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Angiospermas enquanto a outra deverá fertilizar os núcleos

As características que definem as polares, dando origem ao endosperma triplóide


angiospermas estão relacionadas principalmente que será responsável pela nutrição do zigoto. O
às estruturas reprodutivas. Destacam-se nesse endosperma triplóide pode ser apenas o tecido
aspecto, a inclusão dos óvulos bitegumentados nutritivo do gametófito que se desenvolve
(geralmente anátropos, i.e. com a micrópila tardiamente ou um embrião modificado. Esses
direcionada para o funículo) no carpelo, o qual recursos serão consumidos durante a
pode ser ascidiado ou convoluto. embriogênese de modo a formar os cotilédones
responsáveis pelo desenvolvimento do embrião.
Essa redução dos gametófitos em relação às
demais plantas com semente associada a produção
do endosperma triplóide possibilitou reduzir
sensivelmente o tempo entre a polinização e a
maturação da semente e evitar o desperdício na
produção de tecidos de reserva na incerteza de
uma fertilização do óvulo.
Outra característica considerada importante
é a presença de vasos, mas eles podem estar
ausentes, sugerindo que esse caráter possa ter
evoluído dentro das angiospermas e/ou sofrido
reversão. Supostamente, as primeiras
angiospermas teriam vasos semelhantes a
traqueídes, com perfurações escalariformes, da
onde teriam derivado as fibras para sustentação e
os vasos para condução. Os vasos teriam sofrido
um encurtamento do comprimento associado ao
alargamento do diâmetro. As terminações
passariam a formar placas, inicialmente anguladas
e com numerosas perfurações escalariformes, as
quais diminuiriam em número até formar um
único poro transversal. Enquanto os vasos
favorecem a condução de fluídos, eles são menos
eficientes na sustentação, o que teria pressionado
Corte longitudinal mostrando óvulo anátropo inserido no a evolução simultânea de fibras também derivadas
ovário. das traqueídes. Os elementos de tubo crivado e as
células companheiras também caracterizam as
Nas angiospermas, o megasporócito se angiospermas.
divide (meiose) formando megásporos. O
desenvolvimento do gametófito é bastante
variável. De maneiras geral, oito núcleos se
arranjam de modo a ficar duas sinérgides junto ao
gameta feminino, próximo a micrópila, três
células antipodas no outro extremo e dois núcleos
polares centrais (megagametogênese tipo
Polygonum). O microsporócito, ou célula-mãe do
pólen, sofre uma meiose, originando quatro
micrósporos. O micrósporo se divide, formando
uma célula generativa menor e uma célula
vegetativa (célula do tubo) bem maior. Ao entrar
em contato com a região receptiva (o estigma, nas
angiospermas), o tubo polínico germina e a célula
generativa se divide formando dois gametas. Por
vezes, essa divisão pode ocorrer antes da liberação Detalhe de um vaso em microscopia eletrônica de varredura.
do pólen e, portanto, formação do tubo polínico,
formando assim grãos de pólen tricelulares. Uma Existem duas linhas gerais para a origem
das células irá fertilizar o gameta feminino das angiospermas.

