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AULA 6

Monocotiledôneas 2: Commelinóides
Arecaceae (Palmae)
Plantas lenhosas, geralmente um estipe,
raramente dicotomicamente ramificada
(Hyphaene thebaica), terminando em uma coroa
de folhas pinadas no ápice, ou trepadeiras (e.g.
Desmoncus, Calamus); caule exposto, anelado
devido a cicatrizes deixadas pelas bainhas,
eventualmente pequeno e subterrâneo
(Allagoptera) ou formando rizoma
(Chrysalidocarpus spp.); podem apresentar
espinhos na raiz, no caule ou nas folhas
(Bactridinae) e bainhas persistentes cobrindo o
caule (e.g. Siagrus coronata); bainha tubulosa
protegendo as folhas, seguida pelo pecíolo
caniculado. Folhas pinadas ou palmadas,
raramente bipinadas (Caryota) ou simples
(comum em indivíduos jovens), então com
venação pinada; nas pinadas existe um eixo
central de onde partem os folíolos, nas palmadas
ou flabeliformes não existe uma raque
diferenciada, os folíolos partem de um mesmo
ponto; quando a raque é curta, as folhas são
denominadas costapalmadas (Mauritia). As Fig. 1. Arecaceae: Roystonea regia (palmeira-real).
folhas pinadas com pregas induplicadas (em V) Arecaceae ou Palmae é a única família
são geralmente imparapinadas, as com pregas da ordem Arecales. Estão entre os grupos mais
reduplicadas (denteada) são parapinadas. caracaterísticos dentre as angiospermas. São
Inflorescência panícula ou espiga, geralmente formadoras de paisagem. Nypa fruticans ocorre
solitária, axilar, inter ou infrafoliar, subtendida em grandes densidades em mangues no sudeste
por um profilo, após o qual podem seguir uma ou asiático. As tamareiras (Phoenix dactylifera)
mais brácteas pedunculares (em Syagrus, a formam grandes populações em oasis no deserto
bráctea do escapo é persistente e lenhosa). do Saara. No Brasil, os buritis (Mauritia
Flores bi ou mais freqüentemente unissexuadas flexuosa) trilham veredas na Região Centro-
pelo abortamento do androceu (estaminódios) Oeste, os babaçus (Atalea speciosa) formam
nas pistiladas e do gineceu (pistilódios) nas babaçuais, no Maranhão, e associados aos
estaminadas, actinomorfas, tipicamente trímeras, carnaubais (Copernicia prunifera) compõem a
diclamídeas, heteroclamídeas, dispostas aos Zona dos Cocais, entre o Norte e o Nordeste.
pares, em tríades (cincínio com 2 flores
masculinas laterais e uma feminina central,
acompanhadas de 3 bractéolas), em agregados ou
solitárias, geralmente sésseis, mas também
pediceladas ou encravadas no ramo
(Geonomeae). Estames 6 a muitos. Ovário
súpero e apocárpico a ínfero e sincárpico,
trilocular; placentação axilar, lóculos
uniovulados. Fruto drupáceo, mesocarpo oleoso
e endocarpo pétreo; sementes com endosperma
(albúmem) ruminado.
Fig. 2. Vereda com buritis.
reconhecida pelos frutos escamosos, e.g.
Mauritia), Coryphoideae (40/395, geralmente
com folhas palmadas ou costapalmadas e borda
induplicada, exceto Phoenix), Ceroxyloideae
116 (10/180, dióica com flores pediceladas),
1385 Phytelephantoideae (3/8, dióicas, com muitos
857 estames) e Arecoideae (115/1500, geralmente
132
com folhas pinadas e flores em tríades). Apesar
da morfologia bastante particular, facilmente
Fig. 3. Distribuição de Arecaceae. diagnosticável, as relações internas na ordem
ainda são pouco conhecidas. Análises
A família inclui aproximadamente 2500 filogenéticas com dados moleculares vêm se
espécies, cerca de 550 ocorrem nos Neotrópicos. mostrando imprecisas. Aparentemente, as
Incertezas sobre a diversidade do grupo estão regiões estudadas não têm oferecido resultados
relacionadas às dificuldades em se trabalhar com confiáveis, seja pela falta de variação nas regiões
palmeiras. O trabalho de campo é complexo; de plastídeo, seja pelo excesso de homoplasias
algumas árvores podem chegar a mais de 50(-80) na malato sintetase ou o polimorfismo no ITS.
m alt., as folhas a cerca de 20 m compr. e as De modo geral, Nypa tem aparecido na raiz da
inflorescências a mais de 40 kg. Graças as família e Ceroxyloideae parece formar um grupo
dimensões de folhas e inflorescências e a polifilético. Calamoideae formaria o grupo irmão
importância da arquitetura na morfologia do das demais Arecaceae (incluindo ou não Nypa
grupo, as palmeiras não são um grupo fácil para nesse grupo irmão) e Arecoideae precisaria
estudos em herbários e as coletas são escassas. sofrer mudanças taxonômicas (exclusão e
Seus estudiosos devem portanto ter disposição inclusão de tribos) para se tornar monofilética.
para o trabalho de campo. São reconhecidos
quase 200 gêneros, den7tre os mais diversos
estão Chamaedorea (77), Bactris (75) e
Geonoma (51). De distribuição pantropical,
atingindo o Sudeste dos Estados Unidos, ao
norte, e a Nova Zelândia, ao sul, ocorrem nos
mais variados habitats, de desertos a florestas
úmidas, em mangues ou regiões montanhosas.
Sempre foi considerado um grupo
natural e, desde Lineu, sua identidade nunca foi
questionada. Dentre as principais características
estão o hábito arborescente e, principalmente, as
folhas plicadas. As Cyclanthaceae, família
representada nas Américas do Sul e Central,
podem ser eventualmente confundidas com as Fig. 4. Cladograma obtido com malato sintetase (Lewis &
palmeiras, principalmente com aquelas de folhas Doyle 2001).
inteiras, bífidas no ápice (porém, as nervuras
naquela família seguem para o ápice da lâmina e Apesar do tronco desenvolvido em
não para a margem) ou com as palmadas (mas algumas espécies (em Jubaea chilensis, pode
então pode ser reconhecida pelas três nervuras atingir 1,8 m. diâm.), como nas demais
espessadas e o pecíolo bem arredondado e não monocotiledôneas, as palmeiras não possuem
canaliculado). O hábito em Cyclanthaceae, câmbio, conseqüentemente não apresentam
quando terrestre, é herbáceo (não lenhoso), crescimento secundário. Os feixes vasculares são
quando trepador, elas se apoiam pelas raízes, o dispersos num tecido parenquimatoso, não
que não ocorre com nenhuma palmeira. Além formando anéis de crescimento. O crescimento é
disso, as inflorescências em Cyclanthaceae são inicialmente lateral, resultado da expansão do
espigas carnosas com flores quadrangulares, tecido parenquimatoso. O crescimento em altura
diferindo das encontradas na palmeiras. não costuma ser acompanhado pelo aumento no
Arecaceae está dividida em seis diâmetro do estipe, e a rigidez do caule é
subfamílias: Nypoideae, incluindo apenas Nypa decorrente principalmente da presença de
fruticans (típica de mangues do sudeste asiático), esclerênquima na forma de fibras (deposição de
Calamoideae (22 gêneros e 664 espécies; sílica). Em alguns casos, as raízes podem formar
um cone e servir de suporte para a planta (e.g. Até recentemente, se pensava que as
Mauritia carana). São geralmente policárpicas, palmeiras eram exclusivamente polinizadas pelo
com crescimento indeterminado, mas algumas vento, idéia que remete a Delpino, no séc. XIX.
espécies podem ser monocárpicas, morrendo Esse mito era sustentado pela grande quantidade
após a floração. Em Corypha umbraculifera, a de pólen produzida. Entretanto, essa pode ser
floração acontece uma única vez, após mais de apenas uma adaptação a predação por insetos.
40 anos de vida. Em Caryota urens, a planta Muitas palmeiras residem em ambientes com
começa a florir do topo para a base, morrendo pouco vento, além disso, as brácteas vistosas em
quando a última inflorescência acaba. alguns grupos e a liberação de odores são
As folhas podem ter apenas 15 cm ou características geralmente associadas com
chegar a 25 m compr., a maior folha do mundo polinização por insetos. Atualmente, sabe-se que
(Raphia). Supostamente, as folhas de palmeiras a entomofilia desempenha um papel importante
seriam simples em seu estado ancestral, tal qual na reprodução das palmeiras e mesmo nos casos
encontrado em plantas jovens. As folhas em que a polinização pelo vento predomina, elas
palmadas teriam surgido de um crescimento podem ser secundariamente polinizadas por
lateral e, que no caso das costapalmadas teria insetos, geralmente moscas, abelhas e besouros.
sido acompanhado por um alongamento da raque Uma hipótese é que o ancestral das palmeiras
central. Elas teriam surgido de maneira tenha sido polinizado exclusivamente pelo vento,
independente e mais de uma vez no grupo. De
maneira geral, as folhas palmadas e
costapalmadas são mais comuns em ambientes
abertos ou sazonais ou mesmo fora das regiões
tropicais, enquanto as pinadas teriam preferência
para regiões tropicais úmidas, estáveis, e o
padrão das folhas estaria relacionado com a
captura mais eficiente de luminosidade em
ambientes florestais.

