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Aula 3

EUANGIOSPERMAS: Dicotiledôneas 1
Ascarina, mas em Hedyosmum o carpelo é
subtendido por uma bráctea e a flor possui um
Chloranthaceae discreto perianto trilobado no ápice. Em ambos
Árvores, arbustos, raramente os casos, o conectivo é prolongado e o estigma é
escandentes, ou ervas; ramos com nós marcados.
amplo e seco, sugerindo anemofilia. Sarcandra e
Estípulas reduzidas. Folhas opostas, simples, Chloranthus, por outro lado, possuem flores
serreadas, peninérvias, as bases dos pecíolos bissexuadas, eventualmente consideradas
unidas em torno do nó, aromáticas (óleos pseudantos derivados da fusão de flores
essenciais) quando maceradas. Inflorescência masculinas e femininas mais simples, Sarcandra
espiciformes ou racemosas. Flores bi ou
com um estame e Chlorantus com três.
unissexuadas (plantas geralmente dióicas), mono Sarcandra, possui três espécies e ocorre no
ou aclamídeas, actinomorfas ou zigomorfas; as sudeste asiático e no oeste do Pacífico, incluindo
estaminadas sem perianto, com 1(-3, os laterais
Nova Caledônia, Nova Zelândia e Nova Guiné,
bisporangiados) estame; as pistiladas com possuindo também uma espécie em Madagascar,
perianto trilobado, ovário ínfero, trigônio, eventualmente considerada um gênero à parte,
unilocular, estilete curto ou ausente, estigma
Ascarinopsis. Chloranthus, com 16 espécies,
amplo e seco ou diminuto e secretor; placentação ocorre na China, Japão e Índia. As flores nos
apical, com 1 óvulo ortótropo. Frutos drupa; dois gêneros emitem odor e mudam de cor
semente 1. N = 8, 14, 15.
durante a maturação, produzem menos pólen e
possuem estigma reduzido e secretor, sugerindo
polinização por insetos, provavelmente besouros
ou moscas.

Chlorathus
A C Hediosmum Ascarina

Fig. 1 Chloranthaceae: A-B planta com frutos. C.


distribuição da família.

Chloranthaceae possui distribuição


pantropical, com cerca de 75 espécies e quatro
gêneros. Hedyosmum e Ascarina possuem
geralmente flores unissexuadas. Ascarina, com Sarcandra
dez espécies, ocorre na Malásia, Polinésia, Nova
Zelândia e Madagascar. Hediosmum, com 40 Fig. 2. Flores dos gêneros de Chlorantaceae.
espécies, é principalmente neotropical, com
apenas uma espécie asiática. Hediosmum A estrutura reprodutiva bastante
brasiliensis está amplamente distribuído no reduzida em Chloranthaceae sempre foi motivo
Brasil, onde é utilizado como digestivo, para controvérsias em relação a sua posição
diurético, tônico e afrodisíaco. As flores taxonômica e suas relações de parentesco.
masculinas em ambos os gêneros são Chloranthus já foi considerado em Loranthaceae
constituídas por apenas um estame bracteado e Caprifoliaceae, e Chlorantaceae em Piperales,
(veja Leroy 1983 para uma interpretação Magnoliales, Laurales e Annonales, até ser
diferente das flores masculinas de Hedyosmum); finalmente incluída em sua própria ordem,
as femininas possuem apenas um carpelo em Chloranthales, na década de 1980. Fósseis de
grãos de pólen clorantóides estão entre os relação entre esses grupos. Mais tarde, Bentham
registros fósseis mais antigos de angiospermas, o e Hooker (1862) adicionaram Lauraceae em
que somado à ausência de vasos em Sarcandra, Ranales. Eichler (1890) e Engler & Prantl (1891)
foi um argumento importante para considerar as contribuíram com o conceito de Ranales
Chloranthaceae como a linhagem que primeiro acrescentando Hernandinaceae, Monimiaceae e
teria divergido na evolução das angiospermas, e outras famílias. Finalmente, Bessey (1915)
que portanto, as primeiras flores teriam sido construiu a primeira classificação de plantas
reduzidas. supostamente filogenética, acrescentando
Piperaceae, Saururaceae e Chloranthaceae,
estabelecendo as Magnoliidae com cinco
MAGNOLIÓIDES linhagens: Magnoliales, Laurales, Piperales,
Ao conduzir sua classificação, de Nymphaeales e Ranunculales-Papaverales. De
Candolle considerou Magnoliales (incluindo modo geral, Takhtajan, Cronquist e Dahlgren
Annonaceae, Illicium e Drymis), Nymphaeales e seguiram Bessey com poucas inovações.
Ranuculales-Papaverales em seqüência, no início
de sua classificação, sugerindo assim uma

Fig. 3. Esquema de relacionamentos evolutivos em angiospermas segundo Takhtajan.

