Você está na página 1de 9

TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/GAP PROCESSO Nº 30.668/16


ACÓRDÃO

R/E “EDL VI”. Naufrágio de empurrador, sem ocorrência de vítimas ou de


danos ao meio ambiente. Causa determinante não apurada com a devida
precisão. Arquivamento. Exculpar.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


Trata-se do acidente e fato da navegação envolvendo o R/E “EDL VI”,
propriedade de E. D. Lopes & Cia Ltda, quando, cerca de 01h do dia 16/03/2015,
encontrava-se navegando em comboio nas proximidades do Porto Muanense, margem
esquerda do rio Madeira, Humaitá, AM, e ao realizar uma operação de quebra de
comboio, veio a naufragar, sem vítimas e sem danos ao meio hídrico.
Dos depoimentos colhidos e documentos acostados extrai-se que o comboio
formado pelo Rebocador “EDL VI” e as balsas “EDL VXIII”, “EDL XXIX” e “EDL
XX”, partiu da cidade de Manaus, AM, com destino a Porto Velho, RO, no dia
06/03/2015 transportando óleo diesel e gasolina. Ao encontrar-se nas proximidades da
Ponta d’Água de Monesse, Ilha das Onças, Porto Muanense, Humaitá, AM, não
conseguiu vencer o rio, após tentativas mal sucedidas de transpor o local, o Comandante
do comboio, o Piloto Fluvial (PLF) Edmilson Maciel de Menezes, deu a ordem de
operação de quebra de comboio, à 01h da madrugada do dia 16/03/2015.
Para realizar a operação foi decidido desatrelar primeiramente uma balsa a
“EDL XXIX” contendo óleo diesel e gasolina, deixando-a amarrada junto à margem com
apenas um membro da tripulação o Marinheiro Fluvial de Máquinas Geise Silva de Sena,
seguindo viagem com as outras duas a “EDL XVIII” e a “EDL XX”. Vencida a subida do
rio, iniciaram a manobra para soltar e liberar o Rebocador, para retornar e buscar a “EDL
XXIX”, que ficara sozinha com um tripulante na margem do rio. No entanto, a operação
foi mal sucedida, pois a embarcação empurradora adernou para bombordo, no que o
comandante tentou manobrar e jogá-la para margem, a fim de evitar seu naufrágio, o que
não aconteceu pois a embarcação foi para o fundo do rio, ficando lá por três dias, quando
foi resgatada por outra embarcação de socorro, estando no momento a executar
normalmente suas atividades de navegação.
Durante o Inquérito foi ouvida uma testemunha e durante a Sindicância
1/9
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.668/2016........................................)
===============================================================
Interna da empresa Armadora foram ouvidas três testemunhas. Juntada a documentação
de praxe.
Edmilson Maciel de Menezes, Imediato, em seu depoimento declarou, em
resumo, que no momento do acidente encontrava-se no comando da embarcação; que
havia seis tripulantes na embarcação; que não havia carga no Rebocador, que o comboio
transportava óleo diesel e gasolina; que todas as balsas estavam peiadas e não houve
rupturas de cabos que as ligavam ao Empurrador; que acredita que como estavam não
havia como colocar riscos ao comboio, ou seja estavam seguras; que não houve
descolamento de cargas; que houve manobra de quebra de comboio; que esse tipo de
manobra era comum, e havia necessidade de fazê-la pois o comboio não estava
conseguindo subir o rio; que tinha visibilidade para fazer essa manobra mesmo sendo 1h
da madrugada; que a manobra feita separando uma balsa e a deixando outra amarrada na
margem, seguindo com outras duas; que amarrou as outras duas na margem e ao
desatracar o Rebocador para buscar a balsa que ficou na margem, esse começou a adernar
para bombordo, e ao perceber o movimento da embarcação jogou-a para a margem, na
tentativa de evitar o seu naufrágio, o que não ocorreu; que não houve rupturas de cabos, e
a manobra não foi mal articulada e arriscada; que as máquinas funcionavam
perfeitamente e que em nenhum momento houve falhas; que o rio apresentava forte
correnteza; que foi a forte correnteza que teria causado o naufrágio da embarcação; que
os tripulantes estavam aptos a realizar este tipo de manobra, e que já haviam feito essa
manobra; que houve adernamento da embarcação por bombordo, e tentou alcançar a
margem para evitar o naufrágio; que nenhum tripulante caiu na água; e o depoente foi o
último a abandonar a embarcação; que a embarcação foi resgatada e já se encontra
navegando.
Edmilson Maciel de Menezes foi inquirido no dia seis de outubro de 2015
nas dependências da Capitânia Fluvial da Amazônia Ocidental (CFAOC).
Foram realizadas tentativas de inquirir via carta precatória demais membros
da tripulação do Rebocador: Neivaldo Rosas Vieira, residente no Beco R. Monteiro, nº 25
– Distrito Industrial – Manaus, Geise Silva de Sena, residente na Rua Vivaldo das Neves,
nº 18, apto 11 – Santo Antonio – Manaus, Evandro Alencar Mota, residente na Rua
Tiradentes, nº 237 – Distrito Industrial – Manaus e Mario Julio de Castro, residente na
Av. Senador Raimundo Parente, nº 215 – Alvorada – Manaus, mas não foram localizados
nos endereços acima mencionados que foram fornecidos pela empresa proprietária da
embarcação, no entanto resume-se abaixo as declarações desse senhores em sindicância

