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FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO, FENOLOGIA E

ASPECTOS BÁSICOS DE MANEJO

Antonio Luiz Fancelli

Engenheiro Agrônomo. MSc. Dr. e Docente do Departamento de Produção Vegetal,


ESALQ/USPCaixa Postal: 09 – Piracicaba/SP – 13418-900 – fone: (19) 429-4115
fancelli@csalq.usp.br

I. INTRODUÇÃO

O milho é uma planta de ciclo vegetativo variado, evidenciando desde


genótipos extremamente precoces, cuja polinização pode ocorrer 30 dias após
a emergência, até mesmo aqueles cujo ciclo vital pode alcançar 300 dias.
Contudo, em nossas condições, a cultura do milho apresenta ciclo variável
entre 110 e 180 dias, em função da caracterização dos genótipos
(superprecoce, precoce e tardio), período este compreendido entre a
semeadura e o ponto de maturidade fisiológica.
De forma geral, o ciclo da cultura compreende as seguintes etapas de
desenvolvimento:

a) Germinação e emergência: período compreendido desde a semeadura até


o efetivo aparecimento da plântula, o qual em função da temperatura e
umidade do solo pode se estender de 5 a 12 dias de duração;

b) Crescimento vegetativo: período compreendido entre a emissão da


segunda folha e o início do florescimento. Tal etapa apresenta extensões
variáveis, sendo este fato comumente empregado para caracterizar os tipos de
cultivares de milho, quanto ao comprimento do ciclo;

c) Florescimento: período compreendido entre a emissão do pólen e o início


da formação do grão (fecundação), cuja duração raramente ultrapassa 10 dias;

d) Frutificação: período compreendido desde a fecundação até enchimento


completo dos grãos, sendo sua duração estimada entre 40 e 60 dias e

e) Maturidade: período compreendido entre o final da frutificação e o


aparecimento da camada de abscisão ou ponto preto, sendo este
relativamente curto e indicativo do final do ciclo de vida da planta.
II. FENOLOGIA

Infelizmente, apesar do conhecimento acumulado e das informações


disponíveis concernentes ao crescimento e desenvolvimento da espécie Zea mays
L. (milho); ainda, o produtor, e mesmo alguns técnicos, tem insistido em utilizar
recomendações de manejo baseadas em simples escala de tempo, representada
pelo número de dias transcorridos após a semeadura, emergência, florescimento
ou outros eventos relacionados à cultura. Tal procedimento, com certeza tem
contribuído para a redução da eficiência no uso de insumos e defensivos, bem
como tem ocasionado equívocos na preservação de etapas importantes de
definição de produção e do rendimento, por parte da planta.
Nesse contexto, objetivando o desenvolvimento de uma agricultura mais
tecnificada, racional e fundamentada em princípios científicos, torna-se
imprescindível o emprego de conhecimentos alusivos à Fenologia.
Fenologia é o estudo dos eventos periódicos da vida da planta, quanto à
sua duração e sincronismo, em função da reação às condições de ambiente, de
forma a permitir o estabelecimento de correlações entre os eventos fisiológicos da
vida vegetal com características morfológicas apresentadas pela planta, no
momento da avaliação.
Assim, o uso de uma escala baseada nas mudanças morfológicas da planta
e nos eventos fisiológicos que se sucedem no ciclo de vida do milho, oferece maior
segurança e precisão nas ações de manejo (e de pesquisa).
Portanto, para maior facilidade de manejo e estudo, bem como objetivando
a possibilidade do estabelecimento de correlações entre elementos fisiológicos,
climatológicos, fitogenéticos, entomológicos, fitopatológicos, e fitotécnicos, com o
desempenho da planta, o ciclo da cultura do milho foi dividido em 11 estádios
distintos de desenvolvimento, de acordo com a escala proposta por Fancelli (1986)
e adaptada de Nel & Smit (1978).
Na escala mencionada os estádios de crescimento e desenvolvimento
anteriores ao aparecimento das espigas são identificados, mediante a avaliação do
número de folhas plenamente expandidas ou desdobradas. Para essa avaliação, a
folha de milho pode ser considerada desdobrada (ou aberta) quando a mesma
apresentar a linha de união bainha-limbo (“colar”) facilmente visível. Todavia, a
folha seminal não deverá ser computada na contagem, a qual distingue-se das
folhas verdadeiras do milho por apresentar extremidade arredondada. Para os
estádios posteriores à emissão da espiga, a identificação deverá ser efetuada com
base no desenvolvimento e consistência dos grãos (Kiniry & Bonhomme, 1991).
Para essa avaliação, o exame dos grãos deverá ser efetuado na porção mediana
da espiga.
A descrição dos estádios fenológicos (Figura 1), eventuais recomendações
para manejo, bem como aspectos fisiológicos importantes da vida da planta são
apresentados a seguir.
R1 R2
V0 V4 V8 V12 Vt R3 R4 R5 R6

Figura 1. Ciclo de cultura: estádios de desenvolvimento (Fancelli, 1986,


adaptado de Nel & Smit, 1978 e Hanaway, 1982)

II.1 Estádio V0 (germinação e emergência)

