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ORIENTADORES:
RIO DE JANEIRO
2005
À Andreia,
pelo apoio, compreensão e por acreditar que as
verdadeiras metas são realizáveis e acabar me
convencendo disto. Enfim, mais uma vez, por tudo...
Ao Professor Robert Boyer, meu orientador na École des Hautes Études en Sciences
Sociales EHESS / Paris, e um dos pais da Teoria da Regulação, pelo encorajamento e
estímulo permanentes. Os trabalhos desenvolvidos por Boyer constituem a prova irrefutável
do potencial explicativo e heurístico das macroanálises em termos de regulação, bem como de
sua ampla aplicabilidade. Este fato por si mesmo é já um grande estímulo para trilhar o
mesmo percurso teórico-metodológico. Agradeço-lhe também os comentários e as críticas
construtivas para que as diversas etapas desta análise permanecessem coerentes com os
princípios teóricos e metodológicos regulacionistas.
À Pierre Salama, também pelo estímulo em ler e discutir um dos artigos sobre uma das
etapas deste trabalho e que foi apresentado no Encontro Nacional da Sociedade Brasileira de
Economia Política SEP / 2004. Inclusive aos demais membros de seu grupo de pesquisa,
particularmente a Mamadou Camara e Alexis Saludjian.
Aos Professores Francisco Oliveira e Luiz Carlos Bresser Pereira, pelo estímulo e
valorização sincera do meu trabalho. Durantes os eventos da SEP 2003 e 2004, eles muito me
prestigiaram assistindo as apresentações de meus artigos e tecendo comentários pertinentes e
motivadores.
Também sou grato à Hawa Diawara, pelas reflexões conjuntas sobre temas de alta
relevância para a economia brasileira atual. Sua tese de doutoramento, orientada por Jaime
Marques-Pereira, possui um ponto de convergência básico com um dos momentos da presente
análise: o lugar fundamental do Estado, das finanças e dos regimes monetários na explicação
da performance macroeconômica brasileira nos anos 80 e 90. Marques-Pereira também muito
me estimulou ao ler e discutir meus artigos sobre o trabalho de tese, apresentados no Encontro
Nacional da SEP em Florianópolis / 2003 e Uberlândia / 2004, além de assistir minha
apresentação nos Seminários de Pesquisa do IE/UFRJ, sobre regulação e crescimento no
Brasil.
Enfim, a todos aqueles que contribuíram de alguma maneira para a realização deste
trabalho, os meus mais sinceros agradecimentos.
Resumo
Résumé
C est avec le plus grand plaisir que j avais accepté de faire partie du Jury de la thèse de
Miguel BRUNO. Ayant rencontré le candidat lors de son séjour à Paris il y a 2 ans, je
connaissais ses qualités de chercheur, et me réjouissais par avance de discuter de sa thèse.
Pour suppléer mon absence, je vous prie de trouver ci-joint, un document qui consigne par
écrit les remarques essentielles que m a inspiré la lecture de la thèse. Si vous le jugez utile,
elles peuvent être lues en séance, et en tous cas être reproduites dans le procès verbal de
soutenance.
O capítulo 4 desenvolve uma análise da evolução das cinco formas institucionais que
compõem um modo de regulação: o rapport salarial ou wage-labor nexus; as relações
Estado-economia; o regime monetário-financeiro; as formas da concorrência e de inserção
internacional. Busca-se periodizar sua evolução e explicitar sua lógica, através da análise de
séries temporais e de testes econométricos com os dados disponíveis para a economia
brasileira. A hipótese básica neste contexto é que cada economia e sociedade desenvolve
configurações particulares para essas formas institucionais. Essas configurações específicas
respondem pelos padrões de desenvolvimento macroeconômico na medida em que
determinam as características do regime de acumulação.
Há aqui uma nítida ruptura com as visões tradicionais que procuram explicar o
econômico pelo econômico, ou seja, mediante o recurso a uma axiomática totalizante e ao
mesmo tempo redutora, a realidade econômica é considerada movida por determinações
puramente mercantis, derivadas do comportamento de sujeitos individuais. Quando as
estruturas, instituições ou formas sociais de organização são consideradas, elas são
simplesmente acrescentadas à axiomática de partida sem jamais alterar seus pressupostos
microeconômicos. Utilizando-se de uma analogia, as instituições são introduzidas no âmbito
das análises neoclássicas como se estivessem entrando pelas janelas de uma construção já
completa e definitiva ; são adornos ou componentes para enriquecer uma estrutura teórica
considerada universalmente válida. Mas nas análises regulacionistas, as instituições surgem
como os próprios alicerces de um edifício que deve, por princípio metodológico, adaptar-se
às mutações irreversíveis da realidade ; as instituições, regras, convenções não são entes
dedutíveis de uma lógica de otimização. São suportes de micro, meso e macro-regularidades
fundamentais à reprodução social e econômica. Mais do que dotar os mercados de densidade e
eficiência, elas surgem como o substrato par excellance das relações e regularidades
econômicas.
Talvez um dos contributos desta análise seja o fato de proporcionar uma abordagem
macroeconômica do crescimento brasileiro, onde os seus determinantes como a taxa de lucro
e a taxa de acumulação de capital são explicitados em sua evolução de longo prazo.
Normalmente, as abordagens tradicionais preocupam-se demasiadamente com problemas de
insuficiência de poupança e minimizam os aspectos desestabilizadores de um ambiente
caracterizado por finanças liberalizadas. Praticam um retorno apressado e teoricamente pouco
fundamentado às estruturas de um capitalismo concorrencial, abstraindo-se do fato de que
foram estas que conduziram à grande crise dos anos 30. Estranha terapia ortodoxa que vê no
restabelecimento da livre concorrência financeira as condições para a retomada sustentada
do crescimento econômico, abstraindo-se desta crise estrutural e das demais crises financeiras
que marcaram os anos 90 e os primeiros anos deste século.
Ao final de cada capítulo pode ser encontrada uma síntese dos principais resultados, o
que deve facilitar o acesso às problemáticas desenvolvidas e a compreensão das questões de
base tratadas nesta tese. A conclusão geral busca sumarizar os resultados básicos em conjunto,
isto é, em suas vinculações com as questões abordadas nos diferentes capítulos, para que o
leitor possa constatar a unidade temática.
CAPÍTULO 1 - A REGULAÇÃO COMO PRINCÍPIO DE ANÁLISE: ORIGENS,
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
1.1 Introdução
O objetivo básico deste e do próximo capítulo é apresentar as principais características
da abordagem teórica que será utilizada neste trabalho, justificando-se sua aplicação à
economia brasileira contemporânea. As origens, estrutura conceitual e os fundamentos
teóricos das análises em termos de regulação são explicitados em seus vínculos com a
macroeconomia do crescimento e das crises econômicas. Procurar-se-á esclarecer de que
modo o conceito de regulação constitui uma alternativa verdadeiramente profícua à noção
convencional de equilíbrio e de que maneira ele permite construir as bases epistemológicas
para uma macroeconomia histórica e institucionalista.
1
Em The Role of Monetary Policy de 1968, FRIEDMAN procura demonstrar que as políticas expansionistas de
orientação keynesiana dos anos 50 e 60 políticas do cheap money, assim como o ativismo fiscal teriam
resultado em maior inflação. Em finais dos anos 70, com o objetivo de oferecer uma visão alternativa à de
KEYNES, LUCAS e SARGENT argumentariam em After Keynesian Macroeconomics que o autor da General
Theory não possui mais do que uma simples teoria para o caso particular de salários rígidos.
derivada do instrumental IS-LM mostrava-se inoperante frente ao fenômeno da estagflação, a
investida teórica anti-keynesiana afirmava-se atribuindo as origens da crise a fatores
exógenos, provenientes de intervenções indevidas do Estado e às expectativas racionais de
agentes econômicos sempre bem informados quanto à lógica e natureza das macro-
regularidades envolvidas.
O problema fundamental das economias que se organizam sob o capitalismo pode ser
enunciado da seguinte maneira: se a lei dos mercados de Say (formulada por KEYNES
como a oferta cria sua própria demanda ) não encontra validade empírica, uma vez que a
moeda no capitalismo é mais do que uma simples intermediária de trocas mercantis, então,
compra e venda, demanda e ofertas são momentos dissociáveis no tempo e não têm razão
alguma para se compatibilizarem automaticamente como conseqüência necessária dos
mecanismos de mercado. Em outros termos, se a estrutura de produção (base de toda a oferta
2
O conceito de obstáculo epistemológico é utilizado segundo a definição de BACHELARD (1996). Uma análise
de suas implicações pode ser encontrada em CANGUILHEM, G.(1985).
3
Segundo BLAUG (1980) e HOLLIS e NELL (1975), o estudo das condições para que uma economia se reproduza
corresponderia de fato à essência de qualquer ciência adequada da economia.
agregada) não encontra uma estrutura de circulação4(base de toda a demanda agregada) que
lhe seja dinamicamente compatível, o processo capitalista de acumulação é obstado e o
sistema econômico submerge em uma fase de crise.
4
O processo de acumulação de capital pode ser apreendido em seus quatro momentos constitutivos: a produção,
a distribuição, a circulação e o consumo. Mas como o consumo emerge como o momento que de fato fecha o
circuito - quer dizer, nele reside latente o famoso problema da realização ou, em termos keynesianos, o da
problemática da demanda efetiva serão utilizadas indistintamente as expressões correspondência ou
compatibilidade entre produção e consumo , ou entre produção e demanda . Todavia, a expressão
correspondência entre produção e circulação apenas opera a um nível maior de abstração, sem que as
anteriores sejam impróprias.
5
DE BERNIS, G.D. Equilibrio y regulación: una hipótesis alternativa y proposiciones de análisis. Investigación
económica, 1983.
6
Os grifos são de DE BERNIS.
In essence the concern of régulation theorists is to describe how economic
systems change while keeping their basic principles of organization. Tension
and conflict, unevenness of development, disequilibrium, mutual dependence
and order are basic to this reasoning. I define regulation as the process
through which a given type of order or consistency obtains in a complex entity
- a socio-economic system -which is itself submitted to a never ending
tension. 7
Deve-se observar que não se pode apreender uma tal problemática, a partir de uma
concepção de equilíbrio essencialmente física ou naturalista. No contexto dos sistemas sócio-
econômicos, não se poderia conceber algo como um processo de mudança equilibrada , já
que as mudanças sociais são, pela lógica e natureza mesma dos processos que a definem
enquanto tais, desequilibrantes.8 No mesmo texto, R. DELORME argumentaria que:
Basically, the name of this school of economic analysis derives from the
transformation of a concept borrowed from biology: a régulation mode
describes the set of negative and positive feedbacks in relation to the stability
7
DELORME, Robert. The State and economic development. CEPREMAP nº 9102, Paris, 1990 ( grifos do
autor).
8
Uma mudança equilibrada , sobretudo, em se tratando de fenômenos sociais, implicaria não apenas que as
variáveis envolvidas no processo sofram variações quantitativas na mesma proporção. Seria ainda necessário que
as transformações qualitativas, que normalmente acompanham dialeticamente as variações de quantum, ocorram
em direções e vínculos sistêmicos mutuamente compatíveis e de modo a garantir que as estruturas do sistema em
estudo possam evoluir de forma inalterada e coesa. Ora, não há evidência empírica de que alguma vez no campo
sócio-econômico um tal fenômeno tenha realmente existido. Neste contexto, a questão verdadeiramente
pertinente para a macro-análise passa a ser a da relevância das mudanças equilibradas , não no sentido estrito
(oferta igual à demanda) como fatores da coerência macroeconômica e da coesão sistêmica. Uma configuração
macrodinamicamente estável não requer uma tal condição tão irrealista ou de ínfima probabilidade de
ocorrência. Não é um fato empírico pouco conhecido que o crescimento econômico processa-se
independentemente da existência e permanência de equilíbrios nos diversos mercados por onde circulam a
pluralidade dos capitais em uma economia real. E exatamente por isto que BLAUG (1993, p. 327) havia
argumentado: colocando de forma contundente: nunca se observou uma economia em estado constante de
crescimento e, além disso, existem motivos profundos e inerentes que explicam por que o crescimento real é
sempre inconstante e sempre desequilibrado.
9
Em Technical change and the theory of régulation [in DOSI et alii (eds.), Technical change and economic
theory, Pinter Publishers, 1988, pg. 68], Robert BOYER chama a atenção para a possível confusão entre o
significado do vocábulo regulation na língua inglesa e a conotação diversa que assume para a Escola da
Regulação: This approach, called régulation in French, is not easily translated into English, since the English
word regulation is usually associated with the much narrower problem of regulation of the behavior of public
utilities, while the expression socio-economic tuning brings a connotation of a conscious and sophisticated
adjustment mechanism.
of a complex network of interactions. When transposed to economics and
completely re-elaborated, a form of régulation denotes any dynamic process
of adaptation of production and social demand, resulting from the conjunction
of economic adjustments linked to a given configuration of social relations,
forms of organization and productive structures. 10
A partir da argumentação desenvolvida acima, pode-se precisar a forma como a Teoria
da Regulação apreende o mercado nas sociedades que se organizam sob o capitalismo. O
mercado emerge historicamente como o locus da socialização de uma pluralidade de trabalhos
individuais e independentes, permitindo a unidade (entendida como correspondência ou
adequação) entre produção e demanda agregada. Mas essa unidade contraditória é apenas
formalmente veiculada pelo mercado, que para tanto deve contar com as outras instâncias da
sociedade, através do estabelecimento de diversos procedimentos de coordenação e de
estruturas organizacionais, que são elas mesmas irredutíveis a pura lógica mercantil.
10
BOYER, R. Labour institutions and economic growth: a survey and a regulationist approach. Fondazione
Giacomo Brodolini, 1993.
11
Os trabalhos desenvolvidos pela Teoria da Regulação para as economias da antiga URSS, apontam exatamente
para a impossibilidade de auto-institucionalização das relações mercantis e capitalistas, a partir da simples
remoção do Estado e demais instituições do regime soviético anterior. Como o mercado surge como uma
construção institucional e organizacional complexa, são necessárias novas formas sociais e dispositivos jurídico-
institucionais para torná-lo social e economicamente eficiente. Até que isso seja realizado, a estagnação e a crise
social e econômica tendem a permanecer. Para maiores detalhes, vide Bernard CHAVANCE, nos capítulos 42
(Institutions, régulation et crise dans les économies socialistes) e 43 (Réforme du socialisme et conversion au
marché: les voies centre-européennes) de Théorié de la Régulation: L état des Savoirs. La Découverte, 1995.
Em conseqüência, no plano macroeconômico, o sucesso de um modo de regulação em
compatibilizar as estruturas de produção e de consumo reside em sua capacidade de dotar os
mercados de densidade e eficiência, superando os problemas de falha de coordenação.
Características estas que os mercados não podem alcançar sem instituições, convenções,
regras e demais dispositivos organizativos que codificam as relações sociais e conformam os
comportamentos privados à lógica maior e à natureza da macrodinâmica da acumulação de
capital.
12
Os trabalhos em Antropologia reconhecem a diversidade de formas de regulação econômica e social vigentes
em sociedades primitivas que não possuíam a escrita, enquanto base para a codificação de relações sociais
básicas para a coesão e sobrevivência dos grupos e categorias sociais. Por exemplo, os de M. SALLINS, A
Primeira Sociedade da Afluência e Stone Age Economics.
capital, permitindo a reprodução da lógica e natureza do capitalismo apesar de suas
contradições permanentemente renovadas.13
Isto não significa supor que o sistema sempre será capaz de encontrar formas de
regulação adequadas, que lhe faculte a reprodução ad infinitum, não importando a gravidade
das crises que atravesse. Pode ser, como o foi para os modos de produção pré-capitalistas, que
as economias não sejam mais capazes de reproduzir a mesma lógica e natureza que as
singularizam na história longa. Há sempre a possibilidade de uma transformação mais
profunda, isto é, ao nível da própria estrutura invariante ou fundamental que o caracteriza
enquanto sistema capitalista. Neste caso, ter-se-ia de buscar novos conceitos e novos
princípios para expressar a emergência de uma outra lógica de se organizar a produção e a
13
Segundo a metodologia histórico-dialética, o princípio epistemológico implícito é o de que a unidade entre
produção e circulação do capital é sempre relativa, mas possível. Do contrário não haveria reprodução sócio-
econômica e as fases de crescimento econômico não seriam factíveis. Mas isto não elimina as forças que
expressam o caráter contraditório dessa unidade entre produção e circulação, ou seja, a contradição é sempre
absoluta, tendencial, latente. Pode ser temporariamente contida dentro de limites suportáveis pelas estruturas da
regulação vigente e então superada - mas não suprimida - pela criação de novas formas também contraditórias.
Com o desenvolvimento do processo capitalista de acumulação, novas contradições surgem e se manifestam na
história concreta das economias através de configurações particulares de crises.
14
R. BOYER, em Les Institutions dans la Théorie de la Régulation, CEMPREMAP n° 2003-08, août 2003.
15
A noção de social structure of accumulation (SSA) deriva dos trabalhos de BOWLES, GORDON e
WEISSKOPF (1986) e designa o ambiente institucional específico no qual o processo capitalista de acumulação
se desenvolve. Sua convergência com os conceitos de modo de regulação e de regime de acumulação foi
reconhecida pelos próprios proponentes da abordagem regulacionista. Para mais detalhes, ver BOYER e
SAILLARD em Théorie de la régulation l état des savoirs, La Découverte, Paris, 1995.
distribuição do produto social. Mas enquanto este tipo de crise não acontece, o economista
não deve se furtar a explicitar as condições ainda factíveis de reprodutibilidade sistêmica.16
16
Na teoria econômica marxiana as crises cíclicas expressam processos endógenos de reprodutibilidade
sistêmica. Apenas a chamada crise final ou geral marcaria a passagem para um novo modo de produção com
lógica e natureza diversa.
17
A moeda é definida aqui como o dinheiro em suas várias formas, pois diversas mercadorias ( metais preciosos,
animais, sal, etc) foram utilizados como padrão de trocas mercantis ao longo da história econômica.
Rigorosamente, a moeda como forma do dinheiro corresponde a uma etapa superior do desenvolvimento das
relações mercantis, quando o dinheiro não mais se representa como uma mercadoria particular, pois passa então
a representar o universo de todas elas. Em termos marxistas clássicos, ele converte-se no chamado equivalente
geral e com isso ganha autonomia relativa frente às demais formas do capital (capital-mercadoria e capital-
produtivo, que por natureza possuem menor liquidez). Neste momento fundamental ao desenvolvimento das
relações de produção e de distribuição capitalistas é que surgem os Bancos Centrais como instituições destinadas
a administrar a autonomia relativa do equivalente geral e garantir deste modo, a aceitação de uma moeda
fiduciária e de curso forçado.
seguros marítimos; no estágio inferior, habituada a viver como economia autárquica, a China;
e finalmente, logo abaixo dela, milhares de economias ainda primitivas.
18
Segundo BOYER [1986, P. 120], os trabalhos de BRAUDEL mostram que o capital comercial e financeiro é,
há muito tempo, um fenômeno internacional, enquanto que a inserção vitalícia do salariado no interior do
capitalismo é bem mais recente, inovadora e portadora de uma nova forma dos conflitos sociais e da dinâmica
econômica . Seria a partir da mesma que o capitalismo encontraria sua base própria de desenvolvimento,
fazendo da relação capital-trabalho assalariado, a premissa e o resultado de seu funcionamento. (Os grifos são de
BOYER).
19
No capítulo VI, inédito de O Capital, MARX argumenta que o trabalho assalariado é, para a produção
capitalista, uma forma socialmente necessária do trabalho, assim como o capital, valor elevado a uma potência, é
uma forma necessária que devem adotar as condições objetivas do trabalho para que este último seja trabalho
assalariado. De modo que o trabalho assalariado constitui uma condição necessária para a formação de capital e
se mantém como premissa necessária e permanente da produção capitalista .
20
Cunhado por KEYNES em A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, Nova Cultural, 1988.
Conseqüentemente, não se poderia pensar e desenvolver o espaço teórico da
macroeconomia sem pensar precisamente, a problemática instaurada por essa conjugação no
plano concreto de atuação dos agentes econômicos e de suas organizações. Um ponto de
partida analiticamente profícuo é exatamente este que se pode denominar por princípio da
regulação (AGLIETTA, 1988) e cujo objetivo maior consiste em expressar, no plano das
macro-análises, os momentos em que a conjunção dessas três relações sociais fundamentais
apresenta-se sob configurações coerentes com a dinâmica da acumulação de capital,
constituindo regimes particulares de crescimento e acumulação.
Teoria da regulação
Teoria Teoria
Teoria neoclássica e
pós-keynesiana ortodoxa marxista
suas variantes
contemporâneas
A Ontologia pode ser definida como um ramo da Epistemologia que procura apreender
as propriedades essenciais e as singularidades dos objetos submetidos à análise22.
Conseqüentemente, uma apreensão ontológica do objeto econômico implica considerar que a
escolha do método de análise e dos princípios teóricos utilizados precisa estar fundamentada
em uma correta percepção das características da economia enquanto sistema de relações
sociais de produção e de distribuição, cujo modo de funcionamento tem se revelado, a nível
empírico, essencialmente diverso dos sistemas físicos e biológicos.23 Daí a relevância do que
se denomina no título desta seção por dimensões ontológicas do conceito de regulação.24
21
BRUNO, Miguel. A Macroeconomia da Teoria da Regulação: uma análise do projeto teórico regulacionista,
Tese de Mestrado, UFF, 1997.
22
Rigorosamente, um ramo da Filosofia, mas como a preocupação básica neste contexto refere-se à Filosofia da
Ciência ou Epistemologia, optou-se por vincular a questão ontológica de um modo direto e explícito à Teoria do
conhecimento econômico. Segundo JAPIASSÚ e MARCONDES (2001), o termo foi introduzido pelo filósofo
alemão Rudolph GOCLENIUS, Professor na Universidade de Marburg, em seu Lexicon Philosophicum (1613)
designando o estudo do ser enquanto ser, isto é, independentemente de suas determinações particulares, mas
naquilo que constitui sua inteligibilidade própria . Distingue-se ainda ontológico , que se refere ao ser em geral,
de ôntico, que se refere ao ser em particular.
23
Talvez não seja redundante lembrar que, como produto das concepções positivistas em ciências sociais, a
teoria neoclássica e suas variantes contemporâneas não empreendem nenhuma ruptura com o naturalismo que
marcou o pensamento econômico fisiocrático e clássico. Em termos da epistemologia de BACHELARD, elas
não realizam nenhum corte epistemológico que implicaria reconhecer as bases ontológicas próprias aos sistemas
sociais e empreender uma ruptura efetiva com a concepção fisicalista de se produzir conhecimento econômico.
Como observa BILLAUDOT (1996, p.12), a necessidade de se explicitar a dimensão
ontológica das teorias e hipóteses econômicas foi inclusive ressaltada por autores como
SCHUMPETER25. Para este economista, toda teoria concebida como uma análise
organizada em princípios e hipóteses baseia-se numa determinada visão ou concepção das
propriedades do sistema em estudo. Em conseqüência, pode-se definir como base ontológica
uma determinada concepção acerca do modo específico de funcionamento do objeto sob
teorização. Isto implica considerar-se que um dado método de análise pressupõe sempre uma
ontologia que lhe é subjacente, ou seja, uma concepção acerca das características próprias de
funcionamento ou modo específico de existência do objeto em estudo.
C est pourquoi nous nous inscrivons en opposition tranchée avec les discours
prétendument totalisants qui font de l histoire humaine le prolongement de
l évolution des espèces. »
A base ontológica neste contexto advém do reconhecimento de que a história não é
fundada sobre nenhuma ordem natural. Contra essa concepção reducionista ( presente também
na banalização do pensamento marxiano original) que faz da história um resultado de leis
econômicas inescapáveis, LUKÁCS (1968) argumentara que o homem é um ser que dá
respostas . E neste contexto se expressa a unidade contida de modo contraditoriamente
Conseqüentemente, o objeto econômico é enquadrado num naturalismo que necessariamente conduz a uma visão
determinista e reducionista do funcionamento das economias reais. Evidentemente numa tal concepção, a
historicidade das análises não tem nenhuma relevância teórica. Elementos históricos quando são mobilizados não
passam de simples ingredientes de contextualização de teorias supostamente válidas em todos os tempos e
lugares.
24
Observa AGLIETTA (1997) que nas Ciências Físicas e Biológicas sabe-se que os fenômenos microscópicos e
macroscópicos não podem ser descritos com as mesmas ferramentas teóricas. As regularidades macroscópicas
têm sua própria autonomia e especificidades.
25
SCHUMPETER não utiliza explicitamente o conceito de ontologia, mas suas preocupações podem ser
efetivamente traduzidas pela busca das bases ontológicas das teorias e análises desenvolvidas pelo economista e
pesquisador.
indissolúvel no ser social entre liberdade e necessidade. Uma unidade que se reproduz
continuamente sob formas sempre novas, cada vez mais complexas e mediadas em todos os
níveis sócio-pessoais da atividade humana. Para este autor, o fator subjetivo, humano,
conserva-se como fator modificador das estruturas da economia e sociedade e por vezes se
mostra mesmo decisivo26.
26
.LUKÁCS, G. As Bases Ontológicas do Pensamento e da Atividade do Homem, 1968.
27 Conforme ÉCHAUDEMAISON et alii (2000), o lien social é ce qui rattache les individus et les groupes les
uns aux autres. Il peut s agir de liens directs (ou relations « primaires ») basés sur l inter connaissance : lien
conjugal, familial, relations amicales, relations de voisinage, etc., ou de liens indirects tissés par la médiation
d institutions complexes : monde professionnel, associations, syndicats, partis, etc. Três tipos de lien possuem
um status particular nas ciências sociais: a troca comercial (o comércio, vetor de relações), a troca não comercial
(circulação de bens simbólicos), enfim o laço político baseado nos sentimentos de solidariedade numa
coletividade nacional.
28
Talvez seja relevante pensar-se num exemplo biológico. A evolução dos cetáceos e dos quirópteros lhes
permitiram desenvolver mutações bem sucedidas de seus membros para se adaptarem às novas condições
ambientais. Todavia, a estrutura mais interna destes animais, isto é, a estrutura que os definem enquanto
mamíferos que são, permaneceu inalterada ao longo de sua evolução. Em suma, eles continuam mamíferos.
Agora, basta que o pesquisador no campo da economia atente para as diferenças essenciais entre as estruturas
internas que definem os modos de produção feudal e capitalista. A reprodução sócio-econômica foi alcançada
através da transformação das próprias estruturas ou relações sociais de produção no tempo histórico.
de manifestação típico da necessidade passa a ser, cada vez mais nitidamente
e a depender do caso concreto, aquele de induzir, impelir, coagir, etc. os
homens a tomarem determinadas decisões teleológicas, ou então de impedir
que eles o façam (o espaço da regulação). O processo global da sociedade é
um processo causal, que possui suas próprias normatividades, mas não é
jamais objetivamente dirigido para a realização de finalidades29. Mesmo
quando alguns homens ou grupos de homens conseguem realizar suas
finalidades, os resultados produzem, via de regra, algo que é inteiramente
diverso daquilo que se havia pretendido .30
As contribuições de LUKÁCS revelam-se particularmente profícuas para o método e
hipóteses propostos pela Teoria da Regulação. Para se apreender as especificidades do sistema
social é preciso compreender-se que uma sociedade só pode surgir e se desenvolver sobre a
base de um sistema orgânico e que este último só o faz sobre a base de um sistema inorgânico.
A passagem do sistema inorgânico ao social implica em um nível crescente de complexidade.
Se existem propriedades comuns aos três sistemas que integram a realidade concreta, também
há propriedades que respondem pelas particularidades de cada um deles e que não podem ser
deduzidas logicamente dos outros. Conseqüentemente, métodos e princípios teóricos devem
refletir os padrões de comportamento e reprodução característicos do sistema em estudo.31
29
LIPIETZ (1988, p. 3 e 4) observa que a introdução do conceito de regulação não é suficiente para dissipar as
ambigüidades funcionalistas presentes nas interpretações do conceito de reprodução. Este autor cita então E.
TERRAY (1977), que argumenta que on a fréquemment vu se réintroduire, à la faveur de considérations sur la
reproduction, tout l arsenal périme des interprétations fonctionnalistes: la reproduction est conçue comme une
cause finale dont procède l ensemble des structures et des institutions analysées ( ). Pour éviter cette erreur, il
faut se rappeler d abord que la reproduction ne saurait être un but : seul un sujet peut se proposer un but. Or la
société n est pas un sujet. Il faut se rappeler surtout que ce qui est reproduit, c est précisément et avant tout une
contradiction ( ). Dès lors, se placer du point de vue de la reproduction, c est en définitive comprendre
comment le cycle même de la production et de la distribution remet constamment en présence les deux termes de
cette contradiction qu est le rapport de production fondamental : dominants et dominés, exploiteurs et exploités
( ). La reproduction dans son ensemble est à la fois l enjeu de leur affrontement et son résultat. »
30
As expressões sob negrito entre parênteses são nossas e objetivam mostrar que a abordagem ontológica
lukacsiana converge precisamente para a problemática da regulação das economias capitalistas.
31
Em As Bases Ontológicas do Pensamento e da Atividade do Homem, p. 3, LUKÁCS argumenta que, no que
concerne às especificidades dos sistemas sócio-econômicos: (...) não seremos capazes de captar sua
especificidade se não compreendermos que um ser social só pode surgir e se desenvolver sobre a base de um ser
orgânico e que esse último pode fazer o mesmo apenas sobre a base do ser inorgânico. (...) tornou-se claro que,
entre uma forma mais simples de ser (por mais numerosas que sejam as categorias de transição que essa forma
produz) e o nascimento real de uma forma mais complexa, existe algo qualitativamente novo, cuja gênese não
pode jamais ser simplesmente deduzida da forma mais simples.
acumulação. Um regime de acumulação é uma forma particular e historicamente
determinada do processo de acumulação de capital em uma economia dada. Se expressa num
determinado padrão de crescimento, resultante das especificidades de certa configuração das
estruturas institucionais e organizacionais que codificam o modo de regulação vigente.
Esta problemática foi enfatizada por LUKÁCS ao chamar a atenção para o significado
da dialética necessária entre as categorias universal, particular e singular. Para este autor, de
um ponto de vista metodológico, o movimento analítico do singular ao universal é sempre
mediado pelo particular. Observa LUKÁCS que,
(b)
Sistemas Orgânicos
(e)
(d)
O estatuto teórico das instituições no contexto da reprodução social constitui uma das
temáticas centrais dos trabalhos de BOURDIEU, considerado o sociólogo da reprodução. Em
sua teoria da ação social, este autor propõe o conceito de habitus para compreender-se as
bases da reprodução sócio-econômica. Segundo BOURDIEU,
(...) réintroduire dans le monde des structures sans agent le ferment d instabilité
et de changement que représente la possible déviance des individus ou des sous-
groupes sociaux, sans tomber pour autant dans un monde d agents sans
structure .33
Observa BILLAUDOT (1996, p. 115) que, constatando que a teoria da ação de
BOURDIEU se adequava à problemática regulacionista, LIPIETZ (1988) e BOYER (1995) a
mobilizaram para elucidar um primeiro problema teórico: explicitar como operam as formas
institucionais nos quadros da regulação em curso. Questão que será recuperada na última
seção deste capítulo, onde se encontrarão explicitados os fundamentos para uma
macroeconomia histórica e institucionalista, propostos pela Teoria da Regulação.
32
BOURDIEU, P. e PASSERON, J.C. A Reprodução, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1975.
33
Para um tratamento detalhado dessa problemática, consultar M.BRUNO (1997), em A Macroeconomia da
Teoria da Regulação .
Os aportes de POLANYI, sobretudo em A Grande Transformação, são
particularmente importantes na medida em que também reforçam os fundamentos teóricos da
concepção regulacionista do mercado. O mercado não surge espontaneamente do simples
desenvolvimento das trocas, ele não tem nada de natural e precisa ser instituído. Este
processo de montagem das estruturas sócio-políticas que permitem a lógica mercantil
desenvolver-se incorporando dimensões econômicas e não-econômicas da realidade social
está na base da expansão capitalista nas sociedades ocidentais, sendo viabilizado tanto por
meio de estruturas de dominação e de poder político, quanto por formas explícitas de
violência.
34
Utiliza-se a expressão marxiana para ressaltar que se trata da influência direta do pensamento econômico de
Marx e não de suas interpretações veiculadas por um marxismo ortodoxo ou oficial.
35
No que concerne à área de pesquisa desenvolvida por AGLIETTA, moeda e macroeconomia financeira, torna-
se muito nítida a influência dos trabalhos de MINSKY.
36
Segundo Henri NADEL em La Régulation et Marx (capítulo 3 da mesma obra citada na nota anterior) os
regulacionistas distinguem a teoria marxiana das interpretações marxistas instituídas ou vulgarmente difundidas,
e empreendem um contínuo esforço para se livrar de toda e qualquer relação dogmática com a mesma. Observa
hétérodoxe - d ailleurs plus Kalecki que Keynes, il est retenu que le plein
emploi et la croissance forte et stabilisée sont l exception et non la règle. De
l école des Annales, les recherches prolongent les méthodes et les
enseignements: si toute société a la conjoncture et les crises de sa structure, il
importe d analyser comment les diverses étapes du capitalisme industriel
affectent cycles économiques et grandes crises. »
ainda Nadel, que esse movimento de emancipação marca profundamente os autores regulacionistas. Esta
característica é radicalmente notável num autor fundador como AGLIETTA. Em Régulation et Crisis du
Capitalisme ele demonstra uma adesão explícita à teoria do valor-trabalho desenvolvida por Marx em O Capital,
para, posteriormente, secundarizá-la em prol da utilização da problemática de René GIRARD. Vide
particularmente, AGLIETTA, M. & ORLÉAN, A . em La Violence de la Monnaie. Paris, PUF, 1982 e
AGLIETTA, M. & BRENDER, A . em Les Métamorphoses de la Societé Salariale. Paris, Calmann-Lévy, 1984.
No entanto, contrariamente às críticas mais hostis ao projeto teórico regulacionista, a teoria do valor-trabalho,
sem deixar de ser fundamental para a compreensão das relações econômicas sob o capitalismo, ainda necessita
de desenvolvimentos subsequentes como toda e qualquer teoria com pretensões ao estatuto de cientificidade. A
questão fundamental é que entre a dimensão mais abstrata e oculta, por onde o valor se processa como substância
do mundo das mercadorias e o espaço visível e tangível por onde circulam e atuam os agentes econômicos reais,
há uma distância ou separação que traduz a existência de instâncias que comportam níveis de determinação
intermediários. Tal distância ou separação não pode ser devidamente tratada com a apreensão de suas
consequências macroeconômicas fundamentais, se a análise descarta a necessidade de uma estrutura conceitual
mediadora. Uma consequência direta de tal procedimento, é impossibilitar uma solução satisfatória e consensual
para o interminável problema da transformação dos valores em preços de produção; ou então reduzí-lo a um
mero problema algébrico, quando sua solução demanda muito mais do que uma análise formal; ela necessita de
uma abordagem verdadeiramente dialética. (Os grifos são nossos)
crise, quando as formas particulares de um determinado modo de regulação convertem-se em
fatores de rigidez e de perda de coerência macroeconômica.
NOÇÕES DE
BASE EQUILÍBRIO REGULAÇÃO REGULAÇÃO SÓCIO-
ECONÔMICO BIOLÓGICA ECONÔMICA
CARACTERÍSTICAS
Situação na qual as Conjunto de processos bio-
Conjunto de processos sociais
DEFINIÇÃO diferentes forças econômicas químicos que permitem a
que permitem a reprodução de
se compensam e se reprodução de determinada
uma determinada estrutura de
neutralizam estrutura orgânica
acumulação de capital
DIMENSÃO Naturalista /
Organicista Social
ONTOLÓGICA Fisicalista
« (...) On ne suppose pas non plus que les prix jouent nécessairement un rôle
équilibrant. On cherche à expliciter quels sont les mécanismes qui déterminent
l évolution de l offre et de la demande sociales et à montrer comment la
cohérence de ces évolution est assuré pendant les périodes de croissance, ou
au contraire fait défaut pendant les périodes de crise. Mais cette cohérence n a
rien à voir avec un équilibre statique. »
SELEÇÃO
PELA
Teoria da
EFICIÊNCIA Justiça
Escola Austríaca
(Hayek, Menger) (Posner)
Teoria do Principal /
Agente
Teoria Economia dos
Custos de (J. Stiglitz, Jensen,
Evolucionista Meckling)
Transação
(Nelson e Winter)
(O. Williamson)
Nova Economia Teoria dos Jogos
Institucional Repetidos
(North) (Schelling, Schotter)
COESÃO COORDENAÇÃO
SOCIAL LOCAL DAS
Função estruturante Teoria das AÇÕES
das instituições Convenções
(Polanyi, Granovetter) (Lewis, Thévenot,
Boltanski)
Teoria da Regulação
(Aglietta, Boyer, Teoria da
Economia Neo- Ação Coletiva
Billaudot, Petit, Théret, Institucionalista (Olson)
Lipietz, Coriat) (Hodgson) Teoria das
Escolhas Públicas
Institucionalismo (Buchanan)
Americano
(Veblen, SELEÇÃO
Commons) PELA AÇÃO
COLETIVA
FONTE: Adaptação a partir de Marie Claire VILLEVAL (1995, p. 484) e Robert BOYER (1998, p. 54)
Para uma economia organizada em bases capitalistas, cinco formas institucionais são
consideradas fundamentais na reprodução da estrutura determinante deste modo de produção.
De um ponto de vista teórico, cada uma delas compõe uma unidade de análise ou área da
régulation d ensemble: a) a relação salarial; b) o regime monetário-financeiro; c) a forma da
concorrência; d) as relações Estado-econmia e e) a forma de inserção internacional.
38
Observa BLANCHARD (1991) que « no nosso processo de voltar aos fundamentos , erramos muito, e nos
confundimos a respeito do que se trata a macroeconomia. Ao insistirmos religiosamente em fundamentos micro,
e na derivação dos resultados de gostos e tecnologia , construímos muitos monstros, muitos modelos pesados
com poucos resultados interessantes. Esquecemos a utilidade dos cortes concisos, evitando-os em favor de
derivações completas de primeiros princípios.
capitalismo constatados por BOYER (1992), em que o sistema viabiliza suas condições de
estabilidade e reprodutibilidade, impondo determinadas restrições institucionais à lógica
mercantil.39 Para AGLIETTA (1997),
la dynamique du capital est une force productive gigantesque, mais que c est
aussi une puissance aveugle. Elle ne contient pas en elle-même de principe
d autolimitation, ni d orientation dans un sens qui permet de garantir la
réalisation de l imaginaire des capitalistes : l accumulation perpétuelle.
Autrement dit, le capitalisme a en lui-même la capacité de mobiliser les
énergies humaines pour les transformer en croissance. Il n a pas celle de faire
une cohérence globale du choc des intérêts individuelles. »
Em conseqüência, as formas institucionais emergem como centro de convergência de
toda sorte de tensões provenientes da dinâmica da acumulação de capital. Elas podem
absorver essas tensões e conflitos apenas dentro de certos limites, que uma vez ultrapassados
explodem sob a forma de um questionamento de sua legitimidade. Abre-se então uma fase de
crise e de transformação institucional irreversível.
39
Segundo AGLIETTA (1997), la dynamique du capital est une force productive gigantesque, mais que c est
aussi une puissance aveugle. Elle ne contient pas en elle-même de principe d automilitation, ni d orientation
dans un sens qui permet de garantir la réalisation de l imaginaire des capitalistes : l accumulation perpétuelle.
40
No posfácio de Régulation et Crises du Capitalisme (1997), AGLIETTA argumenta que as formas
institucionais criam processos globais como os encadeamentos macroeconômicos e observa que la négociation
collective modifie la formation des salaires, comment l avènement de la grande entreprise transforme le
système des prix. Bref, l ensemble des médiation contribue à façonner un mode de régulation. La pérennité d un
mode de régulation est celle de la compatibilité des médiations qui lui donnent sa cohérence ». (Os grifos são do
autor).
estrutura conceitual proposta pelas macro-análises regulacionistas, esses fatores de mediação
são denominados por formas institucionais. Estas últimas são estruturas intermediárias que
modificam as relações nas quais se desenvolvem as tensões entre o individual e o social nas
economias organizadas sob os diversos capitalismos.
41
No próximo capítulo as cinco formas institucionais serão retomadas em sua aplicação à economia brasileira.
42
Em termos teóricos mais rigorosos o conceito de relation salariale difere do conceito de rapport salarial e é
por isso que a tradução em língua portuguesa é mantida entre aspas. No capítulo 4, que analisará a evolução das
formas institucionais na economia brasileira, serão explicitadas as definições precisas de cada uma dessas
noções.
emprego, na medida em que cada princípio de divisão do trabalho induz um certo tipo de
mudança técnica e então de evolução da produtividade (BOYER, 1998, p.21).
43
Em seus trabalhos mais recentes, AGLIETTA (2001) chama a atenção para a relevância teórica das relações
entre sistema financeiro e macroeconomia: si la pratique de la finance s écarte de l idéologie
microéconomique de l efficience des marches, les relations entre les systèmes financiers et la macroéconomie
sont des défis encore plus aigus ». Para enfatizar a importância desta problemática, este autor utiliza o conceito
de macroeconomia financeira , onde analisa a questão das finanças, do crescimento e dos ciclos econômicos,
bem como as crises financeiras e a regulação monetária.
da clivagem que instaura e reproduz. O poder das classes que têm a iniciativa de criar moeda
para a transformar em meio de financiamento sobre as classes que não têm acesso à moeda
senão mediante a venda de sua força de trabalho. A relação salarial é a separação que torna
possível um conjunto de indivíduos livres incapazes de se constituir em produtores privados
nos quadros da economia mercantil capitalista. Os assalariados são também indivíduos livres
para perseguirem seus objetivos, mas sempre sob a restrição de privação da propriedade.
Em BOYER (1986, p. 49), o conceito de relação salarial tem por objetivo básico
explicitar as configurações existentes entre diferentes tipos de organização do processo de
trabalho (a dimensão da relação salarial enquanto relação de produção) e os sistemas de
remuneração vigentes (a dimensão da relação salarial enquanto relação de distribuição). Em
termos operacionais, BOYER identifica cinco componentes básicos que permitem caracterizar
geográfica e historicamente uma determinada forma institucional do wage-labour nexus:
44
Os trabalhos de CORIAT e LIPIETZ são particularmente elucidativos dos chamados paradigmas sócio-
técnicos e oganizacionais que respondem pelas particularidades estruturas.
45
Uma das características marcantes do percurso teórico regulacionista é exatamente a ruptura com as
concepções que promovem o determinismo econômico, incluindo neste último o determinismo tecnológico.
base técnica produtiva pode se encontrar associada a diferentes formas de se organizar
o processo de trabalho, incluindo os padrões de remuneração ou sistemas de
pagamento da força de trabalho mobilizada46;
46
Por exemplo, nos EUA e na França a intensidade do trabalho é principalmente imposta por meio de um
controle hierárquico em conjunção com um sistema de pagamentos estruturado com mecanismo de incitação ao
trabalho. No caso da Alemanha e Japão, constata-se a existência de mercados internos de trabalho (conforme
definição proposta por PIORE e DOERINGER) como estímulo à produção.
qualificação é essencialmente formal, pois é acordada pelo contrato de
trabalho;
48
BOYER observa que o conceito de economia participativa (économie de partage) desenvolivdo por M.
WEITZMAN, adere de forma suficiente ao modelo de determinação dos salários japonês. Para maiores detalhes,
vide A Economia Participativa: superando a estagflação de WEITZMAN, Editora da USP, 1984.
49
Como argumenta BOYER [1995, p. 108], as convenções coletivas podem codificar um processo de revisão
automática dos salários nominais em função do custo de vida e deste modo o salário real, escapa, ao menos
transitoriamente, das forças diretas do mercado de trabalho. Uma das características fundamentais que
garantiram a estabilidade durável do modo de desenvolvimento fordista foi a evolução sincrônica entre normas
de produção e normas de consumo, possibilitada por uma configuração muito particular da relação salarial que
promovia, exatamente, a correlação positiva entre salário real, produtividade e custo de vida, além de diversas
formas de salário indireto e transferências sociais, nos quadros do Estado de Bem-Estar.
para a variedade de configurações possíveis deste componente da RS, que pode
combinar intervenções públicas em graus qualitativa e quantitativamente diversos por
país, no que tangem a promoção de setores como o habitacional, a seguridade social
(previdência, assistência e saúde) e educacional. No caso da Alemanha, Inglaterra,
França e Suécia, a participação do setor público como provedor desses bens e serviços
mostra-se maior do que em países como o Japão e EUA, onde tais demandas
permanecem fragmentadas e as respostas, por conseguinte, localizadas. BOYER
[1995, p. 51] observa que no Japão, especialmente nas grandes empresas, existe uma
espécie de company-ist welfare, isto é, um sistema microcentrado de seguridade
social, a fim de atrair e manter os trabalhadores mais qualificados. De forma
surpreendente, as desigualdades sociais não são muito grandes, como era de se
esperar, tendo-se em vista que o país não possui um Welfare State no sentido ocidental
deste conceito.
50
Os grifos pertencem a A. LIPIETZ, em ZERBATO, Michel et alii, Keyésianisme et Sortie de Crise Keynes
contre le libéralisme?, Dunod, Bordas, Paris, 1987.
devem evoluir em níveis que sejam suportáveis pelas estruturas de oferta e ao mesmo tempo
capazes de assegurar a expansão continuada da demanda efetiva que a acumulação de capital
exige.
51
Como foi mencionado na nota 38, os regulacionistas franceses mobilizam dois conceitos próximos na estrutura
conceitual proposta: o de rapport salarial (operacionalizado a nível macroeconômico) e o de relation salariale
(operacionalizado a nível microeconômico e setorial). Todavia, como não há em português dois vocábulos aptos
para uma tal distinção, utilizam-se os termos originalmente em francês ou a tradução inglesa wage-labor nexus.
dimensões como momentos interdependentes no contexto da macrodinâmica da acumulação
capitalista. Respeitando a maior aderência do conceito de rapport salarial ao nível
macroeconômico, a Teoria da Regulação mobiliza então a noção de relation salariale como
uma projeção da RS ao nível das unidades produtivas.
Pode-se então passar dos níveis mais alto de agregação, onde opera o rapport salarial,
para o nível microeconômico e apreender as especificidades da organização da produção e dos
processos de trabalho, explicitando-se inclusive, as fórmulas salariais vigentes. Para CORIAT
[1991 e 1992], isto pode ser facilitado pela noção de relação de emprego que se encontra na
base do contrato salarial. Ela permitirá, através da análise do modo de regulação, a passagem
teórica da relação salarial às normas ou modo de consumo como principal determinante da
demanda agregada.
b) a relação salarial taylorista trata-se da forma típica nas três primeiras décadas do
século XX, onde a difusão de novos princípios de gestão permite uma produção de
massa, sem que o modo de vida dos trabalhadores assalariados seja profundamente
modificado;
Toda transação econômica é conduzida em moeda; todo saldo não nulo entre
receitas e despesas individuais é regulado em moeda.
53
Esta hipótese regulacionista torna-se particularmente importante no debate com as teorias monetaristas que
normalmente são caracterizadas por uma concepção essencialmente redutora da moeda e de suas determinações
no funcionamento das economias capitalistas realmente existentes.
Segundo a definição proposta por AGLIETTA (2001, p. 66), os regimes monetários
são conjuntos específicos de instrumentos e de objetivos intermediários (ligados à política
monetária), que podem estar fundados sobre regras ou repousar sobre julgamentos
discricionários. Tais regimes permitem às autoridades governamentais manterem um controle
relativo sobre a regulação monetária (conjunto dos modos de influência da moeda sobre a
economia, consideradas as estruturas financeiras vigentes). As seguintes definições devem
então ser esclarecidas:
54
No sentido de que a estabilidade monetária é considerada por si mesma condição necessária e suficiente para a
estabilidade macroeconômica. Para os países em desenvolvimento e altamente endividados, as mesmas
condições que promovem a estabilidade de preços têm se convertido em condições de bloqueio permanente da
taxa de acumulação de capital. Isto é particularmente claro nos casos da Argentina e do Brasil.
55
As hipóteses de complementaridade e hierarquia das formas institucionais serão explicitadas no próximo
capítulo.
56
É por esta razão que um banco central não pode pretender garantir de forma duradoura a estabilidade de
preços, com base apenas na gestão monetária. Uma vez que a condição de estabilidade macroeconômica
permanece dependente da evolução das estruturas reais em que se baseiam a acumulação de capital produtivo, os
fatores que mantêm a estabilidade monetária tendem a se converter em obstáculos endógenos ao crescimento
econômico. Compreende-se portanto, por que o objetivo de geração de emprego e crescimento econômico
estejam presentes na constituição do Federal Reserve nos EUA e não apenas a manutenção da estabilidade de
preços.
institucional de inserção no regime internacional e das estruturas que sustentam a
acumulação produtiva nos setores não-financeiros;
Observa BILLAUDOT (2000, p.21) que a concorrência à que se refere esta forma
institucional é concernente ao processo concorrencial no mercado de bens e serviços. A
concorrência no mercado de capitais e no mercado de trabalho serão consideradas,
respectivamente, na forma institucional do regime monetário-financeiro e na relação salarial.
Considerando-se que nas economias capitalistas as unidades produtivas permanecem
descentralizadas, busca-se explicitar a forma como as empresas tomam suas decisões
(quantidades produzidas e preços de oferta) que lhes permite desenvolver procedimentos de
coordenação das atividades de produção e distribuição.
Em termos teóricos, pode ser relevante trabalhar-se com uma partição do sistema
econômico em um setor concorrencial (price-taker), normalmente composto de micro,
pequenas e médias empresas; e um setor oligopolista (price-maker), caracterizado pelo
predomínio das grandes empresas nacionais e transnacionais. Em uma análise dos fatores que
determinam a formação de preços, esta dualidade das estruturas de mercado pode ser uma
aproximação razoável, considerando as condições reais de funcionamento das economias
capitalistas atuais. Mas um terceiro setor poderia ser definido a partir da consideração da
existência de bens públicos e meritórios e onde a participação do Estado, seja diretamente ou
por meio de suas ações regulatórias, termina por imprimir determinadas particularidades no
provimento desses produtos e no modo de funcionamento dos capitais privados envolvidos.
O estudo das funções fundamentais do Estado moderno pode ser apreendido como
instância de articulação do processo econômico e político em uma dupla dimensão: o nacional
e o internacional. Em sua dimensão nacional, o Estado pode ser analisado como a instância
reguladora e organizadora de um modo particular de desenvolvimento capitalista,
correspondente aos interesses de determinadas classes sociais, que traduzem sua hegemonia57
através de formas particulares de legitimação.58 Em sua dimensão internacional, pode ser
57
Segundo GRAMSCSI deve-se reconhecer a dimensão ideológica e institucional da hegemonia, que se
distingue da coerção direta (o exercício do poder pela violência ou imposição). Uma classe dominante é
hegemônica quando, pelo controle das instituições da sociedade civil (Escola, mídia, religião, etc.), é capaz de
difundir seus valores em toda a sociedade e exerce assim sua orientação cultural . Neste sentido, uma certa
legitimidade é conferida ao autor hegemônico.
58
Conforme ÉCHAUDEMAISON et alii (2000), a legitimidade é a qualidade do que é aceito e reconhecido
pelos membros de uma sociedade. É necessário distinguir a legitimidade da legalidade que se refere às
disposições e procedimentos que estão conforme o ordenamento jurídico. Para Max WEBER, a legitimidade que
confere a autoridade se funda sobre a tradição, sobre o carisma ou sobre a autoridade racional-legal (conjunto
das regras legais consideradas racionais e então válidas), característica das organizações modernas. Ela se aplica
primeiramente ao poder estatal. Da legitimidade do Estado deriva a de seus atributos. Sociólogos
contemporâneos como Pierre BOURDIEU, recuperam a legitimidade nos quadros das relações de dominação
entre grupos sociais. Toda instituição busca adquirir e/ou conservar uma legitimidade: designa-se por
legitimação o processo aberto pelos atores sociais para fazer-se reconhecer em sua competência, seu estatuto ou
poder que eles detêm.
analisado como uma instância de articulação econômica e política da formação social
nacional com o sistema capitalista mundial (AFONSO e SOUZA, 1977).
59
Mais detalhes dessa problemática podem ser encontrados em BOYER (1999), L État, marche et
développement: une nouvelle synthèse pour le XXIe siècle ?. Cepremap, Paris, 1999.
Conseqüentemente, é através da forma institucional do Estado que a Ciência Econômica
converte-se numa praxeologia.60
A importância do Estado reside, sobretudo no lugar que esta forma institucional ocupa
no processo de codificação das estruturas que definem os modos de regulação. Como observa
AGLIETTA (1997), a existência do Estado é a expressão política do caráter incompleto da
regulação sócio-econômica. O Estado surge como o totalizador, a síntese das tensões sociais
que atravessam as formas institucionais estabelecidas, sem poder jamais abolir o caráter
contraditório entre regulação e crise, pois estas são de fato dois pólos indissociáveis de
transformação da economia e sociedade. Mas ele não é nenhum sujeito exterior à economia,
nem tampouco um conjunto de instrumentos à disposição de uma determinada classe social.
60
As ciências praxeológicas são aquelas que participam simultaneamente do descritivo e do normativo. Neste
sentido H. JAPIASSU [1975, p. 63] observa que ...a análise epistemológica (...) leva-nos a reconhecer que a
economia, enquanto ciência teórica, não está mais dissociada de suas técnicas de aplicação: teoria e prática não
apenas se dão sentido, mas também se determinam reciprocamente. E é por isso que a economia é, hoje, uma
disciplina intervencionista, quer dizer, uma praxeologia ....
tirer du savoir des sciences spécialisées dans la question du politique les
éléments nécessaires à la saisie de l État comme forme structurelle à la fois
partie prenante de l économie, à travers les finances publiques, et constitutive
de l environnement économique marchand, à travers le jeu de l ensemble des
politiques mises en uvre »(THÉRET, 1995).
O Estado pode assumir diversas formas em suas relações com a economia. Cada forma
transitoriamente estável será a expressão de um determinado regime político, que se apresenta
com um certo grau de desenvolvimento da cidadania. Em correspondência com esse regime
político, a análise identificará um certo regime econômico ou regime fisco-financeiro. Este,
por sua vez, deverá estar em coerência com o regime de acumulação no qual está inscrito
(BILLAUDOT, 1996, p.58).
61
Este parece ser o caso dos países em desenvolvimento altamente endividados, onde a dívida pública torna-se a
base para uma acumulação financeira e patrimonial, freqüentemente às expensas da acumulação nos setores
diretamente produtivos.
valores que influenciam a representação que os diversos atores sociais desenvolvem
acerca do sistema sócio-econômico em que operam;
62
Este caso tem sido analisado por THÉRET (1996), com relação à crise do Estado Providência que pressupôs
um regime fisco-financeiro particular, correspondente ao modo de desenvolvimento fordista. Entre outras
características, este regime fisco-financeiro permitiu a conjunção de um elevado crescimento da produção com
níveis igualmente elevados da carga tributária e das despesas públicas.
de mercadorias, como de localização das produções (via investimento direto estrangeiro) ou
de financiamento de fluxos e saldos externos.
63
Pode-se citar como exemplo os casos da China e do Brasil. Ambas as economias respondem de maneira
64
F. FOURQUET. Le régime international est toujours la forme institutionnelle dominante. Forum de la
Régulation 2003, Paris.
O estatuto teórico do conceito de regime internacional seria então de difícil delimitação. Para
FOURQUET, dever-se-ia defini-lo como um sistema ou uma outra forma institucional?
65
Conforme ÉCHAUDEMAISON et alii, um sistema monetário-financeiro é um conjunto de regras e de
instituições que definem os modos de determinação dos fluxos de moedas e a natureza das reservas
internacionais. Tal sistema pode ser codificado quando é a resultante de uma negociação internacional (caso do
sistema de Bretton Woods) ou então resultar de decisões unilaterais dos Estados participantes. Será unificado,
quando todos os países participantes adotam um mesmo regime de câmbio. No caso em que alguns membros
adotam regimes cambiais diferentes, o sistema será considerado híbrido.
b) Uma determinada forma de inserção no regime internacional resulta da
confluência de fatores internos à economia nacional e de fatores provenientes das
estruturas monetárias e financeiras que compõem o ambiente externo aos países,
consubstanciando-se no cenário político e econômico sobre o qual desenvolvem-se
as relações internacionais. Estes últimos fatores podem pré-existir às economias
nacionais (por exemplo, restrições políticas e econômicas impostas por nações mais
desenvolvidas às menos desenvolvidas)66 e então escapar parcial ou completamente
ao controle dos Estados nacionais. Conseqüentemente, uma configuração particular
da forma institucional de inserção no regime internacional será responsável pelo
conjunto das regularidades econômicas resultantes das relações comerciais e
financeiras de uma formação social nacional com o resto do mundo, refletindo
tanto as imposições das nações hegemônicas quanto o grau de autonomia relativa
que a economia nacional pode dispor.
66
Uma vez que determinadas estruturas econômicas e políticas são típicas de países desenvolvidos, elas ou não
se encontram em países considerados subdesenvolvidos ou se apresentam sob configurações apenas
embrionárias e pouco eficazes. No entanto, a existência destas estruturas organizacionais e institucionais lhes
confere vantagens em termos de poder político, sanções econômicas ou demais formas impositivas direcionadas
aos países economicamente mais fracos. Este fato torna-se muito evidente no plano das negociações ao nível da
Organização Mundial do Comércio e no que tange à criação de blocos comerciais e mercados comuns.
cientificamente estéreis, reconhece-se a relevância desta perspectiva no âmbito da teorização
macroeconômica. Buscou-se mostrar que a maior adequabilidade da noção de regulação ao
estudo das macro-regularidades econômicas, vis-à-vis à concepção neoclássica de equilíbrio, é
antes uma questão fundamentalmente ontológica que determinará a escolha do método e do
percurso teórico. Utilizando-se da terminologia proposta por SCHUMPETER (1954), trata-se
de uma certa visão ou concepção acerca das características específicas do objeto analisado.
2.1 - Introdução
Cada uma das cinco formas institucionais, definidas no capítulo anterior, corresponde
a uma área da regulação global ou macroeconômica (DELORME, 1990). Igualmente referem-
se a campos de análise ou áreas do programa de pesquisa regulacionista67. As formas
estruturais ou institucionais são, portanto as componentes fundamentais de todo modo de
regulação. Uma vez estabilizado, o modo de regulação responderá pelas particularidades de
um determinado regime de crescimento ou de acumulação.
67
De uma maneira geral, pode-se considerar que autores como M. AGLIETTA e A. ORLÉAN concentram seus
esforços nas análises da forma institucional da moeda ou dos regimes monetário-financeiros. B. CORIAT
desenvolve seus trabalhos no contexto dos paradigmas tecnológico-industriais ou das formas de organização da
produção e do processo de trabalho. B. THÉRET e MARQUES-PEREIRA centram-se nas análises das relações
Estado-economia. Enquanto Robert BOYER, por sua preocupação em desenvolver as bases teóricas para uma
macroeconomia histórica e institucionalista, torna-se o mais eclético dentre os autores regulacionistas, uma vez
que deve necessariamente considerar as interdependências estruturais das cinco grandes áreas da régulation
d ensemble.
determinada forma de regulação. Conseqüentemente, o estatuto teórico do conceito de modo
de regulação encontra um fundamento ao mesmo tempo lógico e histórico. As crises existem e
são historicamente recorrentes, mas os períodos de crescimento e de estabilidade estrutural
são igualmente observáveis. As análises devem então explorar os fatores que garantem a
estabilidade da regulação e do regime de acumulação que lhe corresponde e também
identificar as mutações estruturais que caracterizam os períodos de esgotamento e crise das
macro-regularidades em que se baseavam.
68
Em La Trame, la Chaine et la Régulation: um outil pour les sciences sociales (1988), LIPIETZ mobiliza este
fragmento do pensamento de Heráclito para ilustrar o conteúdo dialético da idéia de regulação aplicada em
economia.
Assegurar a compatibilidade dinâmica de um conjunto de decisões
descentralizadas, sem que seja necessário a interiorização pelos atores
econômicos, dos princípios de ajustamento da totalidade do sistema.
assegurar a reprodução das relações sociais que estruturam cada uma das cinco
formas institucionais.
69
Esta parte baseia-se também nos seguintes trabalhos de Robert BOYER, La crisis en una perspectiva
histórica: algunas reflexiones a partir de una análises a largo plazo del capitalismo francés, Universidad
Autónoma Metropolitana, México, 1984; La flexibilité du travail en Europe, La Découverte, 1986 e em La
formación del salario en la perspectiva histórica: la experiencia francesa.
3º Período o período entre-guerras (1918-1939) registra a intensificação acelerada da
monopolização dos capitais, porém, ainda sem mudanças essenciais dos mecanismos
de ajustes característicos de uma regulação concorrencial. Trata-se de uma fase de
transição ou de gestação de uma nova forma de regulação.70
Uma das conseqüências das transformações sociais e econômicas deste movimento foi
a elevação da produtividade também no setor agrícola. Neste período, a escassez de gêneros
alimentícios é substituída pela abundância. Os modernos business cycles industriais emergem
como novo padrão para a evolução macrodinâmica da acumulação capitalista. As crises
econômicas tornam-se endógenas ao processo de acumulação de capital e assumem a forma
70
As análises empíricas constatam a intensificação dos processos de centralização (um resultado direto da
acumulação de capital que se traduz num aumento da escala de produção, logo do capital social) e de
concentração (fusão de capitais já existentes, seja através da concorrência, seja pela formação de sociedades
anônimas e que não implica em aumento do capital social; é apenas redistribuição do capital já existente) nas
fases de crise econômica. E é exatamente o que aconteceria no período entre-guerras com os desdobramentos da
grande crise de 1929/30 no que concerne à aceleração da tendência à monopolização de inúmeras empresas,
indústrias e bancos.
geral de crises de superprodução (ou crises de superacumulação, considerando-se as demais
formas do capital social).71 Um outro macrofenômeno de grande importância teórica refere-se
às conseqüências inflacionistas das fases de expansão em contraposição aos movimentos
deflacionistas característicos das recessões e crises. Em um contraste bem nítido com a
regulação à antiga, a maior parte das variáveis macroeconômicas tornam-se pró-cíclicas neste
período.
71
Os conceitos de superprodução e superacumulação não são coincidentes. A superprodução é um epifenômeno
da superacumulação como expressão de uma superprodução generalizada dos capitais em suas três formas
básicas (capital monetário, capital-mercadoria e capital produtivo). Em O Capital e nas Teorias da Mais-Valia,
MARX desenvolve aportes fundamentais para a análise das crises de superprodução (superacumulação). No
entanto, MARX não chegou a sistematizar em algum trabalho especial, as principais conclusões teóricas
levantadas pela problemática das crises cíclicas sob o modo de produção capitalista.
72
Note-se que o princípio da demanda efetiva em KEYNES [1936] refere-se exatamente a uma demanda
solvente antecipada ou prevista pelos empresários e investidores, o que, como será visto, pressupõe a
estabilidade do regime de acumulação e do correspondente modo de regulação. À página 51 da Teoria Geral, ele
argumentara que a demanda efetiva é simplesmente a renda agregada (ou produto) que os empresários esperam
receber, incluídas as rendas que fazem passar às mãos dos outros fatores de produção, por meio do volume de
emprego corrente que resolvem conceder. A função de demanda agregada relaciona várias quantidades
hipotéticas de emprego com os rendimentos que se espera obter do volume de sua produção; e a procura efetiva é
um ponto na função da demanda agregada que se torna realidade porque, levando em conta as condições da
oferta, ela corresponde ao nível de emprego que maximiza as expectativas de lucro do empresário.
2.4 O conceito de paradigma tecnológico-industrial
As a first approximation, the 1920s and the 1960s can be said to belong to
the same technological paradigm. But, then, how do we explain why growth
replaced stagnation as a long-run tendency, and that, contrary to
contemporary fears, the collapse of 1929 did not repeat itself in the 1950s ?
The answer of the régulation approach is simple enough: due to drastic
social and political transformations, a new régulation replaced the old one
and made rapid technological change, quasi-full employment and sustained
growth compatible.