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Teoria Antostrobilar ou Euantial (Arber & antigo de pólen clorantóide (e.g. Crane et al.
Parkins 1907) 1989).
Essa teoria reflete uma extensão de
sistemas de classificação pré-darwinianos, como
os de De Candolle e de Bentham & Hooker, sendo
porém corroborada por evidências fósseis de
folhas e pólen. Essa teoria tem sido desenvolvida
desde o século XIX por Delpino e Bessey e
defendida por Takhtajan e Cronquist na segunda
metade do século passado. Ela está baseada na
hipótese de homologia entre as flores de Suposta origem pseundatial da flor bissexuada de angiosperma
angiospermas e os estróbilos bissexuados não- a partir da união de estróbilos unissexuados semelhante aos
ramificados semelhantes aos encontrados nas encontrados em Gnetales.
Bennettitales do Mesozóico. As primeiras flores
seriam grandes, radialmente simétricas, com As angiospermas primitivas
estruturas reprodutivas e vegetativas numerosas, Para Cronquist (1988), era claro que as
livres, dispostas espiraladamente, estames angiospermas teriam derivado de algum grupo de
laminares, carpelos com muitos óvulos anátropos, gimnosperma, provavelmente de "Cycadicae"
bitegumentados e polinizadas por besouros. (Pteridospermas – Lyginopterys, Glossopterys e
Segundo essa teoria, as flores de Magnoliaceae e Caytonia - Bennetitales e Cycadales). Elas seriam
Winteraceae representariam o estado floral mais lenhosas, com lenho manoxílico, onde as
primitivo em plantas atuais. traqueídes são grandes com pontuações circulares
ou escaliformes e raios multi-seriados, altos (vs.
picnoxílico, raios estreitos, com traqueídes
pequenas e pontuações circulares). Como alguns
grupos de angiospermas basais, como
Winteraceae, não possuem vasos, ele considerou
os vasos uma característica secundária. As folhas
seriam inteiras, simples, alternas, com venação
pinada, reticulada, estômatos paracíticos (com
células subsidiárias diferenciadas), sem estípulas
(elas teriam surgido em algum grupo de
Suposta origem antostrobilar da flor bissexuada de
angiospermas a partir de estróblilos bissexuados, como os
Magnoliidae).
encontrados nas extintas Bennettitales. As flores nasceriam na porção terminal dos
ramos, seriam grandes, actinomorfas, com muitas
Teoria Pseudantial (Wettstein 1907) peças florais dispostas espiraladamente. O
Essa teoria sugere que as Piperales, perianto seria composto apenas por sépalas
Chloranthales e as antigas amentíferas (Fagales, derivadas da redução de modificações de folhas.
Juglandales, Myricales, Casuarinales – As pétalas teriam surgido mais tarde e teriam
Hamamelidae - reunidas pelas inflorescências em derivado de estames. Os estames seriam
forma de espigas ou ramos pendentes do tipo laminares, sem diferenciação entre filetes e
amentilho), teriam flores semelhantes às primeiras anteras. O pólen monossulcado teria originado o
angiospermas, i.e. flores unissexuadas que seriam triaperturado a apartir de ornamentação em V ou
homólogas aos estróbilos das Gnetales e flores Y, como em Cannelaceae. O gineceu seria
bissexuadas homólogas a pseudantos derivados da apocárpico, com muitos carpelos. O ovário,
união de flores unissexuadas simples, derivado da conduplicação do megasporofilo,
representando estróbilos compostos condensados. seria estipitado e estaria unido na margem, mas
As flores seriam pequenas, simples, com simetria não fundido, o estilete não estaria diferenciado.
bilateral, carpelo com um ou poucos óvulos e Os óvulos seriam bitegumentados, muitos por
polinizadas pelo vento. De acordo com essa teoria carpelos, de placentação ventral, dispostos na
adotada pela escola de Engler, as Gnetales região da sutura, resultado da posição marginal
formariam o grupo irmão das angiospermas e as ancestral. O fruto primitivo seria um folículo, com
Chloranthaceae mais tarde vieram a representar frutículos se abrindo ventralmente para a liberação
um grupo chave na origem das angiospermas, o das sementes. A polinização seria por besouros,
que foi corroborado pelo registro fóssil muito que visitariam as flores em busca de pólen.