A ocorrência de temperatura e umidade favoráveis propiciam o


desencadeamento do processo germinativo, redundando na emissão das
estruturas embriônicas contidas na semente, dando início ao crescimento da
planta jovem.
A radícula, primeira estrutura a salientar-se após a germinação, é
representada pela raíz primária que se alonga rapidamente, seguida das duas
raízes seminais nodais, emitidas a partir do nó cotiledonar. A plúmula,
apresentando folhas rudimentares, emerge em direção oposta à radícula,
sustentada pelo coleóptilo, que se constitui na estrutura responsável pela
condução da parte aérea à superfície do solo.
Convém ressaltar que as raízes seminais apresentam duração efêmera
(apenas 8 a 12 dias), intensa pilosidade e baixa taxa de ramificação, pois sua função
está relacionada à absorção de água e de oxigênio, objetivando a ativação
enzimática e a digestão das substâncias de reservas contidas na semente. As raízes
verdadeiras do milho, conhecidas como raízes adventícias, aparecem 7 a 15 dias
após o início da germinação, sendo provenientes das gemas presentes na base dos
nós subterrâneos (coroa de nós subterrâneaos).
No caso do milho, a germinação ocorre em 2 semanas quando as
sementes forem submetidas a 10,5°C de temperatura; em 4 dias a 15,5 °C e em 3
dias a 18°C. De acordo com Wilsie (1962), nessa espécie não se constata a
presença de nenhum fator inibitório do processo, visto que sob condições ótimas de
umidade, as sementes podem germinar imediatamente após a maturidade, mesmo
ainda presas à espiga. A germinação lenta predispõe a semente e a plântula à menor
resistência a condições ambientais adversas, bem como ao ataque de patógenos,
principalmente fungos do gênero Fusarium, Rhizoctonia, Pythium e Macrophomina.
A maior influência na duração dessa etapa encontra-se relacionada
com a profundidade de semeadura. Alguns autores relatam que, em virtude do
tamanho avantajado do endosperma e do embrião do milho, as plântulas
provenientes de semeaduras profundas conseguem emergir, porém tardiamente, e
sua menor taxa de crescimento é resultante da ocorrência de temperaturas mais
baixas e menor disponibilidade de oxigênio naquelas condições.
O milho, como a maioria das gramíneas (poáceas), por ocasião da
emergência de suas plântulas, mantém sua semente sob a superfície do solo,
caracterizando a natureza hipógea de seu processo germinativo.
O processo de germinação das sementes é desencadeado pela
embebição e absorção de oxigênio, devido a diferenças de potencial osmótico entre
a semente e o meio (solo).
O teor de água suficiente para elevar o potencial hídrico interno da
semente à 1,0 Mpa (1 mega pascal), que corresponde a, aproximadamente, 30-40%
de sua massa, é suficiente para desencadear o mecanismo de germinação. A
absorção de água se processa de forma passiva por, aproximadamente, 20-24
horas, quando a semente atinge um teor de água ao redor de 34%. Após esse
período, a absorção de água ocorre de forma ativa, em função da fase de
multiplicação celular e de digestão de substâncias. Somente durante a primeira fase
de absorção de água, o processo poderá ser interrompido, voltando a ser
restabelecido, assim que o suprimento for normalizado, sem maiores conseqüências.
Em condições favoráveis, a emergência das plântulas de milho
ocorrerá entre 6 e 10 dias após a semeadura. Resultados experimentais relatam que
o tempo destinado à emergência pode atingir período aproximado de até 28 dias,
sem a ocorrência de prejuízos significativos à planta e ao seu potencial produtivo;
desde que o solo encontre-se suficientemente seco, de forma a evitar a proliferação
de fungos, bem como a absorção de água em taxa incipiente, por parte da semente.
Uma semana após a emergência, de forma geral, a plântula apresenta-se
com duas folhas totalmente expandidas, encontrando-se a partir dessa fase apta
a iniciar o processo fotossintético. Nesta etapa, é bastante saliente um grupo de
raízes elongadas, presas ao primeiro nó do caulículo, ainda não portadoras de
ramificações.

II. 2 Estádio V4 (planta com 4 folhas totalmente desdobradas)

O estádio 1 ou V4 normalmente coincide com 12 a 18 dias após a


emergência da planta, ocorrendo nesse período a preparação para o início da
diferenciação do meristema apical, cujas estruturas ainda se encontram
localizadas abaixo da superfície do solo.
O sistema radicular, em desenvolvimento, já evidencia considerável taxa
de ramificações diferenciadas; sugerindo que em períodos posteriores a este
estádio, operações inadequadas de cultivo e muito próximas às plantas poderão
afetar a integridade e a distribuição de raízes, com conseqüente redução na
produtividade da cultura.
O crescimento em extensão das raízes é decisivamente influenciado pelo
suprimento de carboidratos sintetizados e acumulados na parte aérea, nessa
etapa. A diminuição dessa disponibilidade, bem como a dificuldade de
translocação de açúcares, contribuirá para a diminuição do volume de solo a ser
explorado pela planta.
Para Kramer (1974), apesar das características adaptativas, anatômicas
e funcionais observadas na parte aérea da planta, a profundidade e o tipo de
ramificação das raízes constituem-se nos fatores preponderantes do grau de
tolerância à seca das plantas cultivadas.
O desenvolvimento do sistema radicular está associado ao
desenvolvimento da parte aérea. Assim o valor da relação parte aérea/raízes
(PA/R) varia em função das condições do meio e do estádio fenológico da planta.
A elevada disponibilidade de nitrogênio determina um aumento de PA/R, enquanto
que o estresse hídrico induz a redução do valor PA/R (Loomis & Williams, 1963).
Neste estádio, os efeitos de baixa temperatura causados por geadas ou
mesmo a ocorrência de granizo, promovem pequena redução na produção em
virtude de não ocasionarem prejuízos aos tecidos meristemáticos, bem como aos
demais órgãos diferenciados, que nesse período, encontram-se protegidos abaixo
da superfície do solo. Aproximadamente 20 a 25 dias após a emergência das
plantas (4 a 5 folhas) a região de crescimento atinge a superfície do solo iniciando
o desenvolvimento de eventuais perfilhos. Também nesse período ocorre o
processo de diferenciação floral, o qual origina os primórdios foliares e, em
seguida, ds primórdios da panícula e da espiga, bem como tem início a definição
do potencial de produção da espécie.
A taxa de emissão de perfilhos encontra-se diretamente ligada à
base genética do cultivar (acentuada variação entre os híbridos comerciais);
ao estado nutricional da planta (excesso de matéria orgânica ou excesso de
nitrogênio na semeadura); à disponibilidade de água associada à calor
(preferencialmente dias nublados: “efeito-estufa”); ao espaçamento adotado
(> 90 cm), ao ataque de pragas (lagarta rosca, elasmo, larva alfinete e
percevejo barriga verde, principalmente) e às alterações bruscas de
temperaturas baixa (<15oC) ou alta (>35oC). No entanto, existem poucas
evidências experimentais que demonstram a sua influência negativa na
produção.

