Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
43
algumas regiões são ricas em citosina e timina e, diversos podem levar a crença de que sua
portanto, as chances de uma substituição por esses sinapomorfia é uma condição chave para a
nucleotídeos é maior; pela forma das moléculas diversificação do clado mais recente. Na
sabemos que as taxas de transversão e transição realidade, no entanto, essa diversificação pode ter
são diferentes por causa da morfologia estrutural sido muito mais intensa internamente, num
entre as moléculas. Dessa maneira, é possível subgrupo específico. Outros conceitos importantes
utilizarmos conhecimentos evolutivos prévios na são o de clado com base no ramo e o de clado com
análise de hipóteses filogenéticas. Assim, surgiu a base no grupo atual. O clado que inclui os grupos
idéia de se avaliar hipóteses filogenéticas através atuais pode ter surgido há 100 m.a., mas a
da máxima verossimilhança. Ela estima a divergência do ramo (linhagem) que levou àquele
probabilidade dos nossos dados frente uma clado pode ter surgido muito antes, há 200 m.a.,
determinada hipótese. Nossa hipótese é a árvore e quando também teria surgido seu grupo irmão. O
o conjunto de premissas evolutivas que clado do ramo representa aqueles grupos extintos
assumimos. Assim, essa avaliação deve estimar a que não possuem todas as sinapomorfias do grupo
probabilidade de todas as árvores possíveis de vivo (Doyle & Donoughue 1993).
acordo com nossas premissas. A árvore que
indicar a maior probabilidade para os nossos A 10 B 3 C 2 D 5 E1 A BCDE
11
dados é a mais provável. Como é necessária uma 1 1 4 3
Zacea
Aceae Baceea Caceae Daceae Eaceae
44
Por se tratar de uma matriz morfológica
Clado Baseado no Ramo com grupos muito divergentes evolutivamente,
Grupo Clado baseado no nó inúmeros caracteres não puderam ser aplicados
em todos os terminais e, por incluir grupos
Irmão
fósseis, muitas foram as incertezas (incluídas
como estado ancestral), principalmente em relação
a estados de caracteres reprodutivos fundamentais,
como dupla fecundação ou número de núcleos no
Fóssil gametófito feminino. Uma questão crucial, por
exemplo, é a homologia entre as cúpulas das
pteridospermas e os óvulos de Bennettitales e
angiospermas. Para discutir esse caracter mais
Ramos
ou linhagem
especificamente ele construiu duas árvores, uma
considerando essas estruturas homólogas e outra
não homólogas, alterando para isso o estado de
Todas as apomorfias
do grupo moderno três caracteres relacionados.
Ele concluiu que as espermatófitas são
Algumas apomorfias
do grupo atual definidas pela presença de um tegumento
Note nesse cladograma que existe uma diferença entre clado
envolvendo o megasporângio com uma micrópila
do nó, aquele que inclui todas as sinapomorfias do grupo atual diferenciada e uma única célula-mãe do
e o ancestral comum mais recente de todos os grupos vivos do megásporo funcional, além da embriogênese com
clado (B) e o clado do ramo, aquele que inclui apenas algumas fase nuclear livre (revertida secundariamente em
apomorfias do grupo atual e surge a partir de um ancestral
compartilhado com seu grupo irmão (A), abrangendo assim a
Welwitschia e angiospermas). Em ambos os
linhagem inicial daquele clado, incluindo grupos que se cladogramas, as pteridospermas, um grupo
extinguiram antes do nó B. bastante variável, aparecem relacionadas com
grupos distintos, não formando um clado. As
Crane 1985 Cycadales divergiram na base, representando o
Os primeiros trabalhos morfológicos grupo irmão vivo das demais espermatófitas
tentando reconstruir a filogenia das espermatófitas atuais. As coníferas estão mais relacionadas com
foram realizados no início dos anos 1980. Um dos as Cordaitales e aparecem num clado que também
estudos pioneiros abordando espermatófitas foi inclui as Ginkgo. As Gnetales formam um clado
feito por Hill & Crane (1982) e refeito por Crane com as angiospermas, mas suportado
(1985), que incluiu fósseis e corrigiu vários exclusivamente pela sifonogamia, que também
problemas na análise dos caracteres. existe nas coníferas e não pode ser codificada para
Os grupos de angiospermas, em vez de os grupos fósseis. Nesse caso, as gimnospermas
ramos de uma única árvore filogenética, pareciam atuais formam um grupo parafilético.
