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Aquino - Teodicéia PDF
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O P R O B L E M A DO M A L E DA L I B E R D A D E HUMANA
1. A p r e s e n t a ç ã o
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Trataremos particularmente de Espinosa: mas Hobbes pode ser entrevisto aqui, à medida
que no discurso de Leibniz o determinismo espinosano é sempre associado como similar
ao hobbesiano. Vale lembrar que o filósofo alemão chega a dedicar o primeiro Apêndice
de sua Teodicéia à discussão de algumas teses metafísicas de Hobbes (Réflexions sur
1'ouvrage que M . Hobbes a publié em anglais, de la liberte, de la nécessité et du hasard).
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AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio, trad. Ir. Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus,
1995, p. 154.
Leibníz e a Teodicêia 51
Deus como criador é pura positividade, tudo que deste decorre como
efeito não pode exprimir senão semelhante positividade, de tal maneira
que aquilo que denominamos "o mal" não pode ter existencialidade em si
mesmo, antes evidenciado a ausência de um bem como existência. A
definição do mal como essencialmente inexistente prepara a conclusão
seguinte, a propósito de sua origem: de onde provirá, uma vez que
enquanto carência não pode decorrer da causa absoluta e plena? Provém
de faltas humanas.
•'AGOSTINHO, Santo. Ob. cit, p. 192: "Por isso se diz, com absoluta verdade, que toda
natureza enquanto tal c boa. Mas se ela for incorruptível será melhor do que a corruptí-
vel. E se ela for corruptível - já que a corrupção não pode atingi-la senão tornando-a
menos boa, ela é indubitavelmente boa. Ora, toda natureza ou é corruptível ou incorrup-
tível. Portanto, toda natureza é boa. Denomino 'natureza' o que habitualmente se desig-
na pela palavra 'substância'. Conseqüentemente, posso dizer que toda substância é Deus
ou procede de Deus, e assim ludo o que c bom é Deus ou procede de Deus". Curiosa-
mente, Espinosa fará uso da identidade Deus-Natureza-Substância mas, como veremos,
para fins bem diversos daqueles pretendidos por Agostinho.
jejjerson Alves ae Aquino
O mal como ausência de bem não pode ser imputado a Deus: advém,
portanto, do homem e de sua livre disposição. A liberdade humana é a
responsável pelo mal-feito, e enquanto efeito da ação humana, o mal
como erro e corrupção, não pode ser imputado a Deus.
A liberdade humana aparece em Agostinho como uma "quebra" da
ordem causal pela qual vincularíamos o pecado à sua causa primeira:
enquanto dotado de livre-arbítrio, o homem é causa de seus erros e faltas.
O livre-arbítrio impõe-se como resposta última ao desvio do mundo e sua
corruptibilidade: em função da autonomia de seu agir, é o homem causa-
dor do mal.
Contudo, uma asserção tal conclama à inevitável indagação: se o
erro é causado pela liberdade humana, e a mesma é efeito da ação criado-
ra de Deus, não seria este o verdadeiro responsável pelo mal e, assim,
aniquilado não apenas o seu conceito de intrínseca bondade, como aquele
de uma pressuposta liberdade humana? Não teria sido o homem criado
para o pecado! Ou, antes, admitido que nem sempre tenha a humanidade
vivido em queda, admitido um pecado original, não seria Deus o autor
deste, uma vez ter criado o homem como passível de pecar? Em suma, a
liberdade humana não apareceria como conflitante com a onipotência
divina, sabedora das conseqüências de sua ação? Não seria a presciência
divina contraditora da idéia de uma autonomia humana para o agir, tanto
bem como mal? Tais são as formulações que tanto inquietam Evódio, e às
quais Agostinho procura fornecer solução.
Somos levados a acreditar que a presciência divina implica identida-
de com a determinação absoluta causal: a dissociação feita por Agostinho
entre conhecimento dos efeitos e determinação dos efeitos é crucial à
compreensão de sua argumentação perante a objeção de Evódio. A força
de sua indagação conclama o esforço do mestre e amigo à formulação de
uma dissociação entre conhecer o que devêm, e coagir o devir a vir a ser.
Com efeito, para o Bispo de Hipona o conhecimento das determinações
seguintes à causa atuante primeira não exige a absolutidade dos efeitos
como necessidade: que Deus tivesse conhecimento prévio da queda
humana, em nenhum momento significa que seja seu causador, posto não
tê-la forçado a acontecer. Assim, se Deus-causa primeira é isento da res-
ponsabilidade do mal, a que se deve este? Já o vimos: ao livre-arbítrio
humano, que em sua autonomia de julgamento é capaz de inclinar-se à
perfeição ou corrupção.