73
Baseando-nos em Robert DELORME [ 1991, p. 6], a palavra paradigma expressa a existência de princípios
organizacionais dominantes que, como atestam as pesquisas em Administração, são fundamentais ao
equacionamento do problema da produtividade do trabalho. Segundo A. LIPIETZ [1991, p. 101], o termo deve
ser entendido tanto em seu sentido grego original ( exemplo ou modelo predominante) como em sua acepção
moderna em linguística e epistemologia ( conjunto de termos unificados por uma noção comum, como as folhas
de uma árvore ). Ainda conforme LIPIETZ, paradigma é, em primeiro lugar, um termo gramatical: o conjunto
de palavras que se podem substituir entre si mantendo uma frase do mesmo gênero. Por exemplo, em tenho uma
caneta azul , pode-se substituir azul por outros adjetivos de cor; ter-se-á assim declinado o paradigma das
cores. Mas tenho uma caneta funcionar não faz sentido; saiu-se do paradigma. Em paradigma há portanto a
idéia de um tronco comum suscetível de variantes, mas dentro de certos limites.
QUADRO 2 - LÓGICA, IMPLICAÇÕES E CARACTERÍSTICAS DE QUATRO GRANDES MODOS DE REGULAÇÃO.
1) LÓGICA DE Lógica mercantil é o Princípio de divisão e de Circuito econômico formado Negociações entre atores
principio organizador mobilidade em grandes pelas intervenções públicas sociais quanto à regulação
CONJUNTO E PRINCíPIO
básico das formas unidades econômicas e na produção, demanda e dos componentes da
HIERÁRQUICO institucionais diversificado quanto à codificação institucional sociedade e da economia
produção
Ampla descentralização das Compromisso salarial Tendência à uma forte Centralização das
WAGE-LABOR negociações salariais, micro-centrado na grande institucionalização das regras negociações coletivas sob
individualização das empresa, mas em matéria de emprego, restrição da
NEXUS
2) IMPLICAÇÕES PARA AS FORMAS INSTITUCIONAIS
Limitação da concentração pela Relativamente intensa sobre Moderada pois canalizada Pequeno número de
FORMAS DA legislação, recomposição de o mercado de produto e pelos regulamentos públicos grandes empresas,
CONCORRÊNCIA uma concorrência oligopolista à entre grande empresas em ou das associações fortemente
outra múltiplos mercados profissionais, forte internacionalizadas e
concentração do capital submissa à concorrência
Independência do banco central, Papel do banco principal e Crédito e política monetária Financiamento
REGIME lógica do mercado financeiro, do keiretsu no financiamento fortemente controlados pelo principalmente bancário e
MONETÁRIO- multiplicação das inovações e alocação da capital. Forte Estado. Fraca autonomia do política monetária
FINANCEIRO financeiras, forte controle das controle das autoridades banco central, papel monitorando o objetivo de
empresas pelas finanças publicas (Ministério das determinante das finanças pleno emprego e de
finanças e banco central) competitividade
Fragmentado por agências e Assegura o fornecimento dos Forte desenvolvimento Multiplicidade das
FORMA instâncias de controle, forte serviços coletivos e quantitativo das intervenções intervenções públicas:
DO limitações a sua extensão pela coordenações não públicas: empresas transferências financeiras e
ESTADO concorrência sobre o mercado viáveis pela grande empresa. nacionalizadas, regulamentações amplas e
político Tamanho reduzido mas papel regulamentação, despesas disciplinadoras
significativo públicas, seguridade social, etc.
FORMA DE Adesão aos princípios do livre Padrão de comércio e finanças Forte controle estatal das
Aceitação do princípio de
comércio, relativa autonomia condicionado pela busca de relações exteriores(tarifas,
INSERÇÃO competitividade através da
segundo o estatuto e tamanho desenvolvimento tecnológico e normas, cotas, restrições aos
INTERNACIONAL inovação tecnológica e
econômico fluxos financeiros)
organizacional
Uma regulação amplamente Ajustamentos a nível meso- Estado no centro dos Negociação tripartite
3) CARACTERISTICAS DA mercantil sob controle de econômico da grande ajustamentos macroeconômicos, (patronal-sindicatos-Estado)
REGULAÇÃO dispositivos jurídicos empresa, mercado e Estado mercados e firmas se adaptam no centro das formas
sofisticados tem um papel secundário às regras do jogo institucionais
74
Os avanços nesta área do programa de pesquisa regulacionista devem-se particularmente aos trabalhos
de Benjamin CORIAT em L atelier et le chronomètre: essai sur le taylorisme, le fordisme et la
production de masse [1979], L atelier et le robot: essai sur le fordisme et la production de masse à l age
de l electronique [1990] e Penser a l envers: travail et organisation dans l entreprise japonaise [1991],
além de outros obras sobre a mesma temática. Tais trabalhos apontam para o advento de novas bases
técnicas produtivas pós-fordistas, possibilitadas pela tecnologia microeletônica e informática com sua
vasta aplicabilidade multisetorial.
que tende a reduzir ou eliminar os impactos das variáveis sócio-políticas e institucionais
na emergência, difusão e transformação dos sistemas produtivos e organizacionais.
75
A posição de H. SIMON [1982] converge substancialmente para a problemática da regulação. Segundo
este economista, desde que a maximização do lucro e a eficiência interna são postuladas por hipótese, há
muito pouco ou absolutamente nenhum lugar na teoria (econômica clássica da firma) para as
características institucionais familiares às empresas reais. E podemos acrescentar, tais características
institucionais e organizacionais estão em correlação sistêmica com o regime de acumulação e com o
modo de regulação vigentes, impactando diretamente sobre os determinantes do salário, da produtividade
e da própria performance macroeconômica.
impactos macroeconômicos dos sistemas técnico-organizacionais tais como o
taylorismo (e também o fordismo), estão indissociavelmente ligados ao caráter
monopolista ou oligopolista do capitalismo avançado.
O potencial heurístico deste conceito pode ser avaliado também por sua
dimensão interdisciplinar. Ele permite às análises regulacionistas extrair as
conseqüências micro e macroeconômicas das mudança técnicas e organizacionais sobre
a estabilidade e a transformação de um modo de desenvolvimento (enquanto conjunção
de um modo de regulação com um regime de acumulação), num quadro teórico onde
Economia, Gestão e Sociologia do Trabalho podem ser mobilizadas conjuntamente.
Questões como as relações entre formação do salário e os determinantes da
produtividade não podem ser teorizadas de forma consistente, se os espaços produtivos
reais são abstraídos ou reduzidos a fatores provenientes de determinações puramente
tecnológicas ou mercantis.
c) uma divisão do valor que permita a reprodução dinâmica das diversas classes
ou grupos sociais;
78
Este conceito foi utilizado pela primeira vez por Michel AGLIETTA em Régulation et crise du
capitalisme, 1976, para apreender as transformações que o desenvolvimento do capitalismo operava a
nível do modo de vida assalariado, em termos dos padrões de gastos que os trabalhadores incorriam
conforme a evolução histórica do capital industrial. Neste sentido, para AGLIETTA, o conceito de modo
de consumo permitiria estudar as conexões entre produção e demanda social com relação aos impactos
sobre o processo de acumulação de capital, quando a composição dos gastos dos assalariados era
substancialmente modificada. Quanto à acumulação intensiva fordista, seu modo de consumo típico
caracteriza-se por um consumo de massa de produtos uniformes e trivializados, que permitirá uma
expansão acelerada do setor de bens de produção em uma proporção compatível com o crescimento do
setor de bens de consumo. Trata-se pois de um consumo de massa adequado ao desenvolvimento de uma
produção igualmente de massa e padronizada.
79
É interessante do ponto de vista teórico, que KEYNES, na Teoria Geral, chamara a atenção para a
grande volatilidade do investimento privado numa economia coordenada exclusivamente por mecanismos
de mercado. Ele se preocupara com as conseqüências adversas que um crescimento irregular dos
investimentos teria sobre a evolução da demanda efetiva, afetando os níveis de renda e produto, caso
fossem deixados às oscilações próprias de um sistema econômico do tipo laissez-faire. Com isso
KEYNES abria o espaço teórico e depois político, para as intervenções do Estado com relação à busca da
estabilidade macrodinâmica da acumulação.
80
Segundo o INSEE - INSTITUT NATIONAL DE LA STATISTIQUE ET DES ÉTUDES ÉCONOMIQUES,
a produtividade aparente do trabalho mede a eficácia produtiva dos trabalhadores empregados e define-
se pela razão entre valor adicionado e efetivos empregados; trata-se do valor adicionado por pessoa ativa
empregada. O INSEE insiste na palavra aparente , já que nada indica exatamente a origem do valor
adicionado, o qual tanto pode progredir devido à novas máquinas e equipamentos que melhorem na
aparência a eficácia do trabalho, como em resultado de maior intensidade do trabalho (cadências,
eliminação de desperdícios), de melhor organização, da incorporação nos produtos de inovações que
valorizam os respectivos preços, etc.
QUADRO 3 - REGIMES DE ACUMULAÇÃO EXTENSIVA E INTENSIVA
NATUREZA DA
ACUMULAÇÃO COM DOMINANTE COM DOMINANTE
EXTENSIVA INTENSIVA
NATUREZA
DO CONSUMO
81
Como é hoje o caso das grandes empresas multinacionais, que possuem os seus próprios departamentos
de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou então financiam instituições com o mesmo objetivo. Do ponto
de vista teórico, trata-se de uma fase na evolução histórica do capitalismo, onde a ciência e a tecnologia
convertem-se completa e efetivamente em capital a serviço da valorização e da acumulação.
82
Este problema seria parcialmente contornado com a busca de novos mercados externos e com o
processo histórico conhecido por neocolonialismo. Todavia, com a elevação dos ganhos de produtividade
também no setor agrícola, os preços dos gêneros alimentícios, que correspondem a uma parte significativa
dos bens-salário, fariam baixar o custo de vida. Em consequência, a parcela do salário destinada aos bens
de consumo duráveis seria aumentada em favor da expansão do capital industrial.
Como o crescimento é obtido preponderantemente por meio da intensidade do
trabalho e, sobretudo, do prolongamento da jornada de trabalho e do assalariamento de
novos contingentes de trabalhadores, possibilitado pela ampliação das plantas
industriais - a produtividade média e os salários reais permanecem quase estagnados
entre 1825 e 1920.83 Trata-se de uma das características marcantes da acumulação
extensiva, imprimindo grande instabilidade conjuntural à macrodinâmica do período.
83
É necessário neste momento, distinguir-se entre produtividade e intensidade do trabalho. Partindo-se de
uma jornada de trabalho fixa, se o quantum de produto por trabalhador se eleva em função da introdução
de novas tecnologias, materiais e processos de produção, porém reduzindo ou no mínimo permanecendo
constante o desgaste psicofísico do operário, então pode-se dizer que ocorreu um incremento puro de
produtividade. Por outro lado, se a produtividade elevar-se por meio de um maior desgaste físico e mental
do trabalhador, permanecendo inalteradas, a jornada, a base técnica e as formas organizacionais
envolvidas no processo de produção, então diz-se que ocorreu tão somente um aumento da intensidade do
trabalho. Todavia, na prática os dois fenômenos se intersectam, e podem de fato ocorrer simultaneamente,
tornando muito complexa a separação entre intensidade pura e produtividade pura do trabalho. Uma
análise científica desta questão, que objetivasse delimitá-las e mensurá-las, necessitaria - além dos aportes
da economia, da gestão ou da engenharia de produção - de incursões da psicologia, da ergonomia ou da
medicina do trabalho. Note-se que o conceito de produtividade aparente utilizado pelo INSEE e pelo
IBGE, procura justamente contornar esse problema ao conjugar em uma só expressão, tanto a
produtividade pura quanto a intensidade do trabalho.
unstable (look at inter-war production statistics).84 Therefore this is not a
viable mode of development in the long run.
Este é um dos principais aportes regulacionistas para a análise da crise de
1929/30 (a Grande Depressão ). Se a acumulação ultrapassasse as capacidades da
demanda social solvável, tratar-se-ia de uma crise típica de superprodução. No entanto,
ela não se explicaria pelo subconsumo, mas por uma evolução da demanda incompatível
com as necessidades da valorização do capital, isto é, tratar-se-ia de um consumo
insuficiente, relativamente ao processo de acumulação e não em relação às necessidades
sociais.85
84
Reproduzidas no Quadro 2.
85
Nos Gründrisse, vol. I, há uma passagem de MARX extremamente elucidadora da problemática das
crises de superprodução ( ou superacumulação) que são normalmente interpretadas como se fossem crises
de subconsumo . À página 278, MARX argumenta que a superprodução geral terá lugar não porque os
trabalhadores consumam, relativamente, muito poucas mercadorias ou os capitalistas muito poucas das
mercadorias que hão de ser consumidas, senão porque de ambas se produziu em demasia; não demasiado
para o consumo, senão para assegurar a relação correta entre o consumo e a valorização; demasiado para
a valorização , portanto para garantir no mínimo a taxa média de lucro. Observe-se então, que o lugar
teórico e empírico de um modo de regulação é exatamente este: assegurar, mesmo provisoriamente, a
evolução dessa relação correta entre produção e consumo, como pressuposto da continuidade da
acumulação capitalista. Avaliar em que medida um determinado modo de regulação é ou não, bem-
sucedido nesta adequação macrodinâmica, que estabiliza o regime de acumulação, é o mesmo que
apreender suas particularidades históricas com relação a um período dado do desenvolvimento do
capitalismo. Como se expôs na primeira seção, LIPIETZ [1987] reconhece que a regulação permite a
unidade sempre relativa apesar da contradição, sempre absoluta, quer dizer, apesar da tendência imanente
à separação entre produção e circulação.
simultaneamente, um determinante-chave da demanda agregada, via efeito
acelerador do investimento. Eis um momento de explícita contradição no
âmbito da macrodinâmica da acumulação capitalista. Reduzir o salário para
aumentar o lucro pode traduzir-se num bloqueio dos investimentos produtivos
que permitem precisamente a obtenção do próprio lucro.86
86
O efeito acelerador deve-se à relação entre variações no investimento (I) provocadas por variações nos
gastos dos consumidores (C), podendo-se sintetizar por dI = a.dC, onde a é o fator ou coeficiente de
aceleração. Este fenômeno desenvolve-se potencializando o efeito multiplicador keynesiano, onde um
aumento nos investimentos gera uma elevação proporcionalmente maior na renda (Y). Sendo dY= k. dI, k
é o multiplicador dos investimentos. Como ocorre em muitos dos macrofenômenos, trata-se de mais um
caso de reciprocidade causal, onde o efeito se converte em causa em um segundo momento, reforçando-se
cumulativamente as conexões entre renda e investimento.
2.6 Regimes de produtividade e regimes de demanda
Os ensinamentos dos modelos de crescimento cumulativo (KALDOR, 1970,
1972, 1980) contribuíram para a formalização regulacionista, na medida em que
proporcionaram um quadro de referência geral e uma matriz de modelizações
específicas (PETIT, 1995). A idéia de reciprocidade causal implícita em um processo de
crescimento cumulativo permite o desenvolvimento de análises mais aptas a apreender
as formas de articulação das estruturas de produção e de demanda, fora dos
automatismos e dos reducionismos veiculados pelos modelos de origem neoclássica.
87
Jean ARROUS, em Les Théories de la Croissance, fornece uma síntese das abordagens em termos de
causalidade cumulativa , desde os primórdios com A. Smith e A. Young até os trabalhos de Kaldor.
Os modelos de crescimento cumulativo combinam, portanto duas hipóteses
básicas:88
produtividade PR ; PR F Y
Hipótese 2: os ganhos de produtividade induzem a expansão da demanda
agregada. Y G PR
Para ser sustentável, um processo de crescimento cumulativo deriva de uma
compatibilidade estrutural entre um regime de produtividade e um regime de demanda.
A condição de estabilidade requer que a sensibilidade da demanda com relação à
produtividade seja limitada para qualquer elasticidade dada da produtividade com
relação ao crescimento do produto. Para a Teoria da Regulação este modelo tornou-se
particularmente relevante porque permite explicar porque um processo de crescimento
cumulativo não pode ocorrer se os mecanismos de distribuição de renda não se adequam
ao regime de produtividade vigente. BOYER (1988) e BOYER e PETIT (1989),
mobilizam os dois gráficos abaixo para ilustrar as duas curvas representativas dos
regimes de produtividade e de demanda. No primeiro caso, trata-se de um regime de
acumulação dinamicamente estável, pois a inclinação da curva do regime de
produtividade(II) é superior à do regime de demanda(I). No segundo, o regime é
instável, pois não há possibilidade de convergência para um equilíbrio das tendências da
produção e da demanda agregada.
88
Uma síntese desses modelos pode ser encontrada em BOYER e PETIT (1989), Kaldor s Growth
Theories: Past, Present and Prospects, CEPREMAP, n° 8905, february, 1989.
d) Qualificação do trabalho;
PR PR
II I
I II
Y Y
Configuração Configuração
macrodinamicamente estável macrodinamicamente instável
89
BOYER e PETIT (1989, p. 8) observam que the cumulativeness of such a process is usually captured
by adding an endogenous improvement of total factor productivity into conventional production
functions. This is measured by an index of cumulative past production, at micro or macro level.
Analytically, this is not exactly similar to productivity growth relationships, but the flavour is quite
similar indeed.
a análise das mudanças estruturais. Seus pontos fortes em uma perspectiva
regulacionista são os seguintes:
90
Em outros termos, o sistema econômico estaria funcionando sob a lei de Say e a noção de regulação
tal com foi definida perderia completamente o estatuto teórico.
às concepções que promovem o determinismo tecnológico, pois se abstraem
das influências das variáveis institucionais e mais amplamente, dos fatores
considerados convencionalmente como extra-econômicos ;
Evolução da
Aumento da Produtividade
Produtividade Horária
Global do Trabalho
Evolução da
Duração Anual
Média do Trabalho
91
Conforme BOYER e JUILLARD (1991, p. 14), « the technological becomes local, not in the
geographical sense but due to the fact that only a very limited number of potential innovations are
explored at any give period of time : the ones which are in line with the prevailing paradigm, itself
function of the economic environment and dominant social relations. This apparently invalids any grand
and atemporal production function. Consequently, it might be erroneous to infer any global and long run
transformation in factor elasticity or technical change neutrality from a given local transformation
occurring at a given historical period.
quando ambas evoluem à taxas constantes. Esta definição provém da influência das
análises kaldorianas em termos de modelos de crescimento cumulativo. A lei de Kaldor-
Verdoorn está portanto contida no conceito de regime de produtividade uma vez que a
melhora da produtividade estrutural é função do ritmo de crescimento tendencial da
economia.
REGIMES DE PRODUTIVIDADE
COM EFEITO LUCRO COM EFEITO LUCRO COM LIMITADA COM ELEVADA
IMPORTANTE LIMITADO INDEXAÇÃO DOS INDEXAÇÃO DOS
SALARIOS À SALARIOS À
PRODUTIVIDADE PRODUTIVIDADE
FONTE: Elaborado a partir da classificação proposta por BOYER (1988, 1992, 1995 e 1998).
Em termos operativos, isto significa que as formas institucionais que compõem
as áreas da régulation d ensemble devem ser analisadas em seus impactos sobre a
formação da demanda agregada (determinação da massa salarial, modo de consumo,
gastos públicos, etc.). Conseqüentemente, o regime de demanda pode apresentar
inclinação positiva ou negativa com relação à evolução da produtividade, determinando
as condições de estabilidade dinâmica do regime de crescimento.
REGIMES DE
TIPO
DEMANDA TIPO TIPO TIPO
CLÁSSICO CLÁSSICO FORDISTA FORDISTA
PURO HÍBRIDO PURO HÍBRIDO
CARACTERÍSTICAS
Impulsão pelos Impulsão pela Impulsão pela Impulsão pelos
PADRÃO DO lucros demanda demanda lucros
INVESTIMENTO (profit-led) (demand-led) (demand-led) (profit-led)
Determinação Determinação Determinação Determinação
FORMAÇÃO DOS concorrencial concorrencial não- não-
SALÁRIOS concorrencial concorrencial
(c/ indexação (c/ sobre-
limitada à indexação à
produtividade) produtividade)
FONTE: Elaborado a partir da classificação proposta por BOYER (1988, 1992, 1995 e 1998).
92
Além das obras dos próprios proponentes da abordagem regulacionista, uma síntese dos regimes de
produtividade e de demanda característicos do fordismo e dos vigentes sob regulação concorrencial,
podem ser encontrados em BRUNO (1997).
Em recente trabalho, PETIT (2003) propõe uma taxionomia alternativa (Quadros
6 e 7). Pode-se tipificar um regime de produtividade investigando se o processo de
inovação intrafirma é predominante na dinâmica dos ganhos de produtividade.
Inversamente, considerando-se a formação da demanda, é importante qualificar um
regime de demanda para saber se a economia é especialmente price ou non price
competitive ou se a demanda é impulsionada pelas exportações ( export-led demand )
ou ainda se os lucros são o principal beneficiário na alocação dos ganhos de
produtividade. Todas as variantes de um regime de produtividade e de demanda podem
ser expressas em termos de elasticidades. Mas sua caracterização precisa exige a
investigação das mudanças institucionais que veiculam as macro-regularidades que tais
regimes expressam geográfica e historicamente.
REGIMES DE PRODUTIVIDADE:
QUANTO À ORIGEM DOS GANHOS DE PRODUTIVIDADE
INTRA-FIRMAS INTER-FIRMAS
INOVAÇÃO DE PR4
PR2
PROCESSO
REGIMES DE DEMANDA:
QUANTO AOS FATORES DE IMPULSÃO DA DEMANDA
INTRA-FIRMAS INTER-FIRMAS
EXPORT
COMPETITIVENESS- DR5 DR6
DRIVEN
PUBLIC BUDGET
DR7 DR8
NEEDS-DRIVEN
FONTE: Adaptação a partir de PETIT (2003) e com a inclusão das modalidades export competitiveness-
driven e public budge needs-driven .
Os regimes de crescimento ou de acumulação emergem como resultado das
interações dinâmicas desses dois conjuntos. Algumas combinações podem se revelar
superiores em termos de ganhos de produtividade. O regime de crescimento fordista
associava inovação de processos intra-firmas (PR2) com um regime de demanda
impulsionado pelos salários, mas com crescimento indiferenciado destes últimos (DR1)
1 2 Regime de
Formas Institucionais Modo de Regulação
Crescimento
Modo de Desenvolvimento
Modo de Desenvolvimento
(Um padrão de evolução macrodinâmica no longo prazo)
Modo de Regulação
(Nível meso-econômico de análise)
RMF FE
WLN
FII FC
Paradigma Tecnológico-Industrial
(Nível microeconômico de análise)
95
Na construção dos modelos macroeconômicos, a hipótese do agente representativo, cuja origem pode
ser encontrada em Alfred Marshall, é mobilizada para contornar o problema da agregação. Mas, como
observa B. GUERRIEN(2000), o resultado é que a economia é reduzida a um número muito restrito de
centros de decisão, onde em geral são analisadas as interações em um quadro de equilíbrio geral. Para
GUERRIAN, o agente representativo seria de fato uma entidade coletiva , o que poderia ser interpretado
como uma violação da metodologia individualista, cara à tradição neoclássica e suas derivações
contemporâneas. Para A. VERCELLI (1991, p.235), o principal resultado obtido pelos economistas novos
clássicos é a demonstração - contra seus desejos e expectativas - de que uma síntese satisfatória da
macroeconomia com a microeconomia ainda não está madura. VERCELLI observa que as a matter of
fact, the micro-foundations of macroeconomics which they suggest are by now far from satisfactory. They
rely on the heroic assumption that the decision-makers of the models are representative agents, whose
behavior fairly well approximates the aggregate behavior of the economy. Unfortunately this assumption
surreptitiously eliminates the main object that should be studied by macroeconomics: aggregation
problems and failures of coordination between the behavior of individuals( os grifos são nossos).
processos. Os agentes têm a capacidade de mudar as regras do jogo, de transformar as
estruturas e de criar novas instituições. Observa BILLAUDOT (2002, p. 135):
canalizam,
conformam (nos períodos de as práticas dos
As estruturas indivíduos e dos
estabilidade da regulação)
grupos
96
BILLADOT (2000) faz questão de ressaltar que com esta primeira condição, não existe mais lugar a
atribuir a um Robinson Crusoé, símbolo do homo oeconomicus racional e mascote do pensamento
econômico neoclássico individualista.
97
BILLAUDOT observa ainda, que esta segunda componente da racionalidade situada provém do homo
sociologicus. Mas quanto a mudança de vocabulário, ele argumenta que ela tem por objetivo mostrar que
não se trata de pura e simples conservação, uma vez que não se trata de normas mas de convenções. As
primeiras são imperativas e reportam-se a uma relação baseada no passado. Por outro lado, as convenções
permitem aos personagens implicados em uma atividade dada, escolher uma solução praticável face à
incerteza e, portanto, nova. Elas permitem engendrar, no curso da situação, as expectativas recíprocas
sobre as capacidades e comportamentos dos outros agentes.
98
Um exemplo característico são as chamadas redes sociais . As federações (e confederações) sindicais
são um bom exemplo. São os agentes organizados, distintos dos outros tipos comuns que são a empresa, a
administração e a família.
QUADRO 9 A RACIONALIDADE SITUADA É DE NATUREZA PROCEDIMENTAL FORTE
Tipos de
Racionalidade
Homo oeconomicus Homo conventionnalicus Homo regulationicus
Características
Origem da Histórica e
Natural Evolucionária
predisposição institucional
MODO DE
DESENVOLVIMENTO
FORMAS COMPORTAMENTO
INSTITUCIONAIS DOS GRUPOS E DOS
(A) INDIVÍDUOS
TENSÕES
(sob influência das
PEQUENAS CRISES)
GRANDES CRISES
100
Observam BOYER & ORLEAN em Why are institutional transition so difficult?, Paris, CEPREMAP
nº 9139, March 1991, à página 2, que social relationships do shape the system of values, the visions and
the aims of each agent and they even provide coordinating signals. Economic behavior is embedded in a
whole social system, and no such thing as pure economic behavior exists.
comportamentos individuais.101 As mutações sistêmicas não são portanto,
automáticas, nem se encontram pré-determinadas por leis invariantes e
inescapáveis;102
101
Uma imagem pode ser útil para ilustrar o comportamento dos agentes face às restrições estruturais: a
existência e o próprio movimento dos rios pressupõem os limites impostos pelas margens .
102
Observa BILLAUDOT [1996, p. 142] que au plan méthodologique, c est au passage d une méthode
holiste à une méthode holindividualiste, auquel on est conduit pour traiter théoriquement de toute
trajectoire concrète de développent. Elle est holiste, dans la mesure où l on part toujours d un système
donné de formes institutionnelles. Mais elle emprunte à une méthode individualiste parce que les
individus sont, directement ou par l intermédiaire des acteurs collectifs dont ils se dotent pour les
représenter, des artisans tant de l altération des formes institutionnelles en phase de régime que de leur
mutation en phase de crise de régulation.
períodos de regime. A questão das interações com as variáveis políticas para
delimitar as condições de emergência de novos compromissos
institucionalizados passa então ao primeiro plano.
QUESTÕES
REGULACIONISTAS QUESTÕES ABERTAS
FUNDADORAS ÀS PESQUISAS ATUAIS
Problema 1 Problema 4
Problema 3
Problema 2
O problema da
A dinâmica endógena: das passagem de um modo
crises cíclicas à uma crise de regulação a um outro
estrutural
103
Em Labour Institutions and Economic Growth [1992, p.30], Robert BOYER observa que first, this
research program tries to combine inductive and deductive methods, in other words intends to launch
bridges between the stylized facts shown by economic historians about capitalism development and the
highly abstract growth theory. Second, there is probably no grand theory able to explain synthetically the
whole set of relevant stylized facts: in my view, this is the Achilles heel of conventional economic theory,
including the more contemporary and promising ones. By contrast, the regulation approach looks for
2.8.2 Uma hipótese central: a macrodinâmica e a política econômica dependem
dos modos de regulação
Observa BILLAUDOT (1995) que a todo sistema de formas institucionais
corresponde um conjunto de relações macroeconômicas particulares, cujos parâmetros
(coeficientes ou elasticidades, impulsão autônoma) são estáveis a médio prazo. Em
conseqüência, pode-se enunciar a hipótese regulacionista básica da seguinte maneira:
local and period-dependent analyses of development, by proposing a set of intermediate concepts which
describe the coordination mechanisms in use for given economy and historical epoch.
menos que se tenha razões suficientes para se esperar por uma mudança . Neste
contexto, segundo BOYER(1995), três princípios de ação tem sido propostos pela
Teoria da Regulação para se analisar como o modo de regulação é capaz de canalizar e
conformar os comportamentos individuais e coletivos:
104
De acordo com AGLIETTA(1997), as zonas ou regiões de instabilidade são os lugares onde os
antagonismos não são mais mediatizados pelas formas institucionais vigentes, porque o dinamismo das
rivalidades privadas supera o domínio codificado das diferenciações existentes. Em outros termos, novos
problemas e fenômenos sócio-econômicos surgem de maneira imprevista, escapando do espaço de
Uma grande crise emerge como expressão da perda de coerência macroeconômica e de
coesão social dos componentes do sistema, desencadeando um processo que, ao
transformar de maneira irreversível as formas da regulação em vigor, termina por minar
a eficácia da política econômica.
regularidades criado pelas formas institucionais. Num tal contexto, essas mesmas regularidades
convertem-se em fatores de rigidez, dificultando a emergência e consolidação de um novo modo de
regulação.
105
A crítica de Lucas abstrai-se completamente do fato de que o sucesso das políticas keynesianas de
administração da demanda agregada pressupunha a estabilidade das estruturas institucionais e
organizacionais que codificavam o modo de regulação fordista. Não se trata de um simples problema de
formação de expectativas racionais ou do conhecimento do verdadeiro modelo da economia. Quando o
regime de crescimento que correspondia a esse modo de regulação entra em crise, ele arrasta com ele todo
o conjunto de macro-regularidades básicas que suportavam a lógica dos modelos de inspiração
keynesiana.
106
As análises com base no conceito de capitalismo monopolista de estado assentavam-se exatamente
neste pressuposto de influência ortodoxo-marxista.
Os trabalhos recentes de THÉRET (1992) e LORDON (1994) propuseram então,
a distinção entre duas formas de política econômica:107
107
Conforme Fréderic LORDON [1995, p.198], Théorie de la régulation et politique économique , in
BOYER, R. & SAILLARD Y. (eds.), em Théorie de la régulation: L état des savoirs, Paris, La
Découverte.
108
Segundo LORDON [1995, p. 205], a crise da política keynesiana enquanto política econômica de
regime pareceria paradoxal, visto que ela seria ao mesmo tempo endógena e exógena. Endógena, pois as
dificuldades do paradigma keynesiano de política econômica derivaria inevitavelmente da crise do
fordismo. Mas também exógena, pois a perda da eficácia da política econômica de regime, reporta-se
grandemente a um conjunto de fatores relativamente independentes do coração do crescimento fordista:
as transformações do paradigma tecnológico, das formas da relação salarial, etc.
vão desde HAYEK à FRIEDMAN e LUCAS, parecia pretender tornar inócuos ou
mesmo um grande equívoco teórico, quase 30 anos de macroeconomia e de política
econômica keynesiana, abrindo espaço para as análises monetaristas e, em seguida,
novo clássicas.
c) A política de curto prazo tem também efeitos de longo prazo. Por exemplo, os
regulacionistas têm advertido que é preciso considerar os obstáculos
suplementares que as políticas de deflação competitiva (que visam à
restauração dos lucros a curto e médio prazo )111 suscitarão em uma evolução
109
Pode-se considerar que, sem banco central ou instituição que o valha, a política monetária não seria
factível. Todavia, a estrutura, atribuição de poderes e formas de organização dos bancos centrais podem
variar significativamente de país para país, definindo os limites de alcance e a qualidade das intervenções
promovidas por esta instituição fundamental. Contudo, a eficácia da política dependeria não apenas da
autoridade monetária em questão, mas da própria estrutura institucional subjacente ao regime monetário-
financeiro vigente.
110
Citado por LORDON, opus cit nota 60.
111
As políticas de flexibilização das relações de trabalho, que na verdade tem conduzido a uma
desestruturação sem precedentes dos componentes centrais da relação salarial fordista, objetivam
recompor a lucratividade das empresas e pressupõem que efeitos positivos sobre a produtividade,
necessariamente ocorrerão também no longo prazo. Tais políticas são enquadradas por BOYER [1988] no
conceito de flexibilidade defensiva, que consiste em fazer jogar a concorrência sobre os mercados de
trabalho, para diferenciá-las das políticas de flexibilidade ofensiva. Estas últimas aprofundam o
movimento de institucionalização das relações salariais, porém adaptando-as às transformações dos
para um modo de desenvolvimento pós-fordista cooperativo . Segundo
LORDON(1994), como a deflação competitiva está centrada sobre o controle
dos custos, essa política prorroga uma lógica de competitividade-preço que
corresponde à mesma do modelo fordista que se pretende superar. Em
conseqüência, torna-se ainda mais difícil a gestação de uma nova lógica de
competitividade estrutural e a emergência das formas organizacionais que lhe
correspondem.
mercados e das estruturas produtivas, mas recuperando o conceito de flexibilidade sob outras dimensões e
não necessariamente ao nível do contrato de trabalho.
QUADRO 10 MACROECONOMIA REGULACIONISTA E SEUS HORIZONTES DE
ANÁLISE
112
Como observa BOYER [1986, p. 87], a grande maioria dos modelos neoclássicos não reconhece
nenhum estatuto teórico à noção de crise: no melhor dos casos, tenta-se caracterizar uma fase de correção
do boom anterior, com uma duração variável em função da dimensão e da imperfeição dos mecanismos
de ajustamento. Por outro lado, na maior parte do tempo, são os choques aleatórios que, ou promovem a
expansão econômica, ou precipitam uma mudança de conjuntura. Num outro extremo, algumas
intepretações marxistas, um pouco deterministas e, sem dúvida, reducionistas, consideram que as
economias capitalistas estão naturalmente submetidas aos elementos de uma crise estrutural latente e, em
seguida, aberta, que acabará provocando, com o tempo, o esgotamento do próprio modo de produção.
Entre o caso mais extravagante e a lei impiedosa de uma inevitável queda, parece sobrar espaço para
diversos níveis e definições de crise.
113
Observa AGLIETTA (1997) que a existência do Estado é a expressão política desta incompletude da
regulação sócio-econômica. Desta maneira, o Estado surge como o totalizador, a síntese das tensões
sociais que ultrapassam as formas institucionais estabelecidas.
apreendidas como um armistício social, após um período de conflitos e lutas sociais.114
Todavia, as crises devem ser apreendidas em seu caráter tendencial, pois decorrente da
lógica e natureza das economias que se organizam sob o modo capitalista de produção.
114
Citado por BOYER (1986), Maurice Hauriou (1856-1929) foi um jurista francês que elaborou uma
doutrina original sobre o Direito Público.
115
Conforme AGLIETTA (1997), as instituições são inovações sociais que permitem um espaço de
liberdade porque as normas e as convenções sociais que elas impõem conferem aos grupos sociais uma
restrição bem mais forte do que a imediaticidade de seus próprios conflitos.
A crise nasce no seio mesmo da regulação, de suas aporias e de seu caráter
aberto. Por exemplo, durante o período de crescimento fordista, a negociação coletiva,
que havia permitido a regularidade na progressão dos salários, se converte em
indexação rígida que tende a autonomizar o movimento das grandezas nominais,
desconectando-o das novas necessidades da acumulação de capital.
Neste contexto, a relevância das análises das crises para uma teoria
macroeconômica alternativa às visões tradicionais torna-se patente quando se parte de
uma problemática regulacionista. Pode-se compreender como a política keynesiana de
administração da demanda agregada pressupunha a existência do paradigma
tecnológico-industrial fordista e do correspondente modo de regulação administrado.
Os regimes de acumulação que emergiram no Pós-Segunda Guerra desenvolveram-se
sobre a base de configurações particulares das formas institucionais. Entre as quais
destacam-se as formas da relação salarial e do regime monetário-financeiro. Expressão
das transformações das condições de produção e de existência dos trabalhadores
assalariados, o rapport salarial fordista articulava-se com as demais formas
institucionais codificando a estrutura sócio-econômica116 necessária às macro-
regularidades que sustentavam as políticas fiscal e monetária, típicas do período.
116
Trata-se do conceito de estrutura social da acumulação, tal como foi definida por BOWLES,
GORDON e WEISSKOPF [1986, p.2] e que reserva uma grande convergência com os resultados das
análises em termos de regulação.
117
Mais detalhes dessa questão podem ser encontrados em JUILLARD [1995], Régimes d accumulation,
in BOYER e SAILLARD , L État des Savoirs,2002.
Quando a crise torna-se explícita nos anos 70, os regulacionistas já haviam
detectado os limites das condições sociais, técnicas e econômicas que suportavam as
estruturas de produção (o esgotamento do paradigma tecnológico-industrial fordista)118
e a incapacidade do modo de regulação vigente para acomodar os conflitos engendrados
pela própria lógica da acumulação do pós-guerra. Como argumenta BOYER (1986,
p.91), a regulação entra em crise quando os desequilíbrios locais conjugam-se e não
podem mais ser reduzidos pelos procedimentos sócio-econômicos vigentes.119
118
Esgotamento que se expressava precisamente pela incapacidade do sistema técnico vigente de gerar os
ganhos de produtividade necessários a manutenção do círculo virtuoso da acumulação fordista.
Conforme JUILLARD [1995, p. 230], le ralentissement de la productivité du travail à la fin des années
soixante, qui va jouer un rôle fondamental pour l évolution de l économie américaine dans les deux
décennies suivantes, semble toucher toutes les sections productives de la même manière. Com a queda
dos ganhos de produtividade quebrava-se um dos pilares da relação salarial fordista, que era exatamente o
crescimento regular dos salários reais proporcionalmente à elevação da produtividade aparente do
trabalho.
119
A época atual é particularmente ilustrativa dessa problemática regulacionista fundamental. Uma vez
constatada a perda de eficácia do modo de regulação fordista e, conseqüentemente, do regime de
acumulação que lhe corresponde, as economias procuram (sem nenhuma garantia prévia de êxito) o
estabelecimento de novos modos de desenvolvimento, social e economicamente viáveis.
120
Como já foi argumentado nas seções precedentes, os trabalhos de BRAUDEL confirmam a grande
capacidade de adaptação do capitalismo à situações aparentemente insuperáveis, dentro de sua própria
lógica constitutiva. Como observa BOYER [1986, p.97], trata-se de admitirmos a existência de uma certa
plasticidade das relações sociais capitalistas, suscetíveis à mudanças quanto às formas exatas, fazendo
com que, até hoje, este modo de produção possa superar uma série de crises importantes e de episódios
dramáticos, tais como as duas guerras mundiais. Parafraseando uma célebre fórmula, não é preciso que
tudo sempre mude para que nada de fundamental realmente mude ? Devemos assim concluir que o
capitalismo é insuperável ? Isto seria, teoricamente, uma conclusão exagerada, o que nos traz a
necessidade de definir um quinto e último nível de crise. BOYER refere-se à crise final de um modo de
produção, que coincide exatamente com a crise geral de que fala a teoria econômica marxista . Todavia,
em MARX a existência das crises cíclicas mais não fazem do que recompor, sobre novas bases, as
condições de novo movimento de expansão da acumulação capitalista. Portanto, tais crises são antes
fatores de reprodutibilidade do sistema.
a) a crise como perturbação externa: possui causas exógenas, sendo reportadas à
escassez resultante de catástrofes naturais ou climáticas, por circunstâncias
econômicas cujas origens encontram-se fora do espaço interno ( em particular
internacional) ou ainda por guerras. Segundo BOYER [1986, p. 88], a
particularidade deste tipo de crise é de não resultar nem do funcionamento
normal da regulação, nem do esgotamento do próprio modo de regulação ou do
regime de acumulação. A regulação vigente determina a forma assumida pela
contração da atividade e pela dinâmica dos preços e salários.121 Em certo sentido,
as economias agrário-exportadoras coloniais estavam sujeitas a este tipo de crise,
em razão de sua forte dependência dos fatores econômicos externos (demanda
internacional, preços dos produtos exportáveis, guerras e conflitos nas nações
centrais, etc);
121
Como já mencionamos nos capítulos anteriores, BOYER chama a atenção para o fato de que muitos
economistas interpretaram os acontecimentos posteriores a 1973, como sendo, essencialmente,
conseqüência de uma sucessão de aumentos dos preços de matérias-primas, de choques do petróleo , de
choques do dólar , etc.
Como exemplo, têm-se as crises de 1929/30 e a de 1968/73. Segundo BOYER
(1986), a regulação entra em crise quando os desequilíbrios locais se conjugam e
não podem mais ser reduzidos pelos procedimentos sócio-econômicos vigentes..
De um ponto de vista analítico, dois casos de crise estrutural podem ser
distinguidos:
Para AGLIETTA (1997), cinco níveis de análise de uma grande crise ou crise
estrutural podem ser mobilizados:
(1) CRISE COMO Decorrente de fatores exógenos ao sistema econômico, isto é, que
PERTURBAÇÃO não se originam do modo de regulação e do regime de acumulação:
EXTERNA catástrofes naturais, circunstâncias econômicas externas, guerras.
REGIME DE
Divisão e organização PRODUTIVIDADE
Wage-Labor do trabalho
Taxa de
Nexus
Formação do salário crescimento
direto e indireto
Formação
Forma da dos preços
Concorrência Estabilidade
macroeconômica
Decisão de
investimento REGIME DE
Regime Monetário- ACUMULAÇÃO Evolução
Financeiro do emprego
Política de OU DE
estabilização
CRESCIMENTO
Infra-estrutura
Forma do Estado coletiva Inflação
Grau de
Inserção Abertura
Comércio
Internacional Especialização exterior
REGIME DE
DEMANDA
122
Este argumento de BOYER mostra-se em franca analogia com a visão de LUCKÁS, apresentada no capítulo
1, no contexto da fundamentação ontológica e metodológica do conceito de regulação.
123
BOYER observa ainda que « ( ). En conséquence, conformément à l intuition des théories évolutionnistes,
ex post le divers compromis institutionnalisés doivent manifester une certaine compatibilité, ou dans certains cas
faire la preuve de leur indépendance. »
146
Após cerca de trinta anos de evolução desde suas origens em meados dos anos 70, o
exame da literatura regulacionista sugere que a Teoria da Regulação busca consolidar-se
como uma macroeconomia histórica e institucionalista. Padrões contrastados de crescimento e
crise encontram-se entre seus principais objetos, na medida em que a variabilidade das
dinâmicas econômicas e sociais permanece como fonte inesgotável de novos desafios às
teorias macroeconômicas estabelecidas.
FORMAS
HISTÓRICAS
DE
CAPITALISMO DA PRIMEIRA DO PERÍODO
DO SÉCULO DO PERÍODO
METADE DO FORDISTA
XIX ATUAL
SÉCULO XX (1945-1975)
CARACTERÍSTICAS
Desenvolvimento
Econômico
Crescimento - moderado, mas - forte, mas - muito forte e - lento e instável
estável instável estável
- moderado
Ganhos de - baixo, mas em - elevados - muito elevados (paradoxo de
produtividade progressão Solow)
Nível e modo de vida - muito baixo, - baixo, pois é - elevado, em - ainda elevado,
assalariado pois é muito fraca a inserção razão da forte mas tendência a
fraca a inserção no mercado de inserção no uma deterioração
no mercado de consumo mercado de das condições de
consumo consumo de vida
massa
Desenvolvimento Social e
Político
Seguridade Social - estruturas - consolidação - generalização - crise do
embrionárias dos primeiros dos sistemas e Welfare-State
sistemas emergência do
Welfare-State
Equidade da
distribuição das rendas - muito baixa - baixa - elevada - tendência a
uma
Nível efetivo de reconcentração
democracia - muito baixo - baixo - alto e sob - alto, mas
pressão da enfraquecimento
guerra fria dos movimentos
sociais
3.1 Introdução
124
M. BRUNO (2004). Macroanálise, Regulação e o Método uma alternativa ao holismo e ao individualismo
metodológicos para uma macroeconomia histórica e institucionalista . Anais do IX Encontro Nacional de
Economia Política, Uberlândia, junho de 2004.
125
BOYER (2003), Les institutions dans la théorie de la régulation. CEPREMAP n° 2003-08, mai 2003. Na
realidade este autor desdobra o método regulacionista em seis etapas, mas por simplificação resumiu-se as duas
primeiras.
154
126
Segundo BOYER (2003, p. 5), muito freqüentemente a Nova Economia Institucionalista (NEI) pecaria pela
insuficiência de procedimentos de verificação e se limitaria a constatar que as predições qualitativas não são
totalmente invalidadas. Por contraste, uma parte considerável dos trabalhos regulacionistas promove o uso de
testes econométricos como meio de refutação e então de seleção contra as hipóteses alternativas.
127
Observe-se que a teoria novo clássica segue exatamente uma démarche oposta com seus modelos de
equilíbrio.
155
128
Isto significa que, contrariamente às críticas simplificadoras do conceito de regulação, este não exclui de
maneira nenhuma a possibilidade de crises. Conforme argumenta LIPIETZ (1988), a regulação expressa a
unidade, sempre relativa (pois provisória, já que vulnerável à ação da história viva dos homens) apesar das
contradições de caráter absoluto (pois ontológica, inerente à lógica das relações sociais de produção e de
distribuição capitalistas).
156
Esta situação mudaria a partir do momento em que a grande crise de 1930 rompe com
um padrão secular de inserção internacional que mantinha a dinâmica da economia brasileira
fortemente dependente da demanda externa. A renda nacional cai cerca de 30% e o índice de
preços dos produtos importados sobe 33%, reduzindo em 60% o volume de importações
brasileiras.132 Mas nos anos que se seguiram à crise, como observa FURTADO (1980), o
mercado interno passaria a ser o fator dinâmico principal133. Neste contexto, a indústria
129
Como observa GUERRIEN (2000, p.211)129, é essencialmente a Macroeconomia que busca extrair os fatos
estilizados através dos agregados tradicionais das Contas Nacionais.
130
Segundo dados apresentados por LACERDA et alii (2000), em 1851 o coeficiente de monetização da
economia brasileira era de 0,85 libra esterlina por habitante, mas em 1889, este índice sobre para 1,65.
131
Conforme definição baseada em THÉRET (2002), no capítulo 1.
132
Dados citados por FURTADO (1980).
133
Entre 1929-1937, o valor da produção industrial cresce 50% e a produção do setor primário para o mercado
interno cresce 40%. Conforme LACERDA et alii (2000), a renda nacional aumentou 20% neste período. Na
mesma época, a renda nacional dos Estados Unidos decresceu e os países que adotaram políticas econômicas
ortodoxas permaneceram em depressão.
158
nascente passou então a contar com fatores endógenos de impulsão que terminaram por
aprofundar o processo de industrialização por substituição de importações (PSI)
134
O filtro HP (Hodrick-Prescott filter) é essencialmente descritivo, pois não considera as propriedades
estocásticas da série. Para contornar essa limitação, após as estimativas do PIB potencial, a série foi corrigida
considerando-se o ano de 1973 como o de utilização plena da capacidade produtiva instalada.
Conseqüentemente, esses dados passam a refletir, aproximadamente, o produto máximo da economia, antes que
o produto normal.
135
Os testes CUSUM (Cumulative Sum) e CUSUMSQ (Cumultive Sum of Squares).
136
A maioria dos trabalhos econométricos não rejeita a hipótese nula de presença de uma raiz unitária na série do
PIB brasileiro. Todavia, CATI (1998), adotando um método alternativo que permite considerar a presença de
uma quebra na tendência linear e AGUIRRE e FEREIRA (2001), utilizando uma abordagem do tipo changing
growth model , concluem pela inexistência de raiz unitária na série do PIB para o período 1950-1997. Mas,
como observa LIBANIO (2004), não há consenso sobre as metodologias mais apropriadas para se executar os
testes de raiz unitária, então, por razões teóricas, este trabalho alinha-se às metodologias de testes que confirmam
a existência de raiz unitária na série do produto e recorre à representação gráfica em termos de tendências
deterministas ou estacionárias apenas para fins descritivos. Na ocorrência de raiz unitária, não haverá retorno
automático à tendência normal de evolução da série ou a posições de equilíbrio sustentadas pelas teorias do
mainstream. Conforme LIBANIO (2004, p. 15): ... unit roots in GNP series pose another challenge for
traditional theories of macroeconomics fluctuations, which assume output to be mean-reverting and schocks to
have only temporary real effects.
160
LnPIB efetivo
LnPIB potencial
15,0
13,0
12,0
11,0
[1942 - 1979]: LnPIB = 7,7692+0,0699*t
10,0
8,0
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
FONTE: Elaborado a partir de dados do IBGE e IPEADATA.
NOTA: PIB potencial estimado pelo filtro Hodrick-Prescott (HP). Valores a preços constantes de 2000 pelo
deflator implícito do PIB.
LnPIB
LnPIBpot_hp corr
14,1
14,0
13,9
13,8
13,7
13,6
13,5
13,4
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002
NOTA: O hiato (h) do PIB foi calculado como o desvio do PIB efetivo em relação ao PIB potencial estimado
pelo filtro HP.
137
Observe-se que, para este período [1980-2003], o comportamento da série do produto potencial mostrou-se
similar ao encontrado por J.R. SOUZA JÚNIOR (2002) e por SILVA FILHO (2001) que, no entanto, utilizaram
o método da função de produção. Todavia, como observam esses autores, este método é muito sensível às
hipóteses sobre a taxa natural de desemprego e a taxa de utilização da capacidade ao nível de pleno emprego.
Uma redução da primeira ou uma elevação da segunda desloca a série para cima, pois o produto potencial
aumenta em todo o período. Mas como a dinâmica da série permanece inalterada, o método continua válido para
os fins da análise.
162
O fato torna-se mais grave quando se observa que, no caso do primeiro período, a volatilidade
das taxas de crescimento é em grande parte explicada pela vigência de uma base econômica
predominantemente agrário-exportadora e muito dependente da demanda externa. Portanto, o
padrão observado expressa os ciclos típicos do complexo exportador cafeeiro e,
conseqüentemente, das formas de inserção internacional condicionadas por essa atividade
produtiva. A Tabela 1 reforça essas constatações, na medida em que o coeficiente de variação
para o terceiro período [1980-2003] supera até mesmo o coeficiente observado no primeiro
período [1901-1941], quando se tratava de uma economia ainda agrário-exporadora. O
segundo período [1942-1979] caracteriza-se pelo avanço da industrialização brasileira e
apresenta-se como o de menor volatilidade.
Nº de anos 41 38 24
NOTA: A volatilidade é medida pelo desvio-padrão das taxas anuais de crescimento do PIB e pelo coeficiente de
variação.
GRÁFICO 4 A EVOLUÇÃO DO PIB PER CAPITA NO PERÍODO [1900 2003]: CINCO FASES
CONTRASTADAS
9,0
8,8 F5[1978-2003]: Y = 8,0508 + 0,007*t
8,6
F4[1967-1977]: Y = 3,3934 + 0,0669*t
8,4
Ln (PIB per capita)
8,1
7,9 F3[1962-1966]: Y = 7,703 + 0,003*t
7,7
7,5
7,3
7,0 F2[1922-1961]: Y = 5,7982 + 0,0316*t
6,8
6,6
6,4
6,2 F1[1900-1921]: Y = 6,2507 + 0,0078*t
6,0
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
FONTE: Elaborado a partir de dados do IBGE e IPEADATA.
A partir de 1978, o PIB per capita entra numa quinta e longa trajetória de reduzido
crescimento, o que permite definir uma quinta fase F5[1978-2003], comparável apenas à
primeira fase, por sua taxa média de expansão em 0,70% a.a. Mas, em contraste com F1, os
movimentos oscilatórios nesta quinta fase F5 refletem muito mais as intervenções de política
econômica (as recessões de 1981/83; as recessões do Plano Collor em 1990/92; as crises
financeiras pós-Plano Real e o ataque especulativo de janeiro de 1999, bem como a recessão
induzida de 2003) do que a dinâmica espontânea de uma economia fortemente dependente do
setor agro-exportador.
138
Anuário Estatístico do Brasil (1939-1940). Segundo F. TEIXEIRA e M. TOTINI (1994, p.99), na década de
1890 entraram no Brasil mais de 1.200.000 imigrantes e entre 1900 e 1930, cerca de 2.261.000.
164
Conseqüentemente, os níveis médios de expansão do PIB per capita, nas cinco fases,
refletem a conjunção de variáveis econômicas, políticas e demográficas ao longo de toda a
série representada no gráfico. Para ilustrar com um exemplo extraído do conjunto de
problemas macroeconômicos que atravessam esse tipo de economia, basta considerar a regra
prática de que um país que cresce a uma taxa de g% a.a. dobrará sua renda per capita a cada
70/g anos. Mas, mantida a expansão média do PIB em 2,3% a.a., conforme a última fase
representada no Gráfico 1, a economia brasileira precisará de no mínimo 30 anos para dobrar
sua renda per capita.139 Em face da intensificação dos graves problemas sociais numa
sociedade marcada pela excessiva concentração da propriedade e da renda, trata-se de um fato
ao mesmo tempo lastimável e alarmante.
139
Esta regra, proposta por R. LUCAS Jr. (1988) e retomada em C. JONES (2000), deriva do fato de que se a
renda per capita no período t, Y(t), apresenta um crescimento exponencial então Y(t) = y0.eg.t , onde y0 é algum
valor inicial do PIB per capita e g é a taxa percentual de crescimento do PIB. O tempo necessário para dobrar a
renda per capita é dado pelo tempo t em que y(t) = 2.y0. Em conseqüência, t = ln2 / g e como ln 2 0,7 segue
que t = 70 / g.
140
Diferentemente dos Gráficos 1 e 2, na elaboração do Gráfico..., não se ajustou a série do produto potencial
brasileiro, considerando-se o ano de 1973 como o de utilização plena da capacidade produtiva, porque isto
implicaria dispor da mesma informação para as economias dos EUA e do México. Todavia, como o objetivo é
apenas comparar as amplitudes das oscilações concernentes aos hiatos dos produtos desses três países, essa
representação gráfica continua, portanto válida.
165
três economias foram respectivamente, de 2,1% para os EUA, 3,0% para o México e de 3,9%
para o Brasil.
HiatoPIB_EUA
HiatoPIB_México
HiatoPIB_Brasil
10%
8%
6%
4%
2%
0%
-2%
-4%
-6%
-8%
-10%
-12%
1950 1958 1966 1974 1982 1990 1998
1954 1962 1970 1978 1986 1994 2002
FONTE: Dados para o PIB dos três países foram obtidos junto ao IBGE e IPEADATA.
variação) reduz-se em 34%, no Brasil assiste a uma queda de apenas 5,8%, enquanto para o
México, a volatilidade mais do que duplicou, provavelmente em razão da crise financeira de
1994/1995.
NOTA: A divisão dos períodos foi efetuada com base nos testes de estabilidade do CUSUM.
tende a reduzir o ritmo de crescimento econômico.141 Pode-se observar que essa relação
dobrou da década de 70 para de 90, aproximando-se da média dos países desenvolvidos.
Observa-se também uma queda da inclinação da tendência nos anos 80 e que, como observa
FEU (2003), também ocorreu para os países da OCDE. Esta constatação empírica significa
que atualmente a economia brasileira necessita do dobro de capital necessário na década de 70
para gerar uma unidade de produto.142 Para ALVIN et alii (1996), citado por FEU (2003),
como o crescimento da razão capital-produto significa que a produção no Brasil passou a ser
mais exigente em aporte de capital, esta seria uma das principais razões para a redução do
crescimento econômico nas décadas de 80 e 90. Todavia, numa análise em termos de regime
de acumulação a questão distributiva deve ser incluída nas análises dos padrões de
crescimento.
14% 34%
32%
13%
30%
12% 28%
11% 26%
24%
10%
22%
9%
20%
8% 18%
7% 16%
14%
6%
12%
5% 10%
4% 8%
1940 1946 1952 1958 1964 1970 1976 1982 1988 1994 2000
1943 1949 1955 1961 1967 1973 1979 1985 1991 1997 2003
FONTE: Dados sobre estoque de capital fixo estimados por MORANDI (2002) e IPEADATA.
NOTE: K é o estoque bruto de capital fixo, FBKF é a formação bruta de capital fixo, em valores constantes de
2000. As linhas pontilhadas indicam as séries tendenciais estimadas pelo método Lowess smoothing (Cleveland,
1979).
141
É interessante observar-se que a constância da relação capital-produto é um dos fatos estilizados listados por
KALDOR (1957). No entanto, FOLEY e MICHL (1999) chamam a atenção para a queda da produtividade do
capital observada para seis países (EUA, França, Alemanha, Países Baixos, Inglaterra e Japão).
142
Essa constatação também foi encontrada por BACHA e BONELLI (2004).
168
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
1940 1946 1952 1958 1964 1970 1976 1982 1988 1994 2000
1943 1949 1955 1961 1967 1973 1979 1985 1991 1997 2003
FONTE: Cálculos a partir dos dados sobre estoque de capital fixo estimados por MORANDI (2002) e
IPEADATA; IBGE para os valores do PIB. Série tendencial (linha pontilhada) estimada pelo método lowess
smoothing.
3.2.2 Inflação
A alta inflação foi uma das características dos anos 80 e da primeira metade dos 90,
constituindo-se num dos principais problemas macroeconômicos enfrentados pelo Estado
brasileiro. No que concerne às políticas de combate à inflação, o enfoque oscilou entre as
tradicionais medidas ortodoxas e os planos heterodoxos envolvendo controles de preços e
salários, alternados com políticas monetárias restritivas. Todavia, como se procurará mostrar
nas próximas seções, o Plano Real, o único programa de estabilização de preços bem-
sucedido em superar o regime monetário-financeiro inflacionista, pôde contar com a mudança
relativamente rápida da forma institucional de inserção no regime internacional, ao longo dos
anos 90. A intensificação da concorrência internacional contribuiu para conter as pressões
inflacionárias, sobretudo durante a fase de sobrevalorização cambial entre 1994 e 1999.
169
IGP-DI
IPC_RJ
5000%
2500%
750%
500%
250%
Escala log
75%
50%
25%
8%
5%
3%
1934 1940 1946 1952 1958 1964 1970 1976 1982 1988 1994 2000
1937 1943 1949 1955 1961 1967 1973 1979 1985 1991 1997 2003
9%
8%
6%
4%
2%
0%
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
FONTE: IBGE
O exame da Tabela 3 sugere que taxas menores de inflação foram obtidas ao custo de
menos crescimento econômico. Em outros termos, a redução da inflação significou também a
entrada da economia brasileira numa fase em que vigoram taxas reais de juros extremamente
elevadas e tendem a aumentar o custo de capital. Desestimulando as inversões produtivas, as
atuais taxas de juros passam a desempenhar o papel antes ocupado pela inflação no período
pré-Real, ou seja, funcionam como mecanismo de alocação da poupança nacional para o setor
financeiro144. Uma outra hipótese pode então ser testada: com a perda dos ganhos
inflacionários imposta pelo Plano Real, o sistema bancário-financeiro os substitui pelos
144
No período de alta inflação, anterior ao Plano Real, as classes de mais alta renda mantinham parte
significativa de sua renda e riqueza sob forma financeira, porque o sistema bancário-financeiro garantia-lhes a
recomposição das perdas inflacionárias e ganhos fáceis e de liquidez imediata. Esta foi uma das razões básicas
para o rápido desenvolvimento financeiro observado naquele período. Atualmente, com inflação baixa, dever-se-
ía esperar o retorno dos capitais prioritariamente para inversões produtivas, inclusive as de prazo mais longo.
Contudo não o fazem, pois tendem a permanecer novamente concentrados na esfera financeira, dados os juros
reais extremamente generosos desfrutados pelos credores do Estado, das empresas e das famílias.
171
FONTE: IBGE
NOTA: O critério para a periodização considerou a implementação do Plano Real em julho de 1994, sendo,
portanto, o ano de 1993 ainda de alta inflação. O segundo período [1995-1998] caracteriza-se pelos anos de
crise financeira nos países em desenvolvimento e que impactaram na gestão da política econômica
brasileira: México (1995), Ásia (1997), Rússia (1998). O terceiro e último período inclui as crises
financeiras cujos epicentros surgiram na própria economia brasileira (1999 e 2002).
Ressalte-se ainda pelo Gráfico 13, que a redução das taxas totais entre 1985 e 1990,
deveu-se ao declínio do desemprego oculto, provavelmente em razão da retomada dos
movimentos sociais, num período marcado pela redemocratização do país e pela reafirmação
de direitos trabalhistas que seriam codificados na Constituição de 1988. No entanto, com as
transformações estruturais e as tendências estagnacionistas que marcaram os anos 90, o
desemprego oculto voltou a subir.
172
9%
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1980 03 1983 09 1987 03 1990 09 1994 03 1997 09 2001 03
1981 12 1985 06 1988 12 1992 06 1995 12 1999 06 2002 12
FONTE: Taxa de desemprego aberto - referência: 30 dias Regiões metropolitanas - Mensal - (%) PME /
IBGE.
FONTE: Dados mensais originários do Sistema Estadual de Análise de Dados e Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, Pesquisa de Emprego e Desemprego (SEADE e DIEESE/PED). As
séries correspondem às taxas médias anuais. Para o ano de 1984, taxa do mês de dezembro; para o ano de 2004,
taxa média do primeiro semestre.
173
145
Estes são os casos específicos da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) da Fundação Seade e do
DIEESE, e da Nova Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE.
146
Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos, Elementos para Compreender a
Controvérsia sobre as Taxas de Desemprego no Brasil , site do DIEESE, julho de2004.
147
J.S. SABOIA. Emprego Industrial no Brasil Situação Atual e Perspectivas para o Futuro , IE/UFRJ, 2000.
174
EMPREGADOR
TRABALHADORES FORMAIS
TRABALHADORES INFORMAIS
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002
A evolução do desemprego a nível setorial pode ser observada pelo Gráfico 14. A
indústria de transformação, as atividades comerciais e a construção civil apresentam as mais
elevadas taxas de desemprego
148
Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.
175
INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO
CONSTRUÇÃO CIVIL
COMÉRCIO
SERVIÇOS
OUTRAS ATIVIDADES
10,00%
9,00%
8,38%
7,57%
6,79%
6,00%
5,00%
4,00%
3,00%
2,00%
1,00%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
FONTE: Abrangência: Seis Regiões Metropolitanas PME / IBGE Unidade: Porcentagem da PEA.
Para fins descritivos estimou-se a relação de Okun para o período [1980 2002],
utilizando-se dados trimestrais para a taxa de desemprego e para o hiato do PIB (Gráfico
15)149. Os dois coeficientes revelaram-se estatisticamente significativos ao nível de 1%.
Todavia, os testes do CUSUM identificaram duas mudanças estruturais (em 1987 e em 1996)
e então novas estimações foram realizadas para três subperíodos onde a relação mostrou-se
estável (Quadro 13).
149
FERREIRA e AGUIRRE (2001) definem o hiato do produto como a diferença entre o PIB efetivo e PIB
potencial, para efeitos de comparação, segue-se o mesmo procedimento. Esses autores obtiveram estimativas
próximas para a taxa de desemprego de longo prazo (6,05 %) na economia brasileira, verificada quando o
produto efetivo é igual ao produto potencial, e para o coeficiente do hiato (0,25).
176
U = 6,16 - 0,27*H
10,0
TAXA DE DESEMPREGO ( U ) EM %
8,7
8,1
7,6
6,9
6,3
5,7
5,2
4,5
4,0
3,4
2,9
2,0
-8,0 -6,3 -5,2 -4,0 -2,6 -1,5 -0,4 0,6 1,9 3,1 4,5 5,6 8,0
HIATO DO PIB ( H ) EM %
FONTE: Taxa de desemprego aberto - referência: 30 dias - RMs - Mensal - (%) IBGE.
NOTA: Dados trimestrais. O hiato do produto ( H ) = PIB efetivo PIB potencial.
Em uma primeira análise, pois essa questão será aprofundada na seção sobre o rapport
salarial, pode-se mobilizar algumas hipóteses quanto a esses padrões contrastados de
evolução da relação entre desemprego e hiato do produto na economia brasileira
contemporânea.
O primeiro subperíodo [1980 T1 1987 T3] caracteriza-se por uma economia ainda
fechada em termos de comércio internacional. E embora os dispositivos institucionais de
proteção do mercado interno tenham contribuído para uma maior estabilidade das relações de
emprego, a década dos 80 caracterizou-se pela estagnação e a alta inflação, bem como pela
chamada crise fiscal do Estado. Mais precisamente, os anos de 1981-1983 foram marcados
por forte recessão induzida pela política econômica150, enquanto a segunda metade da década
assistirá a implementação de diversos programas heterodoxos de estabilização de preços151.