II.3 Estádio V8 (planta apresentando 8 folhas)

Este estádio coincide, freqüentemente, com o primeiro mês após a


emergência, sendo caracterizado pelo crescimento do colmo em diâmetro e
comprimento; pela aceleração do processo de formação da inflorescência
masculina e pelo início de confirmação do número de fileiras da espiga (7 a
10 folhas), além da presença de 8 folhas desdobradas, indicativa deste
estádio.
Para o milho, o colmo não somente atua como suporte de folhas e
inflorescências, mas principalmente como uma estrutura destinada ao
armazenamento de substâncias de resrva que serão utilizadas
posteriormente no enchimento dos grãos.
Assim, estresse hídrico nessa etapa pode afetar o comprimento dos
internódios, provavelmente pela inibição da elongação das células em
desenvolvimento, concorrendo, desta forma, para a diminuição da
capacidade de armazenagem de fotosintetizados no colmo.
No estádio 2 ou V8, o sistema radicular encontra-se bem distribuído
no solo, favorecendo o aproveitamento de água e fertilizantes. Em sistema de
produção de alta tecnologia (grãos e silagem) e fundamentado em elevada
densidade populacional, este é o período final para o emprego de fontes de
potássio (K), em cobertura. Todavia, melhores resultados são obtidos com o
uso de potássio no estádio V4 e mesmo em pré-semeadura.
Neste estádio (V8), constata-se a máxima tolerância da espécie ao
excesso de chuvas e encharcamento. Todavia, inundações por período de
tempo superior a cinco dias poderão acarretar prejuízos consideráveis e
irreversíveis à planta.
Evidências experimentais demonstram que a destruição total das
folhas expostas nessa etapa, mediante a ocorrência de granizo, geada,
ataque severo de pragas desfolhadoras e doenças, além de outros agentes,
acarretarão quedas na produção da ordem de 10 a 25%. Os danos
ocasionados por granizos são prontamente reconhecidos pela presença de
folhas dilaceradas e, eventualmente, por plantas tombadas com
colmos lesionados. Quando o granizo atinge plantas jovens de milho (até 8
folhas) seu efeito sobre o rendimento pode ser pouco significativo, desde que o
ponto de crescimento (região meristemática) não tenha sofrido nenhum tipo de
dano. Assim, a decisão de se replantar a cultura sinistrada, deve-se basear no
exame cuidadoso do ponto de crescimento, e não na preocupação com a
redução do índice de área foliar nesse período. Contudo, a ocorrência de
granizo em etapas mais avançadas de desenvolvimento poderão restringir
consideravelmente o potencial produtivo da cultura.
Períodos secos, aliados à conformação da planta, característica desta
fase (“cartucho”), confere à cultura do milho, elevada suscetibilidade ao ataque
da lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), exigindo desta feita constante
vigilância por parte do agricultor.
Aproximadamente, cinco semanas após a emergência, de forma geral,
incrementa-se a taxa de desenvolvimento das espigas entre o 6o e 9o nós acima
do solo, coincidindo com acentuada taxa de absorção de nutrientes por parte da
planta, notadamente potássio (K) e nitrogênio (N).

II.4 Estádio V12 (plantas com 12 folhas)