Fig. 5. Arecaceae. Folhas de palmeiras: pinapartida (Syagrus) Fig. 6. Arecaceae: inflorescências e infrutescências de
e palmada (Licuala). Arecaceae: Alagoptera e Syagrus.
principalmente por aves, morcegos e outros
mamíferos (incluindo elefante e coiotes), répteis
e peixes. A dispersão por água (hidrocoria)
também parece ser um importante mecanismo
em espécies com mesocarpo capaz de flutuar.
Junto com as leguminosas e as
gramíneas, as palmeiras estão entre as
angiospermas mais úteis para o homem. As
Fig. 7. Arecaceae: flores de Arecaceae: masculina e feminina. tâmaras (Phoenix dactilifera) são consumidas há
séculos; do coco (Coccos nucifera) é aproveitado
o endosperma na fase nuclear, como água-de-
coco, ou celular, como ingrediente de muitas
receitas; o mesocarpo fibroso que ajuda na
flutuação do fruto, vem sendo também um
importante substituto para o xaxim, além de sua
utilização pela indústria téxtil de estofados e
esteiras. Da juçara (Euterpe edulis), ou
palmiteiro, é retirado o palmito, meristema apical
bastante desenvolvido e suculento nessa espécie.
A extração resulta na morte da planta e é
realizada geralmente de maneira ilegal no
subosque da Mata Atlântica. Frutos de pupunha
(Bactris gasipae) fazem parte da dieta de muitas
comunidades amazônicas e o de açaí (Euterpea
Fig. 8. Arecaceae: diagramas florais.
oleraceae) tem se popularizado como energético;
essa espécie por ser mais facilmente cultivada
que é denotado pelo pólen monossulcado, típico tem substituído a juçara na produção de palmito.
de monocotiledôneas. Entretanto, grupos mais O mesocarpo e o endosperma oleoso de Elaeis
especializados estão adaptados à polinização por guinensis são utilizadas na extração de óleo-de-
insetos, o que é sugerido pelo desenvolvimento dendê. O óleo-de-carnaúba é retirado da fina
de estruturas de proteção do óvulo e do pólen e cutina de folhas jovens de Copernicia prunifera;
do incremento da produção de pólen. as folhas dessa espécie são utilizadas também
O fruto, geralmente uma drupa como palha na fabricação de esteiras e chapéus.
(raramente baga), vai de 4,5 mm diâm. em O endosperma maduro de consistência pétrea de
Geonoma até 50 cm e 18 kg em Lodoicea, que Phytelephas tem sido usado como substituto do
produz a maior semente do mundo, com 9 kg. O marfim na manufatura de botões e artesanatos.
exocarpo é freqüentemente colorido, pode São bastante utilizadas como ornamental,
possuir escamas imbricadas (Mauritia), destacando-se espécies de areca-bambu
espinhos, ou ser coberto por cristais de sílica. O (Chrysalidocarpus), jerivá (Syagrus
mesocarpo pode ser fibroso, carnoso ou seco e é romanzofianum) e cariota (Caryota). As
eventualmente rico em óleos. O óleo-de-dendê, palmeiras são fundamentais principalmente para
por exemplo, é extraído de Elaeis guinensis, a sobrevivência de comunidades indígenas
espécie africana introduzida no Brasil. A americanas que as utilizam para construção de
semente é composta por um endosperma grande, abrigos, vestuário, armas, ornamentos e como
com desenvolvimento nuclear, e um embrião fonte de alimento. São também muito
pequeno. A água-de-coco (Coccos nucifera) é o importantes ecologicamente, desempenhando um
endosperma na fase nuclear que, com a formação papel importante na sobrevivência de vários
das paredes celulares, se solidifica formando organismos.
uma película branca e oleosa; o leite-de-coco é
obtido a partir da extração do óleo dessa película. COMMELINALES
As sementes possuem endosperma rico em óleos, Dahlgren et al. (1985) incluíram Poales,
mas não em amido. Commelinales e Cyperales na superordem
Não existem muitos experimentos sobre Commeliniflorae. O grupo era sustentado por
a dispersão das palmeiras. A maioria dos dados é células da raiz mais curtas que as demais células
decorrente de observações ocasionais. da epiderme, ausência de nectários septais,
Aparentemente, a zoocoria predomina no grupo, espessamentos do tipo Girdle na parede celular
CYPERALES
BROMELIALES TYPHALES
Cyperaceae
Typhaceae
Juncaceae
Sparganiaceae
Thurniaceae

POALES POALES COMMELINALES


Anarthiaceae Mayacaceae
Ecdeiocoleaceae Xyridaceae
Centrolepidaceae Rapateaceae
COMMELINALES
Flagellariaceae Eriocaulaceae
Joinvillaceae Commelinaceae
Restionaceae
Poaceae
PONTEDEDRIALES
PHYLANDRALES

Fig. 9. Cladograma de Poales Cyperales e Commelinaceae (cf. Dahlgren et al. 1985) e mudanças taxonômicas realizadas pela APGII
(2003).
do endotécio, embrião capitado ou lentiforme.
Nessa superordem, Commelinales teria divergido
inicialmente e Poales seria grupo irmão de
Cyperales.
Commelinales incluia também
Mayacaceae, Xyridaceae, Rapateaceae e
Eriocaulaceae e teria como sinapomorfias os
tricomas multicelulares com base simples e row
Fig. 10. Commelinaceae: Dichorisandra e Rhoeo.
(possivelmente uma característica
plesiomórfica), perianto diferenciado em tépalas
externas sepalóides ou hialinas e internas
petalóides, e formação de endosperma nuclear
(encontrado endosperma helobial em Xyridaceae
- Abolboda). Commelinaceae seria supostamente
o grupo irmão do restante da ordem, enquanto as
outras quatro famílias possuíam características
em mosaíco que sustentavam a proximidade Fig. 11. Commelinaceae: flores de Tradescantia e
delas, mas não permitiam estabelecer relações Commelina. Note a diferença na simetria.
mais precisas entre elas.
Dados moleculares colocaram a relação A família está distribuída
entre Commelinaceae e as demais famílias de principalmente nas regiões tropical e subtropical.
Commelinales em dúvida, sugerindo que São cerca de 650 espécies e 40 gêneros, 1/3 das
Mayacaceae, Xyridaceae, Rapateaceae e espécies e metade dos gêneros ocorrem nos
Eriocaulaceae estariam mais relacionadas com Neotrópicos, destacando-se Tradescantia e
Poales, enquanto Pontederiales estaria mais Dichorisandra. Foi dividida conforme a forma
relacionada com Commelinales. Tornou-se da flor, em Tradescantoideae, com flores
evidente também a proximidade de actinomorfas, e Commelinioideae, com flores
Commelinales com Zingiberales, relação zigomorfas, ou em relação a inflorescência.
sustentada pelos estômatos paracíticos, cera Essas classificações, no entanto, são claramente
epicuticular do tipo strelitziáceo, presença de artificiais. Estudos filogenéticos demonstraram
compostos com fluorescência a UV na parede que existe uma grande quantidade de
celular e endosperma amiláceo. homoplasias relacionadas à polinização e dados
anatômicos são mais congruentes
Commelinaceae filogeneticamente com os dados moleculares do
Ervas geralmente terrestres, raramente que os florais (Evans et al. 2000).
lianas, ráfides e canal de mucilagem presentes. A polinização é realizada por insetos, no
Folhas alternas, bainha fechada, vênulas caso das poricidas por vibração. Os insetos
transversais, estômatos tetracíticos. procuram essas flores, especialmente por causa
Inflorescências terminais ou axilares, com uma do pólen, mas eventualmente podem coletar
a várias cimeiras helicoidais, eventualmente outras substâncias, como óleo. Os estames
apenas uma flor, envolvidas por um par de possuem anteras e pólen bastante vistosos e
brácteas. Flores geralmente bissexuadas, freqüentemente anteróides, aparentando produzir
trímeras, diclamídeas, heteroclamídeas, mais pólen, ou dimorfismo estaminal, com
dialipétala, actinomorfas ou zigomorfas, alguns estames atraindo os insetos enquanto
hipóginas; as pétalas efêmeras, geralmente livres. outros liberam o pólen efetivamente. Como as
Estames 6, eventualmente 3 (+ 3 estaminódios), anteras poricidas que evitam o consumo
raramente 1 (sem estaminódios, Callisia); abundante de pólen, os filetes indumentados
filamentos geralmente livres, eventualmente também contribuem para a eficiência da
indumentados; deiscência longitudinal, polinização, dificultando a coleta dos grãos de
eventualmente poricida. Ovário tricarpelar, pólen espalhados pela flor. Muitas vezes esse
sincárpico, trilocular; placentação axilar, 1- indumento é amarelado ou alvo, sugerindo uma
muitos óvulos ortótropos por lóculo; estilete 1, quantidade maior de pólen do que a que de fato
eventualmente trífido. Fruto geralmente cápsula está disponível ao polinizador. As sementes
loculicida (raramente baga); semente arilada ou podem ser dispersadas por formigas. São
não. utilizadas principalmente na ornamentação.
contato com as patas. O aguapé (Eichhornia
crassipes) é uma espécie bastante agressiva e de
difícil extermínio, sendo utilizada na alimentação
do gado e na despoluição de lagos.