Estes últimos apesar de não lograrem êxito no combate à inflação, contribuíram para
expansões temporárias da demanda agregada que terminaram por manter a curta fase de
recuperação do PIB, observada após o ano recessivo de 1983. Um resultado direto dessa
conjunção de fatores foi a redução da taxa de desemprego entre 1984 e 1987. Mas como o
processo de informalização continuou em uma tendência persistente de expansão152, o
coeficiente que expressa a sensibilidade da taxa de desemprego às variações do produto
terminou situando-se no patamar de 0,32.153 Isto significa que uma queda de 1% no PIB
efetivo em relação ao PIB potencial tende a provocar uma elevação de 0,32 % na taxa de
desemprego neste primeiro subperíodo da série.
150
Nesse subperíodo, o Brasil assina um acordo com o FMI com o objetivo básico de equilibrar as contas
externas. Segundo LANZANA (2000, p. 114), a política econômica promoveu a desvalorização cambial, o
arrocho salarial, o corte dos gastos públicos com aumento de impostos, além do controle monetário e a elevação
das taxas de juros.
151
Plano Cruzado em 1986 e Plano Bresser em 1987.
152
Os dados do IBGE, relativos ao número de trabalhadores do setor informal, apontam uma tendência de
expansão que é prévia ao processo de abertura comercial e financeira, pois a série disponível tem início em 1982.
Detalhas dessa questão será explicitados durante a análise da evolução da forma institucional do rapport
salarial.
153
CORIAT e SABOIA (1995) argumentam que os setores formal e informal no Brasil evoluem em uma
dinâmica complementar de acordo com as fases do ciclo econômico. Durante as recessões constata-se a
migração de trabalhadores registrados para o setor informal, mas durante as fases de retomada do crescimento
econômico o inverso ocorre. Esta característica do mercado de trabalho brasileiro permitiria acomodar as
pressões sociais contribuindo para a reprodução das estruturas básicas da acumulação de capital no país. Numa
abordagem regulacionista considera-se que os parâmetros das relações macroeconômicas, inclusive a
regularidade de Okun, são determinados institucionalmente e portanto são estruturalmente dependentes das
particularidades da forma vigente de regulação.
178
apontando para uma reconstrução institucional das relações entre capital e trabalho no Brasil,
após o longo período sob regime político militar-autoritário. A hipótese então é a de que esse
processo teve algum efeito redutor da flexibilidade das relações de emprego.
O terceiro subperíodo [1996 T1 2002 T4] foi marcado pelo aprofundamento das
transformações estruturais que tiveram início na segunda fase e que rompem com a lógica do
modelo econômico baseado no processo de industrialização substitutiva de importações. A
implementação do Plano Real em 1994, conjugada com uma fase de sobrevalorização cambial
sem precedentes históricos provocaria uma rápida mudança na forma de inserção da economia
brasileira no regime internacional. No plano ideológico esse período caracterizou-se também
pelo predomínio do ideário neoliberal que, através do processo de globalização , criou as
condições sócio-políticas para uma reconfiguração relativamente rápida das formas
institucionais. A exposição drástica da indústria brasileira à concorrência internacional levou
à busca de maior flexibilidade quantitativa e salarial num mercado de trabalho já marcado por
níveis elevados de informalidade, precariedade e de rotatividade da mão-de-obra. Em
conseqüência, a resistência dos movimentos sindicais diante das transformações econômicas
então em curso é quebrada o que se refletirá na elevação do coeficiente para 0,45, sinalizando
o aumento da sensibilidade das taxas de desemprego aberto às variações no hiato do PIB.
154
Esta formulação é utilizada por BLANCHARD (1997 ) e MANKIW (1992 ) e corresponde a de uso mais
comum.
179
1981
1,4 1990 2002
1992 1996
1983
0,8 1991 1984
1997
0,4 1988 1987
1999
-0,1 19951993 1994
2000
1989
-0,6 2001
1982
-1,1
1986
-1,9
1985
-2,3
-3,0
-6,0 -4,3 -2,9 -0,5 0,8 1,9 3,2 4,4 5,9 7,5 10,0
Taxa de crescimento do PIB (TxY) em %
FONTE: Taxas médias anuais calculadas a partir das taxas mensais de desemprego aberto - referência: 30 dias
regiões metropolitanas - PME do IBGE e PIB pelo IPEADATA.
de Metas é implementado para promover o PISI em sua nova fase, concernente à lógica de
desenvolvimento econômico associado ao capital estrangeiro. E neste contexto destaca-se a
Lei de Tarifa de 1957, que oferecia a proteção às indústrias recém-criadas. A fase de expansão
correspondente desemboca na crise de 1962/63.
20% 10%
TxX 8%
10%
6%
0% TxM
4%
-10%
TxY 2%
-20%
0%
-30% -2%
-40% -4%
1929
1931
1933
1935
1937
1939
1941
1943
1945
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
FONTE: Elaborado a partir de dados do IPEADATA.
NOTA: Taxas de variação filtradas pelo filtro 4253H. Valores para o PIB, exportações e importações em dólares
de 2000 deflacionados pelo IPA dos EUA.
X / PIB
M / PIB
(X - M) / PIB
16%
14% X/Y
12%
10%
M/Y
8%
6%
4%
2%
0%
-2%
-4%
-6%
1947 1955 1963 1971 1979 1987 1995 2003
1951 1959 1967 1975 1983 1991 1999
155
Segundo GREMAUD et alii (2004, p. 271), a crise da dívida externa do Brasil e de outros países do terceiro
mundo serve para ilustrar os limites da manutenção por longos períodos de tempo de déficits nas transações
correntes financiados com endividamento externo. Em determinado ponto, só o pagamento de juros sobre essa
dívida pode consumir todo o esforço exportador do país.
182
com o conseqüente ônus social ocasionado pelas políticas de ajuste macroeconômico impostas
pelo FMI.
80,0%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
1947 1955 1963 1971 1979 1987 1995 2003
1951 1959 1967 1975 1983 1991 1999
RESULTADO GLOBAL DO
SALDO EM TRANSAÇÕES MOVIMENTOS DE CAPITAIS
ANO BALANÇO DE
CORRENTES ( T ) AUTÔNOMOS (KA)
PAGAMENTOS (T+ KA)
1947 -204 340 136
1948 -115 48 -67
1949 -135 168 33
1950 93 -123 -30
1951 -494 413 -81
1952 -725 698 -27
1953 -12 -28 -40
1954 -236 247 11
1955 -35 47 12
1956 -23 206 183
1957 -300 139 -161
1958 -265 235 -30
1959 -345 320 -25
1960 -518 504 -14
1961 -263 441 178
1962 -453 335 -118
1963 -171 134 -37
1964 81 -83 -2
1965 284 -66 218
1966 -31 22 -9
1967 -276 14 -262
1968 -582 679 97
1969 -364 895 531
1970 -839 1 373 534
1971 -1 630 2 167 537
1972 -1 688 4 226 2 538
1973 -2 085 4 465 2 380
1974 -7 504 6 463 -1 041
1975 -6 999 5 935 -1 064
1976 -6 426 9 114 2 688
1977 -4 826 5 540 714
1978 -6 983 11 245 4 262
1979 -10 708 7 493 -3 215
1980 -12 739 9 267 -3 472
1981 -11 706 12 331 625
1982 -16 273 11 731 -4 542
1983 -6 773 6 749 -24
1984 95 6 932 7 027
1985 -248 -209 -457
1986 -5 323 1 487 -3 836
1987 -1 438 2 453 1 015
1988 4 180 -2 931 1 249
1989 1 032 -146 886
1990 -3 784 4 265 481
1991 -1 407 1 038 -369
1992 6 109 8 561 14 670
1993 -676 9 385 8 709
1994 -1 811 9 026 7 215
1995 -18 384 31 303 12 919
1996 -23 502 32 168 8 666
1997 -30 452 22 545 -7 907
1998 -33 416 25 446 -7 970
1999 -25 335 17 513 -7 822
2000 -24 225 21 963 -2 262
2001 -23 215 26 522 3 307
2002 -7 718 8 020 302
2003 4 051 4 445 8 496
45%
40%
Dív. Ext.
35% Total / PIB
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
9%
8%
7%
6%
5%
4%
1956 1960 1964 1968 1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000
1958 1962 1966 1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002
60.000 140%
120%
50.000 100%
80%
40.000
60%
40%
30.000
20%
20.000 0%
-20%
10.000 -40%
-60%
0 -80%
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
156
Como se sabe, este processo não foi exclusivo do Brasil pois pôde ser observado para o conjunto da América
Latina.
157
Segundo ZINI (1995, p. 132), o uso de índices de preços ao consumidor (IPC) seria favorecido em razão de
sua abrangência e por refletirem a variação no mercado final. Todavia, o problema com esses índices é que
incluem muitos bens não-comerciáveis (serviços pessoais, habitação, etc.), enviesando a medida do grau de
competitividade do país. Ainda segundo este autor, o índice de preços por atacado (IPA) é utilizado porque
confere grande peso ao preço dos bens comerciáveis (setores industrial e agrícola) e é relevante para
comparações de preços relativos no nível dos produtores.
188
40.000
30.000
20.000
10.000
-10.000
1969 1972 1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002
FONTE: Elaborado a partir de dados do IPEADATA. Valores deflacionados pelo IPA dos EUA.
TÍTULOS DE
PERÍODO IDE AÇÕES
RENDA FIXA
20.000
8.000
6.000
4.000
2.000
800
600
400
200
1947 1951 1955 1959 1963 1967 1971 1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003
INTERNA (%PIB)
EXTERNA(%PIB)
TOTAL(%PIB)
180%
160%
140%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003
Esta constatação é reforçada pela trajetória da dívida mobiliária interna federal com
sua composição representada no Gráfico 26.
131%
120%
100%
89%
75%
60%
49%
31%
20%
9%
0%
1964 1970 1976 1982 1988 1994 2000
1967 1973 1979 1985 1991 1997 2003
ANO IN T E RN A (% P IB ) E XT E RN A (% P IB ) T O T A L(% P IB )
ANO IN T E RN A (% P IB ) E XT E RN A (% P IB ) T O T A L(% P IB )
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
-10%
1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003
158
Mais detalhes acerca dessas definições podem ser encontrados em GIAMBIAGI e ALÉM (2002).
159
Despesas líquidas de juros, porque se descontam as receitas de juros relativas às aplicações das reservas
internacionais.
194
ANO N O M IN A L O P E R A C IO N A L P R IM Á R IO
1981 5 ,6 % 2 ,0 % ...
1982 8 ,0 % 1 ,9 % ...
1983 4 ,8 % -0 ,1 % ...
1984 1 0 ,0 % 2 ,2 % ...
1985 1 3 ,6 % 1 ,2 % -1 ,7 %
1986 6 ,2 % 1 ,4 % -0 ,4 %
1987 1 8 ,1 % 3 ,3 % 1 ,9 %
1988 3 0 ,1 % 3 ,6 % 1 ,1 %
1989 5 5 ,2 % 4 ,2 % 1 ,5 %
1990 1 2 ,5 % -2 ,3 % -2 ,8 %
1991 6 ,5 % 0 ,1 % -1 ,0 %
1992 1 6 ,3 % 0 ,6 % -1 ,1 %
1993 2 4 ,0 % 0 ,7 % -0 ,8 %
1994 1 0 ,2 % -1 ,6 % -3 ,3 %
1995 2 ,4 % 1 ,7 % -0 ,5 %
1996 2 ,6 % 1 ,3 % -0 ,4 %
1997 2 ,6 % 1 ,8 % 0 ,2 %
1998 5 ,4 % 5 ,1 % -0 ,6 %
1999 6 ,8 % 3 ,1 % -2 ,3 %
2000 3 ,1 % 1 ,3 % -1 ,9 %
2001 3 ,7 % 1 ,5 % -1 ,8 %
2002 6 ,4 % 0 ,3 % -2 ,4 %
2003 2 ,6 % 1 ,0 % -2 ,6 %
ANO N O M IN A L O P E R A C IO N A L P R IM Á R IO
1981 1 3 ,9 5 % 6 ,6 4 % ...
1982 1 7 ,2 3 % 7 ,2 5 % ...
1983 2 1 ,8 4 % 3 ,3 2 % ...
1984 2 5 ,9 0 % 3 ,0 3 % ...
1985 3 0 ,2 4 % 4 ,6 5 % -2 ,7 5 %
1986 1 1 ,8 1 % 3 ,7 6 % -1 ,6 7 %
1987 3 3 ,5 6 % 5 ,9 2 % 1 ,0 4 %
1988 5 6 ,5 5 % 5 ,1 2 % -0 ,9 6 %
1989 8 9 ,9 1 % 7 ,4 7 % 1 ,0 8 %
1990 3 0 ,1 5 % -1 ,3 2 % -4 ,6 9 %
1991 2 6 ,7 5 % 0 ,1 9 % -2 ,7 1 %
1992 4 5 ,7 5 % 1 ,7 4 % -1 ,5 7 %
1993 6 4 ,8 3 % 0 ,8 0 % -2 ,1 9 %
1994 2 6 ,9 7 % -1 ,1 4 % -5 ,2 1 %
1995 7 ,2 8 % 5 ,0 0 % -0 ,2 7 %
1996 5 ,8 7 % 3 ,4 0 % 0 ,0 9 %
1997 6 ,0 4 % 4 ,2 5 % 0 ,8 7 %
1998 7 ,9 3 % 7 ,4 0 % -0 ,0 1 %
1999 9 ,8 7 % 3 ,3 8 % -3 ,1 9 %
2000 4 ,4 8 % 1 ,1 7 % -3 ,4 7 %
2001 5 ,1 7 % 1 ,4 0 % -3 ,6 4 %
2002 1 0 ,2 7 % -0 ,0 1 % -3 ,8 9 %
2003 3 ,7 2 % 0 ,9 3 % -4 ,3 7 %
160
Segundo J.C. CARDOSO JR. (2001), neste período, esse crescimento do setor terciário (comércio e serviços)
apresenta-se como patológico, pois reflete muito mais a desestruturação e a desregulação das relações de
trabalho, ocasionadas pela redução da participação das atividades secundárias. Em outros termos, o setor
serviços avançou em sua participação no PIB exatamente pela perda de participação da indústria, sobretudo por
ser um período onde se observam baixas taxas de crescimento econômico.
197
Agricultura
Indústria
Serviços
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1901
1904
1907
1910
1913
1916
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
FONTE: Elaborado a partir de dados do Sistema de Contas Nacionais do IBGE.
NOTA: Participações referentes ao PIB a preços básicos em valores reais.
GRÁFICO 29 DISTRIBUIÇÃO DO PESSOAL OCUPADO POR SETOR DE ATIVIDADE (1990
2002)
SERVIÇOS
INDÚSTRIA
AGROPECUÁRIA
100%
80%
60%
40%
20%
0%
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002
1991 1993 1995 1997 1999 2001
BENS DE CONSUMO
BENS DE CAPITAL
MATERIAL PARA CONSTRUÇÃO
BENS INTERMEDIÁRIOS
95
90
85
80
Em %
75
70
65
60
55
50
1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002
1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004
FONTE: FGV e IPEADATA. Dados para 2004 referem-se à média dos dois primeiros trimestre.
com uma taxa de ociosidade média de 25%. Na década de 90, destacam-se a redução
acentuada da taxa de utilização da capacidade para o ramo de bens de consumo e a grande
volatilidade desse indicador para o ramo de bens de capital, sugerindo elevada instabilidade
das expectativas de investimento neste período. Apenas o ramo de bens intermediários
mostrou-se relativamente estável, numa média de 85% de utilização da capacidade.
280
260
240
220
200
179
160
140
120
100
80
60
40
1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003
1977 1981 1985 1989 1993 1997 2001
FONTE: Dados originais obtidos no IPEADATA relativos à PIM-PF. Valores para 2004 referem-se ao mês de
janeiro.
200
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
-200
1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003
1977 1981 1985 1989 1993 1997 2001
O regime monetário inflacionista foi bloqueado Uma lógica usurária como suporte de um
processo de financeirização (taxas reais de juros
O sistema bancário-financeiro se abre ao capital extremamente elevadas bloqueiam a acumulação
estrangeiro num processo de fusões e aquisições de capital, apesar da recuperaçao das taxas de
REGIME MONETÁRIO- lucro)
FINANCEIRO
O sistema bancário-financeiro privado não financia
os investimentos de longo prazo e o mercado de
capitais é pouco desenvolvido
Pode-se considerar que um dos fatores explicativos para essa performance tão
incongruente com o potencial produtivo da economia brasileira no século XX, tenha sido a
resposta inadequada para a saída da crise dos anos 80. A busca de um novo padrão de
crescimento e acumulação incluiria, sem dúvida, a reconfiguração da arquitetura institucional
que definia o modo de regulação e o correspondente modo de desenvolvimento baseado na
substituição de importações. Mas havia outras possibilidades que poderiam ter sido
exploradas nos quadros das transformações estruturais e que simplesmente foram descartadas
em prol de uma re-inserção neoliberal no regime internacional.
história dos capitalismos desenvolvidos sempre lhe foi reservada. Ideologia neoliberal e re-
inserção subordinada no processo de globalização articulam-se e submetem uma economia
cujo potencial produtivo é indubitável, mas que é premida a se adequar às prerrogativas da
atual lógica financeira internacional. Conseqüentemente, os projetos consistentes de
desenvolvimento econômico são esvaziados no plano político-ideológico porque sua
realização implicaria mobilizar funções estatais incompatíveis com as formas atuais de gestão
das dívidas externas e internas. E são essas últimas que funcionam como premissa e resultado
da acumulação rentista, potencializada no contexto de uma globalização preponderantemente
financeira.
A análise da evolução das formas institucionais inicia-se, nesta seção, pelas relações
Estado-economia e por três razões principais que derivam das especificidades do caso
brasileiro:
161
Conforme SANDRONI (2003), em Novíssimo Dicionário de Economia, um Estado de tipo patrimonialista
não diferencia a esfera pública da privada. Trata-se de um sistema de dominação política ou de autoridade
tradicional em que a riqueza, os bens sociais, cargos e direitos são distribuídos como patrimônios pessoal de um
chefe ou governante. Várias análises reconhecem que a tradição patrimonialista brasileira foi uma herança
transmitida por Portugal. Mais detalhes dessa questão podem ser encontrados na obra Os Donos do Poder de
R. FAORO (1958). A utilização deste conceito no contexto de uma análise regulacionista adequa-se, portanto à
própria metodologia e aos princípios teóricos mobilizados neste trabalho.
162
Como observa FAORO [1975], citado por BAER [1995, P. 255], A intervenção do Estado não se restringia
ao financiamento e ao crédito, mas, ao contrário, estendia-se a todas as atividades comerciais, industriais e de
serviços públicos. O Estado autorizava o funcionamento de sociedades por cotas de responsabilidade limitada,
fechava contratos com bancos, concedia privilégios, fazia concessões especiais para a administração de ferrovias
e portos, assegurava o fornecimento de matérias e garantia o pagamento de juros. A soma desses favores e
privilégios envolvia a principal parte das atividades econômicas... [que]... poderiam existir somente através da
vida transmitida pelo cordão umbilical do Estado.
207
163
De um ponto de vista marxista, BRUNHOFF (1977) observa que o capital sempre necessitou de uma certa
gestão estatal da força de trabalho e da moeda. Entretanto, a política econômica contemporânea tomou forma
como organização global da dominação de classe capitalista num momento de crise econômica e social (nos anos
1930). Posta em questão quarenta anos após seu nascimento, sob o efeito de uma crise que ela não soube
prevenir, ela está, segundo alguns, excessivamente enfraquecida pela privatização do Estado e pela
internacionalização do capital, de modo que se coloca o problema de seu reajustamento e de sua
modificação... . Todavia, esta perspectiva está inteiramente de acordo com os pressupostos teóricos de uma
abordagem em termos de regulação.
208
164
Observa MENDONÇA (1988) que a principal especificidade do capitalismo brasileiro é a profunda
interferência do Estado na sua constituição. No bojo do processo de sua implementação, o Estado redefiniu suas
funções em matéria econômica, ampliando-as quantitativa e qualitativamente .
165
O exclusivo metropolitano refere-se ao impropriamente denominado pacto colonial entre Portugal e
Brasil durante os séculos XVI e XVIII. Correspondia a um conjunto de relações econômicas e políticas que
subordinavam a colônia à metrópole. Esta última desfrutava de uma dupla condição economicamente vantajosa:
era simultaneamente monopolista e monopsonista com relação ao comércio colonial. Os mecanismos desse
comércio eram controlados por grandes companhias formadas por capitais privados em associação com o Estado
ou totalmente controlados por este.
166
Mais detalhes e elementos teóricos e empíricos que suportam essa hipótese podem ser encontrados em M.
BRUNO (2000), A Formação dos Estados Nacionais na América Espanhola - do Choque da Conquista à
Fragmentação Política e Territorial , mimeo, IE/UFRJ, dezembro de 2000.
167
Esta seção baseia-se nos seguintes trabalhos e fontes de informações sobre as mudanças institucionais
implementadas neste período ao nível do Estado brasileiro: AFONSO e SOUZA (1977); IANNI (1977); S. R.
MENDONÇA (1988); BRESSER-PEREIRA (1986; 1992 e 2004); BAER (1995); TEIRXEIRA e TOTINI
(1994); GREAMAUD et alii (2004); IPEA; IBGE; ENAP; Plano Diretor da Reforma do Estado/Presidência da
República.
209
168
Um exemplo flagrante foi o processo de privatizações, que será comentado nas próximas seções. Enquanto
em países como a Inglaterra, Itália ou França, a pulverização das ações durante as privatizações permitiu que
amplos segmentos dessas sociedades pudessem se tornar acionistas, o processo de privatização no Brasil foi
fechado e excludente, porquanto restrito a grupos empresariais e aos próprios empregados das ex-estatais.
Contrariamente ao ocorrido no caso brasileiro, naqueles países os governos se preocuparam em democratizar o
acesso ao patrimônio público, evitando o aumento da concentração da renda.
210
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1933 1950 1955 1960 1966 1974 1982 1990 1998
169
BRESSER-PEREIRA (2003). Desenvolvimento e Crise no Brasil - História, Economia e Política de Getúlio
Vargas a Lula. Editora 34.
211
difunde-se e a participação política é crescente desde os anos 30, como pode ser constatado
pelo exame do Gráfico 33.
170
A ditadura do Estado Novo desdobra-se entre 1937 e 1945, quando as eleições para a Presidência da
República e para o Congresso foram então retomadas. Isto significa que, embora o regime político autoritário
tenha sido uma característica deste subperíodo, foi durante a vigência do Estado Novo que o aparelho de Estado
brasileiro reestruturou-se para desempenhar novas funções concernentes à implementação de um projeto de
desenvolvimento econômico nacional.
171
OLIVEIRA, Francisco. A Economia Brasileira: crítica à Razão Dualista. In: Seleções CEBRAP. SP,
Brasiliense, 1977, nº 1, pp. 10-1.
212
biológicos, a legislação trabalhista reduzia ao máximo os gastos dos empresários com a folha
de pagamento, já que não foram computadas despesas com educação e saúde. (S.
MENDONÇA, 1988, p. 28);
172
Segundo BRUM, A (1988), esta intervenção direta do Estado na economia e nas relações de trabalho
decorria do entendimento que se tinha do estágio ainda atrasado do capitalismo brasileiro. De um lado, a
empresa nacional era ainda fraca e, portanto, não tinha interesse nem condições de assumir a responsabilidade de
empreendimentos econômicos de vulto, que exigem relativa intensidade de capital e largos anos para maturação;
de outro, considerava-se que nem patrões nem trabalhadores, com suas organizações ainda incipientes e pouco
representativas, tinham experiência e maturidade suficientes para dispensar a tutela do Estado.
Conseqüentemente, esta devia suprir-lhes as deficiências, ocupar o espaço devido e dirigir o processo.
213
173
Como será visto ao longo deste trabalho, isto não significa que o ingresso de capitais estrangeiros e das
empresas multinacionais tenham provocado a emergência de padrões fordistas de acumulação na economia
brasileira. Pelo contrário, como se verá nas próximas seções, a análise aqui proposta não corrobora a hipótese de
vigência deste tipo de regime de crescimento no Brasil. Destaca-se apenas que no que concerne à sua dimensão
produtiva, formas fordistas de organização do trabalho puderam ser estabelecidas.
216
duráveis e o capital estatal voltava-se para o setor de bens de produção.174 O Plano de Metas
reconfigurou as relações Estado-economia, integrando as atividades do capital público e do
privado nacional e estrangeiro, através de um planejamento que definia as prioridades de
investimento, bem como as estratégias para alocação dos recursos privados disponíveis. O
Estado brasileiro adquiria novas funções e esferas de atuação econômica que passavam desde
a sua definição como banqueiro do capital privado (através das agências públicas de
financiamento do crédito industrial), até o seu papel de proprietário (através das empresas
públicas). Segundo LESSA (1975), ocorria neste momento um processo de estatização
formal da economia brasileira que tinha por fundamento um Estado como importante
produtor direto nos setores estratégicos e controlador indireto de faixas expressivas de decisão
privada.
Este período inicia-se pelo golpe militar de 1964, que pode ser interpretado como um
dos desdobramentos da crise de 1962, considerada a primeira crise industrial endógena
brasileira.175 O regime de crescimento anterior promovido pelo Plano de Metas intensifica
várias contradições inerentes à opção por uma determinada lógica de acumulação industrial: o
aumento excessivo da concentração de renda; subinvestimento no setor agrícola e a
desconexão entre os ganhos de produtividade e os salários. Esses fatores se conjugaram e
criaram as condições para a crise de 1962 e para a elevação da inflação no período.
176
Observa GREMAUD et alii (2004), que o Estado buscava com essas mudanças, romper o estímulo à
integração vertical da produção e facilitar a utilização dos impostos como instrumento de política de
desenvolvimento e de redução de distorções, ao permitir as diferenciações de alíquotas e facilitar a concessão de
isenções e incentivos fiscais às atividades específicas.
218
177
Durante o Governo Castelo Branco foi formulado o Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e Social
para os anos de 1967-1976. Segundo IANNI(1977), tratava-se de aproveitar as condições políticas
excepcionais, criadas com a hegemonia absoluta do Executivo sobre o Legislativo; e aproveitar também as
condições econômicas favoráveis, criadas pela experiência de formulação e execução do PAEG . Neste sentido,
o governo buscou se equipar para exercer com o máximo de eficiência as suas funções no âmbito das relações
econômicas. Todavia, como observa o mesmo autor, o Plano Decenal não passou de um conjunto de estudos,
relatórios e recomendações. A despeito do interesse revelado pelo governo e do empenho dos economistas e
técnicos que se dedicam à elaboração dos vários diagnósticos e prognósticos, ele não subsistiu no governo
seguinte e foi substituído pelos Planos Nacionais de Desenvolvimento.
178
Para M. B. FURTADO, a política de endividamento externo constituiu-se neste período no principal fator de
aceleração do crescimento econômico. A extroversão da economia, por outro lado, tornou o país ainda mais
dependente do exterior e, ao incentivar a exportação, provocou menor oferta interna, principalmente de produtos
agrícolas.
219
179
Na área energética, destacou-se o Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL), implementado em 1976,
usando a produção do álcool como combustível automotivo substituto da gasolina e como matéria-prima para a
indústria química.
180
Para FIORI (1995), citado por LACERDA et alii (2000), a tentativa de implantar o II PNB, articulando o
Estado e a burguesia industrial do setor de bens de capital, constituiu-se na segunda tentativa de via prussiana
rejeitada de afirmação de um projeto nacional. A primeira refere-se à era Vargas, quando o Estado buscou
consolidar as bases para um desenvolvimento econômico autônomo, mas igualmente não teve o apoio necessário
da parte da burguesia brasileira. A denominada via prussiana de industrialização decorre da experiência histórica
alemã, onde a articulação entre o Estado Nacional e a burguesia industrial e financeira lançou as bases para o
processo de desenvolvimento econômico deste país.
220
básicos para relançar a economia brasileira num novo ciclo expansivo de acumulação.
Tratava-se de superar os obstáculos estruturais que resultaram do regime de
crescimento que emergiu a partir das transformações desencadeadas pelo Plano de
Metas. Esse ponto de vista é defendido por S.R. MENDONÇA (op. cit.), ao
argumentar que o golpe de 1964 não teria significado nenhuma ruptura essencial com
o padrão de desenvolvimento construído durante o período precedente.
Conseqüentemente, duas hipóteses podem ser testadas neste contexto:
Neste contexto, o Brasil, como outras nações altamente endividadas, foi pressionado a
abrir seus mercados num processo acelerado de liberalização comercial e financeira, cujas
conseqüências foram antecipadas como necessariamente benéficas à economia e sociedade181.
181
Nesta fase que marcou a entrada em cena das forças da globalização com sua difusão pela mídia, os tão
propalados benefícios econômicos e sociais só poderiam derivar de meras suposições sem conteúdo empírico ou
teórico, pois era flagrante a carência de pesquisas sérias e rigorosas sobre as reais conseqüências de um processo
de abertura comercial e financeira sobre as nações ainda em desenvolvimento. Evidentemente como se constatou
mais tarde, inclusive pelos próprios países desenvolvidos, a globalização mostrou-se um projeto político
222
e) Reforma administrativa.
derivado dos interesses do capital financeiro internacional. Como atual fração hegemônica do capital é este quem
mais ganha com esse processo de internacionalização.
182
Esta forma de posicionar o discurso sobre as reformas do Estado esteve muito presente na gestão do então
Presidente da República Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Todavia, em que sentido os períodos JK e o
do Milagre econômico não teriam superado, cada qual a sua maneira, as linhas básicas de um Estado nacional-
desenvolvimentista ? Como observa SOUZA, H. e AFONSO, C. (1977), o verdadeiro significado do período JK
para a economia e a vida política brasileira, iria se revelar em toda sua plenitude quando as correntes
nacionalistas no Brasil descobriram, um pouco tarde, talvez, que o capital multinacional já havia ocupado seus
setores industriais estratégicos, no bojo da retórica desenvolvimentista do governo.
183
Segundo BRESSER-PEREIRA (1992), de acordo com a abordagem de Washington, as causas da crise
latino-americana são basicamente duas: (1) o excessivo crescimento do Estado, traduzido em protecionismo (o
modelo de substituição de importações), excesso de regulação, e empresas estatais ineficientes e em número
excessivo; e (2) o populismo econômico, definido pela incapacidade de se controlar o déficit público e de se
manter sob controle as demandas salariais tanto do setor privado quando do setor público .
223
a) O processo de privatização
No que concerne ao processo de privatização deve ser destacado que nos anos 80
tratava-se de uma fase de reprivatização de empresas que haviam sido absorvidas pelo Estado
brasileiro, em razão de dificuldades financeiras (Quadro 16).184 Mas em 1990, a privatização é
institucionalizada pela Lei nº 8.031 através da criação do Programa Nacional de
184
Segundo BAER [1995, p. 271], o movimento brasileiro em direção à privatização teria começado no final da
década de 70. Nesta época a desaceleração do crescimento econômico provocará um acirramento da
concorrência entre o setor público e o privado pelos recursos interno e externo de capital - tornados cada vez
mais escassos. Como as empresas estatais se encontravam no meio de grandes projetos de investimento aos quais
o governo dava total apoio, a oferta de recursos disponíveis para o setor privado reduziu-se, minando as bases
políticas e econômicas do chamado tripé sobre o qual o milagre dos 70 havia sido construído.
224
1ª) [1980 1989] nessa fase trata-se de um processo de reprivatização com o objetivo
de saneamento financeiro da carteira do BNDES. E embora não tenha havido privatização
das grandes empresas estatais, o Governo teve ganhos de experiência que seriam
utilizados na retomada do processo nos anos 90;
2ª) [1990 1995] esta fase se caracteriza pelo lançamento e implementação do Plano
Nacional de Desestatização que privilegia a privatização das empresas estatais. O Estado
promulga leis específicas que estabelecem um marco regulatório para a privatização de
setores, não apenas de empresas como anteriormente. O processo privilegiou as empresas
dos setores industriais (siderurgia, petroquímica e fertilizantes);
3ª) [1995 2002] essa terceira fase caracteriza-se pela aprovação da Lei de Concessões
que redirecionou o processo para a privatização de empresas de serviços públicos.
Destacam-se os setores de energia elétrica e telecomunicações que pela magnitude dos
recursos envolvidos podem ser consideradas megaprivatizações .
185
Uma curiosa ironia com relação ao período imediatamente anterior onde a sigla PND significava Plano
Nacional de Desenvolvimento.
186
Conforme LACERDA et al [2000, p. 194], inicialmente, 68 empresas foram incluídas no PND, mas até 1998,
somente no âmbito federal, 60 companhias tinham sido transferidas ao setor privado, gerando um resultado de
aproximadamente US$ 28,5 bilhões.
225
(US$ milhões)
NÚMERO MOEDAS
VALOR DÍVIDAS
TIPO PERÍODO DE TOTAL PODRES / TOTAL
ARRECADADO TRANSFERIDAS
EMPRESAS (%)
Reprivatização
1981-1989 39 ... ... 735 ...
1991 4 1.614 374 1.988 98,9
1992 14 2.401 982 3.383 98,7
1993 6 2.627 1.561 4.188 92,3
PLANO NACIONAL 1994 9 1.966 349 2.315 28,0
DE 1995 8 1.003 625 1.628 67,4
DESESTATIZAÇÃO 1996 11 4.080 699 4.749 25,1
(PND) 1997 4 4.265 3.559 7.824 4,5
1998 7 1.655 1.082 2.737 0,1
1999 2 133 133
2000 1 7.670 7.670
2001 820 820
Telecomunicações 28.793 2.125 30.918
Estaduais 1996-2001 27.919 6.750 34.669
TOTAL 84.946 18.076 103.022
FONTE: GREMAUD et al [2004], a partir de dados do BNDES.
c) A reforma fiscal
Outro fato relevante para a análise do novo regime fisco-financeiro que se configura
no Brasil refere-se ao aumento da carga tributária observado ao longo dos anos 90 e antes
mesmo de que qualquer reformulação do sistema tributário tivesse sido implementada. Para
MATIAS PEREIRA (2003), existe uma estreita relação entre o programa fiscal firmado pelo
Brasil com o FMI e o aumento da carga tributária no país. No período 1999-2002, cerca de
5% do PIB foram acrescidos à carga tributária para conter uma expansão mais forte da dívida
pública, provocada pela elevação da taxa de juros. O aumento da receita impositiva
187
Conforme Helmut Schwarzer [2003], Secretário de Previdência Social do Ministério da Previdência Social.
188
Conforme MATIAS PEREIRA [2003], a economia brasileira possui a maior arrecadação tributária da
América Latina (36,11% do PIB).
189
O atual sistema tributário brasileiro é composto por 61 tributos (impostos, contribuições, taxas, fundos, etc.).
228
PAÍSES UNIÃO
EUA BRASIL
TIPOS EUROPÉIA
DE IMPOSTO
Indireto 30% 16% 52%
Direto 36% 50% 19%
Sobre a Propriedade 5% 11% 3%
Contribuições à Seguridade Social 28% 24% 25%
Outros 1% 0% 2%
Total 100% 100% 100%
FONTE: Adaptação a partir de PEREIRA (2003); Secretaria da Receita Federal (2000) para o Brasil; OCDE
(1998) para EU e EUA.
d) A reforma administrativa
190
Conforme artigo disponível no site JUS Navigandi [2004].
230
3. Regime Fisco-Financeiro - arrecadação sobre produção interna - predomínio de impostos "em cascatas"
começa a superar arrecadação sobre - primeiros arranjos para tributação sobre
3.1 Sistema Tributário
importações valor adicionado
5. Provimento de Bens Públicos - Setor público complementa o fornecimento - Diminuição dos gastos sociais em relação
(educação, saúde, saneamento privado dos serviços de saúde e educação, ao período anterior
mas participação reduzida no orçamento
básico, etc.)
5. Provimento de Bens Públicos - Parte das responsabilidades com o - sucateamento e crise dos sistemas
(educação, saúde, saneamento provimento de serviços de saúde e públicos de saúde e de educação
educação são transferidas aos Estados, - proliferação dos planos privados de saúde
básico, etc.)
reduzindo drasticamente os gastos sociais e das instituições educacionais privadas
federais
financeiro significa então mostrar como, em uma situação histórica dada, essas estruturas se
configuram para assegurar o desenvolvimento financeiro do Estado e do poder político que
lhe corresponde.
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1901
1904
1907
1910
1913
1916
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
FONTE: IBGE Estatísticas do Século XX. Rio de Janeiro, 2003.
NOTA: Referem-se apenas aos principais impostos da União como percentagem da receita total de arrecadação,
não se incluindo os impostos de menor participação.
Até os anos 30, a arrecadação federal é fortemente dependente das receitas de
impostos sobre importações, uma característica do modo de desenvolvimento extrovertido
baseado no complexo agrário-exportador cafeeiro.193 No entanto, a partir de 1939, a
arrecadação sobre a produção industrial supera as receitas originárias de importações. Estas
últimas caem drasticamente até estacionarem em torno de 10% da arrecadação federal entre os
anos 40 e 90. Mas com o rápido crescimento de uma classe média urbana, em 1943 seria a vez
193
Em seu trabalho O Setor Público Brasileiro 1980/1945 , p. 9, Lia Alt PEREIRA e Lia Valls PEREIRA
(2001) observam que a evolução da receita tributária espelha a evolução dos fatores que condicionaram o
crescimento da economia. (...) Até a segunda metade dos anos 30, sendo a economia fortemente dependente do
comércio exterior, também o era a receita pública, dos impostos de importação e de exportação. À medida em
que se consolidava a mudança da estrutura da economia com o processo de industrialização intensificado a
partir de 1933, os impostos internos passavam a dominar o sistema tributário brasileiro.
235
das receitas de impostos sobre a renda ultrapassarem a arrecadação obtida com o principal
tributo da República Velha (Gráfico 34). Em suma, a tributação sobre as importações
permanece estacionada numa média de 10% da receita fiscal total a partir de 1958. Mas
enquanto a arrecadação sobre produção industrial decai acentuadamente de 1968 a 1984, a
participação do imposto sobre a renda avança neste mesmo período e atinge nos anos 90, 60%
do total da arrecadação.
Para tanto, era preciso mudar o que na Teoria da Regulação é definido por regime de
política econômica. Neste contexto, pode-se mobilizar a classificação proposta nos trabalhos
de THÉRET (1992) e LORDON (2002, p. 202). Primeiramente, é possível considerar-se duas
formas diferentes da política econômica:
194
De agora em diante, essas siglas significarão, respectivamente, wage-labor nexus ou rapport salarial, regime
monetário-financeiro, formas da concorrência e forma de inserção internacional, mantendo-se suas definições,
expostas no capítulo 1.
236
É neste sentido que o Estado surge como uma instituição superior às demais
instituições, pois dotado de poder político que, apesar de limitado, é capaz de as transformar.
Neste contexto, observa LORDON (2002), o Estado se manifesta tanto como dispositivo
inscrito nas estruturas do modo de regulação, quanto como ponto de apoio externo de onde é
possível agir sobre este último. Neste sentido, se poderia considerar a forma regime de
política econômica como sendo constituída a partir dos seguintes elementos:
Uma das muitas conseqüências analíticas que se pode extrair dessas considerações
teóricas refere-se ao fato de que o esgotamento de um regime de crescimento conduz
necessariamente à crise do regime de política econômica que lhe corresponde.
Conseqüentemente, a crise do regime de acumulação de base agrário-exportadora provocaria
237
mutações cada vez mais profundas no regime de política econômica consolidado ao longo da
República dos Fazendeiros . Sabe-se que até a Grande crise de 1929, a política econômica
respondia preponderantemente aos interesses do setor cafeeiro, as chamadas políticas de
valorização do café que procuravam minimizar os efeitos das grandes oscilações da demanda
mundial por este produto. Tratava-se de garantir não apenas os lucros do setor exportador,
mas também a base principal de arrecadação fiscal, já que as importações necessárias à
economia brasileira dependiam das divisas geradas naquele setor. Portanto, o regime fisco-
financeiro deveria responder a essa dupla finalidade e não voltar-se, por exemplo, para a
promoção do crédito às atividades não-agrícolas ou, mais especificamente, para satisfazer as
principais demandas do ainda incipiente setor industrial.195 Era necessário que as
transformações político-institucionais fossem capazes de superar a espontaneidade do
processo de substituição de importações, que até então vinha sendo promovido pela própria
dinâmica da economia cafeeira, convertendo-o em um regime de política econômica
associado a um modelo nacional de desenvolvimento.
Observando-se o Gráfico 35, pode-se constatar que entre 1901 e 1927, a produção de
café e as exportações totais do Brasil apresentam dinâmicas correlatas, embora com ciclos
nem sempre sincrônicos, em razão das defasagens da oferta em resposta às oscilações da
demanda internacional. Essa dessincronia entre oferta e a demanda externa está na base do
comportamento cíclico desse produto, mas com a Grande Crise dos anos 30, a superprodução
de café atinge magnitudes extremas, explicando a brusca desconexão entre as dinâmicas das
duas séries, relatada no mesmo gráfico. Em conseqüência, a grande crise dos anos 30 bloqueia
drasticamente a reprodução dos capitais no complexo agro-exportador brasileiro, mas também
abre um novo espaço de valorização, centrado no mercado interno, para uma indústria
nacional em expansão196. Portanto, a crise dos anos 30 pode ser interpretada como um
momento fundamental por suas conseqüências sócio-econômicas: ela interrompe um padrão
secular de inserção internacional que estava na base da reprodução sócio-política e econômica
da oligarquia agrária e do controle que exercia sobre o regime político e sobre o aparelho de
Estado brasileiro.
195
É por esta razão que várias análises para esse período ressaltam que a expansão industrial processou-se muito
mais nas brechas dos ciclos da economia cafeeira do que por incentivos do Estado. Diversos trabalhos podem
ser citados, como os de Celso FURTADO (1986), Caio PRADO JR (1977)., SUZIGAN (1986), VILELA LUZ
(1961), VERSIANI (1984) entre outros.
196
Esta constatação encontra-se na obra de Celso FURTADO, bem como de vários estudiosos, economistas e
historiadores do processo de industrialização brasileira.
238
EXPORTAÇÕES TOTAIS
PRODUÇÃO CAFEEIRA
280
260
Índice de Quantum: 1901 = 100
240
220
200
180
160
140
120
100
80
60
1901 1905 1909 1913 1917 1921 1925 1929 1933 1937 1941 1945 1949
Subsídios / PIB
Transferências / PIB
16%
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
-2%
1900 1914 1928 1942 1956 1970 1984 1998
1907 1921 1935 1949 1963 1977 1991
A fase de crescimento dos subsídios governamentais tem início a partir de 1955 com a
implantação do Plano de Metas. Ressalte-se que a partir de 1980, provavelmente como
conseqüência das novas prioridades do Governo em face da crise fiscal do Estado , a
participação dos subsídios no PIB declina substancialmente.
economia, estimularam o livre fluxo de capital e bens dentro da esfera das empresas
multinacionais, e foram seriamente indiferentes às necessidades de bem-estar social.
TABELA 14 COMPOSIÇÃO DOS GASTOS DO GOVERNO FEDERAL EM FORMAÇÃO BRUTA
DE CAPITAL FIXO (1890 1945)
ESCOLAS,
ANO SANEAMENTO FERROVIA, UNIVERSIDADES E MÁQUINAS, TOTAL
RODOVIA, PORTOS E HOSPITAIS E INSTITUTOS DE SEGURANÇA (BASES EQUIPAMENTOS E
AEROPORTOS POSTOS DE SAÚDE PESQUISA E QUARTÉIS) INSTALAÇÕES
1890 4,1% 69,5% 0,5% 0,1% 3,2% 22,5% 100%
1891 3,7% 59,6% 0,4% 1,1% 2,0% 33,2% 100%
1892 12,6% 54,0% ... 0,1% 4,0% 29,2% 100%
1893 3,8% 38,6% 0,3% 0,4% 3,1% 53,8% 100%
1894 4,8% 41,7% 4,3% 0,1% 3,4% 45,6% 100%
1895 6,3% 46,2% 3,3% 1,0% 6,6% 36,6% 100%
1896 3,4% 59,4% 2,1% 0,9% 2,1% 32,1% 100%
1897 4,5% 33,2% 1,0% 0,7% 4,6% 56,0% 100%
1898 1,8% 6,7% 0,1% 0,4% 4,4% 86,5% 100%
1899 1,5% 50,3% 0,0% ... 6,9% 41,3% 100%
1900 4,8% 28,1% 0,0% ... 17,1% 50,0% 100%
1901 10,9% 22,6% 3,5% ... 13,9% 49,1% 100%
1902 8,1% 26,7% ... 0,3% 17,4% 47,4% 100%
1903 4,3% 58,5% 0,1% 0,2% 8,0% 28,9% 100%
1904 1,8% 78,2% 0,5% 0,4% 4,9% 14,2% 100%
1905 3,8% 58,3% 0,3% 1,3% 5,8% 30,5% 100%
1906 4,0% 37,8% 0,5% 2,6% 3,9% 51,0% 100%
1907 13,9% 45,7% 0,1% 4,0% 4,2% 32,1% 100%
1908 31,5% 34,6% 0,2% 3,7% 8,5% 21,5% 100%
1909 5,8% 65,2% 0,1% 4,1% 9,3% 15,5% 100%
1910 1,8% 79,5% 0,1% 1,1% 6,8% 10,6% 100%
1911 2,6% 72,9% ... 0,5% 4,3% 19,7% 100%
1912 5,9% 68,4% 0,3% 0,1% 3,5% 21,8% 100%
1913 5,2% 73,1% ... 0,4% 0,4% 20,8% 100%
1914 3,1% 86,0% 0,2% 0,1% 0,6% 10,1% 100%
1915 ... ... ... ... ... ... ...
1916 ... ... ... ... ... ... ...
1917 1,9% 3,0% ... ... 0,4% 94,7% 100%
1918 0,9% 23,1% ... ... 0,0% 76,0% 100%
1919 0,0% 14,4% ... ... 0,5% 85,1% 100%
1920 0,0% 9,8% ... ... 0,3% 89,9% 100%
1921 0,0% 14,5% ... 0,1% 0,3% 85,1% 100%
1922 ... ... ... ... ... ... ...
1923 1,4% 45,7% 0,5% ... 4,8% 47,6% 100%
1924 25,2% 53,2% ... ... 1,7% 19,9% 100%
1925 3,0% 84,4% 0,6% ... 2,2% 9,8% 100%
1926 2,7% 88,9% ... ... 2,1% 6,3% 100%
1927 7,5% 18,1% ... ... 4,2% 70,2% 100%
1928 8,0% 53,1% ... ... 3,7% 35,2% 100%
1929 8,9% 56,7% ... ... 3,4% 31,0% 100%
1930 7,9% 79,5% ... ... 2,7% 9,9% 100%
1931 21,1% 63,3% ... ... 3,5% 12,2% 100%
1932 13,3% 67,0% ... ... ... 19,7% 100%
1933 41,8% 35,2% ... 7,5% 2,0% 13,5% 100%
1934 5,8% 25,1% ... 0,6% ... 68,5% 100%
1935 4,0% 24,8% ... 6,6% ... 64,5% 100%
1936 18,7% 16,3% ... 0,9% ... 64,1% 100%
1937 ... 52,4% 14,4% 6,5% ... 26,7% 100%
1938 2,4% 14,1% 3,2% 1,3% 52,7% 26,2% 100%
1939 2,1% 10,9% 0,8% 0,3% ... 86,0% 100%
1940 0,2% 7,8% 0,2% 3,0% ... 88,9% 100%
1941 0,3% 8,3% 1,2% 1,0% 0,8% 88,5% 100%
1942 7,8% 27,9% 2,0% 0,5% ... 61,8% 100%
1943 6,2% 28,0% 0,9% 1,0% ... 63,9% 100%
1944 0,0% 7,4% 0,5% 0,2% ... 91,8% 100%
1945 5,9% 32,3% 0,3% 0,2% 0,2% 61,1% 100%
centralização das funções financeiras. Uma característica condizente com uma época onde o
endividamento público interno atinge níveis muito elevados e o Estado brasileiro prioriza uma
gestão do orçamento público sob os auspícios do FMI e sob as pressões dos mercados
financeiros nacional e internacional.
28%
26%
24%
22%
20%
18%
16%
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
1923
1925
1927
1929
1931
1933
1935
1937
1939
1941
1943
1945
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
FONTE: Dados obtidos a partir do IPEADATA e originários do Ministério da Assistência e Previdência Social.
198
Uma das constatações de CORIAT e SABOIA (1998), em sua análise do regime de acumulação e da WLN no
Brasil.
246
Diante da chamada crise da previdência , o Governo passa a adotar uma postura mais
ativa com relação à promoção da reestruturação do sistema, com vistas a superar sua
tendência ao desequilíbrio do fluxo de caixa.
247
0130
Índice dos Valores: 1982 = 100
0120
0110
0100
090
080
070
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
FONTE: Dados mensais obtidos a partir do IPEADATA e originários do Ministério da Assistência e Previdência
Social.
NOTA: Valores referem-se às médias anuais dos recebimentos e das despesas deflacionados pelo IGP-DI.
3,0
Em R$ bilhões de julho de 2004
2,0
1,0
0,0
-1,0
-2,0
-3,0
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
FONTE: Dados mensais obtidos a partir do IPEADATA e originários do Ministério da Assistência e Previdência
Social.
NOTA: Valores referem-se às médias anuais dos recebimentos e das despesas deflacionados pelo IGP-DI.
248
75%
70%
65%
60%
55%
50%
45%
40%
35%
1900 1908 1916 1924 1932 1940 1948 1956 1964 1972 1980 1988 1996
1904 1912 1920 1928 1936 1944 1952 1960 1968 1976 1984 1992 2000
FONTE: Séries originais obtidas em Estatísticas do Século XX IBGE, Rio de Janeiro, 2003.
NOTA: Séries tendenciais estimadas pelo método lowess smoothing de regressão local.
Cg
FBKFg
500.000
Bilhões de R$ de 2000 - Escala log
50.000
5.000
500
50
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
FONTE: Séries originais obtidas em Estatísticas do Século XX IBGE, Rio de Janeiro, 2003 e IPEADATA.
NOTA: Cg = consumo do governo e FBKFg = formação bruta de capital fixo do governo.
199
No âmbito das políticas de valorização do principal produto de exportação brasileiro, foi assinado o Convênio
de Taubaté (São Paulo), em 1906, onde o Estado se comprometia a comprar os excedentes de produção do café,
para conter a tendência de queda dos preços internacionais. Para alguns analistas como Celso Furtado (1975),
essas políticas, que perdurariam até os anos 30, anteciparam as intervenções de tipo keynesiano.
251
TXDESPG
TXPIB
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
-10%
-20%
-30%
-40%
1901
1904
1907
1910
1913
1916
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
FONTE: Séries originais obtidas em Estatísticas do Século XX IBGE, Rio de Janeiro, 2003 e IPEADATA.
NOTA: TXDESPG = taxa de crescimento das despesas do governo federal; TXPIB = taxa de crescimento do
PIB.
20%
15%
10%
5%
0%
-5%
-10%
-15%
1901 1915 1929 1943 1957 1971 1985 1999
1908 1922 1936 1950 1964 1978 1992
FONTE: Séries originais obtidas em Estatísticas do Século XX IBGE, Rio de Janeiro, 2003 e IPEADATA.
NOTA: As séries foram filtradas pelo filtro 4253H.
252
10%
8%
6%
4%
2%
0%
-2%
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
1905 1915 1925 1935 1945 1955 1965 1975 1985 1995
Deve ser observado que o fato do governo incorrer em déficit não significa
necessariamente que a poupança do governo seja negativa. O déficit público - ou as
necessidades de financiamento do setor público (NFSP) - pode indicar que a poupança
pública, apesar de positiva, é inferior ao fluxo de investimento do governo.
253
Sg = RLG - Cg - Jg (2)
Um fator que deve ser destacado por seus efeitos sobre a reconfiguração do regime
fisco-financeiro brasileiro no período pós-1964, refere-se ao dispositivo institucional da
correção monetária que integrou as reformas monetária e fiscal do PAEG (1964-1966). Se
por um lado, essa instituição viabilizou um novo processo de formação da dívida pública no
Brasil e favoreceu o saneamento das finanças públicas; por outro, ela abriu o caminho para o
crescimento do endividamento público e para a generalização do processo de indexação. Este
último, como será visto na seção 3.5, se constituirá no suporte do regime monetário-
financeiro inflacionista dos anos 80. A superação da alta inflação a partir do Plano Real
pressupôs mudanças significativas na lógica de funcionamento do regime fisco-financeiro,
afetando o padrão de endividamento e de evolução das finanças públicas no final do século
XX.
200
Segundo GIAMBIAGI e ALÉM (1999), poder-se-ia utilizar a equação (3) para se calcular o resultado fiscal,
mas as estatísticas de variação da dívida pública não são compatíveis com as que medem a poupança do setor
público.
254
Pela Tabela 17, observa-se que os pagamentos de juros entre 1989 e 1994, os
pagamentos de juros representaram uma média de 30% do PIB. Os investimentos
permaneceram reduzidos no mesmo período e caíram ainda mais após 1994, justamente numa
fase em que houve queda na participação dos juros governamentais.
255
FONTE: Séries originais obtidas em Estatísticas do Século XX IBGE, Rio de Janeiro, 2003.
257
POUPANÇA
ADMINISTRAÇÃO EMPRESAS
ANO TOTAL SETOR PÚBLICO SETOR PRIVADO
PÚBLICA PÚBLICAS
INTERNA
1995 19,5% -3,0% -2,2% -0,8% 22,4%
1996 17,8% -1,0% -1,4% 0,3% 18,8%
1997 17,4% -1,6% -2,6% 1,0% 18,9%
1998 16,8% -3,9% -4,3% 0,4% 20,7%
1999 15,4% -5,8% -6,0% 0,1% 21,3%
2000 17,3% -1,6% -2,7% 1,0% 19,0%
2001 16,8% -0,5% -1,8% 1,3% 17,3%
2002 18,6% -0,8% -0,6% -0,2% 19,3%
500,00
250,00
Em Bilhões de R$ de 2000 - Escala Log
75,00
50,00
25,00
7,50
5,00
2,50
0,75
0,50 Cg
0,25 Jg
Ig
1947 1955 1963 1971 1979 1987 1995 RLG
1951 1959 1967 1975 1983 1991 1999
Cg / DespTotal
(Ss+Trf)/DespTotal
FBKFg / DespTotal
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
-10%
1900 1908 1916 1924 1932 1940 1948 1956 1964 1972 1980 1988 1996
1904 1912 1920 1928 1936 1944 1952 1960 1968 1976 1984 1992 2000
econômico é forçar a parte da população submetida às relações salariais, a arcar com parcelas
cada vez maiores da arrecadação fiscal do Estado.
PERÍODO TL TK
A Tabela 21 fornece uma atualização para o período pós-1990, dos dados constantes
das tabelas precedentes. A carga tributária sobre o trabalho aprofunda-se nos anos 90,
mantendo-se a tendência histórica de regressividade, desonerando o capital.
ANO TL TK
Para captar as relações entre a receita tributária total, o PIB, as exportações e importações,
estimou-se a seguinte equação, para o período completo de análise [1900 2000]202:
202
As estimações econométricas realizadas neste trabalho foram realizadas nos softwares EVIEWS 3.0, PCGive
9.2, GRETL 1.2.9, EASYREG, STATISTICA 6.0 e STATA 8.0.
203
GRANGER, C.W.J. e NEWBOLD, P. Spourious Regression in Econometrics, Journal of Econometrics, 2,
1974, p. 111-120.
263
0.6 80 1.2
0.4 60 1.0
0.8
0.2 40
0.6
0.0 20
0.4
-0.2 0
0.2
15 2 .0
0.6 0.6
10 1 .5
0.4 0.4 5
1 .0
0.2 0.2 0
0 .5
0.0 0.0 -5
0 .0
-1 0
-0.2 -0.2
-1 5 -0 .5
-0.4 -0.4 -2 0 -1 .0
0.00 -0.6 0.00 -0.6
20 30 40 50 60 70 80 90 00 20 30 40 50 60 70 80 90 00
0.05 0.05 1 .5 1 .0
1 .0 0 .8
0 .6
0.10 0.10 0 .5
0 .4
0 .0
0 .2
-0 .5
0.15 0.15 0 .0
10 20 30 40 50 60 70 80 90 00 10 20 30 40 50 60 70 80 90 00 -1 .0 -0 .2
-1 .5 -0 .4
20 30 40 50 60 70 80 90 00 20 30 40 50 60 70 80 90 00
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals Re c u rs i v e C(3 ) Es ti m ate s ± 2 S.E. Re c u rs i v e C(4 ) Es ti m a te s ± 2 S.E.
a.1) Primeiro período [1900-1926] - o primeiro regime identificado a partir dos testes de
estabilidade estrutural (Quadro 20 e Figura 14) compreende o período [1900-1926] e para o
qual realizou-se os testes de raízes unitárias ADF e PP204. Com exceção das exportações,
todas as séries revelaram-se não-estacionárias. Todavia, após os testes de co-integração de
JOHANSEN para o modelo sem as exportações, nas especificações em termos de VECM, os
coeficientes dos termos de correção de erro não apresentaram significância estatística
(detalhes dos testes encontram-se no anexo). Considerou-se então a representação VECM
como não válida neste primeiro sub-período, o que significa admitir a inexistência de uma
relação de longo prazo entre as variáveis do modelo. Isto poderia ser conseqüência do fraco
número de observações (n = 27). Mas por outro lado, trata-se de um período marcado por
grande instabilidade conjuntural, derivada do predomínio de uma base produtiva primário-
exportador e muito dependente da demanda externa205. Nestas circunstâncias, optou-se por um
modelo em diferenças a fim de que se pudesse estimar os efeitos de curto prazo.
204
Por questões de espaço e para não sobrecarregar demasiadamente o texto principal, os resultados completos
de todos os testes de raiz unitária encontram-se no anexo deste trabalho. ADF e PP referem-se, respectivamente,
aos testes aumentado de Dickey-Fuller e ao de Phillips-Perron. Este último permite considerar os problemas de
heterocedasticidade e dependência serial, através de ajustes não paramétricos.
205
Há três recessões neste período: 1902 (-0,5%); 1908(-3,2%); 1914 (-1,3%).
264
0.4 15 1.6
10
1.2
0.2
5
0.8
0.0 0
0.4
-5
-0.2
0.0
-10
4
0.2 0.2 0.1
3
0.0 0.0
0.0 2
-0.2 -0.2
1
-0.1
0.00 -0.4 0.00 -0.4 0
-0.2
-1
0.05 0.05
-0.3 -2
10 12 14 16 18 20 22 24 26 10 12 14 16 18 20 22 24 26
0.10 0.10 Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E. Recursive C(2) Estimates ± 2 S.E.
0.0 -1.5
-0.5 -2.0
10 12 14 16 18 20 22 24 26 10 12 14 16 18 20 22 24 26
a.2) Segundo período [1928 - 1960] - a equação estimada (Quadro 21) mostrou-se estável
para o período [1928-1960] e então foram realizados os testes de raiz unitária. Todas as séries
revelaram-se integradas de primeira ordem I(1), havendo, portanto, possibilidade de co-
integração entre as variáveis do modelo. O teste de JOHANSEN confirma a existência de uma
relação de co-integração (Quadro 22) e então estimou-se o VECM correspondente (Quadro
23).
206
Entre 1900 e 1927, a participação média da indústria no PIB brasileiro manteve-se próxima dos 15%.
Somente a partir de 1936, essa participação superaria os 20% do produto.
266
0.3 20 1.6
0.2
1.2
10
0.1
0.8
0.0 0
0.4
-0.1
-10
0.0
-0.2
-4 2.2
0.4 0.4
2.0
-8
0.2 0.2 1.8
-12
1.6
0.0 0.0 -16
1.4
0.10 0.10 0 .0
0.6
0.4
-0.1
0.2
0.15 0.15
-0.2
35 40 45 50 55 60 35 40 45 50 55 60 0.0
-0.3
-0 .2
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals
-0.4 -0 .4
36 3 8 40 42 4 4 46 48 5 0 52 54 5 6 58 60 36 38 4 0 42 44 4 6 48 50 5 2 54 56 5 8 60
LPIB(-1) -1.390555
(-34.5879)
LM(-1) 0.209616
(5.93975)
LX(-1) -0.411988
(-5.08011)
C 12.38816
Error Correction: D(LRECT)
CointEq1 -0.971806
(-4.03819)
D(LRECT(-1)) 0.418742
(1.63608)
D(LRECT(-2)) 0.845546
(3.02841)
D(LPIB(-1)) -0.954315
(-1.90112)
D(LPIB(-2)) -0.497874
(-1.37535)
D(LM(-1)) 0.106971
(1.69056)
D(LM(-2)) 0.078396
(1.36129)
D(LX(-1)) -0.122493
(-1.07642)
D(LX(-2)) -0.206854
(-1.79396)
C 0.054552
(1.92534)
R-squared 0.531959
Adj. R-squared 0.348812
a.3) Terceiro período [1962 2000] - a relação não apresentou estabilidade dos parâmetros
pelos testes do CUSUM, do CUSUMSQ e dos resíduos recursivos (Quadro 24 e Figura 16).
Em conseqüência, a tentativa de subdividi-lo para encontrar sub-amostras onde a equação
poderia ser considerada estável, tornou-se problemática. No entanto, no sub-período [1966-
1989] o modelo apresentou estabilidade por todos os testes, a exceção do teste do CUSUM
268
que se mostrou em desacordo com o teste do CUSUMQ. Num caso como este o analista deve
tomar a decisão com base nos outros testes disponíveis (Quadro 25 e Figura 17).207
0 6
20
5
-1 0
4
10 -2 0
3
-3 0
2
0
-4 0
1
-5 0 0
70 75 80 85 90 95 00 70 75 80 85 90 95 00
-10
Re c u rs i v e C(1 ) Es t i m a te s ± 2 S.E. Re c u rs i v e C(2 ) Es ti m a te s ± 2 S. E.
0 .4 1 .5
-20
1 .0
0 .0
0 .5
-30
70 75 80 85 90 95 00 -0 . 4 0 .0
-0 . 5
CUSUM 5% Signific anc e -0 . 8
-1 . 0
-1 . 2 -1 . 5
70 75 80 85 90 95 00 70 75 80 85 90 95 00
207
No caso em que o teste do CUSUM mostrar-se em desacordo com o teste do CUSUMSQ, a literatura
econométrica sugere a condução de outros testes adicionais para que o analista possa tomar a decisão correta.
Essa é, por exemplo, a posição de I. SOARES e I. CASTELAR (2003), em Econometria Aplicada com o Uso do
Eviews.
269
0.2 15 1.6
10
1.2
0.1
5
0.8
0.0 0
0.4
-5
-0.1
0.0
-10
0.4 4
0.2 0.2
0.3
2
-0.2 -6
0.00 -0.2 0.00 -0.2 74 76 78 80 82 84 86 88 74 76 78 80 82 84 86 88
0.8 1 .0
0.0 0 .0
0.15 0.15
70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 -0.4 -0.5
-0.8 -1.0
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals 74 76 78 80 82 84 86 88 74 76 78 80 82 84 86 88
PIB(L)
RECT(L)
CARGA TRIBUTÁRIA BRUTA(R)
50000 40%
Índice dos valores a preços de 2000
25000 35%
(1900 = 100) - Escala log
7500 30%
5000
25%
2500
20%
750
500 15%
250
10%
75 5%
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
FONTE: Séries originais obtidas em Estatísticas do Século XX IBGE, Rio de Janeiro.
NOTA: RECT é a receita tributária total. Séries deflacionadas pelo deflator implícito do PIB.
Para o período subseqüente [1990-2000], em razão do fraco número de observações
disponíveis em dados anuais, não se prosseguiu com a análise em termos de co-integração. A
equação em diferenças não apresentou coeficientes estatisticamente significativos,
provavelmente como conseqüência do reduzido tamanho da amostra.
208
A despesa primária total do governo não inclui os pagamentos de juros da dívida pública interna.
271
0.6 60 1.2
0.4 1.0
40
0.8
0.2
20 0.6
0.0
0.4
0
-0.2
0.2
-0.4 -20
0.0
0.6 0.6
10
0.4 0.4
0.2 0.2
0.0 0.0 0
-0.2 -0.2
-0.4 -0.4 -10
0.00 -0.6 0.00 -0.6
-20
0.05 0.05
0.15 0.15
-40
1920 1940 1960 1980 2000 1920 1940 1960 1980 2000
10 20 30 40 50 60 70 80 90 00
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
3.0
2.5
2.0
1.5
1.0
0.5
0.0
10 20 30 40 50 60 70 80 90 00
b.1) Período [1900-1931] - a instabilidade estrutural deste primeiro período pode ser
interpretada como um resultado das transformações econômicas e políticas que atravessaram a
economia brasileira no início do século 20: processo de institucionalização da República
Velha , Primeira Guerra Mundial , Revolução de 1930 e a eclosão da Grande Crise dos
272
anos 30. Trata-se de um período marcado por intensos conflitos entre as forças sociais ligadas
ao complexo agrário-exportador cafeeiro e a ascensão das classes médias e das burguesias
urbano-industriais que disputavam espaço no controle do aparelho de Estado.
b2) Período [1932-1989] como os testes indicaram estabilidade estrutural para esse período
(Figura 19), foram aplicados os testes de raiz unitária ADF e PP e a metodologia de
JOAHANSEN para co-integração. Ambas as séries são I(1) e há uma relação de co-integração
(Quadro 27 e 28). A estimativa do VECM (Quadro 29) permitiu a obtenção das elasticidades
de curto e de longo prazos das despesas públicas com relação à dinâmica do PIB.
