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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MDG PROCESSO Nº 29.424/15


ACÓRDÃO

N/M “ASTRO GAROUPA” e N/P “LUIZ REBELO I”. abalroação. Erro de


manobra e de vigilância. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


No dia 02 de agosto de 2014, cerca das 05h30min, na baía de Guanabara, Rio
de Janeiro - RJ, ocorreu uma abalroação envolvendo o N/M “ASTRO GAROUPA” e o
petroleiro “LUIZ REBELO I” com danos materiais.
No inquérito, realizado pela Capitania dos Portos do Rio de Janeiro, foram
ouvidas 4 testemunhas, realizado laudo pericial e juntada a documentação de praxe.
Valdecir Ribeiro da Silva (fl. 40), declarou que exerce a função de
Comandante na embarcação “ASTRO GAROUPA” há oito anos; que estava fundeada na
área 6 e suspendeu o ferro por volta das 05h15min estava indo em direção à Bacia de
Santos e se encontrava ainda na área de fundeio no momento do abalroamento e estava
indo em direção ao vão central da ponte; que encontrava-se no passadiço na parte de
vante no momento do abalroamento; que só viu no momento em que aconteceu o
abalroamento e que no momento que avistou a embarcação não havia mais tempo para
nenhuma manobra; que nesse momento falou ao Leonaldo (Mestre de Cabotagem) que
estava junto no passadiço para que o mesmo guinasse para bombordo mas não deu tempo
pois o abalroamento já tinha acontecido; que no momento se encontrava no passadiço o
depoente e o Leonaldo pois os outros marinheiros estavam preparando o ferro para
viagem; que as condições do mar eram boas e favoráveis; que levantou o ferro e estava
navegando entre as outras embarcações fundeadas na área 6 e acabando de sair dessa área
surgiu esta embarcação e sem ter tempo hábil de manobrar para evitar a colisão; que
estava com os equipamentos de navegação ligados o radar na escala 0.5 e os rádios VHF
também e os equipamentos de GMDSS e que o anticolisão não estava ligado devido
ainda estar na área de fundeio; que no momento que antecedeu o abalroamento não ouviu
sinal sonoro ou viu sinal luminoso da embarcação “LUIZ REBELO I”; que possui luzes
de navegação e estavam funcionando normalmente e seu apito estava funcionando; que
teve avaria no costado de boreste de mais de 3 metros de extensão danificando o cabeço e
o tanque de óleo diesel; que é questionável o fato de quem deveria manobrar para evitar o
abalroamento pois este fato aconteceu dentro da área de manobra e fundeio, não podendo
ser aplicada a regra do RIPEAM para evitar o abalroamento; que na sua opinião o

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responsável pelo abalroamento foi o navio “LUIZ REBELO I” pois segundo relato do seu
Comandante ele já tinha visualizado a minha embarcação a mais tempo podendo
manobrar e assim evitar o abalroamento; que não houve acidente pessoal; que não houve
vazamento de óleo combustível; que a posição que a embarcação “ASTRO GAROUPA”
se encontrava em relação a que abalroou no momento do acidente é a posição de acordo
com o croqui (fl. 43); que poderia ser feito para evitar o abalroamento era ter maior
atenção de ambas as partes na vigilância da navegação na área de fundeio.
Joel Moura dos Santos (fl. 54), declarou que exerce a função de Comandante
da embarcação “LUIZ REBELO I” há 3 meses; que estavam navegando do TECONT
rumo ao estaleiro da RENAVE para atracação no cais de sal e navegava há
aproximadamente uma hora e vinte minutos; que estava no passadiço junto do Imediato,
Sr. Joaquim Ferraz; que viu a embarcação “ASTRO GAROUPA” antes do abalroamento;
que a visibilidade era boa e mar tranquilo; que navegava rumo ao estaleiro, com
velocidade aproximada de 2 nós, quando avistaram a embarcação “ASTRO GAROUPA”
em rumo cruzado e foram feitos os procedimentos que manda o RIPEAM. Entraram em
contato via rádio VHF, holofote de busca e apito, porém não obtiveram contato com a
embarcação “ASTRO GAROUPA”. Sendo assim entrou em procedimento de
emergência, com toda máquina a ré, para evitar o abalroamento e maiores danos pessoais
e materiais, tendo em vista que sua embarcação transporta combustível (banker). Foi
percebido que a outra embarcação não adotou nenhum procedimento e continuou
navegando em rumo de colisão. Após o acidente, foi tentado contato novamente, porém
sem sucesso e só foi feito contato via rádio VHF por parte do “ASTRO GAROUPA” às
07h10min e, posteriormente, às 10h30min foi procurado pelo Comandante do “ASTRO
GAROUPA” com uma carta manifesto, que dizia que a embarcação “LUIZ REBELO I”
seria a culpada pelo acidente, na qual me recusei de tal culpa, pois cumpri todos os
procedimentos para evitar o abalroamento, conforme o RIPEAM; que estava usando os
equipamentos previstos no RIPEAM, luzes de navegação, rádio VHF e radar ligado; que
não ouviu nem viu nenhum sinal da “ASTRO GAROUPA”; que todos seus instrumentos
de navegação estavam funcionando normalmente e são fortes; que sua embarcação sofreu
uma mossa no bico de proa e arrancou um pedaço no ferro de boreste; que quem deveria
manobrar para evitar o acidente de abalroamento, de acordo com o RIPEAM, era o
“ASTRO GAROUPA”, pois minha embarcação tem a preferência, pois tem maior porte,
é uma embarcação de transporte de combustível e por estar navegando no canal, além de
estar em rumo cruzado; que, segundo as normas de navegação, seria o “ASTRO