ZINGIBERALES
Zingiberales inclui 2000 espécies, 4%
das monocotiledôneas, e 88 gêneros. Era
relacionada com Bromeliales e Commelinales
Fig. 12. Commmelinaceae: flor de Tradescantia, vista lateral devido aos compostos com fluorescência
mostrando a pilosidade dos filetes. ultravioleta na parede das células, cera epicutilar
do tipo strelitziáceo e endosperma amiláceo.
Pontederiaceae Estudos filogenéticos demonstraram que a ordem
Ervas aquáticas, submersas ou é o grupo irmão de Commelinales.
flutuantes, rizomatozas, estoloníferas. Estípulas Está dividida em oito famílias,
geralmente presentes. Folhas simples, alternas, formando um grupo natural cuja identidade
glabras, pecioladas, com bainha. Inflorescências nunca foi questionada. É caracterizada pelas
terminais, cimosas, espiciformes, paniculadas, células capilares isomórficas da raiz, presenças
uni ou bifloras, geralmente vistosas. Flores de corpos de sílica e cristais de oxalato de cálcio,
bissexuadas, trímeras, tubulosas, actinomorfas a vasos somente nas raízes, plastídios do tubo
levemente zigomorfas, diclamídeas, crivado com grãos de amido e corpos de proteína
homoclamídeas, hipóginas. Estames 1, 3 ou 6, cuneados. São geralmente rizomatosas, com
heteromórficos, deiscência longitudinal ou crescimento simpodial terminando em um ramo
poricida. Ovário tricarpelar, sincárpico, aéreo; folhas geralmente alternas, dísticas,
trilocular, tristílico ou henantiostílico; estigma pecioladas, grandes, com venação pinada, as
capitado a trilobado; placentação axilar ou nervuras primária central e secundárias
parietal, com numerosos óvulos. Fruto cápsula transversais sigmóides conectadas entre si por
ou noz. veias paralelas. As inflorescências são
bracteadas, geralmente vistosas, com flores
epígenas, trímeras arranjadas em cincínios na
axila de brácteas do eixo principal. Possuem
nectários extraflorais, os grãos de pólen são
inaperturados com exina reduzida, o endosperma
de desenvolvimento nuclear e as sementes
ariladas.
Dois grupos informais eram
tradicionalmente reconhecidos com base no
número estames férteis. O grupo da banana,
incluindo Musaceae, Strelitziaceae, Lowiaceae e
Heliconiaceae, possui cinco (raramente seis)
estames férteis e anteras bitecas. O grupo do
Fig. 13. Pontederiaceae. Aguapé: flores e hábito.
gengibre, por outro lado, possui um único estame
funcional, e inclui Zingiberaceae, Costaceae,
Está amplamente distribuída, ocorendo
Marantaceae e Cannaceae. Análises
em ambientes aquáticos, especialmente lagos e
morfológicas (Kress 1990) indicaram que as
córregos, paludosos, ou sazonalmente alagados.
características que unem as famílias com seis
Conta com cerca de 40 espécies, ¾ no Novo
estames férteis são plesiomorfias, e que as quatro
Mundo, e até nove gêneros, destacando-se
famílias formam um grado no qual estão
Eichhornia. São polinizadas principalmente por
inseridas as famílias que sofreram redução dos
abelhas em busca de néctar ou pólen. A tristilia e
estames. Assim, o grupo do gengibre, com
a enantiostilia contribuem para a polinização
apenas um estame fértil (os demais reduzidos ou
cruzada. Em alguns casos, entretanto, as flores
modificados em estaminódios petalóides),
abrem sob a água e ocorre a autopolinização. Os
quantidade de perisperma maior do que a de
frutos podem amadurecer submersos em alguns
endosperma e sem ráfides de oxalato de cálcio
gêneros e a dispersão das sementes pode ocorrer
formam um clado sustentado morfologicamente
pela água ou com auxílio de aves quando em
e que inclui Zingiberaceae e Costaceae formando
um clado definido pelas folhas com lígula, flores
bilaterais, estame com antera biteca sustetando o
estilete num sulco do filete, e Cannaceae e
Marantaceae, com flores assimétricas, uma
antera monoteca (a outra teca provavelmente
petalóide) apresentação do pólen através do
estilete. Segundo essa classificação, Musaceae é
a família basal, relação sustentada pela filotaxia
espiralada das folhas e ausência de arilo nas
sementes.
Smith et al. (1993) utilizaram 21
terminais para avaliar essa topologia com o uso
de rbcL, obtendo uma topologia diferente e
pouco sustentada, o mesmo ocorrendo com
estudos incluindo mais duas regiões (atpB e 18S
DNAr; Chase et al. 2000). Na primeira análise,
Musaceae não foi confirmada como monofilética
e o clado formado pelas famílias com redução
das anteras férteis foi rejeitado, sugerindo que
essa redução teria acontecido mais de uma vez.
Apesar da falta de sustentação, a segunda análise
apresentou uma topologia bastante distinta da Fig. 14. Caldograma obtido con dados morfológicos e de
morfológica, contrariando também as supostas rbcL (Kress 1995).
homologias do androceu e estudos ontogenéticos
no grupo. Os estudos com rbcL não ofereceram Musaceae
muita confiança nas relações internas em Ervas robustas, rizomatosas,
Zingiberales, mas indicaram um grupo externo tatescentes; ramos terminando em um broto
diferente de Bromeliales, utilizado na análise aéreo de onde partem as folhas. Folhas amplas,
morfológica de Kress (1990). Assim, Kress simples, espiraladas, bainhas formando um
(1995) reavaliou aquela matriz, adicionando sete pseudocaule ao redor do escapo. Inflorescência
caracteres, corrigindo as seqüências de rbcL e tirso terminal, as parciais em cincínios
utilizando outro grupo externo. A análise modificados na axila de brácteas espatáceas,
combinada dos dados morfológicos e dispostas espiraladamente em um eixo principal
moleculares manteve Musaceae como família indeterminado. Flores geralmente unissexuadas,
basal em Zingiberales, mas em vez de um grado as masculinas na porção distal, as femininas na
Lowiaceae e Strelitziaceae formam um clado, proximal, eventualmente flores bissexuadas na
enquanto Heliconiaceae é grupo irmão do clado base, trímeras, zigomorfas, com uma tépala
incluindo as famílias com redução das anteras interna livre, as outras duas fundidas, formando
férteis. Os pares Zingiberaceae-Costaceae e dois lobos unidos ao verticilo formado pela fusão
Cannaceae-Marantaceae se mantiveram. das 3 tépalas externas. Estames 5(-6), bitecas,
As oito famílias são fortemente livres, um estaminódio no verticilo interno,
sustentadas por dados moleculares, mas estão raramente fértil. Ovário trilocular; placentação
separadas por ramos longos, o que tem axilar, numerosos óvulos anátropos; estilete 1,
dificultado análises nesse nível (Soltis et al. estigma capitado. Fruto baga, a maioria
2000). Estudos moleculares em Costaceae indeiscente; sementes operculadas na micrópila,
(Specht et al. 2001) também sugerem que a sem arilo, envoltas por uma polpa amilácea,
morfologia floral no grupo é bastante plástica. doce, derivada de tricomas da placenta.
Como se pode perceber, apesar de São reconhecidos dois gêneros muito
morfologicamente coerente, a organização de relacionados, Musa e Ensete, por vezes
Zingiberales carece de sustentação molecular, de considerados apenas um, e 40 espécies restritas
modo que as inferências evolutivas no grupo ao Velho Mundo, a maioria na Ásia.
podem estar sendo fortemente influenciadas por Anteriormente, Strelitziaceae, Heliconiaceae e
interpretações equivocadas de homologias Lowiaceae eram incluídas nessa família.
relacionadas a morfologia floral. Musaceae pode ser distinguida das demais
Zingiberales pela presença de látex, filotaxia
espiralada das folhas e ausência de arilo nas
Fig. 17. Bananas cultivada e sementes selvagens.

