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(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.668/2016........................................)
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interna realizada pela E. D. LOPES & CIA LTDA em suas dependências no dia vinte e
sete de abril de dois mil e quinze.
Neivaldo Rosas Vieira declara, maquinista da embarcação que não soube
quais as razões que levaram o comandante decidir sobre a quebra do comboio, naquela
madrugada; que essa quebra normalmente é feita pela manhã; que o cabo de sustentação
da balsa “EDL XXIX” quebrou por duas vezes; que a embarcação afundou por conta do
combustível de consumo que estava na embarcação, afundando devido ao seu peso, e que
não havia anormalidade na viagem.
Geise Silva de Sena, maquinista da embarcação, declarou que não sabe qual o
motivo que levou o comandante a determinar a quebra de comboio a uma hora da manhã,
que estava dormindo que foi chamado pelo marinheiro Evandro, que o comandante
estava o chamando para realizar a operação de quebra de comboio, que os cabos que
amarravam a embarcação as balsas, se romperam e que não o que causou o naufrágio da
embarcação, no entanto declara ter visto um pouco de água nas bóias, mas não o
suficiente para ocasionar o naufrágio.
Evandro Alencar Mota, Marinheiro Fluvial de Convés, declarou que estando
em seu quarto de hora não sabe qual a razão que levou o comandante a realizar a
operação de quebra de comboio a 01h da manhã, que acabou levando a pique o
Rebocador; que tentou passar duas vezes pela ponta d’agua pilotando a embarcação, mas
não conseguiu e assim por não terem conseguido o comandante decidiu quebrar o
comboio, que amarraram uma balsa que ficou com um tripulante e seguiram com outras
duas, que ao soltarem os cabos da balsa, a embarcação começou a afundar para o popa,
que tomaram a decisão de levar a embarcação para a beira do rio, afundando aos poucos,
que estava tranquila a viagem.
Mario Julio de Castro Guimarães, Contramestre Fluvial, declarou que não
sabe informar qual o motivo de quebra de comboio ordenado pelo comandante, que a
corredeira estava muito forte e não havia como passar com as três balsas, que ainda
sugeriu que essa operação fosse realizada pela manhã, pois seria melhor para manobrar e
visualizar a operação, mas o comandante ordenou que fosse feita naquele horário.
Laudo de Exame Pericial conclui que não foi possível apontar a causa
determinante do naufrágio do Rebocador “EDL VI”.
No relatório, o Encarregado do Inquérito após resumir o depoimento na CP
de uma testemunha, e de outras três testemunhas prestadas na Sindicância Interna da
empresa Armadora, descrever a sequência dos acontecimentos e analisar os dados obtidos
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do Laudo Pericial e dos depoimentos, concluiu que o fator operacional contribuiu, eis que
o comandante ordenou a execução de uma operação de quebra de comboio durante a
madrugada, sem medir os riscos à sua tripulação.
Apontou como possível responsável direto pelo acidente de navegação, em
tese o Comandante PLF Edmilson Maciel de Menezes, Piloto Fluvial, por ter colocado a
embarcação e sua tripulação sob seu comando aos inevitáveis riscos, ordenando a
execução de uma manobra de riscos em horário inadequado sem estar a embarcação em
iminente perigo, enquadrando-se no Art. 24 da RLESTA, pois descumpriu o previsto no
art. 8º da LESTA e seus incisos:
II - “cumprir e fazer cumprir a bordo, os procedimentos estabelecidos para a
salvaguarda da vida humana, para a preservação do meio ambiente e para a segurança da
navegação, da própria embarcação e da carga”;
V, item b) – “acidentes e fatos da navegação ocorridos com sua embarcação”
Notificação formalizada, o indiciado apresentou defesa prévia.