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Dentre as adaptações mais importantes na Independentemente da teoria adotada, os
evolução inicial das angiospermas destacam-se: a grupos que teriam divergido no ínicio da evolução
especialização do sistema vascular, que tornou a das angiospermas estariam incluídos em
condução mais eficiente (mas Gnetales não se Magnoliidae. As amentíferas foram rechaçadas
encontra diversificada, apesar de possuir vasos) e por causa do pólen tricolpado, que aparece no
a entomofilia, que aumentou a eficiência da registro fóssil bem depois do surgimento das
polinização cruzada (mas a entomofilia já ocorria angiospermas e que em análises filogenéticas
em algumas gimnospermas e, por outro lado, em definem as eudicotiledôneas. É em Magnoliidae
alguns grupos com flores, a anemofilia parece que encontramos a maioria das características
bem sucedida, e.g. Graminae). As características consideradas primitivas, como apocarpia, pólen
que parecem mais importantes são a redução dos monossulcado, estames numerosos, etc. O sistema
gametófitos e a formação do endosperma triplóide de Cronquist (1981, 1988), uma adaptação dos
associada. sistemas de Bessey (1915) e Takhtajan (1964,
1966), considera seis subclasses de
Grupos basais dicotiledôneas, incluindo Nymphaelidae e
A teoria antostrobilar foi, em grande, Ranunculidae em Magnoliidae. Ele deixa explicito
parte influenciada pela classificação pré-evolutiva. que Magnoliidae é um grupo parafilético, de onde
De Candolle, considerou Magnoliales (incluindo teriam evoluído as demais subclasses. A subclasse
Annonaceae, Illicium e Drymis), Nymphaeales e incluía oito ordens, tendo como grupo ancestral as
Ranuculales-Papaverales na base de sua Magnoliales. As demais ordens teriam, então,
classificação e em seqüência, sugerindo assim derivado de Magnoliales, exceção feita a
uma relação entre esses grupos. Mais tarde Ranunculales e Papaverales, que estariam
Bentham e Hooker (1862), adicionaram Lauraceae relacionadas com Illiciales. As duas ordens
em Ranales. Eichler (1890) e Engler & Prantl estariam incluídas em Magnoliidae por causa do
(1891), apesar de defenderem a teoria das gineceu apocárpico e elementos florais
amentiferas como grupo basal das angiospermas, espiralados em Ranunculales e numerosos
contribuíram com o conceito de Ranales alcalóides benzil-isoquinolínicos característicos
acrescentando Hernandinaceae, Monimiaceae e da subclasse em Papaverales. A relação delas com
outras famílias. Finalmente, Bessey (1915) Illiciales era sustentada pelo pólen triaperturado
construiu a primeira classificação de plantas nas três ordens. Entretanto, enquanto
supostamente filogenética, acrescentando Ranunculales e Papaverales possuem pólen
Piperaceae, Saururaceae e Chloranthaceae, tricolpado, em Illiciales, ele é
estabelecendo Magnoliidae com cinco linhagens: tricotomonossulcado, uma modificação do
Magnoliales, Laurales, Piperales, Nymphaeales e monossulcado. Ranunculales e Papaverales estão
Ranunculales-Papaverales. Takhtajan, Cronquist e atualmente classificadas nas eudicotiledôneas. A
Dahlgren, os considerados taxonomistas posição de algumas famílias como
modernos, seguiram Bessey com poucas Ceratophyllaceae, Lactoridaceae, Nelumbonaceae
inovações. Takhtajan (1982), por exemplo, e Austrobaileyaceae continuava controversa.
considerou duas linhagens, com pólen
monossulcado e pólen trissulcado, enquanto
Dahlgren colocou Piperaceae em Nymphaeales,
em vez de em Laurales.

Suposto relaciomento das angiospermas e sua classificação


segundo Takhtajan. Note a posição de Magnoliidae e sua
relação de ancestralidade com as monocotiledôneas (ramo que
Bessey (à direita) e Cronquist (à esquerda) foram os principais diverge à direita) e as demais subclasses de dicotiledôneas.
responsáveis pela criação e difusão da classificação das
angiospermas no séc. XX.

