Você está na página 1de 35

IMPLANTAÇÃO DA CULTURA E MANEJO DE POPULAÇÃO

Antonio Luiz Fancelli

Engenheiro Agrônomo. MSc. Dr. e Docente do Departamento de Produção Vegetal,


ESALQ/USPCaixa Postal: 09 – Piracicaba/SP – 13418-900 – fone: (19) 429-4115
fancelli@csalq.usp.br

I. INTRODUÇÃO

A etapa de implantação da cultura apresenta-se como uma das


mais importantes dentro do processo produtivo, pois envolve a definição,
planejamento e execução de medidas e operações que contribuirão
decisivamente para a obtenção de rendimentos satisfatórios e para a
remuneração almejada do capital investido.

II. PLANEJAMENTO

O planejamento é um instrumento imprescindível para a


obtenção de sucesso em um determinado empreendimento, pois
possibilitam o levantamento sistemático dos meios e a definição de
procedimentos necessários para a execução de tarefas, aliados à
adequação de custos e oportunidades.
Assim, o planejamento de todas as operações agrícolas e a execução
cuidadosa do plano estabelecido, restringindo falhas e equívocos,
constitui-se no princípio fundamental para o desencadeamento do
processo de gestão da qualidade.
Pela análise cuidadosa de todas as considerações apresentadas na
Tabela 1, observa-se que muitos fatores envolvidos no processo
produtivo não implicam em aumento de custo, porém podem contribuir
significativamente para a obtenção de resultados compensadores.
Tabela 1. Considerações gerais sobre planejamento de atividades agrícolas

itens Considerações
Necessidades Promover o levantamento das informações básicas, dos meios e dos recursos
necessários para a implantação e condução da cultura.
Básicas Efetuar, mesmo de forma simplificada, um estudo de mercado relativo ao produto
considerado, bem como estabelecer projeções de preços para a época de colheita.
Avaliar a necessidade de novos investimentos.
Levantar o histórico da área (culturas anteriores, adubações, incidência de pragas e
doenças e possibilidade de permanência de resíduos de produtos químicos,
principalmente).
Reunir e analisar as informações disponíveis de clima da região.
Avaliar a necessidade de correção da área e de limitações de fertilidade do solo
mediante o envio de amostras de solo para laboratórios credenciados (lembre-se:
os resultados da análise ficam disponíveis, normalmente, 30 dias após o envio das
amostras).
Conhecer os possíveis concorrentes (regiões que estarão colhendo na mesma
época), suas condições, estratégias e investimentos.
Sementes Escolher ou definir o genótipo a ser utilizado (em função da região, época de
semeadura, finalidade da produção e necessidades térmicas).
Conhecer a origem da semente.
Avaliar a necessidade de realização de tratamento suplementar.
Gleba Realizar a vistoria prévia da área objetivando a consideração das imperfeições do
terreno.
Conhecer o tipo de solo e suas limitações básicas, quanto aos aspectos físicos,
químicos e biológicos.
Proceder o levantamento da composição matoflorística da área, visando a
determinação do método e/ou produtos para o controle das plantas daninhas.
Estabelecer o plano de implantação da cultura (tipo de preparo, plantio direto,
sentido ou direção de semeadura, dentre outros).

Máquinas e Avaliar o estado das máquinas e equipamentos disponíveis na propriedade agrícola


e sua adequação para a atividade proposta.
Equipamentos Proceder a regulagem de equipamentos e máquinas com precisão e com a devida
antecedência.
Confirmar a regulagem das máquinas em todo o início de turno de trabalho
(checagens periódicas).
Estabelecer um programa de manutenção preventiva.
Gerenciamento Estabelecer critérios de prioridade.
Administrar rigorosamente os fatores de produção (visto que momento não pode
ser compensado por quantidade - “just in time”).
Fiscalizar, sempre que possível, todas as operações e etapas do processo
produtivo.
Procurar estar sempre bem informado, através de publicações técnicas, encontros,
dias-de-campo ou de Consultoria agronômica abalizada

Equipe de Apoio Promover sempre treinamentos técnicos e de desenvolvimento pessoal.


Ficar atento às condições de trabalho na propriedade agrícola e aos salários
praticados na região.
Manter os funcionários permanentemente motivados.
III. CONSERVAÇÃO DO SOLO

A instalação da cultura inicia-se com um eficiente programa de


conservação do solo, objetivando sua adequada utilização dentro dos limites técnicos
e econômicos, assegurando colheitas compensadoras concomitantemente à
preservação de seu potencial produtivo. Dentre os fatores que influem no processo de
perda de solo (erosão) tais como clima, relevo, tipo de solo, vegetação e ação do
homem, apenas os dois últimos poderão ser modificados, pelo uso racional do solo e
pela adoção de práticas conservacionistas.
Conceitualmente, práticas conservacionistas podem ser consideradas
como técnicas destinadas a manter e/ou aumentar a capacidade produtiva da terra
objetivando, além do controle da erosão, a melhoria das condições físicas, químicas e
biológicas do solo. Tais práticas podem ser divididas em três grupos: (i) de caráter
edáfico; (ii) de caráter vegetativo e (iii) de caráter mecânico.
As práticas conservacionistas de caráter edáfico relacionam-se à
capacidade produtiva do solo, visando sua utilização racional. Nesse grupo de
medidas merecem especial destaque: (i) ajustamento à capacidade de uso; (ii)
eliminação das queimadas e controle do fogo; (iii) rotação de culturas; (iv) uso de
corretivos e condicionadores do solo, com critério; (v) adubação orgânica; e (vi)
adubações equilibradas.
As práticas conservacionistas de caráter vegetativo objetivam o controle
da erosão e o melhoramento do solo com o auxílio da vegetação. A cobertura vegetal
pode reduzir ou até mesmo eliminar o impacto da gota da chuva sobre a superfície do
solo, além de reduzir a velocidade da água que escorre sobre o terreno, favorecendo
sua infiltração. Dentre as alternativas presentes nesse grupo, as mais utilizadas são:
(i) adubação verde; (ii) cobertura vegetal de entressafra; (iii) culturas em faixas; (iv)
faixas de rotação; (v) faixas de retenção; (vi) faixas conjugadas; (vii) cordões de
vegetação permanente; (viii) alternância de capinas; (ix) cobertura morta; e (x)
quebra-ventos.
As práticas de caráter mecânico apresentam uso mais generalizado,
cuja efetivação exige o emprego de máquinas e objetivam a minimização da erosão
mediante a construção de obstáculos ou anteparos, com o propósito de reduzir a
velocidade de escoamento das enxurradas. Todavia, sua implantação não deverá
apenas ser representada pela construção de terraço ou pela realização de semeadura
em nível, mas também pelo racional dimensionamento e locação de estradas,
carreadores e canais escoadouros.
A semeadura em nível constitui-se na prática de caráter mecânico mais
simples de controle à erosão sendo, no entanto, recomendada para áreas
apresentando declividade inferior a 3%. A linha de nível é formada pela seqüência de
pontos localizados na mesma cota, que podem ser locados de diferentes formas,
sendo que o espaçamento entre elas está diretamente relacionado à declividade do
terreno, tipo de solo e cultura a ser implantada.
Para áreas com declividades superiores a 3%, recomenda-se a
construção de terraços cujo dimensionamento e espaçamento encontram-se
relacionados aos mesmos fatores anteriormente mencionados. Nas áreas
terraceadas, as operações de preparo de solo, semeadura e cultivo, deverão
ser executadas seguindo as curvas de nível que são as guias para a
construção dos terraços. Contudo, a eficiência de tal prática no controle da
erosão, somente poderá surtir seus efeitos desejados desde que tenha sido
criteriosamente planejada, executada e mantida, pois sistemas de terraços mal
dimensionados poderão acarretar prejuízos significativos, contribuindo
decisivamente para a degradação do solo.

