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FÓRUM

SOCIOAMBIENTAL
DE ALDEIA
20 anos de luta
FÓRUM
SOCIOAMBIENTAL
DE ALDEIA
20 anos de luta

Esta publicação é comemorativa dos 20 anos de atividades do Fórum Socioambiental de Aldeia, completados em 2023.
Poucos movimentos de voluntariado voltados a discutir
os problemas e propor soluções de um bairro ou grupo
social têm vida longa, pelo menos no Brasil, onde a
cultura cidadã ainda é pouco valorizada: a sociedade
espera que o poder público resolva tudo e até mesmo o
controle social é exercido de forma tímida.

Por isso, a existência, há 20 anos, de uma entidade


como o FÓRUM SOCIOAMBIENTAL DE ALDEIA,
apartidária, sem fins lucrativos e independente, é
um fato a ser muito comemorado. É uma história,
sobretudo, de resistência. Ao longo desses anos foram
muitas as lutas, nem todas vitoriosas. Alguns projetos
ficaram inconclusos, por diversos motivos. Mas o saldo
do esforço deste grupo, formado exclusivamente de
voluntários que sonham com a preservação de Aldeia, é
muito positivo e gratificante.

Nesta publicação você vai conhecer um pouco desta


história, que é também a história de Aldeia. Sinta-se
convidado a fazer parte dela conosco!

A Diretoria
FÓRUM SOCIOAMBIENTAL DE ALDEIA | 20 ANOS DE LUTA FÓRUM SOCIOAMBIENTAL DE ALDEIA | 20 ANOS DE LUTA

O começo de tudo Fundador e presidente do Fórum


até 2015, Manoel Ferreira, conhe-
cido como Ferreirinha, rapida-
Os temas dos debates foram se
ampliando. A cada semana, no-
vos participantes traziam ques-
mente organizou o grupo e estru- tões de interesse geral (cone-
Quando o Fórum Socioambiental de Aldeia surgiu,
turou uma dinâmica de reuniões xão à internet, perturbação do
no início dos anos 2000, Aldeia vivia uma transfor-
semanais para discutir os assun- sossego, queimadas) a serem
mação urbana e, apesar de sua rica biodiversidade,
tos de Aldeia, primordialmente debatidas, e o que seria um
nem sonhava ser Área de Proteção Ambiental. Uma
o tema da segurança. Dois anos grupo exclusivamente voltado
crescente população começava a trocar o Recife
depois da primeira reunião, em à questão da segurança passou
superpopuloso por condomínios e chácaras da re-
2005 foi aprovado o estatuto e a ser a arena onde se discutiria
gião, trazendo consigo suas necessidades de con-
eleita a primeira diretoria do Fó- todo tipo de problema da co-
sumo, saneamento, segurança, mobilidade etc. Ferreirinha, primeiro presidente rum. Entre os principais valores munidade.
da organização, desde então, des-
A violência urbana, já alarmante no Recife daquela
tacam-se os aspectos apartidário, Além de escutar os relatos da
época, começou a fazer vítimas por aqui. E foi justa-
de independência religiosa e sem população e debater soluções,
mente um assassinato, num restaurante de Aldeia,
fins lucrativos. a diretoria do Fórum tem como
que motivou um grupo de moradores a se reunir
prática, desde o início, organizar
para discutir a segurança local. O ano era 2003 e
Os encontros do Fórum, que se seminários com especialistas
um amigo da vítima, o engenheiro e especialista em
iniciaram no Alvorada, mudaram abordando temas de interesse
gestão de organizações Manoel Ferreira, resolveu
de endereço algumas vezes, pas- dos aldeienses, como meio am-
tomar a iniciativa de mobilizar alguns conhecidos
sando a acontecer no Hotel Cam- biente, segurança, saúde, edu-
para pensar na segurança em Aldeia. Uma primeira O Fórum é pestre e no Restaurante Tempo e cação e destinação do lixo, en-
reunião, no Clube de Campo Alvorada (km 13), foi a uma entidade
Tempero, no km 2 (e posterior- tre outros. Em épocas eleitorais,
semente do Fórum Socioambiental de Aldeia que, apartidária,
sem ligações mente no Clube dos Oficiais da convida candidatos a conhece-
pela persistência de voluntários, até hoje encabeça
religiosas e sem Herbert Tejo, presidente atual Polícia Militar, km 6; na Pousada rem a realidade de Aldeia e se
as lutas pela preservação do meio ambiente e por
fins lucrativos Aldeia dos Camarás, km 2; e na Pi- comprometerem com a defesa
melhorias na qualidade de vida de quem mora por
zzaria Tomassa, km 9). de nossos interesses.
estas bandas.