O estádio V12 relaciona-se, freqüentemente, à sexta/sétima semana


após a emergência, sendo caracterizado pela presença de 80%-90% da área
foliar definida. Ainda nesse período, além da elevada taxa de crescimento do
colmo, pendão e espiga superior, pode ocorrer também a perda de quatro
folhas mais velhas, bem como o início de desenvolvimento das raízes
adventícias aéreas (“esporões”), a partir do primeiro nó acima do nível do solo.
Neste estádio, a distribuição das chuvas, a disponibilidade de
nutrientes, bem como a duração do intervalo compreendido entre o estádio V12
e Vt (“pendoamento”), constituem-se nos fatores decisivos na definição da
produção e rendimento da cultura, principalmente quanto ao tamanho e número
de espigas. Por essa razão é que, em algumas situações, os genótipos
superprecoces produzem menos, pois, tal período de tempo destinado à
formação das espigas pode ser relativamente curto, quando comparado àquele
disponível aos genótipos de ciclo mais longo, em função das diferenças
relativas às suas exigências calóricas.
Sete semanas após a emergência, normalmente, o pendão atinge o
seu desenvolvimento máximo, ao mesmo tempo em que se inicia o crescimento
dos estilos-estigma, comumente conhecidos como “cabelo” do milho, que mais
tarde propiciarão a fecundação dos óvulos pelos grãos de pólen. Como o
número potencial de grãos (número e tamanho de espigas) é confirmado no
período entre V12 e Floração, a ocorrência de deficiências nutricionais, baixa
disponibilidade hídrica, anormalidades climáticas (p.ex. granizo), ou incidência
de pragas e doenças, podem comprometer significativamente a produção.
II. 5 Estádio Vt (aparecimento do pendão)

Esta etapa de desenvolvimento da planta, normalmente, coincide com


a 8a/10a semana após a emergência, caracteriza-se pelo aparecimento parcial
do pendão ou “flecha” e pelo crescimento acentuado dos estilos-estigma.
Resultados experimentais demonstram que a produção de grãos pode
ser drasticamente afetada, neste período, em função da taxa de desfolha que
a planta for submetida. Assim, a perda de cinco folhas superiores de plantas
de milho, próxima ao florescimento, resulta na queda acentuada de rendimento
da cultura, principalmente pela redução do comprimento das espigas, peso de
espigas e peso (densidade) de grãos (Fancelli, 1988). Da mesma forma, em
ensaios de campo relativos à avaliação de desempenho de híbridos e
linhagens, Cantrell & Geadelmann (1981) observaram redução na produção de
grãos, da ordem de 9,2%, quando da remoção do pendão acompanhado de
duas folhas superiores. Ainda, temperaturas elevadas, escassez de umidade,
baixa luminosidade, alé de deficiências nutricionais podem antecipar
demasiadamente a emissão do pendão, bem como a formação e maturação
do grão do pólen, antes mesmo que a espiga se encontre estruturalmente e
fisiologicamente apta para desenvolver as suas funções. Assim, genótipos
precoces, em virtude de alguns atributos genéticos encontram-se mais sujeitos
a esse tipo de problema, apresentando em algumas ocasiões, porcentagem
considerável de espigas mal granadas e desuniformes (Paterniani, 1987).
Nota-se que a emissão da inflorescência masculina sempre antecede
de 2 a 4 dias a exposição dos estilo-estigmas. Todavia, 75% das espigas
devem apresentar seus estilos-estigma expostos, após período de 10-12 dias
posterior ao aparecimento do pendão (Ferraz, 1966).

II. 6 Estádio R1 (florescimento e polinização)

Durante a 10a/12a semana após a emergência das plantas, inicia-se,


normalmente, o florescimento, cessando as elongações do colmo e
internódios.Nesse estádio, as espigas expõem seus estilos-estigma que
continuam a crescer até que os mesmos sejam polinizados, dando seqüência
ao processo de fecundação do óvulo.
O “cabelo” do milho aparece durante período aproximado de 3 a 5
dias, sendo receptivos imediatamente após a sua emissão, podendo assim
permanecer por até 14 dias, desde que mantidas as condições favoráveis à
sua viabilidade (temperatura entre 16 e 350C, aliado à umidade relativa do ar >
65%). Devido a importância do estilo-estigma para a concretização da
produção, recomenda-se neste estádio, constante vigilância, evitando-se a sua
destruição, principalmente pela ocorrência de pragas. (lagarta da espiga e
outros insetos).
A deiscência e a dispersão dos grãos de pólen, usualmente, ocorre 2
a 3 dias antes da emissão dos estilos-estigma, caracterizando a natureza
protândrica da quase totalidade dos genótipos de milho disponíveis no mercado
brasileiro e que favorece o mecanismo de polinização cruzada. Tal período de
dispersão pode se estender até o 14o dia, embora períodos mais curtos (5 a 8
dias) sejam mais comumente constatados (Purseglove, 1972).
A liberação do grão do pólen inicia-se ao amanhecer, estendendo-se
até ao meio dia; contudo, tal processo raramente exige mais de 4 horas para a sua
complementação. Ainda, sob condições favoráveis, o grão de pólen pode
permanecer viável por período aproximado de 24 horas. Todavia, sua longevidade
pode ser drasticamente reduzida quando submetido à baixa umidade relativa do ar
(<50%) e temperaturas superiores a 350C (Goodman & Smith, 1978).
A polinização do milho é predominantemente realizada pelo vento
(anemófila), de forma a vencer distâncias aproximadas de até 500 m, assegurando
desta feita a concretização da fecundação cruzada.
O estabelecimento do contato direto entre o grão de pólen e os pêlos
viscosos dos estilos-estigma, estimula a sua germinação, dando origem a uma
estrutura denominada de tubo polínico, que é responsável pela fecundação do
óvulo inserido na espiga. A fertilização ocorre 12 a 36 horas após a polinização
(germinação do grão de pólen), período este variável em função de alguns fatores
envolvidos no processo, tais como: teor de água, temperatura, ponto de contato e
comprimento do estilo-estigma.
Assim, o número de óvulos fertilizados apresenta estreita correlação
com o estado nutricional da planta, com a temperatura, bem como com a condição
de umidade evidenciada no solo e no ar. Temperaturas elevadas (> 350C) aliadas
à umidade relativa do ar inferior a 50-60% poderão comprometer os mecanismos
de polinização e fertilização, acarretando, conseqüentemente, consideráveis
prejuízos à produção. Da mesma forma, chuvas intensas e freqüentes,
predominantemente no período matutino, durante a fase de dispersão do grão de
pólen também poderão contribuir com falhas consideráveis na granação.
Desta forma, destaca-se a decisiva influência do ambiente nesta
etapa de desenvolvimento, recomendando-se, portanto, criterioso planejamento da
cultura, com referência principal à época de semeadura e à escolha do híbrido, de
forma a garantir as condições climáticas favoráveis exigidas pela planta no
presente estádio.
A escolha do tipo de genótipo adequado para a região e época de
semeadura considerada deve-se fundamentar entre outros fatores, na finalidade
da produção (grãos secos, silagem ou milho verde); na disponibilidade de água e
calor (unidades térmicas) reinantes no período; na possibilidade de ocorrência de
veranicos durante o ciclo da cultura, no sistema de produção empregado (plantio
direto ou convencional), bem como no nível tecnológico a ser adotado (Fancelli,
1989).
II. 7 Estádio R2 (grãos leitosos)