IV. PREPARO DO SOLO

O preparo do solo objetiva a criação de condições propícias para


a germinação das sementes e para o desenvolvimento das plantas,
representadas por aeração, umidade e temperatura satisfatórias, pela
eliminação de impedimentos de natureza física e química, bem como pelo
auxílio no controle de plantas daninhas. Todavia, cumpre ressaltar que a
movimentação do solo em condições tropicais e subtropicais somente deverá
ser concretizada se houver necessidade comprovada para tal operação.
Para a obtenção dos benefícios acima mencionados, alguns
fatores importantes deverão ser considerados, principalmente aqueles
relacionados ao tipo de solo e suas respectivas propriedades físicas, ao clima,
declividade da área e implementos a serem utilizados.
A análise conjunta de todos os fatores envolvidos no processo é
que poderá determinar a necessidade, freqüência e intensidade das operações,
pois o uso indiscriminado de implementos de preparo, poderá concorrer para a
desagregação excessiva do solo e sua conseqüente degradação.

z Preparo convencional

No preparo convencional são comumente utilizados arados e


grades de diferentes tipos e dimensões cujas vantagens e desvantagens
podem ser observadas nas Tabelas 2, 3 e 4 do presente módulo.
Na operação de aração é freqüentemente empregado o arado de
discos, principalmente aquele correspondente ao modelo de 3 discos de 28
polegadas, pois pode ser usado em terreno bruto, com tocos e raízes,
apresentar fácil regulagem, além de rendimento satisfatório (2 a 3 horas/ha).
Na operação de destorroamento e nivelamento do solo, são
normalmente utilizadas grades de 24 a 28 discos com 20 a 26 polegadas, cuja
eficiência de trabalho é função da inclinação dos discos (travamento), das
condições gerais do solo e da presença de restos de culturas.
A aração e a gradeação, usualmente, são realizadas pouco
antes da semeadura, exceção feita a ocasiões de necessidade de correção do
solo ou de incorporação de resíduos, devendo, no entanto, sempre levar em
conta o teor de água do solo. A aração executada em solo úmido poderá
provocar o “espelhamento” e a compactação de camadas sub-superficiais,
dificultando a ação da grade, bem como limitando o desenvolvimento das
plantas.
Em solos secos, o preparo resultará em maior desgaste do
implemento e do trator, maior dispêndio de combustível, menor profundidade
de trabalho e maior desestruturação do solo, tornando-o mais suscetível à
erosão hídrica e eólica. Salienta-se que, dentro do possível, as operações de
aração e gradeação deverão ser executadas no mesmo dia, ou no menor
intervalo de tempo possível.

Tabela 2. Vantagens e desvantagens relativas ao uso do arado de discos


ARADO DE DISCOS
Vantagens Desvantagens
(i) Pode ser usado em condições (i) Rendimento do trabalho muito baixo em comparação
de terrenos recém desbravados aos outros implementos de preparo.
com grande quantidade de raízes (ii) O consumo de combustível é alto.
e resíduos vegetais. (iii) Uma das rodas do trator passa pelo sulco recém-
(ii) Mistura o solo mais aberto, causando compactação (“pé-de-arado”).
eficientemente do que o arado de (iv) Desloca a terra lateralmente, podendo provocar,
aivecas (fato importante para a através dos anos, um acúmulo de terra nos terraços,
incorporação de calcário). caso não se trabalhe com alternância do sentido de
(iii) Rompe ou destrói as camadas tombamento das leivas.
compactadas que ocorrem nos (v) Eficiência prejudicada quando a leiva é tombada
solos submetidos à mecanização morro acima.
intensiva, a uma profundidade de (vi) Deixa a superfície do solo livre de restos vegetais,
10 a 20 cm, melhorando a aumentando o risco de erosão.
infiltração de água. (vii) Sua penetração é dificultada pela presença de
resteva (ou palhada) úmida na superfície do solo.

O ponto ótimo de umidade do solo para seu preparo


corresponde ao estado de máxima friabilidade que pode ser determinado no
campo, por método prático. Assim, com essa finalidade, coleta-se
determinada porção de solo oriunda de 10 cm de profundidade, que
mediante pressão imposta pela mão é transformada em um volume
compacto, de forma cilíndrica. Em seguida, para a verificação do ponto de
friabilidade, toca-se com os dedos aquele cilindro formado de solo e, se o
mesmo esboroar com facilidade, se pode afirmar que o solo apresenta
umidade favorável para o preparo (friabilidade).
Tabela 3. Vantagens e desvantagens relativas ao uso do Arado de Aivecas

ARADO DE AIVECAS
Vantagens Desvantagens
(i) Melhor penetração no solo do que o arado (i) As desvantagens do arado de discos são
de discos, especialmente em condições todas válidas para o arado de aivecas.
adversas, como em solo seco ou (ii) Trabalho ruim em solos argilosos, quando
compactado. o teor de argila ultrapassa 30% (o solo adere
(ii) Rompe ou quebra as camadas na aiveca). Somente em solos de textura
compactadas (comuns em Latossolo Roxo, média ou arenosos, com menos de 30% de
Latossolo Vermelho-Escuro e Terra Roxa argila, a aiveca fica limpa e consegue realizar
Estruturada), melhorando a infiltração de um trabalho satisfatório de inversão da leiva.
água no solo. (iii) A regulagem do arado de aivecas é mais
(iii) Apresenta melhor enterrio de sementes difícil do que a regulagem do arado de discos.
de plantas daninhas e eliminação de (iv) A superfície do solo fica livre de vegetais
invasoras do que o arado de discos. e por isso pode aumentar o risco de erosão.
(iv) Melhor qualidade do serviço em áreas
planas, notadamente em várzeas drenadas.

Tabela 4. Vantagens e desvantagens relativas ao uso de Grade Aradora


GRADE PESADA OU ARADORA
Vantagens Desvantagens
(i) Pode ser utilizada em condições (i) Trabalho muito raso (10 a 13 cm), não
desfavoráveis para o preparo do solo em conseguindo romper as camadas
locais com alta infestação de plantas compactadas existentes entre 10 e 25 cm de
daninhas, plantas trepadoras e grande profundidade.
quantidade de resíduos. (ii) Compacta ou “espelha” mais o solo abaixo
(ii) Simples e de fácil regulagem. da profundidade de operação, impedindo a
(iii) Baixo consumo de combustível por infiltração da água.
unidade de área.

Ainda, a utilização intensiva de arados e grades (sobretudo de


grade aradora), sempre à mesma profundidade, poderá resultar em
problemas relativos à compactação de subsuperfície, dificultando a
penetração de água e de raízes, amplificando os efeitos de veranicos.

z Preparo reduzido

O sistema de preparo mínimo do solo (ou cultivo mínimo) é


fundamentado no uso do arado escarificador, que possibilita a movimentação
do solo sem a inversão da leiva. O cultivo mínimo, embora não apresente a
mesma eficiência do plantio direto, tem se mostrado mais adequado que o
sistema convencional, sob o ponto de vista conservacionista.
Desta feita, por evidenciar acentuada facilidade de adoção por
parte do agricultor, bem como garantir melhor desenvolvimento do sistema
radicular, é recomendado para as condições de clima e solo, onde o sistema
convencional evidencia sua vulnerabilidade, bem como pode ser empregado
como técnica auxiliar na descompactação de solo sob plantio direto. As
vantagens e desvantagens do uso do arado escarificador, em relação aos
implementos de preparo de solo citados, podem ser avaliadas na Tabela 5.

Tabela 5. Vantagens e desvantagens relativas ao uso de Arado Escarificador


ARADO ESCARIFICADOR
Vantagens Desvantagens
(i) Desagrega menos o solo do que o preparo (i) Impróprio para áreas abandonadas,
convencional fundamentado no uso do arado e/ou apresentando touceiras ou alta
grade. infestação de plantas daninhas, em
(ii) Possibilita a permanência de, aproximadamente, estado avançado de desenvolvimento.
70% dos resíduos na superfície. (ii) Impróprio para áreas infestadas com
(iii) Destrói as camadas compactadas do solo plantas trepadoras, como corda-de-viola.
presentes entre 10 e 25 cm de profundidade. (iii) Menor eficiência no controle de
(iv) Aumenta a infiltração e a capacidade de plantas daninhas em comparação com o
retenção de água no solo. arado e a grade pesada.
(v) Diminui sensivelmente os riscos de erosão pela (iv) Sofre embuchamento no caso do
menor desagregação do solo e pelos resíduos que resíduo não ser picado ou estar em
ficam na superfície, bem como pela maior infiltração quantidade excessiva.
de água. (v) Pouco adequado para áreas recém
(vi) Não forma “pé-de-arado”, pois as rodas do trator abertas, cheias de tocos e raízes, ou
não trabalham dentro dos sulcos. áreas com afloramento de rocha.
(vii) Permite trabalhar em solos totalmente secos. (vi) O escarificador não consegue
(viii) Garante rapidez e agilidade de trabalho. substituir completamente o arado e a
(ix) Possibilita a economia de trabalho. grade aradora.
(x) Possibilita a economia de combustível e tempo
quando comparado à aração.
(xi) Apresenta fácil regulagem e operação a campo.
(xii) Não movimenta a terra lateralmente, como no
caso da aração, evitando o acúmulo de terra nos
terraços.