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Aldeia de ontem e de
hoje e seus desafios
De 2003 para cá a paisagem de Aldeia
modificou-se radicalmente. Se a região já começava
a ser cobiçada pela especulação imobiliária para fins
de semana e temporadas tranquilas, de uns anos para
cá - especialmente durante a pandemia de Covid-19 -
houve uma explosão no adensamento populacional.
Todos os dias vemos novos condomínios sendo
construídos, muros levantados e tráfego mais e
mais congestionado em nossa maltratada estrada.
Os problemas, claro, se multiplicam: violência, lixo,
desmatamento, perturbação do sossego, acidentes de
trânsito etc.

Tudo isso exigindo solução, e ainda temos de lidar


com a chegada de empreendimentos com enorme
potencial de destruição ambiental.

A comunidade de Aldeia precisa estar unida e


engajada na luta por mais qualidade de vida,
preservação do verde e tranquilidade para a atual e as
futuras gerações.

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O programa de

Segurança pública: tema sempre presente videomonitoramento


da PE-27 (De Olho
em Aldeia) é 100%
financiado pela
Na área da Segurança Pública, o Fórum adotou a me- Outra iniciativa do Fórum na área de segurança foi a
comunidade
todologia de aproximação com as polícias. No início compra de um aparelho celular que ficava nas mãos
dos anos 2000, a região de Aldeia era atendida pelo dos policiais da 3ª Companhia e só deveria ser acio-
11° Batalhão da Polícia Militar, que servia também nado em casos de emergência. A iniciativa não deu
ao bairro de Casa Forte, contava apenas uma viatu- certo, pois o telefone passou a ser usado para outros
ra e enfrentava problemas financeiros para adquirir fins. Mas a ideia viria a inspirar um programa do Go-
equipamentos, munição e até combustível. Com o
apoio do Fórum e a pressão da comunidade, o efetivo
verno do Estado.
De Olho em Aldeia
passou a ser mais valorizado, receber melhores con- Em parceria com a Associação de Condomínios de
dições de trabalho e, finalmente, em 2006 foi criado Aldeia (ACA), o Fórum também conseguiu implantar Pensando em reforçar a segurança da região, o Fórum criou,
o 20° Batalhão da PM, até hoje responsável pelas áre- em Aldeia o programa De Olho na Rua, que conec- em 2017, um programa chamado De Olho em Aldeia, que
as de São Lourenço e Camaragibe, incluindo Aldeia. tava os condomínios locais entre si e com o Centro previa a instalação de postes de videomonitoramento nas
Integrado de Operações de Defesa Social. principais rotas de fuga da região. As câmeras, financiadas pe-
No mesmo ano, também com articulação do Fórum, los condomínios locais, transmitem as imagens 24 horas por
a 3ª Companhia do 20° Batalhão – a que responde Outra conquista importante resultante da pressão dia via fibra ótica da empresa BBG Telecom – que cedeu ao
por Aldeia – conseguiu um espaço, no km 10, para do Fórum Socioambiental de Aldeia foi a criação, em projeto o backbone ao longo de toda a PE-27 – para uma ilha
instalar um imóvel que servia de base para os poli- 2010, de uma Delegacia de Polícia Civil (Decreto Esta- de monitoramento instalada na sede na 3ª Companhia, no km
ciais e as viaturas. O Fórum ajudou a encontrar o ter- dual n° 35.291). Essa delegacia, importantíssima para 10,5.
reno e a angariar doações de empresários para equi- nossa região, até hoje não foi instalada por falta de um
par o local. A PM se responsabilizou pela restauração espaço físico na Estrada de Aldeia. A Prefeitura de Ca- O projeto conta atualmente 25 câmeras instaladas em rotas de
do imóvel e a Prefeitura de Camaragibe, pelo aluguel maragibe chegou a ceder um terreno no bairro do Vera fuga e pontos estratégicos de Aldeia. O objetivo é chegar a 96
do espaço. Cruz, mas a Polícia exige que o espaço seja na PE-27. câmeras divididas em quatro ilhas, desde a antiga Faculdade
de Odontologia de Pernambuco – FOP (km 2) até o condomí-
nio Haras de Aldeia, no km 20.