Brasil é o maior produtor depois da Índia. A


banana evoluiu no sudeste da Ásia através da
hibridação de poliplóides das espécies selvagens
M. acuminata e M. balbisiana, e são unidas
artificialmente sob o nome de Musa X
paradisiaca. A poliploidia típica de cultivares,
no entanto, não é relatada para plantas selvagens.
As espécies selvagens possuíam uma casca
espessa e sementes numerosas e grandes,
rodeadas de pouca polpa. A modificação para a
banana consumida está relacionada com a
esterilização, abortamento dos óvulos e
desenvolvimento espontâneo do fruto sem
fertilização, ou seja, por partenocarpia. O cultivo
de banana é feito com estacas ou a partir do
Fig. 15. Musaceae: Musa paradisiaca.
crescimento de um broto lateral. Portanto, as
bananeiras são clones. O fruto se desenvolve sem
sementes. A polinização é realizada formar sementes, sendo preenchido por uma
principalmente por morcegos, mas foi noticiada a polpa doce e parenquimatosa. As bananas são
polinização por beija-flores e marsupiais. Apesar consumidas de várias maneiras. Os botões de
de monóicas, a autofecundação e mesmo a flores masculinas são cozidos como verduras na
partenocarpia em plantas selvagens é rara. A Ásia e as folhas de bananeira usadas como
dispersão é realizada por mamíferos e aves; as envoltório durante o cozimento de alimentos.
sementes duras caem, são regurgitadas ou Algumas espécies de Musaceae (e.g. Musa
atravessam o sistema digestivo sendo liberadas textelis) também são utilizadas para a extração de
mais tarde. fibras para a produção de cordas.

Lowiaceae
Ervas rizomatosas. Folhas com
nervação pinada. Inflorescência terminal
formada por paracládios reduzidos, unifloros;
paracládios com um profilo, dois interfilos
(como brotos que podem se desenvolver em
ramos), a quarta subtende a única flor e a última
é reduzida e envolve o eixo do paracladio. Flores
trímeras; tépalas externas estreitas, fundidas em
um tubo ao redor do ovário (hipanto), as internas
compostas por laterais pequenas e uma mediana
desenvolvida em um labelo. Estames 5, o
Fig. 16. Musaceae: inflorescência com flores funcionamente mediano do verticilo interno reduzido, com
femininas e masculinas. filetes curtos, livres entre si, unidos à base das
pétalas. Ovário trilocular; placentação axialar;
A família é especialmente importante estilete terminando em três lobos estigmáticos
por causa da banana, a fruta mundialmente mais expandidos. Fruto cápsula loculicida seca;
consumida depois do tomate e da laranja; o numerosas sementes ariladas.
Conta com apenas um gênero,
Orchidantha (Lowia) e cerca de 10 espécies do
sudeste da Ásia e é frequentemente incluída em
Strelitziaceae.

Strelitziaceae
Ervas arborescentes com uma coroa
flabeliforme de folhas no ápice de um caule
formado pela base das bainhas foliares
(Ravenala e Phenacospermum), ou plantas
acaulescentes (Strelitzia) com folhas partindo da
base, rizomatosas. Folhas alternas, dísticas,
pecíolo ausente ou reduzido. Inflorescência tirso
terminal (Phenakospermum) ou lateral (Strelitzia
e Ravenala), com cincínios condensados na axila
de brácteas espatáceas, dispostas disticamente
em um eixo principal indeterminado. Flores
bissexuadas, zigomorfas, subtendidas por
bractéolas carinadas; tépalas externas quase
iguais, livres, as internas fundidas na base, as
duas anteriores expandidas e, em Strelitzia
coniventes formando uma estrutura sagitada
colorida que engloba os filetes e o estilete.
Estames 5(-6, Ravenala); bitecas, sem
estaminódio. Fruto cápsula deiscente; numerosas
sementes ariladas (tegumento externo da semente
e funículo), sem opérculo.

Fig. 19. Strelitziaceae. Phenakospermum guiannense: hábito


e corte transversal do caule. Note o lenho delgado no centro,
rodeado de brácteas.

Fig. 18. Strelitziaceae. Strelitzia reginae: inflorescências e


sementes ariladas.

Strelitziaceae inclui Strelitzia, Ravenala


e Phenakospermum, os três gêneros com
distribuição relictual, e seis ou sete espécies.
Ravenala conta com apenas uma espécie (R.
madagascariensis, árvore-do-viajante) restrita a
Madagascar. Phenakospermum com apenas uma
espécie (P. guianense) endêmica da Guiana e
Strelitzia (ave-do-paraíso) ocorre na costa Fig. 20. Strelitziaceae. Strelitzia reginae: hábito e detalhes
Sudeste da África do Sul, mas é amplamente florais (quilha formada pelas tèpalas fundidas à esquerda).
Fig. 21. Strelitziaceae. Ravenala madagascariensis: hábito e
inflorescência.

conhecida graças ao cultivo de S. reginae e S.


nicolai.
Ravenala, com brácteas grandes e Fig. 23. Heliconiaceae. Heliconia: inflorescência e hábito.
produção abundante de néctar, parece ser
A família possui um único gênero e 200
polinizada por morcegos, enquanto Strelitzia é
espécies, estando restrita à América tropical e às
polinizada por aves que pousam na lâmina que
ilhas do Pacífico ocidental, onde ocorre um dos
envolve os estames e o gineceu, transportando
cinco subgêneros. São polinizadas
pólen através das patas. O sul-americano
principalmente por beija-flores. As drupas são
Phenakospermum deve ser polinizado por
protegidas pela bráctea que envolve o cincínio,
morcegos. Os frutos secos se abrem expondo as
mas o pedicelo se desenvolve e quando maduras
semente ariladas, laranja em Strelitzia, azuis em
as drupas, azul-metálico nas espécies
Ravenala e vermelhas em Phenakospermum, aos
neotropicais e vermelhas nas paleotropicais,
pássaros
ficam expostas sendo dispersadas por aves.