O sistema de Cronquist (1981, 1988), Caryophyllidae, Dilleniidae e Rosidae; Asteridae


uma adaptação do sistema de Bessey (1915) e teria evoluído a partir de Rosideae. A subclasse
Takhtajan (1964, 1966), considerou seis incluía oito ordens, tendo como grupo ancestral
subclasses de dicotiledôneas, incluindo as Magnoliales. As demais ordens teriam
Nymphaelidae e Ranunculidae em Magnoliidae. derivado de Magnoliales, exceto Ranunculales e
Ele deixou explicito que Magnoliidae era um Papaverales, que estariam relacionadas com
grupo parafilético, de onde teriam evoluído as Illiciales num ramo à parte. As duas ordens
demais subclasses – Hammamelidae, estariam incluídas em Magnoliidae por causa do
gineceu apocárpico e elementos florais evolução, entretanto, teria havido uma tendência
espiralados em Ranunculales, além dos à fixação do número floral em 3, 4 ou 5 e o
numerosos alcalóides benzil-isoquinolínicos padrão verticilado das peças (a seleção do padrão
característicos da subclasse presentes em verticilado deve ter facilitado a formação de um
Papaverales. A relação delas com Illiciales era cômpito interno em gineceus sincápicos). Os
sustentada pelo pólen triaperturado nas três estames são caracterizados em alguns grupos
ordens. Entretanto, enquanto Ranunculales e pela quantidade elevada de tecidos ao redor dos
Papaverales possuem pólen tricolpado, em sacos polínicos e falta de uma diferenciação
Illiciales ele é tricotomonossulcado, uma entre anteras e filetes. Esses estames laminares
modificação do monossulcado; atualmente, eram considerados primitivos, mas como as
Ranunculales e Papaverales estão posicionadas plantas desse grupo são em muitos casos
na raiz das eudicotiledôneas. protogínicas, polinizadas por besouros,
mudanças para esse estado poderiam ser
justificadas pela maior proteção dos sacos
polínicos. Num segundo momento, eles
poderiam ajudar também na atração de
polinizadores, tornando-se vistosos e produzindo
odores. Com a diminuição do tecido, passou a
haver uma diferenciação entre estilete e anteras e
a forma ficou mais conservativa.
O gineceu é geralmente apocárpico
(como também o é nas primeiras angiospermas
fósseis) ou unicarperlar, mas não é raro a
presença de um compito, região que permite a
distribuição dos tubos polínicos entre os
carpelos. Nos grupos menos especializados, o
cômpito é geralmente extra-ginoecial, composto
por um trato comum secretado pela região
Fig. 4. Esquema de relacionamentos evolutivos em estigmática, formando uma camada mucosa
Magnoliopsida (dicotiledôneas) segundo Cronquist. sobre o gineceu que funciona, então, como um
hiperestigma. A sutura do carpelo é a região por
Apesar do reconhecimento das
onde o tubo polínico germina ao penetrar no
magnoliidae anteceder a teoria evolutiva, ele
ovário e é responsável pelas reações de
influenciou diretamente as interpretações sobre a
incompatibilidade. As superfícies internas dos
origem e evolução das angiospermas através da
carpelos são geralmente fundidas pós-
teoria antostrobilar. Essa teoria se baseia
genitalmente, mas em alguns casos a abertura
principalmente na hipótese de homologia entre
não é obstruída e sim preenchidas por uma
as flores das angiospermas e os estróbilos
secreção, como em Nymphaeales. Os óvulos são
bissexuados de gimnospermas fósseis
geralmente crassinucelados, bitegumentados (os
(Benmnettitales). Segundo essa teoria, seria em
unitegumentados parecem ser derivados) e
Magnoliidae que encontraríamos a maioria das
anátropos (os ortótropos parecem ter surgido
características consideradas primitivas para as
diversas vezes, geralmente em carpelos
angiospermas: hábito lenhoso, alcalóides benzil-
uniovulados), distribuídos em um a muitos por
isoquinolínicos, óleos essenciais, flores
carpelos. Nesses grupos, a polinização é
bissexuadas, com peças do perianto, androceu e
realizada por besouros e moscas. A corola
gineceu grandes, livres e dispostas
resultou da modificação de estaminódios
espiraladamente, perianto não diferenciado em
periféricos.
cálice e corola, estames laminares e numerosos,
Estudos filogenéticos baseados em
pólen monossulcado, carpelos sem sutura, óvulo
análise de seis regiões do DNA (Zannis et al.
anátropo e bitegumentado e cantarofilia
2003) demostraram com boa sustentação para os
geralmente associada à termogênese.
agrupamentos que boa parte das Magnoliidae
As Magnoliidae ficaram conhecidas
formam de fato um grupo monofilético, mas
então por representarem o grupo mais
Amborella, gênero monotípico da Nova
conservativo dentre as angiospermas. O número
Caledônea (antes incluído em Lauraceae),
e a filotaxia dos carpelos e das demais partes
Nymphaeales e Illiciales (incluindo Illiciaceae,
florais são bastante variáveis. Ao longo da
Trimeniaceae e Austrobaileyaceae-
Schizandraceae), não pertencem a esse clado, Chloranthaceae, está incluída dentre as
mas formam um grado na base das angiospermas dicotiledôneas (como aqui delimitada), mas
(ANITA), anterior ao surgimento das também foi excluída da subclasse, se
monocotiledôneas (incluindo Ceratophyllum) e posicionando como grupo irmão do clado
das dicotiledôneas (incluindo as Magnoliidae).