z Plantio Direto

O Plantio Direto (ou Semeadura Direta) constitui-se em um


sistema de implantação de culturas em solo não revolvido e protegido por
cobertura morta (“mulching”) proveniente de restos de culturas, coberturas
vegetais semeadas para esse fim ou de plantas daninhas controladas por
métodos químicos combinados.
Ressalta-se que, a rigor, a mobilização do solo não é nula, mas
se restringe apenas ao sulco de semeadura, objetivando adequado contato
da semente com a terra, o que é realizado por máquinas especializadas.
Ainda, a manutenção de camadas adequadas de cobertura morta,
em quantidade e qualidade, bem como a observância de conhecimentos
técnicos básicos, podem se constituir em preponderantes fatores de sucesso
para o empreendimento considerado.
Sem dúvida, sob o ponto de vista conservacionista, o plantio direto
constitui-se num dos mais eficientes sistemas de prevenção e controle de
erosão, o que seria suficiente para justificar a sua adoção. Entretanto, são
apontados por pesquisadores e agricultores, outros substanciais benefícios de
natureza diversa em decorrência da adoção desse sistema de produção, tais
como:
1) Possibilita a semeadura das culturas nas épocas adequadas;
2) Contribui para a redução do consumo de combustível nas
atividades agrícolas;
3) Reduz o trânsito de máquinas na área;
4) Pode contribuir para a redução do número de terraços na
lavoura;
5) Proporciona maior conservação de umidade no solo e maior
aproveitamento da água disponível pelas plantas;
6) Contribui consideravelmente para a manutenção de níveis
satisfatórios de matéria orgânica no solo;
7) Propicia a ocorrência de menor amplitude térmica no solo,
favorecendo a fisiologia e o desenvolvimento do sistema
radicular das plantas;
8) Contribui para a melhoria da estruturação do solo;
9) Contribui para a melhoria da porosidade total do solo;
10) Proporciona melhores condições para o desenvolvimento
vegetal;
11) Proporciona maior tolerância a períodos de estiagem
(veranicos) e
12) Assegura maior probabilidade de obtenção de rendimentos
mais elevados.

V. QUALIDADE DA SEMENTE

A utilização de sementes de qualidade comprovada representado


pela presença de atributos genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários, constitui-
se em fator preponderante para a manifestação do potencial produtivo de um
determinado híbrido ou variedade.
Assim, a qualidade das sementes produzidas é garantida pelo
cumprimento de normas e padrões de campo e de laboratórios estabelecidos
pelos Órgãos Fiscalizadores e Certificadores, conforme observado no Anexo 1 e
nas Tabelas 6 e 7, respectivamente.
Tabela 6. Padrão de campo para a produção de sementes de milho
híbrido vigente no Brasil (Ministério da Agricultura)

Características Tolerância
Tempo 30 dias
Espaço 200 a 400 (*) metros
Isolamento
5 linhas + 175 a 199 metros

Bordadura e Espaço 15 linhas + 125 a 149 metros


25 linhas + 75 a 99 metros
Plantas atípicas 1 % (máximo)
Pendões em plantas fêmeas 1 % (máximo)
(*) Milhos especiais

Tabela 7. Padrões de laboratório para a produção de sementes de


milho híbrido vigentes no Brasil (Ministério da Agricultura)
Características Padrões de produção
Básica Certificada
Sementes puras (% mínima) 98 98
Sementes cultivadas (número máximo em 500g)
Outras espécies Zero 1
Outros cultivares Zero 2
Sementes Silvestres(n o máximo em 500g) Zero Zero
Sementes silvestres (número máximo em 800g)
Toleradas Zero Zero
Proibidas Zero Zero
Germinação (% mínima) 701 85
Umidade (% máxima) 13 13
Sementes infestadas (% máxima) 5 5
Sementes retidas na peneira indicada (% mínima) 942 94

VI. TRATAMENTO DE SEMENTE

O tratamento de sementes, basicamente, objetiva garantir maior


proteção contra patógenos e insetos-praga, às sementes e às plântulas delas
originadas (Tabela 9). Tal fato proporciona a manutenção da qualidade
sanitária da semente, contribuindo para a obtenção do estande inicial
almejado, além de reduzir a disseminação desses organismos nocivos.
O tratamento racional de sementes é caracterizado por:
(i) fácil utilização;
(ii) baixo custo;
(iii) proteção eficiente da planta em seu estágio
inicial e
(iv) danos irrisórios ao ambiente, fauna silvestre e
aos microrganismos antagônicos.
Todavia, também pode apresentar algumas desvantagens, tais
como: i) baixa eficiência, em casos de sementes comprovadamente
infectadas;ii) alguns produtos possuem difícil aderência (principalmente os pós
secos) e iii) dificuldade de uniformização de distribuição do produto em todo o
lote tratado.

Tabela 8. Principais doenças de milho transmitidas por sementes


(compilado de vários autores).

Gênero Espécie
Fusarium Fusarium moniliforme
Diplodia Diplodia maydis
Diplodia macrospora
Helminthosporium Bipolaris maydis
Exserohilum turcicum
Helminthosporium carbonum
Colletotrichum Colletotrichum graminicola
Cephalosporium Cephalosporium maydis

Para sementes de milho, freqüentemente, são utilizados os


métodos químicos, sendo que a definição da necessidade do tratamento
deverá ser baseada em:
• histórico da área (presença constante de patógenos e insetos-praga)
• qualidade fisiológica da semente (vigor e poder germinativo)
• integridade da semente (problemas de secagem, evidências de fissuras
e probabilidade de danificação mecânica) e
• condição climática desfavorável por ocasião da semeadura
(principalmente solos frios e úmidos).
Os produtos químicos (fungicidas e inseticidas) registrados
e recomendados para o tratamento de sementes de milho, podem ser
encontrados na publicação “Compêndio de defensivos agrícolas (2007)”.
VII. ESCOLHA DO GENÓTIPO

O milho em função de suas etapas de desenvolvimento,


necessita acumular quantidades distintas de energia térmica ou calor, que são
designadas como unidades calóricas (U.C.), unidades térmicas (U.T.),
unidades térmicas de desenvolvimento (U.T.D. ou G.D.U.) ou graus-dia (G.D.
ou °C.dia).
Graus-dia é definido como sendo a diferença entre a temperatura
média diária e a temperatura basal (Tb, °C) exigida por uma espécie (Villa
Nova et al.,1972).

n
T max i + T min i
GDn = ∑ − Tb
i =1 2

em que Tmaxi e Tmini se referem às temperaturas máxima


(Tmax < 40°C) e mínima do ar (Tmin >10°C) no i-ésimo dia após
a emergência.

Em termos genéricos, os híbridos de milho de ciclo normal ou


tardios disponíveis no mercado, apresentam exigências térmicas
correspondentes a 890-1200 G.D. Para os híbridos de ciclo precoce (ou médio)
as exigências térmicas encontram-se entre 831-889 G.D., enquanto que para
os superprecoces, 780-830 G.D., tem se mostrado satisfatório. Ressalta-se, no
entanto, que as exigências calóricas acima mencionadas referem-se ao
cumprimento das etapas fenológicas compreendidas entre a semeadura e a
antese (plena etapa da polinização).
Assim, a escolha do híbrido deverá se fundamentar na
adequação de suas necessidades térmicas à época de semeadura e à região
considerada. Ainda, convém lembrar que a não observância desse detalhe
poderá acarretar o prolongamento ou a redução da fase vegetativa da cultura
de milho, comprometendo seu desempenho e, conseqüentemente, seu
potencial produtivo.
O emprego de genótipos superprecoces em condições de
acentuado calor (somatória térmica elevada), comumente relacionadas a
épocas tardias de semeadura e/ou a regiões baixas, além de ocasionar a
redução de rendimento, poderá predispor a cultura a maior incidência de
doenças, em virtude da elevação do nível de estresse provocado pela
inadequação do material genético às condições de ambiente supracitadas
(Lima & Fancelli, (1999).
VIII. ÉPOCA DE SEMEADURA