0.6 30 1.6
0.4 20
1.2
0.2 10
0.8
0.0 0
0.4
-0.2 -10
0.0
-0.4 -20
1.0 1.0
10
0.5 0.5
5
0.0 0.0
0
-0.5 -0.5
0.00 0.00
-1.0 -1.0 -5
0.05 0.05
-10
0.10 0.10
-15
0.15 0.15
35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 -20
40 45 50 55 60 65 70 75 80 85
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
1.8
1.6
1.4
1.2
1.0
0.8
0.6
0.4
40 45 50 55 60 65 70 75 80 85
LPIB(-1) -1.169172
(-50.5411)
C 4.833785
Error Correction: D(LNDESPG) D(LNPIB)
CointEq1 -0.273777 0.121664
(-2.01185) (2.06367)
C 0.048494 0.043876
(2.47122) (5.16099)
R-squared 0.312824 0.139928
Adj. R-squared 0.274648 0.092146
b3) período [1990-2003] foram estimadas uma equação de co-integração e a
correspondente representação VECM. Todavia, em razão do fraco número de observações
disponíveis para este último período, os resultados devem ser considerados como
preliminares.
209
Segundo J.M. PEREIRA(2003, p. 183), a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) de maio de 2000, apresenta-
se como um código de conduta para os administradores públicos ao nível federal, estadual e municipal. Esta lei
fixa limites para as despesas com pessoal e para a dívida pública e determina que sejam criadas metas a serem
seguidas para um maior controle de despesas e receitas. Uma das conseqüências deste dispositivo normativo foi
atrelar a evolução das despesas às receitas efetivamente disponíveis.
276
LPIB(-1) -1.679176
(-22.4158)
C 15.14810
Error Correction: D(LDESPG)
CointEq1 -0.786193
(-4.48914)
D(LDESPG(-1)) 0.051202
(0.36733)
D(LDESPG(-2)) -0.008619
(-0.05851)
D(LDESPG(-3)) 0.249901
(1.75380)
D(LPIB(-1)) 0.915326
(2.65846)
D(LPIB(-2)) 0.391736
(1.35885)
D(LPIB(-3)) -1.693944
(-5.07404)
C 0.029222
(1.71561)
R-squared 0.950344
Adj. R-squared 0.892413
DESPG(L)
PIB(L)
DESPG em percentagem do PIB
50.000 45%
Índice dos Valores a preços de 2000
25.000 40%
( 1900 = 100) - Escala Log
35%
07.500
05.000 30%
02.500
25%
0750 20%
0500
15%
0250
10%
075 5%
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
FONTE: Séries originais obtidas em Estatísticas do Século XX IBGE, Rio de Janeiro.
NOTA: DESPG é a despesa primária do setor publico. Séries deflacionadas pelo deflator implícito do PIB.
iii. Endividamento público muito elevado a partir do regime político autoritário pós-
1964, o endividamento público entrou numa trajetória persistente de expansão cujas
conseqüências macroeconômicas tornar-se-iam explícitas nos anos 80. Todavia, no
período pós-Real, a dívida se eleva em função da lógica deste plano de estabilização
de preços que em sua primeira fase baseou-se na manutenção de taxas de câmbio
sobrevalorizadas combinadas com taxas de juros reais extremamente onerosas aos
cofres públicos;
iv. Reduzida autonomia da política econômica quando nos anos 90, a ideologia da
globalização neoliberal aprofunda a abertura comercial e financeira, a autonomia da
política econômica reduz-se drasticamente. Pressionado pelo grande capital bancário-
financeiro no plano nacional e internacional, o Estado vai priorizar o equilíbrio das
contas públicas e a gestão das dívidas interna e externa, passando a questionar
sistematicamente a eficácia das políticas industriais e de desenvolvimento econômico;
210
Conforme definição explicitada no capítulo 2, as formas organizacionais do trabalho correspondem ao modo
como o coletivo de trabalhadores é distribuído e organizado no lócus produtivo, com vistas a implementar os
objetivos da valorização do capital. Esta dimensão da WLN tem sido muito enfocada nos trabalhos de CORIAT
e demais regulacionistas que se dedicam a análise das transformações dos sistemas sócio-técnicos de produção.
Na presente análise, serão privilegiados os aspectos ligados à dimensão da WLN como relação social global de
repartição do valor adicionado. Sua dimensão produtiva será destacada apenas nos momentos em que se tornar
necessária ao desenvolvimento da análise.
282
Todavia, não deve haver confusão entre as noções conexas de rapport salarial e de
relation salariale. O conceito de rapport salarial possui estatuto teórico e aplicabilidade
principalmente macroeconômicos. Já a noção de relation salarial corresponde à projeção da
primeira no plano mais imediato dos atores concernentes212. Portanto, a WLN é um conceito-
síntese, resultado macroeconômico da conjugação de sistemas de relações salariais que
operam a nível setorial ou da empresa individualmente considerada. Esta diferenciação
conceitual é relevante porque cada empresa ou setor individualmente considerado possui seu
próprio sistema de relações salariais213. Mas, este sistema resulta da combinação de regras
211
BOYER, em Théorie de la Régulation l état des savoirs, 1995.
212
Essa diferenciação é já um desenvolvimento da Teoria da Regulação, pois como observa BOYER (1995, p.
111), le rapport salarial a donc donnée naissance par filiation à um système articulé de notions , como esta
de relation salariale, que visa estabelecer um elo de ligação entre o nível micro e macroeconômico. Portanto, a
tradução corrente no Brasil do conceito de rapport salarial por relação salarial é justificável para os trabalhos
anteriores a essa precisão teórica da abordagem regulacionista. Todavia, como não existe em língua portuguesa
um vocábulo que possa diferenciar essas duas noções, para se evitar qualquer confusão, optou-se por manter a
tradução inglesa wage-labor nexus(WLN) utilizada nos trabalhos de BOYER (1988,1995,1998).
213
O presente trabalho não abordará o sistema de relações salariais vigentes no setor público brasileiro, pois seu
principal objeto de análise situa-se no nível macroeconômico. Justifica-se, portanto, a ênfase na wage-labor
nexus e em seus dois eixos fundamentais: o segmeno formal e o informal. Uma análise detalhada do emprego
público no Brasil pode ser encontrada em E. D. P. CARVALHO FILHO, A Evolução do Emprego Público no
Brasil nos Anos 90 , Tese de Doutoramento, Unicamp. Conforme este autor, o Brasil apresenta a segunda menor
proporção de emprego público no emprego total (11,3%), perdendo apenas para o Japão (7%) e a quinta menor
proporão em relação à população (5,1%). Por esses dois critérios, conclui-se que o emprego público na economia
brasileira possui de fato dimensão reduzida quando comparada às experiências internacionais. Inclusive de
países de tradição mais liberal como os EUA e a Inglaterra.
283
sociais que derivam da wage-labor nexus, na qual ele está inscrito, com regras que são
específicas da empresa214. Conforme BILLAUDOT (1996, p. 86):
(...) une place est faite au système des relations salariales propres à
chaque entreprise. Ce système est un rapport social dual : il combine
des règles sociales, qui dérivent du rapport salarial dans lequel il
s inscrit, et des règles particulières. On ne le confond plus alors avec le
dit rapport salarial, précisément défini comme un rapport social global.
Já a noção de relação capital-trabalho, comumente utilizada em economia, não se
reporta a nenhuma abordagem ou teoria em particular e conseqüentemente seu estatuto teórico
e aplicabilidade podem variar muito.
214
Conforme BOYER e SAILLARD(2002, .p.70), la notion de rapport salarial a suscité des débats théoriques
d autant plus importants que son fondement initial n était autre que la théorie marxiste de l exploitation qui est
loin de constituer une réference majoritaire dans les années quatre-vingt-dix. La théorie privilégie aujourd hui
la question des relations entre pouvoir, nature du compromis salarial et déterminants institutionnels du partage
salaire/profit. Sur un tout autre plan, lorsque des enquêtes de terrain ont voulu utiliser cette notion, il est vite
apparu qu elle était inadéquate pour rendre compte de la logique des acteurs au niveau des firmes et des
esapces professionnels, au point de susciter le recours à d autres conecpts : relation salariale, système d emploi,
rapport social de travail on ainsi été avancé pour rendre compte de la diversité des status et des composantes
qui conduisent au plan macroéconomique aux régulatités étudiés en termes de rapport salarial. »
284
c) a imigração européia217;
215
Por exemplo, quando essa noção é mobilizada nos quadros de uma análise marxista difere muito do conteúdo
que adquire em análises keynesianas ou neoclássicas. Por outro lado, a relação capital-trabalho pode também
expressar a razão capita fixo/pessoal ocupado na produção ou seja, a chamada intensidade do capital.
216
O vocábulo salariado não é muito utilizado no Brasil, mas existe em português segundo o dicionário
Houaiss. O mais comum é substituí-lo por assalariado . Todavia, este último se refere mais propriamente à
pessoa sujeita a uma relação de trabalho por assalariamento. Mas o vocábulo salariado é exatamente o que
corresponde em língua francesa à salariat , isto é, o conjunto de indivíduos sujeitos às relações salariais.
217
Conforme M. BRUNO (2002, p. 5), « cette immigration était constituée en grande majorité d italiens, mais,
dans le tournant entre les XIXe et XXe siècles, la région Sud a accueilli un important contingent d immigrants
d autres nationalités, notamment de suisses, de polonais et d allemands. Dans les années 40 et 50, arriveront
des japonais, aussi bien dans la région métropolitaine de São Paulo que dans le sud du Brésil. »
285
proprietário legal.218 Segundo SANDRONI (2003), para impedir essa alternativa, o Estado
promulga a Lei de Terras de 1850. Com esse dispositivo legal, a classe dominante visava a
alcançar três objetivos, todos eles confluindo para a obtenção, por parte dos fazendeiros, de
mão-de-obra abundante e barata:
proibir a aquisição de terras que não se desse por meio de compra, extinguindo,
portanto, o regime de posses;
aumentar o preço da terra e dificultar a sua obtenção por parte dos trabalhadores
rurais, visando a impedir a redução da oferta de força de trabalho na agricultura e,
conseqüentemente, a elevação dos salários;
A motivação básica dessa lei era precisamente impedir o acesso à terra num contexto de
crise do escravismo no Brasil. SANDRONI (2003) observa ainda, que:
218
Os documentos históricos confirmam que uma parte significativa da população brasileira conseguira escapar
tanto das agruras da escravidão (durante os períodos colonial e imperial) quanto do salariado (na virada do
século XIX para o XX), simplesmente se deslocando para as regiões ainda despovoadas do interior do Brasil e
onde o controle estatal era dificultado pelas enormes distâncias. Núcleos dispersos de ocupação baseados em
uma economia de subsistência puderam se desenvolver à margem dos centros econômicos mais dinâmicos. Mais
detalhes dessa questão podem ser encontrados em FLAMARION CARDOSO (1986), O Trabalho na Colônia, in
História Geral do Brasil.
286
219
Para AGLIETTA (1997), a moeda institui os sujeitos da relação mercantil e das relações salariais. Os
indivíduos detentores de moeda são precisamente aqueles que tem o poder de assalariar: le pouvoir d une classe
sociale sur une autre que le rapport salarial établit, c est le pouvoir de l argent .
220
Segundo R. SIMONSEN (1973), em 1938, cinqüenta anos após a abolição da escravatura no Brasil, o salário
de um trabalhador, em várias regiões do norte e nordeste do país, era inferior às despesas necessárias à
manutenção de um escravo durante os últimos anos do Império.
221
O atual movimento dos sem-terra o MST que já possui notoriedade internacional, não é outra coisa que
o resultado de cinco séculos de latifúndio.
287
a) uma WLN concorrencial pode ser observada quando o consumo dos trabalhadores
assalariados ainda não se apresenta plenamente inserido na produção capitalista (forma
predominante no século XIX) ou quando a formação dos salários ocorre basicamente
por mecanismos de mercado (regiões ou países onde os trabalhadores e suas
associações possuem fraco poder de barganha e os salários refletem as tensões entre
oferta e demanda por força de trabalho). Num tal contexto, não há divisão ex ante dos
ganhos de produtividade, mas determinação concorrencial dos salários e o nível de
contratualização ou de institucionalização das relações de emprego tende a ser muito
baixo;
224
Espontâneos não significa admitir, neste contexto, que sejam gerados por mecanismos exclusivamente
mercantis. Significa que seriam mais independentes dos regulamentos estatais e capazes de refletir ou serem o
resultado de convenções, regras tácitas e demais formas de relacionamento mais consentâneas com as
necessidades dos atores sociais e econômicos.
225
Como em Keynes, a teoria da regulação não apreende o mercado de trabalho como um mercado de fato.
Mas o conceito é utilizado em razão de seu uso corrente na literatura econômica sem que isto signifique que se
esteja apreendendo as relações de emprego como relações puramente mercantis, onde as convenções, regras ou
instituições surgiriam muito mais como fatores de perturbação ou geradores de rigidez.
289
Um modelo simples para a formação dos salários, dado pela equação (6), pode
representar esses tipos básicos da wage-labor nexus, em função dos valores dos parâmetros
referentes à produtividade, a indexação ao custo de vida e às influências do nível de emprego:
Mas mesmo que o parâmetro seja estatisticamente maior do que zero, caso em que
há algum grau de indexação dos salários à evolução do índice geral de preços, isto não é
suficiente para eliminar o caráter concorrencial da WLN. É este o caso da WLN na economia
brasileira durante o período de alta inflação, marcado pela generalização dos dispositivos
institucionais de indexação dos salários à evolução do índice geral de preços.
226
Exemplos comuns na literatura regulacionista referem-se aos casos do Japão, Alemanha e Suécia.
227
Portanto, o padrão de mercado de trabalho neoclássico concorrencial seria apenas um caso teórico específico,
não constituindo um modelo universalizável, nem em suas supostas virtudes, nem por suas desvantagens
intrínsecas.
290
Numa sociedade salarial avançada, o sistema de relações salariais é, por assim dizer,
bem institucionalizado, ao passo que numa economia como a brasileira, de alta exclusão
social e informalidade, a institucionalidade do rapport salarial é que é restrita, não a
salarização. Afinal, a massa salarial que sustenta a demanda efetiva depende não apenas do
trabalho formal, mas também do informal, com o lucro capitalista sendo gerado a partir desses
dois eixos da WLN. Se essa diferença não for considerada, poder-se-ia, no limite, classificar as
relações de trabalho no Brasil como ainda não assalariadas ou pior, como não-capitalistas.
Seria apreender a economia como se estivesse submetida a um tipo de trabalho pré-
assalariado ou sob um processo interminável de transição para o que se considera como o
autêntico mundo das relações salariais vigente no centro capitalista desenvolvido. Em suma,
a questão é muito mais de precisão conceitual, pois a noção de salarização restrita tem sido
usada, indevidamente, como sinônimo de institucionalização restrita ou incompleta .
228
Este parece ser o caso de LAUTIER (1994), citado por CAFFE e CAMARA (2004, p.6), que argumentam
que nas sociedades latino-americanas a salarização é restrita . Na realidade, não a salarização, mas a
institucionalização das relações salariais que é restrita ou incompleta, em razão do elevado nível de
informalidade e de exclusão social vigentes nessas sociedades.
229
Deve-se reconhecer as limitações quanto aos dados sobre a WLN brasileira para a primeira metade do século
XX e mesmo no que concerne à qualidade de certas estatísticas sobre o nível de emprego e de salários nos
períodos subsequentes. Esta é uma constatação compartilhada também por VELASCO E CRUZ (1985) em seu
artigo La Pertinence des problématiques em termes de régulation pour le Brésil: premiers résultats d une étude
historique. ». Segundo o autor je doute que l on puisse développer pour le Brésil une analyse comparable à
celle de Boyer pour la France . Todavia, como o objeto principal da presente análise refere-se às
transformações dos anos 90, essa restrição pode ser parcialmente superada.
291
se como o de expansão mais rápida do emprego assalariado, com uma taxa média de
crescimento de 3,1% ao ano. A partir de 1990, a taxa de expansão das relações de emprego
assalariado cai para a média de apenas 1% ao ano.
40%
300
250 38%
200
36%
150
34%
100
32%
30%
50 28%
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Dados sobre o nível de emprego assalariado obtidos em MARQUETTI (2000) e IBGE.
NOTA: Os dados incluem as relações de emprego formais e informais.
292
Trabalhadores
Trabalhadores Trabalhadores
Ano independentes Empregadores
assalariados não remunerados
(conta própria)
1990 63,97% 14,60% 18,17% 3,26%
1991 63,57% 14,62% 18,76% 3,05%
1992 62,91% 14,73% 19,48% 2,88%
1993 62,53% 15,07% 19,58% 2,82%
1994 62,15% 15,70% 19,12% 3,03%
1995 61,69% 16,37% 18,67% 3,27%
1996 63,03% 16,45% 17,25% 3,27%
1997 62,81% 16,54% 17,02% 3,62%
1998 62,86% 16,91% 16,53% 3,71%
1999 61,68% 16,96% 17,59% 3,78%
2000 64,08% 16,85% 15,29% 3,78%
2001 65,35% 16,85% 13,77% 4,02%
2002 65,11% 16,76% 14,04% 4,09%
230
CARDOSO JR. em Crise e Desregulação do Trabalho no Brasil (2001) fornece uma análise do processo de
desestruturação das relações de trabalho no Brasil ao longo dos anos 90.
293
WLN
BRASILEIRA
As análises empíricas mostram, por exemplo, que a redução dos empregos e dos
salários das grandes e médias empresas tem lançado uma grande massa de trabalhadores na
produção autônoma de bens e serviços. Em sua grande maioria, os trabalhadores por conta-
própria estão inseridos nas atividades econômicas mais precárias do país com baixos níveis
de remuneração, qualificação, estabilidade e contribuição à previdência além de trabalharem
em locais freqüentemente sem infra-estrutura adequada. Diferentemente dos trabalhadores
assalariados, em geral os trabalhadores independentes estão ocupados nas atividades menos
dinâmicas do país e que necessitam de extensas jornadas de trabalho para gerarem algum
excedente.231
231
Conforme dados e informações do DESEP/CUT Central Única dos Tabalhadores.
294
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1983 07
1982 05
1982 12
1984 02
1984 09
1985 04
1985 11
1986 06
1987 01
1987 08
1988 03
1988 10
1989 05
1989 12
1990 07
1991 02
1991 09
1992 04
1992 11
1993 06
1994 01
1994 08
1995 03
1995 10
1996 05
1996 12
1997 07
1998 02
1998 09
1999 04
1999 11
2000 06
2001 01
2001 08
2002 03
2002 10
FONTE: Pesquisa Mensal de Emprego (PME) IBGE.
NOTA: PEA é população economicamente ativa.
Os trabalhadores independentes não estão normalmente sujeitos a uma relação de
emprego232, mas permanecem necessariamente subordinados à dinâmica da acumulação
capitalista, atenuando parcialmente seus efeitos de desestruturação do mercado de trabalho.
Em conseqüência, as configurações vigentes da WLN, suas instituições de base, exercem
impactos determinantes nas interações entre os segmentos. E no caso brasileiro em particular,
a deterioração das condições de trabalho e emprego certamente seria maior sem a
possibilidade de tornar-se autônomo ou trabalhador independente. Em resumo, a hipótese
básica proposta nesta análise é a de que os segmentos formal e informal incluindo os
trabalhadores autônomos são regidos direta ou indiretamente pela dinâmica
233
macroeconômica da WLN.
232
Pois existam empresas que mascaram um trabalho com características próprias de trabalhadores empregados,
contratando autônomos para se beneficiarem de uma carga tributária menor (FOLEGO, 2004).
233
UEMURA(2000) e J-F VIDAL (2003) também incluem os autônomos no cálculo da massa salarial total e do
nível geral de emprego.
295
900.000 91.1
800.000
700.000 91.2
600.000
500.000
93.2 93.1
400.000
95.1 94.2
92.1
300.000
94.196.196.2 92.2
98.1 99.2
200.000 95.2 98.2 99.1
97.1 97.2
100.000
0
11,0 12,0 13,0 14,0 15,0 16,0 17,0 18,0 19,0 20,0
Taxa de desemprego (oculto + aberto) em % no semestre
FONTE: Gerado a partir das taxas de desemprego da SEADE e DIEESE/PED e do número de grevistas do
DIEESE, referentes à região metropolitana de São Paulo.
FONTE: Dados sobre o nível de emprego assalariado obtidos em MARQUETTI (2000) e IBGE.
NOTA: Séries deflacionadas pelo deflator implícito do PIB, base 2000 = 100.
GRÁFICO 57 SALÁRIO MÉDIO REAL E CONSUMO PER CAPITA DAS FAMÍLIAS (1950-2002)
FONTE: Dados sobre massa salarial e nível de emprego foram obtidos em MARQUETTI (2000) e IBGE.
NOTA: Séries deflacionadas pelo deflator implícito do PIB, base 2000 = 100.
297
1000
900
800
700
600
500
Escala log
400
300
200
100
90
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Dados sobre massa salarial obtidos em MARQUETTI (2000) e IBGE. Consumo final das famílias e
pelo Ipeadata e proveniente do IBGE.
NOTA: Séries deflacionadas pelo deflator implícito do PIB, base 2000 = 100.
234
Conforme A. E. HARRISON (2002) que em Has Globalisation Eroded Labor s Share ? Some Cross-
Country Evidence, apresenta várias estatísticas da wage-share, tanto para países desenvolvidos quanto em
desenvolvimento.
298
90% 52%
85% 50%
80% 48%
75% 46%
70% 44%
65% 42%
60% 40%
55% 38%
1950 1958 1966 1974 1982 1990 1998
1954 1962 1970 1978 1986 1994 2002
FONTE: Dados sobre massa salarial obtidos em MARQUETTI (2000) e IBGE. Consumo final das famílias e
PIB pelo Ipeadata e provenientes do IBGE.
NOTA: Séries deflacionadas pelo deflator implícito do PIB, base 2000 = 100.
A relação não se mostrou estável (Figura 21) para o período completo de análise e
então procedeu-se à estimação da equação (7) apenas para os sub-períodos onde a hipótese
nula de não mudança estrutural foi aceita.
299
0.2 1.6
0.1
0.0 1.2
-0.1
-0.2 0.8
0.00
-0.3
0.4
0.05
0.10 0.0
0.15 -0.4
55 60 65 70 75 80 85 90 95 00 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00
0.10 1.6
1.2
0.05
0.8
0.00
0.4
-0.05
0.0
-0.10 -0.4
58 60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 80 58 60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 80
Recursive Residuals ± 2 S.E. CUSUM of Squares 5% Significance
0.10
6
0.05
0.00 4
-0.05
2
0.00 -0.10
0.05 0
0.10 -2
0.15
58 60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 80 -4
62 64 66 68 70 72 74 76 78 80
One-Step Probability Recursive Residuals
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
1.3
1.2
1.1
1.0
0.9
0.8
0.7
62 64 66 68 70 72 74 76 78 80
Mas para que essa relação estática não seja uma regressão espúria é preciso que os
resíduos sejam estacionários. O Quadro 36 confirma a estacionaridade dos resíduos e então
pode-se estimar um modelo de correção de erro (ECM). Rigorosamente, os valores críticos
para comparação deveriam ser os tabulados por Engle e Yoo(1987) ou por McKinnon (1991).
No entanto, como o fraco número de observações tende a enfraquecer o poder dos testes de
235
Para não sobrecarregar o texto, são mostrados apenas os outputs parciais dos testes de raízes unitárias para as
séries em nível.
301
raiz unitária, optou-se pelo teste de JOHANSEN como mais uma alternativa e a hipótese de
co-integração não foi rejeitada (Quadro 37).236
LCONS LW C
1.000000 -1.106956 1.619039
(0.01476)
Log likelihood 123.1262
Se o vetor de co-integração é único, pode-se estimar o modelo de correção de erros
pelo método de ENGLE e GRANGER (1987). O Quadro 38 exibe as estimativas da relação,
onde se pode observar as elasticidades de curto prazo. Como o coeficiente de RES(-1) é
estatisticamente significativo e negativo, a representação em termos de correção de erros é
validada. No longo prazo os desequilíbrios entre o consumo e a massa salarial real se
compensam.
236
STOCK e WATSON (2004, p. 379) argumentam que, como os testes de co-integração podem ser enganosos
(podem rejeitar inadequadamente a hipótese nula de ausência de co-integração com mais freqüência do que
deveriam e frequentemente deixam de rejeitar de forma inapropriada a hipótese nula), é especialmente
importante contar com a teoria econômica, o conhecimento institucional e o bom-senso ao estimar e utilizar
relações de co-integração.
302
Para o segundo período [1981-2002], a equação não se mostrou estável (Figura 23).
Há instabilidade estrutural, conforme os testes revelam, para os subperíodos [1985-1988] e
[1995-1997]. O teste dos coeficientes recursivos mostra que os parâmetros estimados não
convergem.
Após evoluir numa trajetória estável em sua relação com a massa salarial no período
[1955-1980], a demanda de consumo das famílias entrou numa fase de grande instabilidade a
partir do início dos anos 80. De um ponto de vista estritamente macroeconômico e sem
considerar as questões relativas à distribuição pessoal da renda, a economia brasileira possuía
um modo de consumo que respondia adequadamente às necessidades da acumulação de
capital. Não necessariamente às demandas sociais, pois essa seria uma outra questão, relativa
às formas de se combinar expansão econômica com desenvolvimento social. Apesar de seus
limites endógenos, o crescimento econômico neste período histórico foi uma realidade,
englobando tanto a fase correspondente à implementação do Plano de Metas (1955-1962),
quanto à do milagre brasileiro dos anos 70.
237
S. LARDIC e V. MIGNON (2002) estimaram em essa mesma elasticidade de longo prazo para o caso da
França e encontraram o valor de 1,20 no período 1970-1995, usando dados trimestrais.
303
1.6 0.2
0.1
1.2 0.0
-0.1
0.05
0.4
0.10
0.0 0.15
84 86 88 90 92 94 96 98 00 02
0.2 25
0.1
20
0.0
15
-0.1
10
0.00 -0.2
5
0.05
0
0.10
-5
86 88 90 92 94 96 98 00 02
0.15
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
84 86 88 90 92 94 96 98 00 02
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
-0.2
86 88 90 92 94 96 98 00 02
la notion de flexibilité est trop souvent employée sans que l on définisse avec
précision les formes exactes qu elle revêt: relèvement de la vitesse
d ajustemenet de l emploi, adaptabilité de la durée du travail à la conjoncture,
sensibilité des taux d activité aux prespectives du marché du travail, essor du
travail à temps partiel, des contrats à durée déterminé et de l intérim
constituem a priori autant de moyens pour ajuster l activité à l évolution de la
production. Mais l on pourrait tout aussi bien invoquer la malléabilité des flux
d entré et de sortie du chômage, l adéquation du système de formation et de
requalification, ou encore la plus ou moins grande réaction des salaires à la
situation financière des firmes et à la conjoncture économique générale »
Segundo este autor, a abundante literatura sobre a questão sugere que apesar do uso
comum do termo, a flexibilidade pode ser definida por referência a objetivos que não tem, a
priori, relações evidentes entre si. O Quadro 39 a seguir reúne cinco diferentes princípios a
partir dos quais o conceito de flexibilidade pode ser definido. De fato, cada um desses
princípios corresponde a um componente da wage-labor nexus, passível de codificação
institucional ou normativa, considerando-se as relações Estado-economia. Mais amplamente,
essas características da flexibilidade dependerão das particularidades do modo de regulação
em vigor num determinado país ou região e não emergem jamais como simples atributo de
uma lógica mercantil supostamente trans-histórica ou válida quaisquer que sejam os espaços
geográficos.
Capacidade de resposta à Adaptabilidade dos Possibilidade de variar o Sensibilidade dos salários à Eliminação das disposições
demanda trabalhadores às tarefas emprego e duração do situação das firmas e do desfavoráveis ao emprego
DEFINIÇÕES variadas, complexas ou não trabalho em função da mercado de trabalho em matéria tributária e de
conjuntura transferências sociais
Equipamentos de múltiplo Amplitude da formação Ausência de forte Ao nível macro: Ausência de encargos
uso; técnica ou geral; restrição proveniente do tributários que encareçam
direito do trabalho; - Salário médio como o trabalho para favorecer
Domínio da cadeia de Rotatividade dos postos função do desemprego, os lucros;
produção e gestão nos quadros de Fluidez das migrações da produtividade e dos
otimizada dos fluxos; trabalhadores; inter-regionais; termos de troca; Supressão dos limites
sociais e fiscais;
Adaptação do produto às Relativa proximidade das Inexistência de direitos - Ausência de salário
necessidades do tarefas de produção e de específicos a uma mínimo restritivo. Alívio das cargas pagas
COMPONENTES consumidor e à demanda controle; empresa (vantagens pelas empresas;
instantânea. sociais, aposentadorias); Ao nível micro:
Ausência de barreira Possibilidade de optar
gerente / operário. Resposta do emprego aos - Revisão permanente em entre previdência privada
diferenciais salariais. função da conjuntura e pública.
local;
- Atenuação do argumento
de paridade.
B. Kundig; P. Besson; B. G. Archier, H. Serieyx; M. Y. Gattaz; G. Gilder;... M. Weitzman; General R. Harris; A. Seldon...
REFERÊNCIAS Coriat; ... Piore; Ch. Sabel; Motors (1985)...
Schumacher...
FONTE: Tradução e adaptação do Tableau 21, p. 237, em BOYER (1986), La Flexibilité du Travail em Europe.
Como as características fundamentais da WLN são dependentes das formas possíveis
de codificação de seus diversos componentes, o nível de institucionalidade das relações
salariais torna-se um objeto privilegiado numa análise em termos de regulação.
Trabalhadores autônomos
Trabalhadores sem carteira
Trabalhadores com carteira
100%
Trabalhadores independentes
80%
40%
0%
1982 06
1982 12
1983 06
1983 12
1984 06
1984 12
1985 06
1985 12
1986 06
1986 12
1987 06
1987 12
1988 06
1988 12
1989 06
1989 12
1990 06
1990 12
1991 06
1991 12
1992 06
1992 12
1993 06
1993 12
1994 06
1994 12
1995 06
1995 12
1996 06
1996 12
1997 06
1997 12
1998 06
1998 12
1999 06
1999 12
2000 06
2000 12
2001 06
2001 12
2002 06
2002 12
nos anos 90. Suas causas derivam tanto de fatores institucionais, quanto dos desdobramentos
da crise do regime de acumulação responsável pelo milagre econômico nos anos 70. Até
1989, as relações salariais formais e informais evoluíam ambas em correlação positiva com o
PIB. A partir de 90, o segmento formal cuja dinâmica no período anterior permanecera mais
conectada ao PIB do que o segmento informal desloca-se abruptamente para baixo e
permanece ligeiramente acima do patamar de 100. Isto significa que há visivelmente uma
grande dificuldade da economia brasileira para expandir o nível de emprego formal na última
década. Já as relações salariais informais encontram-se em uma trajetória persistente de
expansão positivamente relacionada com o crescimento econômico. Em suma, isto sugere que
o sistema econômico reduziu os quadros formais até o limite necessário para fazer frente às
transformações estruturais que lhes foram impostas pelo Estado e pela lógica da
globalização neoliberal e mantém o segmento informal como variável de ajuste aos ciclos
econômicos.
Segmento formal
Segmento informal
PIB trimestral
inform = 95,0646+1,0686*x
200
Índice dos valores: 1982 T2 = 100
180
160
140
120
100
80
1982 T2
1982 T4
1983 T2
1983 T4
1984 T2
1984 T4
1985 T2
1985 T4
1986 T2
1986 T4
1987 T2
1987 T4
1988 T2
1988 T4
1989 T2
1989 T4
1990 T2
1990 T4
1991 T2
1991 T4
1992 T2
1992 T4
1993 T2
1993 T4
1994 T2
1994 T4
1995 T2
1995 T4
1996 T2
1996 T4
1997 T2
1997 T4
1998 T2
1998 T4
1999 T2
1999 T4
2000 T2
2000 T4
2001 T2
2001 T4
2002 T2
2002 T4
FONTE: M.BRUNO (2004). Dados sobre números de trabalhadores sem carteira, com carteira e contra própria,
referentes às regiões metropolitanas, foram obtidos no IPEADATA e são originários da PME/IBGE.
NOTA: Séries originais dos segmentos formal e informal correspondem ao número de pessoas em cada
categoria. O segmento informal engloba os trabalhadores sem carteira e por conta própria.
Conseqüentemente, fatores institucionais e econômicos se conjugaram ao longo da
história e mantêm a WLN brasileira sob uma configuração eminentemente concorrencial. O
grau de flexibilidade quantitativa e salarial é potencializado tanto pela própria legislação
trabalhista vigente (as flexibilizações processadas na CLT desde o período do regime
308
militar) quanto pela incapacidade e desestímulo do sistema formal de emprego para absorver a
força de trabalho disponível nos quadros dessa mesma legislação.
SEGMENTO SEGMENTO
ANO
FORMAL INFORMAL
1982 60,1% 39,9%
1983 59,3% 40,7%
1984 57,6% 42,4%
1985 59,1% 40,9%
1986 61,0% 39,0%
1987 61,2% 38,8%
1988 60,9% 39,1%
1989 61,6% 38,4%
1990 60,3% 39,7%
1991 56,8% 43,2%
1992 54,6% 45,4%
1993 53,6% 46,4%
1994 52,1% 47,9%
1995 51,3% 48,7%
1996 49,6% 50,4%
1997 49,1% 50,9%
1998 48,6% 51,4%
1999 47,1% 52,9%
2000 46,2% 53,8%
2001 47,4% 52,6%
2002 47,5% 52,5%
com carteira
sem carteira
conta própria
PIB mensal
200
180
Índice: jun/1982 = 100
160
140
120
100
80
1982 06
1982 12
1983 06
1983 12
1984 06
1984 12
1985 06
1985 12
1986 06
1986 12
1987 06
1987 12
1988 06
1988 12
1989 06
1989 12
1990 06
1990 12
1991 06
1991 12
1992 06
1992 12
1993 06
1993 12
1994 06
1994 12
1995 06
1995 12
1996 06
1996 12
1997 06
1997 12
1998 06
1998 12
1999 06
1999 12
2000 06
2000 12
2001 06
2001 12
FONTE: Séries mensais da PME/IBGE e PIB real mensal, obtidos no IPEADATA.
NOTA: Dados para os segmentos com carteira, sem carteira e conta própria referem-se ao número de pessoas em
cada categoria.
O setor informal, composto por trabalhadores sem carteira e por autônomos, expande-
se desde o início da série em 1982, enquanto o setor formal entrou numa fase de declínio
relativo, com tendências à estagnação, a partir de 1990 (Gráfico 62). Como a massa salarial
do setor informal cresceu com o aumento do número de pessoas nesta categoria
(ultrapassando, a partir de 1996, o número de relações salariais formais), em grande parte
egressa do eixo formal, um dos resultados seria a convergência das massas salariais.
100%
Salários_trabalhadores independentes
80%
Salários_trabalhadores sem carteira
60%
40%
Salários_trabalhadores com carteira
20%
0%
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002
1100
1000
900
800
700
600
500
400
1982 06 1985 04 1988 02 1990 12 1993 10 1996 08 1999 06 2002 04
1983 11 1986 09 1989 07 1992 05 1995 03 1998 01 2000 11
238
Apesar de próximo do nível de 5% de significância do teste, o p-valor para este coeficiente ainda é superior
(0,053) e não rejeita a hipótese nula. Este resultado pode estar sendo influenciado pelo tamanho da amostra, pois
o número de pontos amostrais com variações negativas tende a ser inferior ao número de pontos com variações
positivas no período pré-abertura. No período pós-abertura espera-se o inverso, o aumento do número de quedas
do PIB e a redução do número de pontos de expansão. Mas como outros testes serão propostos e o coeficiente de
inércia não está sujeito à mesma limitação, estes resultados devem ser considerados como preliminares e válidos
para uma primeira base de comparação dos períodos sob análise.
313
definição relativa à mobilidade dos trabalhadores, no Quadro 39) das relações salariais
formais, no período de economia aberta.
segmentos ou eixos da WLN brasileira mostradas no Gráfico 61, acima, já apontavam para
resultados desse tipo.
ECONOMIA FECHADA
Sample: 1982:3 1989:4
Lags: 2
Null Hypothesis: Obs F-Statistic Probability
NSCART does not Granger Cause NCART 28 6.43909 0.00602
NCART does not Granger Cause NSCART 0.02108 0.97916
ECONOMIA ABERTA PRÉ-REAL
Sample: 1991:1 1994:2
Lags: 2
Null Hypothesis: Obs F-Statistic Probability
NSCART does not Granger Cause NCART 14 1.74300 0.22918
NCART does not Granger Cause NSCART 11.4932 0.00332
ECONOMIA ABERTA PÓS-REAL
Sample: 1995:1 2001:4
Lags: 2
Null Hypothesis: Obs F-Statistic Probability
NSCART does not Granger Cause NCART 28 1.22078 0.31341
NCART does not Granger Cause NSCART 1.43386 0.25891
239
O modelo com o emprego formal como variável explicativa não se mostrou estatisticamente significativo pelo
teste F.
318
O teste de causalidade de Granger (Quadro 51) para o período completo mostra que as
variações do estoque de trabalhadores independentes (conta própria) precedem as variações
no estoque de trabalhadores formais (com carteira). Haveria então uma relação de causalidade
cujo sentido vai do trabalho independente para o emprego formal e não o inverso.
319
1
WNcart = -0,07 + 0,58. ICV + 0,50. (10)
TxD
Onde TxD é a taxa de desemprego aberto para as seis regiões metropolitanas do Brasil,
calculada pelo IBGE.
320
c2) O salário real e as relações salariais formais (segmento com carteira) - para a
determinação do salário médio real, o modelo especificado em taxas de variação tem
como variáveis explicativas o PIB e o nível de emprego formal (Quadro 53). No período
pré-abertura apenas o coeficiente correspondente à elasticidade-produto do salário
mostrou-se estatisticamente significativa (0,58). No período de economia aberta sob
vigência do Real, a relação estimada não foi significativa.
321
substituição por relações salariais que possam escapar da legislação do trabalho. Este fato
foi observado por CORIAT e SABOIA (1995), que sustentaram a hipótese de existência
de relações complementares entre as dinâmicas dos setores formais e informais na
economia brasileira.
Testes foram realizados também para se captar os efeitos diretos do desemprego sobre
a formação do salário nominal deste segmento. O Quadro 56 mostra os resultados das
estimações cujo modelo foi especificado conforme a relação tradicional de Phillips, utilizando
uma função inversa do desemprego.
Uma outra questão relevante seria investigar em que medida o emprego formal
influencia a formação dos salários no segmento informal (e vice-versa). O teste efetuado para
o período de economia fechada não foi significativo. Mas sob o período de abertura e vigência
do Real, uma expansão das relações salariais formais contribui para reduzir o salário médio
nominal no segmento informal (Quadro 57). Como se poderia explicar este fato
324
aparentemente paradoxal ? Uma hipótese plausível seria considerar que com a abertura
comercial e financeira, a demanda por trabalhadores mais qualificados aumentou e o
mercado de trabalho brasileiro foi pressionado pelo aumento do desemprego dos
trabalhadores menos qualificados. 240
240
Aliás essa também é uma conclusão de alguns trabalhos recentes, desenvolvidos pelo IPEA, sobre os
impactos da abertura econômica sobre o mercado de trabalho brasileiro.
325
O salário mínimo real médio atingiu seu máximo em 1961. Segundo SABOIA (1985,
241
p. 86) :
241
João SABOIA (1986), Salário Mínimo a experiência brasileira, Coleção Universidade Livre. L&PM
Editores.
327
pagamento, pois no seu cálculo não foram computados, por exemplo, as despesas com
educação e saúde.
400
300
(Escala log)
200
100
1940 1946 1952 1958 1964 1970 1976 1982 1988 1994 2000
1943 1949 1955 1961 1967 1973 1979 1985 1991 1997 2003
FONTE: Dados para salário mínimo e PIB per capita obtidos no IPEADATA. Dados para salário médio obtidos
em MARQUETTI (2002); FGV e Sistema de Contas Nacionais-IBGE.
Segundo MENDONÇA, boa parte dos estudos dedicados ao tema preocupa-se mais
com a dimensão política da legislação trabalhista estabelecida durante o Estado Novo (1937-
1945) e deixam em segundo plano o fato de que o salário mínimo constitui um poderoso
instrumento da acumulação urbano-industrial. Como o salário mínimo tornou-se a referência
de base nos julgamentos dos dissídios coletivos, ele convertia-se no parâmetro para a fixação
do salário direto. A legislação salarial cumpria então sua tarefa de nivelar por baixo o
conjunto dos salários e essa característica, juntamente com o controle dos trabalhadores e dos
movimentos sociais242, tornar-se-ia uma das bases institucionais da regulação tutelar ,
243
analisada por CORIAT e SABOIA (1988) .
De 1961 a 1980, enquanto o PIB per capita cresceu 127 % em termos reais, o salário
mínimo real médio caiu 34 %. Se for considerado o período de 1961 a 1992, a queda
242
Segundo MENDONÇA (1985, p. 30), o imposto sindical cobrado de cada trabalhador com base em um dia
de trabalho por ano além de propiciar à União considerável reforço em sua receita, contribuiu para consolidar o
papel tutelar do Estado junto aos sindicatos.
243
CORIAT e SABOIA (1988), Regime de acumulação e relação salarial no Brasil: um processo de
fordização forçada e contrariada . Porto Alegre, Ensaios FEE, 1988.
328
praticamente dobra (- 62 %), enquanto o crescimento acumulado do PIB per capita foi da
ordem de 113 %. Apenas a partir de 1994 é que se observa uma recuperação do salário
mínimo real médio que, no entanto, permanece em cerca de 56 % do seu valor máximo
histórico.
O salário médio real acompanhou, de uma maneira geral, a evolução do PIB per
capita. Todavia, no Gráfico 65 são destacados três momentos onde as evoluções dessas duas
séries mostraram-se divergentes, correspondendo, em conseqüência, às fases de concentração
da renda. A primeira corresponde ao período de vigência do Plano de Metas [1955-1961], a
segunda, [1964 1974], ocorre durante o regime autoritário e a terceira durante os anos 90.
O Gráfico 66 sugere a existência de uma relação entre o salário mínimo real e o salário
médio real na indústria de transformação. Essa vinculação foi testada por CARNEIRO e
FARIA (1996) que utilizaram os salários neste setor como proxy para os demais salários.
Esses autores encontraram causalidade unidirecional do salário mínimo para os outros salários
no Brasil, entre 1980 e 1985. Mas para o período 1986-1993, encontraram simultaneidade ou
causalidade bi-direcional. Ainda pelo Gráfico 66, pode ser constatado que a partir de março
de 1996, as séries do salário mínimo real e do salário médio real na indústria de transformação
começam a divergir. Apenas a partir de março de 1999 momento da mudança do regime
cambial provocada por um ataque especulativo contra o Real é que as séries voltam a
evoluir em correlação positiva. Isto poderia levar a algumas hipóteses quanto aos impactos da
mudança da forma de inserção internacional na economia brasileira dos anos 90. A abertura
comercial e financeira reduziu a influência do salário mínimo nacional na determinação do
salário médio da indústria, à medida que a intensificação da concorrência levou ao aumento
do desemprego e à queda dos salários fixados no setor privado produtivo. Todavia, a
desvalorização cambial de 1999 teria permitido uma nova conexão entre as séries, mas a partir
de um patamar muito mais inferior do salário médio real na indústria de transformação. Isto
significa também que a indústria nacional voltada para exportação não enfrentaria problemas
de competitividade oriundos de custos salariais.
329
5,0
4,8
4,6
4,4
4,2
4,0
Mar-85
Mar-86
Mar-87
Mar-88
Mar-89
Mar-90
Mar-91
Mar-92
Mar-93
Mar-94
Mar-95
Mar-96
Mar-97
Mar-98
Mar-99
Mar-00
Mar-01
Sep-85
Sep-86
Sep-87
Sep-88
Sep-89
Sep-90
Sep-91
Sep-92
Sep-93
Sep-94
Sep-95
Sep-96
Sep-97
Sep-98
Sep-99
Sep-00
FONTE: Dados sobre salário mínimo foram obtidos no IPEADATA. Os dados sobre salário médio são
provenientes da PIM-DG/IBGE.
Neste trabalho, outros testes foram realizados para se avaliar com dados mais recentes
essa relação tão relevante nas discussões sobre os efeitos do salário mínimo no mercado de
trabalho. A primeira equação estimada em taxas de variação (Quadro 61) revela uma relação
entre o salário médio na indústria de transformação (WRITRF) e o salário mínimo médio
nacional (SALMINR), ambos em termos reais.
0.2 1.0
0.1
0.8
0.0
0.6
-0.1
0.4
-0.2
0.00
-0.3 0.2
0.05 0.0
-0.2
0.10
-0.4
0.15
86 88 90 92 94 96 98 00 -0.6
88 90 92 94 96 98 00
One-Step Probability Recursive Residuals
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
Há uma mudança estrutural, em inícios dos anos 90, que pode ser explicada pela
implementação dos planos de estabilização de preços (Collor I e II) com seus efeitos
recessivos. Essa quebra estrutural, juntamente com outros momentos de ruptura nas
regularidades macroeconômicas, será novamente confirmada nos testes econométricos
subseqüentes. Na presente análise, esses momentos são relevantes porque proporcionam um
critério empírico para a periodização da evolução econômica brasileira, a partir dos modelos
definidos para estimação (Figura 24).
Mas o problema com esse teste em taxas de variação e com as variáveis em termos
reais é que ele pode estar simplesmente refletindo a corrosão inflacionária sobre as duas
séries. Então a mesma equação foi estimada com as variáveis em logaritmo e em termos
nominais, como o fizeram FARIA e CARNEIRO (1996):
Os testes de raízes unitárias mostram que as séries são I(1)244 e então foi realizado o
teste de co-integração de JOHANSEN que rejeitou a hipótese nula de ausência de pelo menos
uma relação co-integrante (Quadros 63 e 64).
244
Por razões de espaço, os testes de raízes unitárias nas séries em primeiras diferenças não são mostrados.
Todos rejeitaram a hipótese nula de presença de uma raiz unitárias, ou seja, as séries são estacionárias em
primeiras diferenças.
332
SALMINN(-1) -1.150703
(-18.0504)
C 0.694428
(4.78748)
D(LWNITRF(-1)) 0.774347
(5.17521)
D(LWNITRF(-2)) -0.105341
(-0.57409)
D(SALMINN(-1)) -0.164012
(-2.12816)
D(SALMINN(-2)) 0.009164
(0.11614)
R-squared 0.609583
Adj. R-squared 0.578962
testes do CUSUM, Figura 25). O período foi então subdividido e a equação retida apenas
quando estruturalmente estável (Quadro 67).
1.0
20
0.8
0.6
0
0.4
0.2
-20
0.0
-40 -0.2
92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01
1.0 0.1
20
0.0
0.8
10 -0.1
0.6
0.00 -0.2
0
0.4
0.05
-10
0.2
0.10
-20 0.0
0.15
-30 -0.2 1996 1997 1998 1999 2000 2001
1996 1997 1998 1999 2000 2001 1996 1997 1998 1999 2000 2001
One-Step Probability Recursive Residuals
CUSUM 5% Signific anc e CUSUM of Squares 5% Significance
Neste período a relação estimada revelou-se estável (Figura 26) e então foram
realizados os testes de raízes unitárias e de co-integração. Todavia, a qualidade do ajuste para
o subperíodo [1995:06 1998:01] e o fato de se tratar de uma fase anterior à mudança do
regime cambial em 1999, fornece uma base empírica para uma nova divisão do período
(Quadro 68). A relação foi então estimada antes e depois da desvalorização cambial de 1999.
Os resultados foram os seguintes:
334
As séries apresentaram raízes unitárias. Todavia, como o teste ADF sobre LSALMINN aceita
a hipótese nula de não estacionaridade apenas no nível de 1%, foi executado o teste de
Phillips-Perron (Quadros 69 e 70). Considerando-se que o teste PP, de maior potência que o
ADF, rejeitou a hipótese nula de raiz unitária nos níveis de 1%, 5% e 10%, concluiu-se que a
série do log do salário mínimo nominal não apresenta raiz unitária para esse período. A
hipótese de co-integração foi então descartada e a equação foi estimada em primeiras
diferenças para se captar a dinâmica de curto prazo.
mais dependiam da relação câmbio/salário. Entre janeiro de 1999 e julho de 2004, essa
relação é incrementada em 50% (Gráfico 67).
Lowess
400
350
300
250
200
150
100
50
1979 01
1979 10
1980 07
1981 04
1982 01
1982 10
1983 07
1984 04
1985 01
1985 10
1986 07
1987 04
1988 01
1988 10
1989 07
1990 04
1991 01
1991 10
1992 07
1993 04
1994 01
1994 10
1995 07
1996 04
1997 01
1997 10
1998 07
1999 04
2000 01
2000 10
2001 07
2002 04
2003 01
2003 10
2004 07
Apesar de serem I(1), as series neste período não co-integram (Quadros 74 e 75) e então o
modelo foi estimado em primeiras diferenças para se captar a dinâmica de curto prazo.
PERÍODOS
[1982 1989] [1992 1993] [1995 1998] [1999 2001]
SEGMENTOS
FORMAL
W nominal 1,03 1,02 0,96 0,23
(c/carteira)
W real 0,32 0,09 0,57 n.s.
INFORMAL
W nominal 1,04 0,98 0,97 0,42
(s/carteira)
W real 0,17 0,16 0,61 n.s.
NOTA: O modelo estimado foi especificado como: rendimento médio nominal (real) = b1 + b2. salário mínimo
nominal(real), com todas as variáveis em logaritmo natural. A periodização efetuou-se através dos testes de
estabilidade estrutural do CUSUM, CUSUMSQ e N-step forecast test.
245
Citação em BOYER (1998) em « Le Lien Salaire / Emploi dans la Théorie de la Régulation autant de
relations que de configurations institutionnelles », Cepremap, 9814, septembre de 1998.
338
Emprego industrial
Produção física
Custo salarial médio real
220
Índice dos valores: jan-1985 = 100
200
180
160
140
120
100
80
60
40
1985 01
1985 06
1985 11
1986 04
1986 09
1987 02
1987 07
1987 12
1988 05
1988 10
1989 03
1989 08
1990 01
1990 06
1990 11
1991 04
1991 09
1992 02
1992 07
1992 12
1993 05
1993 10
1994 03
1994 08
1995 01
1995 06
1995 11
1996 04
1996 09
1997 02
1997 07
1997 12
1998 05
1998 10
1999 03
1999 08
2000 01
2000 06
2000 11
2001 04
FONTE: Pesquisa Industrial Mensal (PIM-DG e PIM-PF) do IBGE, através do IPEADATA.
NOTA: Folha de salários deflacionada pelo IPA-OG e incorporando as alíquotas de contribuição social
(seguridade social; Funrural; fundo para acidentes de trabalho; salário-educação; contribuição para instituições
de ensino técnico e serviço social; INCRA e FGTS. Todas as séries foram dessazonalizadas pelo método
X11/2000 Census 2. Dados referem-se à produção da indústria geral.
A reestruturação da indústria, como resposta à abertura comercial e financeira e o
aprofundamento da restrição externa tiveram impactos decisivos na evolução da WLN
brasileira, afetando tanto o nível e a composição do emprego, como a determinação do salário.
O Gráfico 68 mostra a evolução dessas variáveis e a menor variabilidade da série do nível de
246
As defasagens do emprego foram escolhidas mediante o critério de informação de Schwarz. Para o produto e
para o custo salarial médio não houve defasagens estatisticamente significativas.
339
247
Conforme GONZAGA e CORSEUIL (2001), essa característica da evolução do nível de emprego é
observada na maioria dos países. Em termos de uma análise regulacionista, significa reconhecer que os custos de
ajustamento dependem das configurações da WLN.
248
As análises regulacionistas para o caso do Japão e Alemanha são particularmente ilustrativas dessa
problemática. Esses países mostram que mediante configurações específicas da WLN é possível obter-se outras
dimensões (dinâmicas) da flexibilidade, que não se reduzem à flexibilidade quantitativa (estática). Por exemplo,
a possibilidade de ajuste por horas de produção ou por salário variável em função do nível de demanda efetiva /
faturamento, permite acessar níveis de flexibilidade que preservam a estabilidade das relações de emprego, Nos
anos 90, a economia brasileira redescobriria também essa importante forma de flexibilizar as relações de
trabalho, apesar das instituições de regulação da WLN permanecerem ainda pouco adaptadas a essa modalidade.
340
249
Essas elasticidades foram calculadas considerando-se a acumulação dos efeitos de curto prazo, dividindo-se
os valores das elasticidades de curto prazo por (1- 1 - 2) que é a velocidade de ajustamento do emprego.
GONZAGA e CORSEUIL (2001) encontraram os valores de 1,13 para a elasticidade-produto do emprego e de -
0,66 para a elasticidade-custo salarial. Esses autores consideraram ainda o período completo de análise como
estável. Todavia, a análise proposta neste trabalho detectou mudanças estruturais significativas, o que levou a
reestimação para subperíodos onde essas elasticidades se tornam diferentes.
341
40 1.2 0.03
0.02
20 1.0 0.01
0.00
0.8
0 -0.01
-0.02
0.6 0.00
-0.03
-20
0.4
0.05
-40
0.2
0.10
-60 0.0
0.15
-80 -0.2 88 90 92 94 96 98 00
88 90 92 94 96 98 00 88 90 92 94 96 98 00
One-Step Probability Recursive Residuals
CUSUM 5% Signific anc e CUSUM of Squares 5% Significance
Os três testes mostram que há de fato instabilidade estrutural entre finais dos anos 80 e
primeira metade dos 90. Isto implica na necessidade de se considerar os subperíodos nos quais
a relação estimada se mostre estável.
relevância na escolha desse intervalo não decorre apenas das evidências de instabilidade
estrutural do modelo, mas porque se trata de um período onde se aprofundam as mutações das
formas institucionais iniciadas a partir da abertura comercial e financeira.
30 1.4 0.010
1.2 0.005
20
0.000
1.0
10 -0.005
0.8
0.00 -0.010
0 0.6
0.4 0.05
-10
0.2 0.10
-20 0.0
0.15
-0.2 1997 1998 1999 2000 2001
-30
1997 1998 1999 2000 2001 1997 1998 1999 2000 2001
One-Step Probability Recursive Residuals
250
Aliás é este sinal sempre negativo que GONZAGA e CORSEUIL (2001) esperam encontrar na sua estimação
para o mesmo modelo, o que indica que esses autores possam estar abordando a questão do ponto de vista da
tradição teórica neoclássica.
344
A conjunção dos três fatores pode explicar porque a busca de maior competitividade e
de maior rentabilidade do capital investido vai adquirir, no caso da economia brasileira dos
anos 90, um caráter particularmente perverso. Num ambiente macroeconômico marcado por
taxas reais de juros extremamente onerosas aos produtores e consumidores locais, a
rentabilidade financeira passa a ser incorporada nas decisões de produção e de investimento.
Estas tornam-se muito mais sensíveis à dimensão do salário como um custo de produção do
que como fator de demanda nas sociedades salariais. Por outro lado, uma sobrevalorização
cambial pode provocar a percepção de que o nível dos salários tornou-se excessivo, apesar de
terem conservado seu valor anterior (BOYER, 1998).
-0.04 0.8
-0.0 2 -0.4
0.00 8 8 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 88 8 9 9 0 9 1 9 2 93 9 4 95 96 97 98 99 00
-0.06 0.6 Re c urs i v e C(1) Es ti m ate s ± 2 S.E. Re c urs i v e C(2) Es ti m a te s ± 2 S.E.
0.8 -0.4
0.10 0.2
0.4 -0.8
88 90 92 94 96 98 00 -0.8 -2.0
One-Step Probability Recursive Residuals 8 8 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 88 8 9 9 0 9 1 9 2 93 9 4 95 96 97 98 99 00
0.06
10 0.04
0.0
1.0 0.02
-0 .5
5 0.00
-1 .0
-0.0 2 -1 .5
87 :3 88 :1 88 :3 8 9 :1 8 9 :3 87 :3 88 :1 88 :3 89 :1 89 :3
1.0 0
-5
0.5 -1
0.0
0.0 -2
-10
-0.5 -3
86:3 87:1 87:3 88:1 88:3 89:1 89:3 86:3 87:1 87:3 88:1 88:3 89:1 89:3 -1.5 -5
87 :3 88 :1 88 :3 8 9 :1 8 9 :3 87 :3 88 :1 88 :3 89 :1 89 :3
0.02 0 .0 0 5 0 .8
1.2 0 .0 0 0 0 .6
0.00
-0 .0 0 5 0 .4
-0.02 -0 .0 1 0 0 .2
0.8 -0 .0 1 5 0 .0
0.00 -0.04 93 94 95 96 97 98 99 00 93 94 95 96 97 98 99 00
0.05 0.4 0 .6 -0 .1
0 .5 -0 .2
0.10 0.0
0 .4 -0 .3
0 .3 -0 .4
0.15 0 .2 -0 .5
92 93 94 95 96 97 98 99 00 -0.4 0 .1 -0 .6
92 93 94 95 96 97 98 99 00 0 .0 -0 .7
One-Step Probability Recursive Residuals 93 94 95 96 97 98 99 00 93 94 95 96 97 98 99 00
0.02
0.00 0.8
0.00 1.2
-0.0 2 0.4
0.8 -0.0 6 -0 .4
0.00 -0.04 97 :1 9 7 :3 98 :1 9 8 :3 99 :1 99 :3 00 :1 00 :3 9 7 :1 9 7 :3 9 8 :1 9 8 :3 9 9 :1 99 :3 00 :1 00 :3
0.05
0.4 1.5 0.6
0.4
1.0
0.2
0.10 0.0 0.5 0.0
-0 .2
0.0 -0 .4
0.15
-0 .6
96:1 96:3 97:1 97:3 98:1 98:3 99:1 99:3 00:1 00:3 -0.4 -0.5
-0 .8
96:1 96:3 97:1 97:3 98:1 98:3 99:1 99:3 00:1 00:3 -1.0 -1 .0
One-Step Probability Recursive Residuals 97 :1 9 7 :3 98 :1 9 8 :3 99 :1 99 :3 00 :1 00 :3 9 7 :1 9 7 :3 9 8 :1 9 8 :3 9 9 :1 99 :3 00 :1 00 :3
Inércia das horas e do emprego - a flexibilidade das relações salariais pode ser avaliada
do ponto de vista do emprego, mas também no que concerne às horas pagas na atividade
produtiva. Dois modelos simples visam captar tanto a inércia do emprego quanto a inércia
das horas:
(H) = 1 + 2. (H-1)+ 3. (PI) (15)
(N) = 4 + 5. (N-1)+ 6. (PI) (16)
Onde (H) = taxa de variação das horas pagas na produção industrial; (N) = taxa de variação
do emprego industrial; (PI) = taxa de variação da produção industrial.
Os resultados das estimações encontram-se nos Quadros 89 e 90, respectivamente para
o caso das horas e do emprego.
350
NOTA: Séries trimestrais geradas a partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM-DG)/IBGE.
(n.s.) = não estatisticamente significativo.
NOTA: Séries trimestrais geradas a partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM-DG)/IBGE.
(n.s.) = não estatisticamente significativo.
Da análise acima pode-se concluir que as inércias do emprego e das horas não são
expressivamente diferentes em magnitude. Apenas no período correspondente à vigência do
Real sob regime de câmbio fixo é que a inércia das horas (0,94) supera em 10% a inércia do
emprego (0,84). Este fato pode estar indicando que os ajustes de horas são obtidos por ajustes
de pessoal (dispensas e contratações temporárias) já que a rotatividade das relações de
emprego (labor turnover) é muito elevada na economia brasileira (cerca de 42%, para o ano
de 2000, conforme a Tabela 24)251. Por outro lado, destaca-se o fato de que as taxas de
rotatividade na indústria de transformação estão muito próximas das do setor serviços, o que
sugere um aumento da precariedade num setor onde tradicionalmente as relações de emprego
251
Nos países desenvolvidos, o índice situa-se abaixo de 20%. Países da Europa e EUA, a taxa situa-se entre 7 e
15%.
351
PR_Horária
PR_Pessoal ocupado
Nível de emprego
3%
2%
Taxas de crescimento
1%
0%
-1%
-2%
-3%
-4%
Mar-89
Mar-94
Mar-99
Sep-86
Aoû-89
Sep-91
Aoû-94
Sep-96
Aoû-99
Nov-85
Déc-87
Nov-90
Déc-92
Nov-95
Déc-97
Nov-00
Jan-85
Mai-88
Jan-90
Mai-93
Jan-95
Mai-98
Jan-00
Jui-85
Fév-87
Jul-87
Jui-90
Fév-92
Jul-92
Jui-95
Fév-97
Jul-97
Jui-00
Avr-86
Avr-91
Avr-96
Avr-01
Oct-88
Oct-93
Oct-98
FONTE: Séries mensais originárias da PIM-DG/IBGE.
NOTA: PR é a produtividade do trabalho. Todas as séries foram dessazonalizadas pelo método X11/2000-
Census 2 e suavizadas pelo filtro 4253H.
Produtividade horária
Salário médio real
Nível de emprego
160
140
120
100
80
60
40
Jan-85
Jan-86
Jan-87
Jan-88
Jan-89
Jan-90
Jan-91
Jan-92
Jan-93
Jan-94
Jan-95
Jan-96
Jan-97
Jan-98
Jan-99
Jan-00
Jan-01
Jul-85
Jul-86
Jul-87
Jul-88
Jul-89
Jul-90
Jul-91
Jul-92
Jul-93
Jul-94
Jul-95
Jul-96
Jul-97
Jul-98
Jul-99
Jul-00
FONTE: Séries originais da Pesquisa Industrial Mensal Dados Gerais (PIM-DG) do IBGE.
NOTA: As séries foram dessazonalizadas pelo X11-2000/Census 2 e correspondem aos índices dos valores.
O salário médio nominal na indústria: indexação ao custo de vida, influência das
variações da produção e do emprego
Modelo estimado: (WN) = c1 + c2. (PI)+ c3. (IP)+ c4. (N) (17)
Onde WN é o salário médio nominal; PI é a produção física; ICV é o índice do custo de vida
(calculado como a média entre ICV-FIPE e o ICV-RJ); N é o nível de emprego. As variáveis
foram estimadas em taxa de variação (Quadro 91).
252
Por questões de espaço omitem-se os testes mencionados.
355
quebra estrutural realizando uma seqüência de testes de Chow. Após os testes de raízes
unitárias, o teste de JOHANSEN indicou a presença de uma relação de co-integração.
0.1
10
0.0 1.0
5
-0.1
0.00
-0.2 0 0.5
0.05
-5
0.0
0.10
-10
0.15
92:1 92:3 93:1 93:3 94:1 94:3 95:1 -15 -0.5
92:1 92:3 93:1 93:3 94:1 94:3 95:1 92:1 92:3 93:1 93:3 94:1 94:3 95:1
N-Step Probability Recursive Residuals
CUSUM 5% Signific anc e CUSUM of Squares 5% Significance
PRH(-1) -0.966987
(-4.19070)
N(-1) 1.573157
(6.93455)
C -7.444605
Error Correction: D(WR)
CointEq1 -0.376779
(-3.52584)
D(WR(-1)) -0.855426
(-5.03213)
D(WR(-2)) -0.689732
(-5.24245)
D(PRH(-1)) -0.411445
(-2.67756)
D(PRH(-2)) 0.021305
(0.15369)
D(N(-1)) 2.364347
(2.96769)
D(N(-2)) -0.522980
(-1.03162)
C 0.044518
(4.11700)
R-squared 0.949665
Adj. R-squared 0.910516
= PRH WR (19)
110
100
90
80
70
60
50
40
Mar-85
Mar-86
Mar-87
Mar-88
Mar-89
Mar-90
Mar-91
Mar-92
Mar-93
Mar-94
Mar-95
Mar-96
Mar-97
Mar-98
Mar-99
Mar-00
Mar-01
Sep-85
Sep-86
Sep-87
Sep-88
Sep-89
Sep-90
Sep-91
Sep-92
Sep-93
Sep-94
Sep-95
Sep-96
Sep-97
Sep-98
Sep-99
Sep-00
FONTE: Séries originais da Pesquisa Industrial Mensal Dados Gerais (PIM-DG) do IBGE.