E aqui as duas extremidades da questão dão-se as mãos: se quanto à
essência, o mal é uma carência, não podendo advir de uma Natureza boa
em si mesma, e enquanto origem é causado pelo libero arbitrium huma-
no, segue-se que o próprio poder de escolha não pode em si mesmo ser
visto como um mal e, autônomo, pode igualmente propender para a reta
ação, a imitado Dei, a assunção da beata vita. A indeterminação da esco-
Leibniz e a Teodicéia 53
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ESPINOSA, B. Ética demonstrada à maneira dos geómetras, Parte I ; trad. Joaquim de
Carvalho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 114. Todas as referências a Espinosa limi-
tar-se-âo à Parte I da Ética: citamos aqui a partir da tradução de Joaquim de Carvalho
por a considerarmos depositária de confiança. Não deixamos, no entanto, de incluir a
citação original, segundo a edição latim-francês Seuil (Paris, 1999), apresentada, tradu-
zida e comentada por Bernard Pautrot: "His Dei naturam, ejusque proprietates explicui,
ul, quòd necessário existit; quòd sit unicus; quòd ex sola suae naturae necessitate sit. &
agat; quòd sit omnium rcrum causa libera, & quomodò; quòd omnia in Deo sint, & ab
ipso ità pendent, ut sine ipso nec esse, nec concipi possint; & denique quòd omnia à Deo
fuerint praedeterminata, non quidem ex libertate voluntatis, sive absoluto beneplácito,
sed cx absoluta Dei natura, sive infinita potentià", p. 78.
54 Jefferson Alves de Aquino
rização por que passa a metafísica moderna, à medida que afirma cada
vez mais a independência das luzes em oposição à autoridade escriturísti-
ca, reproduzindo na esfera do pensamento as inovações decorrentes de
uma sociedade européia crescentemente laica, em que o Estado busca
afirmar sua independência ante o poder religioso.
René Descartes (1596-1650) aparece-nos nesse contexto como um
pensador que ilustra exemplarmente o novo direcionamento do pensa-
mento moderno, a um só tempo procurando manter teses centrais da teo-
logia medieval, como igualmente lhes oferecendo um novo direciona-
mento, muito mais secular, muito menos teológico. O tratamento
cartesiano dos problemas legados pela metafísica medieva pretende pres-
cindir da dogmática cristã como autoridade primeira, a partir da conside-
ração de que o entendimento bem direcionado é capaz de eliminar todos
os problemas advindos de um seu mau uso, afirmando-se assim como
auto-suficiente. Trata-se aqui, menos de oferecer soluções cruciais aos
problemas da metafísica, mais de evidenciar que nem mesmo estes são
insolúveis quando submetidos às regras para o bom direcionamento do
espírito, pelas quais alcançamos idéias legitimamente claras e distintas.
Na verdade, é subjacente a todo o conjunto das suas Meditationes de
prima philosophia essa condução metodológica do discurso, de tal modo
que o conforto estabelecido pela certeza da existência de Deus e da dis-
tinção da alma e do coipo apenas vem corroborar a eficácia de uma razão
que já encontrara para si o reto caminho, que já se evidenciara (clara e
distintamente) como suficiente. Por isso não acusemos de pietista Blaise
Pascal (1623-1662) quando em seus Pensamentos nos diz: "não posso
perdoar Descartes; ele bem gostaria, em toda sua filosofia, de poder pas-
sar sem Deus; mas não pôde impedir-se de O fazer dar um piparote para
pôr o mundo em movimento; depois do quê, não tem mais nada o que
fazer de Deus" . O fato é que este conterrâneo de Descartes soubera bem
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PASCAL, Blaise. Oeuvres completes. Paris: Éditions du Seuil, 1998 p. 640: "Je ne puis
pardonner à Descartes: i l voudrait bien, dans toute la philosophie, se pouvoir passer de
Dieu; mais i l n'a pas s'empecher de lui donner une chiquenaude pour mettre le monde
em mouvement; après cela, i l n'a plus que faire de Dieu".