Fig. 5. Cladograma com dados moleculares (Zannis et al. 2003). O retângulo negro delimita as angiospermas, o azul as
euangiospermas, o verde as dicotiledôneas e o vermelho as eu mangnoliidae.

composto por Magnoliidae e as eudicotiledôneas. sua maioria por famílias que representam grupos
As Magnoliidae ficaram restringidas a relictuais na região do Pacífico, estando
um grupo composto pelo par Piperales (incluindo caracterizadas por alcalóides, protoginia, óleos
Aristolochiaceae) e Canellales (incluindo essenciais que exalam odor típico das chamadas
Winteraceae), aparecendo como grupo irmão do plantas primitivas, estigma secretor e formação
par composto por Laurales (incluindo de cômpito.
Monimiaceae e afins) e Magnoliales (incluindo
Annonaceae). Magnoliidae é composta então em
MAGNOLIALES Magnoliaceae inclui aproximadamente
Magnoliales inclui seis famílias, 220 espécies, cerca de 60 nos neotrópicos
Annonaceae, Degeneriaceae (duas espécies de (apenas quatro no Brasil), o restante no sudeste
Fiji), Eupomatiaceae (apenas duas espécies, leste asiático. Estudos morfológicos (Li & Conran
da Austrália e Nova Guiné), Himantandraceae, 2003) e moleculares (ndhF; Kim et al. 2001) têm
Magnoliaceae e Myristicaceae. considerado mais prudente reduzir os 10-12
gêneros da família à apenas dois, Liriodendron,
com uma espécies na América do Norte e outra
Magnoliaceae na China, e Magnolia, incluindo os demais
Árvores ou arbustos; caracterizada pela gêneros. As flores são termogênicas, odoríferas,
produção de óleos essenciais e alcalóides benzil-
atraindo insetos, principalmente besouros à
isoquinolínicos. Estípulas, geralmente grandes, procura de pólen (Azuma et al. 1999), e as
protegendo o meristema apical, caducas, sementes são dispersadas principalmente por
deixando uma cicatriz anular no ramo. Folhas aves. Liriodendron, no entanto, é polinizado por
alternas, espiraladas, simples, inteiras (lobadas abelhas e seus samarídeos dispersados pelo
em Liriodendron), peninérvias. Flores solitárias,
vento. Algumas espécies são utilizadas como
terminais, vistosas, bissexuadas, actinomorfas, ornamentais na urbanização de cidades.
hipóginas, geralmente monoclamídeas, com
receptáculo alongado. Tépalas petalóides, 6 a
numerosas, livres, eventualmente arranjadas em Annonaceae
verticilos trímeros. Estames numerosos, livres, Árvores a subarbustos ou lianas (raras
surgindo de maneira centrípeta, dispostos nos neotrópicos); caule aéreo, eventualmente
espiraladamente, com filetes curtos, conectivos subterrâneo; ramos fibrosos; caracterizada por
expandidos e anteras lineares com deiscência óleos essenciais e alcalóides benzil-
longitudinal; pólen geralmente monossulcado. isoquinolínicos. Estípulas ausentes. Folhas
Gineceu apocárpico, eventualmente passando a alternas, dísticas, simples, inteiras, peninérvias,
sincárpico, numerosos carpelos (até 220, eventualmente com domácias na axila das
raramente 1) dispostos espiraladamente ou de nervuras secundárias. Inflorescências rifídios,
maneira irregular; placentação marginal, eventualmente flores solitárias. Flores
geralmente 2 óvulos anátropos por carpelo. geralmente bissexuadas, actinomorfas, trímeras,
Fruto folículários deiscentes ou indeiscentes e hipóginas, diclamídeas, heteroclamídeas. Sépalas
bacáceo, freqüentemente agregados (samarídeos 3, livres a conadas na base. Pétalas 6, geralmente
em Liriodendron); sementes 1-2, testa livres, espessas, cores claras, raramente
geralmente vistosa. X = 19. vermelhas ou roxas, dispostas em dois verticilos.
Estames geralmente muitos, livres, laminares,
dispostos espiradamente de maneira compacta
em um disco formado pela reunião dos
conectivos, expandidos e lignificados no ápice;
grãos de pólen em mônades, tétrades ou políades,
A B geralmente monossulcado a inaperturado.
Gineceu apocárpico, eventualmente passando a
sincárpico, ovário súpero, numerosos (até 400,
raramente apenas 1) carpelos dispostos
espiralamente de maneira compacta,
freqüentemente cobertos por um exsudado
pegajoso secretado pelos estigmas e que
funciona como cômpito externo; placentação
lateral a baso-lateral, 1-muitos óvulos anátropos
por carpelo. Fruto geralmente carpídios
bacáceos indeiscentes agregados; sementes 1 a
C D muitas por carpídio, freqüentemente ariladas N =
7-9.
Fig. 6. Magnoliaceae: A. flor, estádio feminino; B.
distribução geográfica. C. detalhe da flor, estádio masculino;
D. fruto.
A B pinha e a fruta-do-conde (A. squamosa). A
madeira é utilizada como lenha, ou na construção
de canoas e pontes.

