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Resumo do artigo: Tolerância à Dessecação em Sementes

Autores: Cláudio José Barbedo¹, Júlio Marcos Filho²


Aluno: Mateus Moreira. Silva - 12222BVE009

Após a fecundação inicia-se o processo de formação e posterior maturação


das sementes e a água possui um papel indispensável nos processos fisiológicos
das mesmas, sendo fundamental nos processos de expansão, divisão celular e
também como veículo para os produtos da fotossíntese que irão compor os tecidos
da semente e posteriormente utilizados nas fases iniciais da germinação. Ao final da
maturação dois comportamentos distintos são apresentados pelas sementes, com
relação às concentrações de água em seu interior.
As sementes classificadas como ortodoxas apresentam uma rápida redução
no seu conteúdo de água alcançando níveis inferiores a 10% e podendo tolerar
temperaturas abaixo de zero grau variando de acordo com cada espécie, tais
plantas possuem essas capacidades pois suas sementes foram selecionadas para
resistir às mudanças climáticas extremas e germinarem apenas quando o meio
apresentasse condições favoráveis ao desenvolvimento das plântulas. A redução
dos níveis de umidade em seu interior cria um ambiente impróprio à germinação
devido à ausência de água (quiescência), para ter capacidade de germinar
posteriormente. O baixo teor de água dessas sementes, além de limitar a
germinação, também se mostrou fundamental para evitar a deterioração por ataque
da micro e mesofauna.
Já as sementes recalcitrantes mantêm seu teor de água elevado, não
havendo redução em sua concentração e nem sendo necessário passar pela
secagem para adquirir posteriormente a capacidade germinativa, apresentando
assim menores limites de tolerância à dessecação e baixa longevidade. Estas
sementes apresentam germinação, em sua maioria, após a queda das árvores
(abscisão) ou até mesmo podendo germinar na planta mãe (viviparidade), tal
característica é produto da seleção em um ambiente de extrema competição com
outras plantas, e favorável ao desenvolvimento das plântulas durante todo o ano
com ausência de estresse hídrico.
Com relação às sementes ortodoxas Bewley & Black 1985, descrevem duas
fases em seu desenvolvimento a primeira inicial, onde a secagem é letal e a
segunda subsequente que se estende até o final do desenvolvimento da semente
onde esta pode se tornar tolerante à dessecação e manter sua capacidade
germinativa após ser desidratada e reidratada.
Com relação à fisiologia (Jiang & Kermode 1994), consideram três fases de
desenvolvimento para as sementes, sendo, a primeira denominado
histodiferenciação, onde o zigoto passa por diversas divisões mitóticas em
sequência e posterior diferenciação celular, assim formando o eixo embrionário e os
cotilédones (ou apenas um se monocotiledôneas) e também formando o
endosperma triplóide. Em seguida ocorre a segunda, denominada, fase de
expansão celular e posterior deposição de reservas energéticas nas células. E a
terceira fase também denominada estágio final (exclusivo em ortodoxas) é a etapa
de secagem, onde seu metabolismo é extremamente reduzido, ficando o embrião
metabolicamente inativo ou quiescente.
O desenvolvimento e a germinação são estágios fisiológicos
metabolicamente diferentes na vida das plantas. Em seu desenvolvimento o
metabolismo em sua maioria é anabólico com intensa síntese e deposição de
reservas de polímeros em seus tecidos, ao contrário do que ocorre na germinação
onde o metabolismo passa a ser catabólico e enzimas específicas mobilizam as
reservas que foram geradas e acumuladas durante o desenvolvimento, utilizando
estas como substrato e fonte de energia para o desenvolvimento das plântulas.
Segundo Jiang & Kelmode 1994, durante a transição das duas etapas existe
uma “chave” que atua redirecionando drasticamente o metabolismo da semente
durante a secagem. Desde 1985 Bewley & Black observaram que a secagem pode
modificar o padrão da síntese protéica, reduzindo a produção de RNAs-m no eixo