2/9
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.668/2016........................................)
===============================================================
interna realizada pela E. D. LOPES & CIA LTDA em suas dependências no dia vinte e
sete de abril de dois mil e quinze.
Neivaldo Rosas Vieira declara, maquinista da embarcação que não soube
quais as razões que levaram o comandante decidir sobre a quebra do comboio, naquela
madrugada; que essa quebra normalmente é feita pela manhã; que o cabo de sustentação
da balsa “EDL XXIX” quebrou por duas vezes; que a embarcação afundou por conta do
combustível de consumo que estava na embarcação, afundando devido ao seu peso, e que
não havia anormalidade na viagem.
Geise Silva de Sena, maquinista da embarcação, declarou que não sabe qual o
motivo que levou o comandante a determinar a quebra de comboio a uma hora da manhã,
que estava dormindo que foi chamado pelo marinheiro Evandro, que o comandante
estava o chamando para realizar a operação de quebra de comboio, que os cabos que
amarravam a embarcação as balsas, se romperam e que não o que causou o naufrágio da
embarcação, no entanto declara ter visto um pouco de água nas bóias, mas não o
suficiente para ocasionar o naufrágio.
Evandro Alencar Mota, Marinheiro Fluvial de Convés, declarou que estando
em seu quarto de hora não sabe qual a razão que levou o comandante a realizar a
operação de quebra de comboio a 01h da manhã, que acabou levando a pique o
Rebocador; que tentou passar duas vezes pela ponta d’agua pilotando a embarcação, mas
não conseguiu e assim por não terem conseguido o comandante decidiu quebrar o
comboio, que amarraram uma balsa que ficou com um tripulante e seguiram com outras
duas, que ao soltarem os cabos da balsa, a embarcação começou a afundar para o popa,
que tomaram a decisão de levar a embarcação para a beira do rio, afundando aos poucos,
que estava tranquila a viagem.
Mario Julio de Castro Guimarães, Contramestre Fluvial, declarou que não
sabe informar qual o motivo de quebra de comboio ordenado pelo comandante, que a
corredeira estava muito forte e não havia como passar com as três balsas, que ainda
sugeriu que essa operação fosse realizada pela manhã, pois seria melhor para manobrar e
visualizar a operação, mas o comandante ordenou que fosse feita naquele horário.
Laudo de Exame Pericial conclui que não foi possível apontar a causa
determinante do naufrágio do Rebocador “EDL VI”.
No relatório, o Encarregado do Inquérito após resumir o depoimento na CP
de uma testemunha, e de outras três testemunhas prestadas na Sindicância Interna da
empresa Armadora, descrever a sequência dos acontecimentos e analisar os dados obtidos

