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Origem das Espermatófitas e das angiospermas?

1. Através do registro fóssil;


Grupos de Gimnospermas 2. Através de morfologia comparada e
investigações filogenéticas, tanto de grupos
Introdução atuais relacionados evolutivamente, como de
A origem das angiospermas foi grupos fósseis;
considerada por Darwin, em 1879, "um mistério 3. Através da combinação de estudos
abominável". O que causou a estupefação de moleculares e ontogenéticos que permitem
Darwin foi o surgimento repentino das entender, por exemplo, a evolução do
angiospermas no registro fóssil. De repente, sem desenvolvimento floral e assim reavaliar
um elo aparente com nenhum grupo, as hipóteses de homologia.
angiospermas teriam surgido de maneira
abundante e diversa. A origem e irradiação das Quais são os problemas encontrados
angiospermas estão entre os assuntos mais nessas investigações?
fascinantes da botânica, e apesar do enorme 1. O registro fóssil é incompleto.
progresso nos últimos anos, muita coisa ainda 2. A relação filogenética entre as plantas
está em aberto. A compreensão sobre a origem e com semente é controvertida.
diversificação do grupo influencia diretamente os
sistemas de classificação, assim como as Uma das abordagens clássicas para se
hipóteses de evolução dos caracteres. Além investigar a origem das angiospermas é procurar
disso, o tema tem sido explorado por grandes características semelhantes em grupos
cientistas, oferecendo exemplos excelentes na proximamente relacionados evolutivamente. As
abordagem de problemas em sistemática. características compartilhadas seriam
Um ponto essencial para que se possa consideradas primitivas e justificadas pela
investigar a origem das angiospermas é que as origem comum. Grupos com grande número de
angiospermas existam ou, mais características primitivas seriam então fortes
fundamentalmente, que elas tenham uma única candidatos para representarem os grupos
origem, sejam monofiléticas. Geralmente, o ancestrais ou mais antigos de angiospermas. Os
grande número de similaridades é usado para grupos mais relacionados com angiospermas
justificar a origem única das angiospermas, já devem, portanto, ser procurados dentre as demais
que seria mais provável que elas tenham espermatófitas.
derivado de um ancestral comum em vez de As espermatófitas são as plantas com
surgido independentemente em diversos grupos. sementes. Estão divididas tradicionalmente em
Como o próprio nome indica, as angiospermas, com óvulos incluídos em
angiospermas são plantas que possuem óvulos carpelos, e as gimnospermas, com óvulos
em carpelos, ou de maneira mais popular, são as expostos (exceto Benettitales e Gnetales),
conhecidas plantas com flores. Elas reúnem ca. resultando em sementes nuas. As espermatófitas
250.000 espécies extremamente diversas teriam derivado das progimnospermas.
morfologicamente, dificultando o estudo Inicialmente, as plantas com sementes eram
comparativo. Ocorrem em todas as regiões do divididas em dois grupos: as plantas
planeta, principalmente em formações terrestres, radiospérmicas (sementes de simetria radial, e.g.
mas são menos freqüentes nas florestas de Cycadales) e as platispérmicas (sementes de
coníferas e nas tundras. As características que as simetria bilateral, e.g. coníferas). Atualmente, as
reúnem não são apenas reprodutivas e nem plantas com sementes são consideradas
sempre exclusivas e/ou universais; convergência incontestavelmente um grupo monofilético,
com outros grupos que produzem sementes, diferenciando-se das demais porque o megásporo
assim como reversões em grupos mais derivados germina no próprio megasporângio, que é
são freqüentes. Destacam-se: floema com envolto por um tegumento. Consequentemente, o
elementos de tubos crivados e células gametófito feminino permanece fixo ao
companheiras, elementos de vaso no xilema, esporófito; lembrando que nas demais plantas
folhas com venação reticulada, pólen vasculares, o gametófito é clorofilado e
columelado, óvulos bitegumentados, ovário, independente.
gametófitos feminino (oito núcleos) e masculino
(três células) reduzidos e endosperma triplóide. Gimnospermas
As gimnospermas, onde as sementes
Como é possível investigar a origem não se encontram inseridas no ovário, são na

