:


“Ou seja, os aqui Reclamantes esgotaram, sem êxito, todos os
meios de reacção contra a sentença proferida no TAF de Sintra no
âmbito do processo n° 1089/16.6BESNT, que indeferiu a
reclamação que apresentaram contra o acto de arrombamento e
entrega do imóvel ao adjudicatário na venda executiva, praticado
em 04.08.2016. Esgotaram, também, todas as possibilidades de
reacção contenciosa contra o anterior acto de venda desse mesmo
imóvel, que afirmam ser a sua casa de morada de família.
Aparentemente, algumas das suas pretensões não foram
reconhecidas, em parte, porque reagiram já fora do prazo ou
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utilizando meios processuais desadequados às pretensões que


formulavam, não tendo logrado obter provimento nem nas
reclamações, nem nos recursos, nem nos recursos de revisão
interpostos pelo Requerente marido.
Não obstante, não se conformam com o acto de venda ocorrido há
mais de três anos e já firmado na ordem jurídica, continuando a
pretender vê-lo anulado nesta sede.

Fazem-no, contudo, com base em irregularidades que assacam ao


acto de reversão (e até em momento anterior a este acto) ou ao
processo de execução fiscal em causa, sendo certo que tais
irregularidades (v.g., designadamente, a invocação da falta de
citação do cônjuge para requerer a separação judicial), tal como os
documentos que juntam agora, poderiam e deveriam ter sido
invocadas e apresentados, antes de realizada a venda, junto do
órgão de execução fiscal (que, aliás, não poderá desconhecer
nenhum dos documentos agora juntos, pois todos eles são
respeitantes a actos praticados nos processos de execução fiscal
em causa).
De resto, a invocada Lei n° 13/2016, de 23 de Maio (que criou um
impedimento à venda em processos de execução fiscal de imóvel
que seja habitação própria e permanente do executado ou do seu
agregado familiar), entrou em vigor em 24.05.2016, no dia seguinte
ao da sua publicação (cfr. art° 6° da mesma Lei), não sendo por
essa razão aplicável aos actos de venda realizados em data
anterior, como é o caso da venda aqui em apreço, datada de
30.12.2013.
Ora, uma vez realizada a venda e paga a dívida com o produto da
mesma, o processo de execução fiscal extingue-se (cfr. art° 261°
do CPPT), sendo, por isso, inútil que os Requerentes continuem a
invocar quaisquer fundamentos relacionados com a inexigibilidade
da dívida exequenda (v.g. por prescrição), ou até com
irregularidades do processo de execução ou da venda que,
devendo e podendo sê-lo, não foram atempada ou
adequadamente suscitadas junto do órgão de execução fiscal. De
qualquer modo, a terem existido tais irregularidades, elas
consideram-se já sanadas com a consolidação na ordem jurídica
dos actos praticados no processo (designadamente os actos de
reversão, de penhora e de venda), por falta ou insucesso de
reacção graciosa e/ou contenciosa contra tais actos.
Acresce que por força das decisões judiciais transitadas em
julgado acima referidas, a venda judicial do imóvel em causa e
entrega efectiva do mesmo ao adjudicatário passou a constituir
caso julgado.

E, face à formação de caso julgado, as sentenças em causa


passaram a ser vinculativas para qualquer tribunal ou autoridade
pública e para os próprios particulares que sempre as têm de
aceitar como um dado imodificável. Ora, a obrigatoriedade
reconhecida ao caso julgado (material) reside essencialmente na
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necessidade de assegurar estabilidade às relações jurídicas, não


permitindo que litígios, com o mesmo objecto e entre as mesmas
partes, se repitam indefinidamente, em prejuízo da paz jurídica
imposta pelo interesse público. Nestas circunstâncias, a insistência
dos aqui Requerentes, roça, aliás, os limites da má-fé processual,
nos termos previstos no n° 2 do art° 542° do Código de Processo
Civil, aplicável ex vi da alínea e) do art° 2° do Código de
Procedimento e de Processo Tributário, pois os mesmos, não
obstante estarem convictos da razão que lhes possa assistir, não
podem ignorar a falta de fundamento da pretensão de anulação da
venda e de devolução do imóvel após o esgotamento de todos os
meios de reacção contenciosa processualmente admissíveis
contra tais actos.
Já no que se refere à entrega dos bens que se encontrarão dentro
do imóvel vendido, os Requerentes não alegam nem comprovam,
desde logo, já terem solicitado ao Chefe do Serviço de Finanças
de Cascais-2 que notificasse o adjudicatário, nomeado pela AT
como fiel depositário, para proceder à entrega desses bens, o que
seria pressuposto necessário de qualquer reacção contenciosa
contra a impossibilidade de acesso aos mesmos (designadamente
para, com base em eventual indeferimento dessa solicitação, ou
com base na omissão de actuação devida, poderem lançar mão da
adequada defesa dos seus direitos e interesses relativamente a
tais bens)” (ldem);