3/9
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.668/2016........................................)
===============================================================
do Laudo Pericial e dos depoimentos, concluiu que o fator operacional contribuiu, eis que
o comandante ordenou a execução de uma operação de quebra de comboio durante a
madrugada, sem medir os riscos à sua tripulação.
Apontou como possível responsável direto pelo acidente de navegação, em
tese o Comandante PLF Edmilson Maciel de Menezes, Piloto Fluvial, por ter colocado a
embarcação e sua tripulação sob seu comando aos inevitáveis riscos, ordenando a
execução de uma manobra de riscos em horário inadequado sem estar a embarcação em
iminente perigo, enquadrando-se no Art. 24 da RLESTA, pois descumpriu o previsto no
art. 8º da LESTA e seus incisos:
II - “cumprir e fazer cumprir a bordo, os procedimentos estabelecidos para a
salvaguarda da vida humana, para a preservação do meio ambiente e para a segurança da
navegação, da própria embarcação e da carga”;
V, item b) – “acidentes e fatos da navegação ocorridos com sua embarcação”
Notificação formalizada, o indiciado apresentou defesa prévia.
Em resumo, o Comandante Edmilson descreveu que não conseguiu
ultrapassar o local conhecido como Ponta d’Água de Monesse com as três balsas e o
obrigou a seguir com duas balsas, e ao retornar para pegar a terceira balsa o empurrador
começou a adernar, tentou retornar para a balsa, mas era iminente o naufrágio, decidiu ir
para a margem do rio, e continuou adernando para bombordo apoiando-se junto à balsa
amarrada na margem, naufragando parcialmente com o convés superior no fundo. Que a
terceira balsa que estava aguardando para passar a Ponta d’Água, partiu o cabo de
amarração, mas foi um outro rebocador da ATEM que passava no local rebocou a balsa
até o local onde estavam as duas primeiras balsas amarradas na margem.
A D. Procuradoria ofereceu representação contra Edmilson Maciel de
Menezes, Comandante do Rebocador “EDL VI”, com fulcro no art. 14, alínea a
(naufrágio), da Lei n° 2.180/54, sustentando, em resumo, após analisar os autos e as
provas coligidas nos autos, verifica-se que o Representado foi o responsável pelo
naufrágio em exame, pois não observou as normas e procedimentos estabelecidos para
uma navegação segura ao determinar que fosse realizada uma operação de quebra de
comboio em horário de pouca visibilidade e com forte correnteza, sem que houvesse
urgência para execução dessa manobra. Foi, portanto, imprudente ao colocar a
embarcação e a tripulação em risco que acabou se materializando com o naufrágio
relatado.
Recebida a representação e citado, o representado Edmilson Maciel de

4/9
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.668/2016........................................)
===============================================================
Menezes, que não possui antecedentes no Tribunal Marítimo, foi regularmente defendido
por I. DPU. Requereu a gratuidade de justiça.
Edmilson Maciel de Menezes alegou em sua defesa, por I. DPU, em resumo,
em sede preliminar a inépcia da acusação uma vez que a descrição do fato não traz uma
compreensível descrição no tocante à ação delituosa que teria sido praticada pelo
paciente e a inconsistência dos laudos periciais e sua consequente nulidade. O laudo
pericial ao agir e concluir de forma contrária a tudo o que foi constatado, o perito
quebrou a boa-fé objetiva e torna o laudo nulo, e ineficaz para comprovação de qualquer
responsabilidade do assistido, devendo o laudo ser retirado dos autos, e reconhecida a
nulidade da representação já que o único meio de prova carreado aos autos são os laudos
periciais contraditórios.
No mérito, o Representado enfatizou que o Representado não praticou, muito
menos concorreu par o naufrágio da embarcação, já que toda a ação não só do assistido
como de todos os tripulantes, foi em sua integralidade com o intuito de evitar danos à
embarcação.
Que não foi feita nenhuma perícia na embarcação para averiguar se estava em
bom funcionamento, apenas presumiu-se que a embarcação estava funcionando bem, e
que só leva a crer que o mesmo poder de presunção foi usado para entender que toda ação
humana no presente caso foi falha.
Que os peritos concluíram que não seria possível apurar com a devida
precisão qual foi o fator determinante para o naufrágio, mas mesmo assim, resolveu-se
imputar o acidente ao assistido.
Que a representação se fundamenta única e exclusivamente em um Laudo
Pericial inconcluso ou ainda contraditório, já que primeiro conclui que não houve
influência do clima e logo em seguida, que não tem como assegurar a real causa do
naufrágio.
Juntou o julgado do TJ-RS, fls. 285/286, da qual se extrai que “Tem-se
afirmando que, para a prolação de um decreto penal condenatório, é indispensável
prova robusta que dê certeza da existência do delito e seu autor. A livre convicção do
Julgador deve sempre se apoiar em dados objetivos indiscutíveis. /caso contrário,
transformar o princípio do livre convencimento em arbítrio.”.
Ainda com relação ao Laudo Pericial, o Perito apontou para o Comandante
definindo que ele teria agido com imprudência ao dar o comando de quebra de comboio,
por conta do “horário inseguro” e ainda a pouca visibilidade do horário noturno.