A época de semeadura, de forma geral, é determinada pela


variação de temperatura e pela distribuição das chuvas. Assim, conhecendo-se
o comportamento climático da região, os períodos críticos da cultura e a
necessidade calórica do genótipo a ser empregado pode-se, efetivamente,
determinar a melhor época para a instalação da cultura de milho.
Atenção especial deve ser dedicada à freqüência e ao período de
ocorrência de veranico, principalmente na região do cerrado, visando sua não
coincidência com o período de florescimento e enchimento efetivo de grãos.
Outro fator importante que, normalmente, é negligenciado na
definição da época de semeadura refere-se ao período de maior nebulosidade
predominante na região, visto que a sua coincidência com a etapa
correspondente aos 15 dias após o florescimento provocará a redução da
densidade (peso) de grãos e aumento da taxa de grãos ardidos.
Ainda, cumpre ressaltar que a altitude elevada, bem como a
latitude elevada, pode restringir o período para semeadura, em função dos
valores mais baixos de temperatura característicos dessas condições. Nessas
condições, a semeadura antecipada ou precoce, reduz a taxa de germinação
das sementes e a emergência de plântulas, afeta o processo de diferenciação
dos primórdios florais e alonga o ciclo da cultura. Da mesma forma, semeadura
efetuada em solo frio (inferior a 15°C) e úmido (“capacidade de campo”) poderá
acarretar elevada taxa de plântulas anormais, contribuindo para a redução do
estande e da produção.
Por outro lado, em áreas baixas e/ou de latitude baixa, o
retardamento da semeadura, em relação à época recomendada, resulta em
menor produção devido a redução da área foliar (encurtamento do ciclo da
cultura), maior incidência de doenças e maior taxa de tombamento de plantas.
Ainda, em locais onde ocorrem temperaturas noturnas elevadas (superior a
24°C) por período prolongado e coincidente com aquele compreendido entre o
“emborrachamento” e grãos leitosos, pode prejudicar significativamente o
desempenho das plantas e, conseqüentemente, reduzir a produção.
A alteração da duração do ciclo das plantas em função da data de
semeadura é devido à variação do balanço de energia de cada região e da
época do ano considerada.
No Brasil, de forma geral, a maioria das regiões produtoras de
milho, com exceção da região Norte e Nordeste, a semeadura é realizada entre
os meses de agosto e novembro, em função do início da estação chuvosa. No
Norte e Nordeste, o período propício para a semeadura compreende os meses
de março a maio. Todavia, nos Estados de Rondônia e Roraima, as condições
climáticas permitem que a instalação da cultura de milho ocorra desde o mês de
setembro até maio.
Atualmente, em decorrência do incremento de áreas irrigadas, a cultura do milho
está sendo implantada em épocas não tradicionais, objetivando-se o
aproveitamento do potencial climático da região, do melhor desempenho de
genótipos mais exigentes, bem como pela garantia de maior preço e liquidez do
produto. Contudo, a adequação do genótipo à época de semeadura adotada
(necessidade térmica) e a satisfação de suas exigências mínimas, quanto à
água, temperatura, fertilidade do solo e radiação solar, mostra-se imperiosa para
a manifestação da capacidade produtiva da cultura (Paterniani & Viegas, 1987).
Ainda, uma nova época tem sido utilizada por parte do agricultor
visando o aproveitamento do milho como segunda cultura, a qual convencionou-
se denominar de “safrinha”. A safrinha foi utilizada, inicialmente, no Estado do
Paraná, na qual o milho é semeado entre os meses de janeiro e março, após a
colheita da safra de primavera/verão (soja, algodão e feijão, principalmente).
Normalmente, nessa época, o milho não apresenta desempenho satisfatório
devido à escassez de água e temperaturas desfavoráveis, se comparado com a
época recomendada, porém têm contribuído para o incremento da renda do
produtor.
Com o passar do tempo, a safrinha se difundiu, tornou-se
realidade, passando a ocupar áreas significativas, constituindo-se em importante
época de cultivo de milho em muitas regiões.
Contudo, devido às condições climáticas reinantes nessa época,
nem todos os genótipos de milho disponíveis no mercado apresentam
desempenho satisfatório, principalmente pela ausência de programas de
melhoramento específico para tal época. Todavia, recentes trabalhos de
pesquisa evidenciaram que a safrinha exige genótipos com elevado vigor de
sementes, acentuado vigor de plântulas (arranque), curto período para
enchimento de grãos e comprovada tolerância (ou resistência) ao complexo da
Mancha Branca, Bipolaris maidis, Stenocarpella macrospora e “corn stunt”
(enfezamento), principalmente.

IX. TIPOS DE SEMEADORA

No meio agrícola, infelizmente, ainda existe certa confusão com


relação ao termo adequado para a caracterização de máquinas destinadas à
semeadura de diferentes culturas, sendo comum o emprego de vocábulos como
“semeadeira” ou “plantadeira”. Ainda, equívocos maiores são cometidos quando
as máquinas que utilizam sementes pequenas são designadas por
“semeadeiras” e aquelas que semeiam sementes graúdas são denominadas de
“plantadeiras”.
Nesse contexto, as designações corretas são: semeadora,
plantadora e transplantadora. O termo semeadora se refere a máquinas que
promovem a distribuição exclusiva de sementes com o intuito de auxiliar na
instalação das culturas. Caso a mesma máquina realize a dosagem e a
distribuição de adubos e sementes a mesma deverá ser denominada de
semeadora-adubadora. Por outro lado, o termo plantadora está
relacionado às maquinas que distribuem, no terreno, propágulos vegetativos,
tais como tubérculos (batata), colmos (cana-de-açúcar), manivas (mandioca),
bulbos (alho, cebola, gladíolos), além de outros. A designação transplantadora
está reservada para máquinas que realizam a colocação no solo de mudas ou
plântulas.
Na cultura de milho, objetivando a implantação da lavoura, é
comumente utilizada a semeadora-adubadora, apesar de já existir menções do
uso de transplantadora (plantio de mudas) com a finalidade de produção de
milho verde (ou doce) para conserva.
Segundo o Comitê de Estudos de Semeadoras e Plantadoras da
Associação Brasileira de Normas Técnicas, citado por Balastreire (1990), as
semeadoras são classificadas quanto à forma de distribuição, quanto à forma
de acionamento, quanto ao tamanho das sementes e quanto ao mecanismo
dosador de semente (Tabela 9).

Tabela 9. Características diferenciais dos diferentes tipos de semeadoras


(adaptado de Balastreire, 1990).
Diferenciação Tipo
Forma de distribuição Em linhas:
(i) contínua, (ii) de precisão, (iii) em quadrado e
(iv) em grupos
A lanço:
(i) aéreas e (ii) terrestres
Forma de acionamento (i) Manual; (ii) Tração animal; (iii) Motorizada e
(iv) Tratorizada

Tamanho da semente a ser distribuída (i) Para sementes pequenas e (ii) Para
sementes grandes (graúdas)
Mecanismo dosador de sementes Em linha:
(i) disco perfurado, (ii) cilindro canelado, (iii)
correia perfurada, (iv) discos alveolados, (v)
dedos preensores, (vi) orifício regulador e
(vii) pneumático.
A lanço:
(i)rotor centrífugo, (ii) canhão centrífugo e
(ii)difusor
Os tipos e os modelos relativos às semeadoras, na última década,
acompanharam a evolução da agricultura brasileira, quanto à renovação de
conceitos sobre o manejo de solo e de sistemas de produção, induzindo
profundas alterações na concepção e princípios de semeadura.
No início dos anos 80, as semeadoras de precisão, que utilizavam mecanismo
dosador do tipo disco perfurado horizontal, representavam mais de 95% das
semeadoras empregadas na cultura de milho, no Brasil. Todavia, em meados
da década de 90, essas mesmas semeadoras não ultrapassavam 65% de
representatividade, enquanto que as portadoras de mecanismos dosadores do
tipo pinças preensoras (ou dedos preensores) totalizavam 34% de uso,
restando às semeadoras pneumáticas apenas 1% (Coelho, 1996).
Apesar da evolução, de forma geral, as semeadoras disponíveis
no mercado demoraram demasiadamente para apresentar desempenho
satisfatório de distribuição das sementes, reduzindo sua acentuada
variabilidade espacial. Ainda, ressalta-se que, atualmente, as semeadoras
apresentando dosadores do tipo pinças preensoras, praticamente não são
mais utilizadas.
Assim, dentre os sistemas dosadores de sementes disponíveis,
o pneumático, através do mecanismo de sucção, apresenta-se como o
princípio de dosagem de sementes mais promissor, pois permite que a
semente seja capturada sem ser danificada e, em seguida, seja liberada ou
distribuída à baixa altura da superfície do solo.
Na máquina pneumática, o conjunto dosador é formado pelos
seguintes componentes:

a) Disco dosador perfurado;


b) Células de captura;
c) Orifício de sucção;
d) Roda liberadora revestida de borracha;
e) Eliminador de sementes múltiplas;
f) Depósito alimentador;
g) Patim sulcador;
h) Turbina e
i) Acelerador de sementes