Myristicaceae
Árvores, eventualmente arbustos;
produção de exsudado vermelho no troco, mais
claro nos ramos, óleos essenciais e alcalóides
indólicos. Estípulas ausentes. Folhas alternas,
dísticas, simples, inteiras. Inflorescências
terminais, eventualmente caulifloras, corimbosas
C D ou racemosas. Flores unissexuadas (plantas
Fig. 7. Annonaceae: A. flor com pétalas removidas, geralmente dióicas), actinomorfas, pequenas (até
mostrando o androceu e o gineceu; B. fruto sincárpico; C. 5 mm), hipóginas, monoclamídeas. Tépalas
flor e fruto apocárpico; D. distribuição geográfica. geralmente 3, espessas, cores claras, conadas.
Estames 3 a muitos, conados na base, anteras
Annonaceae inclui mais de 2.500
bisporangiadas; grãos de pólen monossulcados a
espécies e 135 gêneros, possuindo distribuição
inaperturados. Gineceu unicarpelar, ovário
pantropical. Nos neotrópicos, ocorrem 900 (260,
súpero, unilocular, estilete curto ou ausente,
no Brasil) espécies e 40 gêneros (seis endêmicos
estigma bilobado; placentação basal ou quase, 1
do Brasil), destacando-se Guateria, com 265
óvulo anátropo. Fruto baga chegando a 5 cm
espécies, Annona com 150, Duguetia com 95, e
diâm., bivalvada, deiscente; semente 1,
Xylopia com cerca de 60 espécies, essa última
envolvidas por um arilo carnoso e vistoso
ocorrendo também na África, Madagascar,
derivado do funículo. N = 9, 21, 25.
Austrália e Ilhas do Pacífico. São
preferencialmente plantas florestais, mas
ocorrem também em vegetações abertas,
cerrados e restingas.
Análises filogenéticas com dados
morfológicos, palinológicos e moleculares
dividem as Annonaceae (excluindo Anaxagorea,
grupo irmão das demais) em dois grupos
principais: um com pólen inaperturado, incluindo
os principais gêneros neotropicais, com frutos
sincárpicos, e outro com pólen monossulcado ou
dissulcado, principalmente asiático, incluindo os
gêneros neotropicais com sépalas imbricadas e
frutos apocárpicos.
As flores são termogênicas,
freqüentemente odoríferas, podendo apresentar
corpos de tecido nutritivo ou nectários
internamente. A polinização é efetuada
principalmente por besouros e moscas, de acordo
com o tamanho das flores. Em alguns grupos
como Annona, as pétalas internas formam uma
câmara floral que chega a abrigar dezenas de
besouros, os quais encontram nessas flores
proteção, alimento (pólen) e parceiros para o
Fig. 8. Myristicaceae: ilustração da nóz-moscada.
acasalamento. A rigidez floral está associada à
cantarofilia, amenizando os danos provocados Mysristicaceae possui distribuição
pela voracidade dos besouros que podem ficar pantropical, geralmente ocorrendo em florestas
aprisionados na flor até a queda das pétalas (veja pluviais, na Ásia (especialmente Malásia),
Gootsberger 1989, 1999). Os frutos são África, Madagascar e nas Américas, estando bem
dispersados por aves, mamíferos, répteis ou representada na Amazônia. Compreende cerca de
peixes. A família inclui algumas espécies 400 espécies e 19 gêneros, cinco gêneros e 84
frutíferas, como a graviola (Annona muricata), a
evolutiva compartilhada por essas famílias
devido a um potencial derivado de um ancestral
comum. O outro inclui as Siparunaceae,
Atherospermataceae e Gomortegaceae (com
apenas Gomortega Keule, espécie chilena
caracterizada pelo gineceu sincárpico e ovário
ínfero), caracterizadas pelos estames
bisporangiados, e cuja condição plesiomórfica da
placentação é basal, em contraposição a
A B placentação apical no grupo irmão (Renner
Fig. 9. Myristicaceae: A. flor; B. fruto cortado 1999).
longitudinalmente (note o latex avermelhado).