5/9
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.668/2016........................................)
===============================================================
Contudo, às fls. 150, o Perito descreveu sobre a visibilidade como “boas, com corrente
típica do Rio Madeira”, e às fls. 151 o Perito responde que não houve deslocamento ou
carregamento impróprio do comboio e que a tripulação era bem treinada, e contrária ao
esperado, o Perito concluiu que apesar de não poder precisar a causa determinante seria
do Comandante.
Neste ponto, destacou o princípio do “venire contra factum proprium” que
consiste justamente na vedação ao comportamento contraditório.
Quanto à manobra esta é rotineira, de conhecimento da Marinha e ainda foi
realizada somente pela urgência e pressão da empresa dona da embarcação em entregar o
material transportado.
Ao efetuar a manobra, o Comandante em exercício fez o que estava ao seu
alcance e ainda a manobra de quebra de comboio foi realizada apenas por já terem sido
realizadas duas tentativas de romper o local Ponta d’Água de Monesse sem sucesso.
Ademais destacou que a manobra era necessária, e o Comandante usou de sua
experiência para visualizar o risco, a tripulação era competente e experiente, não houve
nenhum tipo de dano, seja de cunho pessoal, ambiental ou ainda patrimonial, o que por si
só torna qualquer tipo de sanção desproporcional, visto a mínima ofensividade da
conduta.
É pois certo que, na esfera administrativa, o Representado deve ser absolvido
por falta de provas, atendendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade em
face de não haver lastro probatório suficiente para ensejar a responsabilização.
Na instrução a D. PEM louvou-se nas provas dos autos.
Ao manifestar-se sobre a defesa do Representado em sua peça de bloqueio
quanto a questão preliminar suscitada de inépcia da Representação, o que violaria os
princípios constitucionais da ampla defesa e contraditório. Após detida análise, requereu,
nos termos do artigo 66, alínea a, da Lei nº 2.180/54, por analogia, rechaçar de imediato a
arguição preliminar.
O Representado reiterou o pedido de produção de prova pericial,
testemunhal, bem como documental suplementar, nos termos da manifestação de fls. 288.
Em despacho interlocutório de fl. 301 foi indeferida pelo Juiz-Relator a prova
pericial requerida. Deferida a prova testemunhal, para oitivas de duas testemunhas de fl.
304, Maria Sueli Torres de Oliveira e Elson Cavalcante de Lacerda. Às fls. 321/322
consta o termo de inquirição de Maria Sueli Torres de Oliveira e às fls. 326/327 o de
Elson Cavalcante de Lacerda.

6/9
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.668/2016........................................)
===============================================================
Maria Sueli Torres de Oliveira em sua inquirição destacou que presenciou o
acidente e vinham viajando subindo, o comboio foi quebrado e tiveram que passar com as
duas balsas deixando uma para trás, ao retornar para pegar a que ficou, aconteceu que o
rebocador começou a entrar água nas boias e praça de máquina, o Comandante voltou
para pegara motobomba que estava em coma da balsa, e começou a encher rapidamente o
rebocador e teve que colocá-lo em cima das balsas e não deu tempo nem de pegar a
motobomba para fazer o esgotamento. Se não fosse a experiência do Comandante teria
afundado o rebocador. Que a visibilidade era boa e as condições climáticas não
influenciaram para o evento. Que o rebocador foi amarrado na balsa às margens do rio e
evitaram de que fosse totalmente para o fundo.
Elson Cavalcante de Lacerda em sua inquirição nada informou.
Em alegações finais a D. PEM reiterou os termos de sua exordial e a I. DPU
da mesma forma reiterou os termos de sua defesa.
PRELIMINAR
A preliminar de violação ao contraditório e ampla defesa e inépcia da
acusação, suscitada pelo representado Edmilson Maciel de Menezes deve ser rejeitada,
tendo em vista que no decorrer do Processo Administrativo que se inicia com a sua
autuação no Tribunal Marítimo, ao litigante é assegurado na sua defesa técnica e na fase
processual de instrução o pleno direito aos princípios do contraditório e da ampla defesa,
garantindo o disposto no art. 5°, inciso LV da CF, não havendo o que se falar em
cerceamento de defesa e nulidade do feito, em face de qualquer violação àqueles
princípios pois sequer foi aberta a fase instrutória. Destaca-se ainda que durante a fase
procedimental as informações obtidas do Inquérito Administrativo constituem-se em peça
investigatória e tem o condão de serem colhidas pelo representante local da Autoridade
Marítima para subsidiar a D. PEM à propositura de sua peça inicial. Ademais por ser o
Inquérito o primeiro meio de apuração dos fatos, o seu Encarregado ainda não possui
indiciados e convoca as pessoas envolvidas no fato ou acidente da navegação que possam
prestar testemunho para o seu esclarecimento.
Decide-se.
De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que a natureza e
extensão do acidente da navegação sob análise, tipificado no art. 14, alínea a, da Lei nº
2.180/54, ficaram caracterizadas como naufrágio de empurrador, sem ocorrência de
vítimas ou de danos ao meio ambiente.
A causa determinante não foi apurada com a devida precisão.