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A nova sede da 3ª Companhia da Polícia Militar foi


Comunidade Conectada
Perturbação do sossego
montada no Parque Aldeia dos Camarás, no km 10,5
da Estrada de Aldeia, em área cedida pelo município
Em 2014 foi criada a rede Comunidade Conectada, de Camaragibe. Foram instalados dois contêineres,
grupo de WhatsApp composto por membros con- onde também passaram a funcionar uma unidade do O sossego, que deveria ser uma das características Apesar da argu-
tribuintes do Fórum Socioambiental, representantes Koban – modelo japonês de policiamento comunitá- de Aldeia, vem sendo ameaçado há anos por casas mentação do Mi-
das empresas de energia e internet, polícias e outras rio – e a Central de Monitoramento do programa De de shows, moradores que não respeitam a tranqui- nistério Público,
autoridades. O objetivo do grupo é a troca de infor- Olho em Aldeia. Os contêineres, móveis e equipa- lidade dos vizinhos e por festas, com ingressos pa- a juíza Jacira Jar-
mações de interesse da comunidade, solicitações de mentos de infraestrutura foram adquiridos com re- gos ou de particulares. Para o Fórum Socioambien- dim de Souza Me-
esclarecimentos e atendimento de denúncias. cursos provenientes de emenda parlamentar solici- tal de Aldeia, a perturbação do sossego é um desafio neses, da 3ª Vara
tada pelo Fórum ao deputado estadual Aluízio Lessa. enorme, já que não existe consenso sobre a quem Cível da Comarca

3ª Companhia e Koban O Fórum disponibilizou os equipamentos para ins-


talação da Central de Monitoramento, empresários
cabe fiscalizar e coibir as ocorrências num território
tão extenso e pulverizado em tantos municípios.
de Camaragibe,
indeferiu o pedi-
Em 2019 Aldeia perdeu o posto da 3ª Companhia da locais doaram material de construção e a prefeitura do de liminar que
Polícia Militar, que funcionava há dez anos no km 10. de Camaragibe ficou responsável pela base (alicerce), O Fórum já promoveu uma série de discussões sobre pedia a suspensão
Isso porque a Prefeitura de Camaragibe, que pagava fornecimento de água e fossa séptica. a perturbação do sossego, requereu e participou de do festival.
o aluguel do pequeno imóvel ao lado do antigo su- audiências públicas e acionou autoridades públicas
permercado Villa Aldeia (hoje Tradição), decidiu sus- em diversas ocasiões. Em 2018, por exemplo, provo- Com relação às festas e
pender o pagamento e oferecer em troca um espaço cou o Ministério Público para agir contra a realização eventos que acontecem
no km 5. A Polícia, por sua vez, rejeitou a oferta por do festival Guaiamum Treloso Rural, que prometia ao longo do ano, em
considerar que a área “era distante da zona de maior atrair cerca de seis mil pessoas para uma festa com especial nos fins de se-
movimento de Aldeia”. diversos palcos, no entorno da Mata do Besouro – mana, a recomendação
Área de Proteção Permanente (APP) –, sem o devido ainda é que a Polícia
Mesmo com a intermediação do Fórum para encontrar licenciamento. Uma audiência pública extrajudicial seja acionada pelo telefone 190. O problema é que,
uma solução, a 3ª Companhia terminou saindo de Al- foi realizada e os possíveis danos ambientais oriun- por serem consideradas de menor dano – em rela-
deia, só voltando no final de 2020, depois de um longo dos do festival foram atestados pelo Centro de Apoio ção a casos de violência, por exemplo –, as ocorrên-
processo de articulação do Fórum com parlamentares, Operacional às Promotorias do Meio Ambiente do cias de perturbação do sossego acabam no fim da
governos estadual e municipal e empresários locais. MPPE, que recomendou a judicialização da questão. fila dos atendimentos policiais.

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APA Aldeia-Beberibe: o patrimônio A APA Aldeia-Beberibe é


considerada um “laboratório a

natural que queremos preservar.


céu aberto”. Além de abrigar
o maior remanescente de
Mata Atlântica acima do rio
São Francisco, onde vivem
Ainda hoje muitos moradores de Aldeia não sabem de incluir a pauta ambiental nas discussões e deram 826 espécies de plantas, 220
espécies de aves, 60 espécies
que vivem numa Área de Proteção Ambiental (APA) à entidade o nome Fórum Socioambiental de Aldeia. da herpetofauna (anfíbios
criada por decreto estadual, o de n° 34.692, de 2010. e répteis), 48 espécies de
A APA Aldeia-Beberibe, com seus 31 mil hectares, A partir de então, o grupo passou a promover palestras mamíferos não voadores e 25
tipos de morcegos, resguarda
abriga centenas de espécies animais e vegetais, vá- e seminários voltados à questão do meio ambiente e uma malha hídrica responsável
rias ameaçadas de extinção ou que só existem aqui, à preservação das matas de Aldeia. Essas conversas, pelo abastecimento d’água de
e enorme quantidade de mananciais superficiais – para as quais eram convidadas autoridades científi- 60% da população da Região
Metropolitana do Recife.
conhecidos como os pequenos rios litorâneos – e cas e políticas, tiveram papel decisivo para a inclusão
importantes aquíferos subterrâneos, o que compõe de Aldeia na Área de Proteção Ambiental. E o Fórum,
um conjunto hidrográfico responsável pelo abaste- desde a criação da APA, compõe seu Conselho Gestor,
cimento público de água para cerca de 1 milhão de servindo como os olhos da sociedade sobre as gran-
habitantes (por meio do Sistema Botafogo), além da des ameaças ao nosso meio ambiente e como ponte
água mineral que bebemos. entre esta sociedade e os poderes constituídos.