Em resumo, o Comandante Edmilson descreveu que não conseguiu
ultrapassar o local conhecido como Ponta d’Água de Monesse com as três balsas e o
obrigou a seguir com duas balsas, e ao retornar para pegar a terceira balsa o empurrador
começou a adernar, tentou retornar para a balsa, mas era iminente o naufrágio, decidiu ir
para a margem do rio, e continuou adernando para bombordo apoiando-se junto à balsa
amarrada na margem, naufragando parcialmente com o convés superior no fundo. Que a
terceira balsa que estava aguardando para passar a Ponta d’Água, partiu o cabo de
amarração, mas foi um outro rebocador da ATEM que passava no local rebocou a balsa
até o local onde estavam as duas primeiras balsas amarradas na margem.
A D. Procuradoria ofereceu representação contra Edmilson Maciel de
Menezes, Comandante do Rebocador “EDL VI”, com fulcro no art. 14, alínea a
(naufrágio), da Lei n° 2.180/54, sustentando, em resumo, após analisar os autos e as
provas coligidas nos autos, verifica-se que o Representado foi o responsável pelo
naufrágio em exame, pois não observou as normas e procedimentos estabelecidos para
uma navegação segura ao determinar que fosse realizada uma operação de quebra de
comboio em horário de pouca visibilidade e com forte correnteza, sem que houvesse
urgência para execução dessa manobra. Foi, portanto, imprudente ao colocar a
embarcação e a tripulação em risco que acabou se materializando com o naufrágio
relatado.
Recebida a representação e citado, o representado Edmilson Maciel de
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Menezes, que não possui antecedentes no Tribunal Marítimo, foi regularmente defendido
por I. DPU. Requereu a gratuidade de justiça.
Edmilson Maciel de Menezes alegou em sua defesa, por I. DPU, em resumo,
em sede preliminar a inépcia da acusação uma vez que a descrição do fato não traz uma
compreensível descrição no tocante à ação delituosa que teria sido praticada pelo
paciente e a inconsistência dos laudos periciais e sua consequente nulidade. O laudo
pericial ao agir e concluir de forma contrária a tudo o que foi constatado, o perito
quebrou a boa-fé objetiva e torna o laudo nulo, e ineficaz para comprovação de qualquer
responsabilidade do assistido, devendo o laudo ser retirado dos autos, e reconhecida a
nulidade da representação já que o único meio de prova carreado aos autos são os laudos
periciais contraditórios.
No mérito, o Representado enfatizou que o Representado não praticou, muito
menos concorreu par o naufrágio da embarcação, já que toda a ação não só do assistido
como de todos os tripulantes, foi em sua integralidade com o intuito de evitar danos à
embarcação.
Que não foi feita nenhuma perícia na embarcação para averiguar se estava em
bom funcionamento, apenas presumiu-se que a embarcação estava funcionando bem, e
que só leva a crer que o mesmo poder de presunção foi usado para entender que toda ação
humana no presente caso foi falha.
Que os peritos concluíram que não seria possível apurar com a devida
precisão qual foi o fator determinante para o naufrágio, mas mesmo assim, resolveu-se
imputar o acidente ao assistido.
Que a representação se fundamenta única e exclusivamente em um Laudo
Pericial inconcluso ou ainda contraditório, já que primeiro conclui que não houve
influência do clima e logo em seguida, que não tem como assegurar a real causa do
naufrágio.
Juntou o julgado do TJ-RS, fls. 285/286, da qual se extrai que “Tem-se
afirmando que, para a prolação de um decreto penal condenatório, é indispensável
prova robusta que dê certeza da existência do delito e seu autor. A livre convicção do
Julgador deve sempre se apoiar em dados objetivos indiscutíveis. /caso contrário,
transformar o princípio do livre convencimento em arbítrio.”.
Ainda com relação ao Laudo Pericial, o Perito apontou para o Comandante
definindo que ele teria agido com imprudência ao dar o comando de quebra de comboio,
por conta do “horário inseguro” e ainda a pouca visibilidade do horário noturno.
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Contudo, às fls. 150, o Perito descreveu sobre a visibilidade como “boas, com corrente
típica do Rio Madeira”, e às fls. 151 o Perito responde que não houve deslocamento ou
carregamento impróprio do comboio e que a tripulação era bem treinada, e contrária ao
esperado, o Perito concluiu que apesar de não poder precisar a causa determinante seria
do Comandante.