7/9
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.668/2016........................................)
===============================================================
No que se refere à acusação da D. PEM que sopesa contra o Representado é
de que ele foi o responsável pelo naufrágio em exame, pois não observou as normas e
procedimentos estabelecidos para uma navegação segura ao determinar que fosse
realizada uma operação de quebra de comboio em horário de pouca visibilidade e com
forte correnteza, sem que houvesse urgência para execução desta manobra, e que ao
colocar a embarcação e a tripulação em risco que acabou se materializando com o
naufrágio relatado.
Analisando-se os autos verifica-se que o Comandante decidiu realizar uma
manobra de quebra de comboio, com o intuito de ultrapassar o local conhecido como
Ponta d’Água de Monesse, eis que já havia tentado por suas vezes e não conseguiu o seu
intento.
Inicialmente fez a manobra com duas balsas, deixando a terceira amarrada
aguardando o retorno do rebocador. Conseguiu o seu intento mas inesperadamente ao se
soltar das duas balsas, começou a fazer água e começou a adernar para bombordo. Ainda
tentou uma manobra de retorno para as duas balsas que estavam amarradas, mas o
naufrágio era iminente tentou se dirigir à margem e adernou junto à balsa e naufragou até
o nível do convés superior.
Do que se vislumbra dos autos a causa determinante do naufrágio não foi
apurado com a devida precisão. A correnteza do Rio Madeira é por todos conhecida e a
visibilidade, segundo o depoimento do Comandante era suficiente para executar a
manobra, tanto assim que conseguiu subir o rio com duas balsas realizando a amarração
com segurança após ultrapassar o local conhecido Ponta d’Água de Monesse. Mas ao se
soltar das duas balsas para ir buscar a terceira balsa, o empurrador começou a fazer água
e este fato não foi devidamente apurado pelos Peritos, até porque o empurrador ficou no
fundo e só foi resgatado 3 dias depois, e não se tem notícia de que tenha sido periciado
após usa reflutuação.
Observa-se, portanto, a ausência de nexo de causalidade entre a conduta do
Comandante em navegar mesmo durante a noite e em condições climáticas normais e a
água aberta que provocou o naufrágio do empurrador. O Comandante fez a manobra com
duas balsas com sucesso e inesperadamente o empurrador, ao se desatrelar das balsas, por
causa desconhecida e não devidamente apurada, começou a fazer água que o levou ao
naufrágio junto à margem do Rio Madeira. Deve portanto, o PLF Edmilson Maciel de
Menezes.
Pelo exposto, deve-se considerar improcedente a fundamentação da PEM,

8/9
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.668/2016........................................)
===============================================================
exculpando o PLF Edmilson Maciel de Menezes.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente e fato da navegação: naufrágio de empurrador, sem
ocorrência de vítimas ou de danos ao meio ambiente; b) quanto à causa determinante: não
apurada com a devida precisão; e c) decisão: rejeitar a preliminar e julgar o acidente da
navegação previsto no art. 14, alínea a, da Lei n° 2.180/54, como de origem
indeterminada, exculpando o PLF Edmilson Maciel de Menezes, mandando arquivar os
autos do Processo.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 15 de agosto de 2019.

GERALDO DE ALMEIDA PADILHA


Juiz-Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.

Rio de Janeiro, RJ, em 24 de outubro de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

9/9
Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora
SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2019.11.17 16:34:29 -03'00'

Você também pode gostar