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maioria das vezes lenhosas e com folhas o ano Posteriormente, os dois gametas espiraladamente
todo (exceto Ginkgo). As folhas possuem ciliados (anterozóides, derivados dos
geralmente venação dicotômica (exceto blefaroplastos) e móveis são lançados com
Gnetum), em vez de reticulada como nas algum líquido na câmara arquegonial. Esse
angiospermas. Apresentam câmbio e, processo é denominado zooidogamia. A
conseqüentemente, crescimento secundário; fertilização, portanto, ocorre na ausência de água
produzem traqueídes (exceto Gnetales, que externa. Em grupos mais derivados, no entanto, o
podem apresentar elementos de vaso) no xilema tubo polínico deixa os gametas imóveis
e células crivadas no floema. diretamente no arquegônio, na ausência completa
As gimnospermas são heterosporadas; de água. Esse processo é chamado de
os esporos haplóides surgem da meiose do sifonogamia.
esporócito e são reunidos em esporângios de O tempo entre a polinização e a
folhas modificadas denominadas esporofilos, fecundação pode levar mais de um ano como em
organizados freqüentemente em estróbilos ou Dioon (Cycadales) até algumas horas nas
cones. Durante a alternância de gerações, o Gnetales, podendo promover inúmeras
esporófito diplóide é a fase dominante, enquanto fecundações (poliembrionia), mas geralmente
o gametófito atua como um parasita apenas um embrião vinga. A maioria dos
alimentando-se das reservas do esporófito embriões sofre divisões nucleares sucessivas
através de um tubo haustorial. (exceto em Gnetum e Welwitschia e uma
O óvulo é composto de um tegumento sequóia, onde a fertilização é seguida de divisões
que envolve o tecido parenquimatoso (nucelo, celulares) e estão sujeitos a um período de
reserva energética utilizada pelo gametófito dormência, onde não se desenvolvem.
feminino) e um esporócito que dá origem ao A semente verdadeira é o óvulo
megásporo através de meiose (dos quatro fecundado, e possui uma testa (derivada do
megásporos apenas um é funcional, exceto em tegumento do óvulo – 2N), o endosperma
Gnetum e Welwitshia, onde a inicial do (derivado do gametófito feminino – 1N) e um
gametófito feminino é uma célula tetrasporada). embrião (resultado da fertilização do gameta
Divisões nucleares sucessivas (fase cenocítica) feminino – 2N*); no caso das gimnospermas,
são seguidas de formação da parede celular não há formação de fruto.
anticlinal (alveolação) e divisões periclinais da
periferia para o centro. Posteriormente, os Origem e Distribuição
arquegônios (geralmente até 10, mas alcançam As gimnospermas surgiram no
mais de 100 em Microcycas) são diferenciados; Devoniano (Paleozóico), ca. 360 m.a. No
exceto em Gnetum e Welwitschia, onde não Carbonífero, já estavam diversificadas, e
ocorre a formação de parede celular completa do atingiram seu auge no Triássico (Mesozóico), ca.
gametófito, nem formação de um arquegônio. 200 m.a. Atualmente, abrangem quatro grupos
O micrósporo uninucleado dá origem à bem definidos – Cycadales, Ginkgo biloba, as
célula protalial e do meristema. A última se coníferas e as Gnetales – cuja relação ainda é um
divide, formando a célula do tubo e a célula pouco confusa. São 80 gêneros e 870 espécies,
generativa. O grão de pólen (gametófito principalmente nas regiões temperadas. Alguns
masculino) entra pela micrópila, abertura grupos dominam grandes áreas florestais, como é
formada pelo tegumento do óvulo feminino. O o caso das coníferas na taiga; outros são
grão de pólen germina na câmara polínica, representados por populações isoladas em
rompendo a exina, projetando a intina, formando regiões tropicais e subtropicais, como é o caso da
assim o tubo polínico. O tubo polínico se maioria das cicas; outros ainda são
desenvolve, produzindo enzimas e consumindo extremamente localizados, como é o caso da
parte do nucelo do megasporângio durante Gingko biloba, considerada um fóssil vivo, o
meses. A célula generativa se divide em célula único remanescente de uma linhagem,
estéril e célula espermatogênica, responsável atualmente encontrada apenas em florestas
pela geração dos dois gametas. O número de remotas da China, ou Welwitschia mirabilis,
divisões do gametófito pode variar entre os espécie pitoresca e encontrada apenas no deserto
grupos; em Agathis (conífera), o da Namíbia, no sudeste da África.
microgametófito pode chegar a 40 células.
Em Cycadales e Ginkgo, o tubo amplia Progyminosperma
a câmara polinífera, formando a câmara Em 1960, Beck, baseado em um fóssil
arquegonial, entre o nucelo e o gametófito. de Archaeopteris, gênero com fronde de

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pteridófita em conexão com Callixylon, gênero tecidos parenquimatosos. As folhas,
que apresentava crescimento secundário supostamente decíduas, eram simples,
característico de gymnospermas, reconheceu um lanceoladas, espiraladas, com venação reticulada
novo grupo, denominando-o Progymnosperma. e estômatos anomocíticos. Os microsporofilos
Posteriormente, descobriu-se que, em vez de laminares com microsporângios agrupados em
folhas compostas, a suposta fronde representava "sacos polínicos" e megasporofilos peltados,
ramos e as folhas eram simples e laminares. convoluto.
A partir desse grupo de plantas do As Caytoniales estão entre os principais
Devoniano com crescimento secundário e candidatos para representar o ancestral das
produção de heterósporos liberados pela planta angiospermas. Elas estão registradas entre o
mãe teriam derivado as plantas com semente. A Triássico e o Cretáceo. As folhas são compostas,
linhagem das espermatófitas sofreu então palmadas e a venação simples, reticulada. Os
redução do número de megásporos (até um) e óvulos são envoltos por uma cúpula derivada do
retenção do mesmo em um esporângio protegido dobramento do megasporofilo (ou
por um tegumento com micrópila, fixo ao megasporofiliólos?), compondo o megasporofilo
esporófito, dando origem ao "óvulo verdadeiro". bilateralmente ramificado. A cúpula poderia ser
homóloga ao tegumento externo de um óvulo
Pteridospermae (Cycadofilicicales) anátropo, bitegumentado de angiospermas,
As primeiras espermatófitas são considerada condição ancestral em angiospermas
artificialmente denominadas pteridospermas; são por alguns autores. Os microsporângios são
caracterizadas pela fronde de pteridófita e agrupados em sinângios poliníferos
presença de sementes. Apareceram no quadriloculares (quatro sacos poliníferos com
Devoniano, atingiram o auge no Carbonífero, pólen alado, bi-auriculados e superfície
decaíram no Permiano e ressurgiram no alveolada). Alguns consideram as Caytoniales
Triássico, se extinguindo entre o Jurássico e o relacionadas a Bennettitales e Gnetales, outros
Cretáceo. Até o final do século passado, eram chegaram a considerá-las verdadeiras
conhecidas principalmente pela anatomia com angiospermas por causa dos óvulos anátropos,
características intermediárias entre as Cycas e as que poderiam ter derivado da redução do número
pteridófitas, e receberam o nome de de óvulos para apenas um por cúpula. Outros
Cycadofilicicales. As pteridospermas foram autores desvinculam essa relação e acreditam
reconhecidas em 1903 a partir de folhas com num paralelismo.
semente e, em pouco tempo, foram relacionadas As Coritospermales existiram no
às Cycadofilicicales (nome correto). Formam um Gondwana, durante o Triássico. Eram plantas
grupo muito heterogêneo, definido pela ausência lenhosas caracterizadas por folhas em forma de
de estróbilos apesar da presença de sementes. samambaias e megasporofilos bipinados
Medullosa noei, por exemplo, organizados dorsiventralmente. A redução do
apresentava o hábito típico de samambaia. Essas número de óvulos por cúpula para um ajudaria a
plantas viveram no Carbonífero e eram corroborar a hipótese de que o segundo
caracterizadas pelo caule manoxílico, onde a tegumento dos óvulos bitegumentados de
medula e o córtex são espessos. As angiospermas poderia ter derivado da cúpula das
pteridospermas são como samambaias com pteridospermas.
sementes ou gimnospermas com hábito de
samambaias. Pareciam Cycas que não Cycadales
desenvolveram estróbilos. Provavelmente, não As Cyacadales surgiram no Carbonífero
formam ainda tubo polínico e, portanto, Superior, provavelmente derivadas das
produziam o "pré-pólen". Os estômatos eram pteridospermas (Cycadofilicicales), e atingiram o
anomocíticos e as sementes já produziam três auge no Jurássico. Dominaram a vegetação entre
camadas no tegumento: sarcotesta, esclerotesta, 300-70 m.a., e hoje contam com 11 gêneros e
endotesta. 190 espécies tropicais e subtropicais. Muitas
As Glossopteridales predominaram no espécies ocorrem em ilhas; no Caribe, ca. 40
Gondwana, durante o Permiano e representaram nomes foram sinonimizados em Zamia pulmila,
uma importante evidência da deriva continental sugerindo que o número de espécies possa
(Taylor & Taylor 1992). As raízes eram diminuir. Chamam a atenção pelos glicosídios
segmentadas, lembrando uma vértebra. O caule tóxicos e de interesse biomédico, pelo caráter
era picnoxílico, ou seja, o tecido vascular ornamental e por serem constituídas de
ocupava a maior porção, em detrimento dos representantes raros, remanescentes de uma