M. Por Ofício de 3 de Outubro de 2013, foi a Reclamante citada,


nos seguintes termos essenciais (cf. doc. junto a fl. 30, cujo teor se
dá por integralmente reproduzido):
«Imagem no original»

N. O Ofício referido na letra anterior foi enviado via carta registada


(registo postal n.° RC…PT), com aviso de recepção assinado pela
Reclamante em 10 de Outubro de 2013 (cf. doc. junto a fl. 30
verso, cujo teor se dá por integralmente reproduzido);

O. Por Ofício de 30 de Outubro de 2013, foi a Reclamante


notificada, nos seguintes termos essenciais (cf. doc. junto a fl. 31,
cujo teor se dá por integralmente reproduzido):
«Imagem no original»

P. O Ofício referido na letra anterior foi enviado via carta registada


(registo postal n.° RD…PT), com aviso de recepção assinado pela
Reclamante em 25 de Novembro de 2013 (cf. doc. junto a fl. 31
verso, cujo teor se dá por integralmente reproduzido);

Q. A Reclamante apresentou em 15 de Abril de 2019 requerimento


dirigido ao Director de Finanças de Lisboa, com o seguinte teor
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essencial (cf. doc. junto a fl. 9 verso, cujo teor se dá por


integralmente reproduzido):
«Imagem no original»

R. A Reclamante apresentou em 19 de Julho de 2019 novo


requerimento dirigido ao Director de Finanças de Lisboa, com o
seguinte teor essencial (cf. doc. junto a fls. 10 verso e 11, cujo teor
se dá por integralmente reproduzido):

S. Por Ofício n.° 004816, de 8 de Agosto de 2019, foi a


Reclamante notificada da decisão proferida pelo Director de
Finanças Adjunto, por delegação de competências (conforme
Despacho n.° 2447/2019, publicado no DR, 2.a Série, n.° 50, de 12
de Março), em 2 de Agosto de 2019, “referente ao pedido de
anulação de venda, que deu entrada neste Serviço de Finanças
em 15/04/2019”, com o seguinte teor essencial (cf. doc. 3, junto
com a p. i. a fls. 12 verso e segs., cujo teor se dá por integralmente
reproduzido):

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T. A Reclamante deduziu presente reclamação em 26 de Agosto


de 2019 (cf. fl. 6, cujo teor se dá por integralmente reproduzido).»

Conforme resulta dos autos, com base na matéria de facto supra


transcrita a Meritíssima Juíza do TAF Sintra julgou improcedente a
reclamação apresentada contra o despacho do Director Geral de
Finanças reclamado.

A Recorrente não se conforma com o decidido, imputando-lhe erro


de julgamento de facto, e de direito.

Apesar da falta de clareza das conclusões de recurso da


conjugação das mesmas com as respectivas alegações consegue-
se apreender que, nas conclusões 1 a 10 a Recorrente limita-se a
relatar de forma genérica, e com vários juízos de valor, os factos
que conduziram ao despacho reclamado, sem que haja qualquer
impugnação da matéria de facto, e portanto, as mesmas
consubstanciam uma mera contextualização recursória, pelo que
nesta parte, nada há a conhecer.

Quanto à extensa conclusão 11, conjugando a mesma com as

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alegações de recurso, afere-se que a Recorrente invoca “atropelos


à lei por parte do Sr. Director Geral de Finanças de Lisboa” que
originou “mais prejuízo ainda para a ora Reclamante, para além do
que antes já lhe tinha causado com a falta de citação após a
penhora”, porque alegadamente não decidiu o que se peticionou,
insurgindo-se contra a sentença recorrida, assacando-lhe erro de
facto e de direito, ao ter mantido o despacho reclamado quando o
mesmo é ilegal porque trata da “anulação de venda” que não
requerida, e porque o órgão de execução fiscal não deu o
tratamento legal adequado à reclamação considerando a
morosidade em que assentou todo o procedimento.

Na conclusão 12 a Recorrente vem “informar e esclarecer” que ao


contrário do que é afirmado no despacho reclamado “corroborado
pela Mrtª Juíza” nunca foi citada ao abrigo do art. 239.º do CPPT.
Ou seja, a Recorrente insiste no fundamento que apresentou na
sua reclamação judicial em 1.ª instância, a nulidade da penhora
por falta de citação do cônjuge do executado.