O estádio R2 normalmente ocorre 12 a 20 dias após o início da


polinização, sendo caracterizado pelo início do processo de acúmulo de amido
no endosperma dos grãos, contribuindo assim para o incremento de sua massa
(densidade). Tal aumento ocorre, em grande parte, devido à translocação dos
sintetizados presentes nas folhas e no colmo para a espiga e grãos em
formação, cuja eficiência, além de ser importante para a produção, é
extremamente dependente da disponibilidade de água.
Observações experimentais demonstram que 50 a 65% dos
carboidratos transportados para o grão de milho são oriundos das folhas
localizadas na porção superior da planta, a partir da espiga, ao passo que,
aproximadamente, 25 a 30% apresentam a contribuição das folhas situadas em
seu terço médio, sendo o restante proveniente de suas folhas mais inferiores
(Allison & Watson, 1966).
Embora neste período a planta necessite apresentar considerável teor
de sólidos solúveis prontamente disponíveis, objetivando a evolução do
processo de formação de grãos, a fotossíntese mostra-se imprescindível. Em
termos gerais, considera-se como importante caráter condicionador de
produção, a extensão e duração da área foliar que permanece fisiologicamente
ativa após a fecundação dos grãos da espiga.
A ocorrência de período nublado (ou reduzida intensidade luminosa);
deficiência hídrica; excesso de população de plantas; redução da área foliar por
pragas e doenças e desequilíbrio entre nitrogênio (N) e potássio, acarretarão,
neste período, a redução da taxa fotossintética, bem com o aumento do nível
de estresse da planta, implicando na redução da taxa de acúmulo de matéria
seca do grão, além de favorecer a incidência de podridões de colmo e de
espigas. (Fancelli, 1988).
Assim, a integridade e a capacidade cúbica de armazenagem de
excedentes de fotoassimilados relativa ao colmo é de suma importância para o
período de enchimento de grãos, atuando, em inúmeras situações, como órgão
equilibrador da limitação de “fonte”, promovendo a remobilização de
carboidratos de reserva. Na literatura é amplamente mencionada a contribuição
percentual das reservas do colmo no enchimento de grãos, a qual pode variar
de 17% (Uhart & Andrade, 1995) até 44% (Ruget, 1993). Portanto, conclui-se
que a planta de milho deverá estar preparada para eventual restrição de
carboidratos (redução da taxa fotossintética) coincidente com a fase de
enchimento de grãos, que poderá ser remediada, caso a planta se apresente
com significativa quantidade de reserva armazenada no colmo. Contudo, a
possibilidade de acúmulo de excedentes de fotoassimilados no colmo,
objetivando o atendimento de situações emergenciais, somente poderá ocorrer
na etapa compreendida entre a 6a e a 10a folha, desde que a etapa mencionada
não se evidencie déficit hídrico significativo; mato-competição (ou efeito
alelopático); restrição de nitrogênio (atraso de adubação de cobertura);
temperaturas noturnas superiores a 22o C e dias nublados (Fancelli, 2003).
Com a predominância de relações fonte/dreno desfavoráveis, será
inevitável a produção de menor número de grãos, os quais serão pequenos
e leves (pouco densos). Ainda, tal situação poderá aumentar a
predisposição da planta a tombamento e quebramento. Em contrapartida, a
evidência de relações extremamente favoráveis de fonte/dreno, originará
grãos densos e bem formados, bem como a planta atingirá a maturidade
fisiológica com maior concentração de açúcares no colmo, o que poderá se
traduzir em maior tolerância da planta a eventual atraso de colheita.
A fotossíntese realizada pelos tecidos que formam a espiga
contribui muito pouco para a deposição de material nos grãos em virtude
de sua restrita área fotossintetizadora.
Para lavouras destinadas à produção de sementes, este período
assume particular importância, pois tem início o desencadeamento dos
processos de diferenciação do coleóptilo, da radícula e das folhas
rudimentares. Ainda, no presente estádio evidencia-se a translocação
efetiva de nitrogênio (N) e fósforo (P) para os grãos em formação (Nel &
Smit, 1978; Uhart & Andrade, 1995).