espécies nos neotrópicos, destacando-se Virola, Lauraceae


com 45 espécies. São polinizadas por pequenos Árvores, eventualmente arbusto,
insetos, provavelmente besouros, e dispersadas raramente trepadeira parasita áfila (Cassytha);
por aves. Economicamente, destaca-se Myristica caule geralmente aromático quando cortado;
fragans, nativa das ilhas Molucas, e cuja produção de alcalóides benzil-isoquinolínicos.
semente é a noz moscada, utilizada como Estípulas ausentes. Folhas geralmente alternas,
tempero e também em perfumes e velas. Na espiraladas, simples, inteiras, peninérvias,
América do Sul, espécies de Virola são utilizadas freqüentemente com pontuações translúcidas,
como alucinógeno em rituais indígenas. aromática quando macerada (óleos essencias).
Inflorescência racemosa ou tirsóide, geralmente
com muitas flores. Flores bi ou unissexuadas
LAURALES (plantas dióicas ou monóicas), trímeras,
Laurales inclui sete famílias actinomorfa, perígena ou hipógina, diclamídea,
predominantemente tropicais (Calycanthaceae, homoclamídea. Tépalas geralmente 6, livres,
Lauraceae, Hernandinaceae, Monimiaceae, claras. Estames geralmente 9, alternadamente
Siparunaceae, Gomortegaceae e conforme o verticilo, os do terceiro verticilo
Atherospermataceae) e cerca de 2400 espécies. É freqüentemente flanqueados por um par de
definida pela presença de flores perígenas, i.e. os glândulas, os do quarto estaminoidais; deiscência
carpelos são envolvidos de alguma forma em um valvar, 1-2 pares de valvas; pólen geralmente
receptáculo; carpelos uniovulados, folhas opostas inaperturado, esferoidal. Gineceu unicarpelar,
e polén inaperturado também podem ajudar no ovário súpero, freqüentemente envolvido em um
reconhecimento da ordem. Entretanto, em receptáculo; placentação apical, 1 óvulo
Calycanthaceae, família com apenas duas anátropo. Fruto drupa ou baga, pericarpo
espécies na América do Norte e três na China, e carnoso, subtendido ou envolvido pelo
grupo irmão das demais Laurales, ele é receptáculo (cúpula), freqüentemente
bissulcado, com exina columelar e delgada, contrastando o vermelho da cúpula com o verde
condição que também aparece na linhagem do fruto; 1 semente por fruto, sem endosperma.
Gomortegaceae-Atherospermataceae. O grupo X = 12.
central de Laurales está dividido em dois clados Lauraceae possui distribuição mundial,
principais. Um é caracterizado pela placentação com centros de diversidade no norte da América
apical (convergente em Chloranthaceae, do Sul, sudeste da Ásia e Madagascar. Inclui
Amborellaceae e Trimeniaceae, famílias aproximadamente 52 gêneros e cerca de 2.750
excluídas da ordem) e inclui as Monimiaceae (s. espécies, 27 gêneros e 1000 espécies
str., excluindo as Siparunaceae), Lauraceae e neotropicais (cerca de 390 no Brasil),
Hernandinaceae (família com cerca de 60 destacando-se Lisea (400), Ocotea (350),
espécie, presente no Novo e no Velho Mundo). Cryptocaria (350), Beilschmiedia (250), Persea
A relação entre essas três famílias ainda não está (200) e Nectandra (120 espécies). Algumas
resolvida (Renner 2000), mas parece preferível espécies emitem odor, atraindo abelhas, vespas,
assumirmos Hernandinaceae como grupo irmão moscas e mariposas em busca do néctar
de Lauraceae, principalmente baseado na produzido pelas glândulas estaminais e pelos
filotaxia alterna das folhas, flores trímeras e estaminódios de algumas espécies. A fecundação
ovário unicarpelar. Existe a possibilidade de que cruzada é facilitada pela dicogamia (protoginia)
essas características sejam convergentes, ainda sincronizada. Os frutos são ingeridos por aves e
assim elas podem indicar uma tendência
Siparunaceae, levando a segregação daquela

A B

C D
Fig. 10. Lauraceae: A. hábito; B. hábito de cassytha
(holoparasita); C. flores (notem as anteras com deiscência
valvar e as glândulas); D. frutos (note o receptáculo).

mamíferos, representando uma fonte importante


de recursos em algumas comunidades.
Economicamente, destacam-se o abacate (Persea
americana), a canela (Cinnamomum
zeylanicum), a cânfora (C. camphora), o louro
(Laurus nobilis) utilizado na Grécia para premiar
os atletas, e alguma espécies importantes para
madereiras extrativistas.