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GAROUPA” a embarcação que deveria manobrar dando a preferência; que não houve
acidente pessoal; que não houve vazamento nem dano ao meio ambiente; que a posição
da embarcação “LUIZ REBELO I” se encontrava em relação a embarcação que o
abalroou no momento de acordo com o croqui (fl. 57); que o que poderia ter sido feito
por nossa parte foram feitos todos os procedimentos. Em contrapartida, da parte da outra
embarcação, não foi feito nada.
O Laudo Pericial concluiu que a causa determinante foi a falta de cuidados e
vigilância necessários à navegação pelas duas embarcações envolvidas, em uma área de
grande tráfego de embarcações e de navios fundeados, dificultando a visibilidade.
No Relatório o encarregado concluiu que de tudo quanto contêm os presentes
autos, conclui-se que ocorreu um abalroamento entre as embarcações, resultando em
danos materiais.
I) Fatores que contribuíram para o acidente:
a) fator humano - não contribuiu, sob o ponto de vista bio-psicológico;
b) fator material - não contribuiu; e
c) fator operacional - contribuiu a falha operacional na manobra e na
vigilância por parte de ambas embarcações.
II) Que, em consequência do abalroamento, houve avarias na proa e no ferro
de boreste da embarcação “LUIZ REBELO I”. A embarcação “ASTRO GAROUPA”
sofreu avarias no costado à meia nau, no cabeço de amarração e na chapa do convés
principal. As duas embarcações ficaram impedidas de seguir viagem. Não houve registro
de poluição. Não houve acidentes pessoais.
III) São possíveis responsáveis pelo acidente:
a) O Sr. Valdecir Ribeiro da Silva, Comandante da embarcação “ASTRO
GAROUPA”, por imprudência e negligência, ao não determinar a adoção as medidas
preventivas de vigilância sobre a posição do navio e não comandar a manobra para evitar
o abalroamento, quando era sua responsabilidade;
b) O Sr. José Leonaldo de Oliveira, MCB que estava no timão da embarcação
“ASTRO GAROUPA”, por IMPRUDÊNCIA e NEGLIGÊNCIA, ao não adotar as
medidas preventivas de vigilância sobre a posição do navio e não manobrar para evitar o
abalroamento;
c) O Sr. Joel Moura dos Santos, Comandante da embarcação “LUIZ
REBELO I”, por imprudência e negligência, ao não determinar a adoção das medidas
preventivas de vigilância e Manobras Para Evitar Colisão, como reduzir a velocidade,

