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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MDG PROCESSO Nº 30.446/16


ACÓRDÃO

Veleiro “RODY”. Utilização de embarcação para a prática de ato ilícito.


Dolo. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


No dia 1º de agosto de 2015, cerca das 19h, no porto de Santo Antônio,
Arquipélago de Fernando de Noronha, PE, uma equipe da Polícia Federal em conjunto
com o NPaMacau, realizou uma inspeção no veleiro “RODY” encontrando tabletes de
cocaína, pesando cerca de 500kg.
No inquérito, realizado pela Capitania dos Portos de Pernambuco, foram
ouvidas 3 (três) testemunhas, realizado laudo pericial e juntada a documentação de praxe.
No dia primeiro de agosto de dois mil e quinze, por volta das 05h30min, o
veleiro “RODY” foi avistado pela equipe da Polícia Federal e pelo Navio Patrulha
Macau, que prestava apoio a operação.
Por volta das 12h, foi ordenado ao comandante do veleiro “RODY” que
fundeasse ao largo do Porto de Santo Antônio, Arquipélago de Fernando de Noronha.
Após verificação da documentação da embarcação e uma vistoria minuciosa pela
embarcação, foi encontrados 10 pacotes de substância entorpecente, cocaína, que
totalizaram 11.570kg, acondicionadas num saco plástico, que estava localizado na cabine
da popa da embarcação.
Após o narcoteste, foi constado que se tratava de cocaína, com a descoberta
da droga, o Sr. Raymond Knobbe se reservou o direito de permanecer em silêncio e foi
conduzido ao Posto da Polícia Federal na Ilha para as providências de praxe.
O Sr. Raymond Knobbe, de nacionalidade holandesa, foi preso pela PF e
transportado para a cidade de Recife, PE, onde se encontra a disposição da Justiça
Brasileira, no Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna –
COTEL.
No dia quatro de agosto, com o propósito de realizar uma inspeção mais
detalhada, a Polícia Federal planejou o deslocamento do veleiro RODY, em direção ao
porto de Recife, PE.
No dia dez de agosto o veleiro aportou no porto do Recife, PE, onde pela
manhã se procedeu a uma vistoria, onde foram encontrados 59 tabletes de cocaína no
tanque de água da embarcação, que totalizou 68.683kg de droga. Em seguida, foi aberto o
tanque de combustível da embarcação, onde foram encontrados mais 438 tabletes de
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cocaína, o que totalizou mais 501.300kg de substância entorpecente (fls. 62/63).
Com a chegada do veleiro em Recife, PE, foi formalizada a apreensão da
referida embarcação e os materiais encontrados no interior da mesma (fls. 64/65).
A embarcação foi apreendida e se encontra docada no Cabanga Iate Clube de
Pernambuco a disposição da Justiça Federal de Pernambuco.
O Laudo Pericial concluiu que a causa determinante para o transporte de
tóxico no veleiro “RODY”, foi a utilização da embarcação pelo Sr. Raymond Knobbe,
Proprietário e Comandante da Embarcação, que transportava material entorpecente,
“cocaína”, em desacordo com a finalidade da embarcação.
No Relatório o Encarregado concluiu que de tudo quanto contêm os presentes
autos, conclui-se: que a embarcação foi utilizada para o transporte de material ilícito
(cocaína), sendo constatado que o comandante (proprietário) não a utilizou para o fim a
que se destina, ou seja, esporte e recreio.
I) Fatores que contribuíram para o acidente:
a) Fator Humano – não contribuiu;
b) Fator Material – não contribuiu; e
c) Fator Operacional – contribuiu, o proprietário do veleiro empregou a
embarcação em ato ilícito penal, na guarda e transporte de tóxico (cocaína).
II) que, em consequência do fato da navegação, a embarcação foi apreendida
e se encontra ancorado no Cabanga Iate Clube de Pernambuco a disposição do Justiça
Federal de Pernambuco (fls. 109/110). Não houve vítima, nem poluição.
III) É possível responsável direto pelo fato da navegação o proprietário do
veleiro “RODY” o Sr. Raymond Knobbe, ao utilizar a embarcação para prática de ato
ilícito penal.
A Procuradoria Especial da Marinha – PEM, em uniformidade com o
relatório, ofereceu representação em face do indiciado com fulcro no art. 15, alínea “f”,
da Lei n° 2.180/54.
Citado o representado manteve-se silente sendo declarada sua revelia.
Na fase de instrução nenhuma prova foi produzida.
Em alegações finais, manifestaram-se as partes.
É o relatório.
De tudo o que consta nos presentes autos, verifica-se que a causa
determinante do fato da navegação, caracterizado pela utilização de embarcação para o
transporte de substância entorpecente, foi a conduta dolosa do representado.
O presente processo é de fácil solução visto que houve o flagrante do crime,
não havendo sequer possibilidade de defesa, constatada de imediato a autoria e a

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materialidade.
Assim restou indubitavelmente demonstrado que o representado utilizava a
embarcação para o transporte de 70kg de cocaína, estando incurso na modalidade dolosa,
à condenação, como requerido pela Douta PEM.
Diante do exposto, deve ser julgada integralmente procedente a
representação, responsabilizando-se o representado.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do fato da navegação: transporte de 500kg de cocaína em veleiro; b)
quanto à causa determinante: atitude intencional e criminosa do representado; e c)
decisão: julgar o fato da navegação, como decorrente de conduta dolosa do representado,
condenando-o à pena de multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais), cumulativa com a pena
de suspensão para o exercício profissional marítimo em águas brasileiras pelo interstício
de 1 (um) ano, além do pagamento das custas processuais, na forma dos art. 15, alínea “f”
e 121 da Lei nº 2.180/54.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 04 de junho de 2019.

MARCELO DAVID GONÇALVES


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.

Rio de Janeiro, RJ, em 13 de setembro de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE
Digitalmente

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Dados: 2019.10.03 16:41:25 -03'00'

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