NOTA: As séries foram dessazonalizadas pelo X11-2000/Census 2 e correspondem aos índices dos valores.
WR / PRN
WR / PRH
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
Jan-85
Jan-86
Jan-87
Jan-88
Jan-89
Jan-90
Jan-91
Jan-92
Jan-93
Jan-94
Jan-95
Jan-96
Jan-97
Jan-98
Jan-99
Jan-00
Jan-01
Jul-85
Jul-86
Jul-87
Jul-88
Jul-89
Jul-90
Jul-91
Jul-92
Jul-93
Jul-94
Jul-95
Jul-96
Jul-97
Jul-98
Jul-99
Jul-00
FONTE: Séries originais da Pesquisa Industrial Mensal Dados Gerais (PIM-DG) do IBGE.
NOTA: As séries foram dessazonalizadas pelo X11-2000/Census 2 e correspondem aos índices dos valores.
tanto os períodos onde houve repartição dos ganhos de produtividade como as fases onde
houve desconexão, com queda dos salários e aumento do desemprego na indústria.
Onde N = nível geral de emprego (relações salariais formais e informais das regiões
metropolitanas, originários da PME-IBGE) ; PIB = índice do produto interno bruto mensal;
W = rendimento médio real dos trabalhadores formais (com carteira) e informais (sem carteira
+ conta própria). Todas as variáveis em logaritmo natural.
253
São apresentados apenas os testes de estabilidade do segundo período identificado.
361
Dependent Variable: N t
Method: Least Squares
Sample: 1992:01 2001:04
Included observations: 112
Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.
C 0.348584 0.130091 2.679546 0.0085
N t-1 0.712470 0.094365 7.550155 0.0000
N t-2 0.116955 0.090583 1.291130 0.1994
PIBt 0.107581 0.027746 3.877268 0.0002
Wt -0.012561 0.006610 -1.900165 0.0601
R-squared 0.981738 Mean dependent var 4.820481
Adjusted R-squared 0.981056 S.D. dependent var 0.041392
S.E. of regression 0.005697 Akaike info criterion -7.454112
Sum squared resid 0.003473 Schwarz criterion -7.332751
Log likelihood 422.4303 F-statistic 1438.073
Durbin-Watson stat 2.038984 Prob(F-statistic) 0.000000
6 1 .2
30 1.2
4 0 .8
20 1.0
2 0 .4
0.8
10 0 0 .0
0.6 -2 -0 .4
94 95 96 97 98 99 00 01 94 95 96 97 98 99 00 01
0 Re c u rs i v e C(1 ) Es ti m a te s ± 2 S.E. Re c u rs i v e C(2 ) Es ti m a te s ± 2 S.E.
0.4
0 .8 0 .6
-10 0 .6 0 .5
0.2 0 .4
0 .4
0 .2
0 .3
-20 0.0 0 .0
0 .2
-0 .2
0 .1
-0 .4
-30 -0.2 -0 .6 0 .0
93 94 95 96 97 98 99 00 01 93 94 95 96 97 98 99 00 01 -0 .8 -0 .1
94 95 96 97 98 99 00 01 94 95 96 97 98 99 00 01
0 .0 5
0 .0 0
-0 .0 5
-0 .1 0
-0 .1 5
94 95 96 97 98 99 00 01
Re c u rs i v e C(5 ) Es ti m a te s ± 2 S.E.
jan/1992- 0,37 -
abr/2001
Os testes econométricos mostram que no curto prazo aumentou a velocidade de ajuste
do emprego nos anos 90. A elasticidade-PIB do emprego praticamente dobrou para as
relações salariais das regiões metropolitanas. A elasticidade-salário do emprego revelou-se
não significativa, embora o sinal seja negativo, conforme esperado num ambiente de
intensificação da concorrência e de ruptura dos compromissos institucionalizados,
correspondentes ao modo de desenvolvimento por substituição de importações.
O Quadro 101 proporciona uma visão geral da evolução de longo prazo da wage-labor
nexus brasileira desde o período de constituição das relações salariais. O critério de
periodização baseou-se nas principais mudanças estruturais, mas a ênfase recai sobre as
transformações institucionais impostas pelo Estado, sob a hipótese de que este correspondia à
forma institucional hierarquicamente superior até os anos 80.
363
Confederação e seguridade social) sindicais se às expensas dos indexados à inflação - Estagnação da expensas do salarial
Brasileira do Trabalho desenvolvem salários produtividade emprego
em 1912 - Regulamentação - Conflito distributivo - Setor informal
estatal assume - Crise dos anos - Repressão dos se intensifica - Planos de - Conexão salário- atinge 50% da
- Início da caráter tutelar e de 60 movimentos estabilização de produtividade na WLN
regulamentação da controle dos sindicais preços perturbam indústria
organização do sindicatos os acordos entre - Desconexão
trabalho e da tutela capital e trabalho - Expansão da entre salários e
estatal da WLN informalidade e ganhos de
da precariedade produtividade na
- Primeiros institutos de indústria
aposentadorias
- Crise da economia - Revolução de 1930 - Criação das - O regime político - Crise do regime de - Abertura política e - Abertura - Abertura
escravista e Estado Novo indústrias de ditatorial promove, acumulação do criação da Nova comercial e comercial e
base em 1964, as milagre República em abandono do liberalização
Fatores de impulsão
FONTE: Adaptação a partir de M. BRUNO (2002), « Rapport salarial et régime monetaire au Brésil - Émergence, Évolution et Perspectives d une Construction
Inachevée », Séminaire URA 922 Cepremap, Paris, novembre 2002.
Influência do salário mínimo na determinação do salário de mercado
- Entre 1995:06 e 1998:01, fase de vigência do Real sob regime de câmbio fixo, os
testes apontam para a existência de simultaneidade ou bi-causalidade entre as duas
séries, quando a relação é estimada em primeiras diferenças. Todavia, a ausência de
uma relação de co-integração enfraquece a hipótese de uma ligação de causalidade
entre essas variáveis e a dependência de curto prazo pode simplesmente ser o reflexo
da dinâmica da inflação no período;
Tanto sob o período do milagre quanto nos anos 90, a wage-share sofreu quedas
sucessivas e acentuadas, expressando o aumento da concentração funcional da renda
em favor dos lucros. Todavia, a análise empírica mostra que no caso do milagre
econômico brasileiro, os ganhos de produtividade ocorreram às expensas dos salários,
enquanto nos anos 90, o aumento da produtividade foi obtido às expensas do emprego. No
primeiro caso, tratava-se de uma economia fechada em termos comerciais e sob um
regime político arbitrário. Nestas condições, a WLN foi submetida a um processo de
enquadramento forçado à lógica de um regime de acumulação socialmente excludente. No
segundo caso, o Estado, sob um regime político democrático, adere à lógica da
globalização neoliberal e ao receituário do Consenso de Washington e submete a WLN às
pressões da concorrência e das finanças internacionais. Em ambos os casos, o Estado foi
mobilizado para submeter as relações salariais às prerrogativas do grande capital nacional
367
No setor industrial, a análise precedente detectou, na primeira metade dos anos 90, uma
fase de conexão dos salários aos ganhos de produtividade. Essa indexação permaneceu
enquanto as taxas de desemprego não eram capazes de abalar as organizações e os
movimentos sindicais em termos de reivindicações salariais. Com a elevação rápida do
desemprego estrutural e tecnológico, provocada pela intensificação da concorrência
externa no período de sobrevalorização cambial imposta pelo Plano Real, a desconexão
sobreveio;
254
Mas também de outros autores que não se inscrevem nessa problemática. Mais detalhes das implicações
teóricas e empíricas dessa questão podem ser encontrados em BOYER (1998).
368
instabilidade estrutural em finais dos anos 80 e início dos 90, o período foi subdivido. No
período pré-abertura e pré-Real, existe apenas sensibilidade estatisticamente significativa
à baixa do nível de produção, com valor de 0,72. No período de economia aberta sob a
vigência do Real, permanece a resposta do emprego às variações positivas da produção da
indústria de transformação, mas a elasticidade cai mais do que a metade (0,32). Quando se
considera o período completo sob economia aberta, englobando as fases anteriores e
posteriores ao Real, o emprego industrial passa a responder as fases ascentes e descentes
da conjuntura, indicando que a rigidez à alta do emprego industrial foi uma característica
consolidada após a estabilidade de preços. A indústria se reestrutura e reduz os quadros
em cerca de 30% do nível de janeiro de 1995;
As inércias das horas e do emprego não são expressivamente diferentes em magnitude das
elasticidades envolvidas. Apenas no período de vigência do Real sob regime de câmbio
fixo é que a inércia das horas (0,94) supera em 10% a inércia do emprego (0,84). Este fato
é um indicativo de que os ajustes por horas são obtidos preponderantemente por ajustes de
pessoal, o que encontra apoio numa economia caracterizada por elavada rotatividade das
relações de emprego. É por esta razão que a dinâmica dos ganhos de produtividade horária
é praticamente idêntica à dinâmica dos ganhos de produtividade por pessoal ocupado. Por
outro lado, a elasticidade-produção do emprego industrial praticamente dobra no período
pós-Plano Real (0,46 entre 1991-1994 e 0,84 entre 1995-1998);
de inércia também não se revelou significativo, pode-se considerar que o segmento sem
carteira estaria respondendo a movimentos sazonais. O fato novo é o aparecimento de uma
elasticidade importante (0,94) das relações salariais informais às fases de expansão
econômica, embora continue sua insensibilidade às quedas do nível de atividade;
- No que concerne às relações entre os segmentos sem carteira e com carteira, os testes
econométricos revelam que há relação positiva sob economia aberta pré-Real (0,48), mas
negativa durante a vigência do Real (-0,58). Além disso, há o aparecimento de uma
elasticidade-PIB de 0,73 do segmento sem carteira;
d) Existe uma correlação positiva entre o salário médio real do segmento formal e
o rendimento médio real dos trabalhadores independentes. O teste de
causalidade de Granger indica que as variações no rendimento médio real dos
trabalhadores independentes precedem as variações do salário médio real do
setor formal das relações salariais. A sensibilidade do rendimento médio real
dos trabalhadores conta própria com relação às flutuações conjunturais não se
revelou estatisticamente significativa;
4.4.1 Introdução
Esta definição não pretende fazer abstração ou minizar o papel das intervenções
deliberadas das autoridades governamentais, sobretudo através da instituição de um banco
central. Pelo contrário, seu objetivo é enfatizar os aspectos estruturais que permitam
apreender o modo como a política monetária (e também a fiscal) tem o seu raio de ação
sempre limitado pelos arranjos organizacionais e institucionais vigentes, à medida que estes
codificam os vínculos monetários e financeiros entre agentes econômicos255. Como observa
AGLIETTA (1995), a liquidez de um ativo financeiro qualquer não depende exclusivamente
das características microeconômicas deste ativo. Seu grau de liquidez é uma função da
organização das finanças, conforme as estruturas institucionais que codificam o RMF.
Conseqüentemente, as condições nas quais este ativo pode ser efetivamente convertido em
moeda são determinadas por macro-regularidades codificadas e induzidas pelo regime
monetário-financeiro em vigor. O que é a mesma coisa que dizer que dependem de arranjos
institucionais e organizacionais específicos e próprios a um determinada economia no tempo
ou no espaço.
255
É neste sentido que, como observa BILLAUDOT (2001), a política econômica depende das especificidades
do modo de regulação e do regime de acumulação que lhe é a resultante macroeconômica.
375
Primeiro período (1500-1808) - este primeiro período poderia ser omitido, mas é
relevante para mostrar o ponto de partida histórico da formação das estruturas financeiras. Em
razão do baixo nível de desenvolvimento das relações de produção e de distribuição, típicos
de uma economia primário-exportadora escravista sob controle institucional da metrópole, há
reduzida entrada de capital estrangeiro. Apenas os fluxos necessários para a instalação e
funcionamento da empresa colonial , segundo o duplo monopólio imposto pela instituição
376
Os primeiros bancos foram criados por iniciativa de imigrantes, além de uma média de
aproximadamente mil Casas Bancárias de atuação local. Entre os fatos notórios neste período,
destacam-se o conhecido funding loan de 1914, a Caixa de Conversão (1906-1914) e a Caixa
de Estabilização (1927-29). Nos anos 20, uma onda de nacionalização e de tentativas de
fortalecimento do sistema bancário nacional desembocaria na Lei Bancária de 1921, limitando
a participação dos bancos estrangeiros e reservando o mercado domésticos aos capitais
bancários nacionais.257 Portanto, até os anos 1920, não existem empréstimos de liquidez de
uma autoridade monetária (banco central). Não havia sistema bancário ou rede integrada de
agências, apenas um conjunto de bancos isolados que na ausência de câmara de compensação
para generalizar o uso de cheques, não permitia a criação endógena de moeda.
Terceiro período (1930-1964) - define-se por uma fase de redução da demanda por
empréstimos externos. Mas a partir de 1930, asseguram-se os pré-requisitos mínimos para o
financiamento dos investimentos via crédito e, portanto, através da criação endógena de
moeda, independentemente de uma acumulação prévia de poupança . Este período
corresponde a uma fase de reconstrução do Estado Nacional, mas, num segundo momento,
também de mudança de seu relacionamento com o capital estrangeiro. Busca-se uma atuação
mais adequada às necessidades do novo padrão de acumulação de capital de base industrial,
considerando-se as transformações do capitalismo mundial no pós-Segunda Guerra e a
expansão das empresas multinacionais. A mobilização do Estado para o financiamento de
longo prazo dos capitais privados - via criação do BNDES, em 1952 - é um reflexo dessa
nova orientação do regime fisco-financeiro nos quadros de um projeto de desenvolvimento
econômico nacional.
256
Mais rigorosamente significa que a metrópole lusitana possuía a dupla vantagem de funcionar como
monopolista e monopsonista em relação à demanda e a produção da economia colonial brasileira.
257
Em 1924, 45% dos depósitos à vista estavam concentrados em bancos estrangeiros. No entanto, dados de
1945 mostram que essa participação cai para 7%, atestando a vigência de um sistema bancário efetivamente
nacional.
377
Nos anos 70, verifica-se uma fase de grande facilidade de captação externa, em razão
da grande liquidez disponível nesta época nos mercados internacionais. Observa-se também
um processo de concentração bancária que passaria a ser promovido pelas próprias
autoridades econômicas do governo autoritário. Por outro lado, a crise da dívida externa
marcaria a década de 80, e pode ser interpretada como um dos desdobramentos do
esgotamento e crise do regime de acumulação responsável pelo milagre .
Período atual (de 1994 em diante) - o ano de 1994 entraria para a história com a
institucionalização do Plano Real de estabilização monetária. Este programa resultou na
virtual destruição do sistema de regras e contratos indexados montado a partir das reformas do
período autoritário pós-64. Como observa COSTA & DEOS [1999] todos os contratos
trabalhistas e de aluguéis são alongados de maneira compulsória. Todas as cláusulas de
reajuste em prazo inferior a um ano e as de indexação são proibidas .Esta intervenção do
poder público no sistema contratual brasileiro lançaria as bases para a constituição de um
378
258
Em 1997, o Banco Central esboçaria uma predisposição a frear a entrada das instituições bancárias de varejo,
para favorecer apenas a entrada dos bancos de investimento, segmento tradicionalmente minoritário na economia
brasileira. Todavia, no ano seguinte, todos os segmentos teriam passe livre para participar do mercado bancário
brasileiro.
259
Segundo dados fornecidos pelos autores supracitados, em 2002, as saídas pela conta CC-5 atingiram níveis
recordes. US$ 1,6 bilhão no mês de agosto e mais US$ 1,7 bilhão em outubro, mês das eleições presidenciais,
379
em razão da especulação sobre as supostas conseqüências de um governo do Partido dos Trabalhadores. No ano,
as remessas alcançaram US$ 9,1 bilhão, um crescimento quase de 50% em relação a 2001.
260
Relatório sobre as transformações do sistema financeiro brasileiro (1989-2000) disponibilizado no site do
BACEN.
380
se no dispositivo institucional da correção monetária, pois este tornou-se, nos anos 80, a base
de um processo de indexação geral da economia, distorcendo as funções originais ou
atividades-fim de muitas das instituições financeiras.
Segundo GREMAUD et al. (2004), o crescimento dos ativos não monetários do lado
da captação era acompanhado pela maior participação do setor não monetário na concessão de
empréstimos, provocando a redução da participação dos bancos comerciais e o crescimento
das financeiras, do Sistema Financeiro Habitacional e dos bancos de investimento.
261
GREMAUD et al observam que, no Brasil, além da instabilidade macroeconômica, havia muita incerteza em
relação às regras. A correção monetária foi sempre muito manipulada, não refletindo a taxa de inflação
verdadeira, além da existência de restrições institucionais que desestimulavam o alongamento dos prazos das
aplicações.
262
Entre as razões citadas pelos analistas para a atrofia do mercado de capitais brasileiro, encontra-se a estrutura
patrimonial das empresas brasileiras, onde os setores mais dinâmicos são dominados pelo capital estrangeiro
multinacional e pelas empresas estatais. Por outro lado, as empresas de capital nacional permaneceram
basicamente de natureza familiar, com capital fechado.
382
Dados para o ano de 2000, constantes do relatório citado acima, mostram que a
participação dos bancos com controle estrangeiro no total dos bancos múltiplos comerciais
383
atingiu a cifra de 33,11%, enquanto os bancos privados e públicos, ficaram com 42,56% e
24,33%, respectivamente.
263
Aliás, o relatório supracitado não aborda os impactos das transformações do SFN sobre a estrutura das taxas
de juros no Brasil. Uma questão vital para uma economia ainda em desenvolvimento, sobretudo por ser decisiva
para o financiamento de longo prazo.
264
Um artigo publicado no jornal O Globo, cujo nome do autor não consta na fonte veiculada pela Internet, foi
intitulado apropriadamente Da Hiperinflação ao Hiperjuro .
384
nova configuração do RMF sobre o atual padrão de acumulação de capital é um dos objetivos
do próximo capítulo.
( M 2 PMPP) ( M 2 PMPP)
IndDF1 = ; IndDF2 =
M2 PIB
265
Orlando C. de MATOS, Desenvolvimento do sistema financeiro e crescimento econômico no Brasil:
evidências de causalidade, texto para discussão nº 40, Banco Central do Brasil, setembro de 2002.
266
MATOS baseia-se nas constatações de KING e LEVINE (1993) e MARRISON (2001).
385
M2 EMPSF
IndDF3 = ; IndDF4 = ;
PIB PIB
IndDF1 = (M2-PMPP)/M2(L)
IndDF2 = (M2-PMPP)/PIB(R)
IndDF3 = M2/PIB(R)
95% 50%
90% 45%
40%
85%
35%
80% 30%
75% 25%
70% 20%
15%
65%
10%
60% 5%
55% 0%
1946 1952 1958 1964 1970 1976 1982 1988 1994 2000
1949 1955 1961 1967 1973 1979 1985 1991 1997 2003
Talvez o fato mais interessante seja o comportamento dos indicadores no período pós-
Plano Real. No primeiro ano de vigência da nova moeda, todos os quatro indicadores crescem
expressando o aumento na confiabilidade do sistema bancário-financeiro e o próprio processo
de remonetização da economia. Em particular, destaca-se IndDF1 que havia permanecido em
386
queda durante a introdução do Plano Cruzado, mas não na introdução do Plano Real. Mas
IndDF1 declina de 1995 a 2000, expressando o aumento da confiança do público no novo
padrão monetário, pois em razão da inflação permanecer baixa e sob controle, aumenta a
quantidade de papel-moeda em poder do público (PMPP). Os outros três indicadores
permaneceram estagnados sob o Real, o mesmo ocorrerá com IndDF1 a partir de 2000. Estes
fatos expressam a vigência de um RMF à elevada restrição monetária, onde os objetivos de
controle da inflação e dos gastos públicos passam a ser mais importantes do que incentivar a
acumulação produtiva de capital. Por outro lado, nesta fase a economia brasileira aprofunda a
liberalização comercial e financeira e o Estado submete-se às imposições do FMI e mantém as
taxas de juros em patamares extremamente elevados.
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003
450
400
350
300
- escala log
250
200
150
100
1970 01
1970 11
1971 09
1972 07
1973 05
1974 03
1975 01
1975 11
1976 09
1977 07
1978 05
1979 03
1980 01
1980 11
1981 09
1982 07
1983 05
1984 03
1985 01
1985 11
1986 09
1987 07
1988 05
1989 03
1990 01
1990 11
1991 09
1992 07
1993 05
1994 03
1995 01
1995 11
1996 09
1997 07
1998 05
1999 03
2000 01
2000 11
2001 09
2002 07
2003 05
2004 03
FONTE: Para os dados sobre o total de empréstimos do sistema financeiro, o Banco Central do Brasil, obtida no
IPEADATA.
NOTA: A série em periodicidade mensal foi deflacionada pelo IGP-DI da FGV, com base em agosto de 2004.
No Gráfico 76 pode ser observada a evolução da participação das operações de crédito
do sistema financeiro no PIB. Constata-se que após a introdução do Plano Real, a tendência
foi de queda, o que mais uma vez indica a vigência, neste período, de um RMF à alta
restrição monetária e, conseqüentemente, incompatível com uma retomada auto-sustentada
do processo de acumulação de capital e do crescimento econômico. Este fato não deve causar
nenhuma surpresa, pois a política econômica esteve deliberada e preponderantemente voltada
para a gestão da dívida pública e o Estado brasileiro permaneceu prisioneiro dos
compromissos que assumiu com o capital financeiro nacional e internacional, por pressão
tanto das elites econômicas internas quanto das externas que apoiaram o duplo mandato de
FHC267. Estas frações do capital foram as mais fortalecidas e beneficiadas com o processo de
globalização neoliberal que implicou na derrubada dos entraves institucionais para a
aprofundar a liberalização financeira. Por outro lado, como estão centradas numa lógica de
maximização de curto prazo, permanecem em conseqüência muito pouco conectadas às
necessidades dos setores diretamente produtivos. Num tal contexto, o papel do Estado como
promotor do processo de acumulação de capital deveria ser percebido como um corolário, à
medida que a conjunção da lógica de liberalização financeira com o abandono das políticas de
desenvolvimento tem como resultado necessário a estagnação ou o crescimento lento e
267
Refere-se a Fernando Henrique Cardoso, Presidente do Brasil no período 1994-2002.
388
instável. O não reconhecimento deste fato significa o não comprometimento do Estado com o
desenvolvimento sócio-econômico nacional ou a sua captura pela lógica das finanças em
detrimento do conjunto da economia e sociedade.268
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
1988 1991 1994 1997 2000 2003
FONTE: Para os dados sobre o total de empréstimos do sistema financeiro, o Banco Central do Brasil; para o
PIB, o IBGE. Ambas as séries foram obtidas no IPEADATA.
NOTA: A série dos empréstimos foi deflacionada pelo IGP-DI da FGV e a do PIB pelo deflator implícito do
PIB.
268
Os Gráficos 75 e 76 não fornecem a mesma informação, pois o crédito envolve tanto as operações de
empréstimos, quanto as de financiamento. Estas últimas estão vinculadas à aquisições específicas de
determinados bens e serviços.
389
ANO INDÚSTRIA HABITAÇÃO COMÉRCIO OUTROS SERVIÇOS PESSOAS FÍSICAS RURAL TOTAL
Setor público
Setor privado
100%
80%
60%
40%
20%
0%
1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
NOTA: Os valores correspondem às participações percentuais dos saldos médios anuais no total das operações
de crédito do sistema financeiro. Os valores para 1988 referem-se à média dos meses de junho a dezembro. Para
2004, referem-se à média dos meses de janeiro a agosto.
O Gráfico 78 mostra a evolução das taxas de crescimento dos empréstimos do sistema
financeiro ao setor privado (EMPSF) e do PIB, para o período 1971-2003.
0% 4%
2%
-10% 0%
-2%
-20%
-4%
-30% -6%
1971 1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003
1973 1977 1981 1985 1989 1993 1997 2001
Este processo é particularmente notável ao longo dos anos 70, uma década marcada
pelos efeitos das reformas institucionais do PAEG269 - que, entre outras implicações, criou as
bases estruturais para o desenvolvimento do setor bancário e financeiro mas atinge seu
paroxismo nos anos 80 e primeira metade dos 90, quando se conjuga com a crise da dívida
externa e com a crise fiscal do Estado.
269
Programa de Ação Econômica do Governo, elaborado pelo regime autoritário-militar para o período 1964-
1966 e que envolveu várias mudanças institucionais cujos impactos sobre a economia e sociedade brasileiras
foram indubitavelmente determinantes.
392
juros recebidos e pagos pelas instituições financeiras aos demais setores da economia, como
uma medida da contribuição do sistema financeiro ao valor adicionado total da economia.270
10% 75%
50%
25%
5% 8%
5%
3%
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
FONTE: Elaborado a partir das séries do IBGE relativas ao valor adicionado (VA) das instituições financeiras,
mensurado pelo método SIFIM (serviços de intermediação financeira indiretamente medidos) e do Índice Geral
de Preços IGP-DI da FGV.
NOTA: Os eixos verticais estão em escala logarítmica.
Pode-se constatar que a partir de 1970, mais inflação significa maior participação do
sistema financeiro no valor adicionado total da economia brasileira. Conseqüentemente, as
consideradas décadas perdidas certamente não o foram para este setor. Este fato é inclusive
reconhecido pelas autoridades monetárias brasileiras. No mesmo relatório divulgado no site
do Banco Central do Brasil, e mencionado acima, há uma passagem muito clara a esse
respeito:
270
Adiciona-se também a parte do excedente operacional dos bancos que corresponde à cobrança por serviços
que não são diretamente ligados às atividades-fim, como as receitas provenientes de tarifas bancárias. Embora
no período pós-Real as receitas de tarifas tenham crescido muito, elas representam apenas 8 a 10% do valor
adicionado total conferido aos bancos pela metodologia do SIFIM .
393
271
BELUZZO e ALMEIDA (2002, p. 154) observam que a dívida pública passou então a ser a base da renda
bancária: na intermediação do dinheiro financeiro (que substitui a função bancária da intermediação
financeira) e na absorção do imposto inflacionário . A concorrência, a modernização e a evolução da rede e
dos serviços bancários durante os anos 80 foram todos processos condicionados por uma ou outra dessas
formas de obtenção de renda.
394
10
1.2
0.04
5
0.8
0 0.00
0.4
-5
-0.04
0.0
-10
-0.08
-15 -0.4
54 56 58 60 62 64 66 68
50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
CUSUM 5% Signific anc e CUSUM of Squares 5% Significance
0.2
0.1
0.0
-0.1
-0.2
54 56 58 60 62 64 66 68
Todavia, ainda segundo este autor, a utilização da indexação ainda estava restrita aos
contratos de prazos mais longos, uma limitação que foi desaparecendo ao longo dos anos.
Portanto, no período 1966-1974, a cláusula de indexação às ORTN foi muito pouco usada nos
contratos financeiros, pois as taxas de inflação ainda permaneciam baixas.
10
1.2 -2.2
5
0.8
-2.4
0
0.4
-2.6
-5
0.0
-10 -2.8
76 78 80 82 84 86 88 90 92
0.4
0.3
0.2
0.1
0.0
76 78 80 82 84 86 88 90 92
LVAFPIB
ADF Test Statistic -0.473292 1% Critical alue* -3.7343
5% Critical Value -2.9907
10% Critical Value -2.6348
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
RESÍDUOS
ADF Test Statistic -3.833950 1% Critical Value* -3.7667
5% Critical Value -3.0038
10% Critical Value -2.6417
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
LINFLA(-1) -0.298308
(-20.7163)
C 2.288686
(103.285)
Error Correction: D(LVAFPIB)
CointEq1 -1.030525
(-2.13028)
D(LVAFPIB(-1)) 0.378540
(1.10794)
D(LINFLA(-1)) -0.180353
(-1.45836)
R-squared 0.145790
Adj. R-squared 0.064437
-1.0
-1.5
-2.0
-2.5
0.2
-3.0
0.1
0.0
-0.1
-0.2
-0.3
70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 92
Esses resultados para o período de vigência do Real mostram que ainda existe
apropriação de ganhos inflacionários, apesar das taxas de inflação permanecerem bastante
inferiores às observadas antes do plano de estabilização. O coeficiente cai de 0,30 para 0,15
(equação em log) e 0,13 (equação em taxa de variação). Por outro lado, como a magnitude das
taxas de inflação não são tão afastadas das taxas vigentes, por exemplo, no período 1947-1957
- em que o valor adicionado pelo SFN mantinha-se em uma média de 2% do PIB - pode-se
argumentar que a vinculação macroeconômica entre ganhos inflacionários e expansão
financeira pressupõe um certo nível de desenvolvimento das estruturas bancárias e
financeiras. Necessita da existência de dispositivos institucionais de indexação ou de correção
monetária, mais do que de taxas muito altas de inflação. Isto remete à questão da manutenção,
por parte do próprio Estado, de um conjunto de indexadores financeiros (como a TR, UFIR,
UFERJ, etc.), apesar de ter proibido a indexação formal de preços e salários quando da
implementação do Plano Real.272
Conseqüentemente, as relações entre a dinâmica da inflação (e também das taxas de
juros) e as formas possíveis em que se converte em uma base para a acumulação bancária-
financeira dependem das particularidades do regime monetário-financeiro, ou seja, de sua
configuração em uma determinada fase da evolução da economia.
272
BRESSER-PEREIRA (2004), um dos pais da teoria da inflação inercial observa que no Plano Real, porém, o
governo cometeu o erro de manter algumas indexações, principalmente financeiras. A partir de 1995, aprofundou
o erro ao aceitar a indexação dos preços dos serviços públicos que privatizava . Para BRESSER-PEREIRA, o
Brasil estaria num segundo estágio de um processo de reinercialização da inflação o da indexação formal dos
salários.
400
Mas é na economia brasileira dos anos 80 que se pode encontrar um exemplo notório
de como as configurações do RMF determinam o grau de liquidez dos ativos que são eleitos
para representar a moeda e suas formas. Nesta época o regime monetário-financeiro facultava
a existência de duas espécies de moeda . Como esperado em situações normais de
funcionamento de uma economia, havia uma moeda emitida pelo Estado, correspondente ao
meio circulante (M1), mas que permanecia invariavelmente sujeita à corrosão inflacionária. A
segunda modalidade (integrando os conceitos de M2, M3 e M4) tratava-se de uma moeda
indexada ou financeira, com alta liquidez proporcionada pela existência de ativos financeiros
lastreados em títulos de curto prazo da dívida pública, com rentabilidade real assegurada pela
correção monetária. Como através da moeda indexada emitida pelo sistema bancário-
financeiro privado, os estratos sociais de renda mais alta encontravam proteção contra a alta
inflação, a dualidade monetária evitava uma fuga em massa em direção a ativos reais e
divisas, tal como ocorre nos processos de hiperinflação clássica. 273
273
As análises desenvolvidas por L.C. Mendonça de BARROS (1992), em A Moeda Indexada: uma experiência
brasileira e as de M.C.TAVARES (1972 e 1978) são particularmente esclarecedoras das causas e conseqüências
da dualidade monetária como uma especificidade do caso brasileiro.
401
274
Essa abstração tem conduzido alguns autores a traduzir um processo inercial de inflação em termos da
abordagem monetarista das expectativas adaptativas. Uma abordagem tradicionalmente alheia aos conteúdos
institucionais da moeda e à sua não-neutralidade e endogeneidade.
275
Isto significa que um processo de inflação inercial é essencialmente diferente de um processo
hiperinflacionário, onde as taxas de inflação entram em uma trajetória explosiva. A hiperinflação é um processo
resultante da desestruturação de um regime monetário-financeiro, conduzindo à perda total da confiança no
sistema bancário-financeiro por parte dos agentes econômicos. Este argumento é compartilhado por LOYOLA
(1995), que em texto divulgado no site do Banco Central do Brasil, sustenta que a economia brasileira não
passou por um processo hiperinflacionário justamente pelo fato do sistema bancário-financeiro ter conseguido
preservar a função reserva de valor, adiando ou reduzindo significativamente a fuga para ativos reais e divisas.
276
Como observa LACERDA et alii [2000], o problema fundamental a partir de 1984, era como controlar a
inflação. O forte ajuste fiscal de 1983 havia praticamente zerado o déficit público, mas não conseguira estabilizar
os preços. Os economistas monetaristas que haviam aplicado a terapia convencional ajuste fiscal e política
monetária restritiva - estavam perplexos.
402
(-) Gastos (+) Gastos (+) Gastos (-) Gastos (-) Gastos (-) Gastos (+) Gastos (-) Gastos
(principal/pessoal)
(+) Taxa de (-) Taxa de (+) Taxa de Taxa de juros (+) Taxa de (+) Taxa de (+)Taxa de (+) Taxa de
juros juros juros ligeiramente juros juros juros juros
negativa
Monetária (-) Oferta de (+) Oferta de (-) Oferta de (-) Oferta de (-) Oferta de (+) Oferta de (-) Oferta de
créditos moeda moeda moeda moeda moeda moeda
(-) Salário real / (+) Salário (-) Salário real Salário real (-) Salário real (-) Salário real (+) Salário (-) Salário real
DL Nº 2044, real (médio cresce um real
Rendas 2045 real + 8%) pouco
(-) Inflação /
desindexação
(URV)
120
100
80
60
40
20
0
1979 04 1982 08 1985 12 1989 04 1992 08 1995 12 1999 04 2002 08
1980 12 1984 04 1987 08 1990 12 1994 04 1997 08 2000 12
277
A existência de depósitos bancários remunerados diariamente através de sua vinculação com a moeda
indexada foi uma característica básica de legitimação do regime monetário-financeiro dual entre as classes
médias e assalariadas de mais alta renda que tinham acesso a esse instrumento financeiro.
405
mudança no modo de consumo, provocada tanto pelas transformações do RMF impostas pelo
Plano Real, quanto pela reconfiguração da forma institucional de inserção no regime
internacional.
Dans les anées 80, l inflation résolvait ex post ce que les institutions ne
pouvait faire ex ante. A présent, elle peut être contrôlée par le taux d intérêt et
la dévaluation a vite généré de nouvelles sources de profit et fait baisser à
nouveau la part du travail dans le revenu national. Dans les anées 90, la
désinflation légitime la libéralisation ou, du moins, démobilise le mouvement
syndical, ce qui perpétue la concentration des revenus dans un contexte de
stabilité des prix et continue par là de freiner la demande domestique mais
accroître les gains financièrs à mesure que croît l émission de titres de la dette
publique couvrant le déficit commercial. »
O Quadro 113 fornece uma periodização do regime monetário-financeiro baseada nas
principais mudanças institucionais e organizacionais observadas desde o pós-Segunda Guerra
Mundial.
406
2,00
1,80
1,60
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
1950 1958 1966 1974 1982 1990 1998
1954 1962 1970 1978 1986 1994 2002
FONTE: Séries mensais da taxa de câmbio nominal, do IPA e do IPC dos EUA e do IPC do Brasil foram obtidas
no IPEADATA.
NOTA: (e) é a taxa de câmbio nominal; (e TNT ) é a taxa real de câmbio tradeables/non tradeables e (eipc) é a taxa
real de câmbio utilizando como deflator o IPC de cada país. Os dados foram anualizados.
QUADRO 113 EVOLUÇÃO INSTITUCIONAL E ORGANIZACIONAL DO REGIME MONETÁRIO FINANCEIRO NO BRASIL (1945-2002)
REGIME
MONETÁRIO- 1945 - 1963 1964 1979 1980 1989 1990 - 1993 1994 - 1998 1999 - 2002
FINANCEIRO
Criação da SUMOC Criação do Banco Central e Generalização da Confisco da Plano Real institui Nova fase de fusões
(1945) das estruturas básicas do moeda indexada liquidez pelo Plano nova unidade e aquisições com
SFN ou financeira Collor monetária em julho participação de
Sem banco central de 1994 o Real instituições
institucionalmente Supressão da Lei da Usura e Atrofia do mercado Substituição do bancárias
definido criação do dispositivo de capitais overnight pelo Criação de estrangeiras
institucional da correção Fundo de programas de
Criação do BNDES monetária (1964) Forte expansão do Aplicação reestruturação Implementação do
Mudanças para financiamento sistema bancário, Financeira (FAF) bancária e novo sistema de
de longo prazo Reestruturação do regime mas grande retração financeira (PROER pagamento e de
institucionais e (1952) fisco-financeiro das operações de Criação do IPMF e e PROES) para medidas para
organizacionais crédito lançamento do superar crises de eficiência do SFN
Início do processo Avanço da concentração Plano de Ação
de concentração bancária estimulada pelo Criação dos bancos liquidez (2003)
Imediata (PAI), em
bancária em fins de Estado e criação de bancos múltiplos (1988) 1993 Regulação Institucionalização
1950 públicos estaduais prudencial e do sistema de metas
Criação da Unidade criação da Central de inflação (1999)
Real de Valor de Risco de Crédito
(URV) (1997)
Taxas múltiplas de Sistema de Maxidesvalorizações Câmbio flutuante Câmbio fixo Câmbio flutuante
Regime cambial câmbio minidesvalorizações ajustável e grande
cambiais apreciação do Real
Regime de câmbio Câmbio flutuante e livre Elevação das taxas Ideologia da Livre mobilidade se Ataques
Condicionantes fixo Breton Woods mobilidade do capital de juros globalização intensifica com as especulativos contra
externos sistema internacionais pressiona para TIC e câmbio o Real (1999 e
financeiro liberalização sobrevalorizado 2002)
internacional Fase de financeira e
liberalização do comercial Impactos das crises
mercado de capitais do México, Ásia e
Rússia
O Plano Real pôde então contar com uma redefinição relativamente rápida da forma
institucional de inserção no regime internacional. De maneira que, ao ser implementada
efetivamente em inícios dos anos 90, a abertura comercial e financeira não cessou de se
aprofundar, impulsionada pela sobrevalorização cambial da primeira fase desse programa de
estabilização de preços. Por outro lado, as formas da concorrência, tradicionalmente
estruturadas em mercados oligopolizados e protegidos da concorrência internacional, terá o
sistema de mark-up pressionado para adequar-se aos fluxos de novos produtos importados e a
278
MARQUES-PEREIRA (2004, p. 15) observa que les crises financières semblemt avoir scellé définitivement
la légitimité de la libéralisation, révisée par le consensus post-Washington, que l on peut appeler maintenat
consensus de Brasília depuis que le parti, autrefois le plus critique de la gauche latino-américaine, l a endossé
pour arriver et se maintenir au governement.»
409
100%
40
80%
30
60%
40% 20
20%
10
0%
0
-20%
-40% -10
1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003
No Gráfico 83 podem ser observadas a evolução das taxas reais de juros dos
certificados de depósito bancário (CDB)279, uma proxy para o custo de captação do sistema
bancário, e as taxas reais de juros dos empréstimos para capital de giro. Portanto, têm-se as
279
Conforme glossário divulgado por uma instituição bancária: os Certificados de Depósito Bancário (CDB)
são os títulos emitidos por bancos comerciais, múltiplos e de investimento, com o objetivo de gerar recursos para
o financiamento de capital de giro do próprio banco ou de terceiros. Esta modalidade de aplicação poderá render
tanto uma taxa de juros fixa quanto variável, dependendo da forma como foi emitido o certificado .
410
(1 i N
)
i R
(1 p)
(23)
Portanto, não se trata das taxas aparentes de juros que são calculadas pelo diferencial
entre taxas nominais e a taxa de inflação. As médias anuais foram então utilizadas para gerar
o gráfico em questão. Destaca-se a constância dessa relação desde 1973, ano que marcaria o
término do milagre econômico brasileiro .
Algumas hipóteses podem ser levantadas para esse comportamento. Excluindo os anos
atípicos de 1981 e 2004, a estabilidade da razão taxa de juros capital de giro / taxas de juros
CDB pode estar expressando o grau de oligopolização do sistema bancário-financeiro
brasileiro.
60%
40%
% a.a.
20%
0%
-20%
-40%
1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002
1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004
concentrada. Aliás, o processo de concentração bancária que começou nos anos 50, foi
inclusive promovido pelo próprio governo ao longo do regime arbitrário pós-1964, sob a
alegação de que isto traria benefícios para a economia nacional, em termos de aumento de
eficiência e da oferta de crédito para os setores diretamente produtivos. Mas uma outra onda
de fusões e aquisições de bancos, no contexto da inserção neoliberal, ocorreria na era pós-
Real, com a participação de instituições estrangeiras. Todavia, essa constatação assume
conotações mais surpreendentes, quando se considera que a entrada dos grandes bancos
estrangeiros não foi capaz de abalar essa relação em seu comportamento tendencial. Em
conclusão, o Gráfico 83 estaria expressando a força oligopolista das instituições bancárias e
financeiras no Brasil, e que se mantém praticamente inalterada através de períodos tão
díspares da evolução econômica nacional, por suas características estruturais e conjunturais.
10,0 5000%
9,0
8,0
7,0
6,0
5,0
4,0 500%
3,0
2,0
50%
1,0
0,9
0,8
0,7 5%
0,6
0,5
0,4
1974 1977 1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004
O Gráfico 84 mostra a evolução das taxas de juros reais SELIC, com a série tendencial
correspondente, estimada segundo o método Lowess smoothing. Os anos 90 caracterizam-se
por apresentarem as mais elevadas taxas reais de juros, apesar da tendência de queda
observada a partir de 1999, quando o câmbio passou a ser flutuante. Sob um regime de
câmbio flutuante, o governo recuperou parte da autonomia da política monetária, que na
primeira fase do Real esteve voltada para a preservação da âncora cambial.
412
6% 12%
4%
10%
2%
0% 8%
1991 01
1991 07
1992 01
1992 07
1993 01
1993 07
1994 01
1994 07
1995 01
1995 07
1996 01
1996 07
1997 01
1997 07
1998 01
1998 07
1999 01
1999 07
2000 01
2000 07
2001 01
2001 07
2002 01
2002 07
2003 01
2003 07
2004 01
2004 07
FONTE: A série sobre a percentagem de cheques sem fundos é originária do SERASA e as taxas de desemprego
total referem-se à região metropolitana de São Paulo. Os dados foram obtidos no IPEADATA.
280
Taxa utilizada pelo Sistema Especial de Liquidação e Custódia do Banco Central do Brasil. Esta taxa
funciona como um piso para as taxas de juros fixadas pelo mercado bancário-financeiro.
413
Índice de inadimplência
28
26
24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1994 01
1994 06
1994 11
1995 04
1995 09
1996 02
1996 07
1996 12
1997 05
1997 10
1998 03
1998 08
1999 01
1999 06
1999 11
2000 04
2000 09
2001 02
2001 07
2001 12
2002 05
2002 10
2003 03
2003 08
2004 01
2004 06
FONTE: Dados originários da Associação Comercial de São Paulo, Boletim do Instituto de Economia Gastão
Vidigal (ACSP/IEGV) e obtidos no IPEADATA.
A análise do Gráfico 86 revela que a emissão de cheques sem fundos que pode ser
considerada como mais um indicador do elevado grau de restrição do RMF pós-Real - entrou
em uma tendência de expansão justamente a partir da introdução da nova moeda. Observa-se
também uma forte correlação (0,8240) com a evolução das taxas de desemprego total oculto
mais aberto - sobretudo, a partir de 2000.
300 200
200 150
100
100
90
80
70
60
50
50
1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003
Em resumo, o RMF da era do Real apresenta-se muito pouco favorável à retomada dos
investimentos produtivos. Trata-se de um regime à elevada restrição monetária que responde
prioritariamente à lógica da acumulação financeira e patrimonial e que tem no endividamento
público e privado, sua premissa e também o seu resultado. A equipe econômica é
perfeitamente cônscia dessa problemática que instaurou um círculo vicioso entre
endividamento, baixo crescimento e mais endividamento. Mas como o grau de subordinação
das finanças públicas brasileiras às prerrogativas dos capitais bancário-financeiros nacionais e
internacionais é efetivamente muito elevado, o discurso oficial tenta inutilmente convencer os
agentes econômicos responsáveis pelas decisões cruciais de investimento, de que os juros não
seriam os únicos determinantes do crescimento econômico. E efetivamente não seriam, se os
níveis praticados no mercado financeiro brasileiro fosse ao menos próximo ao de países com
níveis de desenvolvimento e endividamento similares.281
281
BRESSER-PEREIRA (2004, p. 381) chama a atenção para o fato de que países com taxas de risco maiores do
que as do Brasil praticam, no entanto, taxas de juros reais menores.
416
iii. A transição de um RMF dual e, por natureza, inflacionista, para um RMF à alta
restrição monetária implicou na mudança das condições sobre as quais a
acumulação financeira se desenvolvia. Entre 1980 e 1993, a alta inflação e os
mecanismos de indexação foram a base da expansão financeira e dos grandes lucros
do setor bancário. Este fato pôde ser constatado quando os testes econométricos
mostraram que existia causalidade unidirecional da inflação para o incremento da
participação do valor adicionado pelo setor financeiro no PIB;
iv. Com a implementação do Plano Real, as altas taxas de juros ocuparam o lugar antes
reservado aos ganhos inflacionários, perpetuando um regime monetário-financeiro
inadequado às necessidades da acumulação de capital produtivo. Este fato permite
também apreender a evolução do RMF brasileiro da década de 80 para a de 90 como
um processo de transição de um RMF inflacionista para um RMF usurário282, onde o
controle da inflação é mantido às custas do crescimento econômico e do desvio da
poupança macroeconômica para os centros de acumulação financeira e patrimonial;
282
O conceito de usurário não deve ser interpretado sob conotações pejorativas, pois sua utilização neste
contexto decorre da falta de um outro termo que expresse de forma mais precisa o RMF brasileiro do período
pós-Real. Segundo o Dicionário Houaiss, a usura significa juro, renda ou rendimento de capital, freqüentemente
acima da taxa legal. Significa também juro exagerado ou extorsivo. Uma das especificidades do caso brasileiro
decorre do fato de que os juros são exagerados não porque sejam praticados acima do nível legal. Pelo contrário,
são extremamente elevados dentro do próprio marco regulatório e, portanto, sancionados pelas Autoridades
Monetárias. A usura encontra-se neste caso perfeitamente institucionalizada, sendo inclusive mobilizada como
política econômica consistente com os objetivos de controle da inflação e de rolagem da dívida pública.
417
vi. O RMF pós-Plano Real responde também pela contenção salarial e pela elevação do
desemprego, a partir de sua articulação com as outras formas institucionais. Uma
WLN concorrencial, um padrão de inserção internacional de orientação neoliberal,
e um Estado altamente endividado cujas necessidades de financiamento
converteram-se, como nos anos 80, no suporte da valorização dos capitais de curto
prazo. Foi essa arquitetura institucional o suporte da estabilidade de preços sob a
nova moeda e não apenas a lógica original de um programa de combate à inflação.
No entanto, essa configuração foi também a responsável pela quase-estagnação do
produto e da renda, que caracterizou essa segunda década perdida em termos de
desenvolvimento e de resgate da dívida social brasileira.
418
4.5.1 Introdução
Esta seção tem por objetivo fornecer uma visão geral das transformações das formas
institucionais da concorrência (FC) e de inserção internacional (FII). Em razão de seus
vínculos diretos, a metodologia escolhida consiste em uma abordagem conjunta dessas duas
outras componentes do modo de regulação, facilitando tanto a exposição quanto a apreensão
de fenômenos que não seriam inteligíveis a partir de uma visão centrada em cada uma delas
separadamente. Todavia, as limitações de espaço e dos dados não permitem uma análise
exaustiva do conjunto de implicações macroeconômicas das mutações dessas áreas da
regulação. Tais limitações não são, contudo insuperáveis, mas aguardarão o desenvolvimento
de novas pesquisas tanto teóricas quanto empíricas.
Na literatura econômica regulacionista, essas duas FI não tem sido objeto de análises
mais acuradas, que são normalmente dedicadas às formas institucionais da wage-labor nexus,
dos regimes monetários e do Estado. Uma das explicações reside na preocupação da primeira
geração dos trabalhos da Escola da Regulação, em compreender as macro-regularidades
responsáveis pelo período fordista, a partir de suas duas formas institucionais
hierarquicamente superiores: a WLN e o Estado. Mas uma outra razão refere-se ao fato de que
ao se estudar as formas da WLN, os padrões de concorrência e de inserção internacional
emergem necessariamente no âmbito das análises. Como se pôde observar nas seções
precedentes, as formas da concorrência e de inserção no regime internacional estavam sempre
presentes, mesmo que em alguns momentos de modo implícito, mediante a consideração dos
impactos da abertura comercial e financeira. A presente abordagem não pretende superar a
carência de trabalhos centrados nas FC e na FII, mas apenas caracterizar seus efeitos
419
Como foi visto nos capítulos 1 e 2, as formas institucionais respondem pelas macro-
regularidades básicas de um regime de acumulação. Conforme PETIT (2004), essas cinco
grandes áreas da regulação macroeconômica reúnem todas as instituições que concorrem:
iii. Para a organização das relações entre economias nacionais, através das formas
de inserção internacional;
283
Segundo FOURQUET (2003), em trabalho apresentado no Forum de la Régulation de 2003, o regime
internacional seria sempre uma componente ou forma estrutural dominante na hierarquia que define um modo de
regulação nacional. Trata-se no entanto, de uma posição que precisa ser mais bem trabalhada a partir dos
princípios teóricos e metodológicos da Escola da Regulação. Para os fins da presente análise, é suficiente que se
faça uma distinção entre o contexto externo - delimitado geográfica e politicamente - e que se pode denominar
por regime internacional e a forma particular que um Estado Nacional dispõe para conectar-se ou inserir-se
nesse regime.
420
No que diz respeito às grandes transformações da economia mundial a partir dos anos
80, que culminaram no processo de globalização, um dos resultados detectados pelas análises
regulacionistas foi a mudança de hierarquia das FI. O forte protecionismo comercial, a
legitimidade do Estado de Bem-Estar e o compromisso social fordista de pleno emprego, são
284
Richard M. GOODWIN mostra em A growth cycle - obra coletiva publicada pr H. FEINSTEIN, Socialism,
Capitalism and Economic Growth.- que os ciclos podem ser engendrados de forma endógena em um sistema
onde há interação entre salários, lucro e taxa de desemprego. A análise é próxima a dos autores clássicos e de
MARX.
421
Foi nessa atmosfera ideológica, mas ao mesmo tempo mítica, que, nos anos 90, as
elites burocrática governamental e econômica brasileiras optaram por uma inserção
fortemente subordinada na economia internacional. Pressionadas no plano externo pelo
elevado endividamento do país, escolheram o caminho do menor esforço político e o mais
compatível com os interesses econômicos de quem não têm pressa de ver a economia nacional
desenvolver-se com mais igualdade e justiça social.
Uma das características mais dramáticas por seus efeitos sinalizadores da perda da
soberania nacional, foi que essa subordinação passou a ser um ingrediente perverso na medida
em que contou (e ainda conta) com os mecanismos de legitimação do próprio Estado,
incluindo a oposição sistemática à toda alternativa ao atual modelo de inserção neoliberal .
O governo recusou-se (e recusa-se) a reconhecer as especificidades nacionais como geradoras
de vantagens geopolíticas e geoeconômicas que seriam um trunfo natural para a construção de
um novo projeto de desenvolvimento mais autônomo e mais consentâneo com o potencial
econômico do país.
Economistas de formação tão díspares como neoclássicos e suas derivações novo clássicas
transitam entre os de formação mais compatível com os referenciais keynesianos ou
estruturalistas. Mas muito provavelmente sem os ouvir, seja porque estes últimos se recusam
a falar, dadas as enormes pressões dos mercados financeiros, seja porque simplesmente não
são ouvidos de qualquer modo, pois participam do poder para efeitos simbólicos de
legitimação de um partido que se construiu também por oposição à política econômica que
atualmente pratica. O fato é que a lógica e a natureza da política econômica permanece,
invariavelmente, a tradução dos pressupostos teóricos conservadores do mainstream, mas ao
mesmo tempo apostando em resultados macroeconômicos positivos e duráveis, ao menos
retoricamente, no futuro.
285
Esta seção faz uma diferenciação entre a substituição enquanto processo promovido pela própria dinâmica do
mercado interno em interação com os ciclos da atividade primário-exportadora e enquanto modelo ou estratégia
apoiada pelo Estado para promover a industrialização. Este último sentido provém da abordagem da CEPAL e
significa mais do que a produção local de bens tradicionalmente importados.
286
BRESSER-PEREIRA (2004, p. 61) observa que todo o desenvolvimento industrial brasileiro no período em
foco ocorreu fundamentalmente através de um processo de substituição de importações. Era esta, aliás a única
alternativa para o Brasil, dadas as limitações às possibilidades de aumento de nossas exportações. O Brasil,
durante o período de sua Revolução Industrial, voltou-se para dentro. (...). Tivemos, assim, uma drástica redução
do coeficiente de importações, que baixou de 12,6% no período 1950-1954 para 8,6% no 1955-1961
287
Os trabalhos de FURTADO (2002; 1992; 1976), J. M. C. MELO (1987); CANO (2004), SUZIGAN (1986),
VERSIANI e VERSIANI (1977) constituem referências obrigatórias nas análises das origens da indústria no
Brasil. Esta seção não pretende recuperar o debate das relações entre o setor exportador cafeeiro e a
industrialização brasileira, mas apenas destacar o lugar que a substituição de importação desempenhou neste
processo.
423
288
Esta visão das relações entre a indústria e o complexo exportador cafeeiro tornou-se conhecida na literatura
econômica brasileira como teoria da complementaridade , porque apreende as fases de alta e de baixa dos
ciclos do café como momentos complementares em seus efeitos sobre o desenvolvimento industrial. Mais
detalhes podem ser encontrados em VERSIANI e VERSIANI (1977);
289
Conforme MADDISON, citado por LACERDA et al. (2002).
290
Não é objetivo da presente análise, listar todas as distorções estruturais e macroeconômicas que a lógica da
ISI necessariamente produz, mas tão somente explicitar suas características básicas. Mais detalhes podem ser
encontrados em KRUEGER (1984) e para o caso específico do Brasil, MOREIRA (1995) e FRANCO (1998).
424
Quanto aos expedientes utilizados para a proteção à indústria nacional, nos quadros da
ISI, destacam-se (GREMAUD et al. 2004):
iii. Taxas múltiplas de câmbio este modelo foi introduzido no segundo governo
Vargas, em resposta à crise cambial de 1952;
iv. elevada proteção ao mercado interno criou forte viés contra as exportações ,
bloqueando os ganhos de escala e eficiência a elas associados, pois permitiu que
os preços domésticos fossem mantidos bem acima dos vigentes no mercado
internacional;
425
Foi preciso a ocorrência das crises financeiras que abalaram as economias da Ásia e da
América Latina para que o otimismo ingênuo com relação aos benefícios da liberalização
financeira fosse repensado nos quadros de uma visão mais realista.
a) uma estrutura tarifária baseada, com pequenas modificações, nas alíquotas fixadas
em 1957;
291
Essas iniciativas no âmbito da América Latina são normalmente vítimas de sua própria época. A ALALC e a
ALADI foram obstaculizadas pela própria natureza dos modelos de industrialização substitutiva de importações.
429
ANO TARIFA MÉDIA SOBRE PRODUTO (%) TARIFA MÉDIA SOBRE INSUMO (%)
1988 40 34
1989 33 26
1990 31 24
1992 16 13
1993 14 11
1994 11 9
1995 13 10
1996 13 10
1997 16 13
1998 16 12
100%
80%
Tbc
60%
Tbk
40%
Tbi
20%
0%
1955 1961 1967 1973 1979 1985 1991 1997
1958 1964 1970 1976 1982 1988 1994 2000
Considerados aceitáveis e necessários para o desenvolvimento da indústria doméstica, eles tendem, no entanto, a
ser incompatíveis com a criação de áreas de livre comércio. Nos anos 90, seria a vez da globalização, que em
tese poderia ser muito mais favorável à formação dessas áreas, não fosse seus efeitos desestruturadores e
geradores de instabilidade financeira.
430
24%
22%
20%
18%
16%
14%
12%
10%
1947 1955 1963 1971 1979 1987 1995 2003
1951 1959 1967 1975 1983 1991 1999
292
MOREIRA, M.M. A indústria brasileira nos anos 90. O que já se pode dizer ?. In GIAMBIAGI &
MOREIRA (eds.). Economia Brasileira nos anos 90. Rio de Janeiro: BNDES, 1999.
432
custos econômicos e sociais de uma abertura rápida e não inserida num projeto autêntico de
desenvolvimento.293
293
Em uma comparação do processo de abertura brasileiro com o da Coréia, LACERDA (2002, p.146), mostra
que uma diferença fundamental refere-se à política cambial. Enquanto o Brasil, desprezando as experiências
anteriores proporcionadas pelos outros países, valorizou sua moeda ao mesmo tempo em que reduzia as alíquotas
de importação e as barreiras não tarifárias, a Coréia desvalorizava sua moeda, criando um mecanismo que,
combinado com as demais políticas, forneceu proteção às empresas locais .
294
A expressão regime de crescimento extrovertido é de fato uma tradução da expressão francesa extraverti .
Com exceção dos trabalhos em Psicologia, em economia o termo não é muito utilizado no Brasil. Mas esta
análise procura manter, na medida do possível, sua conexão direta com a estrutura conceitual regulacionista,
originalmente francesa.
433
25000
IvX
7500
5000
2500 IpX
750 IqX
500
250
75
50
1901
1904
1907
1910
1913
1916
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
FONTE: Estatísticas do Século XX IBGE.
NOTA: Os eixos estão em escala logarítmica.
50000
IvM
IqM
5000
IpM
500
1901
1904
1907
1910
1913
1916
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
50 100
90
80
70
60
40 50
1901
1904
1907
1910
1913
1916
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
FONTE: Estatísticas do Século XX IBGE.
NOTA: Os eixos estão em escala logarítmica.
O mesmo se pode dizer do processo de privatização que lhe foi acoplado como peça
do mesmo jogo econômico. Aproveitando de toda a ideologia neoliberal veiculada pela
globalização, as elites econômicas e burocráticas sucatearam rapidamente o modelo de
industrialização substitutiva de importações, decretando-lhe a falência no que tange a sua
lógica e formas de financiamento. Em seguida submeteram a economia nacional às pressões
diretas dos mercados internacionais e denominaram tal processo como pertinente e integrante
de uma verdadeira política industrial mais adequada ao mundo atual. Mas a performance
macroeconômica dos anos 90, e particularmente no período de vigência do Real, não parece
responder adequadamente a esse aumento de eficiência. O debate sobre os ganhos de
produtividade da indústria brasileira em fase de economia aberta295 foi importante para
mostrar que de fato a reestruturação acontecera, incluindo a introdução de inovações técnicas
e organizacionais. Todavia, do ponto de vista macroeconômico, os ganhos de produtividade
295
A década de 90 assistiu a um debate entre vários especialistas acerca das origens e robustez das estatísticas de
ganhos de produtividade na indústria brasileira pós-abertura. Mas uma questão permaneceu pouco enfatizada;
onde foram parar os ganhos de produtividade, quem se apropriou deles, e por que não se converteram em um
novo impulso de acumulação sustentada de capital? Em um recente congresso nacional de economia, um
conceituado especialista em economia industrial fez questão de dizer que seus pares normalmente não se
importam com a macroeconomia, pois as questões realmente relevantes são sempre as microeconômicas.
Estranha colocação que despreza o ambiente global onde operam as estruturas produtivas, sobretudo porque
apesar dos ganhos de produtividade constatados nos anos 90, o PIB, a geração de empregos e demais indicadores
mais correlacionados com as demandas ou carências sociais permaneceram muito aquém das expectativas mais
otimistas.
435
296
MOREIRA, M.M. Estrangeiros em uma economia aberta. In GIAMBIAGI & MOREIRA (eds.). Economia
Brasileira nos anos 90. Rio de Janeiro: BNDES, 1999.
436
A média setorial do market share das empresas com participação estrangeira subiu
28% de 1980 para 43% em 1995 (Tabela 31). A busca de modernização e de ganhos de escala
pelas empresas estrangeiras gerou como contrapartida uma perda de participação das
empresas de capital nacional, sobretudo nos setores capital intensivos (Tabela 32). Ocorreu
perda de market share das empresas de capital nacional.
297
ROCHA, Frederico. Os Impactos das Fusões e Aquisições sobre a Concentração Industrial: o caso brasileiro
1996-2000. IE/UFRJ.
437
Dentre os indicadores, quatro foram utilizados por serem de uso mais freqüente na
literatura econômica sobre o tema em questão:
1) Coeficiente de importação = M i
VP i
VP i
298
Citados por ROCHA (2001).
438
25
20
15
10
5 Capital
Força de Trabalho
0 Tecnologia
-5 Recursos Naturais
1989 1991 1993 1995 1997 Total da Indústria
1990 1992 1994 1996 1998
O setor intensivo em tecnologia foi o que apresentou maior coeficiente M/VP, seguido
das atividades intensivas em capital (Gráfico 96). O setor cujo coeficiente de importação
apresentou as mais baixas taxas de expansão corresponde às atividades intensivas em recursos
naturais, pois o Brasil possui vantagem comparativa nesta área.
440
22
20
18
16
em %
14
12
10
8 Capital
Força de Trabalho
6
Tecnologia
4 Recursos Naturais
1989 1991 1993 1995 1997 Total da Indústria
1990 1992 1994 1996 1998
Coeficiente M / ConsApar
35
30
25
20
em %
15
10
Capital
5 Força de Trabalho
Tecnologia
0 Recursos Naturais
1989 1991 1993 1995 1997 Total da Indústria
1990 1992 1994 1996 1998
Participação das
Grau de Abertura da Participação das
Países Importações no Mercado
Economia (1) Exportações no PIB
Interno (2)
Alemanha 28,7 30,0 33,2 28,7 32,1 33,0 28,5 36,4 33,4
Argentina 8,0 7,5 11,1 9,0 10,6 10,7 6,7 19,7 10,8
Austrália 17,4 17,1 22,3 13,7 14,8 22,0 17,0 16,3 21,7
Brasil 10,0 6,8 11,1 10,8 5,6 10,5 8,9 7,2 10,6
Canadá 27,4 25,4 42,9 26,9 24,9 42,5 28,3 25,2 45,3
Chile 21,0 32,7 31,7 22,0 32,5 30,7 19,3 37,4 31,8
China n.d. 15,7 24,7 n.d. 18,0 24,0 n.d. 20,1 26,0
Coréia do
37,6 30,1 43,6 38,5 32,0 43,4 33,7 31,6 45,1
Sul
EUA 10,4 10,4 12,9 10,7 11,1 14,2 10,2 9,9 11,0
França 22,1 22,5 28,0 22,5 22,7 27,7 21,5 22,6 28,7
Índia 8,3 8,4 11,9 9,7 9,1 12,4 6,6 7,5 11,2
Indonésia 26,1 26,3 34,6 24,2 25,2 33,1 29,7 25,9 35,0
Itália 21,9 18,8 27,8 23,0 19,6 27,5 19,8 19,2 28,4
Japão 15,3 10,3 10,1 15,6 9,4 9,5 14,9 10,7 10,7
México 13,0 16,1 32,3 13,4 13,5 32,6 12,6 19,7 31,4
Reino
26,1 25,5 28,1 25,6 26,5 28,5 27,2 24,8 27,2
Unido
Rússia n.d. n.d. 34,5 n.d. n.d. 31,5 n.d. n.d. 45,8
Tailândia 27,2 37,7 62,2 28,3 40,8 63,3 24,5 36,8 66,3
p 1 j a p
ij
, onde pj é o preço final do
j i
i
Moreira (1999) produto e pi o preço do insumo i construídos a partir
do IPA-OG; j é o mark up; aij é o coeficiente técnico
de produção.
Segundo FRENKEL (1979), citado por CARDOSO Jr. (2000), a natureza altamente
instável do quadro macroeconômico latino-americano tendia a alterar a lógica da formação de
preços dos agentes privados, no sentido de flexibilizarem seus mark ups para cima, na
tentativa de defender a rentabilidade dos capitais investidos. Isto significa que no caso da
economia brasileira dos anos 80, com economia fechada e sob alta inflação, as firmas
possuíam um viés altista no processo de determinação dos seus preços.
299
As análises regulacionistas freqüentemente partem dos insigths de KALECKI (1976) no que concerne à
abordagem em termos de mark up.