No caso da semeadora pneumática, a principal diferença em relação às


demais é representada pelo mecanismo dosador pneumático, acionado
pela TDP (tomada de potência) do trator. Este sistema promove a aderência
das sementes nos furos dos discos dosadores através da sucção gerada por
um fluxo de ar que atravessa cada orifício dosador, propiciando a captura e a
retenção da semente. Com o giro do disco, as sementes aderidas nos
orifícios, passam pelo tubo de saída e devido à ausência de fluxo nesse local,
são liberadas e projetadas até o sulco de semeadura, no terreno. Para a
permanência de apenas uma semente em cada orifício, o mecanismo dosador
dispõe de um seletor metálico posicionado lateralmente e próximo aos furos
do disco, retirando as sementes excedentes, sem causar qualquer impacto
nas mesmas.
O conjunto dosador é constituído de um disco perfurado que
abriga diferentes tipos de células específicas às diversas culturas, que irão
processar a captura e a retenção das sementes. Com o disco girando em alta
velocidade é necessário que as sementes sejam aceleradas para viabilizar a
captura. O processo utilizado para efetuar essa aceleração consiste de uma
roda dentada girando no interior do reservatório de sementes, o qual lança as
sementes na direção das células, com velocidade semelhante a da borda do
disco.
Durante o processo de captura, uma célula (ou alvéolo) pode ser
ocupada por mais de uma semente e por isso um dispositivo eliminador de
sementes múltiplas é incorporado no interior do dosador, para evitar este
problema.
No lugar pré-determinado para a liberação das sementes, uma
roda de aço recoberta de borracha, gira internamente ao elemento dosador,
sobre os orifícios dos canais por onde se efetua a sucção das sementes, nas
células. Através desse procedimento, provoca-se a interrupção da sucção que
sustenta a semente, liberando-a no terreno.
O patim sulcador (ou escorregador) também faz parte deste
conjunto, o qual não interfere na deposição das sementes, porém permite que
a liberação das mesmas seja efetuada a uma distância mínima da superfície
do solo. Neste particular, cumpre ressaltar que o escorregador das sementes,
não deverá ser interrompido (no meio do disco duplo de sementes) e nem
mesmo apresentar ângulo reto (90º), pois essas características afetarão
significativamente a regularidade de distribuição de sementes.
A turbina deve gerar uma pressão negativa (vácuo) apropriada,
dependendo do peso específico da semente que será utilizada.
Finalmente, salienta-se que o sistema pneumático de distribuição de
sementes possibilita precisão satisfatória mesmo com um pequeno número de
sementes, bem como minimiza o problema da classificação deficiente de
semente (tamanho ou peneira) e anula o efeito de danificação mecânica
durante a operação. Contudo, apesar das vantagens apregoadas às
semeadoras pneumáticas, a possível variação na pressão do ar da turbina,
em função da rotação do trator,
pode influenciar a variação do tempo de transporte das sementes nas
mangueiras e, conseqüentemente, a variação do tempo de deposição, (devido
ao aumentado da pressão interna e ao aumento da velocidade das sementes
nas mangueiras distribuidoras), resultando na amplificação do atrito e do
ricochete das sementes contra as paredes da mangueira.

z Desempenho dos diferentes tipos de semeadoras

Para as grandes culturas como o caso do feijão, girassol, algodão,


soja e, principalmente, milho, a capacidade de distribuição de sementes
distanciadas uniformemente na linha constitui-se em uma característica
fundamental e um fator primordial na avaliação de desempenho de semeadoras.
Neste contexto, Monteiro (1989) comparou o desempenho de um
protótipo de uma semeadora pneumática com o de uma semeadora
convencional, em relação à distribuição das sementes no sulco. Concluiu o autor
que a variância da distância entre as sementes distribuídas pela semeadora
pneumática apresentou valores que atestam maior eficiência, a uma velocidade
de 1,94 m/s (7 km/h). No caso da semeadora convencional, o mesmo autor
constatou que a qualidade da distribuição de sementes diminuiu com o aumento
da velocidade de 1,11 m/s (4 km/h) para 1,94 m/s (7 km/h). Kurachi et al. (1993)
avaliando em bancadas de testes, sete semeadoras de milho com sistema de
dosagem de discos perfurados horizontais, inclinados e pneumáticos,
observaram que a qualidade da distribuição de plantas na fileira piorou com o
aumento da velocidade e foi influenciada pelo tipo de mecanismo dosador de
sementes. A semeadora pneumática obteve as porcentagens mais elevadas de
espaçamentos aceitáveis entre as sementes no sulco, próximo a 90%, e valores
de CV abaixo de 35%, nas velocidades de 1,11, 1,66, 2,22 e 2,78 m/s. As
semeadoras de discos perfurados horizontais obtiveram as porcentagens mais
baixas de espaçamentos aceitáveis (27 a 79), cujos valores médios foram
próximos a 45%. Dambrós (1998) avaliando os danos físicos em sementes de
milho em relação aos diferentes tipos de dosadores, concluiu que o fator
velocidade não apresenta efeito diferencial significativo sobre a porcentagem de
danos às sementes, o mesmo não ocorrendo com o tipo de disco dosador
empregado (plástico ou ferro). Os resultados obtidos evidenciaram que a
semeadora de precisão com disco perfurado de plástico, na velocidade de 1,4
m/s, utilizando sementes lubrificadas (ou grafitadas), não apresentou diferença
em relação à semeadora pneumática com disco dosador vertical de metal,
resultando em danos às sementes próximos a 4%. Porém, constatou-se
diferenças acentuadas da máquina pneumática em relação aos demais sistemas
(discos horizontais), notadamente quando foi empregado disco de ferro, o qual
foi responsável por danos médios às sementes da ordem de 6,29%.
X. REGULAGEM DA SEMEADORA

z Aspectos gerais

A regulagem da semeadora, independentemente do tipo de


máquina a ser utilizada, deverá obedecer critérios básicos, objetivando alto
rendimento e qualidade de operação. Desta feita, antes de proceder a
regulagem propriamente dita, o agricultor deverá certificar-se de que a máquina
encontra-se em adequado estado de funcionamento, sem avarias e falta de
peças, bem como devidamente lubrificada. Em seguida, deverá ser
determinado o disco e o anel que serão utilizados em função do tamanho da
semente adquirida (peneira), bem como verificar a relação adequada entre as
engrenagens da roda motriz e motora, objetivando a distribuição do número
correto de sementes recomendado.
Após o preparo da semeadora, no local de semeadura, deverá
ser iniciado a realização do teste, utilizando-se a velocidade a ser empregada
na operação, a qual deverá ser garantida pela relação marcha e rotação do
motor.
Salienta-se que a faixa de velocidade de semeadura comumente
recomendada está compreendida entre 5 e 6 km/hora. Para as máquinas mais
antigas deve-se utilizar velocidade próxima de 5 km/hora, ao passo que para as
máquinas apresentando sistemas mais modernos de distribuição de sementes,
pode-se atingir, no máximo, 6 a 7 km/hora.
Apesar da pequena importância destinada à velocidade de
semeadura, por parte do agricultor, tal fator reveste-se de fundamental
importância para a garantia da distribuição espacial adequada de plantas e do
rendimento esperado. O uso de velocidade excessiva (acima dos limites
tolerados), por ocasião da semeadura irá alterar significativamente a
distribuição de sementes, aumentando com isso o número de plantas muito
próximas (duplas) na linha. Como conseqüência, aumentará a competição
intra-específica, provocando a diminuição de produção por planta e por área.
Ainda, velocidades excessivas não permitirão o posicionamento das sementes
à mesma profundidade, ocasionando emergência irregular e desuniforme de
plântulas. Da mesma forma, velocidade de semeadura acima do recomendado,
além de afetar a distribuição do fertilizante, poderá favorecer seu contato direto
com as sementes, acarretando o aumento da taxa de plântulas mortas e
anormais. A desuniformidade de plantas na área, também poderá contribuir
para a dificuldade de controle de lagartas do cartucho, bem como para a
variação acentuada de tamanhos de espigas ou mesmo a constatação de
plantas sem espigas.
Finalmente, a regulagem da semeadora deverá ser executada, pelo menos,
10 dias antes do início da semeadura, assegurando tempo suficiente para a
constatação e correção de problemas e falhas eventuais. Contudo, por
medida de segurança, a regulagem deverá ser confirmada uma vez ao dia,
durante a jornada de trabalho.

z Cálculo da quantidade de adubo a ser distribuído

A regulagem da quantidade de adubo a ser distribuída, inicia-se


pela conversão da recomendação básica de adubo em kg/ha para g/m. Para
tanto, determina-se a distância a ser percorrida por uma unidade da
semeadora, para perfazer 1 (um) hectare, dentro do espaçamento
recomendado. Este valor é obtido mediante a divisão de 10.000 m2, ou seja, 1
(um) hectare, pelo espaçamento entre linhas adotado.
Como exemplo, suponha-se que se deseja distribuir a
quantidade de 500 kg/ha de adubo, em uma lavoura de milho apresentando
espaçamento entre linhas de 0,7 m.
Assim, a distância a ser percorrida (L, m/ha) para totalizar um
hectare no espaçamento recomendado é expressa por:

10000 10000m 2 / ha
L= = = 14285m / ha
e 0,7 m

Da mesma forma, a quantidade de adubo a ser distribuída em um metro de


linha (Qf, g/m) será:

500000 g / ha
Qf = = 35 g / m
14285m / ha

Portanto, a adubadora deverá ser regulada para permitir a


distribuição de 35 gramas de adubo, por metro percorrido (correspondente a
500 kg/ha).
Ainda, em função da unidade adubadora freqüentemente ser
acionada pelas rodas de suporte, a regulagem pode ser facilitada se a
quantidade de adubo for transformada em função do número de voltas da
roda. Desta forma, calcula-se a distância percorrida por volta desenvolvida
pela roda, incluindo o patinamento da mesma, multiplicando-se o valor obtido
pela recomendação de adubo a ser distribuída em 1 metro de linha.
O patinamento, segundo Balastreire (1990) deve ser determinado
para as condições do terreno a ser trabalhado, uma vez que o seu valor
depende do tipo de roda de acionamento presente na semeadora, das
características do solo (tipo, umidade e sistema de preparo) e da velocidade de
operação. Todavia, quando não se conhece o índice de patinamento e nem
mesmo for possível determiná-lo, pode-se utilizar os valores aproximados
listados na Tabela 10. Um exemplo de cálculo do valor corrigido da taxa de
fertilizante é apresentado na Tabela 11.