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No nosso curso, os grupos basais se diversas vezes, geralmente em carpelos
referem a todas as angiospermas, com exceção das uniovulados), de um a muitos por carpelos. A
eudicotiledôneas, o que de modo grosseiro podem micrópila é fechada pelos tegumentos (exceção
ser definidas como as Magnoliidae mais as em Myristicaceae, fechada por secreção. Nesses
monocotiledôneas. O conhecimento sobre a grupos, a polinização é realizada por besouros e
relação filogenética entre os grupos mais antigos moscas. A corola resultou da modificação de
de angiospermas tem crescido rapidamente nos estaminódios periféricos. As flores bissexuadas
últimos anos, levando a revisões constantes sobre nas Magnoliales são sempre protogínicas. (para
interpretações evolutivas no grupo (Endress morfologia e anatomia floral das angiospermas
2004). basais veja Endress 1986, Endress & Hufford
1989, Endress & Igershein 1997, Igershein &
As Magnoliidae são conhecidas por Endress, 1997, Igershein & Endress 1998).
incluírem grupos com um mosáico de Enquanto em gimnosperma existe um
características supostamente primitivas investimento maciço em lignina e taninos,
(plesiomorfias) em angiospermas. O número e a oferecendo proteção mecânica e repelência
filotaxia dos carpelos e das demais partes florais genérica, respectivamente, as angiospermas
são bastante variáveis. Ao longo da evolução, passaram a produzir toxinas mais específicas. A
entretanto, houve uma tendência à fixação do produção desses compostos surgiu com a redução
número floral em 3, 4 e 5 e o padrão verticilado da cadeia metabólica que leva ao alcool
das peças (a seleção do padrão verticilado deve ter cinamílico envolvido na produção de lignina e
facilitado a formação de um cômpito interno em também na produção de taninos através do ácido
gineceus sincárpicos). Os estames são cinâmico. A interrupção da cadeia em fenilalanina
caracterizados em alguns grupos pela quantidade implicou a diminuição de lignina e permitiu a
elevada de tecidos ao redor dos sacos polínicos e diversificação de uma série de compostos
falta de uma diferenciação entre anteras e filetes. químicos. Como alcalóides derivados de
Esses estames laminares são supostamente fenilalanina geralmente não retêm terpenóides,
primitivos, mas como as plantas desse grupo são, esses componentes voláteis passaram a
em muitos casos, protogínicas e polinizadas por desempenhar papel importante na atração de
besouros, reversões para esse estado poderiam ser polinizadores pelo odor (Gomes & Gottlieb 1979).
justificadas pela maior proteção dos sacos Em Magnoliidae, são comuns os alcalóides
polínicos. Num segundo momento, eles poderiam benzil-isoquinolínicos. Em Ranunculales e
ajudar também na atração de polinizadores, Papaverales, eles aparecem extremamente
tornando-se vistosos e produzindo odores. Com a diversificados, característica que foi usada para
diminuição do tecido, passou a haver uma justificar a posição dessas ordens em
diferenciação entre estilete e anteras e a forma dos Magnoliidae.
estames tornou-se mais estável. O número cromossômico básico das
O gineceu é geralmente apocárpico linhagens mais antigas de angiospermas são baixo
(como também o é nas primeiras angiospermas (Raven & Hyhos 1965) e a quantidade de DNA
fósseis) ou unicarperlar, mas não é raro a presença pequena (Leitch & Hanson 2002), sugerindo que
de um cômpito, região que permite a distribuição genomas grandes teriam surgido algumas vezes na
dos tubos polínicos entre os carpelos. Nos grupos evolução do grupo, sem eventos de reversão
basais o cômpito é geralmente extra-ginoecial, conhecidos (Soltis et al. 2003).
composto por um trato comum secretado pela
região estigmática e que forma uma camada sobre Para uma caracterização das
o gineceu. Ele funciona, então, como um angiospermas de acordo com a circunscrição
hiperestigma. A sutura do carpelo é a região por proposta pela APG visite o Angiosperm
onde o tubo polínico germina para penetrar no Phylogeny Website, para descrições de famílias o
ovário e é responsável pelas reações de Advanced Plant Taxonomy e para figuras de angio
incompatibilidade. As superfícies internas dos e gimnospermas veja a página Vascular Plant
carpelos são geralmente fundidas pós- Family access. Todos podem ser encontrados na
genitalmente, mas em alguns casos a abertura não página de endereços. Ou ainda, para uma
é obstruída e sim preenchidas por uma secreção descrição das principais famílias, baixe as aulas
(como em Nymphaeales). Os óvulos são (II a IV) de Sistemática de Fanerógamas
geralmente crassinucelados, bitegumentados (os (http://www.freewebs.com/rapinibot).
unitegumentados parecem ser derivados) e
anátropos (os ortótropos parecem ter surgido

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Magnoliaceae florestais, mas também podem ocorrer em áreas
As folhas são espiraladas, com estípulas. abertas.
Podem ter perianto trímero ou com muitas partes.
Possui 1-222 carpelos, arranjados de maneira
espiralada ou irregular, livres mas em alguns
casos unidos pós-genitalmente no fruto ou já na
flor. O estigma é uma crista na porção apical do
carpelo, quase seco. Óvulos, geralmente de 2-12
por carpelo, são bitegumentado, anátropos.