Monimiaceae
Arbustos a arvoretas; produção de
alcalóides benzil-isoquinolínicos, células
laticíferas eventualmente presentes. Estípulas
ausentes. Folhas opostas ou verticiladas,
simples, denteadas na margem, ao menos na
porção apical quando jovens. Inflorescências
cimosas, axilares. Flores unissexuadas (plantas
monóicas, dióicas ou poligâmicas), B C
actinomorfas, hipóginas, monoclamídeas. Fig. 11. Monimiaceae: A. ilustração; B. vista lateral da flor;
Tépalas 3 a várias, geralmente 4, sepalóides ou C. vista apical da flor (note os estigmas saindo do
petalóides, livres ou reduzidas, eventualmente receptáculo).
decíduas. Estames 8-2000, dispostos família. Monimiaceae possui distribuição
irregularmente no receptáculo, livres, pantropical, principalmente no hemisfério sul, 25
eventualmente possuindo glândulas nectaríferas gêneros e 200 espécies. Quatro gêneros ocorrem
na base, tetrasporangiados, abrindo-se nos neotrópicos: Mollinedia, com
longitudinal ou transversalmente. Gineceu aproximadamente 20 espécies, e os mono-
apocárpico, ovário súpero, 1-2000 carpelos, específicos Hennecartia, Macropeplus e
inclusos no receptáculo, exposto apenas na Macrotorus. Prefere ambientes úmidos, estando
porção apical que eventualmente emerge através bem representada na Amazônia e em matas de
de um poro no receptáculo formando um galeria. São polinizadas principalmente por
hiperestigma; placentação apical, 1 óvulo insetos que se alimentam de pólen das plantas
anátropo. Fruto drupários vermelhos ou azuis, masculinas e depositam ovos internamente ao
sobre receptáculo carnoso ou lenhoso, reflexo. N receptáculo das flores femininas. São
= 18-22, 39, 43. provavelmente dispersadas por aves. Dentre os
Estudos filogenéticas indicaram que usos econômicos destaca-se a utilização de
Monimiaceae está mais relacionada com folhas de Peumus boldus, o boldo, na preparação
Lauraceae e Hernandinaceae do que com de chás com propriedades hepáticas e digestivas.
terminais. Flores bissexuadas (unissexuadas em
Tasmannia), actinomorfas, hipóginas,
diclamídea, heteroclamídeas. Sépalas, 2-4, livres
Siparunaceae ou conadas na base, eventualmente conadas em
Árvores a arbustos, raramente
uma calíptra decídua. Pétalas, 0-25, livres.
produzindo exsudado. Estípulas ausentes. Folhas Estames poucos a numerosos, livres, geralmente
opostas ou verticiladas, simples, inteiras, aroma laminares, com iniciação centrípeta; pólen em
cítrico (óleos essenciais) quando maceradas.
tétrades, raramente em mônades. Gineceu
Inflorescências cimosas, axilares. Flores apocárpico, eventualmente passando a
unissexuadas (plantas dióicas ou monóicas), sincárpico, ovário súpero, 1-50 carpelos,
monoclamídeas. Tépalas 4-6, livres, conadas na
assimétricos, estilete ausente, região estigmática
base ou formando uma calíptra, creme, curta ou extensa formando uma crista ao longo
alaranjadas ou avermelhadas. Estames 1-72, da soldadura carpelar; placentação marginal,
geralmente muitos, livres, arranjados geralmente vários (até 60) óvulos anátropos em
irregularmente, inclusos no receptáculo, apenas a duas fileiras. Fruto múltiplos carpídios
porção superior exposta, bisporangiados,
bacáceos; sementes poucas a muitas. N = 13, 43.
deiscentes por uma valva apical. Gineceu
apocárpico, ovário súpero, 3-30 carpelos,
geralmente muitos, inclusos no receptáculo,
porção superior exposta; placentação basal, 1
óvulo anátropo. Fruto drupários, geralmente
arilados, inclusos em receptáculo carnoso,
vermelho, raramente amarelo, liso ou com
projeções, abrindo-se na maturação. X = 22.
Antes posicionada em Monimiaceae,
Siparunaceae se mostrou mais relacionada Fig. 11. Winteraceae: Flores.
filogenéticamente com Gomortegaceae e
Atherospermataceae, famílias com Winteraceae inclui cerca de 100
representantes no Chile e, na última, também na espécies e nove gêneros, e está distribuída de
Australásia. Siparunaceae inclui cerca de 60 maneira relictual, principalmente no leste da
espécies e estão divididas em dois gêneros, Austrália e ilhas no sul do Pacífico, mas também
Glossocalyx, com uma única espécie (G. em Madagascar, com o gênero monotípico