Portanto, fazendo a síntese que necessariamente se impõe para


delimitação das questões a decidir no presente recurso, temos
então que importa aferir se a sentença recorrida enferma de erro
de julgamento de facto, e de direito uma vez que, na perspectiva
da Recorrente:

i) o despacho recorrido não decidiu o que se peticionou ao tratar


da “anulação de venda” não requerida;
ii) o órgão de execução não deu à reclamação o tratamento
adequado face à morosidade de todo o procedimento;
iii) a Reclamante não foi citada ao abrigo do art. 239.º do CPPT.

No entanto, adiante-se, desde já, não lhe assiste qualquer razão.

A sentença recorrida que tem a seguinte fundamentação:

“Invoca a Reclamante, em primeira linha, que o “Despacho proferido pelo


Exm° Senhor Director Geral de Finanças, Adjunto, não está em
conformidade com o requerido e peticionado pela Requerente” (cf. artigo
4.° da p. i.), a saber, a falta da citação prevista no artigo 239.° do CPPT,
preterição de formalidade legal essencial (legalmente qualificada como
nulidade insanável), posterior à penhora, sem a qual o processo executivo
não pode prosseguir os seus ulteriores termos.
Essa nulidade insanável foi arguida pela Reclamante no processo de
execução fiscal (letras Q e R do probatório), tendo dado origem à decisão
pelo Director de Finanças Adjunto, por delegação de competências, de que
ora se reclama, em cuja fundamentação se lê, recorde-se (cf. letra S do
probatório):

(…)

Tendo, por conseguinte, aqui, o autor da decisão reclamada apreciado


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e decidido a questão da falta da citação prevista no artigo 239.° do


CPPT, arguida pela Reclamante no processo de execução fiscal.

Outra questão é a de saber se a citação se mostrou regularmente


efectuada por obedecer aos requisitos legais, o que, aliás, não vem
invocado.

Sempre se dirá, contudo, que, como resulta do invocado, também pela


Reclamante, no processo n.° 1105/17.4BESNT, referido na letra K do
probatório, se a Reclamante teve conhecimento da existência do PEF e
não invocou logo a falta da citação prevista no artigo 239.° do CPPT, esta
nulidade ficou sanada, não podendo agora a mesma vir a ser invocada
como fundamento da anulação da venda.

Bem se compreendendo que, arguida a nulidade por falta de citação após a


realização da venda, o autor do despacho reclamado tenha enquadrado a
pretensão da Reclamante na alínea c) do n.° 1 do artigo 257.° do CPPT, de
modo que, teria um prazo de 15 dias para ser arguida.

Com efeito, nos termos do artigo 257.° do CPPT, as nulidades susceptíveis


de influenciar a venda, nos termos do artigo 195.°, aplicável ex vi artigo
838.° CPC, apenas podem ser arguidas no prazo de 15 dias após o seu
conhecimento.

De qualquer modo, verificando-se que o imóvel penhorado foi vendido em


30 de Dezembro de 2013 com a respectiva adjudicação já concluída (cf.
letra B do probatório), a falta da citação prevista no artigo 239.° nunca
poderia levar à anulação da venda realizada, da qual a Fazenda Publica
não foi exclusiva beneficiária, conforme estipula o n.° 6 do artigo 786.° do
CPC (cf. acórdão do TCA Sul de 12 de Julho de 2017, proferido no
processo n.° 1401/15.5BEALM, disponível em www.dgsi.pt).

Termos em que improcede, in totum, a presente reclamação, na qual não


se vislumbra um comportamento da Reclamante de molde a sustentar a
sua condenação como litigante de má-fé, nos termos do artigo 542.° do
CPC. A Reclamante mais não fez do que sustentar o entendimento jurídico
que tem sobre a falta da citação prevista no artigo 239.° do CPPT (arguida
após a realização da venda). O facto de não ver acolhida a sua tese não
permite concluir que deduziu reclamação conscientemente infundada.”

Ora, ao contrário do que insiste a Recorrente no presente recurso,


o despacho reclamado apreciou o fundamento invocado no
requerimento da Reclamante, ou seja, emitiu pronúnica expressa
sobre a invocada nulidade da citação por violação do art. 239.º do
CPPT, e isto, não obstante o despacho reclamado ter designado o
requerimento da reclamante de “incidente de anulação de venda”.

Na verdade, o que releva é que o órgão de execução conheceu do


fundamento que foi suscitado, decidiu materialmente sobre a
questão colocada no sentido da inexistência da nulidade de
citação.