Annonaceae: flor com algumas pétalas removidas, mostrando


o androceu e o gineceu (acima, à esquerda); fruto sincárpico
(acima, à direita); flor e fruto apocárpico (abaixo, à esquerda);
distribuição geográfica (abaixo, à direita).

Myristicaceae
Facilmente reconhecida pela produção de
exudado avermelhado. As folhas são espiraladas,
as flores monoclamídeas, unissexuadas, com
arranjo do perianto verticilado, geralmente
trímero. Apenas um carpelo uniovulado,
completamente ou quase plicado, o óvulo é
Magnoliaceae: flor, fase feminina (acima, à direita);
distribução geográfica (acima, à esquerda); detalhe da flor, anátropo, sub-basal. O estígma é unicelular,
fase masculina (abaixo, à esquerda); fruto (abaixo, à direita). papilado, bastante secretor.

Ocorre nas Américas (1/5) e do sudeste


Asiático até a Malásia (4/5), contando com ca.
225 espécies. Atualmente, está reduzida a apenas
dois gêneros, Liriodendron, com uma espécie na
América do Norte e outra na China, e Magnolia
(Kim et al. 2001, Li & Conran 2003).

Annonaceae
As flores são geralmente trímeras, com
diferenciação entre cálice e corola, e o pólen é
inaperturado, em tétrades. Possui de 1-400
carpelos, geralmente livres e arranjados de
maneira verticilada ou irregular. O estigma é
papilar e bastante secretor. Nos gêneros com
numerosos carpelos, essa secreção forma uma
camada contínua. Essa camada secretora se
estende até a placenta, e envolve os funículos dos
óvulos. São de 1-30 óvulos bi(tri)tegmentados e
anátropos por carpelo.
É uma das maiores famílias de
Magnoliidae, com ca. 128 gêneros e 2.300
espécies, de distribuição pantropical. No Brasil,
são relacionados 26 gêneros (seis endêmicos) e Myristicaceae: ilustração da nóz-moscada.
260 espécies (Maas et al. 2002), destacando-se
Guateria com 250 espécies e Annona (graviola e
fruta-do-conde). São geralmente espécies

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Atualmente, está incluída em Canellales.
Possui de quatro a nove gêneros e 60-100
espécies, geralmente em regiões tropicais
montanas. No Brasil, o único representante é
Drymis brasiliensis.

Lauraceae
Com exceção de Cassytha (parasita), são
plantas lenhosas. As flores são bissexuadas
(raramente unissexuadas), reduzidas, trímeras,
Myristicaceae: flor (abaixo, à esquerda); fruto cortado com poucos verticilos de estames com aberturas
longitudinalmente (note o latex avermelhado; abaixo, à valvares, freqüentemente com um par de
disreita).
glândulas na base e estaminódios freqüentemente
presentes internamente. O gineceu é unicarpelar,
Inclui 300-475 espécies e tem com um óvulo bitegumentado, anátropo, de
distribuição pantropical. No Brasil, destaca-se a placentação apical (pendente). O ovário é
Virola, utilizada por índios como alucinógeno em geralmente superior, mas está incluído em um
rituais religiosos. receptáculo, raramente ínfero. O estigma é
capitado. O pólen é geralmente inaperturado e
Winteraceae esferoidal. A produção de frutos é relativamente
É considerada entre os grupos mais pequena, cerca de um a cada 1.000 flores, e a
antigos, com pólen registrado para o início do maturação é lenta, podendo chegar a mais de um
Cretáceo, e ausência de vasos. As folhas são ano. A dispersão é feita principalmente por
espiraladas. Possui 2-4 lobos no cálice e de 2 a pássaros e secundariamente por roedores.
muitas pétalas. São geralmente muitos estames A família é pantropical contando com
espiralados e o pólen está arranjado em tétrades. 2.000 espécies e 50 gêneros não muito bem
Possui de 1 a 50 carpelos, livres ou sincárpicos definidos. Os gêneros mais representativos no
pós-genitalmente. O estigma é uma crista curta ou Novo Mundo são Ocotea (300-500 spp.) e
longa e o transmissor de tubos polínicos se Nectandra (114 spp.). São importantes
estende até a região placental. Os óvulos, 5-60 por economicamente a canela (cinnamomum) e o
carpelos, são bitegumentados e anátropos. A abacate (Persea americana).
filotaxia floral é variada (verticilada, irregular ou
espiralada), especialmente o androceu, e o
tamanho e número das partes também podem
variar consideravelmente até mesmo em uma
mesma espécie.