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considerando que avistou a outra embarcação antes do abalroamento; e
d) O Sr. Joaquim Ferraz da Rocha, Imediato da embarcação “LUIZ REBELO
I”, que estava no timão, por IMPRUDÊNCIA e NEGLIGÊNCIA, ao não adotar as
medidas preventivas de vigilância e Manobras Para Evitar Colisão, ao avistar a outra
embarcação antes do abalroamento.
A Procuradoria Especial da Marinha - PEM, em uniformidade ofereceu
representação em face dos indiciados, com fulcro no art. 14, alínea “a” da Lei nº
2.180/54.
Citados, os representados foram regularmente defendidos.
Joel Moura dos Santos, alegou que o Relatório produzido pelo Encarregado
do Inquérito comete o mesmo erro. Pois aborda os fatos ocorridos no abalroamento e
imputa a causa a ambas as partes e não somente ao real responsável.
Trata-se de CULPA EXCLUSIVA da embarcação “ASTRO GAROUPA” já
que a mesma NÃO aplicou as regras do RIPEAM - Regulamento Internacional Para
Evitar Abalroamento No Mar, conforme depoimentos e defesa prévia apresentada.
O que concerne a responsabilidade do comandante, vale lembrar os
ensinamentos dos doutrinadores Haroldo dos Anjos e Caminha Gomes: “a
responsabilidade do comandante do navio é a máxima, pois sua autoridade a bordo
também é a máxima”.
Corolário destes argumentos evidencia a negligência e imperícia da
embarcação supracitada1, já que navegava sem a percepção de que existia outro navio
próximo, consoante testemunhos e vídeos, quanto à inobservância dos requisitos de
segurança de navegação. E em relação a isso, o presente Inquérito admite a CULPA
da embarcação “ASTRO GAROUPA”, que não cumpriu a Regra 15 do RIPEAM.
De toda sorte, as condições de mar, vento e visibilidade no Rio de Janeiro no
dia 02 de Setembro de 2014 estavam favoráveis à navegação e manobras. Consoante
testemunho de todos os depoentes, como foi apresentado em defesa previa as causas do
acidente e consequente abalroamento não são frutos de má condição metrológicas e
aventuras marítimas, e sim CULPA EXCLUSIVA da tribulação “ASTRO GAROUPA”.
DA HIPÓTESE INSUSTENTÁVEL
Quanto a Análise/Conclusão do Relatório no sentido de atribuir
responsabilidade à embarcação “LUIZ REBELO I” e posterior REPRESENTAÇÃO por
parte da PEM - PROCURADORIA ESPECIAL DA MARINHA, pela justificativa de

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“Astro Garoupa”
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“demorar a tomar providências para evitar o abalroamento” deve ser improcedente.
Pois essa alegação não goza de veracidade e trata-se apenas de uma SUPOSIÇÃO, à qual
não tem embasamento legal e fático, para a sua SUSTENTAÇÃO.
O fato do COMANDATE E IMEDIATO da embarcação supracitada, verem
a outra embarcação comprova que os mesmos estavam atentos quanto aos requisitos
de segurança e normas de navegação. Supor a falta de comprometimento dos
tripulantes do “LUIZ REBELO I”, data vénia ao encarregado do relatório é um uma
inversão de ótica e está desconexa com a realidade e veracidade dos fatos. Nas palavras
do Ilustre Professor Ferdinando Gabriel Domingues:
“Achologia e Palpitometria” são “ciências” que datam de priscas eras na
história da humanidade. Obvio, com a evolução normal decorrente da
genialidade do ser humano, hodiernamente tais “ciências” ou “siências”!?
atingiram grau de alto poder destrutivo, capazes de induzir até técnicos
especializados no ramo da ocorrência a erros nos julga; é um perigo!”
Em resumo, o que o célebre advogado especialista em direito marítimo, que
dizer é que imputar uma acusação pelo “achismo” é perigoso e afronta ao principio da
segurança jurídica processual.
Os fundamentos usados pelo encarregado do inquérito no sentido de constar
falta de vigilância e demora em tomar providencias por parte dos tripulantes da
embarcação “LUIZ REBELO I”, são meras hipótese, suposições e “achismos”, sem
fulcro na veracidade dos fatos.
De outro lado a falta de vigilância se deu na embarcação “ASTRO
GAROUPA”, pois a mesma foi negligência e imperícia, conforme depoimentos colhidos
de sua tripulação.
Trata-se de uma inversão de ótica quanto aos reais responsáveis por este
acidente de navegação, tendo em vista que, a embarcação “LUIZ REBELO I” através de
seus tripulantes, tentou de todos os modos, entrar em contato com a “ASTRO
GAROUPA” seja, via rádio VHF, holofote de busca e apito, luzes, enfim, todos os
procedimentos exigíveis pelo RIPEAM e que ao tomar os procedimentos de emergência,
sua velocidade era apenas de 2 nós. Ressalte-se que a tripulação dedicou toda sua
experiência para que fosse evitado o acidente de navegação.
Diverso do que foi dito no relatório, a embarcação “LUIZ REBELO I” deu
toda a máquina a ré com a intenção de evitar este acidente. A falta de vigilância que foi
fator preponderante para evitar o abalroamento foi consequência exclusiva da