Phenakospermum
guianensis

Ravenala
madagascariensi Heliconiaceae
(200 spp.)
Strelitzia
(4-5 spp.) Fig. 24. Heliconiaceae. Heliconia psitaccorum.
Inflorescência com flores e flores e frutos em detalhes.
Fig. 22. Distribuição dos gêneros de Strelitziaceae e de
Heliconiaceae.
Zingiberaceae
Ervas aromáticas, rizomatosas,
Heliconiaceae
raramente epífitas; caule curto, alongado pelo
Ervas rizomatosas, com um caule curto
pseudocaule derivado das bainhas foliares.
e bainhas foliares formando um pseudocaule, ou
Folhas dispostas disticamente, eventualmente
alongado e então com internós envolvidos pela
parecendo fasciculadas na base; bainha
bainha. Folhas dísticas, nervação pinada.
geralmente aberta, lígula presente ou não.
Inflorescência tirso terminal, geralmente no
Inflorescência tirsos terminais, cilíndricos,
ramo folioso ou mais raramente em um ramo
fusiformes ou globosos, formados por cincínios
especializado contendo apenas a bainha foliar.
curtos na axila das brácteas (a redução dos
Flores bissexuadas, trímeras, zigomorfas,
cincínios à uma flor pode levar a formação de
bracteoladas, arranjadas em cincínios na axila de
um racemo ou espiga), em um ramo folioso ou
brácteas dispostas disticamente (ou
em um ramo à parte (com bainhas, mas sem
helicoidalmente com a rotação do eixo
lâminas). Flores bissexuadas, zigomorfas;
principal); perianto com as peças fundidas entre
sépalas fundidas em um cálice tubuloso, 3
si e com a base dos filetes, formando um tubo
pétalas fundidas, sepalóides, a mediana
curto, a tépala mediana externa tornando-se livre
geralmente maior, cuculada. Estame 1, o
para o ápice. Estames 5, bitecas, um
mediano do verticilo interno, 5 estaminóides, os
estaminódio derivado do atrofiamento do estame
dois laterais internos conados em um labelo
mediano do verticilo externo. Ovário trilocular;
petalóide, os dois laterais externos petalóides ou
lóculos uniovulados. Fruto drupáceo, com três
inconspícuos, flanqueando o estame, o mediano
pirênios operculados; sementes sem arilo.
reduzido (diferentes partes da flor podem se
apresentar conadas). Ovário tricarpelar,
trilocular (podendo tornar-se unilocular com a
idade); estilete terminal delgado, incluído em um
sulco, sustentado pelo estame. Fruto cápsula
seca ou carnosa, deiscente do ápice para a base
por 3 valvas a indeiscente; numerosas sementes
ariladas.
A família é pantropical, com 50 gêneros
e 1300 espécies, e centro de diversidade no sul e
sudeste da Ásia, ocorrendo geralmente em
florestas úmida, mas também em locais
inundáveis, campos com sazonalidade e
montanhas. As flores duram apenas um dia e são
polinizadas por pássaros e, em alguns casos,
abelhas, com um mecanismo semelhante ao de
Salvia. No Brasil, é relatada a polinização por
mariposa. A dispersão em Hedychium parece
ocorrer com a ajuda de aves, atraídas pela parede
interna laranja da cápsula e o vermelho do arilo
das sementes. Em algumas espécies, a dispersão
parece ocorrer através de formigas, ratos e
esquilos, que transportam as sementes caídas no
solo, ou mesmo através do fluxo de água. Os
frutos carnosos e indeiscentes de espécies
africanas são consumidos por elefantes e
primatas.
Graças aos óleos voláteis, as
Zingiberaceae são economicamente importantes
principalmente como condimento, perfume e
corantes, destacando-se a Elletaria
cardamomum, cujo cardamom é extraído de
sementes secas, a Zingiber officinale, que
fornece o gengibre a partir de seu rizoma e a
Curcuma domestica, que tem no rizoma um dos
Fig. 25. Zingiberaceae. Zingiber officinale: hábito e detalhe ingredientes mais importantes do curry, tanto
da flor. Note que os ramos férteis saem a parte dos foliosos. relacionados ao sabor como a cor amarelada.
Note também o labelo formado pelos estames petalóides e o Muitas espécies são também cultivadas como
estame funcional com filete espessado. ornamentais, destacando-se as espécies de
Alpinia. O lírio-do-brejo (Hedychium
coronarium), introduzido da Ásia, tornou-se
subespontânea no Brasil, ocorrendo
especialmente em áreas alagadas.

Costaceae
Ervas rizomatosas, não aromáticas,
indumentadas, acaulescentes ou até 8 m alt.
Folhas monisticamente espiraladas, com bainha
fechada, ligulada. Inflorescência terminal,
ESTAMINÓDIO ESTAMINÓDIO geralmente espiga cilíndrica ou globosa pela
LATERAL LATERAL presença de brácteas imbricadas cobrindo
LABELO completamente o eixo principal, raramente
uniflora (Monocostus), em ramos foliosos ou em
Fig. 26. Zingiberaceae. Diagrama floral. um ramo lateral (sem lâminas foliares) à parte.
Flores bissexuadas, trímeras, zigomorfas,
subtendida por uma bractéola tubulosa, 1-2 por
bráctea, a qual A família é pantropical, com quatro
gêneros: Costus é pantropical (70 espécies, 40
nos Neotrópicos, 25 na África e 5 no sudeste
Asiático), Monocostus (1) e Dimerocostus (2-4)
neotropicais, e Tapeinochilos (18) da Nova
Guiné e regiões da Indonésia e Austrália. A
polinização é realizada principalmente por
abelhas ou beija-flores nas espécies com tubo
floral espesso. Depois da antese, as brácteas se
abrem expondo a cápsula branca em contraste
com o interior vermelho da bráctea, atraindo
aves. Em alguns casos, o pedicelo aumenta
expondo a cápsula. As sementes unidas pelo
Fig. 27. Costaceae. Costus: hábito (note a disposição arilo são então liberadas de maneira explosiva e
espiralada das folhas) e inflorescência (note as brácteas). dispersadas provavelmente pela água.
eventualmente possui um apêndice foliar Marantaceae
desenvolvido no ápice e nectários extraflorais; Ervas terrestres, rizomatosas, às vezes
cálice tubuloso, levemente 2-3-lobado; corola volúveis. Folhas dísticas, com pulvino e bainha
com os 3 lobos imbricados, fundidos na base em sem lígula, eventualmente roseta de folhas
um tubo do tamanho do cálice, o mediano próximo ao solo em espécies de crescimento
geralmente maior e cuculado. Estame 1, biteca, reduzido. Inflorescência terminal ou lateral, em
petalóide, suculento, geralmente na região ramos foliosos ou exclusivamente reprodutivos,
mediana ou abaixo; 5 estaminóides fundidos formando um tirso capitado ou espiga, composto
formando um labelo petalóide. Ovário de brácteas dística ou espiraladamente dispostas
tricarpelar, o estilete incluído entre as anteras, cuja axila abriga uma a muitas címulas
estigma com 2 estruturas ciliadas, apêndice bi(uni)floras, cada qual com um profilo dorsal,
dorsal bilobado ou cupuliforme, ciliado. Fruto geralmente uma escama como interfilo ventral e
cápsula deiscente; sementes com arilo branco ou uma a duas bractéolas. Flores bissexuadas,
amarelo, opérculo e hipostase desenvolvidos. assimétricas, pares especulares; cálice
dialissépalo; corola, androceu e gineceu fundidos
em um tubo. Androceu com verticelo externo
geralmente composto por 2 estaminódios
fundidos, petalóides, conspícuos, raramente
discretos ou ausentes; os internos unidos na base
formando um tubo estaminal que ultrapassa o da
corola em altura, composto por um estame
funcional, monoteca, com um apêndice petalóide
derivado da outra antera, um estaminódio
cuculado com um apêndice lateral que serve
como gatilho para a liberação do estilete durante
a visita do polinizador, e um estaminódio caloso,
conspícuo, firme e carnoso. Ovário trilocular,
freqüentemente apenas um lóculo fértil, com um
óvulo basal; nectários septais imersos; estilete
basalmente fundido ao tubo da flor, incluído no
estaminódio cuculado, voltado sob tensão para
tráz, liberado com a visita do polinizador;
estigma na depressão do ápice do estilete, plano
na parte dorsal onde o pólen gruda logo depois
de sua liberação das anteras, com a flor ainda em
botão. Fruto cápsula loculicida, raramente
bacóide e indeiscente ou cariopsóide; sementes
sofrem longa dormência, geralmente ariladas
Fig. 28. Costaceae. Costus.
que se possa aprimorar a classificação interna da
família. Compartilha muitas características com
Cannaceae, como flor assimétrica, sépalas livres,
pétalas fundidas na base, anteras bisporangiadas,
estilete modificado, mas tem como
sinapomorfias o pulvino e as modificações do
sistema reprodutivo.
No Novo mundo, são polinizadas por
abelhas Euglossinae, mas existe a possibilidade
de pássaros também atuarem como
polinizadores. Não existe informação para o
Velho Mundo, onde essas abelhas não ocorrem.
O visitante é orientado a entrar entre os
estaminódios caloso e cuculado e, ao afastar o
apêndice do estaminódio cuculado, libera o
estilete, que dispara, entrando na fossa
proboscidal da abelha, retendo pólen na região
estigmática e liberando o pólen da região do selo
logo após. As flores têm apenas uma chance de
ser polinizada; depois de liberado, o movimento
do estilete é irreversível.

Fig. 29. Marantaceae. Hábito, inflorescência e flor em


detalhe. Note a assimetria da flor.