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linhagem antiga e ameaçada de extinção. eventualmente pode haver até três no ápice de
Macrozamia ou Encephalartos. O masculino
Características vegetativas possui um eixo central e numerosos esporofilos
São plantas com aspecto de palmeiras e espiralados com um até milhares de
denominadas como tal pelos nativos de várias microsporângios radialmente agrupados em
regiões. As raízes, eventualmente expostas, são "soros" na face abaxial, os quais liberam os
invadidas por algas azuis, formando nódulos de esporos no ar ou são carregados por besouros
Anabaena, importantes na fixação de nitrogênio (entomofilia). O pólen é cimbiforme (não
atmosférico. Isso permite que essas plantas auriculado), com exina alveolar. O
possam se instalar em solos muito pobres. O microgametófito possui geralmente cinco
caule é manoxílico; o córtex parenquimatoso células.
(células vacuolizadas e não especializadas, que
armazenam água) e grosso possui canais de
mucilagem (não de resina) e o tecido vascular é
pouco desenvolvido, formando um lenho fino ao
redor da medula também espessa. Esses tecidos
parenquimatosos com mucilagem são utilizados
como reservatórios de água e possuem toxinas e
critais de oxalato de cálcio (?). O tronco é aéreo
e colunar, geralmente não ultrapassando 10 m de
altura, mas podendo chegar até 18 m em
Lepidozamia hopei, ou subterrâneo e tuberoso,
ramificando somente quando o ápice é A
danificado. Na realidade, o caule é formado por
um sistema de ramificações (crescimento
simpodial), ou seja, vários ramos axilares
(exceção ao esporófito feminino de Cycas), cada
qual forma uma nova coroa depois que o
estróbilo terminal se desenvolve (visível em
espécies subterrâneas). As folhas são compostas,
pinadas (bipinada em Bowenia e uma espécie de
Zamia), formando uma coroa no ápice do caule,
são cobertas por cutícula e os estômatos
(anomocíticos) se fecham, evitando a perda de
água e permitindo que a planta se estabeleça em C
ambientes secos; são substituídas geralmente
anual ou bianualmente e deixam a base no caule
quando morrem (exceção a Microcycas e
algumas Zamia). O meristema é geralmente
B D
protegido por catafilos que também deixam sua
marca. O lenho não forma anéis de crescimento e Cycadales: A. hábito; B. microstróbilo; C. megasporofilo; D.
conjunto de megasporofilos em Cycas (note que, nesse
a estimativas da idade da planta é feita através da gênero, não há formação de megastróbilo).
base foliar presa ao caule. Numa estimativa
conservativa de Dioon edule (México), foram Os megasporofilos femininos formam
calculados cerca de 1.000 anos de vida. Os estróbilos (exceto em Cycas, onde os esporófilos
folíolos de Cycas possuem apenas a veia central, saem do centro da coroa e possuem de um a seis
enquanto o restante possui venação dicotômica, óvulos, nos demais gêneros são dois) e podem
aparentemente paralelinerve (exceção a produzir até 500 sementes e chegar a 40 kg, indo
Stangeria e Chigua, que possuem venação de 80 cm em Macrozamia até 2 cm em Zamia.
central e veias secundárias anastomosadas).
Fóssil
Ciclo reprodutivo São registrados fósseis para a Antártica
São plantas dióicas de acordo com a e Alasca, apontando uma distribuição muito mais
relação XY e a reversão sexual só foi registrada ampla para o grupo. Eles permitem estabelecer
em raríssimos casos, sob forte stress. Os algumas direções evolutivas e a descoberta de
estróbilos são geralmente solitários, mas Cycadales com folhas simples sugere que as