II.8 Estádio R3 (grãos pastosos)

Neste estádio, normalmente relacionado a 20 a 30 dias após a


emissão dos estilos-estigma, as sementes continuam se desenvolvendo
rapidamente, embora suas estruturas embriônicas encontrem-se já
totalmente diferenciadas.
A deposição de amido é bastante acentuada, caracterizando desta
feita um período exclusivamente destinado ao acúmulo de peso por parte
do grão. O mencionado estádio se refere à colheita de milho para
consumo “in natura’”(milho verde) ou para a indústria (conserva).
Em condições de campo, tal etapa do desenvolvimento é
prontamente reconhecida, pois, quando os grãos presentes neste estádio
são submetidos à pressão imposta pelos dedos (unhas), mostram-se
relativamente consistentes, embora ainda evidenciem pequena quantidade
de sólidos solúveis (“leite”), cuja presença em abundância caracteriza o
estádio anterior.
A ocorrência neste período de adversidades climáticas,
principalmente estresse hídrico, fatalmente acarretará na maior
porcentagem de grãos leves e pequenos, comprometendo desta forma a
produtividade.
II. 9 Estádio R4 (formação de “dentes” ou grãos farináceos)

Este período coincide, normalmente, com o período compreendido


entre os 30 e 42 dia após o princípio da polinização, sendo caracterizado pelo
aparecimento da concavidade na parte superior do grão, comumente
designada de “dente”.
Nesta etapa, os grãos encontram-se em fase de transição, do estado
pastoso para o farináceo, tornando-se cada vez mais endurecidos.
Ainda, neste estádio, o embrião continua se desenvolvendo, sendo
que além do acentuado acréscimo de volume experimentado pelo
endosperma, mediante o aumento do tamanho de suas células, observa-se
também a completa diferenciação da radícula e das folhas embrionárias no
interior das sementes.
Para genótipos portadores de grãos duros, em virtude da não
formação do “dente”, os estádios R4 e R5 tornar-se-ão de difícil constatação
em condições de campo, podendo apenas ser relacionados ao aumento
gradativo da dureza ou consistência dos grãos.
Nússio (1990) aponta esse período como sendo o momento ideal de
corte do milho para silagem, pois as plantas apresentam entre 33 e 37% de
matéria seca e os grãos encontram-se no estado farináceo-duro. Relata,
ainda, o autor, que as vantagens de se cortar as plantas nesse estádio se
referem a:

a) Apesar do decréscimo na produção de matéria verde, obtém-se significativo


aumento na produção de matéria seca por área;
b) Decréscimo nas perdas de armazenamento pela diminuição do efluente e
c) Aumento significativo no consumo voluntário da silagem produzida.

II. 10 Estádio R5 (grãos “duros”)

Neste estádio, 42 a 60 dias após a emissão dos estilos-estigma, todos


os grãos encontram-se plenamente formados, além de se constatar acelerada
perda de água em toda a planta.
Poucas modificações caracterizam esta etapa de desenvolvimento;
pois, além da acentuada queda na taxa de acumulação de substâncias
orgânicas e minerais no grão, evidencia-se a maturação morfológica das
sementes, cujas estruturas encontram-se plenamente formadas e
diferenciadas. Porém, ainda não se encontram aptas a desempenharem suas
funções específicas.
II. 11 Estádio R6 (grãos fisiologicamente maduros)

Na última etapa de desenvolvimento, 55 a 70 dias após o início da


polinização, evidencia-se a paralisação total de acúmulo de matéria seca nos
grãos, coincidindo com o processo de senescência natural das folhas das
plantas, as quais gradativamente começam a perder a sua coloração verde
característica.
Este estádio, comumente designado por ponto de maturidade
fisiológica, é caracterizado pela manifestação do máximo peso da matéria
seca dos grãos e máximo vigor das sementes, sendo facilmente reconhecido
pela presença da “camada negra” ou “ponto preto”, formado no local de
inserção do grão com o sabugo. A partir deste momento, rompe-se o elo de
ligação entre a planta-mãe e o fruto, passando o mesmo a apresentar vida
independente, necessitando para tanto, de energia prontamente disponível,
resultante da queima gradativa de suas reservas, através da respiração,
objetivando a manutenção de seus processos vitais.
Conclui-se, portanto, que o ponto de maturidade fisiológica
caracteriza o momento ideal para a colheita, em função da máxima produção
(máxima massa de matéria seca) concentrada neste estádio.
No entanto, tal procedimento dificilmente poderá ser implementado,
em virtude do elevado teor de água presente no grão (38-30%), por ocasião
de sua maturidade fisiológica. Neste caso, a colheita deverá ser realizada
sem maiores problemas quando os grãos de milho apresentarem umidade
entre 25 e 18%, desde que o produto colhido seja submetido a uma secagem
artificial antes de ser conduzido ao armazenamento.
Neste estádio, os grãos iniciam a perda gradativa de água, atingindo,
ao fim de 25 a 35 dias, umidade ao redor de 22-18%, embora o tempo
relativo a esse processo seja diretamente influenciado pelas condições
climáticas reinantes no período.
A qualidade dos grãos produzidos pode ser avaliada pela
porcentagem de grãos ardidos, que interfere notadamente na destinação do
milho em qualquer segmento da cadeia de consumo.
A ocorrência de grãos ardidos está diretamente relacionada ao
híbrido de milho, ao estado nutricional da planta, ao grau de empalhamento a
que estão submetidas as suas espigas e à ocorrência de estresse climático
pós-fecundação (10 a 15 dias após), segundo Fancelli (1995). Ainda, de
forma indireta, a presença de pragas (ataque tardio de lagarta do cartucho,
além de percevejos e lagarta da espiga), adubações desequilibradas, período
chuvoso no final do ciclo, atraso na colheita e incidência de algumas
doenças, também podem influir no incremento do número de grãos ardidos
na massa produzida.
III. ASPECTOS BÁSICOS DE MANEJO