Neste ponto, destacou o princípio do “venire contra factum proprium” que
consiste justamente na vedação ao comportamento contraditório.
Quanto à manobra esta é rotineira, de conhecimento da Marinha e ainda foi
realizada somente pela urgência e pressão da empresa dona da embarcação em entregar o
material transportado.
Ao efetuar a manobra, o Comandante em exercício fez o que estava ao seu
alcance e ainda a manobra de quebra de comboio foi realizada apenas por já terem sido
realizadas duas tentativas de romper o local Ponta d’Água de Monesse sem sucesso.
Ademais destacou que a manobra era necessária, e o Comandante usou de sua
experiência para visualizar o risco, a tripulação era competente e experiente, não houve
nenhum tipo de dano, seja de cunho pessoal, ambiental ou ainda patrimonial, o que por si
só torna qualquer tipo de sanção desproporcional, visto a mínima ofensividade da
conduta.
É pois certo que, na esfera administrativa, o Representado deve ser absolvido
por falta de provas, atendendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade em
face de não haver lastro probatório suficiente para ensejar a responsabilização.
Na instrução a D. PEM louvou-se nas provas dos autos.
Ao manifestar-se sobre a defesa do Representado em sua peça de bloqueio
quanto a questão preliminar suscitada de inépcia da Representação, o que violaria os
princípios constitucionais da ampla defesa e contraditório. Após detida análise, requereu,
nos termos do artigo 66, alínea a, da Lei nº 2.180/54, por analogia, rechaçar de imediato a
arguição preliminar.
O Representado reiterou o pedido de produção de prova pericial,
testemunhal, bem como documental suplementar, nos termos da manifestação de fls. 288.
Em despacho interlocutório de fl. 301 foi indeferida pelo Juiz-Relator a prova
pericial requerida. Deferida a prova testemunhal, para oitivas de duas testemunhas de fl.
304, Maria Sueli Torres de Oliveira e Elson Cavalcante de Lacerda. Às fls. 321/322
consta o termo de inquirição de Maria Sueli Torres de Oliveira e às fls. 326/327 o de
Elson Cavalcante de Lacerda.
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Maria Sueli Torres de Oliveira em sua inquirição destacou que presenciou o
acidente e vinham viajando subindo, o comboio foi quebrado e tiveram que passar com as
duas balsas deixando uma para trás, ao retornar para pegar a que ficou, aconteceu que o
rebocador começou a entrar água nas boias e praça de máquina, o Comandante voltou
para pegara motobomba que estava em coma da balsa, e começou a encher rapidamente o
rebocador e teve que colocá-lo em cima das balsas e não deu tempo nem de pegar a
motobomba para fazer o esgotamento. Se não fosse a experiência do Comandante teria
afundado o rebocador. Que a visibilidade era boa e as condições climáticas não
influenciaram para o evento. Que o rebocador foi amarrado na balsa às margens do rio e
evitaram de que fosse totalmente para o fundo.
Elson Cavalcante de Lacerda em sua inquirição nada informou.
Em alegações finais a D. PEM reiterou os termos de sua exordial e a I. DPU
da mesma forma reiterou os termos de sua defesa.
PRELIMINAR
A preliminar de violação ao contraditório e ampla defesa e inépcia da
acusação, suscitada pelo representado Edmilson Maciel de Menezes deve ser rejeitada,
tendo em vista que no decorrer do Processo Administrativo que se inicia com a sua
autuação no Tribunal Marítimo, ao litigante é assegurado na sua defesa técnica e na fase
processual de instrução o pleno direito aos princípios do contraditório e da ampla defesa,
garantindo o disposto no art. 5°, inciso LV da CF, não havendo o que se falar em
cerceamento de defesa e nulidade do feito, em face de qualquer violação àqueles
princípios pois sequer foi aberta a fase instrutória. Destaca-se ainda que durante a fase
procedimental as informações obtidas do Inquérito Administrativo constituem-se em peça
investigatória e tem o condão de serem colhidas pelo representante local da Autoridade
Marítima para subsidiar a D. PEM à propositura de sua peça inicial. Ademais por ser o
Inquérito o primeiro meio de apuração dos fatos, o seu Encarregado ainda não possui
indiciados e convoca as pessoas envolvidas no fato ou acidente da navegação que possam
prestar testemunho para o seu esclarecimento.