Leibniz e a Teodicéia 55
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DESCARTES, R. Príncipes de la philosophic, in: Oeuvres et leitres; textcs présentés par
André Bridoux. Paris: Bibliothèquc de la Plêiade, 1953, pp. 588-589: "Mais, à cause que
ce que nous avons depuis connu de Dieu nous assure que sa puissance est si grande que
nous ferions un crime de penser que nous eussions jamais été capables de faire aucune
chose qu'il ne l'cut auparavant ordonée, nous pourrions aisément nous embarrasser en
des difficultés três grandes si nous entreprenions d'accorder la liberté de notre voionté
avec ses ordonnances". Façamos notar que Leibniz chama a atenção para esse irecho dos
Princípios em sua Teodicéia, censurando o filósofo francês por sua confissão de igno-
rância: "Ademais, o senhor Descartes pede uma liberdade que não é necessária, queren-
do que as ações dos homens sejam inteiramente indeterminadas, o que não ocorre nun-
ca". Cf. Essais de Théodicée, in: Oeuvres de Leibniz, Nouvelle Edition, collalionée sur
les meilleurs textes, et précédée d'une introduction, par M . A. Jacques. Deuxième serie.
Paris: Charpentier, Libraire-Éditeur, 1846, p. 98: "De plus, M . Descartes demande une
liberté dont on n'a point besoin, en voulant que les actions de la voionté des hommes
soient cnlièrement indeterminées, ce qui n'arrive jamais".
56 Jefferson Alves de Aquino
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BAYLE, Pierre. Écrits sur Spinoza, textes choisis et presentes par Françoise Charles-
-Daubert et Pi erre-François Moreau. Berg International, 1984, pp. 29 e 60. A propósito,
diria Voltaire (a quem mais tarde retornaremos): "Censurou-se o sábio Bayle por haver
atacado duramente Spinoza sem compreendê-lo. Duramente, convenho. Injustamente, não
creio. (...) Bayle viu como é insensato fazer de Deus astro e rã, pensamento e estrume, ven-
cedor e vencido. Viu que essa fábula está muito acima de Proteu. Talvez Bayle devesse ter¬
-se detido no termo 'modalidade', em vez de 'parte', pois é o termo 'modalidade' que Spi-
noza sempre usa. Mas é igualmente impeitinente, se não me engano, que o excremento de
um animal seja uma modalidade ou uma parte do Ser supremo". O filósofo ignorante,
p. 311. E no Dicionário filosófico (de 1752); "Spinoza não só de certeza era ateu mas até
pregou o ateísmo: o que também é garantido é que não participou do assassinato jurídico
de Bameveldt; nem foi ele que esquartejou os dois irmãos de Vitt e que os comeu assados
na grelha". VOLTAIRE, François Marie Arouet. Cartas inglesas; dicionário filosófico; o
filósofo ignorante; tratado de metafísica; trad. Bruno da Ponte, João Lopes Alves e Mari¬
lena de Souza Chauí. São Paulo, Abril Cultural, 1984. (Coleção Os Pensadores)
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ESPINOSA, B. Ob. cit, p. 114. "Todos os prejuízos que me cumpre indicar dependem de
um só, a saber: os homens supõem comumente que todas as coisas da Natureza agem,
como eles mesmos, em consideração de um fim, e até chegam a ter por certo que o pró-
prio Deus dirige todas as coisas para determinado fim, pois dizem que Deus fez todas as
coisas em consideração do homem, e que criou o homem para que este lhe prestasse
culto". Na edição Seuil (pp. 79-80): "Et quoniam omnia, quae hie indicare suscipio,
praejudicia pendent ab hoc uno, quòd silicet communiter supponant homines, omnes res
naturales, ut ipsos, propter finem dirigere, pro certo statuant: dicunt enim, Deum omnia
propter hominem fecisse, hominem autem, ut ipsum coieret".
Leibniz e a Teodicéia 57
4. Leibniz ou o Otimismo
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ESPINOSA, B. Ob. cit, definição VII (p. 76): "Diz-se livre o que existe necessariamente
pela necessidade de sua natureza e por si só é determinado a agir; c dir-se-á necessário,
ou mais propriamente coagido, o que é determinado por outra coisa a existir c a operar
de certa e determinada maneira". Deus é causa absolutamente livre porque absoluta-
mente determinado apenas por si mesmo a agir; o homem, enquanto modo singular de
expressão da realidade universal, é determinado por esta e, portanto, livre apenas no
sentido de agir conforme a uma maior compreensão das forças que sobre ele atuam. Na
edição Seuil: "VII. Ea res libera dicitur, quae ex solâ suae naiurae necessitate existit, &
à se solâ ad agendum delcrminatur: Necessária autem, vel potiüs coacla, quae ab alio
determinatur ad existendum, & operandum certa, ac determinnatã ralione", p. 16.