A planta de milho é considerada como sendo uma das mais eficientes na


conversão de energia radiante e, conseqüentemente, na produção de biomassa,
visto que uma semente que pesa, em média, 260mg, resulta, em um período de
tempo próximo há 140 dias, cerca de 0,8 a 1,2 kg de biomassa por planta e 180
a 250 g de grãos por planta, multiplicando, aproximadamente, 1000 vezes o
peso da semente que a originou.
Para Andrade (1995), apesar do elevado potencial produtivo, o milho
apresenta acentuada sensibilidade a estresse de natureza biótica e abiótica, que
aliada a sua pequena plasticidade foliar, reduzida prolificidade e baixa
capacidade de compensação efetiva, seu cultivo necessita ser rigorosamente
planejado e criteriosamente manejado, objetivando a manifestação de sua
capacidade produtiva.
O milho (Zea mays L.) possui elevado potencial produtivo e acentuada
habilidade fisiológica na conversão de carbono mineral em compostos
orgânicos, os quais são translocados das folhas e de outros tecidos
fotossinteticamente ativos (fonte) para locais onde serão estocados ou
metabolizados (dreno).
As relações fonte-dreno podem ser alteradas sobremaneira pelas
condições de solo, clima, estádio fisiológico e nível de estresse da cultura.
(Tollenaar & Daynard, 1977).
O rendimento dos grãos de uma cultura de milho, segundo Andrade
(19991), citado por Fancelli & Dourado-Neto (2000) pode ser expresso pela
seguinte expressão:

y = Ri.Ie.Ce.P
Onde:
Ri refere-se à Radiação incidente;
Ie à Eficiência da interceptação da radiação incidente;
Ce à Eficiência de conversão da radiação interceptada pela biomassa
vegetal e
P à Partição de fotoassimilados a partes de interesse comercial.

Assim a radiação incidente é função da localização geográfica da área de


produção (latitude, longitude e altitude), bem como da época de semeadura ao
longo do ano. Esse fato é citado por Alfonsi (1991), através da Tabela 1, na qual
observa-se a quantidade diferencial de radiação solar que atinge a Terra, em
função da inclinação do eixo terrestre.
Tabela 1. Valores médios de energia incidente (cal.cm-2.dia-1), em área
plana, no hemisfério sul, em função da época do ano.

Latitude Solstício de Verão Equinócio Solstício de Inverno


(dezembro) (setembro/outubro) (junho)
0° 840 880 790
20° S 1000 820 570
40° S 1050 620 300
60° S 1030 400 50