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folhas compostas são um estado derivado no femininos, o número de óvulos por
grupo. A reconstrução das partes reprodutivas megasporofilos e o hábito explicam a posição do
indicou uma condensação dos esporofilos na gênero no cladograma.
formação dos estróbilos característico dos grupos Zamia ocorre na Flórida, América
atuais. Nesse caso, a disposição de esporofilos de Central e norte da América do Sul. Abrange 47
maneira pouco organizada, como em Cycas, espécies, duas ocorrem nos limites norte do
seria uma característica primitiva em Cycadales. Brasil: Zamia ulei e Z. lecointei.
Chigua foi descrita em 1990 e é
Polinização endêmica de florestas úmidas da América do Sul
No século passado, acreditava-se que a (Colômbia). A região neotropical parece ser uma
polinização ocorria pelo vento; hoje, a fonte promissora de descobertas no grupo. Em
entomofilia já está confirmada para o grupo. Elas apenas uma viagem pela região norte da América
são polinizadas por besouros. Os insetos adultos do Sul, foram encontradas, alem desse gênero,
são atraídos pelo odor dos estróbilos masculinos, duas espécies novas de Zamia.
onde se alimentam de pólen e se reúnem para o Ceratozamia (11 spp.) e Dioon (9) são
acasalamento. Depositam os ovos nos restritos ao México. Mycrocycas é representada
esporofilos ou até mesmo nos esporângios. As por apenas uma espécie endêmica de Cuba e que
larvas nascem e se alimentam de pólen. Elas se apesar do nome, é uma planta robusta. Bowenia
alojam no tecido do microsporofilo e, nas (2), Macrozamia (27) e Lepidozamia (2) ocorrem
últimas fases larvais, o besouro passa a na Austrália, enquanto Stangeria (1) e
alimentar-se do parênquima do cone, entrando Encephalartos (52) ocorrem na África. As
pelo eixo do estróbilo, chegando ao solo, onde plantas do Novo Mundo devem ser de origem
passa a pulpa. Depois de quatro a sete dias, o Laurásica, enquanto aquelas do velho mundo
besouro sai a procura de um outro microstróbilo devem estar relacionadas ao Gondwana, exceto
para se acasalar. A polinização acontece quando Cycas.
indivíduos adultos entram por engano num
megastróbilo após visitarem um microstróbilo. Ecologia e Conservação
As sementes vão de 5 mm até 6 cm Atualmente, ocupam diversos
compr. Em Cycas, apresentam uma camada ambientes, desde campos a florestas úmidas, de
esponjosa que permite a flutuação e, portanto, a dunas costeiras e mangue até 2.500 m s.m. São
dispersão pelo mar. Entretanto, geralmente são geralmente resistentes à falta de água. A
coloridas, atraindo animais, principalmente decadência demográfica de populações desse
grandes aves (dinossauros, no Jurássico), que grupo pode ser avaliada através de registros do
digerem a camada externa carnosa, mas não a século passado. Em suas viagens, Chamberlain
camada pétrea intermediária do tegumento. citou uma floresta de Dioon para o México, o
que hoje não passa de remanescentes esparsos.
Taxonomia e Distribuição Algumas espécies são bem restritas, como
A análise filogenética de Stevenson Encephalartos dygerianus, descoberta em 1970,
(1990) foi baseada em caracteres morfológicos e, e descrita apenas em 1988, limitada à 600
a partir dela, foi proposta uma classificação para espécimes de um afloramento granítico do Sul da
as Cycadales, dividindo a ordem em três África. Ou ainda, Encephalartos woodii que
famílias. possui centenas de espécimes masculinos, todos
Cycadales é sustentada principalmente clones da coleta original de 1895. Nesse último
pelo estróbilo terminal, presença de cicasina e caso, estão tentando uma reversão sexual com o
nódulos de Anabaena na raiz. Existe a uso de hormônios ou hibridação com alguma
"tendência" para o aumento do tronco, que passa espécie próxima.
a ser subterrâneo e tuberoso em vários gêneros, e
uma universalização de folhas compostas a partir Economia e Conservação
de um ancestral com folhas simples, além de A goma do tronco não é utilizada na
uma compactação dos estróbilos femininos. produção de sagu como engana o nome vulgar
Cycas conta com ca. 45 espécies "sago-palm", essa é extraída de uma palmeira
descritas, mas apenas oito a 20 devem restar após (Metroxylon). O suco das folhas jovens de C.
uma revisão taxonômica. Apresenta a mais circcinalis é usado contra vômitos e flatulências
ampla distribuição, ocorrendo em Madagascar e e de C. revoluta como tônico, promovendo
no litoral africano, Ásia e ilhas do Pacífico e expectoração.
norte da Austrália. A ausência de estróbilos As sementes, folhas e caule são tóxicos