Uma característica peculiar da nossa APA, no entanto, Sempre vigilantes e atuantes, os voluntários que par- Aves endêmicas e ameaçadas:
torna sua gestão mais complexa: ela se estende por ticipam do Fórum discutem os problemas, buscam
a) Tangara cianocephala corallin (saíra-
oito municípios (Recife, Camaragibe, São Lourenço soluções, desenvolvem projetos, convocam audiên-
militar); b) Tangara faustuosa (pintor-
da Mata, Paudalho, Abreu e Lima, Paulista, Igarassu e cias públicas, mobilizam os meios de comunicação e verdadeiro);
Araçoiaba), cada um com seu perfil, administração e pressionam as autoridades na defesa da região. Além c) Xenops minuts alagoanus (bico-virado-
miúdo);
legislação próprios. do Conselho Gestor da APA, o Fórum tem represen-
d) Conopophaga melanops nigrifrons
tantes no Comitê das Bacias Hidrográficas - Metro- (chupa-dente-de-máscara).
Logo nas primeiras reuniões, quando a APA nem mes- politano Norte e nos Conselhos Municipais de Meio
mo existia, os participantes sentiram a necessidade Ambiente de Camaragibe e de Paudalho.

Fonte: Plano de Manejo da APA

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Usinas termelétricas em plena Por falta de motores


adequados, em falta no
As termelétricas
queimam óleo diesel, que
mercado à época da libera no meio ambiente
ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL? instalação, a empresa
responsável pelo em-
uma série de produtos
químicos altamente
preendimento sim- tóxicos.
plesmente adquiriu
780 motores gerado- A queima do diesel
res, como os utilizados produz substâncias
em edifícios, movidos a responsáveis por uma
óleo diesel, para fazer funcionar a usina de energia. Além do barulho en- síndrome que provoca
surdecedor ouvido a quilômetros de distância, a grande concentração de desde quadros de anemia
motores também provocava a emissão de gases venenosos e a absorção até leucemia. Os efeitos
deles pelo solo e pelos mananciais da região. podem ser sentidos num
raio de até 15 km.
Outro grande problema provocado pelas termelétricas era a circulação,
em plena PE-27, de pesados caminhões (de 50 a 70 toneladas) vindos de Já o ruído provocado
A instalação de usinas termelétricas O Fórum nunca discordou da implantação de Suape carregados de óleo diesel. Além dos danos causados à já combali- por essas usinas não
no entorno da Barragem de Botafogo, termelétricas no Estado, mas do local escolhido: da Estrada de Aldeia, os caminhões representavam sério perigo a moto- apenas prejudica o sono,
dentro da APA Aldeia-Beberibe, teve além estarem dentro de uma Área de Proteção ristas, pedestres e ciclistas e atrapalhavam o tráfego. mas também provoca
início em 2009. Entretanto, a operação Ambiental, estão numa Área de Proteção de outros danos graves à
só começou em 2012 e pegou de surpresa Mananciais (Lei Estadual n° 9.860/86). Pior: Desde que tomou conhecimento da existência das usinas, o Fórum se saúde, como hipertensão,
o Fórum Socioambiental de Aldeia. Isso utilizam combustíveis fósseis – óleo diesel e manifestou convocando reuniões e audiências públicas e debatendo o estresse, fadiga e
porque a entidade – e toda a sociedade óleo bruto – a escassos 900 metros de uma tema na imprensa, sempre questionando a localização do empreendi- problemas auditivos
pernambucana – só tomou conhecimento Zona de Proteção Integral; a 800 metros das mento e seus impactos ambientais. Com a pressão do Fórum sobre a irreversíveis aos humanos
da existência do complexo de usinas matas ciliares do lago do reservatório de Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH), a Epesa - Centrais Elétricas e aos animais.
depois que moradores da vizinhança Botafogo e, ainda, numa região cercada pelos de Pernambuco S.A. terminou sendo obrigada a comprar e instalar filtros
acústicos, para minimizar o barulho gerado pelos motores, e a alterar o
denunciaram o altíssimo ruído gerado principais fragmentos de Mata Atlântica de
percurso dos caminhões de diesel, que passaram a utilizar a BR-101 Norte
pelos motores do empreendimento. Pernambuco.
até Igarassu para acessar a PE-41 e chegar a seu destino.