longicuspis) na África, e Siparuna, gênero Takhtajania, e no Novo Mundo com Drymis,
americano que ocorre preferencialmente em com quatro espécies, apenas D. brasiliensis no
vegetações florestais, tendo centro de Brasil. São plantas preferencialmente de florestas
diversidade na região dos Andes, aparecendo tropicais montanas úmidas ou temperadas. Suas
também em matas de galeria nas Américas flores são polinizadas principalmente por
Central e do Sul. São polinizadas por mosquitos besouros e moscas e os frutos dispersados por
que depositam seu ovos no interior do aves.
receptáculo. Os drupários são dispersados por
aves que encontram no arilo fonte de alimento,
mas o receptáculo carnoso também pode ser
consumido por morcegos e macacos que então
propiciarão a dispersão das sementes. Algumas A B
espécies são utilizadas contra febres e dores de Fig. 12. Winteraceae: A. fruto; B. distribuição geográfica.
cabeça, e as folhas aplicada contra mordidas de
cobra e insetos, ou mesmo contra malaria. A família é marcada por uma enorme
plasticidade (mesmo no nível intra-específico;
CANELLALES e.g. Tasmannia piperita possui de 0-15 tépalas,
7-109 estames, 1-15 carpelos, 2-46 óvulos por
carpelo; Endress 1994) quanto ao tamanho,
Winteraceae número e filotaxia das partes florais. Várias
Árvores ou arbustos; lenho sem vasos. características de Winteraceae colocaram-na
Estípulas ausentes. Folhas alternas, espiraladas, como possível candidata a primeira linhagem
simples, inteiras, freqüentemente ricas em óleos vivente a divergir na evolução das angiospermas,
essenciais. Inflorescências cimosas, axilares ou dentre elas destacam-se a soldadura incompleta
do carpelo e a presença de traqueídes em vez de espiga (note bráctea, anteras e ovário); D. distribuição
geográfica.
vasos no xilema. Fósseis de pólen característicos
da família também estão entre os registros mais Piperaceae possui distribuição mundial,
antigos para angiospermas, confirmando sua principalmente em regiões úmidas tropicais,
antigüidade. Entretanto, estudos filogenéticos contando com cerca de 10 gêneros e até 2000
não confirmam uma origem tão antiga para o espécies, a maioria Piper ou Peperomia.
grupo, de modo que características como Aproximadamente 1000 espécies ocorrem nos
ausência de vasos no lenho representam neotrópicos (460, no Brasil), onde Piper,
condições derivadas. Peperomia, Pothomorphe, Ottonia e
Sarcorhachis estão representados. Preferem
locais sombreados, no subosque de florestas ou
PIPERALES regiões perturbadas. Está mais relacionada com
Saururaceae, e devido às particularidades de
Peperomia (note diferenças na descrição), ela é
Piperaceae
eventualmente considerada à parte de
Ervas a arvoretas, raramente
Piperaceae, em sua própria família,
trepadeiras, eventualmente epífitas ou rupículas;
Peperomiaceae. A morfologia singular já foi
produção de alcalóides (e.g. piridínicos) e óleos
utilizada como evidência para considerar as
essenciais (aromáticas). Estípulas unidas ao
Piperaceae o grupo que primeiro divergiu dentre
pecíolo em uma espécie de bainha (Piper) ou
as angiospermas, ou ainda um dos grupos de
ausentes (Peperomia). Folhas geralmente
dicotiledôneas, juntamente com Chloranthaceae
alternas, simples, inteiras, peninérvias ou
e Aristolochiaceae, mais relacionadas com as
palmatinérveas, eventualmente suculentas.
monocotiledôneas, formando as paleoervas.
Inflorescências espigas congestas, opostas às
Dentre as evidências para tais suposições estão a
folhas, axilares ou terminais, brácteas
disposição dispersa dos feixes vasculares e a
subtendendo as flores. Flores geralmente
presença de apenas um cotilédone em
bissexuadas, diminutas, actinomorfas ou
Peperomia.
zigomorfas, aclamídeas. Estames geralmente 6,
Tanto entomofilia quanto anemofilia
tetrasporangiados (Piper), ou 2 estames
ocorrem na família, e a ambofilia (polinização
bisporangiados (Peperomia); pólen
por vento e insetos) pode ser o principal sistema
monossulcado ou inaperturado. Gineceu
de polinização de algumas espécies brasileiras
sincárpico, ovário súpero, 3-4-carpelar (Piper)