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afetando o sistema nervoso, mas algumas principalmente por caracteres reprodutivos, mas
espécies produzem sementes comestíveis (e.g. C. também pela estrutura dos estômatos,
revoluta). Na Austrália, elas foram sacrificadas anomocíticos (células subsidiárias derivadas da
com arsênico pelo governo porque nas regiões epiderme) nas Cycadales (como em algumas
secas eram ingeridas pelo gado, causando coníferas e em Ginkgo e Ephedra) e paracíticos
paralisia seguida de morte. Depois de lavadas, as (células subsidiárias e células guardas derivadas
sementes de Zamia floridana são utilizadas na da mesma célula inicial) em Bennettitales (como
fabricação de farinha pelos índios Seminole, e as em Gnetum e Welwitschia).
de Encephalartos caffer na fabricação do pão do Como nas Cycadales, esses
Kaffir de Hottentos. representantes devem ter derivado de populações
As plantas são utilizadas como incluídas nas pteridospermas e surgem como um
ornamentais, mas a exploração comercial é ramo divergente em relação àquela ordem.
dificultada pela lentidão no crescimento. Uma Apareceram no final do Paleozóico com
espécie rara como Zamia neuroparastica pode Eremopteris, gênero de classificação duvidosa.
chegar a valer U$ 1.500. Encephalartos latifrons Foi descrito baseado no gênero fóssil
era formada por uma população com menos de Bennettites, o qual verificou-se ser sinônimo de
40 indivíduos e um fazendeiro vendeu 14 deles, Cycadeoidea, gênero pré-existente. O primeiro
forçando a instalação de microchips de registro seguro remete ao Triássico, atingiu o
segurança nas plantas para o monitoramento dos auge no Jurássico, declinando no Cretáceo
indivíduos. Superior.
Para os interessados em Cycadales, O caule é globoso (Cycadeoidea ou
mais especialmente em Cycas, “The Biology of Bennettites) ou colunar (Williansonia). No
the Cycads” (Nortog & Nicholls 1997) apresenta primeiro caso, o fóssil era confundido com coral
uma revisão do grupo, recheada de ilustrações e ou casa de marimbondos; o córtex é espesso e o
fotos. Existem referências mais recentes, como lenho fino (tipicamente manoxílico) e existem
‘Cycads of the World’ (Jones 2002) e ‘Cycad: registros de vasos no grupo. As folhas são
Classification Concepts and Recommendation’ compostas, raramente simples (Nilssoniopteris),
(Walters & Osborne 2004). Pode ser curioso atingindo até 3 m e a venação é paralela. A
também ler o livro de Chamberlain sobre as semelhança com Cycadales deve ser fruto de
Cycadales atuais, principalmente porque o autor convergências.
teve possibilidade de ver a maioria das plantas
em seu ambiente natural. Escrito quase 80 anos
atrás, ele apresenta as primeiras informações
sobre a biologia reprodutiva e ecologia dessas
plantas.

Reconstrução de Nilssoniopteris (à direita) e Williamsonia (à


esquerda)

Os estróbilos são uni ou bisporangiados,


produzindo esporângios femininos e masculinos
no mesmo eixo. Os óvulos são ortótropos (com
dois tegumentos) e numerosos (mais de 100);
dispostos em um receptáculo e intercalados por
Reconstrução da paisagem do Mesozóico. escamas interseminais estéreis, provavelmente
óvulos estéreis; o tegumento interno forma o
Bennettitales (Cycadeoidales) tubo da micrópila. Em redor do cone feminino
O Jurássico foi denominado a "Era dos existem verticilos de microsporofilos pinados
Dinossauros e das Cicas". Mais tarde, no entanto, que formam sinângios (grupos de
notou-se que os fósseis dessa época continham microsporângios). A estrutura reprodutiva é
duas linhagens independentes, distintas envolta por numerosas brácteas dispostas

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helicoidalmente ("perianto"). difícil distinguir o sexo das plantas quando
Os esporângios deviam ficar jovens. A amêndoa da semente é consumida na
encerrados, eliminados com a deterioraçôes das China e Japão, e o extrato é utilizado na cultura
estruturas ou através de perfuração por besouros. oriental há mais de 3.000 anos, sendo
Sua estrutura parece durável tanto a ação de recomendada para problemas de coração,
insetos como de doenças e sua extinção pode circulação, asma, toxidade e mal de alzheimer.
estar relacionada à extinção de polinizadores
específicos.

Ginkgo biloba
Ginkgoales é registrada desde o
Permiano. Atingiu o auge no Jurássico, estando
amplamente distribuída no Mesozóico.
Atualmente, resta apenas Ginkgo biloba,
provavelmente a espécie de espermatófitas mais
antiga mantida sem modificação por eras.

Morfologia
São árvores com até 30 m alt. e 0,5 m
diâm., com mucilagem na raiz e folhas. As folhas
são flabeliformes e a venação paralela-
dicotômica; tornam-se douradas quando secas.
Os estômatos são anomocíticos. O caule é
parcialmente mano (ramos jovens) e
parcialmente picnoxílico, produzindo anéis de
crescimento. São dióicas e os estróbilos saem das
axilas de botões e folhas. O masculino é
composto de vários microsporangióforos, e o
feminino de um pedúnculo com dois óvulos
divergentes no ápice, geralmente um aborta. O Gynkgo biloba: no inverno (acima, à esquerda) e no verão
tegumento se desenvolve em três camadas, (acima, à direita); folhas em detalhe (abaixo, à esquerda);
ramo com semente (abaixo à direita).
incluindo uma capa externa quase livre do
restante, envolvendo o nucelo. Essa capa era Cordaitales
interpretada inicialmente como derivada do Plantas extintas que formaram as
megasporofilo, no entanto, dados ontogenéticos primeiras florestas extensas e altas, entre o
contestaram essa hipótese. Devoniano e o Triássico. Habitavam pantanos,
O gameta móvel e a venação das folhas tinham crescimento monopodial e as raízes se
lembram sua relação com as samambaias; a assemelhavam com plantas de manguezais. As
presença de mucilagem e o ciclo reprodutivo folhas eram simples e atingiam até 1 m compr., a
assemelham-se ao das Cycadales, com tubo venação era paralela a dicotomizada e não
polínico haustorial e gametas ciliados. A possuíam resina. Os ramos férteis fazem uma
anatomia da madeira é semelhante a das alusão do que seria um cone composto de
coníferas. O período para o tubo polínico se coníferas no seu estado primitivo; eram
desenvolver até liberar os gametas para formados de râmulos condensados, inseridos na
fertilização é de cinco meses. Posteriormente, o axila de cada bráctea. O pólen era auriculado e
zigoto leva mais de nove meses para iniciar a os gametas deviam ser móveis.
germinação da semente.
Foi cultivada em templos budistas da Coníferas
China e Japão e utilizada em projetos de A palavra designa aqueles que possuem
urbanização, mas parecem existir populações cones (exceção feita a alguns gêneros como
naturais em florestas montanhosas da China. As Juniperus, onde os estróbilos são muito
sementes produzem um odor de manteiga modificados, assemelhando-se a bagas).
rançosa por causa do ácido bútrico do tegumento Ocorrem desde o Carbonífero e foram bem mais
carnoso. Daí a preferência por plantas representativas durante o Mesozóico do que são
masculinas ou a utilização de ácido málico para atualmente. As famílias atuais são reconhecidas
evitar a produção de sementes, uma vez que é desde o final do Triássico e início do Jurássico

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estróbilos e não é homólogo ao masculino; a
Teoria Ligular não reconhece a ausência da
lígula no cone masculino e tratam-nos como
homólogos. A bráctea e a escama ovulífera
apresentam vários graus de fusão e
vascularizações de acordo com o grupo (basal,
em Pinaceae, até completa, em Araucariaceae).