Leibniz e a Teodicéia 59
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LEIBNIZ, G.W. Ob. cit, p. 43: "On fera voir que la nécessité absoltt, qu'on appellc aussi
logiquc et métaphysique, et quelqucfois géométrique, et qui serait seule à crainde, nc se
trouve point dans lcs actions libres; ct qu'ainsi la liberté est exemple, non-seulemcnt de
la contrainte, mais encore de la vraie nécessité. On fera voir que Dieu même, quoiqu'i!
choisisse de toujours le meilleur, n'agit point par une nécessité absolu; et que le lois de
la nature que Dieu lui a prescrits sur la convenance tiennent le milieu entre les vérités
geométriques absoluincnt nécessaires et les décrets arbitraires: ce que M . Bayle et
d'autrcs nouveaux plulosophes n'ont pas assez compris" (itálicos no original).
60 Jefferson Alves de Aquino
ser, será" ou, em termos atuais, "seja o que Deus quiser". Uma tal aceita-
ção do fado como independente de qualquer intervenção humana, conduz
ao amoralismo inconseqüente ou, quando menos, à irresponsabilidade e
displicência das escolhas, de onde deriva a expressão "razão preguiçosa"
(conforme também o Discurso de metafísica, §4). Atém-se esta à consi-
deração do destino como inevitabilidade e daí extrai todo seu desânimo:
para Leibniz, essa é a mais equivocada das atitudes possíveis porque anu-
la por completo o poder humano de ação, resumindo-o a mero efeito de
causas diversas, em última instância já determinadas todas pela onipotên-
cia de Deus, causa primeira de tudo. Outras posturas assumidas são aque-
las denominadas pelo filósofo de fatum mahometanum, fatum stoicum e
fatum christianum, a saber: respectivamente, a postura daquele que con-
siderando o destino como inevitável, afronta-o e abre-se a todos os riscos
e perigos, qual o fazem os turcos (citaria Leibniz os homens-bomba de
hoje?); em segundo lugar aqueles que diante da inescrutabilidade do des-
tino, procuram manter-se estoicamente tranqüilos, seguros de si; e final-
mente os cristãos que somam à resignação estóica a alegria pela confian-
ça na bondade de seu destino como projeto harmônico e divino. Assim,
para evitar a inconsequência da razão preguiçosa, e ainda a mera resigna-
ção ante a ação das causas exteriores como a força impessoal e sem fim
predeterminado (sem finalidade direcionada e em harmonia com a bon-
dade de Deus criador) é que Leibniz escreve sua Teodicéia e, conforme já
o asseguramos, retoma os vínculos com o otimismo agostiniano.
Tomaremos e eixo central da argumentação leibniziana a partir da
distinção feita, por um lado, entre necessidade, contingência, e determi-
nação e, por outro, entre necessidade moral e necessidade metafísica. A
primeira distinção trata de oferecer resposta à suposta única ordem possí-
vel de mundo, tal como postulada por Hobbes e Espinosa. Leibniz trata 12
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Conforme assinalamos na Apresentação, Hobbes e Espinosa aparecem na Teodicéia
como igualmente neccssitaristas e negadores de qualificativos morais divinos: "Quiçá
cm Hobbes c em Espinosa sabedoria, bondade, justiça, não sejam senão ficções em
relação a Deus e ao universo, a causa primeira agindo, segundo eles, pela necessidade
de sua potência e não pela escolha de sua sabedoria: sentimento cuja falsidade mostrei
suficientemente". Ob. cit, p. 389: "Peut-êtrc que chez M. Hobbes, comme chez Spino-
sa, sagesse, bonté, justice ne sont que des fictions par rapport à Dieu et à 1'univers; la
cause primitive agissant, selon eux, par la necessite de sa puissance, et non par le choix
de sa sagesse: sentiment dont j ' a i assez montré la fausseté".
Leibniz e a Teodicéia 61
Leibniz tal hipótese é idéia inaceitável, posto não existir a completa inde-
terminação. Nesse sentido a liberdade humana em Leibniz não seria a
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Em se tratando de um aprofundamento da refutação de Leibniz ao argumento do equi-
líbrio perfeito do "asno de Buridan", argumento para o qual Espinosa também procura
oferecer resposta (cf. Ética II, escólio da proposição XLIX), ver DANOWSKI, Débo-
rah: "Indiferença, simetria c perfeição segundo Leibniz", in: Kriterion, Revista de Filo-
sofia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Belo Horizonte, n°
104, Dez/2001, pp. 49-71.