Tabela 10. Valores médios relativos à porcentagem de patinamento de


semeadora- adubadora em função do tipo de roda.

Tipo de roda Patinamento (%)


Borracha lisa 8
Borracha com ranhura 4
Ferro liso 12
(Balastreire, 1990)
Tabela 11. Exemplo de cálculo do valor corrigido da taxa de fertilizante
a ser aplicada
diâmetro da roda compactadora (Drc, m) 0,7 m
tipo borracha com ranhura
patinamento (Prc) 0,04 (4 %)
cálculo da distância percorrida por volta πD(1+0,04) = 2,287 m
cálculo da quantidade do adubo ou fertilizante a ser 35g/m x 2,287 m/volta
aplicado (g/volta) = 80,045g/volta
valor corrigido 80 g/volta

Porém, o mesmo autor ratifica que para se assegurar maior


precisão na regulagem, é recomendável fazê-la com um número mínimo de
dez voltas. No exemplo acima, portanto, a quantidade de adubo a ser
recolhida em dez voltas da roda é de 800g.
A regulagem do dosador de adubos é efetuada levantando-se a
roda do chão (valendo-se de um cavalete) e, em seguida girando-a algumas
vezes, objetivando a uniformização do fluxo de adubo. Posteriormente acopla-
se um recipiente apropriado na saída do tubo condutor de adubo, dá-se dez
voltas na roda, coletando-se o fertilizante liberado. A quantidade de adubo
coletada deve ser pesada e o valor será comparado ao desejado ou
calculado. Caso a quantidade resultante não for próxima ao valor
recomendado, aumenta-se ou diminui-se a abertura do dosador e repete-se
o procedimento mencionado até se conseguir, por tentativa, o valor estipulado.
Salienta-se, no entanto que, nas condições reais de trabalho (no campo), a
regulagem da quantidade de adubos deve ser constantemente confirmada. Tal
confirmação é baseada na coleta da quantidade de adubo dosada no mesmo
número de voltas da roda utilizado na regulagem feita no galpão, ou em uma
determinada distância demarcada no campo. Se a distância utilizada para esse
fim for sempre a mesma, recomenda-se a elaboração de uma tabela da
quantidade de adubo a ser liberada em função dos diversos espaçamentos a
serem empregados.

Tabela 12. Quantidade de a dubo (em gramas) a ser liberada em 50 m


de deslocamento de semeadoras-adubadoras (Manual JUMIL)

Qt Espaçamento entre linhas (cm)


kg/ha 17 34 40 44 48 51 56 60 62 73 80 90 106
50 43 85 100 183 120 128 140 150 155 303 336 356 265
100 85 170 200 220 240 255 280 300 310 365 405 450 530
150 128 256 300 330 360 383 420 450 465 546 608 675 795
200 170 340 400 440 480 510 560 600 620 730 810 900 1060
250 213 426 500 550 600 638 700 750 775 913 1013 1125 1325
300 255 510 600 660 720 765 840 900 930 1095 1215 1350 1590
350 298 596 700 770 840 893 980 1050 1085 1278 1418 1575 1855
400 340 680 800 880 960 1020 1120 1200 1240 1460 1418 1800
450 383 766 900 990 1080 1148 1260 1350 1395 1643 1620
500 425 850 1000 1100 1200 1275 1400 1500 1550 1825 1822
550 468 936 1100 1210 1320 1403 1540 1650 1705
600 510 1020 1200 1320 1440 1530 1680 1800 1860
650 553 1105 1300 1430 1560 1658 1820
700 595 1190 1400 1540 1680 1785
750 638 1275 1500 1650 1800
800 680 1360 1600 1760
850 723 1445 1700 1870
900 765 1530 1800
950 808 1615
1000 850 1700
Os fabricantes fornecem tabelas para auxiliar a regulagem da
quantidade de adubo desejada, em função do tipo de dosador presente na
máquina. As referidas tabelas apresentam natureza genérica, devendo apenas ser
utilizadas para o início do processo de regulagem da quantidade de adubo,
contribuindo assim para a redução do número de tentativas necessário para a
efetiva regulagem (Tabela 12 – pág. anterior). Contudo, não se recomenda o seu
emprego sem a devida confirmação, nas condições de campo.

z Cálculo da quantidade de sementes a ser distribuída

A regulagem da quantidade de sementes é feita de forma similar à


realizada para o adubo, sendo que no caso de sementes, normalmente deve-se
escolher o dosador a ser colocado na máquina, bem como determinar a relação de
transmissão a ser empregada.
Didaticamente, adotar-se-ão as seguintes informações, a título de
exemplo: (i) população de plantas desejada na colheita (Pd, plantas/ha): 60.000; (ii)
espaçamento entre linhas (e, m): 0,7; (iii) poder germinativo das sementes (G,
plântulas/semente): 0,95 (ou 95%); (iv) pureza física das sementes (Pf, kg/kg): 0,98
(ou 98%); (v) índice de sobrevivência (Is, plantas/plântula): 0,9 (ou 90%); (vi)
diâmetro da roda compactadora (Drc, m): 0,48; (vii) número de dentes do pinhão do
mecanismo dosador (Ndp): 18 dentes; (viii) número de dentes da coroa do
mecanismo dosador (Ndc): 36 dentes; (ix) enchimento do disco dosador (Edd): 0,9
(ou 90%); (x) engrenagens intermediárias (Ei): pares de 6 a 15 dentes; (xii)
patinamento da roda compactadora (Prc): 0,04 (ou 4%) e (xiii) número de orifícios
(furos) do disco dosador (Nod): 22.
Após o levantamento dessas informações, recomenda-se calcular a
quantidade de sementes a ser distribuída por metro linear, objetivando-se assegurar
a população desejada. Assim, o número de sementes por hectare (Nsa,
sementes/ha), considerando-se a população de plantas recomendada na colheita,
germinação (G) e pureza física (Pf) e o índice de sobrevivência (Is) é expressa por:

Pd
Nsa =
GxPfxIs

Sendo assim:

60.000 plantas / ha
= 71.607 sementes / ha
(0,95 plântula / semente)x(0,98kg / kg )x(0,90 planta / plântula )
O número de sementes por metro linear (Nsm, sementes/m) é, portanto, obtido por:

Ns
Nsm = e
10.000

71.607 sementes / ha
x 0,7 m = 5,012 sementes / m = 5sementes / m
10.000 m 2 / ha

Se não existissem falhas de enchimento do disco dosador, o


espaçamento entre sementes (Ees, m/semente) seria: 1m/5sementes =
0,2m/semente. Porém, conforme relatado, a porcentagem de enchimento é de
90%, isto é, 10% de falhas na dosagem das sementes. Portanto, para compensar
este fato, o espaçamento entre sementes (Ees) deverá ser corrigido, conforme
abaixo apresentado:

Ees = Edd .Ees

Ees = 0,9 x 0,2m / semente = 0,18m / semente

Ainda, o cálculo da distância percorrida pela roda compactadora por volta (Dpr,
m/volta), incluindo a taxa de patinamento se refere a:

Dpr = π .Drc.(1 + Pr c )

Dpr = 3,14 x0,48 x(1 + 0,04) = 1,567m / volta

Portanto, o número de sementes que deverá ser distribuído por volta (Nsv,
sementes/volta) da roda será:

Dpr
Nsv =
Ees
1,567 m / volta
Nsv = = 8,7 sementes / volta
0,18m / semente

A relação entre o número de voltas do disco dosador e o


número de voltas da roda compactadora (Rv, volta do disco dosador/volta da
roda compactadora) será calculado por:

Nsv
Rv =
Nod

8,7 sementes / volta(roda )


Rv = = 0,395volta(disco ) / volta(roda ) = 0,39
22 sementes / volta(disco )

De posse desses dados, determina-se o par de engrenagens que fornece a


relação obtida pela expressão matemática anterior, qual seja:

N1 Ndp
Rv = x
N 2 Ndc

N1 18
0,39 = x
N 2 36

em que N1 se refere ao número de dentes da engrenagem na roda


compactadora; N2 ao número de dentes da engrenagem no eixo de
acionamento do dosador de sementes.

Da equação anterior resulta:

N1 Ndc
= Rv.
N2 Ndp

volta(disco) 36dentes
0,39 x = 0,78
volta(roda ) 18dentes
Assim, a relação entre o número de dentes da engrenagem na
roda compactadora e da engrenagem no eixo de acionamento do dosador é de
0,78. Diante desse valor, deve-se, portanto, procurar o par de engrenagens,
cuja relação esteja a mais próxima possível do número calculado. As
engrenagens de 12 e 16 dentes resultam na relação mais próxima do
valordesejado, ou seja, 0,78 (12/15 = 0,8). Assim, a engrenagem de 12 dentes
deverá ser acoplada no eixo da roda compactadora e a de 15 dentes no eixo
de acionamento do dosador de sementes.