(ausente ou modificado em uma polpa


mucilaginosa em frutos indeiscentes).
Marantaceae contém 31 gêneros e 450-
550 espécies. A família é essencialmente
pantropical (algumas espécies ocorrem em
regiões temperadas das Américas). A maior
diversidade (450 espécies, 80%) está
concentrada nas Américas, e a maioria (250-300
spp.) em Calathea. Na África, ocorrem apenas Fig. 31. Marantaceae. Flor: se = tépala, verticilo externo; p=
30-35 espécies (9%), e 10-12 gêneros. Na Ásia, tépala, verticilo interno; cap = estaminódio cuculado,
os dados são esparsos, mas estima-se cerca de 50 verticilo interno; cal: estaminódio caloso, verticilo interno
também; a = antera funcional; detalhe interno, sem perianto
espécies (11%) e oito gêneros. Ocorrem (note o estilete curvado sobre o estaminódio caloso depois
geralmente em áreas florestais, perturbadas, com reter o pólen do estame funcional recurvado e liberado pelo
clareiras, já que poucas espécies suportam muita estaminódio cuculado.
sombra ou ambientes permanentemente abertos.
Graças ao complexo mecanismo de
polinização a produção de sementes em
Marantaceae é relativamente pequena (1
semente/10 flores), o que é compensado pelo
número de flores e longevidade da planta. As
80%
flores visitadas são distintas daquelas não
9%
11% visitadas em relação a forma e mesmo a cor,
otimizando a atividade do polinizador. A forma
do estilete pode permitir também a deposição do
pólen diretamente no estigma, viabilizando a
Fig. 30. Distribuição de Marantaceae.
autofecundação, já que as Marantaceae são
autocompatíveis.
É artificialmente dividida em Maranteae
A dispersão é marcadamente realizada
com um lóculo fértil no ovário e Phrynieae com
por formigas que carregam as sementes para suas
três. No entanto, faltam ainda dados,
colônias consumindo o arilo e assim facilitando a
principalmente das espécies paleotropicais, para
germinação. Em algumas espécies o arilo é azul
e fica exposto na cápsula por um longo período.
Nesses casos e naqueles onde o fruto é
indeiscente, a dispersão deve ser por vertebrados,
provavelmente pássaros, mas não existem
registros ainda.
Não possuem uma importância
econômica relevante, mas seu potencial
ornamental vem sendo melhor aproveitado
recentemente. Maranta arundinacea é utilizada
na produção de araruta (polvilho).

Cannaceae Fig. 30. Distribuição de Cannaceae.


Ervas glabras, às vezes gigantes, com
rizoma simpodial tuberoso e canais de previamente depositado numa região do estilete,
mucilagem na parte subterrânea e aérea. Folhas nesse caso ventral, em oposição ao dorsal na
dísticas ou espiraladas (talvez por torção do outra família. São amplamente cultivadas pelo
ramo), bainha aberta e sem lígula, passando a rizoma amiláceo e o potencial ornamental, então
lâmina foliar gradativamente para o ápice do com uso de poliplóides. Mais de 1000 variedades
ramo. Inflorescência terminal composta de cultivadas são conhecidas, principalmente na
cincínios com poucas flores, dispostos Austrália e na Índia. As sementes possuem longa
tristicamente formando um tirso (eventualmente dormência e depois de séculos ainda podem ser
cincínios reduzidos a uma flor formando um viáveis.
racemo). Flores bissexuadas, assimétricas;
sépalas livres, verdes ou roxas, mas não
petalóides; pétalas conadas na base formando um
tubo, uma menor que as outras duas. Estame
funcional, monoteca, a outra teca supressa;
estaminóides geralmente 1-4, petalóides, o
oposto ao estame funcional formando o labelo,
os demais formando alas com formatos variados.
Ovário tricarpelar com duas fileiras de óvulos
alternados; placentação axilar em cada lóculo;
estilete petalóide com superfície estigmática
úmida, papilosa na borda; sementes não ariladas.

Fig. 33. Cannaceae. Detalhe interno da flor.

Fig. 32. Cannaceae. Canna indica: planta com flor e frutos e


flor. Note a variação na morfologia flora dessa espécie.

Conta com um único gênero, Canna, e


9-25 espécies distribuídas nas ilhas virgens e nas
Américas, do nível do mar a altitudes de 2700 m.
Algumas espécies ocorrem de maneira dispersa
no Velho Mundo, talvez por influência humana.
São polinizadas por pássaros, mas casos de Fig. 34. Cannaceae. Flor: s = tépala do verticilo externo; p=
tépala do verticilo interno; st = estaminódio do verticilo
polinização por morcegos foram relatados. O externo; l = labelum (um estaminódio do verticilo interno); a
grão de pólen, como em Marantaceae, é = meia antera funcional; f = estigma laminar; stg = estigma.
POALES
Estudos com rbcL e dados morfológicos
(Linder & Kellog 1995) tentaram detectar as
relações entre Poales e ordens afins, mas foram
pouco sustentados. A análise combinada indicou
um clado caracterizado por plantas polinizadas
pelo vento. Nessa situação, Xyridaceae e
Eriocaulaceae apareceram mais relacionadas
com o clado Poales-Cyperales, que inclui
Typhales como grupo irmão de Poales. As
Rapateaceae aparecem mais relacionadas com
Bromeliaceae e juntas formam o grupo irmão do
clado das plantas polinizadas por insetos. O
clado das plantas anemófilas é sustentado por
duas características: embrião lenticular e
ausência de nectários. A primeira característica
parece não ser sustentada anatomicamente e a
falta de nectários (assim como o grão de pólen
porado) pode representar convergências
relacionadas à polinização pelo vento.
Fig. 35. Cladograma de Poales. * indicam ramos bem
sustentados.
Análises com três regiões de DNA
ofereceram mais consistência para as relações
em Poales, confirmando a relação de Poales e
Cyperales, mas com pouco suporte. Xyridaceae,
antes em Commelinales, apareceu mais
relacionada com Cyperaceae-Juncaceae,
sugerindo que Eriocaulaceae e Rapateaceae
também devam estar nesse clado. Bromeliales
apareceu como grupo irmão do clado Poales-
Cyperales, mas como o suporte daquele clado foi
pequeno ela foi incluída em Poales s.l., até que Bromeliaceae
análises mais consistentes possam estabelecer a Ervas (Pitcairnia) ou arbustos (Puya),
relação entre elas (Chase et al. 2000, APG II). freqüentemente epífitas com caule e raízes
Typhales e Bromeliales (incluídas agora no clado reduzidos. Folhas freqüentemente serreadas,
de Poales s.l.) haviam sido consideradas por alternas, dispostas imbricadamente em rosetas
Dahlgren et al. (1985), juntamente com formando um tanque ou mais raramente dísticas.
Velloziaceae (agora em Pandanales), Inflorescência terminal em espiga, racemo ou
Pontederiaceae e Phylandraceae (agora panícula, bracteada. Flores geralmente
transferidas para Commelinales) em bissexuadas (protândricas), trímeras, diali ou
Bromeliiflorae. gamopétala, actino a zigomorfas, hipo a epígena,
Resultados com rbcL, morfologia e diclamídeas, heteroclamídeas, na axila de uma
atpA (Michelangeli et al. 2003) não foram bráctea vistosa. Estames 6, deiscência
suficientes para definir as relações entre as longitudinal ou raramente poricida. Ovário
famílias de Poales s.l., mas indicaram que trilocular; placentação axilar, com muitos óvulos
Xyridaceae incluindo Abolboda não é por lóculo. Fruto cápsula ou baga,
monofilética, e que o grupo irmão de Poaceae é eventualmente formando frutos múltiplos
Ecdeicoleaceae ou Joinvelleaceae, ambas (Ananas); sementes eventualmente aladas ou
compartilhando com aquela família uma inversão plumadas quando cápsula.
6Kb no genoma de plastídeo. Uma inversão de A família inclui cerca de 2000 espécies
28Kb também ocorre nas 3 famílias, assim como na América tropical e subtropical, Tillandsia
em alguns grupos de Restionaceae, sugerindo usneoides (barba-de-velho) ocorrendo em toda
que essa inversão possa ser convergente. essa região. Existe, entretanto, uma espécie,
Pitcairnia feliciana, endêmica da África. São
consideradas três subfamílias. Pitcairnioideae
(e.g. Pitcairnia e Puya), com 1/3 das espécies,
incluindo principalmente plantas terrestres,
xerofíticas e com ovário súpero, fruto cápsula e
sementes aladas, era considerada a subfamília
mais basal e provavelmente parafilética.
Bromelioideae (e.g. Bromelia, Ananas,
Bilbergia, Aechmea), com espécies terrestres e
epífitas, ovário ínfero e fruto baga era
considerada mais derivada, assim como
Tillandsioideae (e.g. Tillandsia e Vriesia), a
maior das subfamílias, incluindo apenas as
epífitas com ovário súpero, fruto cápsula e
sementes plumadas.
Algumas bromélias (e.g. Tillandsia)
possuem raízes extremamente reduzidas,
absorvendo água e nutrientes com auxílio de
tricomas escamiformes peltados. As folhas em
algumas espécies formam um tanque que
armazena água e húmus, e serve de abrigo para
vários animais, dando origem a um
microambiente com fauna e floras particulares.
Nesses casos a deposição de água e detritos

Fig. 36. Bromeliaceae. Representantes das três subfamílias:


Pitcairnioideae, Bromelioideae e Tillandsioideae,
respectivamente. Note a variação no hábito.

Fig. 38. Detalhe dos tricomas escamiformes de


Bromeliaceae.