A eficiência de interceptação depende da idade da folha, da


arquitetura foliar, do arranjo espacial de plantas e da população empregada, ao
passo que a eficiência de conversão, dentre outros fatores, depende
principalmente da temperatura do ar, do estado nutricional e do equilíbrio hídrico
das plantas. A partição dos fotoassimilados, sobretudo, é função do genótipo e
das relações de fonte-dreno estabelecidas.
O rendimento de grãos de uma cultura pode ser definido como
sendo o produto do rendimento biológico e índice de colheita (IC). O rendimento
biológico é comumente determinado pelo peso total da matéria seca da planta,
perfazendo medida integrada dos efeitos combinados da fotossíntese e
respiração durante a fase de crescimento. A fotossíntese, por sua vez, é
dependente da extensão da área foliar e da permanência das folhas em plena
atividade. O índice de colheita, que se constitui na fração dos grãos produzidos
em relação à matéria seca total da planta, pode ser empregado em programas de
melhoramento genético e de avaliação de desempenho de genótipos submetidos
a diferentes condições climáticas (Donald & Hamblin,1976). Ainda, o índice de
colheita poderá identificar a habilidade de um genótipo em combinar elevada
capacidade de produção total e de destinar a matéria seca acumulada a
componentes de interesse econômico.
O IC máximo, para a cultura do milho, encontra-se próximo de 0,60
obtido em regiões de clima temperado e de latitude elevada. Em contrapartida, os
menores índices de colheita mencionados na literatura referem-se àqueles
oriundos de alguns países da África, tais como: Quênia, IC = 0,10 e Gana, IC =
0,27.
Para Durães et al. (1993) as características morfofisiológicas
associadas ao elevado rendimento de grãos variam para diferentes tipos de
genótipos; contudo, a precocidade conferiu aos materiais testados os maiores
índices de partição. Porém, Fancelli (1986), ressalta que a maior habilidade de
partição relacionada aos genótipos superprecoces e precoces somente poderá
se manifestar, quando forem satisfeitas as exigências climáticas e nutricionais
relativas aos materiais genéticos considerados. Portanto, IC obtido em um
determinado local não deverá ser extrapolado para outras regiões, pois tal
parâmetro está intimamente correlacionado com a interação genótipo-ambiente.
Genótipos tropicais de milho, segundo Goldsworthy & Colegrove
(1974) e Fisher & Palmer (1984), apresentam partição da matéria seca de forma
deficiente e variável, o que pode explicar o baixo rendimento da cultura em
condições tropicais, quando comparada às de clima temperado. Relatam, ainda,
os mesmos autores, que o rendimento do milho é limitado pela amplitude do
dreno. Essa limitada capacidade de dreno, característica de genótipos tropicais,
é atribuída à competição entre as distintas estruturas vegetativas da planta
(folhas, colmos e brácteas) e a espiga.
Para Evans (1975) o porte exuberante, excessivo número de
folhas, maturação tardia, pendão avantajado, maior nível de dominância apical e
baixo índice de colheita, podem se constituir em relevantes fatores de
adaptação de vegetais ao ambiente tropical. Plantas com essas características
poderiam competir, eficientemente, com outras espécies de rápido crescimento,
bem como ser submetidas à intensa desfolha ocasionada por insetos. Ainda, as
reservas de açúcares, no colmo, pode ser, evolutivamente, resultado da
resistência à seca, bem como à tolerância a podridões da haste.
Atualmente, essas características tem sido submetidas a
exaustivos estudos, por parte do melhoramento genético e da fisiologia da
produção, objetivando a melhoria do desempenho da planta, quanto à
adaptação a diferentes regiões, ao efetivo aproveitamento de fatores de
produção e a melhoria no processo de partição de fotoassimilados.
O milho difere dos demais cereais, pois sua espiga cresce de uma
gema axilar e, por isso, está sujeita à ação de dominância apical. Portanto, a
redução da atividade metabólica do pendão antes da antese pode contribuir
para o aumento no crescimento do tamanho da espiga (Messiaen, 1963).
A redução no rendimento do milho, nas mais variadas condições
está associada à duração do período de enchimentos de grãos. Em regime de
elevadas temperaturas diurnas (>35°C) e noturnas (> 24°C) a taxa de acúmulo
de matéria seca nos grãos e a duração do período de enchimento de grãos são
reduzidos (Frey, 1981). Tal período também poderá ser encurtado, segundo
Afuakwa et al. (1984), em função da redução do suprimento de sacarose das
folhas, provocado pela desfolha ou pela elevação do nível de estresse imposto à
planta.
Para Fancelli (1988), a retirada de folhas superiores das plantas
de milho, quando a cultura apresentava 50% das panículas em fase de
polinização, ocasionou queda na produção em virtude da redução do peso de
espigas, redução do peso de grãos e encurtamento do período de enchimento
de grãos, bem como o referido estresse afetou a qualidade fisiológica das
sementes.
O incremento diário de matéria seca nos grãos pode variar,
também, de acordo com o genótipo, ou seja, linhagens de grãos dentados
apresentam maior taxa de acúmulo quando comparados a materiais genéticos
portadores de grãos duros ou "flint" (Chengel, 1986).
O número de grãos por planta e por unidade de área constitui-se
num dos mais importantes componentes determinantes do rendimento da
cultura, o qual é influenciado por eventos ocorridos entre a emissão da 4ª e 12ª
folhas, além daqueles evidenciados no florescimento (fecundação). Em áreas
tropicais este é o parâmetro que, normalmente, concorre para as maiores
oscilações de rendimento da cultura. A obtenção do maior número de grãos
possível é função da população e do número de espigas encontradas por
planta (prolificidade) e por área. Erroneamente, valoriza-se, em demasia, o
tamanho da espiga, conferindo a este componente acentuado peso na
definição do potencial produtivo. Ainda, reconhece-se que a planta de milho por
não possuir capacidade compensatória efetiva, o tamanho da espiga muito
pouco contribuirá para a definição da produção quando o número de espigas
presentes na área for pequeno. Conclui-se, portanto, que em primeira
instância, o número de espigas é mais importante que o tamanho das mesmas.
O rendimento de grãos (e o número de grãos) aumenta,
significativamente, com os incrementos do índice de área foliar (IAF) variando
de 4 a 6, segundo resultados obtidos no “Corn Belt” americano.
A maximização da produção dependerá da população
empregada, que será função da capacidade suporte do meio e do sistema de
produção adotado; do índice e da duração da área foliar fotossinteticamente
ativa; da época de semeadura, visando satisfazer a cinética de
desenvolvimento e crescimento; bem como da adequada distribuição espacial
de plantas na área, em conformidade com as suas características genotípicas.
No Brasil, rendimentos elevados têm sido obtidos com a
utilização de 65.000 a 85.000 plantas/ha, adotando-se espaçamentos variáveis
entre 45 e 80 cm, apresentando 2,3 a 4 plantas por metro linear, devidamente
arranjadas de forma a minimizar as relações de competição por fatores de
produção. Cumpre ressaltar que tais recomendações referem-se, normalmente,
a sistemas de produção irrigados e mantidos sob contínua vigilância e
orientação técnica.
V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A espécie Zea mays é considerada como uma das plantas mais bem dotadas
fisiologicamente, bem como de elevada capacidade produtiva. Todavia, a
manifestação desses atributos depende das condições presentes no ambiente de
produção. Por essa razão, o conhecimento da fisiologia da planta, o respeito às
exigências edafo-climáticas da espécie, a visão sistêmica da atividade, aliados ao
estabelecimento de estratégias de manejo racionais e eficientes, assumem caráter
imperioso, na garantia de rendimentos lucrativos e sustentáveis.

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