A população de plantas pode ser recalculada com as


engrenagens selecionadas, conforme apresentado a seguir:

N1 Ndp
Rv = x
N 2 Ndc

12 18 volta(disco )
Rv = x = 0,4
15 36 volta(roda )

Nsv = Rv.Nod

volta(disco )
= 8,8sementes / volta(roda )
sementes
0,4 x 22
volta(roda ) volta(disco )

Nsv
Nsm =
Dpr

8,8sementes / volta(roda )
= 5,6 sementes / m
1,567m / volta(roda )

Assim, o número de sementes por hectare será:

10000
Nsa = .Npm
e
(10000m 2
/ ha ).5,6sementes / m = 80.000sementes / ha
0,7m

A população inicial (estande inicial) recalculada (Pr, plantas/ha), objetivando atingir


60.000 pl/ha, na colheita, é dada por:

Pr = Nsa.G.Pf .Is

80000 sementes / hax 0,95 x0,98 x0,90 = 67032 plantas / ha

Finalmente, pode-se ter uma idéia da distribuição final provável das sementes
no solo. Como haverá falha de enchimento de 10% no disco, o espaçamento
calculado entre as sementes de 0,18 m/semente, na realidade, em média,
será de 0,162m/semente ou 16 cm.

z Distribuição de sementes por semeadoras pneumáticas

A distribuição das sementes é feita pelos discos perfurados,


dispostos verticalmente dentro do distribuidor, que transportam as sementes
através do vácuo (pressão negativa). Visando aumentar ou diminui a
quantidade de sementes distribuídas por metro linear, deve-se proceder a
troca das engrenagens “Motora” e “Movida”, da mesma maneira que é feita
nos outros tipos de máquinas..
Antes de proceder a regulagem, verificar se o disco que está
montado relaciona-se ao disco apropriado para o tipo de semente utilizado, de
acordo com a cultura desejada. De forma geral, discos com furos de
diâmetros maiores devem ser usados para sementes de grãos maiores. Além
disso, o número de furos do disco, bem como o diâmetro dos mesmos, varia
com a quantidade desejada e o peso específico de cada tipo de semente a
ser distribuída.
O principal diferencial em relação aos outros tipos de máquinas
é o uso da turbina para gerar a pressão negativa. Neste caso, a regulagem é
efetuada com o acionamento da turbina, regulando o nível de vácuo de forma
a gerar uma pressão negativa apropriada para o peso específico da semente
a ser utilizada. O vácuo deve ser ajustado de acordo com o tamanho da
semente e com o tipo de cultura (espécie), conforme o exemplo abaixo:
Tabela 13. Nível de vácuo ajustado para cada tipo de semente (ou de
cultura)

Tipo de cultura (Semente) Nível de vácuo

Milho 70 a 80 mbar

Feijão 85 a 90 mbar

Soja e Algodão sem linter 50 a 60 mbar

Girassol e Sorgo 40 a 50 mbar

Outro ponto importante é a regulagem do seletor de


eliminação de sementes múltiplas, visando reduzir o mínimo possível a
possibilidade dos furos do disco vertical transportar sementes em
duplicidade ou trabalharem vazios.

z Cálculo para uso de marcadores de linha

O uso correto dos marcadores de linha é de fundamental


importância para o pleno sucesso da operação de semeadura, pois
assegura a distância uniforme entre as linhas em toda a área, contribuindo
para a consolidação da população de plantas almejada, bem como
favorecendo a realização dos tratos culturais e da colheita (Figura ).
Apesar do reconhecimento de sua importância, sua utilização
é desprezada, normalmente, pela dificuldade de sua regulagem. Contudo, a
mesma pode ser efetuada desprendendo e puxando ou empurrando o tubo
telescópico ou barra, de forma a variar o comprimento do braço de suporte
do disco marcador, cujo cálculo pode ser fundamentado nas seguintes
expressões matemáticas:

(i)Para a marcação pelo pneu mais próximo da linha semeada:

e(n + 1) − b
D=
2

(i)Para a marcação pelo pneu mais distante da linha semeada:

e(n + 1) + b
D=
2
em que “D” se refere à distância entre o disco marcador e o centro do disco duplo
da unidade de semeadura mais externa; “n” ao número de linhas; “b” à bitola do
trator (m) e “e” ao espaçamento entre linhas (m).
Como exemplo, considerar-se-ão as seguintes informações:
i) espaçamento da cultura: 0,85 m; ii) número de linhas da semeadora: 5;
iii) bitola do trator em trabalho: 1,42 m e iv) marcação pelo pneu mais próximo da
linha semeada. Portanto:
0,85 (5 + 1) - 1,42 3,68
D= = = 1,84 m
2 2

Figura 1. Esquema de funcionamento e regulagem


de marcadores de linha.

XI. SEMEADURA

z Conceituação

A semeadura reveste-se de suma importância para a obtenção de


colheitas lucrativas, seja qual for o tipo de implemento, máquina ou ferramenta
utilizada. Assim, a semeadura correta é aquela que bem distribui, em número,
espaço, tempo e profundidade, a quantidade de sementes recomendada.
A semeadura correta garante, portanto, o número (população) e a
distribuição ideal de plantas (estande) na área até o momento da colheita,
possibilitando a obtenção de rendimento e lucro elevados.
z Fatores influentes na operação de semeadura

Muitos fatores podem interferir na semeadura, contribuindo para


a redução da população desejada, bem como afetando a distribuição espacial
das plantas na área. Dentre eles merecem especial destaque aqueles
relacionados com os insumos empregados, com o solo e com a máquina,
quais sejam: (i) insumos: (i.1) quantidade de sementes e adubo; (i.2)
uniformidade de sementes; (i.3) tamanho e forma das sementes; (i.4)
presença de defensivos nas sementes; (i.5) profundidade de semeadura; (i.6)
profundidade do adubo e (i.7) distanciamento de colocação do adubo em
relação à semente; (ii) solo: (ii.1) tipo de preparo (convencional ou direto);
(ii.2) presença de torrões; (ii.3) presença de resíduos; (ii.4) grau de umidade;
(ii.5) compactação e encrostamento e (ii.6) tipo de solo; (iii) máquina: (iii.1)
sistema de distribuição de sementes (mecanismo dosador); (iii.2) sistema ou
tipo de mecanismo de cobertura de sementes; (iii.3) tipo de sulcador (para
sistema convencional); (iii.4) tipo de disco de corte (para sistema de plantio
direto); (iii.5) velocidade de semeadura e (iii.6) estado de conservação da
máquina.
Desta feita, reconhece-se que o estabelecimento e a garantia do
estande recomendado para a cultura de milho torna-se prática não tão simples
como à primeira vista se apresenta, pois se encontra na dependência da
observância de alguns detalhes que, quando negligenciados, poderão
comprometer substancialmente o investimento efetuado pelo produtor.

z Cuidados gerais

Com o objetivo de favorecer o funcionamento adequado da


semeadora, mesmo com sementes tratadas, recomenda-se o uso de grafite,
em pó, no tratamento de sementes (80 a 120g/100kg de sementes),
assegurando a lubrificação dos mecanismos de distribuição da máquina.
Ainda, com relação à profundidade de semeadura, as sementes
poderão ser distribuídas em sulcos rasos ou em sulcos profundos, de acordo
com a máquina e o sistema de produção adotados, porém a quantidade de
terra sobre a semente não deverá exceder 3 a 5 cm.
Em solos arenosos ou em áreas muito declivosas, a utilização
de sulcos profundos poderá trazer problemas, representados pelo
assoreamento (quebra das paredes do sulco), dificultando assim, a
emergência das plântulas de milho. Ainda, a localização do adubo, em relação
à semente, também pode ser considerado um fator de risco quanto à redução
de estande, principalmente quando se utiliza adubos concentrados,
apresentando alto conteúdo de cloreto de potássio.
O elevado índice salino do mencionado adubo poderá
comprometer o estande quando a quantidade de K2O for superior a 50 kg/ha (na
semeadura) e a semente estiver a menos de 5 cm do adubo, sobretudo se
ocorrer condições de baixa disponibilidade de água logo após a semeadura.