Decide-se.
De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que a natureza e
extensão do acidente da navegação sob análise, tipificado no art. 14, alínea a, da Lei nº
2.180/54, ficaram caracterizadas como naufrágio de empurrador, sem ocorrência de
vítimas ou de danos ao meio ambiente.
A causa determinante não foi apurada com a devida precisão.
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No que se refere à acusação da D. PEM que sopesa contra o Representado é
de que ele foi o responsável pelo naufrágio em exame, pois não observou as normas e
procedimentos estabelecidos para uma navegação segura ao determinar que fosse
realizada uma operação de quebra de comboio em horário de pouca visibilidade e com
forte correnteza, sem que houvesse urgência para execução desta manobra, e que ao
colocar a embarcação e a tripulação em risco que acabou se materializando com o
naufrágio relatado.
Analisando-se os autos verifica-se que o Comandante decidiu realizar uma
manobra de quebra de comboio, com o intuito de ultrapassar o local conhecido como
Ponta d’Água de Monesse, eis que já havia tentado por suas vezes e não conseguiu o seu
intento.
Inicialmente fez a manobra com duas balsas, deixando a terceira amarrada
aguardando o retorno do rebocador. Conseguiu o seu intento mas inesperadamente ao se
soltar das duas balsas, começou a fazer água e começou a adernar para bombordo. Ainda
tentou uma manobra de retorno para as duas balsas que estavam amarradas, mas o
naufrágio era iminente tentou se dirigir à margem e adernou junto à balsa e naufragou até
o nível do convés superior.
Do que se vislumbra dos autos a causa determinante do naufrágio não foi
apurado com a devida precisão. A correnteza do Rio Madeira é por todos conhecida e a
visibilidade, segundo o depoimento do Comandante era suficiente para executar a
manobra, tanto assim que conseguiu subir o rio com duas balsas realizando a amarração
com segurança após ultrapassar o local conhecido Ponta d’Água de Monesse. Mas ao se
soltar das duas balsas para ir buscar a terceira balsa, o empurrador começou a fazer água
e este fato não foi devidamente apurado pelos Peritos, até porque o empurrador ficou no
fundo e só foi resgatado 3 dias depois, e não se tem notícia de que tenha sido periciado
após usa reflutuação.
Observa-se, portanto, a ausência de nexo de causalidade entre a conduta do
Comandante em navegar mesmo durante a noite e em condições climáticas normais e a
água aberta que provocou o naufrágio do empurrador. O Comandante fez a manobra com
duas balsas com sucesso e inesperadamente o empurrador, ao se desatrelar das balsas, por
causa desconhecida e não devidamente apurada, começou a fazer água que o levou ao
naufrágio junto à margem do Rio Madeira. Deve portanto, o PLF Edmilson Maciel de
Menezes.
Pelo exposto, deve-se considerar improcedente a fundamentação da PEM,
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exculpando o PLF Edmilson Maciel de Menezes.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente e fato da navegação: naufrágio de empurrador, sem
ocorrência de vítimas ou de danos ao meio ambiente; b) quanto à causa determinante: não
apurada com a devida precisão; e c) decisão: rejeitar a preliminar e julgar o acidente da
navegação previsto no art. 14, alínea a, da Lei n° 2.180/54, como de origem
indeterminada, exculpando o PLF Edmilson Maciel de Menezes, mandando arquivar os
autos do Processo.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 15 de agosto de 2019.
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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora
SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2019.11.17 16:34:29 -03'00'