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O Fórum defende que presídios sejam
construídos em localidades distantes
de centros urbanos, com impactos
mínimos sobre a população.
I Mostra
Comunicação permanente Sustentável
de Aldeia
Protesto contra presídio em Araçoiaba com a comunidade Em 2019, o Fórum foi convidado
Desde 2008, com a criação do in- vida a comunidade a participar pelo site Aldeia da Gente a ser
No dia 7/9/2014, o Fórum realizou, na Estrada de Al- A ação alegava que a instalação do presídio em Ara-
formativo Folha de Aldeia, que era das discussões. copromotor do evento I Mostra
deia, um protesto contra a instalação de um presídio çoiaba (um dos municípios de menor IDH no estado
distruibuído nos principais pontos Sustentável de Aldeia, que
em Araçoiaba, município que faz parte da APA Aldeia- de Pernambuco) infringiria a Lei Estadual n° 13.315, comerciais da região, o Fórum tem Em 2023, depois da experiência
-Beberibe. Além de faixas e camisetas usadas para de 2007, que “veda a construção de presídios e peni- realizou rodas de conversa,
procurado manter um canal direto dos encontros virtuais durante a oficinas de educação ambiental
chamar a atenção do público, a manifestação teve tenciárias em locais próximos dos centros urbanos de comunicação com a sociedade pandemia, quando realizou deze-
panfletagem e foi amplamente divulgada pela mídia e das zonas de interesse turístico do Estado de Per- e feira de produtos sustentáveis
aldeiense. nas de lives com convidados locais
pernambucana. Dez mil assinaturas foram reunidas nambuco”, e teria consequências desastrosas, como na galeria Aldeia Boulevard
e de fora de Aldeia, as reuniões
num abaixo-assinado pedindo que o presídio fosse o surgimento de favelas no seu entorno, aumento da Mall, no km 9,8. Foram dois
Nos dias de hoje, com a digitaliza- ordinárias do Fórum passaram a
para uma localidade mais distante e uma ação civil criminalidade, tráfico de drogas, utilização de crian- ção dos meios, é pelo Facebook e acontecer alternadamente de for- dias de muita conversa sobre
pública chegou a ser movida pelo Fórum, em conjun- ças para tráfico e prostituição, rotas de fuga para as- o Instagram que o Fórum divulga ma presencial, na Pizzaria Tomassa os problemas de Aldeia e suas
to com a Associação de Condomínios de Aldeia (ACA). saltantes/traficantes e devastação ambiental. suas ações, levanta debates e con- (km 9), e virtual. possíveis soluções.

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O Projeto Executivo, de seis quilômetros, foi tam-


bém entregue a autoridades estaduais e munici-
pais. Em abril de 2017 foi entregue ao governador
Paulo Câmara. E em agosto do mesmo ano os em-
presários César e Bruno Dantas construíram um
projeto-piloto do modelo de Estrada-Parque com
40 metros na frente de seu empreendimento, um
centro empresarial, no km 11.

Desde então, a Estrada-Parque continua na pauta


do Fórum, esperando a boa vontade e sensibilidade
do governo do Estado.

Estrada-Parque

O sonho de uma rodovia humanizada


Em 2015 o Fórum se propôs um grande desafio: o é que ele foi pensado para evitar desapropriações, tor-
desenvolvimento de um projeto para transformar a nando-o mais barato, com intervenções resumindo-
Estrada de Aldeia em Estrada-Parque, uma profunda -se basicamente à construção de calçadas, ciclovias,
reforma na PE-27 com a instalação de ciclovias, área requalificação de acostamentos onde fosse possível Na página ao lado e no alto desta, simulação
para pedestres e paisagismo. Coube ao arquiteto César e plantio de árvores e jardins. O projeto contemplava de um trecho da PE-27 com canteiros e áreas
para pedestres e ciclovias. Acima, projeto-piloto
Barros tornar realidade o desafio. Ele desenvolveu o ainda a indicação de vias vicinais, estudadas para fazer desenvolvido no km 11. Ao lado, diretores do
projeto arquitetônico com a modelagem de 20 quilô- fluir melhor o trânsito de automóveis, permitindo as- Fórum entregam o projeto da Estrada-Parque ao
metros da estrada. Uma das peculiaridades do projeto sim a entrada e saída de Aldeia por rotas alternativas. governador Paulo Câmara.