eles mesmos árvores enraizadas em um lugar As Bennettitales apresentam-se
desconhecido. A inclusão dos óvulos em carpelos relacionadas com o clado que engloba as Gnetales
é a característica-chave na definição das e as angiospermas. As Caytoniales, por outro lado,
angiospermas; entretanto, a origem do ovário das aparecem em um outro clado quando a cúpula não
angiospermas ainda é um mistério. Ele pode ter é considerada homóloga aos óvulos
derivado da bráctea de um esporofilo ou da bitegumentados ou como grupo irmão (incluindo
expansão do ramo ovulífero. Não se sabe nem se a no clado também as coritospermas) quando a
origem do carpelo é plicada (involuta) ou homologia é considerada. No primeiro caso, a
ascidiada (convoluta). Detectar o estado cúpula das pteridospermas não seria homóloga ao
plesiomórfico dessa estrutura em grupos extintos segundo tegumento do óvulo das Bennettitales e
ou atuais, portanto, é fundamental na investigação das angiospermas; no segundo, entretanto, o
da origem das angiospermas. megasporofilo com muitas cúpulas de Caytoniales
Em 1985, Peter Crane, caracterizou os teria reduzido o número de cúpulas para poucas e
grupos de espermatófitas atuais e os fósseis de óvulos para um, como nas coritospermas. Uma
melhor conhecidos, elaborando uma matriz inversão da cúpula para o óvulo ortótropo
morfológica de modo a estabelecer o grupo que associada a uma extrema redução do número de
possivelmente estaria mais relacionado com as cúpulas para uma por megasporofilo poderia ter
angiospermas. A matriz contou com 39 caracteres derivado em Pentoxylon, e a degeneração de
e 19 terminais e a polarização dos caracteres foi alguns óvulos pode ter resultado na cabeça fértil
estabelecida através de sua suposta evolução. de Bennettitales, onde o óvulo representaria um
45
megasporofilo reduzido. A redução do tegumento segundo um modelo evolutivo seguida de análise
externo em Gnetales e a manutenção de óvulos de agrupamento (WPGMA e UPGMA), método
anátropos nas angiospermas explicariam essas fenético e, portanto, não considerado na maioria
condições nos dois grupos. O carpelo das das discussões filogenéticas.
angiospermas seria, então, uma folha
conduplicada (ou derivada da expansão e
soldadura da raque do megasporofilo bastante
reduzido das coritospermas) incluindo, no estado
primitivo, numerosas cúpulas uniovuladas
(entretanto, alguns grupos antigos possuem apenas
um óvulo, como Chloranthaceae). Dentre os
problemas nessa suposta evolução, Crane
considerou a inversão do óvulo no clado
Bennettitales-Pentoxylon. Entretanto, essa
hipótese evolutiva pressupoe uma nova inversão
para óvulos ortótropos em Gnetales e uma
reversão para óvulos ortótropos dentro das
angiospermas. Sifonogamia
Coritosperma
46
pteridófitas, favorecendo a idéia de uma Nesse caso, a origem das angiospermas
evolução por degeneração. teria que ser empurrada para a mesma época das
2) As gimnospermas formam um grupo Bennettitales, ou seja, Triássico superior e
monofilético; não foram incluídos evidências seguras de angiospermas só são
representantes de Gnetales, no entanto. conhecidas a partir do Cretáceo Inferior. A árvore,
no entanto, possui um grande número de
homoplasias, tornando os resultados muito
sensíveis a qualquer alteração, permitindo
inúmeras alternativas. Por exemplo, apenas quatro
passos a mais colocariam Gnetales como grupo
irmão de coníferas.
o grupo mais relacionado com as angiospermas, Esquema mostrando a relação entre as estruturas que levaram a
formando o clado das antófitas. Os resultados, formação da flor e das estruturas supostamente homólogas.
entretanto, diferem dos obtidos por Crane (1985).
As Bennettitales formam um grupo com Gnetales, Troistky et al. 1991
e juntas formam o grupo irmão das angiospermas. Um estudo molecular usando cinco
Assim, apesar da relação de proximidade com regiões de RNAs, 5.8S e 5S RNAs (nuclear), o
Gnetales, em vez de sustentar a teoria do 4.5S e 5S RNAs (plastídeo), a seqüência parcial
pseudanto, o cladograma sustenta a teoria do 18S RNA (nuclear), totalizando 760 caracteres,
antostrobilar, segundo a qual as angiospermas foi realizado no início da década de 1990. Ele
teriam derivado de um ancestral comum com utilizou compatibildade (a partir da probabilidade
flores bissexuais e megasporofilos e de subárvores com quatro terminais) e
microsporofilos pinados. As flores de Gnetales parcimônia. Os cladogramas obtidos a partir de
teriam surgido a partir de uma redução secundária terminais e regiões distintas apresentaram
e agregação associadas à polinização pelo vento. topologias distintas, entretanto, alguns padrões
Enquanto o carpelo seria uma estrutura foliar puderam ser observados.
primitiva, os estames teriam derivado a partir da
redução dos sinângios de Caytonia. As 1) As gimnospermas aparecem em todos os
Bennettitales teriam mantido os microsporofilos cladogramas como grupo monofilétio. Como
pinados, mas o ancestral comum de Bennettitales alguns grupos de gimnospermas já apareciam
e Gnetales teria sofrido redução do megasporofilo distintos no Carbonífero, essa topologia implicou
para um óvulo, simplificação do microsporofilo uma divergência entre gimno e angiospermas
teria ocorrido também em Gnetales. ainda mais antiga, talvez no Devoniano (ca. 360
47
Ma.). Dois fatores explicariam a ausência de Anaspermae ser sustentado por algumas
angiospermas anteriores ao Cretáceo: elas não sinapomorfias, são inúmeros os casos de
teriam adquirido as características de homoplasias entre angiospermas e Gnetales. As
angiospermas e estariam sendo confundidas com gimnospermas aparecem mais uma vez como
gimnospermas, ou elas estariam restritas a grupo parafilético; um cladograma que forçasse as
ambientes onde a preservação de fósseis seria gimnospermas formarem um grupo monofilético,
rara. seria seis passos mais longo.
48