Floresta pantanosa de Cordaitales no Triássico.

(Miller Jr. 1977) Hoje, a maior parte das


florestas das regiões frias e temperadas são
cobertas por coníferas.

Morfologia
São plantas ramificadas, com folhas
simples, aciculares ou escamiformes, geralmente
espiraladas. O caule é picnoxílico, ou seja, o
tecido vascular ocupa a maior parte do tronco. O
tecido de transfusão geralmente retém taninos no
citoplasma de suas células parenquimáticas e as
traqueídes são grossas, lignificadas e com
pontuações circulares. O córtex parenquimatoso
geralmente possui canais resiníferos, os quais
também podem estar presentes no xilema,
dependendo do grupo. A atividade cambial
contínua produz anéis de crescimento que
permitem estimar a idade da planta. Os anéis são
decorrentes da flutuação hídrica do ambiente
Cupressaceae: mostrando o hábito típico das coníferas.
durante o crescimento da planta, fator que se
apresentou bastante adaptativo em regiões frias. O grão de pólen pode ser auriculado,
Os vasos formados no inverno, quando a água se apresentando dois alvéolos com ar. Essa
transforma em gelo ou neve e torna-se menos estrutura parece estar relacionada não apenas a
disponível para a planta, são mais numerosos, anemofilia, mas talvez esteja envolvida também
lignificados e de diâmetro menor, promovendo na flutuação do pólen pelo líquido da micrópila.
uma condução mais lenta, porém mais segura do Nas coníferas, ocorre a sifonogamia, ou seja,
líquido. formação de tubo polínico funcional, o qual
São mono ou dióicas. Os cones, onde libera enzimas, atravessando o nucelo e
ficam os óvulos, são estruturas compostas. penetrando no gametófito feminino para liberar
Rámulos reprodutivos teriam se condensado na os gametas imóveis diretamente no arquegônio.
axila de ramos férteis em Cordaianthus, o óvulo O tempo de duração entre a polinização e a
sofreria uma inversão e seu número teria sido fertilização é de aproximadamente um ano em
reduzido em Lebachia. Finalmente, as escamas Pinus, mas poucos meses em outros grupos.
teriam sofrido fusão formando a escama
ovulífera na axila de brácteas. As escamas Taxonomia
ovulíferas são, portanto, homologas a ramos As coníferas incluem sete famílias, 60-65
laterais férteis (com megasporângios) reduzidos, gêneros, muitos monotípicos, e cerca de 600
condensados e localizados na axila de uma espécies. Pinaceae abrange 200 espécies
bráctea representada pela escama bracteal nas caracteristicamente representadas no hemisfério
coníferas. Segundo a Teoria do Braquiblasto, norte, mas chegando até a América Central e
então, o cone feminino é um conjunto de sudeste da China; a maioria das espécies é

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classificada em Pinus, ca. 90 espécies. A família óvulo, subtendidas por uma bráctea.
apresenta a maioria das características das Freqüentemente, apenas um óvulo se desenvolve.
coníferas e era colocada como a mais derivada. As escamas podem apresentar vários graus de
Estudos cladísticos, no entanto, sugerem que a fusão e redução, freqüentemente se unindo,
família teria divergido inicialmente na linhagem formando um pedúnculo basal ou receptáculo
das coníferas. Entre seus representantes merece carnoso e suculento ao redor da semente. Nessa
destaque Pinus logaeve, cuja idade é estimada família, está incluída Parasitaxus ustus, uma
em quase 5.000 anos (algumas referências espécie parasita de gimnospermas.
mencionam 11.000 anos).

Podocarpaceae: semente subtendida por um receptáculo


carnoso derivado da fusão de duas brácteas.

Taxaceae inclui cinco gêneros e 25


espécies restritas ao hemisfério norte. Sua
classificação é duvidosa porque a família não
apresenta os estróbilos femininos formando um
cone como é comum nas coníferas. Os óvulos
são solitários e terminais, na axila dos ramos, e
não existem evidências de brácteas e ramos
reduzidos, as sementes geralmente são envoltas
por um arilo provavelmente relacionado à
Pinus: conjunto de microstróbilos liberando pólen (acima); dispersão. Além disso, não existem canais
cone (abaixo). resiníferos nas folhas, os estróbilos masculinos
são compostos, diferente das demais
As Araucariaceae estão distribuídas no gimnospermas, e o grão de pólen não é
hemisfério sul e englobam 32 espécies dividas auriculado como de costume nas coníferas.
em dois gêneros, Araucaria e Agathis. A maioria Dependendo da polarização que se dá para esses
das araucárias é dióica, ao passo que as Agathis caracteres, alguns autores a inserem em coníferas
são monóicas. Existe um óvulo por escama e outros o colocam como grupo externo.
ovulífera, e esse geralmente transforma-se em As Taxodiaceae geralmente formam
uma semente recheada de tecido nutritivo, populações localizadas, como as sequóias
bastante calórico e geralmente consumido em gigantes, protegidas nos parques da California
festas juninas regadas a quentão. (Serra Nevada), no leste dos EUA, ou ainda
Podocarpaceae é outra família Metasequoia que, amplamente distribuída no
naturalmente representada no Brasil. Abrange ca. Cretáceo e Mioceno nos EUA, foi localizada no
105 espécies e sete gêneros, mas recentemente interior da China. Sequoiadendron giganteum é a
vem sendo subdividida em quatro famílias com planta mais alta do mundo, alcançando mais de
ca. 18 gêneros. As Podocarpaceae apresentam 100 m alt., 10 m diâm. e ca. 4.000 anos. A
uma ou muitas escamas, cada uma com um madeira de uma árvore dessas daria para