Fig. 39. Bromeliaceae. Tanque formado pelas folhas. Note a


Fig. 37. Cladograma de Bromeliaceae baseado em ndhF inflorescência no centro.
(Crayn et al. 2000).
acaba ajudando na captação de umidade e Consistem de 80 espécies e 16 gêneros,
nutrientes. São polinizadas por aves, morcegos e divididos em duas subfamílias. A distribuição é
insetos e dispersadas pelo vento no caso das basicamente restrita ao norte da América do sul,
sementes aladas ou plumadas, ou animais no com uma espécie (Maschalocephalus dinklagei)
caso de bagas. São amplamente utilizadas como endêmica na África. Ocorem principalmente em
ornamentais, e o abacaxi (Ananas comosus) áreas de matas ciliares, em florestas na
destaca-se entre os representantes mais ilustres Amazônia ou trechos encharcados em campos
da família. rupestres do Brazil Central e das Guianas.
Caracteres anatômicos, morfológicos,
palinológicos e embriológicos foram utilizados
por Dahlgren para associar essa família com
Commelinaceae e Xyridaceae. Estudos
filogenéticos com dados moleculares indicaram,
no entanto, uma maior proximidade com
Bromeliaceae, enquanto os morfológicos
relacionaram a família com Cyperaceae e
Juncaceae.

Poaceae
Ervas perenes ou anuais, rizomatosas
ou com estolhos sob o solo; caule aéreo colmo
cilíndrico, fistuloso, herbáceo ou lenhoso,
eventualmente cheio. Folhas com bainha aberta
e lígula membranácea ou em tufos de tricomas,
dísticas (em duas fileiras). Inflorescência
Fig. 40. Bromeliaceae. Abacaxi. espigueta composta por duas fileiras de brácteas
alternas na ráquila; as duas basais (glumas)
Rapateaceae vazias, o restante formando antécios: uma floreta
Evas, raramente epífitas, rizomatosas, subtendida por duas brácteas, a lema
mucilagem presente. Folhas lineares, partindo externamente, e a pálea, geralmente menor e
do solo, freqüentemente com as bainhas translúcida, internamente; espiguetas arranjadas
intercaladas na base. Inflorescência terminal, em espigas dispostas digitalmente ou em
tirso ou tirsóide, capituliforme ou especiforme, racemos, eventualmente ramificadas em
longamente pedunculada, subtendidas por 2 ou panículas por vezes muito condensadas. Floreta
mais brácteas. Flores bissexuadas, diclamídeas, uni ou bissexuada, hipógina, com duas lodículas
heteroclamídeas, trímeras, actinomorfas ou na base. Estames 3, anteras sagitadas, versáteis,
quase, hipóginas; sépalas rígidas, unidas; pétalas pólen abundante (efêmero). Ovário bicarpelar,
fundidas na base. Estames 6, unidos na base, unilocular, uniovulado; dois estigma plumosos.
deiscência poricida. Ovário tricarpelar, Fruto cariópse.
sincárpico, uni a trilocular, 1-vários óvulos
basais ou axilares. Fruto cápsula septicida, com
muitas sementes prismáticas ou oblongas.

Fig. 42. Campo de gramíneas.

As gramíneas incluem entre 650 e 760


Fig. 41. Rapateaceae. Kunhardtia rhodantha: inflorescências. gêneros e cerca de 9000 espécies. Estão
presentes em todos os ambientes e são
dominantes em cerca de 20% da Terra,
Fig. 43. Poaceae. Raízes adventícias e estolho. Fig. 45. Esquema da espigueta de Poaceae: pa = pálea.

Fig. 44. Poaceae. Detalhe da lígula.

compondo paisagens como as pradarias na


América do Norte e as estepes e savanas
africanas, os pampas no Rio Grande do Sul e os
campos do Brasil Central. São facilmente
reconhecidas pelas espiguetas com glumas e
antécios compostos por lema e pálea, presença
de lodículas, fruto cariópse, além de
características do embrião e do pólen.
Semelhanças com Cyperaceae são resultado de
convergências. Cyperaceae está mais relacionada
com Juncaceae, enquanto Poaceae está mais Fig. 46. Poaceae.
perianto para 1-2 lodículas representando o
Estame Lem verticilo interno (a pálea representaria as duas
tépalas externas, colocação muito especulativa
Gluma no entanto), pistilo unilocular, uniovulado e
embriogênese do tipo gramináceo. Em alguns
casos houve redução do número de estames e a
diferenciação das lodículas. As outras famílias
ocorrem predominantemente no hemisfério sul,
tendendo a flores freqüentemente unissexuadas e
redução de 4 para 2 microsporângios por antera.
Gluma A formação de ramos subterrâneos e
meristema intercalar entre a bainha e o nó
permite um crescimento contínuo nas gramíneas,
mesmo quando elas são danificadas,
proporcionando um sistema altamente resistente.
Algumas plantas podem se espalhar por largas
áreas (250 m diâm.), como Festuca rubra, e
chegar a viver 1000 anos (F. ovina). As
espiguetas são geralmente bissexuadas, mas
eventualmente unissexuadas. Apomixia e
cleistogamia parecem freqüentes. As espiguetas
podem eventualmente desenvolver bulbilhos e se
propagar vegetativamente (comum em espécies
no ártico; viviparidade é registrada em
Melocanna, por exemplo). Cerca de 80% das
espécies são poliplóides. O fruto cariópse é um
grão com a parede fundida à semente (raramente
ocorre aquênio ou baga) geralmente estando
associada com partes da espigueta na dispersão.
A dispersão ocorre geralmente com parte da
Fig. 47. Poaceae. Espiguetas. Note as anteras e o estigma infllorescência, pelo menos com a pálea. As
bífido proeminentes
plumadas são geralmente dispersadas pelo vento.
relacionada com Restionaceae, família com 320 Algumas sementes viscosas e outras escuras
espécies distribuídas de maneira relictual, podem ser dispersadas por pássaros. O
principalmente no hemisfério sul, caracterizadas cotilédone é modificado em um escutelo de
por serem diclinas e raramente desenvolverem posição lateral, estrutura haustorial embebido no
lâmina foliar. endosperma.
Outras pequenas famílias estão As gramíneas incluem todos os cereais,
proximamente relacionadas com Poaceae, a cana, os bambus, os pastos, etc. O uso de
destacando-se Joinvillaceae (um gênero : duas cereais é milenar, 8 a 10 mil anos na Ásia e
espécies), Flagellariaceae (1 : 4), Anarthiaceae (1 Oriente médio onde o trigo (Tristicum aestivum)
: 7), Ecdeiocoleaceae (2 : 2) e Centrolepidaceae e a cevada (Hordeum vulgare) habitavam
(3 : 35). Essas famílias eram unidas naturalmente; sem mencionar o arroz (Oriza
tradicionalmente em Poales por causa do pólen sativa). Na Europa, passaram a ser cultivados a
porado e anulado, placentação apical (exceto em aveia (Avena sativa) e o centeio (Secale cereale).
Graminea, quase basal), óvulos ortótropos (até Existem grãos cultivados na África também,
anátropos em Poaceae), sem célula parietal, como Sorgum bicolor e Pennisetum glaucum.
formação de endosperma nuclear e escutelo, Nas Américas destaca-se o milho (Zea mays) e o
além dos corpos de sílica na epiderme (ausentes cultivo da cana do sudeste asiático (Saccharum
em grupos com anteras monotecas). A relação offinale). Cerca de 70% das fazendas no mundo
entre essas famílias é controversa, e até 1987 estão fundadas no cultivo de gramíneas, que
foram obtidos cladogramas bem distintos representam 50% das calorias da humanidade.
(resumidos em Kellog & Linder 1995). Outra importância das gramíneas está na
Poaceae é considerada a família mais produção de pasto para a criação de animais.
especializada desse grupo devido a redução do Algumas espécies são invasoras de culturas
como o capim-gordura (Melinis) e a braquiária
(Brachiaria). O bambu é utilizado na construção
em muitas partes do mundo e do Cymbopogon,
capim-limão e citronela, são feitas infusões e
extraídos óleos para perfumes e repelentes.

Fig. 49. Eriocaulaceae. Hábito, capítulo e grão de pólen


espiraperturado.
Fig. 48. Poaceae. Exemplo de plantas amplamente cultivadas:
arroz, trigo, cana-de-açúcar, bambu e milho.