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Sociedade bota a mão Curso forma


na massa pela segurança brigadistas contra
da Estrada de Aldeia incêndios
Preocupado com os constantes incêndios, acidentais
A Estrada de Aldeia, rodovia estadual construída no
ou não, registrados nas matas de Aldeia, o Fórum ar-
início da década de 1970 sem drenagem nem acos-
ticulou, ao lado do Centro Nacional de Prevenção e
tamento, nunca recebeu uma restauração de grande
Combate a Incêndios Florestais (Prevfogo), do Iba-
porte. Com uma quantidade cada vez maior de au-
ma, um curso de brigadista de incêndio que formou inférteis e o ar poluído, matam animais e provocam
tomóveis de passeio e caminhões circulando, vem se
36 pessoas em setembro de 2017, no condomínio doenças em seres humanos; e que existem alterna-
desgastando a cada dia. Os buracos são inúmeros; as
Haras de Aldeia. tivas ao uso do fogo, tanto para a agricultura quanto
placas, apagadas ou cobertas pelo mato; e as lomba-
das, pintadas pelos próprios moradores, aflitos com o para o manejo do lixo.
Em aulas teóricas e práticas, os alunos aprenderam
perigo que a falta de sinalização representa.
a realizar campanhas de conscientização da popu- Participaram do curso – todos voluntários – funcio-
lação sobre os prejuízos causados pelo fogo ao solo nários de condomínios locais, bombeiros civis e ser-
O Fórum esteve cinco vezes com a diretoria do Depar-
e ao ar; a mostrar que os incêndios tornam as terras vidores das prefeituras de Camaragibe e Paudalho.
tamento de Estradas de Rodagem (DER) solicitando,
por ofício, melhorias na PE-27, como a manutenção
da malha asfáltica, implantação de lombadas e sina-
lização da via. E em diversas oportunidades provocou Solidariedade na pandemia
reportagens mostrando a precariedade da estrada.
Durante a pandemia da Covid-19, o Fórum criou o movimento Al-
Em abril de 2019, o Fórum convocou moradores para impressão de panfletos, e a Guarda Civil de Camaragi- deia Solidária, que arrecadou e distribuiu alimentos à população
um ato simbólico: a pintura da lombada do km 8 e a ins- be fez a segurança dos manifestantes. Já o Governo do carente, incentivando que “ficasse em casa” para evitar o contágio.
talação de placas indicativas da lombada, como forma Estado, apesar de toda visibilidade dada ao tema pela Voluntários se juntaram à causa e durante vários meses as comuni-
de chamar a atenção para o perigo constante. Empresá- grande mídia, não se manifestou – nem sequer enviou dades de Vera Cruz, Rachão, Piim, Rodrízio e Chã de Cruz recebe-
rios locais apoiaram a ação, cedendo tinta e pagando a um representante para conversar com os aldeienses. ram cestas básicas, brinquedos e passatempos para as crianças.

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Fachada do parque, em 2018, mais parecia um lixão a céu aberto; dinossauro que foi roubado do local... ...letreiro da Prefeitura informando do decreto; órgãos policiais e ambientais autuando a Prefeitura; e vista aérea do parque