embrionário, relacionados com a formação de proteínas envolvidas no
desenvolvimento da semente, até sua total parada na síntese desses RNAs-m,
enquanto a produção de RNAs-m que estão relacionados aos processos
germinativos é ativado. Enzimas associadas exclusivamente a processos
pós-germinativos têm sua produção induzida pela secagem da semente durante seu
processo de desenvolvimento e maturação. Esses autores concluíram, que a
secagem provavelmente atua nos processos finais de desenvolvimento, preparando
a semente para a germinação e para o crescimento da plântula.
Outras substâncias podem estar relacionadas à tolerância das sementes à
dessecação, como por exemplo o Ácido abscísico (ABA), que é um hormônio
vegetal que está presente em todas as plantas. Com relação aos seus efeitos nas
sementes, foi observado que além de poder induzir a tolerância à dessecação das
sementes, pode influenciar no conteúdo de carboidratos solúveis e na produção de
proteínas ligadas à dessecação. Assim, ficam evidentes a importância e a
participação do ácido abscísico na formação das sementes atuando, direta ou
indiretamente, na prevenção da germinação precoce, na síntese de proteínas e
carboidratos e na tolerância à dessecação.
A síntese de proteínas é fundamental para a tolerância à dessecação das
sementes e também para os processos de desenvolvimento e germinação das
mesmas. A transição da fase de desenvolvimento para a de germinação é
evidenciada pela mudança no padrão de síntese de proteínas solúveis ou insolúveis
dentro do tecido endospermático de reserva, após subsequente reidratação. A
síntese de proteínas solúveis, características da fase de desenvolvimento, cessou
após cinco horas de embebição, dando lugar à síntese de proteínas ligadas à
germinação e ao desenvolvimento de plântulas. A secagem apresenta, então,
função importante no redirecionamento do metabolismo de desenvolvimento de
sementes para a germinação, sendo assim um pré-requisito para a indução de
enzimas hidrolíticas essenciais na fase pós-germinativa para o desenvolvimento das
plântulas. A dessecação induziu a formação de enzimas envolvidas na quebra de
proteínas de reserva e na utilização de lipídios, as proteínas estavam presentes
quando houve tolerância à dessecação, adquirida naturalmente ou sob condições
controladas.
Uma das primeiras observações feitas sobre a função dos carboidratos na
tolerância de sementes e o trabalho de Koster & Leopold 1988, em sementes de
soja, ervilha e milho, eles observaram que a sacarose e outros oligossacarídeos
estiveram constantemente presentes durante o estágio de tolerância à dessecação
nas primeiras fases da germinação. Quando os oligossacarídeos deixaram de estar
presentes, a tolerância à dessecação foi perdida. Outra observação feita por
Leprince et al. 1992 em raiz primária de sementes de milho em germinação, rafinose
e sacarose estavam presentes em concentrações elevadas durante o período de
tolerância à dessecação, ao contrário da glicose e frutose que estavam ausentes. À
medida que aumentava a intolerância à dessecação, diminuíram as concentrações
de rafinose e sacarose e aumentavam os de glicose e frutose.
A função dos carboidratos no processo de aquisição da tolerância à
dessecação Provavelmente está ligada à proteção das membranas durante a
desidratação. Sun et al. (1994), analisando a formação do estado vítreo da água
outra hipótese para explicar a tolerância à dessecação em sementes de soja e de
carvalho, reforçaram a ideia de que os açúcares são relevantes nas modificações
das fases da membrana, para que a mesma possa reter líquidos cristalinos.
Blackman et ai. (1992) corroboram a idéia da função dos açúcares no
processo de aquisição de tolerância à dessecação, mostrando que sacarose e
estaquiose aumentam em eixos embrionários de sementes de soja submetidas à
secagem, enquanto nas que permanecem sob elevada umidade relativa, estes
açúcares não apresentam alteração em seus teores.

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