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embarcação “ASTRO GAROUPA” que deixou de adotar medidas preventivas e
regras da navegação (RIPEAM - Regra 15) o que, uma vez concretizada iriam reduzir
os riscos inerentes à navegação.
Reintera que não há nos autos qualquer prova de que tenha o Comandante Sr.
Joel Moura dos Santos deixado de cumprir as normas de segurança e RIPEAM
estabelecido.
A defesa de Valdecir Ribeiro da Silva, alegou que no momento em que o
representado e sua tripulação saíam da zona de funatelo, eis que por ser uma área que
requer atenção tendo em vista ser uma área de desconforto navegável por se encontrar
vários navios fundeados o tráfego intenso, o que impossibilitou a visualização do
Comandantes da Embarcação “ASTRO GAROUPA”, deparando-se com a embarcação
“LUIZ REBELO I”, que surgiu por trás das outras embarcações, avistando o Petroleiro
segundos antes do abalroamento, não havendo tempo hábil de manobrar a fim de evitar a
colisão. Em que pese todos os equipamentos de navegação estavam ligados, ou seja radar
na escala 0.5 e os rádios VHF e os GMDSS, já que toda tripulação estava envolvida na
faina para seguir viagem rumo a bacia de Santos, não havendo tempo hábil para evitar a
colisão.
Ressalte-se que encontravam-se no passadiço o Comandante e o mestre de
Cabotagem do “ASTRO GAROUPA”, já que os demais tripulantes estavam preparando o
ferro para seguir viagem, e toda a atenção estavam voltados para as manobras que o
momento exigia.
Acresce ainda, que o depoimento do Comandante Valdecir Ribeiro da Silva,
fls. 70, relata que não ouviu sinal sonoro ou luminoso da embarcação “LUIZ REBELO
I”, que o “ASTRO GAROUPA” possui luzes de navegação e estavam todas funcionando
normalmente, e que o que dificultou a visualização da embarcação “LUIZ REBELO I”,
foi exatamente as embarcações que se encontravam fundeadas na área de 6. Eis que a
mesma surgiu por trás das outras embarcações que se encontravam na área de fundeio e
por ser uma área de intenso trafego de embarcações não visualizou sinal luminoso nem
ouviu sinal sonoro, isso confirmado pelo depoimento do Sr. Leonardo que se encontrava
junto com o Comandante do “ASTRO GAROUPA” no passadiço.
E compulsando aos autos verifica-se que o depoimento do mestre de
cabotagem (fls. 47) o Sr. José Leonardo de Oliveira, tripulante da embarcação “ASTRO
GAROUPA”, que se encontrava com o Comandante o Sr. Valdecir Ribeiro da Silva, no
passadiço confirma a assertiva que não ouviu e nem vi sinal sonoro ou sinal luminoso da

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embarcação “LUIZ REBELO I”.
A defesa de José Leonaldo de Oliveira, alegou que o ora peticionante, Mestre
de Cabotagem (MBC) Sr. José Leonaldo, não agiu com negligência ou imprudência.
Da função que lhe era atribuída como Mestre de Cabotagem, ainda que governando a
embarcação, agiu com toda a cautela e prudência necessárias, sendo que o
abalroamento ocorreu por circunstâncias alheias à sua função.
Primeiramente, esclarece-se que o abalroamento ocorreu na área 6 de
fundeio, ou seja, área de intenso tráfego de embarcações, além de outras fundeadas. Tal
circunstância per si evidencia a dificuldade de visibilidade na área, ainda que as
condições climáticas estivessem favoráveis.
Quanto à visibilidade, notar que a Secção I do RIPEAM, item 6, “a”, ii,
esclarece que a visibilidade sobre também interferências por “densidade do tráfego
marítimo, incluindo concentração de navios de pesca ou de quaisquer outros navios”.
O Segundo ponto que merece destaque é que nenhum sinal foi emitido pelo
“LUIZ REBELO I”, seja com apito, holofotes ou rádio, haja vista que, caso qualquer
sinal tivesse sido emitido, certamente teria sido recebido pelo “ASTRO GAROUPA”, e
isso não ocorreu.
Neste aspecto, cumpre elucidar que caso algum sinal de VHF tivesse sido
emitido, por certo que a Capitania teria conhecimento, eis que gerenciadora da
frequência. No entanto, diferente do que tentam expor os Representados do “LUIZ
REBELO I”, este, após avistar o “ASTRO GAROUPA”, não emitiu nenhum sinal para
tentar prevenir o abalroamento.
O Terceiro ponto que se passa a enfatizar é que, da dinâmica dos
acontecimentos, o fato que ocasionou a abalroacão foi a não prevenção deste acidente
pelo “LUIZ REBELO I” que incontestavelmente avistou o “ASTRO GAROUPA” e
mesmo assim não tomou as medidas necessárias para evitar a colisão. Esta questão,
Excelentíssimos, é incontroversa nestes autos.
O “ASTRO GAROUPA”, por seu turno, sequer avistou o “LUIZ REBELO I”,
eis que, na visibilidade daquela área de fundeio e dada à posição das embarcações, o
“LUIZ REBELO I” encontrava-se oculto à visão do “ASTRO GAROUPA”, estando
atrás das demais embarcações fundeadas. O fato do “LUIZ REBELO I” estar oculto à
visão do “ASTRO GAROUPA” é igualmente incontroverso, pois além de constar nos
depoimentos dos Representados, foi igualmente verificado por ocasião do Laudo de
Exame Pericial da Capitania dos Portos do RJ (vide fls. 15), destacando que o “LUIZ