Lauraceae: hábito (acima, à esquerda); hábito de cassytha


(holoparasita; acima, à direita); flores (notem as anteras com
deiscência valvar e as glândulas; abaixo, à esquerda); frutos
(note o receptáculo; abaixo, à direita).

Monimiaceae
Winteraceae: flores (acima); frutos (abaixo, à esquerda); Árvores ou arbustos, com folhas opostas e
distribuição geográfica (abaixo, à direita). flores, em muitos gêneros, unissexuadas. O
diocismo parece ter surgido diversas vezes no
grupo. Perianto com 4-6 sépalas, mas geralmente

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tetrâmero, oito a muitos estames. Os carpelos A família compreende 30 gêneros e 400-
podem chegar a 2.000 (perdendo apenas para 450 espécies. Ocorrem nas regiões tropicais e
Ranunculaceae, que podem ter até 10.000 subtropicais do mundo, especialmente do
carpelos), verticilados, espiralados ou hemisfério sul (SE do Brasil e arquipélago
irregularmente arranjados Eles são livres e malaio). No Brasil, ocorrem seis gêneros,
expostos ou podem estar incluídos em uma taça destacando-se Mollinedia (ca. 90 que podem ser
floral (receptáculo), tendo apenas a região reduzidas a 20 espécies) e Siparuna (74 espécie,
receptiva exposta por um poro estreito, formando América tropical, parece que o dioicismo surgiu
assim um hiperestigma. O óvulo, que pode ser um diversas vezes no grupo). Estudos filogenéticos
ou muitos, é anátropo, bitegumentado (raramente (e.g. Renner 1999, Renner & Chanderbali 2000),
unitegumentado). A família apresenta uma entretanto, têm mostrado que a inclusão desses
redução do tamanho e dos números de partes dois gêneros torna a família bifilética, o que levou
florais, uma reestruturação da disposição à separação do grupo de Siparuna em uma família
espiralada para radial e finalmente decussada, a parte, Siparunaceae.
uma transição de carpelos livres para sincárpicos e Possui aplicação para extração de óleos
ínferos, progressão de monoecia para dioecia aromáticos e o boldo-do-chile é amplamente
(Santos & Peixoto 2001). empregado em tratamentos hepáticos e anti-
inflamatórios.

Piperaceae
As flores são bissexuadas. Geralmente
com dois a três estames, mas até 10, e geralmente
até quatro carpelos. O carpelo possui apenas um
óvulo basal, ereto, ortótropo e bitegumentado
(exceto em Peperomia, onde ele é unitegmentado,
mas com evidências de redução) e de 1-7
estigmas, sugerindo uma sincarpia original para os
carpelos com mais de um estigma. A polinização
é pouco estudada, mas deve ser realizada
principalmente por abelhas, besouros e moscas;
em espécies brasileiras de Piper foi detectada
ambofilia (Figueiredo & Sazima 2000).

Piperaceae: Piper, hábito (acima, à esquerda); Peperomia


Monimiaceae: ilustração (acima); vista lateral da flor (abaixo, (acima, à direita); espiga (note bráctea, anteras e ovário; abaixo
à esquerda); vista apical da flor (note os estigmas saindo do à esquerda); distribuição geográfica (no meio, à direita); espiga
receptáculo; abaixo, à direita). em fruto (abaixo, à direita).