Nesse mesmo sentido, e bem, se entendeu na sentença recorrida,


ao afirma-se que “o autor da decisão reclamada apreciado e decidido a
questão da falta da citação prevista no artigo 239.º do CPPT, arguida pela
Reclamante no processo de execução fiscal.”
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Por outras palavras, a sentença recorrida apreciou o fundamento


da reclamação judicial, entendendo que não se verifica o vício
invocado pela Reclamante, pois o órgão de execução fiscal
efectivamente conheceu da nulidade da citação prevista no art.
239.º do CPPT. Mais se entendeu, e sem que se possa fazer
qualquer reparo, que a questão de saber se a citação se mostrou
regularmente efectuada por obedecer aos requisitos legais não
vem invocado pela Reclamante. E, na verdade, da leitura da p.i.
assim é, não se invoca qualquer irregularidade na citação, mas
tão-somente, que não foi efectuada.

Não obstante, a Recorrente insiste, nesta sede recursiva, que se


verifica nulidade da citação prevista no art. 239.º do CPPT, porém,
sem invocar uma única razão de facto para sustentar o vício
invocado, sendo certo que no despacho reclamado enunciam-se
factos expressamente no sentido da sua verificação.

Com efeito, o órgão de execução fiscal apesar de assumir a


posição jurídica no sentido da intempestividade do requerimento
da Reclamante do “pedido de anulação de venda”, a verdade é
que, como já referimos, expressamente conheceu do mérito da
pretensão da Reclamante. No despacho, emite-se pronúncia
expressa no sentido de que a Reclamante foi regularmente citada
nos termos e para efeitos do art. 239.º do CPPT em 10/10/2013. E
mais, invocam-se os factos que sustentam essa conclusão,
designadamente de que se encontra assinado, pela própria
Reclamante, o aviso de recepção n.º RC…PT referente à carta
registada que lhe foi remetida para o seu domicílio fiscal e que a
cita nos termos do art. 239.º do CPPT.

Ora, surpreendentemente, quer na petição inicial de reclamação


judicial, quer no presente recurso, nada é invocado ou referido pela
Recorrente a este respeito, ou seja, não se insurge contra a
remessa daquela correspondência, nem contra o facto de se
encontrar aposta a sua assinatura no AR, limitando-se a dizer que
não foi citada.

Neste contexto, não se compreende que a Recorrente não avance


um único fundamento de facto para sustentar a sua pretensão de
direito, e ainda assim espere alcançar a anulação do despacho
reclamado. Ou seja, a Recorrente, limita-se a negar a citação
quando existem elementos que indicam exactamente o contrário,
ou seja, quando existe uma assinatura sua referente ao ofício que
a cita para os termos do art. 239.º do CPPT, e ao contrário do que
se esperaria nestas circunstâncias, na reclamação não impugna
qualquer um desses factos, e nem neste momento avança com
explicações para tal.

Assim sendo, nesta parte, também não se vislumbra qualquer erro


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de julgamento da decisão recorrida que manteve o despacho


reclamado, pois este conheceu da pretensão da Reclamante,
emitiu pronúncia sobre a nulidade invocada, e como vimos, com
sólidos fundamentos que não são minimamente colocados em
causa pela Recorrente, pelo que aquele despacho é efectivamente
para se manter na ordem jurídica.

Finalmente, no que diz respeito à invocada morosidade imprimida


no procedimento pelo órgão de execução fiscal, ainda que tal
conduta eventualmente possa ser censurável (pese embora não se
pode olvidar os sucessivos meios processuais apresentados no âmbito do
processo de execução fiscal, as sucessivas decisões jurisdicionais já
proferidas que indiciam um padrão que poderá ter sido considerado pelo
órgão de execução), a verdade é que não constitui fundamento
susceptível de afectar a validade do acto reclamado.

Pelo exposto, improcedente, in totum, as conclusões de recurso,


sendo de confirmar a sentença recorrida.

Em matéria de custas o artigo 527.º do CPC consagra o princípio


da causalidade, de acordo com o qual paga custas a parte que
lhes deu causa. Vencida na presente causa a Recorrente, esta deu
causa às custas do presente processo (n.º 2), e, portanto, deve ser
condenada nas respectivas custas (n.º 1, 1.ª parte).
****

Sumário (art. 663.º, n.º 7 do CPC)

Não se verifica a omissão do dever de decisão quando no


despacho reclamado se aprecia o fundamento invocado no
requerimento da Reclamante, nomeadamente, a nulidade da
citação por violação do art. 239.º do CPPT.

****

III. DECISÃO

Em face do exposto, acordam em conferência os juízes da Secção


do Contencioso Tributário deste Tribunal Central Administrativo
Sul, em negar provimento ao recurso e manter a sentença
recorrida.
****
Custas pela Recorrente.
D.n.
Lisboa, 23 de Abril de 2020.

Cristina Flora

Tânia Meireles da Cunha


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Anabela Russo

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