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REBELO I” era uma embarcação oculta e não estava no visual do “ASTRO
GAROUPA”, pois encontrava-se atrás das embarcações fundeadas.
embarcação, que só avistou o “ASTRO GAROUPA” a uma distância muito
pequena de aproximadamente 300 metros. A embarcação oculta não estava no visual,
estando por trás das embarcações fundeadas, e a não utilização dos recursos de auxílio a
navegação.
Das circunstâncias dos fatos, não havia como o “LUIZ REBELO I” ser
avistado pelo “ASTRO GAROUPA”, pois estava atrás de outras embarcações fundeadas
na área 6, de forma que a não visibilidade daquela embarcação por esta não pode ser
atribuída como negligência ou imprudência.
Na fase de instrução nenhuma prova foi produzida.
Em alegações finais, manifestaram-se as partes.
É o relatório.
De tudo o que consta nos presentes autos, verifica-se que a causa
determinante do acidente da navegação foi o erro de manobra por parte dos
representados, responsáveis pelas embarcações.
O conjunto probatório foi uníssono no sentido de apontar a responsabilidade
dos quatro representados visto que houve falta de cuidados e de vigilância necessária à
navegação, em uma área de grande tráfego e de navios fundeados, dificultando a
visibilidade, caracterizando falha operacional e de vigilância por parte de ambas as
embarcações acidentadas.
Os dois comandantes devem ser responsabilizados por não adotarem medidas
preventivas de segurança e vigilância e não comandar a manobra, evitando o acidente.
Enquanto que os outros dois representados, que guarneciam os timões
erraram na vigilância e na manobra, e também contribuíram para o acidente.
A prova do inquérito não foi destruída na instrução, devendo prevalecer, na
forma da LOTM, já que na instrução nenhuma prova foi produzida.
Diante do exposto deve ser julgada integralmente procedente a representação,
responsabilizando-se os representados.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade, quanto ao
mérito e quanto a pena do 1º e 3º representados, e por maioria, quanto a pena do 2º e 4º
representados, nos termos do voto do Exmo. Sr. Juiz Relator Marcelo David Gonçalves:
a) quanto à natureza e extensão do acidente da navegação: abalroação entre navios, sem

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danos materiais; b) quanto à causa determinante: erro de manobra e de vigilância; e c)
decisão: julgar o acidente de navegação, como decorrente da imprudência e imperícia dos
representados, condenando todos à pena de R$ 1.000,00 (mil reais) e repreensão e ao
pagamento dividido das custas processuais, na forma dos arts. 14, alínea “a” e 121,
incisos I e VII da LOTM, no que foi acompanhado pelos Exmos. Srs. Juízes Geraldo de
Almeida Padilha e Nelson Cavalcante e Silva Filho. Vencido o Exmo. Sr. Juiz Revisor
Fernando Alves Ladeiras que aplicava a pena de R$ 500,00 (quinhentos reais) ao 2º e 4º
representados, sendo acompanhado pela Exma. Sra. Juíza Maria Cristina de Oliveira
Padilha.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 29 de abril de 2019.

MARCELO DAVID GONÇALVES


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.

Rio de Janeiro, RJ, em 13 de setembro de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE
Digitalmente

9/9
Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2019.10.03 16:36:16 -03'00'

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