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A distribuição é pantropical. No Brasil, bissexuadas de Sacandra e Chlorantus como
estão presentes os dois maiores gêneros, Piper pseudantos formados pela fusão de duas flores
(ca. 1.000 spp.) e Peperomia (1.000 spp.). As unissexuadas (mas veja Leroy 1983 para uma
flores são bastante reduzidas, com um ovário e interpretação diferente de homologia floral em
dois estames, subtendidos por uma brácteas. A Chlorantales). A estrutura reprodutiva bastante
pimenta-do-reino (Piper nigrum) é a planta mais particular dificulta o estabelecimento das relações
famosa da família, que também inclui algumas com outros grupo, e Chloranthus já foi incluído
espécies medicinais como a pariparoba. em Loranthaceae e Caprifoliaceae, assim como
Peperomia é utilizada como ornamental. Chloranthaceae nas ordens Piperales,
Magnoliales, Laurales e Annonales, até
Chloranthaceae finalmente na década de 80 ser considerada em
Chloranthaceae é uma família uma ordem a parte. O pólen columelado,
pantropical, com quatro gêneros, apenas reticulado, principalmente de Ascarina, muito
Hedyosmum (40 spp.) ocorrendo na região semelhante aos primeiros grãos de pólen do
Neotropical (uma espécie asiática). As folhas são registro de angiosperma e a ausência de vasos em
opostas e serreadas. O ovário é unicarpelar, Sacandra indicam a antiguidade do grupo.
uniovular, geralmente superior. O óvulo é
pendente, ortótropo, bitegumentado. Em Ascarina
e Hedyosmum, as flores são geralmente
unissexuadas. Em Ascarina (10 spp., Malásia,
Polinésia, Nova Zelândia, uma espécie em
Madagascar), as flores são extremamente simples,
as masculinas (em amentilho) possuem apenas um
estame (como em Hedyosmum) e as femininas Chlorathus
Hediosmum Ascarina
exclusivamente um carpelo (em Hedyosmum, a
flor é subtendida por uma bráctea e possui um
discreto perianto trilobado). Nesses dois gêneros,
o conectivo das anteras é alongado, a quantidade
de pólen produzida é grande e o estígma seco e
amplo, sugerindo a polinização pelo vento. Em
Sacandra (3 spp.) e Chloranthus (16 spp.) (ambos Sarcandra
do leste Asiático e Indomalásia), as flores são
bissexuadas, com um ou três estames (sinângios).
Flores dos gêneros de Chlorantaceae.
Nesses gêneros, pela mudança de cor durante a
maturação da parte reprodutiva e produção de
odor, parece que a polinização é feita por A família inclui ca. 75 espécies,
besouros. distribuídas na região tropical e subtropical. No
Brasil, ocorre principalmente H. brasiliense, cujas
folhas são utilizadas em infusão para o tratamento
de febres e reumatismos, como diurético, etc.

Nymphaeaceae
São plantas aquáticas com folhas
flutuantes. As flores grandes, bissexuadas, com 3-
5 (ou muitas) sépalas e 4 a muitas pétalas,
petaloides ou não. São geralmente muitos estames
laminares, espiralados, estaminódios geralmente
presentes, 3-47 carpelos pós-genitalmente
sincárpicos e sem um cômpito interno. O ovário
pode ser súpero ou ínfero. São muitas as peças
florais. Victoria possui órgãos estéreis entre os
Chloranthaceae: planta com frutos (à direita e acima, à estames e os carpelos (interpretados como
esquerda); distribuição da família (abaixo, à direita). paracarpelos ou inter-estaminódios) e flores
termogênicas, com calor gerado nos apêndices dos
A simplicidade contrasta com o arquétipo carpelos. O estilete não é distinto e existe um
das flores primitivas, que teria muitas peças corpo de alimento no ápice do estigma. Existe um
florais. Alguns autores interpretaram as flores