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Para uma crítica à formulação leibniziana acerca do "possível", cf. dois textos de MAR-
QUES, Edgar: "A noção de 'possível em si' e a solução leibniziana do problema da
liberdade", in: Analytica, Revista do Departamento de Filosofia da Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro, vol. 5, número 1-2, 2000, e "Observações críticas acerca da
noção leibniziana de decretos divinos possíveis" ín: Kriterion, Revista de Filosofia da
Faculdade de Filosofia c Ciências Humanas da UFMG. Belo Horizonte, n° 104,
Dcz/2001,pp. 97-112.
62 Jefferson Alves de Aquino
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LE1BINIZ, W.G. Discours de métaphysique, in: Choix de Textes avec Etude du Sys-
teme philosophique et notices biographique et bibliographique par Pau! Archambault.
Paris, Vald. Rasmusse Éditeur, 1927, p. 116: "tout doit réussir le plus grand bien des
Leibniz e a Teodicéia 63
5. Considerações Finais
bons; que les justes seront comme des soleils, et que ni nos sens, ni notre esprit n'a ja-
mais rien goüté d'approchant de la félicité que Dieu prepare à ccux qui 1'aiment".
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Com que desânimo, a dada altura, Cândido lamenta: " - O Pangloss! - exclamou Cân-
dido. — Não tinhas imaginado esta abominação; não há remédio, acabo renegando o teu
otimismo. - Que c otimismo? - perguntou Cacambo. - É a maneira de sustentar que
tudo está bem quanto tudo está mal - suspirou Cândido". Cf. Voltaire, Cândido ou o
otimismo, in: Contos, trad. Roberto Domênico Proença. São Paulo: Editora Nova Cul-
tural, 2002, p. 191.
64 Jefferson Alves de Aquino
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Não c suficiente que Santo Agostinho nos diga (Cap. 23 do De Libero arbitrium,
pp. 229-230) que o sofrimento das crianças dá-se com vistas a "abalar a dureza do
coração dos mais velhos ou pôr em prova sua fé", sendo mais tarde merecedoras de
"feliz compensação" a elas reservada por Deus. Para Ivan, tudo isso pode ser verdade,
pouco importando: trata-se de recusar como indigna uma tal justificativa, assumindo-se
assim a atitude mais legítima humanamente, a da aceitação dc seu semelhante padecen-
te e de repúdio ao sofrimento como meio para realização de projetos providenciais.
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SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo, p. 9. Trad. Rita Correa Gue-
des. São Paulo: Abril Cultural, 1987. {Coleção Os Pensadores)
Leibmz e a Teodiceia 65
Referências bibliográficas
AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio; trad. Ir. Nair de Assis Oliveira. São Paulo:
Paulus, 1995. (Patrística)
BAYLE, Pierre. Écrits sur Spinoza; textes choisis et presentes par Françoise
Charles-Daubert et Pierre-François Moreau. Berg International, 1984.
(Colíection L'Autre Rive)
DESCARTES, René. Oeuvres et lettres; textes présentés par André Bridoux.
Paris: Bibliothèque de la Plêiade, 1953.
DANOWSKI. Déborah. "Indiferença, simetria e perfeição segundo Leibniz", in:
Kriterion, Revista de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da UFMG. Belo Horizonte, n° 104, Dez/2001, pp. 49-71.
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Obras completas (vol. IV); trad. Oscar Mendes. Rio de
Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1995.
EPICURO. Antologia de textos; trad. Agostinho da Silva. São Paulo: Abril
Cultural, 1985. (Coleção Os Pensadores)
ESPINOSA, Baruch. Pensamentos metafísicos; Tratado da correção do intelecto;
Ética; Tratado político; Correspondência; seleção e notas de Marilena de
Souza Chauí; trad. Marilena de Souza Chauí... [et al.J São Paulo: Abril
Cultural, 1983. (Coleção Os Pensadores)
—. Éhiique (Bilingue Latin-Français); présenté, traduit et commenté par
Bernard Pautrat. Paris: Éditions du Seuil, 1999.
LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. Oeuvres; collationée sur les meilleurs textes, et
précédée d'une introduction, par M . A. Jacques. Deuxième série. Paris:
Charpentier, Libraire-Éditeur, 1846.
•. Choix de Textes avec Étude du Système philosophique et notices
biographique et bibliographique par Paul Archambault. Paris: Vald.
Rasmusse Éditeur, 1927. (Les Grands Philosophes Français et Étrangers)
MARQUES, Edgar. " A noção de 'possível em si' e a solução leibniziana do
problema da liberdade", in: Analytica, Revista do Departamento de
Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vol. 5, número 1-2,
2000.
66 jejjerson Alves ae Aquino
RÉSUMÉ