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construir 35 casas de cinco quartos, o fossilizada de um pinheiro do Báltico extinto.
equivalente a três quarteirões. Outro
representante imponente da família é o cipress- Gnetales
mamute (Taxodium mucronatum) do México, É constituída por Ephedra, Welwitschia
com 12 m diâm. e Gnetum, gêneros muito distintos entre si e
distribuídos de maneira bastante particular. Os
interessados nesse grupo obterão uma boa
revisão, apesar de filogeneticamente
desatualizada, em um volume especial sobre a
ordem na International Jornal of Plant Science
157 (suplemento 6; e.g. Crane 1996, Endress
1996, Hufford 1996, Price 1996)
A detecção de fósseis de Gnetales é
complicada pelas semelhanças com outros
grupos, mas fósseis de pólen efedróide,
entretanto, são documentados desde o Triássico,
quase desaparecendo durante o Jurássico e
ressurgindo com as angiospermas no Cretáceo
Médio, em regiões de baixa paleolatitude.

Morfologia
Possuem folhas opostas, decussadas, ou
verticiladas. Além das traqueídes, muitos
indivíduos possuem elementos de vaso no xilema
secundário, o que foi utilizado como argumento
para justificar a relação de proximidade com as
angiospermas. Os estróbilos são compostos,
muitas vezes morfologicamente bissexuados,
mas funcionalmente unissexuados e se
apresentam como inflorescências. Em plantas
Exemplo de Conífera: Taxodiaceae. masculinas, o estróbilo feminino estéril
encontrado no ápice secreta uma gota açucarada
Em um cladograma a partir de 18S provavelmente relacionada com a atração de
RNA, Pinaceae teria divergido inicialmente, as insetos polinizadores. As brácteas que
Podocarpaceae e Araucariaceae aparecem como subtendem os estróbilos são comparadas ao
grupos irmãos, provavelmente tendo se perianto das flores e a escama que forma uma
diversificado no Gondwana e as Taxodiaceae se espécie de envelope externo ao óvulo,
apresentam como grupo parafilético e são freqüentemente associada evolutivamente ao
incluídas em Cupressaceae s.l., com exceção de tegumento externo das sementes de
Sciadopitydaceae. angiospermas. Esse envelope se desenvolve na
semente madura, que se torna alada, forma que
Economia ajudaria na dispersão. Alguns autores assumiram
São utilizadas para cobrir áreas e evitar esse caráter suficiente para isolar o grupo das
erosão. Algumas espécies são ornamentais, angiospermas e gimnospermas, denominando-o
outras têm a madeira utilizada na construção de Chlamidosperma (Chlamido=envelope). O
móveis, fabricação de papel, lápis, arco e flecha, tegumento interno forma no ápice o tubo da
e construções. Algumas árvores valiosas e de micrópila, extenso e receptivo.
crescimento lento estão ameaçadas, pois O desenvolvimento do gametófito
geralmente a recuperação é realizada com masculino sofre uma redução na evolução das
espécies de Pinus com crescimento rápido. São Gnetales, em Ephedra o desenvolvimento é
usadas para a extração de compostos aromáticos como em Coníferas e Ginkgo, há a formação de
para perfumes, incenso ou produtos medicinais, duas células protaliais, mais uma célula estéril,
também na fabricação de tintura, vernizes e enquanto em Gnetum e Welwitschia, só existe
nanquim. O tanino da casca pode ser utilizado uma célula protalial e não é formada a célula
para curtir couro. O ambar, utilizado na estéril; são quatro células até a formação dos
fabricação de jóias é derivado da resina gametas (nas angiospermas, o microgametófito é

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ainda mais reduzido, com a formação de apenas
três células, eliminação da célula protalial).
A fecundação é geralmente dupla, o
tubo polínico libera o gameta binucleado no
arquegônio. Em Gnetum e Welwitschia, o
gametófito feminino é tetrasporado, não há
degeneração de três esporos, nem a formação de
parede celular; o gametófito feminino permanece
cenocítico, ao menos no ápice, não formando
arquegônios. Em Ephedra, um dos núcleos
fecunda o gameta feminino no centro e o outro a
célula do canal ventral, que geralmente ruma
para o centro. Em Welwitschia, são formadas
células multinucleadas (8-12 núcleos) no ápice,
as quais se prolongam em tubos do gametófito
feminino. Esses tubos se fundem com o tubo
polínico e a fusão do núcleo de um gameta
masculino com outro do tubo do gametófito
feminino originam o pró-embrião. Os demais
núcleos se degeneram e o zigoto é formado.