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cômpito extra-ginoecial devido a presença de Aristolochiaceae
secreção. Os óvulos podem ser 3 até mais de 400, São plantas volúveis, lenhosas ou não,
crassinucelados, bitegumentados e anátropos raramente eretas, com folhas cordadas e venação
(raramente ortótropos); em Nymphaea a palmatinérvia. Flores hipo ou epígenas,
placentação é parietal (laminar). Estudos bissexuadas, com cálice tubular ampliado e corola
filogenéticos (Les et al. 1999) sugerem que o reduzida ou ausente. Possuem 5-12 estames,
grande número de peças florais de alguns gêneros parcialmente conados, pólen geralmente
é secundário e possivelmente relacionado à inaperturado, 3-6 carpelos, geralmente sincárpicos
polinização. e ínferos. Em Aristolochia, o gineceu é fundido
Ocorrem no mundo todo e estão divididas congenitalmente com os estames, formando um
em oito gêneros, dentre eles, Nymphaea (40 spp.) ginostêmio. O estigma é comum a todos os
e Victoria (vitória-régia). carpelos (cômpito interno); em alguns casos
parece que houve um aumento na quantidade de
estígmas, que são mais numerosos que os
carpelos. Pode ter de 2 a 150 óvulos por carpelo.
Eles são crassinucelados, bitegumentados e
anátropos.
Saruma, gênero monospecífico da China,
representa uma ligação interessante entre
Aristolochiales e as demais Magnoliidae, graças
ao pólen monossulcado e gineceu multicarpelar,
apocárpico, unidos apenas na base, e parcialmente
súpero, e mesmo o ácido aristolóquico parece
derivar de alcalóides aporfínicos característicos da
subclasse.
Está amplamente distribuída, com
exceção da Austrália, contando com ca. 410
espécies, a maioria em Aristolochia.

B
Nymphaeales: Victoria amazonica (vitória-régia; acima, à
esquerda); distribuição da ordem (acima, à direita). Nymphaea
(abaixo, à direita).

Aristolochioaceae: Aristolochia (acima, à esquerda) corte


longitudinal da flor (note ginostêmio no interior; à esquerda);
flor de Saruna (note trimeria; abaixo, à esquerda).

Monocotiledôneas
As monocotiledôneas diferenciam-se pela
presença de um cotilédone apenas, sistema
radicular adventício, folhas com venação
paralelinérvea, câmbio ausente, de modo que os
feixes vasculares encontram-se dispersos, i.e.
actostélico. As flores são geralmente trímeras.
Nymphaeales: flor de Nymphaea (acima); flor de Nuphar em Entretanto, essas características não são universais
corte longitudinal (abaixo, à direita) e transversal (abaixo, à
esquerda).
nem exclusivas.

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Formam um grupo monofilético, inserido
nas dicotiledôneas. Os registros de
monocotiledôneas são antigos entre o Cretáceo
Inferior e Superior. Os registros fósseis mais
antigos apontam para Araceae, família que incluia
Acorus, gênero que nos estudos filogenéticos
aparece como grupo irmão das demais
monocotiledôneas.

Leitura Suplementar:
Gifford, E.M. & Foster, A.S. 1996. Morphology and evolution
of vascular plants, cap. 19-20, p. 485-616. W.H.
Freeman and Company, New York.

Leitura (escolha pelo menos dois dos quatro artigos):


Azuma, H., Thien, L.B. & Kawano, S. 1999. Floral scents, leaf
volatiles and thermogenic in Magnoliaceae. Pl. Sp. Biol.
14: 121-127.
Figueiredo, R.A. & Sazima, M. 2000. Pollination biology of
Piperaceae species in southern Brazil. Ann. Bot. 85: 455-
460.
Gottsberger, G. 1999. Pollination and evolution in neotropical
Annonaceae. Pl. Sp. Biol. 14: 143-152.
Prance, G.T. & Anderson, A.B. 1976. Studies of the floral
biology of Neotropical Nymphaeaceae. Acta Amazonica
6(2): 163-170.

Textos complementares:
Culley, T.M., Weller, S.G., Weller, G & Sakai, A.K. 2002. The
evolution of wind pollination in angiosperms. Trends in
Ecol. Evol. 17: 361-369.
Endress, P.K. & Lorence, D.H. 2004. Heterodichogamy of a
novel type in Hernandia (Hernandiaceae) and its structural
basis. Int. J. Plant Sci. 165(5): 753-763.
Terry, I., Moore, C.J., Walter, G.H., Forster, P.I., Roemer,
R.B., Donaldson, J.D. & Machim, P.J. 2004. Association
of cone thermogenisis and volatiles with pollinator
specificity in Macrozamia cycads. Pl. Syst. Evol. 243:
233-247.

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