projeto do Conselho Gestor da APA Aldeia-Beberibe Inconformado, o prefeito assinou um decreto (nº
Parque Aldeia dos Camarás: uma luta, vários atos. chegou a plantar mil mudas de espécies nativas no 40/2018) devolvendo o terreno do parque, de oito
local, com o objetivo de recuperar o Rio das Pacas, hectares, aos antigos proprietários, alegando “irregu-
Único espaço público da região de Aldeia, o Parque Aldeia dos Cama- A gestão seguinte, do prefeito Jorge já praticamente seco. O mesmo projeto previa a im- laridades contratuais que obrigariam a administração
rás (km 10,5) há anos vem sendo alvo da atenção do Fórum. O terreno Alexandre, desvinculou a área da Se- plantação, no parque, do primeiro viveiro florestal a restituir uma diferença de cerca de R$ 10 milhões,
do parque, que fica ao lado da Estrada do Cajá, foi desapropriado cretaria de Educação, mas o projeto do Estado de Pernambuco, que não veio para Ca- restando apenas a opção de devolução do terreno”.
em 2011 pelo então prefeito João Lemos depois que a família Tor- continuou embargado pela Agência maragibe devido à incompetência da administração
quato de Castro já o havia vendido a uma incorporadora. Na época, Estadual de Meio Ambiente (CPRH) municipal. Mobilizado pelo Fórum Socioambiental, um grupo de
a derrubada de dezenas de jaqueiras para a construção de um em- por prever obras muito próximas ao cerca de cem pessoas realizou um protesto pacífico
preendimento imobiliário provocou uma grande comoção entre os Rio das Pacas. Para piorar, o então prefeito Demóstenes Meira de- que exigia a revogação do decreto de devolução do
moradores de Aldeia, que chegaram a realizar um protesto na PE-27. cidiu, por contra própria, sem consultar ninguém, parque. Nos meses seguintes, os aldeienses realizaram
Em 2018, fruto de um grande esfor- construir uma rua que passaria por dentro do par- a pintura da fachada, promoveram rodas de conversa
Com a desapropriação, paga com recursos da Secretaria de Educação ço da sociedade (o Fórum à frente), que, violando o traçado aprovado pela CPRH. Seu entre a comunidade, reuniram assinaturas e formali-
do município, a Prefeitura anunciou que daria ao local caráter educa- novo projeto foi desenhado para o intento era desafogar o trânsito na Estrada do Vera zaram uma denúncia ao Ministério Público. Sete me-
tivo semelhante ao Espaço Ciência (do Governo do Estado), chegando parque e finalmente aprovado pela Cruz. Acionadas imediatamente, a Polícia do Meio ses após a publicação do decreto, o mesmo prefeito
a denominá-lo “Parque Espaço Saber”. Réplicas de animais pré-histó- CPRH. Uma votação eletrônica esco- Ambiente (Cipoma) e a própria CPRH impediram a assinou sua revogação (Decreto n° 014/2019), tornan-
ricos foram adquiridas; uma delas, de um dinossauro, logo foi furtada. lheu o nome atual do parque e um obra e multaram a Prefeitura. do o parque novamente propriedade do município.
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Com essa importante vitória, o Fórum criou um grupo de da – primeiro de branco e depois, com a participação de
acompanhamento das ações de melhoria do parque, que crianças e grafiteiros, com a inscrição do nome do parque
nunca havia recebido algum tipo de infraestrutura. Com a e desenhos coloridos; o Carnaval de estudantes da rede
participação de moradores do Vera Cruz e do Rachão – lo- pública do município; mutirões de limpeza; e uma bênção
calidades vizinhas ao parque – e em reuniões com a Pre- animal no Dia de São Francisco. Tudo para chamar atenção
feitura (já na gestão Nadéji Queiroz), o grupo elencou como para a importância do local como equipamento de lazer e
prioridades a iluminação e a segurança do equipamento. esportes para a população.

Foi também iniciativa do Fórum a captação de recursos de Apesar de toda a luta, o parque de Aldeia, cuja destinação
emendas parlamentares: uma do deputado Daniel Coelho, deveria ser o lazer, a saúde e o bem-estar de toda a comu-
no valor de R$ 500 mil, usada na instalação da iluminação do nidade, continua – no final de 2023 – em situação precá-
parque, concluída - finalmente - em 2021; e outra do depu- ria de funcionamento e carente de atrativos necessários,
tado Tadeu Alencar, de R$ 100 mil, para a instalação de uma como academia das cidades, biblioteca, espaço para expo-
tenda para formação e capacitação. O recurso encontra-se sições ou capacitações e até mesmo sementeira, ecopon-
com a Secretaria Estadual de Turismo, que fará o repasse. to ou compostagem. O Fórum defende, pois, a criação de Vários momentos de luta da
uma instância administrativa para o espaço, assim como a comunidade pela retomada
e melhoria das condições do
Ainda por iniciativa da comunidade, foram realizados al- destinação de verbas específicas para melhoria de sua in- Parque Aldeia dos Camarás
guns eventos em prol do parque, como a pintura da facha- fraestrutura e conservação.