Ephedra
Morfologia
O gênero conta com ca. 50 espécies, geralmente
arbustos cespitosos, raramete volúveis ou
arvoretas (E. pedunculata do Texas chega a
ultrapassar 5 m alt.), encontrados em solos
alcalinos de desertos ou montanhas rochosas. As
folhas são bem reduzidas, geralmente decussadas
ou verticiladas, a venação é paralela e os
estômatos anomocíticos (diferindo dos demais
gêneros, onde são paracíticos, como em
Benettitales e angiospermas), a fotossíntese em
boa parte é realizada no caule de ramos jovens
em forma de filoclado. A maioria das espécies é
funcionalmente díóica. Os estróbilos masculinos
Ephedra: hábito de Ephedra (à cima); cones
são compostos de esporângios pedunculados microsporangiados (note os andróforos; à esquerda) cone
(esporangióforos) subtendidos por pares de ovulado (note a micrópila rostrada; à direita).
brácteas decussatas. O feminino possui dois
óvulos no ápice. O tempo entre a polinização e a Utilidade
fertilização é de dez horas, bem menor se A efedrina, extraída de espécies
comparado aos cinco meses em Ginkgo biloba, asiáticas, é utilizada para asma e resfriado ou
ou quase um ano em Cycadales, por exemplo. O antipirético, mas também, graças à ação
anto feminino se transformam em baga, vasoconstritora é estimulante. No Tibet, a raiz de
geralmente vermelha e que pode ser dispersada E. gerardiana é utilizada como combustível.
por aves; mais raramente, é seca e anemocórica.
Gnetum
Distribuição Morfologia
Ocorre em regiões áridas ou semi-áridas O gênero abrange ca. 40 espécies
da Ásia, Norte da África, Europa, América do tropicais, a maioria de distribuição restrita. São
Norte e América do Sul, desde o nível do mar até geralmente lianas que se estendem até o dossel
5.000 m s.m.. No Brasil, ocorre E. triandra, uma de altas florestas, apenas duas espécies são
das poucas espécies que chegam a compor uma árvores (G. costatum da nova Guiné chega a
arvoreta. mais de 20 m alt.). As folhas são opostas e de
nervação pinada, reticulada. Os estróbilos são
compostos, agrupados em anéis (derivados da

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fusão de brácteas) em torno de ramos, formando São plantas perenes com caule tuberoso, curto e
uma espécie de espiga. reto, 45 cm no solo arenoso. São produzidas duas
Nesse gênero, como em Welwitshia, o folhas carnosas e permanentes, de crescimento
gametófito feminino é tetrasporado, com contínuo ao longo da vida da planta; a nervação
formação das paredes celulares da zona do apesar de aparentemente paralela é na realidade
calazal para o ápice. O núcleo gamético fica no anastomosada. Depois, o meristema apical
ápice cenocítico até a fecundação, ou seja, não produz duas escamas e degenera. As folhas
há formação de arquegônios. O gametófito crescem 8-15 cm/ano e chegam a alcançar 6,2 m
masculino também é reduzido. O embrião não se (3,7 m de tecido vivo) compr. e 1,8 larg. A
inicia com núcleos livres. O grão de pólen é estimativa de vida de algumas plantas chega a
esférico e verruculoso ou liso, diferindo dos 2.000 anos. São plantas dióicas, com estróbilos
demais gêneros de Gnetales, que possuem grãos terminais. Os masculinos apresentam quatro
de pólen efedróide, ou seja, elipsóides e com verticilos decussatos de brácteas, duas bractéolas
estrias longitudinais. As sementes continuam nas axilas e duas escamas fundidas no ápice
envoltas pelas brácteas, que geralmente ajudam formando o envelope, seguem-se então seis
na dispersão por pássaros, ou pela água quando o microsporângios (=estames) e no ápice um óvulo
envelope da semente é semelhante à cortiça. abortado.

Gnetum: ramo (notem as folhas com nervação reticulada;


acima); espiga com estróbilos ovulados (abaixo, à esquerda);
espigas com estróbilos funcionalmente microsporangiados
(abaixo, à direita).

Utilidade
As folhas, frutos e sementes são
comestíveis (G. gnemon?). A casca é utilizada na
fabricação de fibras para papel, corda ou rede de
pesca. Gnetum ula tem o óleo extraído para o
cozimento e iluminação. Os compostos químicos
parecem ter se desenvolvido paralelamente aos
de angiospermas, assemelhando-se àqueles
encontrados em grupos derivados.
Welwitschia mirabilis: hábito geral (acima); planta com
Welwitschia cones funcionalmente microsporangiados (no centro); planta
O gênero é representado unicamente por com cones ovulados (abaixo).
W. mirabilis (o nome “incrível” é apropriado).
Foi descoberta em 1860, ocorrendo em Angola. Por apresentar gametófito tetrasporado

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e cenocítico, não apresentando arquegônio
definido até o momento da fertilização,
desenvolvimento do gametófito masculino
reduzido, embriogênese inicial celular e
estômatos paracíticos, Welwitschia é
inevitavelmente considerada mais relacionada a
Gnetum.

Distribuição
Ocorre basicamente no deserto da
Namíbia, sudeste da África, onde a umidade está
baseada principalmente na neblina litorânea.
Apesar disso as plantas aparentemente não
apresentam mecanismos especializados para
evitar a evaporação e parece que sua vantagem
está na absorção de água.

Conservação
Está protegida da extração e exploração
como combustível.

Leitura Suplementar:
Gifford, E.M. & Foster, A.S. 1996. Morphology and
evolution of vascular plants, cap. 14-18, p.327-485.
W.H. Freeman and Company, New York.
Kramer, K.U. & Green, P.S. (eds.) 1990. Pteridophytes and
gymnosperms. In Kubtitzki, K. (ed.) The families and
genera of vascular plants, vol. 1, p. 279-391. Springer –
Verlag, Berlin.

Leitura:
Takhtajan, A. 1976. Neoteny and the origin of flowering
plants. In: Beck, C.B. (ed.) Origin and evolution of
angiosperm. Columbia University Press, p. 207-219.
+
Stebbins, G.L. 1965. The probable growth habit of the
earliest flowering plants. Ann. Missouri Bot. Gard.
52(3): 457-468.
OU
Stebbins, G.L. 1976. Seed, seedlings and the origin of
angiosperms. In: Beck, C.B. (ed.) Origin and evolution
of angiosperm. Columbia University Press, p. 207-219.

Bibliografia Complementar:
Li, P. & Johnston, M.O. 2000. Heterocrony in plant
evolutionary studies through the twentieth century. Bot.
Rev. 66: 57-88.

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