Eriocaulaceae
Ervas geralmente terrestres,
freqüentemente rizomatosas. Folhas
graminóides, em rosetas na base ou ao longo do
caule. Inflorescência capituliforme, subtendida
por um invólucro de brácteas, longamente
pedunculada, isolada ou em umbelas. Flores
geralmente unissexuadas, diclamídeas
(raramente monoclamídeas), heteroclamídeas, trí
ou dímeras, actino a zigomorfas, hipóginas;
masculinas e femininas misturadas no capítulo
ou as masculinas mais internamente,
eventualmente plantas diclinas; pétalas
freqüentemente fimbriadas, as externas às vezes
unidas entre si. Estames (1-)2-6; filamentos
conados ou não, unidos às pétalas; grãos de
pólen espiraperturados. Ovário bi ou tricarpelar,
sincárpico; placentação basal, lóculos
uniovulados, óvulo ortótropo; estilete 1-3;
nectários septais. Fruto cápsula loculicida.
Eriocaulaceae inclui cerca de 1200 Fig. 50. Eriocaulaceae.
espécies e nove gêneros, destacando-se
Paepalanthus, com 480 espécies. Possui questionado. São reconhecidas tradicionalmente
distribuição predominantemente tropical e Eriocauloideae com o dobro de estames em
subtropical, mas chega ao sul da América do Sul relação ao número de pétalas e nectário no ápice
e Reino Unido. Prefere solos freqüentemente das pétalas e Paepalanthoideae com o mesmo
alagados, em ambientes de clima sazonal. Por número e sem nectários. Esse arranjo, no
causa das inflorescências e do pólen, o entanto, mostra-se artificial, separando gêneros
monofiletismo de Eriocaulaceae jamais foi relacionados.
A polinização pode ocorrer pelo vento, Juncaceae
principalmente naquelas espécies com estames Ervas anuais ou perenes, terrestres a
exertos à corola, mas a entomofilia é provável aquáticas, rizomatosas; caule ereto. Folhas
por causa de nectários. A autogamia é freqüente. cilíndricas ou planas, graminóides, em tufos na
As sementes devem ser dispersadas pelo vento e base ou reduzidas a bainhas. Inflorescências
chuva. São muito utilizadas como enfeites freqüentemente condensadas, eventualmente
porque conservam as características da planta solitárias, pedúnculo subtendido por um par de
viva depois de desidratada, o que lhe rendeu o brácteas. Flores discretas, bi ou unissexuadas
nome de sempre-vivas. (plantas mono ou diclinas), trímeras,
(mono)diclamídeas, actinomorfas, hipóginas,
Xyridaceae protegidas por 1-4 brácteas; tépalas 6,
Ervas freqüentemente rizomatosas. escamiformes. Estames geralmente 6. Ovário
Folhas lineares, em tufos na base. tricarpelar, sincárpico, (uni)trilocular;
Inflorescências globosas ou cilíndricas, repleta placentação axilar, muitos ou poucos óvulos;
de brácteas imbricadas, longamente estigmas 3; sem nectários. Fruto cápsula seca
pedunculadas. Flores bissexuadas, trímeras, loculicida; endosperma helobial.
levemente irregulares, hipóginas, na axila da
bráctea; três sépalas, a interna formando um
capuz sobre as pétalas, caindo na antese; pétalas
freqüentemente unguiculadas ou formando um
tubo, ao menos na base, geralmente amarelas
(Xyris) ou roxas (Abolboda). Estames 3, opostos
às pétalas, eventualmente 3 estaminódios
ramificados no ápice, indumentados. Ovário
tricarpelar, sincárpico, unilocular, multiovulado;
estilete simples ou trilobado; sem nectários.
Fruto cápsula loculicida.

Fig. 52. Juncaceae. Juncus: hábito, inflorescência e frutos.

A família é composta de 6-8 gêneros e


300 espécies (220 em Juncus), distribuídas
principalmente em regiões temperadas ou
montanas, incluindo mesmo espécies na antártica
(Rostkovia e Marsippospermum). Preferem
ambientes alagados e abertos. Insetos visitam as
flores de algumas espécies a procura de pólen,
mas são predominantemente anemófilas. As
Fig. 51. Xyridaceae (flores amarelas) e Eriocaulaceae sementes viscosas são dispersadas com auxílio
(capítulos alvos) e inflorescência de Xyridaceae (Xyris). de animais se aderindo a eles. São comuns casos
de autopolinização e reprodução vegetativa
Família de distribuição pantropical, com através de rizomas. São utilizados
cinco gêneros e ca. 275 espécies, todos principalmente em artesanatos e algumas
representados nas Guianas, Xyris com 250 espécies tornaram-se ruderais.
espécies. Desse grupo, Abolboda, com flores
azuis e endosperma com desenvolvimento Thurniaceae
helobial, é bem discrepante. Apenas 1-2 flores Ervas paludosas, rizomatosas. Folhas
efêmeras se abrem por vez na inflorescência. A lineares, plicadas, minutamente serreadas,
recompensa deve estar relacionada ao pólen, já trísticas, formando uma roseta na base da planta.
que não é produzido néctar, e os estaminódios Inflorescência globosa, subtendida por 2 ou
com tricomas moniliformes parecem contribuir mais brácteas, longamente pedunculada. Flores
para agregar pólen ao inseto. As sementes bissexuadas, trímeras, diclamídeas,
pequenas são dispersadas por vento ou pela água monoclamídeas, actinomorfas, hipóginas; tépalas
6. Estames 6, epitépalos. Ovário tricarpelar,
sincárpico, trilocular; placentação basal, um a
muitos óvulos por lóculo; nectários ausentes.
Fruto cápsula loculicida.

Fig. 54. Cyperaceae. Hábito, rizoma e bainha fechada.

freqüentemente vazias; espiguetas em panículas,


eventualmente condensadas formando um
aglomerado de espiguetas, ou reduzidas a uma
única espigueta, subtendidas por brácteas
foliosas. Flores hipóginas, dispostas dística ou
espiraladamente; perianto ausente ou
representado por escamas, aristas ou tricomas.
Estames(1-)3(-6), filetes livres. Ovário bi ou
tricarpelar, sincárpico, unilocular, uniovulado;
placentação basal, estilete bi ou trífido; sem
nectários. Fruto aquênio associado ao perianto
permanente.

Fig. 53. Thurniaceae.

Família com um gênero e três espécies


nas Guianas e parte da Amazônia, e um gênero
monoespecífico na África, geralmente
encontrada em ambientes inundados, ao menos
sazonalmente. Muito semelhante à Juncaceae
com a qual compartilha a apresentação do pólen
em tétrades e talvez possa ser incluída naquela
família. Distingue-se, no entanto, pela presença
de corpos de sílica.

Cyperaceae
Ervas perenes ou anuais, terrestres,
raramente aquática, rizomatosa; caule aéreo
colmo (nítida divisão entre nós e entrenós),
triangulares em corte transversal, cheios,
raramente fistulosos, freqüentemente não
ramificados abaixo da inflorescência, áfilos.
Folhas graminóides, geralmente com bainha
fechada, sem lígula, arranjadas em tufos na base
do caule, geralmente trísticas (em 3 séries).
Flores uni ou bissexuadas (plantas monoclinas),
arranjadas em espigas (espigetas), subtendidas
por brácteas (glumas), as proximais e as distais
Fig. 55. Cyperaceae.
Inclui aproximadamente 4500 espécies
e 60 gêneros, destacando-se Carex com cerca de
2000 espécies. Nos Neotrópicos, ocorrem cerca
de 1000 espécies, destacando-se Rynchospora,
com 250 espécies. Está amplamente distribuída,
principalmente em regiões temperadas e na zona
subártica, mas não na antártica. Ocorrem
predominantemente em locais abertos,
paludosos, especialmente em regiões de altitude.
São caracterizadas por corpos de sílica
triangulares na epiderme, flores com três
estames, degeneração de três micrósporos que
passam a incorporar a parede do quarto restante
(pseudomonâde), um óvulo de placentação basal,
formação de endosperma nuclear (helobial em
Juncaceae) e fruto indeiscente. A divisão interna
da família está baseada na flor e na
inflorescência.
São protogínicas e anemófilas: as flores
são inconspícuas, com perianto reduzido, o
estigma é longamente ramificado, as anteras
possuem o filamento alongado na antese e o
pólen é abundante. Entretanto, existem registros
de visitas de insetos em busca de pólen.
Dependendo da forma, os frutos podem ser
dispersados por água, vento, pássaros, formigas,
mas os casos documentados são esparsos. A
reprodução por partição do rizoma (vegetativa) é
comum. Dentre as utilidades, destaca-se a
produção de papirus (Cyperus papirus), e muitas
espécies são utilizadas como material para a
Fig. 56. Cyperaceae. Inflorescências. Notem brácteas foliosas
construção de cestos, jangadas e embalagens. O
na base das espiguetas. tubérculo de algumas espécies é consumido em
países orientais e são invasoras agressivas.

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