XII. POPULAÇÃO DE PLANTAS

No Brasil, rendimentos elevados de milho têm sido obtidos com a


utilização de 55.000 a 80.000 plantas por hectare, adotando-se espaçamentos
variáveis entre 80 a 45 cm entre linhas, apresentando 2,5 a 5 plantas por metro,
devidamente arranjadas de forma a minimizar as relações de competição por
fatores de produção. Cumpre ressaltar que tais recomendações referem-se a
sistemas irrigados e mantidos sob contínua vigilância e orientação.
Resultados recentes de pesquisa demonstraram que a redução de
espaçamento entre linhas de 90 para 70 cm, normalmente proporciona
significativo ganho de produção da ordem de 8 a 12%, ao passo que a redução
de espaçamento entre linhas de 70 para 45-50cm, poderá contribuir, no máximo,
com um incremento de rendimento de 3 a 5%, desde outros fatores de
produção, como adubação e água, sejam otimizados.
Todavia, em condições de sequeiro, população de plantas entre
55.000 a 60.000 plantas por hectare tem se mostrado mais adequada,
principalmente em função da probabilidade de ocorrência de veranico, do nível
de fertilidade do solo e do genótipo a ser empregado. Nessas condições, a
garantia da melhor distribuição possível de plantas de milho na área se revestirá
de suma importância para a superação de limitações climáticas, sobretudo
estresses hídricos.
De maneira genérica, a definição do espaçamento e da população
de plantas de milho deverá levar em consideração as seguintes informações:
a) Finalidade da produção (grãos secos, milho verde, ou silagem);
b) Época de semeadura (antecipada, normal ou safrinha);
c) Nível de adubação (baixo, médio ou alto);
d) Sistema de produção (sequeiro ou irrigado e plantio direto ou
convencional);
e) Características do híbrido escolhido.
Quanto às características do híbrido, aquelas que sempre deverão
ser consideradas são:
a) Altura da planta;
b) Altura da espiga na planta;
c) Resistência ao acamamento ( “stay green”) e
d) arquitetura da planta (disposição das folhas).
XIII. CONSELHOS ÚTEIS

Ainda, a consolidação de sistemas racionais e eficientes de


produção depende da consideração de algumas proposições de natureza diversa,
tais como:

ƒ Empregar técnicas e tecnologias poupadoras de energia ou que possibilitem melhor


aproveitamento de energia disponível ao sistema;
ƒ Organizar e planejar efetivamente a produção;
ƒ Desenvolver e utilizar eficientes mecanismos de “alarme”, objetivando a detecção de problemas
localizados (pragas, doenças, distúrbios fisiológicos e nutricionais), favorecendo tratamentos
específicos e restritos à área problemática;
ƒ Promover a diversificação biológica, visando maior estabilidade do sistema, que poderá ser
consolidada pelo uso de genótipos diversos, culturas em faixa e consórcio, bem como o uso de
rotação de culturas;
ƒ Usar, obrigatoriamente, práticas conservacionistas de solo, tais como curvas de nível,
terraceamento (em nível ou com gradiente), cultivo mínimo, cobertura morta, plantio direto e faixas
de retenção, conforme exigência técnica local;
ƒ Realizar o levantamento sistemático de pragas e doenças;
ƒ Evitar o uso indiscriminado de defensivos;
ƒ Usar racionalmente calcário e gesso fundamentado em análise de solo;
ƒ Empregar adubações equilibradas e baseadas em critérios técnicos adequados;
ƒ Usar a prática da adubação verde, pelo menos a cada 3 anos;
ƒ Evitar a queimada de restos de culturas;
ƒ Não abusar do uso de implementos de preparo do solo, bem como respeitar as condições de
umidade do solo e variar, periodicamente, a profundidade de preparo. Todavia, dentro do possível,
dar preferência para o sistema de Plantio direto;
ƒ Reciclar, o máximo possível, dentro da propriedade agrícola, os subprodutos oriundos das
atividades desenvolvidas;
ƒ Promover a integração das atividades agrícolas presentes, incluindo as secundárias e de
subsistência;
ƒ Não desprezar os conhecimentos e informações locais acumuladas ao longo dos anos,
relacionados com as peculiaridades regionais;
ƒ Sempre avaliar e analisar a propriedade agrícola como um todo (enfoque sistêmico), procurando
compreender como os diversos elementos (solo, planta e clima) funcionam no sistema de
produção;
ƒ Não basear sua lavoura em modelos padronizados (“receitas de bolo”) e tradicionais;
ƒ Desenvolver o hábito de contínua observação;
ƒ Não combater apenas sintomas. Procurar descobrir as causas do problema considerado
ƒ Nunca dispensar a orientação técnica, competente e segura.
XIV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, F. S. Influência da cobertura morta do Plantio Direto na biologia do


solo. In: FANCELLI, A. L. (Coord.). Atualização em Plantio Direto. Fundação
Cargill. Campinas, 1988. p. 103-147.

BALASTREIRE, L.A. Máquinas Agrícolas. Editora Manole. São Paulo. 307 p.,
1990.

CASTRO, O.M. de; LOMBARDI NETO, F.; VIEIRA, S. R.; DECHEN, S. C. F.


Sistemas convencionais e reduzidos de preparo do solo e as perdas por
erosão. Revista Brasileira de Ciências do Solo, 10: 167-171. 1986.

COELHO, J.L.D. Ensaio e Certificação das máquinas para semeadura. In:


MIALHE, L.G. Máquinas agrícolas: ensaios e certificação.
FEALQ/ESALQ/USP. Piracicaba. p. 555-567, 1996.

DAMBRÓS, R.N. Avaliação do desempenho de semeadoras de milho com


diferentes mecanismos dosadores. Piracicaba, 1998. 86p. Dissertação
(Mestrado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade
de São Paulo.

DERPSCH, R. Rotação de culturas. In: O Conservacionista. ACPG. Ponta


Grossa, 1985. v.39. p. 3-4.

FANCELLI, A.L. Atualização em Plantio Direto. Fundação Cargill. Campinas,


1985. 343p.

FANCELLI, A.L. Plantio Direto. ESALQ/USP/Departamento de Agricultura.


Publique Piracicaba, 89p., 1987.

FANCELLI, A.L.; DOURADO-NETO, D. (coord.) Tecnologia da produção de


milho. Editora Publique, Piracicaba. 174p.,1997.

KACHMAN, S.D. ; SMITH J.A. Alternative measures of accurarracy in plant


spacing for planters using single seed metering. Transactions of the ASAE. v.
38, n. 38. p.379-387. 1995.

KURACHI, S.A H.; COSTA, J.A.S.; BERNARDI, J.A. Avaliação tecnológica:


avaliação de resultados de ensaios de mecanismos dosadores de
semeadoras-adubadoras de precisão. IAC Boletim Científico. Campinas. 46p.
1993.
LIMA, M.G de; FANCELLI, A.L. Calibração e validação do modelo Ceres-
Maize em condições tropicais. Pesquisa Agropecuária Brasileira (no prelo).

MASCARENHAS, H.A.A.; BULISANI, E.A.; BRAGA, N. Rotação de Culturas.


In: Simpósio sobre sistemas de produção agrícola. Região Centro-Sul do
Brasil. Fundação Cargill. Campinas, 1984. p. 89-112.

MOLIN, J.P.; COELHO, J.L.D.; GADANHA JR, C.D. Máquinas para


semeadura. Coleção de Mecanização Agrícola. Programa São Paulo vai a
campo. BANESER-BANESPA. 1992. p. 10-12.

MONTEIRO, L.R. Desenvolvimento e Análise de uma semeadora pneumática


de grãos. Campinas, 1989.122p. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Estadual de Campinas.

PATERNIANI, E; VIEGAS, G. P. Melhoramento e produção do milho. 2a


edição. Campinas. Fundação Cargill, vol 1 e 2., 795p. 1987.

PORTELLA, J. A.; SATTLER A.; FAGANELLO, A. A semeadura direta no


campo nativo, os sistemas de rompimento do solo. In:Seminário sobre
SEMBRA Direta –EXPOATIVA-96, 1. Mercedes. 1996.

SOAVE, J.; MORAES, S. A. Medidas de controle das doenças transmitidas


por sementes. In: SOAVE, J.; WETZEL, M. M. V. da S. Patologia de
sementes. Fundação Cargill. Campinas. 1987. p.192-259.

SORRENSON, N. J.; MONTOYA, L. J. Implicações econômicas da erosão do


solo e de práticas conservacionistas no Paraná/Brasil. IAPAR. Londrina, 1984.
22p.

THILSTED, E.; MURRAY, D. S. Effect of wheat straw on weed control in no-till


soybeans. In: South weed sci. soc. Annual Meeting. 1980. V.33. p.42.

TOURINO, M.C.; KLINGNSTEINER, P. Ensaio e avaliação de semeadoras –


adubadoras. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, 8. Rio de
Janeiro, 1983. Anais. UFRJ. v.2, p.103-116. Rio de Janeiro. 1983.

WANJURA, D.F. ; HUDSPETH Jr, E. A. A planter for precision depth and


placement of cotton seed. St. Joseph. Michigam. USA. Transactions of the
ASAE, 3. p. 326-336. 1970.
Fancelli (2004) Fancelli (2004)

Semeadura com solo molhado Semeadura com solo molhado

Fancelli (2004)
Fancelli (2004)

Semeadura com colonião (problem a) Semeadura de qualidade

Fancelli (2004) Fancelli (2004)

Sistema de botinha ou facão Semeadora com limpador de sulco

Fancelli (2004) Fancelli (2004)

Falha de semeadura (operação) Semeadura com velocidade alta

Você também pode gostar