444
Inflação_ (L)
Mark up médio da indústria_ (R)
2500% 1,34
1,32
750% 1,30
500% 1,28
250% 1,26
1,24
75%
50% 1,22
25% 1,20
1,18
8% 1,16
1985 1987 1989 1991 1993 1995
1986 1988 1990 1992 1994 1996
FONTE: Estimativas de mark ups setoriais de PEREIRA e CARVALHO (1998) e inflação pela variação anual
do IGP-DI.
NOTA: Os eixos estão em escala logaritimica.
300
O.T.C. GUILLÉN (2003), em Ensaios em Macroeconomia e Finanças tese de doutoramento, EPGE,
estima os mark ups setoriais e conclui pela ausência de evidências estatísticas de reduções das margens de lucro.
O autor argumenta que os setores não concorrenciais sob economia fechada ao comércio exterior continuaram
sendo após a abertura. GILLEN e FERREIRA (2001) concluem que não há indicação estatisticamente
significativa de queda do poder de mercado após a abertura econômica.
445
QUADRO 118 VARIAÇÃO MÉDIA DO MARK UP, PREÇO E CUSTOS REAIS POR SETOR
CONFORME A INTENSIDADE DO FATOR (1990-1998)
SETOR
CONFORME Mark-up (Preço / IGP) (Custo / IGP)
INTENSIDADE
DO FATOR 90/95 95/98 90/98 90/95 95/98 90/98 90/95 95/98 90/98
Capital -23,2 -7,1 -28,8 -38,4 -10,6 -44,9 -19,1 -3,5 -21,8
Trabalho -27,5 -7,5 -33,6 -42,7 -10,9 -49,2 -18,1 -5,0 -22,1
Tecnologia -22,7 -6,8 -26,3 -36,6 -13,9 -43,5 -19,6 -7,7 -25,6
Recursos Naturais -12,7 -0,2 -11,5 -26,3 -1,4 -25,7 -14,7 -1,4 -15,7
Total da Indústria -21,1 -5,3 -24,3 -35,0 -9,6 -40,0 -17,9 -4,7 -21,5
FONTE: Elaborado a partir dos dados estimados por MOREIRA (1999), com base nas matrizes de insumo-
produto do IBGE e do IPA-FGV.
NOTA: Valores em percentagem.
1
ME i
2 m i t m i t n
301
GARCIA, Carmem (2004). A Configuração da indústria Brasileira no Período 1985-2000 . IX Encontro
Nacional de Economia Política / SEP. Uberlândia, junho de 2004.
302
United Nations Industrial Development Organization UNIDO (1997).
446
Variável
Base de Nº de 90-98 90-98 89-96 89-98 85-96 85-98
de
Dados Atividades
Cálculo
Censo
Industrial - 95 VTI 21,34 39,0
PIA
FONTE: Carmen Garcia (2004, p.9).
NOTA: VP e VTI são, respectivamente, o valor da produção e os valor da transformação industrial. SCN é a
sigla convencional para Sistema de Contas Nacionais.
447
VALOR DA TRANSFORMAÇÃO
INDÚSTRIAS SEGUNDO INDUSTRIAL (VTI) - % do total da
OS FATORES DE
ESPECIALIZAÇÃO indústria de transformação
COMPETITIVA
1985 1998 2000
FONTE: Carmen Garcia (2004, p.12), a partir de dados do Censo Industrial 1985-PIA 1998.
NOTA: Indicadores agregados segundo os fatores de especialização competitiva.
303
CARNEIRO, R. (2002). Desenvolvimento em Crise a economia brasileira no último quarto do século XX.
Unesp. 2002.
449
Uma conseqüência direta desta problemática pode ser a perda da autonomia da política
monetária, tornando-a impotente para administrar os fluxos de capitais ou administrar os
agregados monetários em uma trajetória compatível com a dinâmica da acumulação, se o
objetivo da política econômica for o crescimento e o desenvolvimento econômico.
304
Dados apresentados por CARNEIRO (2002), provenientes de PRATES & FREITAS (1999).
305
Os investimento em carteira ou em portfólio são destinados à aplicações, basicamente de curto prazo, em
ações e no mercado financeiro. Neste último caso, tratam-se de títulos de renda fixa, debêntures, derivativos, etc.
450
50.000
5.000
5.000
500
500
50
50
5
1 5
1970 T1
1971 T3
1973 T1
1974 T3
1976 T1
1977 T3
1979 T1
1980 T3
1982 T1
1983 T3
1985 T1
1986 T3
1988 T1
1989 T3
1991 T1
1992 T3
1994 T1
1995 T3
1997 T1
1998 T3
2000 T1
2001 T3
2003 T1
2004 T3
FONTE: Séries originárias do BACEN, obtidas no IPEADATA.
NOTA: Os dados referem-se aos investimentos em ações e renda fixa. Os eixos do Gráfico estão em escala
logarítmica.
500
500
50
50
5 5
1 1
0
1973 T1
1973 T4
1974 T3
1975 T2
1976 T1
1976 T4
1977 T3
1978 T2
1979 T1
1979 T4
1980 T3
1981 T2
1982 T1
1982 T4
1983 T4
1984 T3
1985 T2
1988 T1
1989 T2
1991 T4
1993 T2
1994 T1
1994 T4
1995 T3
1996 T2
1997 T1
1997 T4
1998 T3
1999 T2
2000 T1
2000 T4
2001 T3
2002 T2
2003 T1
2003 T4
2004 T3
No que tange aos investimentos diretos estrangeiros (IDE), as análises para a década
de 90 mostram que o processo de privatizações respondeu por grande parte dos incentivos
para o ingresso dessa modalidade de capital no país (Tabela 33). Foram privatizados os
setores industriais de siderurgia e petroquímica, entre 1992 e 1994. Após 1995, o governo
privatizou os serviços de utilidade pública, como telecomunicações e energia elétrica. No
âmbito do setor bancário-financeiro, privatizou também os bancos públicos estaduais, abrindo
o mercado financeiro ao capital bancário estrangeiro.
452
US$ Bilhões
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
IDE Bruto 1,3 0,9 2,4 5,5 10,5 18,7 28,5 31,4 33,6
(-) Retornos 0,2 0,6 0,6 1,2 0,5 1,7 2,6 1,4 2,9
IDE Líquido 1,1 0,3 1,8 4,3 10,0 17,0 25,9 30,0 30,6
(-) Conversão e Reinvestimento -0,1 -0,1 -0,1 1,4 0,8 0,7 1,9 4,3 1,2
IDE c/ Aporte cambial 1,2 0,4 1,9 2,9 9,2 16,3 24,0 25,7 29,4
Remessa de Lucros e Dividendos -0,6 -1,8 -2,5 -2,6 -2,4 -5,6 -7,2 -4,0 -3,2
IDE Bruto
IDE Líquido
IDE c/ Aporte cambial
( - ) Remessas de Lucros e Dividendos
30,0
US$ Bilhões - Escla log
10,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,9
0,7
0,5
0,3
Uma das implicações diretas da abertura financeira foi a elevação rápida do passivo
externo líquido (PEL) da economia brasileira. O PEL corresponde à soma da dívida externa
líquida (dívida bruta subtraídas as reservas em moeda estrangeira) com o estoque de capital
estrangeiro (incluindo o estoque em portfólio) líquido do estoque de capital brasileiro no
exterior. Conforme LACERDA (2001):306
Reservas Internacionais 23,8 32,2 38,8 51,8 60,1 52,2 44,5 36,3 33,0
Ivestimentos brasileiros no exterior 3,7 3,8 4,1 4,3 4,2 5,8 9,2 9,4 12,4
Créditos brasileiros ao exterior 6,7 6,4 6,3 6,1 7,6 7,3 12,0 6,7 6,8
Haveres externos dos bancos comerciais 5,8 8,4 15,0 8,9 11,7 9,6 7,4 7,5 6,0
Ativos externos 40,0 50,1 64,2 71,1 83,6 74,9 73,1 59,9 58,2
Passivo Externo Líquido 156,1 157,2 160,4 186,1 223,4 284,8 343,1 396,2 422,0
PIB em US$ 387,3 429,7 543,1 705,4 775,4 804,1 834,0 555,2 595,9
Lucros e dividendos(líquido) 0,5 1,9 2,5 2,6 2,3 5,6 7,2 4,0 3,3
Juros (LÍquido) 7,3 8,3 6,3 8,1 9,2 10,4 12,0 15,1 14,6
Custo líquido do Passivo Externo 7,8 10,2 8,8 10,7 11,5 16,0 19,2 19,1 18,4
Exportações 35,9 38,6 43,5 46,5 47,7 53,0 51,1 48,0 55,1
Variação do PEB (%) n.d. 6,1 8,0 14,5 19,4 17,2 15,7 6,4 3,9
Variação do PEL (%) n.d. 0,7 2,0 16,0 20,0 27,5 20,5 9,4 6,5
Passivo Externo Bruto / PIB (%) 50,6 48,4 41,4 36,5 39,6 44,7 49,9 79,7 88,4
Passivo Externo Líquido / PIB (%) 40,3 36,6 29,5 26,4 28,8 35,4 41,1 67,6 70,8
PEB curto prazo / PEB total (%) 12,8 15,1 17,4 21,5 25,7 25,0 15,4 15,3 15,9
PEB longo prazo / PEB total (%) 87,2 84,9 82,6 78,5 74,3 75,0 84,6 84,7 84,1
PEB curto prazo /reservas (%) 105,5 97,8 100,5 106,6 131,4 172,4 143,6 161,0 231,2
Custo líquido /PIB (%) 2,0 24,0 1,6 1,5 1,5 2,0 2,3 3,4 3,1
Custo líquido/ Exportações (%) 21,7 26,4 20,2 23,0 24,1 30,2 37,6 39,8 33,4
306
LACERDA, A.C. O Aumento do Déficit Externo. SOBEET/SIEGEP 2001.
454
Como a relação passivo de curto prazo/ reservas internacionais aumentou muito nos
anos 90, passando de 105,5% em 1992 para 231,2% em 2000, a capacidade da economia
brasileira de resistir a um novo ataque especulativo foi muito reduzida. Conforme
CARNEIRO (2002), a pressão sobre as reservas pode ser ainda maior se forem computadas as
amortizações não programadas e o passivo interno público dolarizado, ou seja, a dívida com
correção cambial. Outro problema observado por este autor refere-se à rolagem dos estoques
que implica no refinanciamento das amortizações da dívida de longo prazo em títulos, o que
pode provocar novas pressões sobre a taxa de câmbio.
Quanto aos desequilíbrios de fluxos, observa-se que a relação custo líquido do passivo
/PIB vem assumindo valores crescentes desde 1997. Isto significa que a desvalorização
cambial de 1999 teria agravado o problema ao situar a transferências de recursos líquido no
patamar de 3% do PIB.307 Por sua vez, o custo líquido /exportações é crescente desde 1995,
atingindo cerca de 40% em 1999. Como observa CARNEIRO:
307
Para CARNEIRO (2000), este é um valor muito elevado quando comparado com outros períodos históricos e
expressa tanto o nível mais elevado da taxa de juros quanto as novas exigências de remuneração do IDE.
455
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Em outros termos, os efeitos dos aumentos das taxas de juros sobre a evolução de uma
inflação inercializada em 10% é de fato altamente questionável e não encontra base empírica,
sobretudo se forem considerados os níveis atuais de demanda efetiva da economia e os ganhos
de produtividade que a indústria alcançou nos últimos anos. Conseqüentemente, a análise da
308
Segundo BRESSER-PEREIRA (2004, p.298), a taxa de inflação tendeu a estabilizar-se em um patamar
inercial muito baixo nos quatro primeiros anos (do Real). Com a flutuação cambial de 1999, a inflação acelerou,
embora muito menos do que se temia, e acabou se inercializando em torno de 6%. Com a depreciação cambial de
2002, tudo indica que o patamar da inflação brasileira passou para cerca de 10% .
456
política econômica do período pós-Real sugere que o combate a inflação tem sido mobilizado
pelas autoridades monetárias como justificativa para proceder a aumentos de juros sempre que
o patamar de rentabilidade real exigido pelos mercados financeiros for considerado ameaçado,
seja pela própria inflação, seja por uma reversão de expectativas quanto aos fundamentos da
economia brasileira.
4,0
3,0
Fase A
500
2,0
75
1,0
25
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Dados do BACEN obtidos no IPEADATA.
NOTA: M0 é a base monetária; PMPP é a quantidade de papel-moeda em poder do público; M1 e M2 são os
agregados monetários convencionais.
A observação do Gráfico 104 permite a identificação de comportamentos contrastados
ou fases do regime monetário-financeiro, resultantes das alterações na configuração da forma
de inserção internacional da economia brasileira. Essas mutações poderiam ter sido
analisadas na seção anterior sobre o RMF, mas implicariam por sua vez, o exame das
configurações da FII. Utilizou-se a diferença (M2 PMPP) que representa o estoque de
recursos financeiros que o público mantém sob guarda no sistema bancário financeiro. A
relação (M1 / M0) representa o multiplicador monetário tradicional. Destaca-se o fato de que
no intervalo 1956-1966, Fase A, essas relações mantêm-se relativamente estáveis como
proporção da base monetária M0, enquanto as reservas internacionais declinam
tendencialmente. As análises históricas mostram que nesta fase, que corresponde aos anos de
implementação do Plano de Metas, o Estado brasileiro recorreu também a políticas monetárias
expansionistas para financiar os investimentos produtivos.
457
Com o término do crescimento acelerado dos anos 70, inaugura-se a Fase C, [1980-
1992], de crescimento tendencial das reservas internacionais. Mas desta vez para a rolagem da
dívida pública, segundo a lógica da ciranda financeira característica da década de 80, como
revela o indicador (M2-PMPP)/M0. Aliás, é a partir de 1980 que este indicador financeiro se
afasta do multiplicador da base monetária, uma expressão de que a liquidez da economia
passa a ser progressivamente retida na esfera bancária-financeira. Este fato pode estar
indicando a vigência de um processo de financeirização da economia brasileira e cuja origem
deve ser buscada nas transformações conjunturais e estruturais dos anos 80.
Para apoiar a verificação dessa hipótese, o Gráfico 105 exibe as evoluções conjuntas
do investimento produtivo e das reservas internacionais, complementando a análise
precedente no que concerne aos possíveis impactos sobre a formação bruta de capital fixo. A
fase do milagre , como se sabe, foi caracterizada pelo ingresso de capitais estrangeiros
basicamente sob a forma de empréstimos. As reservas se expandem rapidamente, mas a
formação bruta de capital fixo cresce também, embora a uma velocidade menor. Entre 1973 e
1991, as reservas tornam-se muito voláteis e o investimento produtivo sofre uma primeira e
suave inflexão em 1977. Todavia, a partir de 1980, a FBKF entra em uma nítida tendência de
estagnação que perdurará ao longo de toda a década dos 90, fase em que as reservas se
recuperam rapidamente. Este fato pode estar expressando que o ingresso de capitais do
período de abertura comercial e de liberalização financeira destinou-se, basicamente, à
consecução de objetivos econômicos pouco conectados à dinâmica da acumulação produtiva
de capital.
458
1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
90
80
70
60
50
40
30
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Reservas internacionais_BACEN e formação bruta de capital fixo_IBGE, séries obtidas no
IPEADATA.
TABELA 35 BALANÇO DE PAGAMENTOS DO BRASIL (1990 2002)
US$ BILHÕES
1990 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
BALANÇO COMERCIAL 10,7 10,4 -3,2 -5,5 -8,4 -6,4 -1,2 -0,7 2,6 5,4
Exportações 31,4 43,6 46,5 47,7 53,0 51,1 48,0 54,9 58,2 37,0
Importações 20,7 33,2 49,7 53,3 61,4 57,5 49,2 55,6 55,6 31,6
SERVIÇOS -15,3 -14,4 -18,6 -21,7 -27,3 -30,4 -25,2 -26,4 -27,5 -15,3
Lucros e Dividendos -1,6 -2,5 -2,6 -2,4 -5,6 -6,9 -4,1 -3,6 -5,0 -3,4
Viagens Internacionais -0,1 -1,2 -2,4 -3,6 -4,4 -4,3 -1,4 -2,1 -1,5 -0,6
Juros -9,8 -6,4 -8,2 -9,8 -10,6 -12,1 -15,2 -15,9 -14,9 -8,5
TRANSF. UNILAT. 0,8 2,6 4,0 2,9 2,2 1,9 2,0 1,8 1,6 1,4
CONTA CORRENTE -3,8 -1,5 -17,8 -24,3 -33,4 -35,0 -24,4 -25,3 -23,2 -8,5
CAPITAL 0,4 14,8 29,8 33,0 25,5 26,5 16,6 20,9 26,8 10,8
IDE 0,4 8,1 4,7 9,4 17,1 26,1 30,1 29,8 24,9 9,5
Financ/ Emprést. 11,1 11,0 18,5 32,4 40,2 34,1 38,4 18,9 33,5 21,3
Amortizações -11,1 -6,6 -11,0 -14,4 -28,8 -33,7 -51,9 -27,8 -31,6 -20,0
SUPERÁVIT (+) / DÉFICIT (-) -4,2 12,9 13,5 8,7 -7,8 -8,5 -7,8 -4,4 3,3 0,8
RESERVAS 14,1 38,5 51,5 59,9 52,1 44,6 36,3 31,9 35,8 37,6
DÍVIDA EXTERNA 122,8 148,3 157,4 178,1 199,9 233,9 236,9 232,3 228,6 219,1
As quedas dos salários reais tendem a acompanhar a piora das contas externas. No
Gráfico 106 podem ser observadas as dinâmicas das séries do salário médio real (total da
economia) e da restrição externa (usando como indicador o resultado da balança comercial
como percentagem do volume total de comércio, defasado em um período). Uma correlação
ainda mais nítida é observada quando se trata do salário médio real do setor industrial
(Gráfico 107). Considerando-se que as elasticidades-renda do comércio exterior são
normalmente altas e as elasticidades-preços baixas, as reduções ou contenções salariais
mostram-se a forma mais rápida de ajustar o nível de atividade para equilibrar as contas
externas.309
309
Essa forma de ajuste via salários foi identificada também para a economia Argentina, por MIOTTI (1991).
460
(X-M)/(X+M)t-1 (L)
Salário médio real na indústria (R)
40% 20%
30% 15%
20% 10%
10% 5%
0% 0%
-10% -5%
-20% -10%
-30% -15%
1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003
15% 60%
10%
40%
5%
20%
0%
0%
-5%
-10% -20%
-15% -40%
1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003
O exame do Gráfico 108 mostra que entre 1976 e 1990, o salário médio real na
indústria correlaciona-se positivamente com a taxa básica de juros da economia brasileira.
Este fato pode ser explicado se for considerado que nos períodos de crescimento econômico
as taxas de juros e os salários são pró-cíclicos. Mas nos anos 90, período marcado por uma
quase-estagnação do PIB, um novo padrão emerge e as séries passam a evoluir, na grande
maioria dos anos, sob uma correlação negativa.
iii. A análise dos indicadores de abertura comercial mostrou que o grau de abertura da
economia brasileira é similar ao do Japão, Índia e Argentina e próximo ao dos EUA.
Todavia, permanece cerca da metade do observado na China e um quarto do da Coréia
do Sul, para o ano de 2000. Por outro lado, foi a abertura financeira que mais avançou
nos anos 90 aprofundando o grau de vulnerabilidade externa da economia. Novas
análises sobre o processo de abertura econômica precisam ser feitas para se testar em
que medida a forma escolhida de liberalização financeira poderia impedir o
desenvolvimento da dimensão comercial no médio e longo prazos. Esta última requer
tanto a estabilidade do câmbio em patamares consideráveis rentáveis para os setores
exportadores, quanto taxas de juros reais substancialmente menores. Nessas
circunstâncias, a abertura comercial poderia se converter em um estímulo durável para a
ampliação do mercado interno, enquanto base do desenvolvimento econômico;
iv. No que concerne aos mark ups médios setoriais, os trabalhos empíricos disponíveis
mostram que houve reduções dos níveis na transição para uma economia aberta sob
463
310
KALDOR citado por J. ARROUS (1999, p. 159), em Les Théories de la Croissance. Éditions du Seuil,
février, 1999.
465
o crescimento cíclico o crescimento se processa por ondas sucessivas, cada onda (ciclo)
comporta inicialmente uma fase de retomada e expansão, seguida de uma inflexão e
contração do nível de atividade econômica e então de um novo movimento ascendente. O
relevante do ponto de vista empírico é que os ciclos implicam em flutuações recorrentes
do nível de atividade econômica ou de sua taxa de crescimento;312
311
BILLADUDOT, B. Régulation et croissance: une macroéconomie historique et institutionnelle. L Harmattan.
Paris, 2001.
312
Normalmente este padrão cíclico refere-se na literatura econômica aos chamados ciclos de Juglar , que entre
o século XIX e a primeira metade do XX, apresentavam uma periodicidade média de seis a 11 anos.
466
Considerando-se K t 1 K I d
t t t
, onde K é o estoque de capital fixo bruto; I é o
313
Originalmente em francês e conforme BILLAUDOT (2001, p. 45): um mode d insertion internacionale de la
croissance nationale.
314
Este é o caso, por exemplo, da China e também da Coréia do Sul.
315
Esta seção baseia-se em BILLAUDOT (2001), cujas contribuições sistematizam os aportes da Teoria da
Regulação para as macroanálises do crescimento e do desenvolvimento econômico.
467
K I d
ou , onde é o ritmo de acumulação de capital
K K K
(líquida); é a taxa bruta de acumulação e é a taxa de depreciação do estoque de capital
fixo.
K
A intensidade do capital é dada pela relação , onde N é o nível de emprego. Com o
N
desenvolvimento do processo de acumulação de capital, as mudanças sócio-técnicas nas
condições de produção conduzem às variações relativas no nível de emprego. Tomando-se os
logaritmos dessa última relação, chega-se à:
por capital fixo. Se, por exemplo, K N então houve substituição de trabalho por capital.
Esta relação é válida tanto ao nível da empresa individual quanto no nível setorial e da
economia nacional.
A análise não deve, no entanto, considerar essas relações como se fossem provenientes
de uma lei geral que deveria necessariamente se aplicar no futuro. A detecção de um
comportamento tendencial ou de uma trajetória relativamente estável pode ser apreendida
como um indício da presença de um desses padrões. Essa tendência se traduz, em geral, por
uma regularidade da evolução da intensidade do capital e então este fato estilizado pode ser
utilizado, juntamente com outras estatísticas, para uma caracterização mais segura. Quanto
mais intensivo for o processo de acumulação de capital, maior a velocidade de substituição do
trabalho por capital e então menor será a geração de empregos a uma dada taxa líquida de
acumulação.
Os regulacionistas não enfatizam a produtividade por fator. Eles consideram que esta
noção tem sentido apenas em dinâmica, quando se observam os efeitos das mudanças nas
condições sócio-técnicas de produção. Consideram ainda que é mais coerente falar-se de
produtividade da acumulação (ou do crescimento) do que de melhoria da produtividade. As
duas razões correntemente utilizadas produtividade horária do trabalho e produtividade por
pessoal ocupado são utilizadas em evolução como instrumentos de medida desta melhoria
(BILLADOUT, 2002).
PIB
PR K
K
, onde PRk é a produtividade aparente do capital.
Uma queda dessa razão significa que será preciso sempre mais capital fixo para se
obter um dado volume de produção final à escala da economia nacional. Todavia, este
indicador, também denominado por eficiência do capital, pode baixar simplesmente porque a
taxa de utilização da capacidade instalada baixou em conseqüência de uma desaceleração do
nível de atividade. Um indicador mais apropriado para captar esses efeitos é a razão
316
PIB/capital em uso :
PIB
, onde u é a taxa de utilização da capacidade produtiva instalada e K é o
u.K
estoque de capital fixo bruto. Conseqüentemente, u.K representa o estoque de capital fixo que
está sendo efetivamente utilizado.
PIB
A produtividade aparente do trabalho é formulada como PR N
N
. O termo
aparente assinala que a produtividade não pode ser inteiramente imputada a um único fator
em questão, pois depende também de outros insumos ou condições sócio-técnicas de
produção. Pode por exemplo, depender do aumento da intensidade ou do ritmo do trabalho,
onde se observa crescimento da produtividade sem que necessariamente tenha havido
mudanças tecnológicas ou das formas organizacionais.
316
Nos trabalhos em língua inglesa costuma-se denominar por the ratio GDP/capital stock in use .
470
317
Os termos (s.s.) e (l.s.) significam, respectivamente, sens strict (sentido estrito) e sen large (sentido amplo).
471
4253H318 para que se possa ter uma perspectiva do comportamento tendencial, ao se eliminar
as flutuações maiores de curto prazo. Conforme observam BONELLI e BACHA (2004,
p.1)319:
(...) o fator dinâmico principal, nos anos que se seguem à crise, passa a ser,
sem nenhuma dúvida, o mercado interno. A produção industrial, que se
destinava em sua totalidade ao mercado interno, sofre durante a depressão
uma queda de menos de 10%, e já em 1933 recupera o nível de 1929.
318
Como foi mencionado no capítulo 3, este filtro consiste de vários passos de suavização por média móvel e
mediana e é considerado um filtro potente para o alisamento de séries temporais. Conforme consta no software
Statistica 6.0, as seguintes transformações são executadas por este filtro: (1) a 4 points moving median centered
by a moving median of 2, (2) a 5 point moving median, (3) a 3 point moving median, and (4) a 3-point weighted
moving average using Hanning weights (.25, .5, .25), (5) residuals are computed by subtracting the transformed
series from the original series, (6) steps 1 through 4 are then repeated for the residuals, (7) the transformed
residuals are added to the transformed series. In practice, this filtering method often produces a smooth series
while maintaining the salient characteristics of the original series.
319
ARONOVICH (1991), BONELLI e BACHA (2004) e MARQUETTI (2002 e 2003) encontram-se entre os
poucos autores brasileiros que recorreram às análises em termos de acumulação de capital e aos aportes neo-
estruturalistas para a compreensão da problemática atual do crescimento econômico brasileiro.
472
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
-2%
-4%
-6%
1901
1904
1907
1910
1913
1916
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
FONTE: Elaborado a partir de dados do IBGE e séries históricas, obtidas no IPEADATA.
NOTA: Em novembro de 2004, o IBGE, órgão responsável pelo cálculo do PIB brasileiro, revisou a estatística
divulgada para 2003 (recessão de 0,2%) para um crescimento de 0,5%. A mudança deveu-se à alterações da
metodologia de cálculo do PIB, que consideraram novas informações provenientes da Pesquisa Industrial Mensal
e da PNAD de 2003.
Em termos regulacionistas, este fato mostra que as crises e conjunturas
macroeconômicas adversas tendem a provocar mutações do modo de regulação e do regime
de acumulação que lhe é a resultante macroeconômica. As transformações estruturais
permitem o surgimento de novas configurações das formas institucionais que podem
estabelecer novas bases para o desenvolvimento da acumulação de capital.
A linha suave representativa da série filtrada das oscilações de curto prazo permite
uma abordagem da dinâmica do crescimento em termos de ciclos. Constata-se que a partir da
recessão de 1981, as taxas de crescimento do PIB entraram em uma trajetória de queda
tendencial, pois a amplitude dos ciclos mostra-se sucessivamente menor de período a período.
Os momentos de retomada correspondem às fases de implementação dos programas de
estabilidade de preços, Plano Cruzado em 1986 e Plano Real, em 1994; e foram todos
abortados pela própria política econômica. Esses fatos característicos demonstram a
dificuldade da economia brasileira para encontrar uma trajetória de crescimento forte e
estável, condizente com o potencial produtivo do país. Explicar as razões para essa
performance macroeconômica na década de 80 e 90 é um dos objetivos de uma análise em
termos de modo de regulação e de regime de acumulação.
no grau de utilização da capacidade produtiva, nas taxas de câmbio ou nos termos de troca. O
Gráfico 111 exibe as duas séries filtradas pelo Hodrick-Prescott Filter (HP).
TXK_HP
TXPIB_HP
10%
9%
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
1941
1945
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
1943
1961
Como pode ser constatado pelos Quadros 124 e 125, as duas séries em questão são
integradas de primeira ordem I (1), mas os resíduos da relação 6 são estacionários.
Mas uma questão também relevante do ponto de vista teórico refere-se ao fato de que
a existência de uma relação de longo prazo entre a acumulação de capital fixo e produto
interno bruto pode ser interpretada, também, como um indício de crescimento endógeno
segundo o modelo conhecido como AK model. Essa denominação provém da forma de sua
função de produção em que Y = A.K, com Y representando o PIB e K o estoque de capital
fixo. O conceito de K deve ser interpretado em um sentido amplo que inclui o capital humano
e as infra-estruturas públicas.
320
Em sua análise para o caso da economia chilena, LEHAMANN considerou o longo prazo como um intervalo
de 50 anos em média.
321
Por exemplo, o modelo de ROMER (1986) ou o de BARRO (1990).
322
ARONOVICH (1991, p.57) observa que as formulações neo-estruturalistas de BACHA (1981) e TAYLOR
(1983) assumem que seja observado na economia o fenômeno do desemprego estrutural. Nesse caso, o único
fator limitativo da expansão do produto seria o estoque de capital à disposição das firmas. Em termos formais, a
N K
função de produção seria Y ; . Todavia, em razão do desemprego estrutural da força de trabalho (L),
350
300
250
200
150
100
FONTE: Série do nível geral de emprego obtida em MARQUETTI (2002) e IBGE. Série do estoque de capital
fixo estimado por MORANDI (2003).
NOTA: N = nível geral de emprego; K = estoque de capital fixo produtivo (sem construções residenciais).
Conforme exposto acima, normalmente, a existência de ganhos elevados de
produtividade é um indício de vigência de acumulação de capital predominantemente
intensiva (BILLAUDOT, 2002). Mas no período 1980-2002 podem ser observados dois
padrões contrastados. A década de 80 caracteriza-se nitidamente pela estagnação dos ganhos
de produtividade e da intensidade do capital, o que revela a inexistência de mudanças
significativas nas condições de produção e a perda de dinamismo da economia brasileira. Mas
sob economia aberta, a partir de 1990, a intensidade do capital e a produtividade aparente do
479
trabalho voltam a crescer, embora esse crescimento tenha se processado em taxas médias bem
inferiores ao do período 1950-1981.
5,4
Ln ( PR )
5,2
1963
5,0
4,8
4,6
1950
4,4
4,4 4,6 4,8 5,0 5,2 5,4 5,6 5,8 6,0
Ln ( N )
FONTE: Elaborado a partir de dados do nível de emprego estimados por MARQUETTI (2002) e IBGE.
MIOTTI (1991) observa ainda, que numa economia sob processo de industrialização
por substituição de importações, o analista pode ser levado a considerar que os investimentos
visam preponderantemente à expansão das capacidades de produção. No entanto, apenas a
análise macroeconômica pode identificar se há predominância de um tipo ou de outro de
acumulação. Por exemplo, pode acontecer que o processo de industrialização substitutiva de
importações seja iniciado pelas indústrias intensivas em capital. Neste caso, para que o nível
de emprego aumente é necessário que o ritmo de crescimento dos diferentes componentes da
demanda agregada seja superior às tendências do progresso técnico de economizar trabalho.
Este foi o caso do regime de acumulação responsável pelo milagre econômico brasileiro do
período 1967-1973.
Por último, para que a trajetória de acumulação e crescimento seja estável e capaz de
compensar os desequilíbrios de curto prazo, é preciso que a partilha dinâmica dos ganhos de
produtividade se encontre em certos limites, que por sua vez estão ligados aos parâmetros
481
a) uma partilha dos ganhos de produtividade entre capital, trabalho e governo que
não estrangule os lucros;
Investimento (L)
Razão K / N (R)
40% 12%
30% 10%
8%
20%
6%
10%
4%
0%
2%
-10%
0%
-20% -2%
-30% -4%
1951 1957 1963 1969 1975 1981 1987 1993 1999
1954 1960 1966 1972 1978 1984 1990 1996 2002
FONTE: Série do nível geral de emprego obtida em MARQUETTI (2002) e IBGE. Série do estoque de capital
fixo estimada por MORANDI (2003).
NOTA: N = nível geral de emprego; K = estoque de capital fixo produtivo (sem construções residenciais). As
variáveis estão em taxa de crescimento anual.
Um teste econométrico com as séries em nível (log das variáveis) mostra a existência
de uma quebra estrutural em inícios de 1980. A equação estimada procura captar a influência
dos investimentos sobre a intensidade do capital, uma variável que expressa a evolução do
progresso técnico poupador de força de trabalho.
K
L = C1 + C2.LINV (26)
N
482
0.4 30 1.6
0.2
20
1.2
0.0
10
-0.2 0.8
0.00
-0.4 0
0.05 0.4
-10
0.10 0.0
-20
0.15
55 60 65 70 75 80 85 90 95 00 -30 -0.4
55 60 65 70 75 80 85 90 95 00 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00
One-Step Probability Recursive Residuals
CUSUM 5% Signific anc e CUSUM of Squares 5% Significance
Pode ser constatado que entre 1950 e 1980, essas variáveis evoluem em tendências
muito próximas uma da outra. Nos anos 80 e 90, observa-se um nítido afastamento entre as
duas séries, sinalizando a vigência de um novo padrão de acumulação, onde os investimentos
realizados não visam, de forma preponderante, ao aumento da capacidade produtiva
instalada. A relevância deste resultado é que ele está coerente com a quase-estagnação ou o
baixo crescimento econômico que caracterizou essas duas últimas décadas do século XX.
PIB P FPT
N
45º
K
N
A FPT está representada na Figura 38. Em termos globais, esta curva reflete, nas
palavras de seu criador, o grau de dinamismo técnico da economia no sentido amplo. Nos
períodos onde se observam inovações técnicas e organizacionais, a curva é deslocada para
cima. E no caso de fraca absorção de progresso técnico, move-se para baixo. Sua convexidade
traduz, em cada ponto, em que medida um investimento engendra ganhos de produtividade.
Até um certo ponto P, de interseção da curva de progresso técnico com a reta de 45 º, a taxa
de crescimento da produtividade é maior do que a taxa de acumulação de capital. Neste caso,
variações na taxa de lucro impulsionarão a taxa de acumulação em direção a P, através de
novos investimentos. Além de P, a taxa de acumulação supera a taxa de crescimento da
produtividade, configurando um padrão de rendimento decrescente.323 No ponto P, a razão
capital/produto (K/PIB) é constante, pois o produto e o estoque de capital fixo teriam a
mesma taxa de crescimento.
323
Conforme GAFFARD (1997, p. 186), isto decorreria de um tipo de lei de rendimentos decrescentes cuja
justificação permaneceria estritamente formal, isto é, a demonstração da existência de um equilíbrio, neste caso,
no ponto P.
485
Empírica
5,4
5,2 1964
5,0
1955
4,8
4,6 1950
4,4
4,4 4,6 4,8 5,0 5,2 5,4 5,6 5,8 6,0 6,2 6,4 6,6
Ln (K / N)
FONTE: Série do nível geral de emprego obtida em MARQUETTI (2002) e IBGE. Série do estoque de capital
fixo estimado por MORANDI (2003).
NOTA: Ln significa o logaritmo natural da variável em questão.
O Gráfico 115 mostra a função de progresso técnico de KALDOR para a economia
brasileira, no período 1950-2002. De forma análoga ao observado para as variáveis plotadas
nos Gráficos 112 e 113, constata-se uma evolução regular entre 1950-1980 para a FPT.
Todavia, na década de 80, há uma quebra estrutural que se expressa numa forte redução dos
ganhos de produtividade. Após 1990, a FTP parece retomar uma fase de expansão, sugerindo
que a economia brasileira poderia ter entrado numa nova trajetória tecnológica que, por sua
vez, pode constituir-se em uma das bases para um novo regime de acumulação.
nível geral de emprego e wr o salário médio real, a substituição de (iii) e (iv) em (ii) conduz à
wr
Y. 1 . Dividindo-se esta equação pelo estoque de capital fixo produtivo K,
PR N
Y wr wr
1 , ou seja r PR K
1 (28).
K K PR N PR N
r
0 . Isto significa que variações positivas no salário médio real que não são
wr
compensadas pelos ganhos de produtividade tendem a reduzir a taxa média de lucro bruto da
economia. Por outro lado, esta relação mostra que é possível haver aumentos sustentáveis do
salário médio real desde que os ganhos de produtividade sejam capazes de manter inalterada a
taxa de lucro média.
487
1950 100,00 100,00 100,00 100,00 1981 50,59 328,94 318,72 48,23
1951 90,92 103,87 100,01 95,05 1982 48,89 314,64 309,52 45,37
1952 85,27 110,79 110,52 85,69 1983 46,33 302,02 308,24 40,81
1953 81,05 110,85 108,65 79,66 1984 47,75 307,27 310,58 42,37
1954 79,34 117,58 113,79 78,82 1985 50,04 309,50 302,94 46,01
1955 79,82 121,21 124,51 73,77 1986 51,45 322,63 325,31 46,79
1956 75,89 122,00 135,28 64,83 1987 51,22 322,53 329,17 45,80
1957 74,27 132,39 147,14 64,35 1988 49,59 315,10 326,23 43,42
1958 74,94 136,46 150,98 65,12 1989 49,72 314,91 325,27 43,49
1959 74,73 144,78 158,04 66,09 1990 46,58 294,05 322,37 38,01
1960 74,93 149,73 162,33 66,15 1991 46,40 294,81 300,71 40,49
1961 76,20 164,19 174,76 67,13 1992 45,68 292,11 304,91 38,83
1962 75,77 166,88 178,86 66,52 1993 47,39 304,55 328,42 39,00
1963 71,26 170,21 184,54 61,67 1994 49,19 318,23 305,69 45,54
1964 69,56 171,47 179,96 61,66 1995 50,13 327,24 302,98 47,97
1965 66,82 176,41 183,83 60,03 1996 50,45 344,15 319,11 48,10
1966 66,08 178,62 186,13 60,09 1997 50,93 353,29 318,76 49,74
1967 64,14 183,23 192,76 57,48 1998 49,89 350,01 326,15 47,48
1968 64,60 198,62 205,01 59,91 1999 49,64 342,55 314,75 47,32
1969 64,54 207,95 211,04 61,16 2000 51,04 343,37 310,92 49,31
1970 65,27 222,88 221,11 62,90 2001 50,85 351,82 310,41 50,18
1971 66,06 240,21 233,02 65,43 2002 51,44 348,05 297,08 51,49
1972 66,77 259,62 246,79 67,73
1973 67,85 274,22 253,32 71,33
1974 65,17 290,05 267,23 68,93
1975 61,08 292,08 273,38 63,57
1976 60,43 319,76 293,83 63,39
1977 58,02 317,66 294,99 59,19
1978 56,06 322,33 301,69 56,49
1979 55,48 334,91 313,47 55,52
1980 55,89 351,85 327,95 56,39
6%
4%
2%
0%
-2%
-4%
-6%
-8%
-10%
1951 1957 1963 1969 1975 1981 1987 1993 1999
1954 1960 1966 1972 1978 1984 1990 1996 2002
A dinâmica dos determinantes da taxa de lucro de acordo com a equação (28) pode ser
observada no Gráfico 116. As séries foram suavizadas pelo filtro 4253H para se eliminar as
flutuações de curto prazo, de maneira que o comportamento tendencial e cíclico fosse
explicitado.
324
Como foi explicitado acima, em termos teóricos rigorosos, os ganhos de produtividade deveriam ser nulos
para caracterizar a dominância da acumulação extensiva. Mas numa análise empírica é suficiente considerar os
ganhos de produtividade como fracos ou em queda.
489
taxa de lucro se recupera, puxada mais pela produtividade do trabalho do que pela
produtividade do capital. É importante, por suas conseqüências macrodinâmicas, observar-se
que a taxa média de crescimento do salário médio real permaneceu aquém da taxa média de
crescimento da produtividade do trabalho, o que confirma a concentração funcional da renda
ocorrida sob o regime político arbitrário pós-64.325 Após 1973, todas as variáveis entram em
uma trajetória de declínio, com a ressalva de que entre 1975 e 1980, a taxa de lucro e a
produtividade do capital se estabilizam. Provavelmente como um dos efeitos da marcha
326
forçada, resultante do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND),
implementado no período 1975-1979.
the use of the term equilibrium is unfortunate since economic theorists and
econometricians use the term in different ways. Economic theorists usually
employ the term to refer to an equality between desired and actual
transactions. The econometric use of term makes reference to any long-run
relationship among nonstationary variables. Cointegration does not require
that the long run (i.e. equilibrium) relationship be generated by market forces
or the behavioral rules of individuals. In Engle and Granger s use of the term,
the equilibrium relationship may be causal, behavioral, or simply a reduced-
form relationship among similarly trending variables. 327
Isto significa que a existência de co-integração não implica que a análise esteja
refletindo a lógica dos equilíbrios de mercado , tão cara a tradição teórica neoclássica e suas
325
Na verdade, a concentração funcional da renda é um fato estilizado já bastante discutido na literatura
econômica sobre este período da evolução da economia brasileira no século XX.
326
Expressão cunhada por CASTRO e SOUZA (1985), em A Economia Brasileira em Marcha Forçada.
327
Os grifos são nossos.
490
No que concerne às mudanças estruturais - já que esta análise também se volta para a
identificação dos períodos de quebra das regularidades macroeconômicas fundamentais ao
processo de acumulação de capital (análise dos regimes de acumulação ou de crescimento) é
igualmente relevante considerar as seguintes definições a seguir:
Este econometrista chama também a atenção para o excessivo enfoque nos testes de
co-integração de tal maneira que o analista desconsidera a influência da instabilidade
estrutural:
Ao estimarmos as regressões de co-integração, muitos dos problemas que
geralmente discutimos no caso dos modelos de regressão usual e de equações
simultâneas (por exemplo, variáveis omitidas, instabilidade dos parâmetros
devido à mudança estrutural, multicolinearidade, heterocedasticidade, etc.)
são comumente ignorados, e a atenção concentra-se no teste de co-integração,
328
A idéia de regularidade de crise pode ser apreendida a partir da noção de regime de crise encontrada em
BILLAUDOT (2002). Uma conjuntura de crise econômica não significa necessariamente um estado de caos ,
no sentido da ausência de qualquer forma de regularidade dos comportamentos. Por exemplo, quando aplicada à
crise dos anos 80, o potencial heurístico dessa idéia parece ser irrecusável. As tendências estagnacionsitas e de
alta inflação eram tanto o resultado quanto a premissa de todo um conjunto de dispositivos institucionais e de
comportamentos entre atores econômicos que outra coisa não faziam do que reproduzir o regime de crise
característico daquele período da história econômica brasileira. Um regime de crise pode então emergir como um
mecanismo de defesa ou reação diante da afirmação dos obstáculos à continuidade do processo de acumulação
em suas bases econômicas normais.
491
Com relação aos testes de raízes unitárias que compõem a primeira etapa das análises de co-
integração, MADDALA observa que:
Muitos testes foram sugeridos para raízes unitárias. Em sua maioria, a
hipótese nula é que há uma raiz unitária, a qual é rejeitada apenas quando há
fortes evidências contra ela. Usando esses testes, descobriu-se que a maior
parte das séries temporais econômicas tem raízes unitárias. Entretanto, alguns
testes foram desenvolvidos de forma a usar a estacionaridade como a hipótese
nula e a raiz unitária como a hipótese alternativa. Com o uso desses testes,
descobriu-se que a maior parte das séries temporais não tem uma raiz
unitária. (...). A evidência das raízes unitárias em séries temporais econômicas
é aparentemente frágil. 329
Voltando à equação 28, ela também permite apreender o modo como a questão
distributiva, ao afetar a taxa de lucro, condiciona de forma decisiva a dinâmica da acumulação
de capital e então, a taxa de crescimento econômico. Retomando-se a assertiva de LIPIETZ
(1987), já mobilizada neste trabalho durante a análise da WLN, a repartição do valor
adicionado entre salários e lucros estabelece uma nova contradição: trop de salaire et pas
assez d accumulation, ou trop de profits et pas assez de demande. C est le problème
fondamental de la régulation du rapport salarial ». Uma contradição que decorre da
ambigüidade do salário, que se apresenta simultaneamente como um custo de produção e fator
básico de demanda efetiva nas economias capitalistas.
Como observam BOWLES e BOYER [1990 e 1995], a taxa de salário não é apenas o
custo da força de trabalho, é também um determinante do nível de demanda agregada e então
da própria demanda de trabalho. Enquanto um aumento de salário pode desencorajar o
emprego pela elevação dos custos de produção, ele pode também promover o emprego
suportando um nível mais alto de demanda. E é por isso que uma apropriada distribuição de
renda é um dos fatores que reconciliam esse caráter ambíguo do salário como custo e fator
de demanda.330 Além disso, como KALECKI havia notado, a taxa de salário também surge
como um importante instrumento nas estratégias de gestão e disciplina nas relações entre
capital e trabalho assalariado.331 Portanto, mesmo indiretamente, o nível de salário
329
Os grifos são nossos, pois se trata de uma afirmação muito forte, sobretudo quando proveniente de um
econometrista internacionalmente reconhecido.
330
Para maiores detalhes, consultar BOWLES e BOYER (1995 e 1990) que desenvolvem uma interessante
análise teórica e uma investigação empírica acerca dessa problemática keynesiana e kaleckiana.
331
As teorias do salário de eficiência terminam por confirmar essa intuição kaleckiana.
492
Deve ser ressaltado que apesar dos anos 90 serem considerados uma segunda década
perdida em termos de crescimento e de desenvolvimento econômico, foi neste período que a
taxa de lucro saiu de sua trajetória de declínio. Considerando-se a evolução nesta década,
pode ser observado que foi em 1990, com a recessão imposta pelo Plano Collor, que a taxa de
lucro atingiu seu nível historicamente mais baixo (19,6%). Mas a entrada em uma trajetória de
recuperação começa a partir de 1994, com a implementação do Plano Real. Em 2002, a taxa
de lucro atinge o nível de 25,8%, o mais alto desde a recessão de 1983.
Observando-se a série das taxas de variação da taxa de lucro pode ser contatado o
aumento da volatilidade das taxas a partir da crise do milagre . Nos anos 80 e 90, as
oscilações em torno da série tendencial, obtida por regressão local (lowess smoothing),
possuem amplitudes bem superiores às vigentes entre 1950-1980, período de
desenvolvimento e consolidação do modelo de industrialização por substituição de
importações.
493
50% 15%
40% 5%
35% 0%
30% -5%
25% -10%
20% -15%
15% -20%
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Série da taxa de lucro calculada como a razão entre o fluxo de lucro bruto macroeconômico e o estoque
de capital fixo produtivo.
NOTA: Maiores detalhes da metodologia de construção das séries encontram-se no anexo.
Na Tabela 37 encontram-se as variações anuais da taxa de lucro entre cada um dos
turning points (picos e vales, pontos de inflexão) observados no Gráfico 117. O exame dos
desvios-padrão permite constatar-se uma crescente volatilidade a partir de 1973. Em termos
de coeficiente de dispersão, observa-se que apenas no período correspondente aos anos de
forte crescimento do milagre é que as taxas de lucro permaneceram numa trajetória bastante
estável de expansão.
Ressalte-se também o fato de que a taxa média de expansão anual da taxa de lucro no
período 1993-2002 foi similar a do período 1967-1973. Todavia, a volatilidade foi
substancialmente maior nos anos de globalização do que durante o milagre . Essa
instabilidade das taxas de lucro está por trás das dificuldades de recuperação da taxa de
acumulação de capital e do crescimento econômico neste último período analisado.
Taxa média de
Turning Coeficiente de
variação da taxa Desvio-Padrão
points Dispersão
de lucro (% a.a.)
1950
1956 -6,3% 3,9% -0,6
1967 -1,0% 2,7% -2,7
1973 3,2% 1,1% 0,4
1983 -4,7% 4,8% -1,0
1993 -0,3% 6,1% -22,2
2002 3,5% 5,8% 1,7
NOTA: O ponto acima das variáveis (.) significa, como de costume, que se trata de taxa de crescimento da
variável em questão. Os valores estão em percentagem.
wr
A equação r PR K
1 , algebricamente simples, expressa no entanto,
PR N
wr
salário médio real e a produtividade aparente do trabalho, 1 expressa a profit
PR N
o conflito distributivo está contido nesta formulação da taxa de lucro média, influenciando as
decisões de investimento e acumulação de capital produtivo.
.p y Y liq Y Y pot
p y
r =
.p Y liq
Y Y pot
K p
k k
Y liq
produto interno líquido = Y (PIB) depreciação do estoque de capital fixo;
Y pot
produto potencial; p y
deflator implícito do produto; p k
deflator implício
Y liq
é a razão produto líquido / produto bruto, representando portanto, a renda
Y
efetivamente disponível após a dedução da parcela correspondente à depreciação do
estoque de capital fixo;
Y
u é a taxa de utilização da capacidade produtiva instalada;
Y pot
Y pot
é a razão produto potencial / estoque de capital fixo;
K
p y
p é a razão preços do produto / preços do capital;
p k
A taxa de lucro ( r ) pode então ser formulada como o produto dessas quatro razões:
497
r . .u . . p
r + +u + + p
Mas a wage-share pode ser expressa como a razão entre o salário médio real e a
produtividade do trabalho, da seguinte maneira:
W wr.N wr
w s
; onde W é a massa salarial; wr o salário médio
Y Y PRL n
PR (u , ). PR 0 . e[ .( I / K ) t ] , com 0; 0; 0
u I /K
N Y PR .
O efeito da utilização da capacidade produtiva sobre a evolução da produtividade
tende a ser muito forte em economias com um grande contingente de força de trabalho
disponível durante as recessões. Em segundo lugar, um decréscimo do nível de emprego tende
333
É, portanto, uma variável dependente do modo de regulação vigente e não um resultado de mecanismos
puramente mercantis .
498
a aumentar a produtividade através do que BOWLES e BOYER (1990) chamam por efeito
exército de reserva . A redução dos quadros tende a aumentar a pressão sobre os
trabalhadores remanescentes em termos de maior disciplina e aceitação de níveis mais
elevados de intensidade do trabalho.
Por sua importância na explicação dos ganhos dinâmicos de produtividade, os efeitos
de longo prazo em termos da relação de Kaldor-Verdoorn serão, mais adiante, empiricamente
testados para o caso brasileiro.
499
ANO r nom u p
1950 0,90471 0,54357 0,96210 0,98647 0,97228 1,80368
1951 0,85326 0,56123 0,96338 0,97116 0,90795 1,78973
1952 0,81200 0,54492 0,96188 0,96033 0,85393 1,88910
1953 0,67344 0,55447 0,96022 0,96327 0,77905 1,68551
1954 0,62663 0,55977 0,96168 0,96551 0,76064 1,58503
1955 0,61057 0,53059 0,96116 0,97264 0,74602 1,65000
1956 0,53673 0,49000 0,96125 0,96118 0,71830 1,65049
1957 0,55428 0,48822 0,96234 0,95210 0,72156 1,71725
1958 0,48699 0,49073 0,96223 0,97990 0,70594 1,49090
1959 0,48848 0,49792 0,96256 0,98901 0,69935 1,47353
1960 0,50308 0,50142 0,96291 0,98903 0,69481 1,51627
1961 0,48373 0,51144 0,96252 0,99054 0,69058 1,43653
1962 0,43818 0,50772 0,96260 0,98273 0,69476 1,31317
1963 0,39623 0,50146 0,96284 0,95190 0,67306 1,28089
1964 0,42444 0,51835 0,96335 0,94393 0,65614 1,37238
1965 0,45040 0,52181 0,96375 0,90810 0,65932 1,49585
1966 0,46709 0,52198 0,96343 0,93165 0,64330 1,54975
1967 0,43457 0,51766 0,96235 0,91995 0,62911 1,50727
1968 0,44455 0,52688 0,96344 0,94834 0,62423 1,47934
1969 0,44321 0,53558 0,96322 0,96039 0,61917 1,44476
1970 0,44438 0,54679 0,96340 0,97071 0,61699 1,40850
1971 0,45308 0,55773 0,96325 0,97586 0,62600 1,38052
1972 0,47880 0,56762 0,96287 0,98173 0,63318 1,40933
1973 0,53434 0,58023 0,96398 1,00000 0,63966 1,49349
1974 0,50417 0,58177 0,96343 0,99276 0,62135 1,45823
1975 0,45435 0,57474 0,96306 0,97968 0,58806 1,42482
1976 0,45761 0,58363 0,96235 0,99066 0,57142 1,43927
1977 0,42269 0,57955 0,96109 0,96519 0,55226 1,42365
1978 0,38592 0,57583 0,96125 0,95634 0,53530 1,36196
1979 0,35175 0,57617 0,96068 0,95263 0,52812 1,26314
1980 0,36808 0,57768 0,96138 0,96006 0,53047 1,30138
1981 0,27991 0,55968 0,96089 0,90972 0,49443 1,15716
1982 0,25738 0,55221 0,96110 0,89675 0,47811 1,13108
1983 0,23013 0,53397 0,96099 0,87522 0,45580 1,12420
1984 0,23863 0,53865 0,96134 0,88301 0,46482 1,12274
1985 0,27423 0,55410 0,96206 0,91249 0,47443 1,18830
1986 0,28623 0,53916 0,96261 0,94832 0,47681 1,21968
1987 0,23058 0,53324 0,96234 0,93562 0,47851 1,00366
1988 0,19805 0,52618 0,96188 0,92583 0,46474 0,90946
1989 0,17624 0,52729 0,96202 0,93567 0,45962 0,80787
1990 0,18656 0,49605 0,96161 0,88449 0,45194 0,97843
1991 0,21381 0,53405 0,96138 0,88837 0,44531 1,05270
1992 0,18920 0,52237 0,96113 0,86900 0,44638 0,97148
1993 0,18402 0,50522 0,96112 0,90665 0,44438 0,94060
1994 0,21554 0,56354 0,96137 0,92967 0,45354 0,94357
1995 0,23604 0,58075 0,96138 0,95618 0,45072 0,98097
1996 0,24880 0,58030 0,96102 0,94499 0,45781 1,03121
1997 0,26418 0,59221 0,96180 0,95775 0,45730 1,05896
1998 0,25323 0,57780 0,96138 0,94508 0,45361 1,06341
1999 0,24194 0,58437 0,96116 0,93531 0,45185 1,01924
2000 0,24736 0,59104 0,96111 0,95268 0,45707 1,00000
2001 0,24870 0,60154 0,96271 0,94446 0,46019 0,98809
2002 0,25498 0,61646 0,96166 0,92718 0,46985 0,98731
FONTE: Metodologia de construção dos dados constantes do anexo.
500
0,96300
0,70
0,96250
0,96200
0,50
0,96150
0,96100 0,30
0,96050
0,96000 0,10
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Dados da tabela 39.
A Tabela 40, mais adiante, permite uma análise mais precisa das influências dos
componentes da taxa de lucro sobre o seu comportamento desde 1950. Inicialmente foram
identificados os turning points da taxa de lucro nominal e calculadas as taxas médias de
variação entre cada um desses pontos críticos. Como na primeira abordagem, o objetivo é
explicitar qual ou quais dos componentes foram os responsáveis pela dinâmica da taxa de
lucro. Todavia, a vantagem dessa segunda formulação em termos nominais é que ela permite
captar de um modo explícito, os efeitos das variações da inflação (preços do produto e preços
do capital). Por exemplo, há um nítido movimento de alta da taxa de lucro entre 1983-1986.
Sendo este último ano o da implementação do congelamento de preços do Plano Cruzado,
pode se considerar que a estrutura fortemente oligopolista da economia brasileira usou seu
334
No cálculo desta relação, foi considerado apenas o estoque de capital fixo produtivo, valorado pelo deflator
implícito da formação bruta de capital fixo. Quando o estoque de capital é considerado em sua totalidade, isto é,
incluindo as construções residenciais, essa relação permanece estagnada ao longo dos anos 90.
501
poder de mark-up para contornar as restrições impostas por esse programa de estabilização.
Como na análise em termos reais, a taxa de lucro se recupera na década de 90.
Do ponto de vista de uma análise das crises econômicas, se a taxa de lucro for
considerada como um indicador básico para avaliar as tendências do regime de acumulação,
então pode-se dizer que a economia brasileira não está no pior dos mundos . Em seu mais
recente trabalho sobre a economia japonesa, BOYER (2004, p.11) observa que:
1950 90,47
1963 39,62 -5,97 -0,573 0,006 -0,264 -2,750 -2,426 4,22 4,89
1973 53,43 3,15 1,476 0,012 0,513 -0,497 1,637 4,93 3,25
1983 23,01 -7,79 -0,817 -0,031 -1,309 -3,313 -2,723 1,05 2,03
1986 28,62 7,66 0,350 0,056 2,718 1,516 2,783 2,29 1,89
1989 17,62 -14,85 -0,737 -0,020 -0,441 -1,207 -12,756 -0,82 0,00
1991 21,38 10,23 0,867 -0,034 -2,516 -1,569 14,351 -3,22 -3,81
1993 18,40 -7,13 -2,734 -0,013 1,076 -0,104 -5,447 1,66 4,55
1999 24,19 4,94 2,546 0,001 0,536 0,284 1,393 2,02 -0,63
2002 25,50 1,77 1,799 0,017 -0,279 1,312 -1,053 0,56 -1,89
NOTA: 1) O ponto acima das variáveis (.) significa, como usual, que se trata de taxa de crescimento da variável
em questão. Os valores estão em percentagem; 2) PRLn é a produtividade líquida do trabalho, isto é, o fluxo total
de valor adicionado líquido de depreciação pelo nível geral de emprego.
335
Citado por GAFFARD (1997).
503
Em outros termos, isto significa reconhecer que a estrutura econômica enquanto rede
de relações funcionais é um complexo de regularidades macroeconômicas não dedutível de
uma lógica de otimização individual. Neste contexto, é suficiente relembrar os fundamentos
teóricos regulacionistas explicitados no capítulo 1 deste trabalho. Ao permitir superar o
dilema agente-estrutura, o método hol-individualista lança as bases para uma macroeconomia
histórica e institucionalista onde a mudança estrutural passa ao primeiro plano das análises.
336
Citado por GAFFARD (1997).
504
mudança estrutural. Neste sentido, é necessário recorrer a uma definição de estrutura que se
refira ao comportamento dinâmico do sistema ao longo do tempo, antes que a sua
configuração interna.337
A idéia diretriz neste quadro analítico é que a mudança estrutural não se identifica a
uma mudança tecnológica que se expressaria numa mudança do valor dos coeficientes
técnicos de produção. Ela se manifesta numa mudança de regime que se pode constatar pela
observação do comportamento de variáveis que são endógenas ao sistema: a evolução
conjunta do investimento, do consumo e do nível de emprego. Isto significa que, este tipo de
abordagem permite a apreensão de mudanças de regime que não são diretamente dedutíveis
de mudanças tecnológicas.
337
As matrizes insumo-produto permitem precisamente uma apreensão da configuração interna da estrutura ou
sistema, sem que se possa apreender as trajetórias entre as configurações em diferentes pontos no tempo.
505
d VA / N N
PR .
dt VA
d I/N N
INV .
dt I
PR t
f PR ; INV
t 1 t 1
INV t
z PR ; INV
t 1 t 1
Dois eixos podem então ser definidos e se tornam o espaço analítico de referência: o
eixo (horizontal) da produtividade e o eixo da acumulação ou do investimento produtivo por
pessoal ocupado. A Figura 39 a seguir representa o espaço analítico de referência para o
tratamento da mudança de regime:
338
Mais detalhes sobre a taxionomia regulacionista das crises encontram-se no capítulo 2 deste trabalho.
506
I
INV Regimes de
N acumulação tipo A
Regimes de
acumulação tipo D VI
V Regimes de
acumulação tipo B
I
45º VA
PR
N
IV II
Regimes de
Crises de regime e III acumulação tipo C
regimes de crise
ii. Seção nº ( I ) do plano abaixo da diagonal nesta região as trajetórias são tais
que a taxa de crescimento da produtividade excede a taxa de crescimento do
iii. Seção do plano nº ( II ) - nesta região, as trajetórias são aquelas em que a taxa
de crescimento do investimento por pessoal ocupado é negativa e a da
iv. Seções do plano (III) e (IV) nessas regiões as trajetórias são aquelas em que
as taxas de crescimento do investimento e da produtividade são ambas negativas.
Trata-se dos regimes de contração em que surge e se generaliza uma
insuficiência global de demanda. Primeiramente puxada pela queda dos
investimentos e em seguida do consumo agregado. Em termos teóricos
regulacionistas, essa região corresponderia às fases de crise estrutural se os
ajustamentos veiculados pelo modo de regulação mostrarem-se incapaz de
restaurar as condições de retomada da acumulação de capital sobre novas bases.
Como pode também expressar uma fase de transição para um novo regime de
339
O chamado paradoxo da produtividade ou paradoxo de Solow é freqüentemente resumido da seguinte
maneira: os computadores estão por toda parte exceto nas estatísticas . Robert Solow designava assim o fato de
que a informatização não se traduzia claramente nas performances econômicas, notadamente no que concerne à
produtividade do trabalho. Há na realidade uma certa defasagem entre o surgimento de uma nova tecnologia, sua
aplicação efetiva e os efeitos esperados. Estes últimos exigem um domínio prévio das novas condições sócio-
técnicas do trabalho e da organização da produção. Um novo sistema de produção não é nunca uma questão
puramente técnica, sua eficiência e eficácia dependem da institucionalidade das relações sociais, da forma como
são compatíveis ou não com as exigências das novas bases produtivas e dos sistemas de pagamento.
508
v. Seção do plano (V) nessa região trata-se das trajetórias em que a taxa de
crescimento do investimento por pessoal ocupado é positiva e a da produtividade
é negativa, ou seja, não há ganhos de produtividade apesar da expansão dos
investimentos. Correspondem aos regimes de crescimento nos quais a taxa de
acumulação de capital é mantida mediante o ingresso significativo de recursos
externos. Esse padrão será denominado como o característico dos regimes de
acumulação tipo D.
Deve-se atentar que, neste contexto, a abordagem proposta por GAFFARD está sendo
recuperada para uma abordagem regulacionista, considerando-se que a Teoria da Regulação é
capaz de proporcionar os fundamentos teóricos e metodológicos pertinentes a uma análise
consistente dos regimes de crescimento e das mudanças estruturais que lhes correspondem.
Esta abordagem quando aplicada por setor de atividade torna-se evidentemente mais
rica e complexa. Todavia, por razões de disponibilidade de séries completas, por setor, para
340
Segundo BILLAUDOT (2001), a fase de esgotamento de um regime de crescimento pode ser interpretada
como a transição da crise de um regime para um regime de crise .
509
5,6
1990
5,4 1994
1999
5,2 1992
1967 2002
1959
5,0
4,8 1961
4,6 1955
1950
4,4
4,4 4,6 4,8 5,0 5,2 5,4 5,6 5,8 6,0
Ln ( PR = VA / N )
341
Os dados setoriais poderiam ser extraídos das matrizes insumo-produto, no entanto, elas estão disponíveis,
para a economia brasileira, apenas para os anos de 1985 a 1996.
342
Para se determinar a curva em conjuntos de dados bivariados, o procedimento spline resolve equações cúbicas
para cada ponto em um intervalo regular. Conforme T. GODIM (2004), uma interpolação spline é uma técnica
de aproximação que consiste em se dividir o intervalo de interesse em vários subintervalos e interpolar, da forma
mais suave possível, nestes subintervalos com polinômios de grau pequeno.
510
produção;
I
g =
K
= taxa média de acumulação de capital; g = variação relativa entre as taxas
REGIMES DE
TRAJETÓRIAS
PR INV g g y y ACUMULAÇÃO
uma crise endógena ou cíclica.343 Observa GREMAUD et al. (2004, p. 388) que depois da
década de 50, a economia brasileira já tinha superado a fase de industrialização restringida,
que caracterizara os anos 30 e 40. Em conseqüência, havia entrado em uma fase em que a
dinâmica capitalista se processa por elementos endógenos, especialmente os ligados às
relações intersetoriais. Neste contexto, a crise dos anos 60 resultaria de uma desaceleração dos
investimentos em bens de capital em razão do excesso de capacidade produtiva gerado pelo
Plano de Metas.
Apreendida sob a definição regulacionista de crise cíclica, ela não implica numa crise
do regime de acumulação e pode ser interpretada como uma crise na regulação e não da
regulação. Decorrentes da depuração das tensões e dos desequilíbrios acumulados durante a
fase de expansão, esta modalidade de crise tende a ser recorrente, pois emerge como condição
da superação dos obstáculos endógenos que a própria dinâmica da acumulação instaura e
reproduz.