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FÓRUM SOCIOAMBIENTAL DE ALDEIA | 20 ANOS DE LUTA

A proposta apresentada

Campanha pede pelo Governo do Estado


em 2022 – depois de mui-

que o Arco Viário tas idas e vindas, impugna-


ções de editais etc. – pro-

passe fora da APA vocará um impacto sobre


294 hectares de mata, sen-
do que 65 hectares serão
Desde 2012 o Fórum Socioambiental de Aldeia vem lu- totalmente desmatados. E Traçados propostos
tando pela alteração do traçado proposto pelo Gover- pior será o impacto direto pela empresa
no do Estado para a implantação do trecho norte do vencedora da
sobre os mananciais hídri- licitação (em 2022)
Arco Viário Metropolitano, ligando o polo industrial cos da região. para execução do
de Goiana ao Porto de Suape. O que o governo propõe projeto básico de
é um traçado que rasga a Área de Proteção Ambiental engenharia do Arco
O Fórum entende que exis- Viário
APA Aldeia-Beberibe, passando por cima da Mata da
Pitanga. Graças à luta do Fórum, que já provocou di-
tem alternativas – e propõe Impactos de uma rodovia
dois traçados – que evita-
versas audiências públicas e debates com universida- riam os danos ambientais e
sobre áreas florestais
des, secretarias estaduais e municipais, poderes legis- As artes da campanha do
ainda cumpririam o propó- » Perda e fragmentação de hábitats.
Arrudeia, assim como da
lativo e judiciário e imprensa, o traçado final da obra, sito de “desenvolver a região Escola do Exército, foram » Atropelamento de fauna silvestre.
até meados de 2023, ainda não foi definido. a oeste da capital”, um dos cedidas pelo designer » Aumento da crise hídrica na região.
Jorge Hopper » Extinção de espécies já ameaçadas.
objetivos do Arco Viário.
» Transporte de sementes de espécies
O Fórum, que entende a importância do Arco para o
exóticas invasoras.
desenvolvimento do Estado, criou em 2021 a campa- » Poluição sonora para espécies
nha “Arrudeia” (forma popular do verbo arrodear, ou dependentes de canto para reprodução.
rodear), com arte, camiseta, jingle, realização de lives » Poluição luminosa para espécies
notívagas.
e até uma ação nas escolas para a confecção de car-
» Poluição ambiental com partículas e
tinhas dos alunos ao governador do Estado pedindo detritos no ar, solo e corpos d’água, entre
que o traçado passasse por fora da APA. outros impactos.

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FÓRUM SOCIOAMBIENTAL DE ALDEIA | 20 ANOS DE LUTA

Escola do Exército ameaça


biodiversidade da APA.
Fórum propõe alternativas.
A construção da Escola de Sargentos de Armas do
Exército (ESA) na área onde fica o maior fragmento de
mata contínua da APA Aldeia-Beberibe é mais um pro-
jeto visto pelo Fórum Socioambiental como de impac-
to ambiental incalculável.

O projeto prevê o desmatamento de 188 hectares de


mata madura (que apresenta alta biodiversidade) para
a construção de uma escola, duas vilas militares e ins-
talações para um batalhão de comando e serviços. Cer-
ca de dez mil pessoas passarão a viver nessa área, onde
Proposta do governo e do Exército Proposta do Fórum para a ESA, na área do
se localiza o Centro de Instruções Marechal Newton para a ESA e o Arco Viário cortando a próprio Exército, próxima a Araçoiaba
Cavalcanti (CIMNC). APA Aldeia-Beberibe e ao traçado do Arco “arrudiando” a APA

O prejuízo ambiental é enorme, sobretudo aos rios e


nascentes responsáveis pelo abastecimento do reser- de Araçoiaba), onde 300 hectares já estão sem floresta. visto nas propostas originais. O que o Fórum procura
vatório (lago) de Botafogo, equipamento central do Sis- Essa localização fica bem próxima ao traçado sugerido deixar claro, tanto em relação ao Arco Viário quanto à
tema Botafogo, que fornece água a mais de 1 milhão de pelo Fórum para o Arco Viário Metropolitano. Escola de Sargentos, é que não é contrário aos empre-
pessoas na Região Metropolitana do Recife. Também endimentos, pois entende que são importantes para
neste caso o Fórum defende que sejam consideradas Se consideradas as alternativas pensadas pelo Fórum o desenvolvimento do Estado. O que defende é que
outras localidades. Uma opção é uma área do próprio para as duas obras, o desmatamento na APA Aldeia- sejam consideradas alternativas locacionais que não
Exército, dentro do próprio CIMNC (nas redondezas O CIMNC (no alto) e a maquete da Escola de Sargentos -Beberibe cairia para, ao menos, um terço do que pre- tragam danos ambientais.

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FÓRUM SOCIOAMBIENTAL DE ALDEIA

Presidente
HERBERT TEJO

Vice-presidente e diretora de Comunicação


LUDMILA PORTELA

Diretor Administrativo-Financeiro
NELSON BARCELLOS

Diretora de Meio Ambiente


GABRIELA GEHLEN

Diretoria de Relações Institucionais


ROSA SANTANA

Diretora Social
LUCIANE NASCIMENTO

Esta publicação foi produzida por Tatiana Portela com apoio de Hibernon Souza Cruz,
Gilberto Dias, Carlam Bezerra, Manoel Ferreira, Herbert Tejo e Antonio Portela.
As fotografias foram gentilmente cedidas por Mozart Souto.

* Se você ainda não faz parte do Fórum Socioambiental de Aldeia e gostaria de se engajar nesta luta,
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@forumsocioambientaldealdeia

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