(Figueiredo & Sazima 2000). Os frutos podem
ou unicarpelar (Peperomia), unilocular;
ser dispersados pelo vento ou pela chuva, mas as
placentação basal, 1 óvulo anátropo. Frutos
espigas também podem ser dispersadas como um
drupáceo ou bacáceo; sementes 1. X = 11
todo por morcegos, ou por epizoocoria no caso
(Peperomia), 12 (Piper).
de Peperomia, funcionando como diásporo.
Economicamente, destaca-se a pimenta-do-reino
(Piper nigrum) e espécies utilizadas na medicina
popular, como a pariparoba. Espécies de
Peperomia são freqüentemente utilizadas por
causa de suas folhas como ornamentais em
interiores.
A B
Aristolochiaceae
Lianas ou trepadeiras, eventualmente
ervas ou arbustos, freqüentemente rizomatosa;
produção de alcalóides (e.g. aporfina) e óleos
essenciais (aromáticas). Estípulas ausentes.
Folhas alternas, dísticas, simples, inteiras,
palmatinérveas. Inflorescências fasciculadas,
D racemosas ou cimosas (rifídios), axilares ou
caulifloras. Flores geralmente solitárias,
bissexuadas, geralmente zigomorfas,
C monoclamídeas, fétidas. Sépalas petalóides,
E geralmente 3, de amarelas a quase negras,
Fig. 13. Piperaceae: A. Piper, hábito; B. Peperomia; C. freqüentemente roxas, fundidas em um longo
tubo urceolado, freqüentemente curvo, elementos de tubo crivado, característica
terminando em uma expansão foliácea. Estames exclusiva das monocotiledôneas foi utilizada
5-6, fundidos ao estilete formando o ginostêmio como argumento para estabelecer a relação entre
(em Aristolochia); pólen geralmente as Aristolochiaceae e as monocotiledôneas. A
inaperturado (monossulcado em Saruma). família está dividida em duas subfamílias,
Gineceu sincárpico, ovário ínfero (apocárpico e Asarioidea (Asarum, no hemisfério norte, e
parcialmente súpero em Saruma), geralmente 6- Saruma, gênero monoespecífico da China, com
carpelar; placentação submarginal, óvulos as características mais plesiomórficas da família,
anátropos. Frutos cápsula septicida ou dentre elas as flores actinomorfas, com perianto
septifraga, deiscente; sementes muitas, constituído por dois verticilos trímeros, pólen
freqüentemente aladas ou com arilo pegajoso. N monossulcado e ovário apocárpico, parcialmente
= 4-7 e 12-13. súpero), com perianto não constrito, nem caduco,
B e Aristolochioideae, com perianto caduco,
constrito na altura do ovário, região da abscisão.
A família coevoluiu com espécies de
borboletas (Papilionideae) que depositam seus
ovos na planta e cujas larvas se alimentam das
A folhas. Ao assimilarem ácido aristolóquico
(derivado de alcalóides aporfínicos), elas se
tornam venenosas a eventuais predadores. As
flores podem variar bastante na família, tanto em
relação à forma quanto ao tamanho, chegando a
cerca de 1 m em A. gigantea (papo-de-peru), que
possui a segunda maior flor do mundo. A cor, a
C textura e o odor de putrefação ou fezes presente
nas flores de várias espécies caracterizam a
Fig. 14. Aristolochioaceae: A-B. Aristolochia. A. flor; B.
corte longitudinal (note ginostêmio no interior); C. flor de
sapromiofilia, típica na família. Janelas
Saruna (note trimeria). translúcidas na base do perianto guiam as moscas
até o ginostêmio, no interior do tubo, enquanto
Aristolochiaceae encontra-se tricomas rígidos e retrorsos na região estreita
mundialmente distribuída, com exceção da garantem que elas permaneçam na flor até a
Austrália, preferindo regiões florestais, úmidas liberação do pólen. As sementes são dispersadas
ou secas, e cerrados. Conta com sete gêneros e pelo vento e pela água; em espécies com arilos
550 espécies, cerca de 350 em Aristolochia pegajosos, por epizoocoria ou por formigas, no
(incluindo Euglypha e Holostylis), especialmente caso das herbáceas. São conhecidas na medicina
diversificada na Ásia e nas Américas, popular por seus efeitos abortivo e anti-
principalmente no Brasil. Pouco mais de 200 inflamatório, e por reduzirem a pressão alta e
espécies ocorrem nos neotrópicos, 62 no Brasil. convulsões musculares.
A presença de tubos de plastídeos do tipo P nos

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