343
Que é uma posição defendida pelos autores de tradição estruturalista como TAVARES (1978) e SERRA
(1982). Nesta perspectiva esta crise é derivada da conclusão dos grandes investimentos promovidos pelo Plano
de Metas (1955-1961), que expandiu a capacidade de produção de forma mais rápida do que a demanda
necessária para absorvê-la. Segundo LACERDA (2000, p. 100), o setor produtor de bens de consumo duráveis
enfrentou dificuldades pos a demanda não crescia de maneira satisfatória. Em razão da elevada concentração de
renda e da baixa renda per capita da economia brasileira, a demanda reprimida que o processo de
industrialização substitutiva de importações buscou atender se esgotou rapidamente. Como fatores agravantes
acrescentaram-se a elevação da inflação e a inexistência de linhas para o financiamento de longo prazo do
consumo. Acelerando a inflexão da conjuntura macroeconômica, o Plano Trienal implementa uma política de
estabilização nos moldes tradicionais baseada em contração monetária. Articulavam-se fatores endógenos com
práticas de política que levariam à desaceleração do crescimento e à queda dos investimentos produtivos.
512
6,0
5,9 1981
Ln ( INV = I / N )
5,8
1986
5,7
5,6 1998
1983
5,5 1996
1990 1994
5,4
1999
5,3
5,2 1992
2002
5,1
5,66 5,68 5,70 5,72 5,74 5,76 5,78 5,80 5,82 5,84 5,86 5,88
Ln ( PR = VA / N )
entre 1998-2002). Esta redução forte e persistente da taxa de acumulação responde pelas
tendências ao baixo e instável crescimento econômico que caracteriza o período pós-Real.
I L
Q
f 2
q;
VA
; INOV ;...
EME f 3
Q;...
INOV f 4
EINOV ; q; P & D;...
L
pr pr q; Q; INOV ; ;...
VA
Os impactos dos ganhos de produtividade sobre a renda e a demanda conduzem à
noção de regime de demanda, a qual foi também definida no capítulo 2 deste trabalho.
Formalmente, um regime de demanda em sua forma reduzida é dado pela função:
q q PR;W ; Q; QM
515
Produtividade_hora
Produtividade_pessoal ocupado
Produção física
260
Índice dos valores: jan-1985 = 100
240
220
200
180
160
140
120
100
80
60
Mar-89
Mar-94
Mar-99
Nov-85
Sep-86
Déc-87
Aoû-89
Nov-90
Sep-91
Déc-92
Aoû-94
Nov-95
Sep-96
Déc-97
Aoû-99
Nov-00
Jan-85
Mai-88
Jan-90
Mai-93
Jan-95
Mai-98
Jan-00
Jui-85
Fév-87
Jul-87
Jui-90
Fév-92
Jul-92
Jui-95
Fév-97
Jul-97
Jui-00
Avr-86
Avr-91
Avr-96
Avr-01
Oct-88
Oct-93
Oct-98
FONTE: Pesquisa Industrial Mensal (PIM-DG e PIM-PF) e Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salários
(PIMES) do IBGE através do IPEADATA.
NOTA: Todas as séries foram dessazonalizadas pelo método X11/2000 Census 2. Dados referem-se à
produção da indústria de transformação.
QUADRO 130 TESTE DE RAÍZES UNITÁRIAS PARA LPRH E LPRODF NO PERÍODO (1985-2001)
LPRH
ADF Test Statistic -2.305780 1% Critical Value* -4.0088
5% Critical Value -3.4342
10% Critical Value -3.1408
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
LPROF
ADF Test Statistic -2.966811 1% Critical Value* -4.0088
5% Critical Value -3.4342
10% Critical Value -3.1408
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
344
Citado por GUIMARÃES (2002).
518
1.6 0.10
0.05
1.2
0.00
0.8
-0.05
0.00
0.4 -0.10
0.05
0.0
0.10
-0.4
85:07 86:01 86:07 87:01 87:07 88:01 88:07 89:01
0.15
CUSUM of Squares 5% Significance 85:07 86:01 86:07 87:01 87:07 88:01 88:07 89:01
Vários trabalhos desenvolvidos para os anos 90 apontam para uma retomada dos
ganhos de produtividade da indústria brasileira e então a relação de KV poderia surgir345. A
equação foi então estimada no subperíodo [1991-2001] e realizaram-se os testes de raízes
unitárias. Os testes ADF confirmaram que as séries são I(1).
345
Diz-se que essa relação reaparece porque muito provavelmente esteve presente no período de expansão da
economia brasileira entre os anos de 1940 e 1970. Período que corresponde à difusão, consolidação e
esgotamento do modelo de industrialização por substituição de importações . Entre os vários trabalhos sobre a
questão da produtividade na década de 90, encontram-se os de SABOIA e CARVALHO (1997), ROSSI e
FERREIRA (1999), BONELLI e FONSECA (1998) e BONELLI (2002).
520
Este resultado está coerente com o fato de que a década de 90 foi marcada por grandes
transformações estruturais e intervenções de política econômica, além da quase-estagnação:
Plano Collor I e II; Plano Real; liberalização comercial e financeira; sobrevalorização
cambial; taxas reais de juros elevadas; crises financeiras do México, Ásia, Rússia e Brasil em
1999; e a própria reestruturação da indústria brasileira como resposta a esse conjunto de
fatores. Isto implica que as séries do logaritmo da produtividade (LPRH) e do logaritmo da
produção física (LPRODF), apesar de serem I(1), não co-integram e, portanto, não
manifestam nenhuma relação de longo prazo conforme a proposta por Kaldor-Verdoorn.
521
Além disso, este resultado era esperado, em se tratando de duas décadas marcadas por
graves problemas macroeconômicos. Tendências à estagnação do produto e vigência da alta
inflação nos anos 80. Transformações institucionais, quase-estagnação e também pela alta
inflação, nos anos 90. Conseqüentemente, os testes de estabilidade estrutural rejeitaram a
hipótese nula de não mudança estrutural tanto para este período em questão [1991-2001]
quanto para o período completo [1985-2001]346.
0.8
0.2 150
0.6
0.0 100
0.4
-0.2 50
0.2
-0.4 0 0.0
0.6 0.6
8
0.4 0.4
0.2 0.2 6
0.0 0.0
4
-0.2 -0.2
-0.4 -0.4 2
0.00 -0.6 0.00 -0.6
0
0.05 0.05 -2
-4
0.10 0.10
-6
0.15 0.15
86 88 90 92 94 96 98 00 86 88 90 92 94 96 98 00 -8
86 88 90 92 94 96 98 00
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
3.0
2.5
2.0
1.5
1.0
0.5
0.0
-0.5
86 88 90 92 94 96 98 00
346
Mesmo quando se utilizam dados semestrais, a instabilidade da equação permanece.
522
Todavia, a validade teórica e empírica dessa proposição requer não apenas a existência
de uma correlação significativa entre crescimento industrial e o crescimento do PIB, mas
também que a causalidade seja no sentido do crescimento industrial para a performance
econômica global (YAMAK, 1996).
347
MARINHO et al. (2001) e GUIMARÃES (2002) também não verificaram a ocorrência de mudança
estrutural. O primeiro, no entanto, considera uma quebra estrutural em abril de 1990 e estima o VECM em dois
subperíodos: (1985.01-1990.04) e (1990.05-1997.12), concluindo pela validade da relação de Kaldor-Verdoorn
para os anos 90, onde as estatísticas oficiais confirmam a retomada dos ganhos de produtividade da indústria
brasileira, a partir da abertura econômica.
348
Como a periodização da evolução econômica brasileira é um dos objetivos básicos da análise desenvolvida
neste trabalho, os testes de mudança estrutural serão mobilizados freqüentemente. Mas mesmo do ponto de vista
da teoria econométrica, a verificação da existência de mudança estrutural nas séries e modelos propostos deve
ser considerada. Ver observação de G.S. MADDALA (2003, p. 304 e 305), na seção 5.4.
523
PIB
Produto industrial
25%
20%
Taxas reais de crescimento
15%
10%
5%
0%
-5%
-10%
-15%
1901
1904
1907
1910
1913
1916
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
FONTE: Séries originais obtidas no IPEADATA.
NOTA: Dados para o produto industrial real referem-se à indústria de transformação.
12%
10%
8%
6%
4253H
4%
2%
0%
-2%
-4%
1901
1904
1907
1910
1913
1916
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
0.4 80 1.2
0.3 60 1.0
0.2 0.8
40
0.1 0.6
20
0.0 0.4
0
-0.1 0.2
0.4 0.4
3
0.2 0.2
0.0 0.0 2
-0.2 -0.2
0.00 0.00
-0.4 -0.4 1
0.05 0.05
0
0.10 0.10
0.15 0.15
1920 1940 1960 1980 2000 1920 1940 1960 1980 2000 -1
10 20 30 40 50 60 70 80 90 00
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
1.2
1.0
0.8
0.6
0.4
10 20 30 40 50 60 70 80 90 00
0.15 15 1.6
0.10 10
1.2
0.05 5
0.8
0.00 0
0.4
-0.05 -5
-0.10 0.0
-10
-0.15 -0.4
02 04 06 08 10 12 14 16 18 20 22 24 26 -15
02 04 06 08 10 12 14 16 18 20 22 24 26 02 04 06 08 10 12 14 16 18 20 22 24 26
0.2 0.2
3
0.1 0.1
2
0.0 0.0
1
-0.1 -0.1
0.00 0.00
-0.2 -0.2 0
0.05 0.05
-1
0.10 0.10
-2
0.15 0.15
02 04 06 08 10 12 14 16 18 20 22 24 26 02 04 06 08 10 12 14 16 18 20 22 24 26 -3
06 08 10 12 14 16 18 20 22 24 26
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
1.6
1.4
1.2
1.0
0.8
0.6
0.4
06 08 10 12 14 16 18 20 22 24 26
LPRODIND
ADF Test Statistic 0.037047 1% Critical Value* -3.7076
5% Critical Value -2.9798
10% Critical Value -2.6290
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
RESÍDUOS
ADF Test Statistic -2.376604 1% Critical Value* -3.7076
5% Critical Value -2.9798
10% Critical Value -2.6290
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
0.08 15 1.6
10
1.2
0.04
5
0.8
0.00 0
0.4
-5
-0.04
0.0
-10
-0.08 -0.4
64 66 68 70 72 74 76 78 80 -15
64 66 68 70 72 74 76 78 80 64 66 68 70 72 74 76 78 80
Recursive Residuals ± 2 S.E. CUSUM of Squares 5% Significance
CUSUM 5% Signific anc e
0.10 0.10
4
0.05 0.05
0.00 0.00 2
-0.05 -0.05
0
0.00 0.00
-0.10 -0.10
0.05 0.05 -2
0.10 0.10 -4
0.15 0.15
64 66 68 70 72 74 76 78 80 64 66 68 70 72 74 76 78 80 -6
67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
1.6
1.4
1.2
1.0
0.8
0.6
0.4
67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80
O terceiro período, [1962- 1980], revelou-se estável por todos os testes e engloba a
fase do milagre econômico (1967-1973) e a do II PND (1975-1979). O período corresponde
ao apogeu e esgotamento do modo de desenvolvimento por substituição de importações
(Quadro141). A este nível da análise da economia brasileira no século XX já é possível
528
LPRODIND
ADF Test Statistic 0.509838 1% Critical Value* -3.8304
5% Critical Value -3.0294
10% Critical Value -2.6552
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
Log likelihood 29.97942 F-statistic 0.180345
Durbin-Watson stat 2.057955 Prob(F-statistic) 0.836656
RESÍDUOS
ADF Test Statistic -1.467356 1% Critical Value* -3.8877
5% Critical Value -3.0521
10% Critical Value -2.6672
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
presença de uma raiz unitária na série dos resíduos. Isto invalida a hipótese de co-integração
das séries do LPIB e do LPIBIND pela metodologia de Engle-Granger. O teste de Johansen
também reforça esse resultado, pois também não rejeitou a hipótese nula de ausência de uma
relação de co-integração (Quadro 143).
0.08 15 1.5
0.06
10
0.04 1.0
0.02
5
0.00 0.5
-0.02 0
-0.04 0.0
-5
-0.06
-0.08 -0.5
93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 -10
93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03
Recursive Residuals ± 2 S.E. CUSUM of Squares 5% Significance
CUSUM 5% Significanc e
0.10 0.10
2
0.05 0.05
0.00 0.00 0
-0.05 -0.05
0.00 0.00
-0.10 -0.10 -2
0.05 0.05
0.10 0.10 -4
0.15 0.15
93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 -6
96 97 98 99 00 01 02 03
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
1.6
1.4
1.2
1.0
0.8
0.6
96 97 98 99 00 01 02 03
349
FEIJÓ e CARVALHO (1997) mostraram, no entanto, que a segunda lei de Kaldor-Verdoorn teria sido válida
para o período 1972-1996. Mas CARVALHO (2000) reconheceu que a regressão que estimaram só teve
resultados significativos quando se confronta produção com emprego e que é necessário um patamar mínimo de
expansão da produção para que a geração de emprego tenha início.
531
agregada como fator de impulsão da dinâmica da indústria e da economia. Todavia, nos anos
90, a demanda agregada permaneceu, na maior parte do período, muito contida, tanto pela
própria lógica da política de estabilização de preços, quanto pela elevação do desemprego
conjuntural e estrutural neste período. Este fato pode ser constatado pelo exame do Gráfico 1.
Apesar do relance da produtividade industrial, a produção não tem o mesmo dinamismo,
permanecendo numa quase-estagnação, sobretudo no período pós-Plano Real, a partir de
1995. Portanto, a economia não apresenta neste período uma expansão do nível de atividade
seja industrial seja global que justifique a vigência da relação de Kaldor-Verdoorn. Conforme
observaram MARINHO et al. (2001), esta relação não é simétrica, ou seja, ela só é válida para
períodos de crescimento econômico, pois do contrário, em caso de queda da produção
industrial, a produtividade deveria cair mais que proporcionalmente.
150
140
130
120
110
100
90
80
70
1982 06
1982 12
1983 06
1983 12
1984 06
1984 12
1985 06
1985 12
1986 06
1986 12
1987 06
1987 12
1988 06
1988 12
1989 06
1989 12
1990 06
1990 12
1991 06
1991 12
1992 06
1992 12
1993 06
1993 12
1994 06
1994 12
1995 06
1995 12
1996 06
1996 12
1997 06
1997 12
1998 06
1998 12
1999 06
1999 12
2000 06
2000 12
2001 06
2001 12
Uma alternativa de estimação pode ser efetuada com séries mensais do PIB e da
produção física da indústria de transformação, no período 1982-2001 (Quadro 145):
LPIB c c .LPI
1 2
(31)
400 1.2
1.0
300
0.8
200
0.6
0.4
100
0.2
0
0.0
-100 -0.2
84 86 88 90 92 94 96 98 00 84 86 88 90 92 94 96 98 00
A relação com as variáveis em nível revelou-se muito instável como pode ser
observado pelos testes de mudança estrutural e então a divisão do período tornou-se
necessária.
QUADRO 147 ESTIMAÇÃO DA RELAÇÃO 31 - [1991-1994]
-0.02 -0.02
0.8
0.00 -0.04 0.00 -0.04
0.15 0.15
91:07 92:01 92:07 93:01 93:07 94:01 91:07 92:01 92:07 93:01 93:07 94:01 -0.4
91:07 92:01 92:07 93:01 93:07 94:01
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals
CUSUM of Squares 5% Significance
LPIB
ADF Test Statistic -1.411223
1% Critical Value* -3.5930
5% Critical Value -2.9320
10% Critical Value -2.6039
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
Mas o teste de JOHANSEN não rejeitou a hipótese nula de ausência de pelo menos
uma relação de co-integração (Quadro149). Por outro lado, os testes de raízes unitárias sobre
os resíduos estimados da relação estática também não rejeitaram a hipótese nula de presença
de raiz unitária, ou seja, os resíduos não são estacionários (Quadro 150).
0.2 30 1.2
1.0
20
0.1
0.8
10
0.6
0.0 0
0.4
-10
0.2
-0.1
-20 0.0
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
1.2
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
-0.2
-0.4
10 20 30 40 50 60 70 80 90 00
a) o p-valor que rejeitou a hipótese nula de que o produto industrial não causa o
PIB está muito próximo do limite de significância do teste, o que pode ser
decorrente do tamanho da amostra utilizada;
b) a especificação em taxas de variação capta a relação de curto prazo entre as
variáveis e não o comportamento de longo prazo que se poderia apreender caso
as séries co-integrassem. Segundo (1986) e Engle e Granger(1987), desde que
haja co-integração entre as variáveis estimadas, a causalidade deverá existir pelo
menos em uma direção. Portanto, na ausência de co-integração, não se poderia
sustentar a validade empírica dessa Primeira Lei de Kaldor para o período
[1901-2003];350
c) Foi utilizada a série do valor adicionado da indústria como proxy do valor da
produção industrial, pressupondo que a variação real do primeiro segue a do
segundo. No entanto, em alguns subperíodos, as Contas Nacionais mostram que
o VA real da indústria aumentou mais do que a produção física. Este foi o caso
para 1990-1996.
350
Conforme F. CARNEIRO (1997), o termo causalidade, no sentido estatístico, não é sinônimo de
endogeneidade. Por essa razão, LEAMER (1985) sugere o uso do termo precedência ao termo causalidade.
Contudo, este último já se encontra popularizado e bem estabelecido na literatura. Desta forma precedência
temporal e causalidade significam a mesma coisa.
538
60 1.0
0.8
40
0.6
20
0.4
0
0.2
-20 0.0
-40 -0.2
1920 1940 1960 1980 2000 1920 1940 1960 1980 2000
351
Por questões de espaço e porque este período já foi considerado estável nas estimações anteriores, os
respectivos testes de estabilidade não serão exibidos.
539
As séries são I(1), todavia os resíduos não são estacionários (a estatística ADF
estimada foi de -1,23, que é maior do que os valores críticos de Engle e Yoo(1987),
respectivamente, -4,32, a 1%, e -3,67, a 5%) e então a hipótese de co-integração foi
descartada (Quadro 158). O teste de Johansen também não revelou a presença de nenhuma
relação de co-integração.
QUADRO 158 TESTES DE RAÍZES UNITÁRIAS PARA LYIND, LYNIND E RESÍDUOS DA
RELAÇÃO 32 (1960-1979)
LYIND
ADF Test Statistic -1.563590 1% Critical Value* -3.4979
5% Critical Value -2.8909
10% Critical Value -2.5822
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
LYNAOIND
ADF Test Statistic -0.594885 1% Critical Value* -3.4979
5% Critical Value -2.8909
10% Critical Value -2.5822
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
RESÍDUOS
ADF Test Statistic -1.226234 1% Critical Value* -3.8572
5% Critical Value -3.0400
10% Critical Value -2.6608
*MacKinnon critical values for rejection of hypothesis of a unit root.
A análise que se segue aplica ao caso brasileiro um conjunto de princípios teóricos que
se inscrevem numa tradição do pensamento econômico tributária de KEYNES, KALECKI e
KALDOR. Os modelos derivados dessas contribuições são normalmente conhecidos como
pertencentes à abordagem estruturalista., um rótulo que na realidade pode abrigar diversos
tipos de análise e concepções teóricas que se afastam da visão neoclássica e de suas variantes
contemporâneas.
determinadas segundo um padrão único e universal. Elas formam um certo regime que
depende dos mecanismos de coordenação institucional entre investimento, produtividade do
trabalho e salários. E é por isso que, para a Teoria da Regulação, a análise das relações
monetárias e financeiras dos determinantes do crescimento econômico devem ser
complementadas com uma investigação da configuração vigente da WLN ou rapport salarial.
Em ARONOVICH (1991) pode ser encontrada uma síntese das hipóteses mobilizadas
pelas abordagens neo-estruturalistas. A Figura 49, a seguir, reproduz o diagrama estilizado,
proposto por esse autor, para representar os ajustes macroeconômicos que podem ser
apreendidos a partir desses modelos.
b) a economia é considerada fechada e sem governo. Uma hipótese que deve ser
removida em uma época marcada pela globalização e pelas transformações
das relações Estado-economia;
OFERTA DE
Taxa de acumulação POUPANÇA
de capital ( g )
g2 II
DEMANDA DE
INVESTIMENTO
I
g1
u
u1
r
Salário médio
real ( wr )
w
p
e) os preços são formados por uma regra de mark-up sobre os salários. Mais
amplamente o mark-up incidiria sobre os custos totais de produção, mas com
uma economia oligopolizada e uma WLN concorrencial, o nível de emprego
passa a ser a principal forma de ajuste aos movimentos conjunturais;
f) o mark-up planejado é igual ao mark-up realizado de tal forma que possa ser
estabelecida uma relação única entre esta variável e a taxa de lucro calculada
sobre o estoque de capital fixo (produtivo).
352
Esta hipótese não se adequaria aos sistemas de pagamento derivados dos métodos japoneses de gestão ou do
tipo économie du partage à la Weitzman. Nesses casos, os salários nominais poderiam variar em função do
faturamento das empresas.
546
b) a sensibilidade da taxa de acumulação à taxa de lucro bruto (gr) exerce um papel ativo
e varia com as mudanças de expectativas no processo de acumulação de capital; e
S sr . s w .W (34)
353
Pode ser útil relembrar a definição proposta por BOYER [1986, p. 54-55], em que um modo de regulação
refere-se a todo conjunto de procedimentos e de comportamentos, individuais e coletivos com as seguintes
propriedades: reproduzir as relações sociais fundamentais através da conjunção de formas institucionais
historicamente determinadas; sustentar e pilotar o regime de acumulação existente; assegurar a
compatibilidade dinâmica de um conjunto de decisões descentralizadas, sem que seja necessário a interiorização
dos princípios de ajustamento do conjunto do sistema por parte dos atores econômicos.
547
onde s w
taxa de poupança proveniente dos salários; W = massa salarial; s r taxa de
poupança proveniente dos lucros; e massa de lucros, pode-se chegar aos determinantes
fundamentais do investimento. Conforme a hipótese kadoriana, s s
r w
, refletindo as
diferentes propensões a consumir das duas classes básicas de uma economia capitalista.
Uma função excesso de demanda agregada (ED) é obtida a partir das funções
investimento e poupança. Normalizando-se ED pelo estoque de capital nominal, pk.K, tem-
se354:
I ( p y .S G T NEX )
ED (35)
K p k .K
(G T NEX )
ED g 0 g r .r g u .u ( s w.W s r . ).( p y / p k .K )
p k .K
(G T NEX )
ED g0 g r . .u. . p g u .u s w.(1 )u. . p s r .u. . p (36)
p k .K
( NEX / p .K )
ED (sr s g ). u.
w r
.p + k
(37)
ED u g. r
. .p g u s w
(1 ) .p s r
. .p (38)
354
Como observa ARONOVICH (1991, p. 16), o artifício de expressar as variáveis em termos do valor do
estoque de capital fixo tem o objetivo de enfatizar a determinação das taxas de crescimento e de lucro ao invés
de níveis de investimento e de pagamentos ao fator capital.
548
0.5
1.2
0.0
0.8 -0.5
0.00
-1.0
0.4 0.05
0.0 0.10
0.15
-0.4 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00
55 60 65 70 75 80 85 90 95 00
One-Step Probability Recursive Residuals
CUSUM of Squares 5% Significance
355
Considerou-se que a segunda equação co-integrante teria apenas um sentido algébrico e não econômico, pois
a poupança proveniente dos lucros seria nula e a massa salarial responderia por toda a poupança agregada, além
de apresentar uma elasticidade superior à unidade.
550
QUADRO 164 VECTOR ERROR CORRECTION MODEL (VECM) FUNÇÃO POUPANÇA (1950-
1980)
Sample(adjusted): 1952 1980
Included observations: 29 after djusting
endpoints
t-statistics in parentheses
Cointegrating Eq: CointEq1
S(-1) 1.000000
(-1) -0.654659
(-6.02576)
W(-1) -0.361566
(-2.93770)
C 0.980798
Error Correction: D(S)
CointEq1 -0.223975
(-3.46975)
D(S(-1)) 1.087157
(8.51302)
D( (-1)) -0.093268
(-0.96371)
D(W(-1)) 0.099834
(0.72246)
C -0.008377
(-0.57425)
R-squared 0.752597
Adj. R-squared 0.711363
Sum sq. resids 0.011748
S.E. equation 0.022125
Log likelihood 72.11514
Akaike AIC -4.628631
Schwarz SC -4.392890
Mean dependent 0.069769
S.D. dependent 0.041182
0.1
10
1.2
0.0
5
-0.1
0.8
0.00
0 -0.2
0.4 0.05
-5
0.0 0.10
-10
0.15
-15 -0.4 88 90 92 94 96 98 00 02
88 90 92 94 96 98 00 02 88 90 92 94 96 98 00 02
One-Step Probability Recursive Residuals
CUSUM 5% Signific anc e CUSUM of Squares 5% Significance
Included observations: 15
t-statistics in parentheses
Cointegrating Eq: CointEq1
I / K (-1) 1.000000
r (-2) -0.437684
(-9.11168)
u (-2) -0.341385
(-9.55478)
C 0.325960
(13.7352)
Error Correction: D(IK)
CointEq1 -1.025584
(-2.22026)
D(r(-2)) -0.276811
(-0.60500)
D(u(-2)) 0.298411
(1.00301)
R-squared 0.417654
Adj. R-squared 0.258832
Sum sq. resids 0.001578
S.E. equation 0.011977
Log likelihood 47.41404
Akaike AIC -5.788539
Schwarz SC -5.599725
Mean dependent 0.000357
S.D. dependent 0.013912
554
5.8 Uma análise econométrica das relações entre lucro e acumulação de capital
O objetivo dessa análise é testar a dependência da taxa de acumulação de capital com
relação apenas à taxa média de lucro da economia brasileira, considerada o principal
determinante de longo prazo da dinâmica da acumulação e do crescimento econômico356.
356
A idéia é que a taxa de utilização da capacidade produtiva instalada é um determinante principalmente da
dinâmica de curto prazo, captando as flutuações da demanda efetiva em suas influências sobre o investimento, de
acordo com uma perspectiva keynesiana. Tanto que o teste de Johansem para a taxa de lucro e a taxa de
utilização da capacidade não rejeita a hipótese nula de ausência de ao menos uma equação co-integrante e este
fato pode ser interpretado como ausência de influência de longo prazo desta segunda variável sobre a primeira.
556
36%
16%
34%
14%
32%
30% 12%
28%
10%
26%
24% 8%
22%
6%
20%
4%
18%
16% 2%
1960 1964 1968 1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000
1962 1966 1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002
Após a confirmação da existência de raiz unitária nas séries em questão (Quadro 173),
o teste de JOHANSEN detectou uma relação de co-integração e portanto, existe uma relação
de longo prazo entre lucro e acumulação de capital na economia brasileira (Quadro 174). Esta
relação está de acordo com a teoria econômica marxista e com os trabalhos de KALDOR e de
KALECKI.
557
QUADRO 176 TESTE DE RAIZ UNITÁRIA SOBRE OS RESÍDUOS E GRÁFICO DOS VALORES
REAIS E PREVISTOS (1966-1993)
0.20
0.15
0.02 0.10
0.01 0.05
0.00 0.00
-0.01
-0.02
70 75 80 85 90
R(-1) -0.747899
(-24.6403)
C 0.098035
Error Correction: D(IKPR)
CointEq1 -0.839562
(-4.26743)
D(IKPR(-1)) -0.069046
(-0.31927)
D(R(-1)) -0.025457
(-0.15599)
C -0.002093
(-1.28907)
R-squared 0.507266
Adj. R-squared 0.445674
Sum sq. resids 0.001588
S.E. equation 0.008134
Log likelihood 97.15433
Akaike AIC -6.653881
Schwarz SC -6.463566
Mean dependent -0.001871
S.D. dependent 0.010925
Conforme GRANGER se duas séries são co-integradas então deve existir ao menos
uma relação de causalidade unilateral. O teste de causalidade no Quadro 182 confirma que as
variações na taxa de lucro precedem as variações na taxa de acumulação, o que implica que a
taxa de lucro causa-Granger a acumulação de capital, no período [1966-1993].
Pela Tabela 40, pode-se constatar que um dos resultados diretos desse processo de
transformação das estruturas que suportavam o modo de regulação foi a queda da wage-share
nos anos 90 e, consequentemente, a expansão da profit-share a uma taxa média de 2,5% a.a.
entre 1993 e 1999. Esta evolução foi conseqüência da recuperação dos ganhos de
produtividade do trabalho (2,2% a.a) com concomitante queda do salário médio real (-0,6%
p y
a.a.). Houve também uma recuperação dos preços relativos numa média de 1,4% a.a. no
p k
mesmo período. Essas mudanças resultaram num crescimento médio da taxa de lucro bruto da
economia brasileira de 5% a.a. entre 1993 e 1999; e de 2% a.a. entre 1999 e 2002.
357
Jean-François VIDAL em Regimes de croissances post-fordistes: comparaison des États-Unis, du Japon et de
la France. Forum de la Régulation, 9/10 octobre, 2003, Paris. A expressão trajetória marxiana para designar o
tipo de crescimento desequilibrado associado à alta dos coeficientes de capital é devida a DUMENIL e LÉVY
(2000; 2003).
561
8% 0,58
6% 0,56
4% 0,54
2% 0,52
0% 0,50
-2% 0,48
-4% 0,46
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Séries calculadas a partir dos dados sobre nível geral de emprego (N) obtidas em MARQUETTI (2003)
e IBGE.
NOTA: Os ciclos da produtividade foram obtidos através do filtro 4253H que elimina as flutuações de curto
prazo nas séries em questão.
Pelo Gráfico 126 pode ser observado que em inícios dos anos 50, os ganhos de
produtividade tendencial permaneceram positivos mas em declínio até 1956, enquanto o
salário médio real expandiu-se de modo acelerado. Isto explica a redução da profit share que
antecede o período de implementação do Plano de Metas (1955-1961). Mas a partir de 1956,
os ganhos de produtividade crescem, mas os salários reais caem e então a participação dos
lucros no produto volta a crescer. O Gráfico 127 mostra a evolução da wage share líquida de
impostos diretos, onde se pode constatar que em 2003, a participação dos salários no PIB
atinge seu nível mais baixo desde 1950.
desenvolvida por Sônia MENDONÇA (1977), para quem um dos pontos fracos, do ponto de
vista social e econômico, do modelo implantado neste período, fora justamente a não
participação dos trabalhadores nos ganhos de produtividade. Aliás, um padrão que se repetiria
de maneira mais dramática sob o regime político arbitrário pós-1964.
54%
52%
50%
48%
46%
44%
42%
40%
38%
36%
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Metodologia de construção das sérires constantes do anexo.
NOTA: W é a massa salarial real e Td representa a tributação direta.
Na segunda metade da década de 90, observa-se um novo padrão de evolução e então
a questão analiticamente pertinente refere-se aos fatores que possibilitaram a economia
brasileira sair da trajetória marxiana de queda tendencial da taxa geral de lucro. Em
primeiro lugar, um fato já suficientemente decantado na literatura econômica sobre a
economia brasileira pós-Plano Real. A estabilidade de preços, ou seja, a superação da alta
inflação, restabelecendo condições mais propícias para a retomada do investimento, incluindo
a redução dos preços dos bens de capital, já mencionada mais acima.
se negativa, mas como no mesmo período a queda do salário médio real foi maior, a profit
share seguiu em tendência de expansão até 2003.358
358
Deve-se atentar para o fato de que no Gráfico 2 estão plotadas as séries da produtividade do trabalho e do
salário médio real em termos tendenciais, estimados pelo filtro 4253H. Portanto, não se trata dos dados
constantes da Tabela 5, onde aparecem as séries originais sem o filtro.
565
uma redução do déficit na balança comercial ou elevação do superávit, pois NEX equivale às
exportações menos as importações de bens e serviços.
Os testes revelaram que os coeficientes da equação são estáveis para o período [1950-
1980]. Mas o teste ADF rejeitou a hipótese nula de presença de uma raiz unitária nas séries
NEX e e, que são portanto, I(0) descartando a possibilidade de co-integração entre as variáveis
da função exportações líquidas (Quadro 180 e Figura 53). A estratégia foi então estimar a
função em taxas de variação para captar a dinâmica de curto prazo (Quadro 181 e 182).
0.02
10
1.2
0.00
5 -0.02
0.8
0.00
0 -0.04
0.4 0.05
-5
0.10
0.0
-10
0.15
-15 -0.4 56 58 60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 80
56 58 60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 80 56 58 60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 80
N-Step Probability Recursive Residuals
CUSUM 5% Signific anc e CUSUM of Squares 5% Significance
PIB
7500
5000 IqM
Escala log: 1901=100
IqX
2500
750
500
250
75
1901
1904
1907
1910
1913
1916
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
FONTE: Dados da Funcex obtidos no IPEADATA.
20%
10%
0%
-10%
-20%
-30%
1901
1904
1907
1910
1913
1916
1919
1922
1925
1928
1931
1934
1937
1940
1943
1946
1949
1952
1955
1958
1961
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
FONTE: Dados da Funcex obtidos no IPEADATA.
NOTA: Séries filtradas pelo filtro 4253H para se eliminar as flutuações de curto prazo.
Os fatos estilizados descritos nos parágrafos imediatamente anteriores, tornam-se mais
explícitos quando se observam o comportamento das taxas de crescimento tendencial das
variáveis em questão (Gráfico 129). Esta forma de abordagem permite uma visualização da
dinâmica cíclica das exportações, importações e PIB. Até o término da 2ª Guerra Mundial, o
padrão de evolução é pró-cíclico. Até a crise dos anos 30, o PIB é puxado pelas exportações
que ao permitirem acúmulos periódicos de divisas em função do aumento da demanda
externa, provocam a expansão das importações nas fases subseqüentes. A dinâmica da
economia brasileira, ainda de base primário-exportadora, é muito dependente das oscilações e
dos ciclos econômicos da economia mundial.
Destaca-se o fato de que o boom das importações nos anos 90 não tem precedentes
históricos. Seja pela magnitude das taxas de expansão seja pelo comportamento do PIB em
um crescimento médio muito reduzido e com o crescimento das exportações em tendência de
queda. Apenas a partir da desvalorização cambial de 1999 é que se pode observar a aceleração
569
Este fato pode ser comprovado pelo exame das respectivas elasticidades das funções
estimadas através do modelo especificado acima. As Tabelas 41, 42 e 43 resumem os
resultados das estimações precedentes:
Variável
dependente: S 1
S s s. 0 r s w
.W
Período s s s 2
0 r w R
[1950-1980] 0,98 0,65 0,36 0,75
(6,03) (2,94)
[1984-2003]2 -0,01 0,60 0,69 0,54
(3,99) (3,22)
1
Da mesma forma como em UEMURA (2000), incluiu-se uma constante s0 na função poupança para absorver
os efeitos dos distúrbios estatísticos provocados pela tributação direta e indireta, bem como pelos pagamentos de
transferências do Governo sobre o nível da poupança.
2
Estimação em primeiras diferenças.
Variável I
I K
g g .r
0 r 1 g .u u 1
dependente:
K
Período g g g 2
0 r u R
[1966-1980] 0,33 0,44 0,34 0,42
(13,74) (9,11) (9,55)
[1984-2003]1 -0,02 0,57 2,50 0,73
(1,94) (3,46)
1
Estimação em primeiras diferenças.
570
Variável
dependente: NEX K 0
. 1 u
.u 1 e
.e 1
NEX K
Período 2
0 r u e R
[1950-1980] n.s
ED ( NEX / p .K )
ED ( sr s g ). u.
w r
.p + k
ED (sr s g ). u.
w r
. p . E como u. . p 0 , o sinal é dado por (sr s g)
w r
=
Isto implica que uma expansão da profit share leva a um aumento do excesso de
demanda agregada, em razão da alta sensibilidade do investimento à taxa de lucro.
Consequentemente, o padrão de crescimento econômico entre 1966 e 1980 foi do tipo profit-
led growth, no sentido de que um aumento da participação dos lucros no produto conduz a
um aumento da taxa de acumulação de capital. Este período inclui a fase correspondente ao
milagre econômico brasileiro (1967-1973), tradicionalmente considerado pelas análises do
desenvolvimento econômico brasileiro como um modelo de crescimento baseado em alta taxa
de lucro e endividamento externo.359
Os valores dos parâmetros para o modelo de curto prazo no segundo período, [1984-
2003], conduzem a um valor igualmente positivo para ED . Considerando-se que tanto
359
Para a economia japonesa, no período [1963-1971], UEMURA (2000) encontrou também um padrão profit
led growth, com o valor de 0,14 para a elasticidade-taxa de lucro do investimento.
571
( NEX / p .K )
1
k
quanto g r
não se revelaram estatisticamente significativos, tem-se
que o sinal de ED é 0,60 0,69 0,09 0 . Isto implica em uma baixa sensibilidade da
O exame dos Gráficos 126 e 127 reforça este resultado econométrico, pois mostra
precisamente, que a partir de 1994, as trajetórias de evolução da taxa de lucro e da taxa de
acumulação são divergentes. O aumento da taxa de lucro não implica em expansão dos
investimentos. A profit share expande-se, mas a taxa de acumulação de capital, pouco
sensível à taxa de lucro, permanece em uma tendência de declínio.
Todavia, os anos 80 e 90 são períodos singulares pelos padrões de evolução
macroeconômica e pelo comportamento do setor financeiro diante das transformações
estruturais que caracterizam a última década. Neste contexto, o modelo de BOWLES-BOYER
precisa ser modificado para incluir explicitamente os determinantes financeiros sobre a
572
acumulação de capital no Brasil, objeto principal da última seção. Antes porém, uma análise
da influência da poupança sobre a taxa de acumulação de capital faz-se necessária.
A análise que se segue parte das contribuições de BACHA e BONELLI (2004)360, que
proporcionam uma abordagem empírica do crescimento econômico brasileiro, baseada em
princípios teóricos e metodológicos compatíveis com os mobilizados neste trabalho. Mais
precisamente, os autores utilizam uma análise em termos dos determinantes da taxa de
acumulação de capital, enquanto principal fator do crescimento econômico, em uma
perspectiva claramente neo-estruturalista. Consequentemente, diversos momentos da
abordagem que desenvolvem podem ser recuperados numa análise em termos de modo de
regulação e de regime de crescimento.
360
BACHA e BONELLI (2004), Accounting for Brazil s Growth Experience 1940-2002 , Texto para
discussão nº 1018. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA, Rio de Janeiro, maio de 2004.
573
25%
20%
15%
10%
5%
0%
-5%
1951
1947
1949
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
BACHA e BONELLI (2004) observaram que o comportamento da poupança total não
explica a baixa da taxa de acumulação de capital nas décadas de 80 e 90. De fato, o exame dos
coeficientes estimados da função poupança no período [1984-2003], constantes da Tabela 41,
mostrou que as taxas de poupança provenientes dos lucros e dos salários permaneceram
elevadas, mas sem impactos significativos sobre a taxa de acumulação. A principal explicação
reside na baixa elasticidade da demanda agregada às variações da profit share, neste período,
e que, por sua vez, reflete a perda de sensibilidade do investimento à taxa média de lucro.
p
( p k
)361, pela taxa de utilização da capacidade produtiva instalada ( u ) e pela razão
i
p y
I
K K
(1)
ou seja, a taxa de acumulação é o produto da taxa de investimento pela razão produto / capital.
I p K
.I p y S p y
. = . (3)
Y p Y
.Y p k
p y
.Y p k
1
isto significa que s . Esta terceira igualdade é uma decorrência das definições de taxa
p i
Y
A razão produto /capital pode ser escrita como o produto da taxa de utilização
K
da capacidade u pela razão produto / capital em uso :
Y Y
u. u. (4)
K u.K
361
Para que seja preservada a coerência com as variáveis definidas na seção sobre os determinantes da taxa de
lucro, utilizou-se o símbolo p i
para significar os preços relativos do investimento. Consequentemente,
1
K = s. p .u. (5) ou, o que é equivalente, g s. p.u (6)
i
A relevância macroeconômica da relação (6) é que ela mostra que o impacto da taxa
de poupança sobre a taxa de acumulação não é imediato, pois depende do comportamento da
razão entre os preços do produto e o preço dos bens de investimento p , da taxa de utilização
da capacidade produtiva instalada u e da razão produto / capital em uso, .
g b
, o efeito da depreciação pode ser abstraído, de maneira que a Tabela 1 exibe apenas as
variáveis da relação g b
g s. p.u
que, aproximadamente, g b = s + p +u + .
576
Turning points
da taxa
acumulação
de g b
(%) g s p u
1947 14,56 10,2 3,37 7,21 0,65 -1,05
NOTA: O estoque de capital fixo utilizado refere-se apenas ao estoque produtivo, ou seja, máquinas e
equipamentos mais construções não residenciais. Isto responde também pelas diferenças nos valores de
encontrados nesta análise e os calculados por BACHA e BONELLI que utilizaram o estoque de capital total.
Nos anos de 1985 e 1986, a taxa de acumulação expande-se rapidamente, puxada com
um crescimento médio de 7% na taxa de poupança, 4% na razão preços do produto / preços
dos bens de investimento e de 3,6% no grau de utilização da capacidade. Basicamente este
resultado reflete o efeito-renda provocado pelo Plano Cruzado, instituído em 1986. Mas esse
resultado também reflete a base de comparação muito baixa do turning point anterior.
577
16%
12%
gb= I/K
8%
4%
1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002
2% 0,50
1941
1943
1945
1947
1949
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
1951
evoluem de forma ainda mais próxima. A correlação da taxa de acumulação com a taxa de
poupança total mostrou-se muito reduzida e negativa.
Para que o efeito de escala não prejudicasse a visualização das dinâmicas das séries, as
outras duas componentes, e u , foram plotadas separadamente no Gráfico 133. Isto permite
uma melhor compreensão do modo como influenciaram a acumulação. Este gráfico destaca
ainda o patamar médio em que se encontrava o grau de utilização da capacidade produtiva no
período [1941-1980] e entre 1981 e 2003. Observa-se uma redução média de 4% no nível de
utilização da capacidade, que persiste ao longo dos anos 80 e 90. Destaca-se também a
tendência de declínio da razão produto / capital em uso desde 1941.
100% 0,6
98%
0,6
96%
0,5
94%
0,5
92%
0,4
90%
0,4
88%
86% 0,3
84% 0,3
1945
1941
1943
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
Y g u p s
1.000000
Y
g 0.601665 1.000000
NOTA: Diferentemente de BACHA e BONELLI (2004), a variável p é definida inversamente, ou seja, como a
p y
razão entre os preços do produto e os preços dos bens de capital p .
p k
[1941-2003]. Em segundo lugar está a correlação com a razão p (0,55), seguida da correlação
com a razão produto / capital em uso (0,38). Conforme observaram BACHA e BONELLI
(2004, p. 4), não há uma correlação estatisticamente significativa entre o crescimento do
estoque de capital (g) e a taxa de poupança total (s) quando se considera o período completo
de análise (Quadro 183)362.
A razão para este fato está na ocorrência de mudanças estruturais em inícios dos anos
80, que podem ser confirmadas estatisticamente pelos testes de estabilidade (Figura 54). Para
identificar os períodos de quebra estrutural, foi estimada uma equação em nível e em seguida
foram aplicados os testes de estabilidade do CUSUM e o one-step probability.
362
Rigorosamente, isto implica na inexistência de uma relação linear.
581
1.2 0.05
20
1.0 0.00
0.8 -0.05
0
0.00
0.6 -0.10
0.2 0.10
-40
0.0
0.15
-60 -0.2 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00
45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00
One-Step Probability Recursive Residuals
CUSUM 5% Signific anc e CUSUM of Squares 5% Significance
Destaca-se também neste período a forte correlação entre g e u que atinge o valor de
0,92 (Tabela 46).
Y g u p s
1.000000
Y
g 0.379188 1.000000
363
Foi este o método utilizado por BACHA e BONELLI (2004).
582
Y g u p s
1.000000
Y
g 0.495428 1.000000
O último período refere-se à fase de abertura econômica sob vigência do Real [1994-
2003]. A taxa de acumulação de capital (g) permanece altamente correlacionada com a taxa
de utilização da capacidade u (0,83), assim como a taxa de poupança s (0,73) e a razão p
(0,62). Mas um outro destaque com relação aos períodos precedentes refere-se à correlação
entre g e que se tornou negativa e com um valor de -0,52. Este fato pode ser explicado
pelas sucessivas quedas do produto induzidas por um regime monetário-financeiro à elevada
restrição, combinado com uma rápida elevação da intensidade do capital ( K / N) entre 1994-
1998. Neste período u, , p e s apresentam os mais elevados coeficientes de correlação com a
taxa de acumulação g (Tabela 48).
Y g u p s
1.000000
Y
g 0.342252 1.000000
Do mesmo modo que em PINHEIRO (2003), estes autores observam que é preciso
considerar os impactos da elevação do preço relativo do investimento como um importante
fator de explicação da queda da taxa de acumulação de capital e do crescimento econômico
nos últimos 24 anos364. Em primeiro lugar, o comportamento dos preços relativos dos bens de
investimento é atípico (Gráfico 134). A série cresce rapidamente nos anos 50, declina entre
1962-1977, para em seguida entrar em uma trajetória de expansão acelerada. A questão
teórica e empiricamente relevante é que este fato estilizado seria uma anomalia específica da
economia brasileira. Nas palavras dos próprios autores:
iii. um nível mais elevado de demanda por bens duráveis como proteção contra a alta
inflação e o risco de default financeiro;
364
Segundo PINHEIRO (2003, p.17), (...) consistentemente com o observado para o Brasil, diversos trabalhos
mostram que as diferenças entre países nas taxas de acumulação de capital resultam muito mais de diferenças no
preço dos bens de capital, em relação ao preço dos bens de consumo, do que de diferenças nas taxas de
poupança.
584
Uma questão básica neste contexto refere-se à constatação de que a elevação dos
preços relativos do investimento processou-se na economia brasileira com concomitante
queda da produtividade do capital e, em conseqüência, queda da profit share. Em seus
comentários acerca dos primeiros resultados da presente análise, BOYER (2004) observa que:
Le grafique 133 montre que la principale raison de la chute du profit est que
la productivité du capital baisse dramatiquement, plus vite que n augmente la
part des profits. Cela appellerait une analyse plus poussée. A nouveau cela
suggere le passage d un modèle productif a un autre »365
Na seção sobre os determinantes da taxa de lucro, a Tabela 38 mostrou que esta
variável-chave do processo de acumulação permaneceu em queda na maioria dos períodos
identificados. As exceções correspondem ao período do milagre (1967-1973 e entre 1993 e
2002). Por exemplo, no período [1974-1983], a produtividade do capital caiu a uma taxa
média de 3,7% a. e a taxa de lucro reduziu-se em 4,7% a.a.
Segundo Pascal PETIT (2002)366, apesar do declínio da razão produto/ capital ser uma
tendência da economia mundial, a queda no caso brasileiro é particularmente acentuada.
BACHA e BONELLI (2004) também constatam este fato estilizado da economia brasileira na
segunda metade do século XX. Segundo os autores, the productivity of capital decreased in
most countries, as we have seen, albeit not as much as in Brazil; peculiar to Brazil is the
association of this decline with a sharp rise in the price of investment goods.
365
Segundo Pascal PETIT, CEPREMAP (2002), apesar do declínio da razão produto/ capital ser uma tendência
da economia mundial, a queda no caso brasileiro é particularmente acentuada. BACHA e BONELLI (2004)
também constatam este fato estilizado da economia brasileira na segunda metade do século XX. Segundo os
autores, the productivity of capital decreased in most countries, as we have seen, albeit not as much as in
Brazil; peculiar to Brazil is the association of this decline with a sharp rise in the price of investment goods.
366
Durante os Seminários URA 922, CEPREMAP-Paris, apresentação de BRUNO (2002), Rapport salarial et
régime monétaire au Brésil - émergence, évolution et perspectives d une construction inachevée.
367
Conforme A. FEU (2001), em A Evolução da Razão Capital/Produto no Brasil e nos Países da OCDE.
Economia & Energia. Nº 28, setembro-outubro 2001, as razões capital/produto dos países membros da OCDE,
bem como para o Brasil, mostraram tendência positiva. A relação inversa entre o nível inicial e o crescimento da
razão, sugere um comportamento convergente que se daria em torno do nível médio de 3. Notamos, ainda, um
585
1,6
1,4
1,2
1,0
Média internacional da razãop i
0,8
0,6
1950
1954
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
1952
1956
arrefecimento da tendência crescente a partir da década de 80 na maioria dos países e uma maior queda da razão
após a recessão de 1992, coincidindo, com a aceleração do crescimento do produto.
586
NOTA: A média internacional da razão pi foi calculada a partir dos dados constantes da Penn World Table
(PWT) versão 6.1.
Para BACHA e BONELLI (2004), três hipóteses poderiam ser mobilizadas para
explicar a queda da razão produto / capital em uso ( ), conforme pode ser observada no
Gráfico 135:
i. o declínio da razão produto-capital pode ser considerado um resultado
esperado da transição de uma economia de base agrícola para uma economia
industrial. Mas a tendência de queda pode ter sido aprofundada pelas
características particulares do processo brasileiro de industrialização por
substituição de importações;
ii. o comportamento da razão Y/K no Brasil pode estar simplesmente refletindo
uma tendência mundial;
iii. nos quadros do modelo de Solow-Swan, a razão Y/K não é um dado
tecnológico e pode declinar porque estaria convergindo para um valor mais
baixo de estado estacionário, compatível com um aumento persistente da
taxa de poupança.
Relação Y / K (L)
Relação Y / (u.K) (L)
Profit-share (R)
0,90 0,60
0,80 0,58
0,56
0,70
0,54
0,60
0,52
0,50
0,50
0,40 0,48
0,30 0,46
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
42 40
47
1,00 48
49
0,90
50
51
0,80
52
53
55 54
0,70 5756
5961
58
60 62
65 64 63
6667
0,60 686972
73 71
74 70
75
76
77 78
8079
0,50 86858182 02 03
84
83 9987
9196
97
98 0
00 192 94
90
95 93 88 89
0,40
0,60 1,00 1,40 1,80
Preço relativo do investimento = p K / p Y
368
G. STIGLER e R. SHERWIN, The Extent of the Market . Journal of Law and Economics, 28, 1985, 555-
585
588
outro. Contudo, visto que a maioria dos preços e séries econômicas apresentam movimentos
tendenciais ao longo do tempo, STIGLER e SHERWIN pretendem precaver-se quanto à
possibilidade de correlações espúrias. Para contornar esse problema, os autores além de
correlacionarem os níveis dos preços, eles correlacionam também as flutuações dos preços.
Um dos exemplos utilizados por esses pesquisadores, mostrou que os preços mensais de
venda de uma indústria alimentícia, no período 1971-981, conduziram a correlações de 0,97
para os níveis e de 0,92 para as primeiras diferenças. Consequentemente, a correlação entre as
primeiras diferenças reforça fortemente a correlação entre as variáveis e suportam a tese de
existência de uma ligação entre elas.
[1952 -1963]
1ªs
Níveis p i Diferenças p i
1 -0.769510 1 0.008598
p i
-0.769510 1 p i 0.008598 1
[1966-1980]
1ªs
Níveis p i Diferenças p i
1 -0.7644 1 -0.0997
p i
-0.7644 1 p i
-0.0997 1
[1984-1993]
1ªs
Níveis p i Diferenças p i
1 -0.490832 1 0.0580
p i
-0.490832 1 p i
0.0580 1
[1994-2003]
1ªs
Níveis p i Diferenças p i
1 0.378023 1 0.188883
p i
0.378023 1 p i
0.188883 1
A conclusão que se pode extrair com base nos resultados das correlações acima é que
as correlações em primeiras diferenças não reforçam as correlações em níveis. Isto significa a
589
coeficiente é agora positivo e se trata de um período onde a relação produto / capital parou de
cair e se estabilizou (Gráfico 134).
[1974-1993]
1ªs
Níveis p i Diferenças p i
1 -0.804260 1 -0.054460
p i
-0.804260 1 p i
-0.054460 1
Uma alternativa seria considerar a possibilidade de uma relação de longo prazo entre
e p,i
dada por uma equação de co-integração, pois se ela existir, de acordo com
GRANGER, deve haver no mínimo um vínculo causal unidirecional. Contudo, apesar do teste
de JOHANSEN mostrar a existência de uma equação de co-integração, a elasticidade de
longo prazo é muito fraca (-0,09) e desafia a existência de uma influência economicamente
relevante da elevação dos preços dos bens de investimento como explicação para a queda da
razão produto/capital em uso (Quadro 186). O teste de causalidade de GRANGER reforça
ainda esse resultado pois não detecta nenhuma precedência temporal de uma variável sobre
outra (Quadro187).
Um novo teste pode, no entanto, se proposto como uma alternativa para se verificar os
impactos da elevação do custo dos bens de capital sobre as decisões de investimento e
acumulação de capital. Tomando-se as séries taxa de acumulação produtiva de capital
(excluídas as construções residenciais) e os preços relativos dos bens de capital pode-se
investigar se há uma relação de longo prazo conectando a evolução dessas variáveis, segundo
a equação 46. Os resultados encontram-se no Quadro 188.
I
0 1
.LPK (46)
K
591
0.4 0.05
-10
0.10
0.0
-20
0.15
-30 -0.4 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00
55 60 65 70 75 80 85 90 95 00 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00
N-Step Probability Recursive Residuals
CUSUM 5% Signific anc e CUSUM of Squares 5% Significance
0.06 0.06
0
0.04 0.04
0.02 0.02
0.00 0.00 -1
-0.02 -0.02
-0.04 -0.04
0.00 0.00
-0.06 -0.06 -2
0.05 0.05
0.10 0.10 -3
0.15 0.15
55 60 65 70 75 80 85 90 95 00 55 60 65 70 75 80 85 90 95 00 -4
60 65 70 75 80 85 90 95 00
One-Step Probability Recursive Residuals N-Step Probability Recursive Residuals
Recursive C(1) Estimates ± 2 S.E.
0.0
-0.1
-0.2
-0.3
-0.4
-0.5
-0.6
-0.7
60 65 70 75 80 85 90 95 00
Este resultado mostra que há uma relação de longo prazo entre a taxa de acumulação
de capital (I/K) e os preços relativos dos bens de investimento (PK). Todavia, o valor do
coeficiente de PK, embora significativo, não é suficiente para suportar a hipótese de que a
queda da taxa de acumulação de capital na economia brasileira tenha sido provocada
principalmente por uma elevação dos preços dos bens de capital. Além disso, quando se
considera o subperíodo [1981-2003], as duas séries não apresentam raízes unitárias e o
modelo em taxas de variação não apresentou coeficientes estatisticamente significativos.
O aumento do custo dos bens de capital certamente teve influência, mas é preciso
observar-se as transformações no nível das formas institucionais que, entre outras
conseqüências, determinaram o deslocamento do Estado e elevaram o regime monetário-
financeiro à condição de forma institucional hierarquicamente superior. Nestas condições, os
custos financeiros das empresas se elevam significativamente e a alternativa, facilmente
acessível, de aplicações em ativos financeiros de alta liquidez e rentabilidade, vis-à-vis às
inversões reais produtivas, promovem a queda da taxa de acumulação ou a sua manutenção
em patamares muito baixos.
Conforme o procedimento proposto por MELO e RODRIGUES JR. (1998), pode-se utilizar a
taxa de inflação como uma proxy para a instabilidade e incerteza. Os resutados da estimação
de um modelo bivariado em taxas de crescimento são dados pela Tabela 49.
PERÍODOS a b R2 DW
[1966-1980] 0,10 - -
n.s.
(5,12)
[1981-2003] -0,04 0,22 1,37
n.s.
(-2,45)
[1994-2003] -0,04 0,36 2,51
n.s.
(-2,13)
O valor estimado da elasticidade-inflação do investimento estimado por MELO e
RODRIGUES JR. (1998) foi de -0,07, num modelo de co-integração. Mas esses autores
utilizaram como variável dependente o nível de investimento total (que inclui as construções
residenciais) e não realizaram testes de estabilidade estrutural, considerando o valor estimado
como válido para o período completo de estimação.
Uma outra maneira de abordar essa questão é proporcionada por VIDAL (2003).
Y
Segundo este autor regulacionista, a baixa da produtividade do capital pode ser
K
explicada por uma substituição do trabalho por capital que se torna excessiva com relação à
possibilidade de obtenção de ganhos de produtividade do trabalho. Esta conclusão deriva da
equação padrão de produtividade e corresponde a uma idéia de MARX. A taxa de crescimento
594
Y
da produtividade do trabalho pode ser escrita como uma função linear da intensidade do
N
K
capital . Considerando-se esta relação em taxas de variação, tem-se que:
N
Y N a. K -N + (48)
Provavelmente é isto que está por trás da queda mais acentuada da produtividade do
capital, no caso brasileiro, quando comparada às trajetórias de outros países que
experimentaram o mesmo processo. Um valor mais alto para o parâmetro a implica em uma
taxa mais elevada do progresso técnico neutro de HARROD.369 Um fato que pode estar
expressando as particularidades do processo de industrialização brasileira baseado na
substituição de importações, através da implantação de grandes indústrias capital intensivas.
369
O progresso técnico neutro no sentido de HARROD é aquele que mantém o coeficiente de capital (K/Y)
constante.
595
trajectoire marxienne ». Esta última traduz-se por uma tendência de queda persistente da taxa
média de lucro cujo efeito direto é derrubar a taxa de acumulação de capital e então, o
crescimento econômico.
Qual delas a economia brasileira teria feito uso ? A experiência internacional mostra
que essas três soluções não são mutuamente exclusivas ou contraditórias e cada país tende a
adotar uma combinação própria, de acordo com as suas condições estruturais e sócio-
políticas. Todavia, algumas soluções têm sérios inconvenientes por seus impactos negativos
sobre o regime de demanda.370
capital deve ser constante e então Y K = 0. Portanto, a condição para que a produtividade
do capital não caia é equivalente à Y K > 0. Então, por operação algébrica simples chega-
se a uma expressão para o resíduo . Para facilitar a notação serão usadas letras minúsculas
no lugar das letras com pontos, para simbolizar as taxas de variação:
y n ak n
y n k ak n k
y k ak n k n
a 1 k n 0
370
VIDAL chama atenção para os casos dos EUA, Japão e França, onde se pode observar um movimento geral
de alta da razão py / pk, ou seja, uma baixa dos preços relativos dos bens de capital que está ligada ao progresso
técnico realizado nas tecnologias da informação e da comunicação (NTIC).
596
produtividade do capital não caia pode ser expressa como k n , ou seja, o ritmo de
1 a
substituição do trabalho por capital deve ser menor ou igual ao ritmo de progresso técnico
neutro harrodiano (PTN). Por outro lado, PTN depende de , a taxa de crescimento da
produtividade global dos fatores. Se a substituição do trabalho pelo capital for muito rápida,
em razão por exemplo da inércia do crescimento do estoque de capital fixo, a produtividade
do capital irá baixar. Para a economia brasileira, a estabilização da produtividade do capital
Y
, nos anos 90, coincide com a quase estagnação da taxa de crescimento do estoque de
K
capital.
Y Y K
Y PTN
N K N
[1951-1963] 6,92% 4,22% -2,52% 7,00% 0,21%
sentido de HARROD atingiu a média anual de 3%. Pode-se constatar que a produtividade do
capital caiu nesses dois períodos conforme previsto pela relação (1), pois a taxa de
crescimento de K/N foi superior à taxa PTN. Apenas nos dois últimos períodos [1984-1993] e
[1994-2003] quando o ritmo de substituição do trabalho pelo capital foi menor do que a taxa
PTN é que se pode observar a recuperação da taxa média de crescimento da produtividade do
capital (Y/N).
O Gráfico 137 exibe a evolução das taxas de crescimento da intensidade do capital (ou
o ritmo de substituição do trabalho pelo capital) para a economia brasileira. A partir de 1975,
como um dos desdobramentos da crise do regime de acumulação do milagre , o crescimento
K
da razão desacelera-se rapidamente, até estagnar-se nos anos 80. Essa desaceleração
N
significa redução do crescimento do estoque de capital, conduzindo, endogenamente, a um
regime de acumulação extensiva, onde a produtividade do capital se estabiliza.
(k-n)_real
(k-n)_tendencial
16,00%
14,00%
12,00%
10,00%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
-2,00%
-4,00%
-6,00%
1951 1959 1967 1975 1983 1991 1999
1955 1963 1971 1979 1987 1995 2003
FONTE: Dados originais do IBGE e MARQUETTI (2000), para o nível de emprego; MORANDI (2003) e
IPEADATA, para o estoque de capital fixo.
NOTA: k e n são, respectivamente, as taxas de crescimento do estoque de capital fixo K e do nível geral de
emprego N.
598
(y-n)_real
(y-n)_tendencial
12,00%
10,00%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
-2,00%
-4,00%
-6,00%
-8,00%
1951 1959 1967 1975 1983 1991 1999
1955 1963 1971 1979 1987 1995 2003
FONTE: Dados originais do IBGE e MARQUETTI (2000), para o nível de emprego; IPEADATA, para o PIB.
371
VIDAL observa que como a redução da eficiência do investimento acompanhou a queda da eficiência do
capital, não se pode atribuir esta última a problemas relacionados à construção das séries do estoque de capital.
599
Y
GRÁFICO 139 EFICIÊNCIA DO INVESTIMENTO NA ECONOMIA BRASILEIRA (1944-
I
2000)
dY / I
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
1944 1952 1960 1968 1976 1984 1992 2000
1948 1956 1964 1972 1980 1988 1996
A baixa dos preços relativos dos bens de investimento abre a possibilidade para uma
intensificação da acumulação, pois ela permite elevar a produtividade do capital em volume.
Em conseqüência, o ritmo de substituição do trabalho pelo capital pode ser mais elevado do
que o progresso técnico no sentido de HARROD e sem que a taxa de lucro caia. É exatamente
este argumento que VIDAL (2003, p. 17) mobiliza para explicar a aceleração dos ganhos de
produtividade nos EUA ao longo dos anos 90. A recuperação dos ganhos de produtividade é
uma decorrência da passagem para um novo regime de acumulação intensiva, baseado nas
novas tecnologias da informação e da comunicação e na redução dos preços dos bens de
capital.
600
K/N(L)
Y/N(R)
3,7 2,9
2,9
3,7
2,8
3,7 2,8
2,8
3,7
2,8
3,7 2,8
2,7
3,6
2,7
3,6 2,7
2,7
3,6
2,7
3,6 2,6
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002
FONTE: Dados originais do IBGE e MARQUETTI (2000), para o nível de emprego; MORANDI (2003) e
IPEADATA, para o estoque de capital fixo.
NOTA: Os valores estão em logaritmos.
O Gráfico 140 mostra que nos anos 90, a produtividade do trabalho (Y/N) cresceu em
decorrência do aumento da intensidade do capital (K/N), ou seja, os ganhos de produtividade
foram obtidos principalmente por substituição de trabalho por capital.
VIDAL (2003) observa que há um consenso na constatação de que a alta das taxas de
juros reais nos anos 80 foi acompanhada por uma baixa da taxa de poupança. Segundo este
autor, este fato estilizado fragiliza a teoria neoclássica em sua expressão mais simples.
372
POCHMANN em recente estudo, Os Ricos no Brasil , observa que há grande dificuldade para se obter
dados sobre o estoque de riquezas das famílias.
601
W a.Y d (49)
O parâmetro (a) representa a razão desejada de riqueza a ser acumulada com relação
ao fluxo de renda corrente.
s
S W
=
W Y d
, o que implica que s a. y , ou seja a taxa de poupança é
Y d Y d Y d Yd
imprevisto dos preços dos ativos, incita as famílias a poupar menos e faz baixar a taxa de
poupança (s) para reencontrar a razão desejada. É este um fato estilizado típico das fases de
financeirização, onde as famílias (e também as empresas do setor produtivo com coeficiente
elevado de financeirização) tendo acesso aos ganhos nos mercados financeiros globalizados
tendem a reduzir a taxa de poupança. 373 AGLIETTA observa que a liberalização financeira
provocou os dois fenômenos, um permanente e outro temporário:
La carence à les distinguer a entraîné les plus grandes ambigüités dans les
diagnostics portés sur l épargne des ménages ».
A variação da riqueza W depende do fluxo de poupança (S) e do comportamento dos
preços dos ativos (PA):
373 AtivosFinanceiros
O coeficiente de financeirização pode ser formulado em termos gerais como a razão
( AtivosTotais )
das famílias e empresas não-financeiras. Para uma indústria, por exemplo, o crescimento desta razão tende a ter
impactos consideráveis sobre as decisões de investimento produtivo e acumulação de capital fixo.
602
W S PA
S W PA
-
Y d Y Y d d
W Y d PA
, mas Y d
é a variação da renda nominal que pode ser
Y d Y d Y d
W
decomposta em variação real e variação de preços. E como a , a taxa de poupança
Y d
S PA
s a. y+ p - .
Y d Y d
c) o terceiro fator que age sobre a taxa de poupança são os ganhos realizados
graças à alta dos preços dos ativos financeiros. Eles têm por efeito reduzir as taxas
de poupança pois permitem aumentar a riqueza sem esforço de poupança (efeito
riqueza).
374
Segundo VIDAL, as séries longas construídas por A. MADDISON (1992) confirmam esta relação entre o
crescimento da renda e a poupança.
603
Dans le nouveau régime d accumulation intensive fondé sur les NTIC, les gains de
productivité globale des facteurs sont surtout localisés dans les secteurs produisnt les
NTIC, et ils contribuent à accroître quelque peu le trend de progrès techique
macroéconomique ; ils entraînant de plus une baisse rapide du prix des biens des
capitaux, qui améliore le taux de profit, et permet de rentabiliser une croissance plus
rapide du stock de capital et du capital par emploi. Les auteurs qui ne prennent pas en
compte le rôle du taux de profit ou du coefficient de capital (inverse de la productivité
du capital) dans la croissance, négligent le fait que la baisse du prix réel des biens des
capitaux diffuse à l ensemble de l économie les gains d efficacité réalisée dans le
secteur produisant les NTIC, par un processus tout à fait traditionnel, la hausse du
taxu d accumulation, qu elle rend moins coûteuse. »
O fato da economia brasileira nos anos 90 ter acessado as novas tecnologias e
processos de gestão, com conseqüentes ganhos substanciais de produtividade, sem conseguir
elevar sua taxa de acumulação de capital é um fato estilizado no sentido kaldoriano e que
precisa ser explicado.
375
Citado por BELLUZZO e ALMEIDA (2002).
376
Citado por BOYER (1998).
604
1954
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
1952
1956
FONTE: Com exceção do estoque de capital estimado por MORANDI (2003), os demais dados foram obtidos no
IPEADATA e originários do IBGE.
O Quadro 192 mostra as correlações entre a demanda interna e a taxa de acumulação
nos três períodos identificados pelas análises econométrias precedentes. No primeiro período,
que inclui a fase de forte crescimento do milagre , a correlação é alta e estatisticamente
significativa (r = 0,66), mas o valor de 0,43 para o R2 pode estar expressando o fato de que
outras variáveis contribuíram para a elevada taxa de acumulação deste período. Os testes
econométricos precedentes mostraram que a esta época, um regime de acumulação profit-led
foi a base das tendências macroeconômicas observadas, precisamente porque a taxa de
377
Segundo VIDAL, o papel da demanda é frequentemente negligenciado nas análises tradicionais do
crescimento econômico, como se os problemas estruturais e macroeconômicos tivessem sua origem sempre no
plano da produção e da oferta. É claro que essa forma de abordagem é herdeira de uma tradição do pensamento
econômico que foi fortemente influenciada pelas concepções ricardianas em termos de lei dos mercados de Say.
605
investimento era altamente sensível à taxa de lucro. Nestas condições um aumento da profit
share resultava em uma expansão da demanda agregada e então da taxa de acumulação de
capital
0,10 0,02
0,00
0,08 -0,02
-0,04
0,06
-0,06
0,04 -0,08
-0,10
0,02 -0,12
-0,14
0,00
-0,16
-0,02 -0,18
1950
1954
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
1952
1956
FONTE: Com exceção do estoque de capital estimado por MORANDI (2003), os demais dados foram obtidos no
IPEADATA e originários do IBGE.
606
NOTA: y = variação da taxa de acumulação de capital (I/K); x = variação da demanda interna (Y+M-X)
Saldo
Consumo das Gastos do
Período FBKF Externo
famílias governo
(X-M)
[1950-1963]
72,5 11,6 16,2 -0,4
[1966-1980]
69,5 10,3 21,7 -1,5
[1984-1993]
61,1 14,4 21,2 3,3
[1994-2003]
60,5 19,1 21,0 -0,6
[1950-1963]
72,3 25,6 24,1
[1966-1980]
75,2 30,8 29,0
[1984-1993]
69,0 21,4 20,9
[1994-2003]
59,4 21,1 19,4
elevação da razão taxa de lucro / taxa de acumulação de capital (Gráfico 143). No mesmo
período, a renda líquida do Governo (impostos indiretos + impostos diretos + outras receitas
correntes subsídios e transferências) expande-se fortemente como proporção do PIB,
enquanto caem a renda disponível e o consumo das famílias (Gráfico 144). Essas
regularidades macroeconômicas expressam os desdobramentos da crise do regime de
acumulação profit led do período 1966-1980 e os ajustes impostos pelo Estado com vistas a
equacionar o problema da dívida externa.
vivida pelo país até então, como desencadeou mudanças e processos que iriam influenciar a
economia ao longo dos anos 80 e primeira metade dos 90. 378
18% 70%
16%
65%
14%
60%
12%
10% 55%
8% 50%
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Estatísticas do Século XX / IBGE.
378
BELLUZZO e ALMEIDA (2002), em Depois da Queda a economia brasileira da crise da dívida aos
impasses do Real, Ed. Civilização Brasileira, 2002. Segundo os autores (p.97 e 98): o ajustamento, longe de
impedir a sobrevivência empresarial, patrocinou a reestruturação corrente e patrimonial do grande capital, ao
mesmo tempo em que provocava o desequilíbrio do setor público. (...). O descompasso entre a acumulação de
capital real e a acumulação de direitos sobre a riqueza (acumulação financeira), por parte do setor empresarial
e dos rentistas, promoveu a aguda instabilidade e desencadeou a crise monetária, marca registrada da
economia brasileira por um longo período.
610
56% 2%
54%
0%
52%
-2%
50%
48% -4%
46% -6%
44%
-8%
42%
-10%
40%
38% -12%
36% -14%
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Metodologia de construção das séries no anexo e Estatísticas do Século XX / IBGE.
7% 2%
6% 0%
5%
-2%
4%
-4%
3%
-6%
2%
-8%
1%
0% -10%
-1% -12%
-2% -14%
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
Pelo exame do Gráfico 146 pode ser constatado que a fase de crescimento
correspondente à implantação do Plano de Metas (1955-1961) caracterizou-se pela
estabilidade, em termos médios, das participações do saldo externo (X-M) e das necessidades
611
379
Antonio Barros de Castro e Franciso Eduardo Pires de Souza. A Economia Brasileira em Marcha Forçada. 3ª
edição. Paz e Terra, 2004.
613
A idéia de ponction rentiste tem sido utilizada pelas análises em termos de regulação
para caracterizar a dependência estrutural dos setores não-financeiros com relação às finanças.
MIOTTI (1991), por exemplo, a mobiliza no contexto da economia argentina para explicitar o
modo como as transferências financeiras líquidas (endividamento novo menos encargos de
juros) se constituem em uma punção rentista que limita a gestão do Estado ao reduzir
drasticamente a autonomia da política econômica. No mesmo sentido, FURTADO (2003)
chamara a atenção para o fato de que a economia e o Estado brasileiros estariam funcionando
prioritariamente para pagar juros.
Segundo BOYER (1998, p.56), um regime do tipo finance led growth ou regime de
acumulação financeirizado - não tem sua estabilidade garantida. Para este autor
regulacionista, as características principais de uma economia na qual as finanças teriam
imposto sua lógica são as seguintes:
i. a taxa interna de retorno deve ser mais alta para responder as exigências dos
investidores institucionais e demais acionistas. O modo de governança das firmas é
afetado, bem como o volume, a direção e o modo de financiamento do investimento;
ii. os dirigentes são premidos a revisar a maior parte de seus métodos de gestão,
concernentes às reações aos ciclos econômicos, ao grau de especialização ou ainda à
natureza do compromisso capital-trabalho. O conjunto dos componentes devem ser re-
calibrados para dar conta das exigências em termos de nível e estabilidade da taxa de
rendimento para os acionistas. A forma institucional da concorrência e a configuração
380
Segundo CHESNAIS, « le coup d État qui a ouvert la voie à la dictature des créanciers , au sens élargi d
André Orléan (1999), aurait été impossible sans les politiques de libéralisation, de déréglementation et
privatisation, pas simplement dans le domaine de la finance, mais aussi des IDE et des échanges de
marchandises et de services ». No período 1980-1995 observa-se a devolução ao mercado de setores ou grandes
atividades de serviços que haviam sido incluídos no setor público desde o pós-Segunda Guerra. Para
CHESNAIS, numa perspectiva neo-marxista, « la prétention à l autonomie de la finance a pour fondement une
extension très forte à la sphère géopolitique, mais aussi sociale, du règne de la marchandise ».
614
v. Uma questão muito relevante refere-se ao fato de que sob o atual regime de
crescimento, o orçamento tende a ser pró-cíclico e não mais anti-cíclico conforme um
regime do tipo keynesiano;
vi. A política monetária não tem mais por função assegurar o melhor mix entre
crescimento e inflação, mas sim pilotar da melhor forma a evolução dos mercados
financeiros, mantendo-se sempre de prontidão face aos comportamentos especulativos
que o Banco Central tenta conter. De fato, é a estabilidade dos mercados financeiros, e
não a estabilidade de preços, que se torna o critério cardinal;
615
381
Esse modelo não será exposto aqui. Mis detalhes podem ser encontrados em BOYER (1998).
616
O exame do Gráfico 147 mostra o modo como evoluiu a razão entre a taxa de
r
acumulação de capital e a taxa de lucro , juntamente com a taxa de ociosidade 1 u na
g
economia brasileira, entre 1950 e 2003. Até meados dos anos 80, os comportamentos
r
tendenciais da taxa de ociosidade e da razão são muito próximos. A principal alteração
g
ocorre a partir de 1986, quando, apesar da redução em termos tendenciais da taxa de
ociosidade, a razão taxa de lucro / taxa de acumulação de capital continuou em ascensão. Uma
explicação para este fato reside no elevado grau de financeirização da economia brasileira a
partir de finais dos anos 80. Com relação aos primeiros resultados empíricos da presente
análise, BOYER (2004) argumenta:382
382
BOYER (2004) em comentários ao artigo Wage-labor nexus, financeirização e acumulação de capital no
Brasil: evolução, configuração atual e interdependências estruturais , de BRUNO (2004), Anais do IX
Encontro Nacional da Sociedade Brasileira de Economia Política, Uberlândia, junho de 2004.
617
0,12 220
200
0,10
0,00 80
-0,02 60
1950 1958 1966 1974 1982 1990 1998
1954 1962 1970 1978 1986 1994 2002
NOTA: Taxa de ociosidade calculada como 1 u , onde u é a taxa de utilização da capacidade produtiva
instalada da economia.
Os testes empíricos indicam que o padrão de crescimento mudou nos anos 90,
passando de um regime do tipo profit-led para um regime de acumulação finance-led. O
aumento da participação dos lucros no produto não resultou em expansão da taxa de
acumulação de capital, porque a elevação da taxa de lucro foi uma resposta endógena dos
setores produtivos à punção rentista exercida pelas finanças internacionalizadas com o aval do
Estado através do atual regime de política econômica.
Como haviam mostrado MARX e KALECKI, o juro é uma dedução do lucro bruto
total e a rápida expansão da profit-share na economia brasileira dos anos 90, visava à
preservação das margens de lucro empresarial num ambiente macroeconômico caracterizado
pela manutenção de taxas reais de juros extremamente onerosas à utilização produtiva do
capital. Nestas condições, os investimentos em ampliação da capacidade produtiva são
reduzidos ou adiados, em razão tanto da elevação do custo de uso do capital fixo quanto da
alternativa de ganhos rápidos e mais seguros nos mercados financeiros.
Esse padrão teve início nos anos 80, quando as causas endógenas da crise do regime
de acumulação profit-led se conjugam com a interrupção dos financimentos externos. Neste
618
Neste contexto de mudança estrutural, o Plano Real cumpriu uma primeira exigência
básica para a globalização de orientação neoliberal: a redução da inflação necessária ao
rebaixamento dos custos de entrada e saída dos fluxos de capitais estrangeiros. A partir da
estabilização de preços, num contexto de abertura econômica, o processo de mutação das
outras formas institucionais pôde então ser implementado rapidamente: aprodundamento do
grau de flexibilidade quantitativa e salarial da WLN; privatizações e desnacionalizações com a
conseqüente mudança dos papéis do setor público; estabelecimento de um regime monetário-
financeiro à elevada restrição e seu correspondente regime de política econômica (metas de
superávit primário e metas de inflação; taxas de câmbio sobrevalorizadas; taxas reais de juros
extremamente elevadas e contenção salarial) para garantir a rentabilidade dos ativos
financeiros conectados às dívidas interna e externa. Uma análise dessas medidas revela que
seu objetivo maior consistia em criar as condições estruturais necessárias ao ingresso de
capitais externos sob a hipótese, desmentida em finais da década, de que o aumento da
poupança externa seria por si mesmo suficiente para garantir a recomposição das condições de
retomada do crescimento econômico sustentado.
O Gráfico 148 mostra que a elevação das reservas internacionais como percentagem
do PIB brasileiro entra em uma trajetória de crescimento a partir de 1976. Todavia, no período
de elevado crescimento, entre 1966 e 1975, as reservas mantiveram-se em um patamar
619
elevado mas financiaram grande parte dos investimentos. Tanto que a razão taxa de lucro/taxa
de acumulação declinou fortemente até 1975. Contudo, ao longo dos anos 80 e 90, as reservas
r
internacionais e a razão se expandem de um modo inusitado historicamente. Mas como
g
se poderia interpretar o significado desse novo padrão para essas variáveis macroeconômicas?
r
A elevação da razão significa expansão da taxa de lucro acima da taxa de acumulação de
g
capital, ou seja, a massa de lucro se expande mas não é capaz de estimular o investimento.
Um exame do Gráfico 149 mostra que no caso brasileiro, a taxa de lucro se expande
com queda tendencial da taxa de acumulação de capital. Consequentemente, um dos fatos
estilizados característicos da economia brasileira pós-abertura e pós-Real é precisamente a
desconexão entre essas duas variáveis-chave do processo de crescimento econômico. Um
comportamento atípico, considerando-se a natureza e a lógica das economias que se
organizam sob o modo capitalista de produção. Todavia, o aparente paradoxo representado
por esse padrão desaparece quando a questão do relacionamento entre os setores real e
financeiro é considerada. Nas seções a seguir, a análise buscará identificar as particularidades
dessas relações e a maneira como exercem impactos negativos sobre a dinâmica do
crescimento econômico.
220
0,10
200
0,08 180
160
0,06
140
0,04 120
100
0,02
80
0,00 60
1950 1958 1966 1974 1982 1990 1998
1954 1962 1970 1978 1986 1994 2002
28% 13%
27% 12%
26% 11%
25% 10%
24% 9%
23% 8%
22% 7%
21% 6%
20% 5%
19% 4%
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Metodologia de construção dos dados no anexo.
NOTA: As três séries foram filtradas pelo filtro 4253H para se obter um comportamento tendencial
Em outros termos, as transformações estruturais do período pós-Real resultaram na
reconfiguração do modo de regulação cujo principal objetivo era adequar a economia
brasileira às prerrogativas da liberalização comercial e financeira. O pressuposto implícito
neste processo era o de que a abertura econômica seria capaz de proporcionar as condições
propícias ao refinanciamento do endividamento público e privado, garantindo o retorno ao
crescimento econômico sustentável como um fato natural.
Em razão das limitações dos dados sobre o estoque de riqueza na economia brasileira,
esta análise utilizará indicadores indiretos do grau de financeirização. Pesquisas futuras
621
deverão ser realizadas para se chegar a um diagnóstico mais preciso e detalhado do padrão de
financeirização, pois a depender do nível de desenvolvimento econômico do país, a tendência
subjacente à financeirização para aprofundar a lógica especulativa dos investimentos em
portifólio pode variar e assumir formas contrastadas. A hipótese básica neste contexto é a de
que existem configurações ou modalidades de financeirização que não são capazes de garantir
níveis suficientes e estáveis de expansão da demanda efetiva e então o crescimento econômico
e a acumulação de capital são prejudicados.
A série de taxa de juros utilizada corresponde às taxas de juros dos empréstimos para
capital de giro, em periodicidade mensal. Deflacionadas pelo IGP-DI, a série foi em seguida
anualizada. O objetivo é dispor de uma proxy para o custo de utilização do capital.
7.2
7.0
6.8
0.2
0.1 6.6
0.0
-0.1
-0.2
-0.3
82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02
LU(-1) -4.135107
(-7.18630)
TXJUR(-1) 0.210823
(1.89561)
C 11.75277
(4.45031)
Error Correction: D(LINVT)
CointEq1 -1.302286
(-4.09770)
D(LINVT(-1)) 0.668757
(2.10536)
D(LU(-1)) -4.171280
(-2.55276)
D(TXJUR(-1)) -0.739687
(-3.31302)
R-squared 0.550719
Adj. R-squared 0.466479
Quanto à influência das taxas de juros sobre as decisões de investir, VILLIEU (2000,
p. 67) observa que:
Au-delà de ces désaccords théoriques sur l effet de la politique monétaire, il
est difficile de croire que la politique monétaire affecte fortement
l investissement par le canal du taux d intérêt. D une part, l élasticité de
l investissement au taux d intérêt est faible. D autre part, la politique
monétaire agit sur le taux d intérêt nominal à court terme, alors que
l investissement répond au taux d intérêt réel à long terme, et le lien entre ces
deux taux dépend des anticipations sur l évolution future des taux d intérêt et
de l inflation. »
Para captar o efeito das taxas de juros sobre o investimento é necessário introduzir o
canal de transmissão da política monetária: o canal do crédito . O canal do crédito põe o
acento sobre as conseqüências redistributivas da política monetária, visto que o custo de
financiamento não é o mesmo para todos os investidores. Um regime monetário-financeiro
(RMF) à elevada restrição, como o regime atual pós-Real, além da elevação da taxa média de
juros reais (com o conseqüente aumento do custo do capital que isto implica) tem outros dois
efeitos adicionais. Por um lado, este regime incita os bancos a restringirem a oferta de crédito,
restringindo o acesso ao financiamento e atingindo mais fortemente as pequenas e médias
empresas que são normalmente as mais dependentes do crédito bancário. De outro, a elevação
das taxas de juros eleva rapidamente os encargos da dívida e reduz o valor presente da riqueza
líquida das empresas e então das garantias que ela pode oferecer aos mercados financeiros
como tomadoras de recursos para investimento.383
383
Mais detalhes dessa questão macroeconômica fundamental podem ser encontrados em Patrick VILLIEU
(2000). Macroéconomie l investissement. Repères. La Découverte, Paris, 2000.
625
400
350
300
250
200
150
100
1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003
O exame do Gráfico 150 mostra que, nos anos 70, as operações de crédito do sistema
financeiro nacional cresceram a um ritmo muito forte e o mesmo foi observado com o nível
da formação bruta de capital fixo. Nos anos 80 há uma nítida quebra estrutural e as séries
declinam. Nos anos 90, o padrão de evolução das séries é muito particular. Entre 1991 e
1996, crédito e investimento pareciam ter entrado em uma trajetória sustentável de expansão,
mas a partir de 1997, as séries assumem novamente tendências de queda. Consequentemente,
crédito e formação de capital fixo estão relacionados macroeconomicamente e as taxas de
juros ao influenciar o custo do primeiro, afetam necessariamente as decisões de investimento
e acumulação de capital real.
Essas ponderações levam a análise a introduzir variáveis explicativas que possam
captar o fenômeno financeiro na economia brasileira e, mais precisamente, o modo como
influenciam as decisões de investimento e acumulação de capital.
Taxa de ociosidade = (1 - u)
14%
Média [1981-2003] = 7,8%
12%
10%
8%
Média [1937-1980] = 3,8%
6%
4%
2%
0%
-2%
1937
1939
1941
1943
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
1945
FONTE: Dados estimados segundo a metodologia proposta por BACHA e BONELLI (2004), constante do
anexo.
NOTA: u é a taxa de utilização da capacidade produtiva instalada.
Mas a análise acima mostrou que há uma forte dependência entre a taxa de
acumulação de capital e a demanda interna no período [1966-1993]. A dinâmica da demanda
efetiva condiciona o comportamento do investimento. Apenas no período [1994-2003] a
correlação entre essas variáveis não se mostrou estatisticamente significativa. O exame do
deste gráfico mostra que o excesso de demanda nos anos 1986, 1989, 1995 e 1996 foram
prontamente respondidos por um aumento da taxa de utilização da capacidade, tanto que
nesses anos é clara a redução da taxa de ociosidade. Todavia, como as recessões de 1981-
627
1983 e a de 1990-92 foram particularmente fortes (em torno de 4%) e a média é sensível a
valores extremos, o patamar de 7,8% estaria refletindo este efeito estatístico.
384
Como as estatísticas de taxa de utilização existentes são relativas ao setor industrial, talvez um exercício
interessante fosse aplicar uma metodologia adequada para se mensurar a taxa de ociosidade das instituições
bancárias e financeiras neste período. Certamente será encontrada a média setorialmente mais baixa de todas as
atividades econômicas.
628
5.17 Utilização da capacidade instalada (u) e razão dívida externa / PIB (bx)
O Gráfico 152, a seguir, mostra a razão dívida / PIB, a taxa de ociosidade e a taxa de
crescimento do PIB em séries suavizadas pelo filtro 4253H para se obter um padrão dinâmico
tendencial, isto é, sem as oscilações acentuadas de curto prazo. Pode-se constar que as taxas
historicamente mais elevadas de crescimento ocorreram quando o endividamento externo
mantinha-se abaixo de 10% do produto total. No início dos anos 80, quando o endividamento
externo aumentava, as taxas de crescimento do PIB subiam juntas e então a taxa de ociosidade
caia. Mas a partir de 1996, o grau de endividamento se eleva de tal maneira que não é capaz
de novamente puxar o PIB, como acontecera antes nos anos 70 e entre 1981-1986. Em
outros termos, a entrada de recursos externos, sob a forma de poupança externa sob economia
aberta e liberalização da conta capital implicou em um conjunto de novas regularidades
macroeconômicas.
GRÁFICO 152 ENDIVIDAMENTO EXTERNO, TAXA DE OCIOSIDADE E CRESCIMENTO
ECONÔMICO (1956-2003)
Razão dívida externa / PIB (L)
Taxa de ociosidade = 1- u (R)
Taxa de crescimento do PIB (R)
60% 12%
50% 10%
8%
40%
6%
30%
4%
20%
2%
10% 0%
0% -2%
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
FONTE: Taxa de ociosidae segundo a metodologia no anexo. Dívida externa segundo dados do BACEN, PIB
originário do IBGE, ambos obtidos no IPEADATA.
Uma hipótese seria a de que o modo de regulação anterior, caracterizado por uma forte
presença e intervenção direta do Estado como agente promotor da acumulação de capital ou
seja, a forma de regulação que suportava a lógica do modo de desenvolvimento por
substituição de importações entrou em crise nos anos 80 e foi substituído por outro nos anos
90. Esse novo modo de regulação não deslocou o Estado como agente organizador e
estruturador do espaço econômico nacional, segundo as suposições simplistas da ideologia da
630
385
E, obviamente, recomendado e sancionado pelas mais importantes praças financeiras internacionais.
631
Essa hipótese pode também contribuir para explicar a persistência de uma elevada taxa
média de ociosidade nas décadas de 80 e 90, tal como foi destacada por BACHA e BONELLI
(2004). Em uma economia marcada por elevado endividamento interno e extermo, e onde as
taxas reais de juros são muito elevadas em relação à média internacional, a poupança externa
tende a ser absorvida por ativos financeiros de curto prazo. Em outros termos, a possibilidade
de aplicações muito mais rentáveis e com elevada liquidez nos mercados financeiros é um
fator que tende a esterilizar grande parte do fluxo de capitais externos que ingressam na
economia brasileira. Além disso, as taxas de juros funcionam muito mais como variáveis de
realocação de renda entre ativos e classes sociais do que como fator de geração de poupança
adicional macroeconômica. Isto significa que uma elevação das taxas de juros aumenta a
participação dos rentistas e dos mercados financeiros em detrimento dos proprietários de
ativos reais, sem que o produto ou valor adicionado total da economia tenha necessariamente
crescido.
386
As hipóteses e o modelo propostos por BRESSER-PEREIRA (2003) e BRESSER-PEREIRA e NAKANO
(2003) foram formalizadas por OUREIRO (2003). Um dos resultados encontrados por este autor refere-se à
existência de dois equilíbrios: no primeiro, a economia apresenta baixo endividamento como proporção do PIB,
mas alta taxa de utilização da capacidade instalada; no segundo, onde se observa alto endividamento, a taxa de
utilização da capacidade produtiva é baixa.
632
Um meio de defesa contra esse padrão de transferência de renda, pela mera detenção
de direitos sobre o fluxo gerado de valor adicionado, consiste precisamente na elevação do
grau de financeirização dos ativos das empresas não-financeiras e das famílias. Mas neste
contexto, os comportamentos defensivos contribuem para generalizar a lógica de um regime
de acumulação financeirizado ou patrimonialista. Um círculo vicioso articulando acumulação
financeira, baixo crescimento e tendências à crises por movimentos de especulação com
ativos fica estabelecido.387
e
J , onde e
é o lucro empresarial e J representa o fluxo de juros
I t 1 S t 1 D t 1 D t
(50)
387
POCHMANN (2004) observa, que a partir de 1992, com a liberalização da conta de capitais, sustenta-se o
avanço do ciclo de financeirização da riqueza e se aprisiona a política macroeconômica aos interesses diretos de
cerca de 15 mil famílias ricas. Trata-se de um regime de rentier que asfixia a produção e o trabalho,
aprofundando a exclusão social.
388
BELUZZO e ALMEIDA (2002) observam que MARX foi o autor que mais firmemente insistiu na
peculiaridade dos juros, a remuneração do capital-propriedade e não do capital em função . Por essa razão, na
abordagem marxiana, os juros surgem como uma dedução do lucro.
389
STEINDL, Josef. Maturidade e Estagnação no Capitalismo Americano (1952).
633
I t 1 t 1
i. Dt D t 1 D t
(51)
I t 1 t 1 D t
1 i D t 1
(52)
g It 1 t 1 D1 t
i D t 1
(53), onde g é a taxa de acumulação de capital.
K t 1 K t 1
g t 1 r t 1 d .1t
i d t 1
(54)
D
Onde r e d são, respectivamente, a taxa de lucro e a taxa de
K K
endividamento das empresas. Segundo AGLIETTA, o regime de crescimento a longo
prazo depende das seguintes condições:
390
É esta uma das razões que explicam o fato, ressaltado por CASTRO (2004), das empresas que operam no
Brasil terem se adaptado a uma dinâmica do tipo stop and go . Se as fases de expansão tendem a ser de curta
duração, não há estímulos para investimentos significativos em ampliação da capacidade produtiva instalada. Os
grifos pertencem a esta análise.
634
40% 16%
20% 14%
0% 12%
-20% 10%
-40% 8%
-60% 6%
-80% 4%
-100% 2%
1960 1964 1968 1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000
1962 1966 1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002
FONTE: Taxas de lucro e acumulação segundo a metodologia no anexo. Dívida externa segundo dados do
BACEN, obtidos no IPEADATA.
391
Como proxy do custo de uso do capital foram utilizadas as taxas de juros dos empréstimos para capital de giro
das empresas, deflacionadas pelo IGP-DI e em seguida anualizadas.
635
elevando a taxa de lucro bruto. Mas conforme a equação (6), a taxa de acumulação deve
declinar se o nível de endividamento e seus encargos superarem o crescimento do excedente
operacional.
Os dados empíricos indicam ser este o caso atual da economia brasileira sob
financeirização forçada . O crescimento econômico não é nunca uma hipótese improvável
nestas condições, como pode ser constatado pela recuperação de 2004. O que está em jogo é a
qualidade e durabilidade desse crescimento, pois sua magnitude e estabilidade dinâmica,
permanecem sempre sujeitos às expectativas dos mercados financeiros e da proporção do
valor adicionado que é apropriada pelas finanças, via punção rentista sobre os setores
diretamente produtivos. O Estado brasileiro não contribui para quebrar este círculo vicioso
entre acumulação financeira (incentivada e em expansão) e acumulação real (contida ou em
queda). Pelo contrário, o atual regime de política econômica reforça e reproduz a dependência
financeira dos setores produtivos. De maneira que a economia cresce até o próximo ataque
especulativo ou pressão inflacionária que ameace as estruturas internas que suportam as
finanças liberalizadas. O Governo responde com aumentos das taxas básicas de juros e o
crescimento é desacelerado.
1974
Taxa de acumulação de capital produtivo IKPR
16% 1975
1973
1976
1972
14% 1971
1969 1977
1970
1968
1980 1978
12% 1966 1979
1967
1965
10% 1964 1981
1982 1986
8% 1987
1985 1988
1989
1983
1984 1997
6% 1994 1995 1996 1990 1998
2000 2001
1991
1993 1999
1992 2003
2002
4%
2%
-10% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
Dívida mobiliária interna federal / PIB
FONTE: Metodologia de construção das séries macroeconômicas no anexo.
637
28% 75
76
74
26%
Taxa de investimento = FBKF / PIB
73 77 78 80
24% 72 79
69 71
22% 68 70 81
57
59
20% 58
66
67 82
60 86
18% 56
65 87
63
62 88
16% 64
61 89 83
85
90 84
95
94 97 98
14% 96 91
92 93 01
00 99
12%
03
02
10%
8%
0% 1% 2% 3% 4% 5%
Juros e remessas de lucros e dividendos ao exterior / PIB
FONTE: Metodologia de construção das séries macroeconômicas no anexo.
Este padrão manifesta-se tanto com relação à dívida interna federal (Gráfico 155),
quanto com relação aos pagamentos de juros e remessas de lucro ao exterior (Gráfico 156).
Aliás isto era esperado, pois os endividamentos interno e externo são duas dimensões de um
mesmo fenômeno macroeconômico: a absorção de poupança externa como estratégia de
promoção da acumulação financeira e patrimonial. Por isso os administradores da alta finança
(com os demais rentistas) e os gestores da atual política econômica são sempre contrários ao
controle de capitais. Os primeiros temem a perda de posições e de ganhos de capital que
pressupõem a continuidade da liberalização financeira. Os segundos receiam que possa haver
uma fuga de capitais ou a queda do fluxo de ingresso além das enventuais sanções dos
organismos internacionais - de tal maneira que perderiam tanto o controle da política
econômica quanto sua reputação como bons policy makers de acordo com os critérios dos
mercados financeiros nacional e internacional. Ambos permanecem portanto reféns da lógica
das finanças liberalizadas. Ambos respondem pela manutenção das taxas de acumulação de
capital e de crescimento econômico as mais medíocres de toda a história do capitalismo
industrial brasileiro.
I / K = Spline
18%
74
Taxa de acumulação de capital = FBKF / K
75 73
16%
76
72
14% 71
7768 69 70 60
78
80
12% 79 66
67 62
63 61
65
10% 81 64
82 86
8% 87
88
89 85
83 84 95 97
6% 90 94 98
96
91 99 0201
93
92 03
02
4%
2%
16% 18% 20% 22% 24% 26% 28% 30% 32% 34% 36% 38%
Taxa de lucro = Lucro bruto / K
FONTE: Dados estimados do estoque de capital fixo estimados por MORANDI (2003) e de formação bruta de
capital fixo originários do IBGE e obtidos no IPEADATA.
TXINV .r 1
.bx (55)
0 1 2
639
FBKFprod
TXINV é a taxa de investimento produtivo ou seja, a formação bruta de capital
PIB
fixo em máquinas, equipamentos e construções não-residenciais como percentagem do PIB.392
10 1.2 0.0
-0.2
0 0.8 -0.4
0.00 -0.6
0.0 0.10
-20
0.15
-30 -0.4 70 75 80 85 90 95 00
70 75 80 85 90 95 00 70 75 80 85 90 95 00
One-Step Probability Recursive Residuals
CUSUM 5% Signific anc e CUSUM of Squares 5% Significance
392
Inclui as construções governamentais que, segundo o IBGE, são consideradas produtivas.
640
Para o próximo período, [1981-2003], as séries têm raízes unitárias mas o teste de
JOHANSEN não revelou nenhuma relação de co-integração, o que está coerente com o fato
de que a economia brasileira sai de sua trajetória de crescimento econômico e acumulação de
capital, a partir dos anos 80 (Quadro 203). No entanto, quando os testes são aplicados ao
subperíodo [1991-2003], uma nova relação de co-integração surge e confirma a influência
particular do endividamento externo sobre as decisões de investimento produtivo.
641
Os testes são agora executados para o período [1991-2003] que corresponde à fase de
liberalização comercial e financeira (Quadro 204).
Novamente as variáveis são todas I(1), mas desta vez o teste de JOHANSEN detecta
uma relação de co-integração e isto sugere a entrada da economia brasileira em um novo
padrão de acumulação de capital (Quadro 205).
Para facilitar a leitura dos resultados e sua análise, a Tabela 53 a seguir reúne os
valores dos parâmetros estimados. Os resultados são muito claros e confirmam a hipótese de
financeirização da economia brasileira no período pós-Real.
PERÍODOS r 1 bx
IKPR .r 1
.bx , onde IKPR é a taxa de acumulação de capital
1 2 3
produtivo (56)
643
0.05 0.05
0.10 0.10
0.15 0.15
60 65 70 75 80 85 90 95 00 60 65 70 75 80 85 90 95 00
R(-1) -0.648952
(-12.2100)
LBX(-1) -0.004917
(-1.77653)
C 0.056461
Error Correction: D(IKPR)
CointEq1 -0.726574
(-2.66530)
D(IKPR(-1)) 0.032316
(0.10160)
D(R(-1)) 0.004711
(0.01908)
D(LBX(-1)) 0.003166
(0.16846)
C 0.001052
(0.34142)
R-squared 0.487023
Adj. R-squared 0.281832
No período [1990-2003], as séries apresentam raízes unitárias e são todas as três I (1),
mas não co-integram, o que significa que não há relação de longo prazo (Quadro 210 e 211).
Isto é coerente com o predomínio de expectativas de curto prazo nas decisões de
investimento, num ambiente marcado por elevadas taxas de juros e incertezas geradas pela
645
Um modelo em taxas de variação foi estimado para o período [1981-2003], que inclui
as duas décadas em que se expressam os graves problemas macroeconômcios e estruturais da
economia brasileira. Como neste período a variável taxa de acumulação (IKPR) não
apresentou raiz unitária pelo teste Phillips-Perron (Quadro 212), não há risco de co-integração
e o modelo dinâmico pode captar os efeitos de curto prazo (213).
QUADRO 215 ATIVOS DOS FUNDOS DE PENSÃO EM % DO PIB: VÁRIOS PAÍSES - 2003
Ativos dos Fundos de
% do PIB
Pensão
Holanda 120,0
Suíça 100,0
Rússia 80,0
EUA 78,0
Japão 72,0
Chile 44,3
Brasil 14,4
FONTE: MPAS
393
MIOTTI (1991) constatou o mesmo padrão de evolução para o caso da economia argentina nos anos 80.
Segundo o autor, la politique économique se trouve contraint à une gestion au jour le jour qui empêche la mise
en place d une véritable stratégie de croissance à long terme, et c est ce sans que l on parle de
surdétermination. »
648
14%
12%
24 bilhões
10% de US$
8%
6%
4%
2%
0%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
FONTE: ABRAPP.
NOTA: O valor para 2004 refere-se à posição de janeiro.
Uma questão fundamental por suas implicações para os regimes de acumulação refere-
se às particularidades nacionais dessas novas relações estruturais e as macro-regularidades
649
que determinam. No Gráfico 158 pode ser constatado que parcelas cada vez maiores da
poupança financeira brasileira são também mobilizadas por investidores institucionais
fundos fechados e abertos de previdência, fundos mútuos de investimentos e companhias de
seguro. Todavia, a Tabela 54 mostra que a expansão dos investidores institucionais no
mercado financeiro brasileiro processa-se basicamente por ativos não conectados à atividade
diretamente produtiva. 63% dos ativos totais correspondem a títulos de renda fixa, isto é,
ativos que são remunerados por juros, em grande parte ligados à dívida pública brasileira. Em
segunda posição, encontram-se os ativos de renda variável (ações) com uma participação de
28%. Os demais ativos possuem participações economicamente pouco expressivas. Portanto,
da análise da composição do ativo das entidades fechadas de previdência complementar pode-
se concluir que, no caso brasileiro atual, a poupança absorvida por esses investidores
institucionais não está sendo canalizada para atividades diretamente produtivas. Essas
instituições simplesmente se adaptam ao ambiente macroeconômico e seu correspondente
regime de política econômica, onde vigoram altas taxa de juros reais que tendem a tornar a
grande maioria das alocações produtivas pouco rentáveis ou muito arriscadas vis-à-vis a
detenção de direitos de propriedade sobre a renda de terceiros.
Em suma, a atuação dos investidores institucionais não é uma panacéia para a
obtenção de poupança necessária ao financiamento do investimento. Na realidade, a opção
por ativos financeiros em detrimento dos ativos reais não só confirma a vigência de uma
estrutura econômica financeirizada como também a reforça e reproduz. Essas constatações
indicam que a manutenção de taxas de juros exorbitantes e sua contrapartida, a
financeirização usurária, não são derivações lógicas das opções disponíveis de política
econômica. Sua persistência indica que existem estruturas organizacionais e mecanismos de
legitimação que se incorporaram ao atual modo de regulação brasileiro e como tal encontram
apoio para sua continuidade no seio do próprio Estado.
650
Patrocínio Patrocínio
Segmento de Aplicação Total
Público Privado
Investimentos
8.033.414,68 3.189.449,96 11.222.864,64 5,2%
Imobiliários
Operações com
6.569.389,85 899.142,99 7.468.532,84 3,4%
Participantes
FONTE: ABRAPP.
O Gráfico 159 foi elaborado a partir dos dados das chamadas Contas Intermediárias do
IBGE, que fornecem informações desagregadas por setores institucionais (empresas
financeiras; empresas não-financeiras; administração pública; previdência e instituições de
seguros). No presente caso, trata-se das empresas não-financeiras e que podem ser tomadas
como uma proxy dos setores diretamente produtivos da economia brasileira, para verificar o
modo como são afetados pela financeirização usurária. As seguintes constatações podem ser
feitas:
a) A reduzida participação dos pagamentos de dividendos é uma expressão da atrofia
relativa do mercado de capitais na economia brasileira. Conseqüência tanto de uma
excessiva concentração da propriedade dos ativos produtivos e da renda, como da
ausência de uma instucionalidade que promova o acesso da população aos ativos
empresariais;
651
100%
Le
80%
W
60%
40%
D
20% J
0% T
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
b) O Governo ampliou sua parcela de 5,1% (1995) do VA deste setor institucional, para
7,4% (em 2002);
c) Abstraindo-se da participação reduzida dos dividendos, observa-se que apenas os
salários e contribuições perderam participação no total do valor adicionado. Todas as
outras componentes aumentaram sua participação e, consequentemente, às expensas da
massa salarial, que passa de 60,3% em 1995 para 43,2% em 2002. Uma perda
considerável de 17% que certamente terá impactos na evolução da demanda efetiva
desta economia;
d) Um outro destaque fica por conta dos lucros líquidos cuja participação aumenta de
12,2% em 1995, para 29,1% em 2002; ou seja, a proporção do aumento dos lucros
(+16,9%) coincide com a proporção perdida pelos salários (-17%). Um fato
característico que já havia sido constatado na análise da WLN, pois o aprofundamento
de seu caráter concorrencial tinha exatamente como objetivo a restauração da
lucratividade dos setores produtivos, para fazer face à lógica da globalização neoliberal
que lhes foi imposta;
652
JR / Y JP / Y VA financeiro / Y
394
Principalmente , porque se deve adicionar também uma fração reduzida correspondente aos serviços
mercantis como o valor das tarifas cobradas pelos bancos e demais instituições financeiras. Um componente que
alías aumentou demasiadamente no período pós-Plano Real para compensar, juntamente com a elevação das
taxas de juros proporcionada pelo Governo, a perda dos ganhos inflacionários que no período [1980-1993]
responderam pela maior parte dos lucros dos grandes bancos brasileiros.
653
tenha havido queda da participação do setor financeiro no PIB pelo método SIFIM, os
montantes de juros cobrados pelos bancos e distribuídos aos rentistas permaneceram elevados
como proporções do PIB. Em 1999, ano da crise cambial que forçou o Governo a mais do que
dobrar as taxas básicas de juros (SELIC) em relação a 1998, há grande expansão desses fluxos
de juros sobre o PIB e no entanto, o diferencial que corresponde ao SIFIM perde participação
no produto total. Nos anos de 2001 e 2002, os fluxos de juros recebidos pelas instituições
financeiras e distribuídos aos rentistas voltam a crescer e suas participações no PIB aumentam
muito mais do que a participação do SIFIM.
Períodos JR / Y JP / Y SIFIM / Y
NOTA: JR/Y = juros recebidos pelo sistema financeiro nacional-SFN como percentagem do PIB;
JP/Y = idem para juros pagos pelo SFN;
SIFIM / Y = participação dos serviços de intermediação financeira no PIB.
GRÁFICO 160 VALOR ADICIONADO DO SETOR FINANCEIRO E JUROS RECEBIDOS E PAGOS
PELO SETOR FINANCEIRO (1990-2002)
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002
Correlação entre AF e
Período
CF
[1988-2003] -0.170395
[1988-1993] -0.612353
Pode ser estabelecida uma relação entre os juros recebidos pelos rentistas e a dinâmica
da demanda efetiva. Mas como observam BELUZZO e ALMEIDA (2002), é relevante
relembrar as análises desenvolvidas por TOBIN (1978) sobre a propensão a consumir dos
rentistas e sobre a inelasticidade da poupança rentista, proposta por KALECKI (1973) e
STEINDL(1983). A propensão a consumir dos possuidores de riqueza líquida é baixa e sua
poupança inelástica às variações da renda. Além disso, em uma situação de queda dos preços
dos ativos, a poupança dos rentiers tende a se elevar.
Um teste econométrico simples (Quadro 217) mostra que, embora estatisticamente
significativa e positiva, a elasticidade do consumo das famílias às variações do estoque de
395
System of National Accounts (SNA)-ONU-FMI é o sistema-padrão dos métodos de elaboração das contas
nacionais recomendado por esses organismos internacionais. O Departamento de Contas Nacionais do IBGE
adota essa metodologia para a construção dos agregados macroeconômicos, incluindo os relativos ao valor
adicionado pelo setor financeiro.
655
396
Um teste mais eficaz deveria ser realizado com o fluxo de renda gerado por esses ativos financeiros e
efetivamente apropriado pelas famílias. Mas há grande dificuldade em se ter acesso a esse tipo de dado, que
normalmente não é disponibilizado pela Receita Federal brasileira.
397
Em Régulation et croissance, BILLAUDOT (2001, p. 281) observa que os regimes do tipo finance led growth
tendem a ser instáveis pelas seguintes razões: vigência de uma regulação neo-concorrencial dos salários e dos
preços, num contexto em que os ganhos de produtividade são obtidos às expensas do emprego. Disto resulta que
o crescimento da produtiviade tende a superar a expansão da massa salarial. Nas palavras do autor: la
productivité a um effet positif sur les profits. Comme ces derniers déterminent pour une part les cours, la
productivité impulse donc à la hausse à la fois l investissement et la consommation (via l effet de richesse). Mais
cela est insuffisant, (...) pour contrecarrer l effet négatif de la productivité sur la consommation qui passe par
l emploi. Au total, on retrouve un régime de demande à pente négative », e, portanto, incapaz de sustentar
dinamicamente o regime de produtividade.
656
398
O regime de acumulação financeirizado (porém não usurário) que os EUA conheceram nos anos 90, facultou-
lhes o crescimento, porque a circulação financeira exercia impactos positivos sobre o consumo e o investimento,
dada a elevada participação das famílias como proprietárias de ativos financeiros (de renda fixa e variável). Não
é o caso da economia brasileira onde o mercado de capitais e de renda fixa está restrito às camadas de mais alta
renda e onde os juros respondem pela maior parte dos ganhos financeiros. Daí a noção de financeirização
usurária em oposição a uma financeirização, por assim dizer, acionária porquanto baseda no mercado de
capitais e não no mercado de títulos de renda fixa.
657
base para uma sociedade de consumo de massa e mais igualitária. Neste contexto, a queda
da taxa de lucro, concomitantemente a uma expansão e concentração financeiras sem
precedentes históricos, desencadearia a queda da taxa de utilização da capacidade
produtiva instalada;
ii. Em inícios dos anos 90, a taxa de lucro se recupera, mas a taxa de acumulação de capital
permanece estagnada. Durante as fases de forte crescimento econômico, taxa de
acumulação, taxa de lucro e taxa de utilização da capacidade produtiva permaneceram
positivamente relacionadas. No período pós-Plano Real, a persistência de uma elevada
taxa de ociosidade pode ser explicada pelo processo de financeirização que submete a
economia brasileira às prerrogativas da globalização e tem como suporte o elevado
endividamento externo e interno do país. As evidências empíricas indicam que a economia
brasileira atual funciona sobre a base de um novo regime impulsionado pelas finanças ou
regime do tipo finance led growth;
iii. Ao manter taxas reais de juros extremamente elevadas e a taxa de câmbio sobrevalorizada,
o atual regime de política econômica torna-se ele próprio um obstáculo ao ajuste fiscal e
ao equilíbrio das contas externas. Consequentemente, a estabilidade em sua acepção
macroeconômica, e que não se reduz à estabilidade de preços, nunca é alcançada, não
passando de uma retórica oficial para legitimar o modelo econômico diante da opinião
pública;
viii. Deve ser ressaltado que apesar dos anos 90 serem considerados uma segunda década
perdida em termos de crescimento e de desenvolvimento econômico, foi a partir de 1994
que a taxa geral de lucro saiu de sua tendência de declínio. Em 2002, a taxa geral de lucro
da economia brasileira atinge o nível de 25,8%, o mais alto desde a recessão de 1983.
Quando se consideram as taxas de variação da taxa de lucro, observa-se que a série
tendencial permanece numa trajetória de crescimento entre 1980 e 2002. Reconhecendo-se
que os pontos de queda acentuada foram provocados deliberadamente por intervenções do
Estado (recessões de 1981-1983; Planos Collor I e II, 1990-1992; aumento das taxas de
juros em resposta à crise cambial de 1998-1999), não há razões para supor que,
estruturalmente, a economia brasileira apresente problemas de rentabilidade ou de
valorização dos capitais.
ix. A taxa média de lucro é um indicador fundamental nas análises das crises econômicas. No
caso brasileiro atual, constatou-se que essa variável apresenta-se numa nítida trajetória de
recuperação. A conclusão direta é que não há indícios de crise estrutural na economia
brasileira. Por outro lado, também não há razões teóricas para supor que o
restabelecimento da lucratividade seja uma condição por si só suficiente para relançar a
economia num processo de crescimento econômico forte e durável. A elevação da taxa de
lucro pode ser, por exemplo, um meio de sobrevivência dos capitais diretamente
produtivos diante da punção rentista que lhes é imposta pelo capital financeiro numa
época de globalização neoliberal ;
659
x. O período 1994-2002 destaca-se por ser o único em que o salário médio real permaneceu
em queda média de 1,1% a.a, enquanto as produtividades do capital e do trabalho, para o
total da economia, cresceram à taxas médias de 0,9% a.a. e 1,5% a.a, respectivamente. Um
outro contraste em relação aos padrões identificados no intervalo 1950-1973 refere-se aos
ganhos médios de produtividade do trabalho para o total da economia. No período pós-
Plano Real, a produtividade do trabalho cresceu a uma taxa média de 1,5% a.a, enquanto
entre 1950-56; 1957-66 e 1967-73, o crescimento foi respectivamente de 3,4%; 4% e 7%
a.a. com expansão do emprego e do salário médio real;
xi. A análise empírica revelou que o padrão de acumulação de capital do período pós-Real é
muito diverso do observado durante o modo de desenvolvimento por substituição de
importações. Uma das características mais surpreendentes desse novo regime finance led
growth é precisamente a desconexão entre taxa de lucro e taxa de acumulação de capital;
xii. A análise da mudança estrutural como mudança de regime proposta por GAFFARD
(1997) e GAFFARD e AMENDOLA (1998), quando aplicada ao caso brasileiro revela os
seguintes fatos:
xii. Para o período 1991-2003, também não foram obtidas evidências empíricas que suportem
a existência da relação KV. A abordagem kaldoriana dessa relação está fundada na
existência de causação cumulativa no plano macroeconômico, pressupondo a influência
da demanda agregada como fator de impulsão da dinâmica da indústria e da economia.
Todavia, na década de 90, a demanda agregada permaneceu na maior parte do período
muito contida, tanto pelo regime de política econômica quanto pela elevação do
desemprego conjuntural e estrutural;
xiii. Com uma especificação em taxas de variação surge uma relação entre o produto do setor
industrial e o crescimento econômico. Mas o problema com essa especificação dinâmica,
apesar de ter sido formulada pelo próprio KALDOR, é que ela expressa a relação de curto
prazo e não as macro-regularidades de longo prazo pressupostas pela teoria. O teste de
causalidade de GRANGER, para essa especificação mostra que o produto industrial
causa-Granger o PIB brasileiro. Todavia, na ausência de co-integração não se poderia
sustentar a validade empírica da primeira lei de KALDOR para o período 1901-2003. Por
outro lado, a grande maioria dos trabalhos empíricos que testaram a relação de KV para a
economia brasileira, não realizou os testes de estabilidade estrutural. Quando se
consideram as mudanças estruturais (que normalmente afetam os testes de raízes unitárias
661
xv. O modelo de BOWLES-BOYER (1990; 1995) para os regimes de acumulação foi testado
para o caso brasileiro, na versão proposta por UEMURA (2000). Os resultados das
estimações das funções poupança, investimento e exportações líquidas permitem as
seguintes considerações:
acumulação foi do tipo profit led growth. Este fato confirma as análises
históricas acerca da vigência durante o milagre de um modelo de
crescimento impulsionado por elevadas taxas de lucro e endividamento
externo;
Contudo, deve-se ter cautela com correlações elevadas em termos de níveis das
variáveis. Para que não sejam correlações espúrias deve haver correlações
também entre as primeiras diferenças (JOHNSTON e DINARDO). Apenas no
último período a correlação em primeiras diferenças atinge 50% do valor do
coeficiente de correlação em nível das variáveis e p. Isto reforça a existência
de uma ligação significativa em termos macroeconômicos. Consequentemente,
a queda da taxa de acumulação de capital pode ser explicada pelo declínio da
razão , que por sua vez foi causada pela queda de p;
xvii. Uma análise de co-integração revela a existência de uma relação de longo prazo
entre e p, mas a respectiva elasticidade é contudo, muito fraca (-0,09) e desafia a
existência de uma influência economicamente relevante da elevação dos preços
dos bens de capital como explicação satisfatória para a queda da razão produto/
capital em uso. Além disso, o teste de causalidade de GRANGER não detecta
nenhuma precedência temporal das variações de uma variável sobre outra.
Portanto, não se pode concluir que variações de p causem-Granger as variações de
e vice-versa. Por outro lado, o valor do coeficiente da elasticidade de longo
prazo da taxa de acumulação de capital com relação aos preços dos bens de capital,
para o período completo 1950-2003, embora seja estatisticamente significativo é de
fato reduzido (0,18). Mas quando se considera o subperíodo de baixo crescimento,
1981-2003, o coeficiente não é mais significativo;
xx. Para que a produtividade do capital não caia é necessário que o ritmo de
crescimento da razão K/N seja menor ou igual ao ritmo de progresso técnico neutro
no sentido de HARROD (PTN). Nos períodos 1951-1963 e 1966-1980, a
produtividade do capital caiu porque a taxa de crescimento da intensidade do
capital (K / N) foi maior do que a taxa PTN. Apenas nos dois últimos períodos
K
1984-1993 e 1994-2003, quando PTN é que se pode observar a recuperação
N
da taxa média de crescimento da produtividade do capital;
xxi. A análise empírica mostra que a produtividade do trabalho cresceu nos anos 90, em
decorrência do aumento da intensidade do capital (K/N), ou seja, os ganhos de
produtividade foram obtidos principalmente por substituição de trabalho por
capital;
xxii. Nos anos 90, a economia brasileira tem acesso às novas tecnologias da informação
e da comunicação (NTIC) com forte impacto na reestruturação de suas bases
técnicas produtivas. Todavia, destaca-se o fato de não ter conseguido sustentar a
elevação de sua taxa de acumulação de capital apesar dos ganhos notáveis de
produtividade, particularmente na indústria de transformação. Uma explicação
possível é proporcionada pela Teoria da Regulação: um regime de crescimento ou
de acumulação é um resultado da compatibilidade dinâmica entre um regime de
produtividade e um regime de demanda. As evidências empíricas indicam que o
regime de demanda do período pós-liberalização e pós-Real não se mostra capaz
de suportar o novo regime de produtividade. As taxas de variação da taxa de
acumulação de capital e a taxa de crescimento da demanda interna (Y+M-X)
668
xxiii. Além deste fato, a wage-share líquida de impostos diretos, que havia entrado em
tendência de queda nos anos 90, cai de 49% em 1990 para 39% em 2003.
Paralelamente, o Governo promove a manutenção de superávits primários que
tendem a reforçar o perfil já demasiadamente contido da demanda efetiva;
xxvi. Para o caso brasileiro, as análises detectam um sinal negativo para a elasticidade-
juros da acumulação de capital, como esperado pela teoria econômica, mas com
valores muito reduzidos para os coeficientes de longo prazo (-0,02 e -0,07). Este
resultado está em conformidade com os trabalhos empíricos que mostram que os
efeitos das taxas de juros sobre a taxa de acumulação de capital são mediados pelo
canal do crédito. No entanto, a elasticidade de curto prazo estimada nesta análise
apresentou valor elevado (-0,74);
669
xxviii. A análise empírica traz fortes evidências de que a inércia da taxa de ociosidade em
um patamar elevado, historicamente sem precedentes, é um resultado do processo
de financeirização usurária da economia brasileira. Esse processo teve início com a
crise da dívida externa e a crise fiscal do Estado na década de 80, encontrando no
regime monetário-financeiro dual e inflacionista então vigente sua base de
desenvolvimento. Com a liberalização comercial e financeira e a implementação
do Plano Real, nos anos 90, os ganhos inflacionários que alimentavam o circuito da
acumulação patrimonial sob alta inflação são substituídos pela renda financeira
derivada das altas taxas de juros reais conectadas ao novo padrão de
endividamento sob finanças liberalizadas. A continuidade desse novo padrão
pressupõe a manutenção de um regime monetário-financeiro à elevada restrição,
que aprisiona a política econômica aos interesses diretos dos rentistas e
proprietários de capital;
xxxi. Os dados empíricos mostram que, nos anos 90, a taxa média de lucro empresarial
(taxa de lucro bruto taxa média de juros) evolui segundo a mesma tendência de
crescimento da relação dívida externa / PIB, enquanto a taxa de acumulação de
capital permanece em tendência de queda;
xxxii. Enquanto a razão dívida externa/ PIB permaneceu abaixo de 10% e sem abertura
da conta de capitais, houve expansão da taxa de acumulação de capital da
economia brasileira. Há um limiar a partir do qual a correlação entre
endividamento e investimento produtivo inverte o sinal passando de positiva à
negativa. Quando isto ocorre sob condições estruturais específicas regime
monetário-financeiro inflacionista entre 1984-1993 e à alta restrição monetária sob
finanças liberalizadas, a partir de 1994 o resultado direto é o desestímulo aos
investimentos produtivos, conduzindo à quase-estagnação ou à queda da taxa de
acumulação de capital. Fases curtas de crescimento econômico são contudo
possíveis, em função dos intervalos em que as taxas de juros permanecem em
níveis menores ou as exportações são estimuladas. Todavia, a sustentabilidade e o
ritmo do crescimento econômico são uma incógnita à medida que as expectativas
de investimento tornam-se fortemente condicionadas pelas dinâmicas dos
mercados financeiros nacional e internacional conectados pelos canais da
globalização neoliberal. Neste ambiente macroeconômico, as autoridades
monetárias exercem um papel visivelmente subordinado, pois o regime de política
econômica é prisioneiro das macro-regularidades induzidas pela lógica financeira.
Pressionado no plano interno pelas instituições privadas e segmentos sociais que
controlam a renda financeira e no plano externo pelos organismos internacionais
que representam os credores, o Estado se obriga a legitimar essas macro-
regularidades e o regime de política econômica que as reproduz. É por esta razão
671
CONCLUSÃO GERAL
Um dos fatores explicativos para essa performance tão incongruente com o potencial
produtivo da economia brasileira no século XX, foi a sucessão de respostas inadequadas para
a saída da crise dos anos 80 e seus desdobramentos nos anos 90. A busca de um novo padrão
de crescimento e acumulação incluiria, sem dúvida, a reconfiguração da arquitetura
institucional que definia o modo de regulação e o correspondente modo de desenvolvimento
baseado na substituição de importações. Mas havia outras possibilidades que poderiam ter
sido exploradas nos quadros das transformações estruturais e que simplesmente foram
descartadas em prol de uma re-inserção neoliberal no regime internacional.
Nos anos 90, com a vigência do Real sob finanças liberalizadas, essa
subordinação atinge um paroxismo, aprisionando o regime de política econômica aos
interesses diretos dos proprietários de ativos financeiros e em detrimento da
acumulação de capital real. Consequentemente, no plano político-ideológico, as
alternativas ao atual regime de política econômica passariam a ser sistematicamente
descaracterizadas, pelo discurso oficial e pelos segmentos beneficiários dos elevados
ganhos financeiros, como inadequadas ou portadoras de conteúdos populistas ;
trata-se de uma sociedade salarial dual, pois metade das relações salariais encontra-se
fora da legislação trabalhista e previdenciária.
Tanto sob o período do milagre quanto nos anos 90, a wage-share sofreu
quedas sucessivas e acentuadas, expressando o aumento da concentração funcional da
renda em favor dos lucros e da renda financeira. A análise empírica mostra que no caso
do milagre econômico brasileiro, os ganhos de produtividade ocorreram às expensas
dos salários; enquanto nos anos 90, o aumento da produtividade foi obtido às expensas
do emprego.
No setor industrial, a análise detectou uma fase de conexão dos salários aos
ganhos de produtividade, na primeira metade dos anos 90. Essa indexação permaneceu
enquanto as taxas de desemprego não eram capazes de abalar as organizações e os
movimentos sindicais em termos de reivindicações salariais. Com a elevação rápida do
desemprego estrutural e tecnológico, provocada pela intensificação da concorrência
externa, no período de sobrevalorização cambial imposta pelo Plano Real, a desconexão
sobreveio.
produção, mas não às fases de expansão e com uma elasticidade que é maior do que o
dobro da do período pré-abertura. Este fato aponta para um aprofundamento do grau de
flexibilidade quantitativa da WLN, além de indicar uma dificuldade da economia
brasileira para gerar empregos formais.
Um dos aspectos do regime de crescimento finance led brasileiro é que ele se constitui
a partir do padrão usurário de acumulação rentista-patrimonial. A economia alterna fases
curtas de expansão com fases de declínio do nível de atividade em razão dos ajustes
recessivos sobre o estoque de capital, provocados pela permanência de um regime de crédito
muito sensível às flutuações dos preços dos ativos e do endividamento das famílias e das
empresas. Consequentemente, tal regime torna-se incompatível com a expansão sustentada
das taxas de crescimento econômico.
682
Uma das características mais surpreendentes deste novo regime finance led growth é a
desconexão entre taxa de lucro e taxa de acumulação de capital. Um fator básico que conspira
contra a sustentabilidade do crescimento econômico em ritmo elevado. Os dados empíricos
mostraram também que nos anos 90, a taxa média de lucro empresarial (deduzidos os
pagamentos de juros ao sistema financeiro) evolui segundo a mesma tendência de crescimento
da razão dívida externa / PIB, enquanto a taxa de acumulação de capital produtivo permanece
em tendência de queda. Isto significa que a elevação da profit share neste período foi uma
resposta endógena à pressão da lógica financeira sobre os capitais diretamente produtivos,
provocando a estagnação e até mesmo o declínio dos níveis de investimento em alguns
períodos.
Pesquisas futuras terão de ser desenvolvidas com dados desagregados por setores
institucionais, o que permitirá uma estimação mais precisa do grau de financeirização a nível
das empresas e das famílias. A hipótese de financeirização usurária deve ser considerada
como teórica e empiricamente relevante para uma explicação consistente da perda de
dinamismo da economia brasileira. Não se trata de insuficiência de poupança, pois num
ambiente marcado por uma das mais altas taxas de juros do mundo, os aumentos da poupança
agregada tendem a ser absorvidos pela acumulação rentista-patrimonial, tornando-se
automaticamente indisponíveis para a formação bruta de capital fixo. No plano teórico isto
significa que a abordagem neoclássica da relação entre taxa de juros e poupança não encontra
suporte empírico, pois as taxas de juros funcionam muito mais como variável de transferência
de renda entre segmentos ou classes sociais. Um aumento dos juros implica no aumento da
683
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705
ÍNDICE DE GRÁFICOS
ÍNDICE DE TABELAS
TABELA 1 CRESCIMENTO E VOLATILIDADE AO LONGO DO SÉCULO XX ........162
TABELA 2 CRESCIMENTO ECONÔMICO E VOLATILIDADE: BRASIL, MÉXICO E
EUA (1950-2002) ...................................................................................................................166
TABELA 3 INFLAÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO (1993 2003).....................171
TABELA 4- BALANÇO DE PAGAMENTOS EM CONTA CORRENTE SALDOS EM
MILHÕES DE DÓLARES (1947 2003) .............................................................................184
TABELA 5- RESULTADO GLOBAL DO BALANÇO DE PAGAMENTOS SALDOS EM
MILHÕES DE DÓLARES (1947 2003) .............................................................................185
711
ÍNDICE DE QUADROS
QUADRO 189 TESTES DE RAÍZES UNITÁRIAS PARA I/K E LPk (1950-2003) ........592
QUADRO 190 TESTE DE CO-INTEGRAÇÃO DE JOHANSEN (1950-2003) ...............592
QUADRO 191 ESTIMAÇÃO DO PARÂMETRO a (1951-2003).....................................594
QUADRO 192 CORRELAÇÕES ENTRE AS VARIAÇÕES DA DEMANDA INTERNA
d(Y+M-X) E DA TAXA DE ACUMULAÇÃO DE CAPITAL d(I / K) [1966-2003] .......606
QUADRO 193 TESTES DE CAUSALIDADE DE GRANGER PARA A DEMANDA
INTERNA E A TAXA DE ACUMULAÇÃO DE CAPITAL (1966-2003) ..........................606
QUADRO 194 - ESTIMAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE PR E CF (1993-2003).................611
QUADRO 195 ESTIMAÇÃO DA RELAÇÃO ESTÁTICA PARA INVT, r, u e TXJUR E
GRÁFICO DOS RESÍDUOS (1982-2003) ............................................................................622
QUADRO 196 TESTE DE CO-INTEGRAÇÃO PARA INV, U E TXJUR (1984-2003)..622
QUADRO 197 VECTOR ERROR CORRECTION MODEL PARA A RELAÇÃO (1984-
2003) .......................................................................................................................................623
QUADRO 198 ESTIMAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE u E bx PERÍODO (1960-1980)
................................................................................................................................................628
QUADRO 199 ESTIMAÇÃO DA EQUAÇÃO PERÍODO (1981-2003) .......................628
QUADRO 200 ESTIMAÇÃO DA EQUAÇÃO 55 (1966-1980)........................................639
QUADRO 201 TESTE DE RAÍZES UNITÁRIAS PARA TXINV, r e bx (1966-1980) ...640
QUADRO 202 TESTE DE CO-INTEGRAÇÃO DE JOHANSEN (1966-1980) ...............640
QUADRO 203 TESTE DE CO-INTEGRAÇÃO DE JOHANSEN (1981-2003) ...............641
QUADRO 204 ESTIMAÇÃO DA EQUAÇÃO 55 (1991-2003)........................................641
QUADRO 205 TESTE DE CO-INTEGRAÇÃO DE JOHANSEN (1991-2003) ...............641
QUADRO 206 ESTIMAÇÃO DA EQUAÇÃO 56 (1966-1980)........................................643
QUADRO 207 TESTES DE RAÍZES UNITÁRIAS (1966-1980) .....................................643
QUADRO 208 TESTE DE CO-INTEGRAÇÃO DE JOHANSEN (1966-1980) ...............643
QUADRO 209 VECM PARA A RELAÇÃO 56 (1966-1980) ...........................................644
QUADRO 210 ESTIMAÇÃO DA RELAÇÃO ESTÁTICA ENTRE IKPR, r E LBX (1990-
2003) .......................................................................................................................................644
QUADRO 211 TESTE DE CO-INTEGRAÇÃO DE JOHANSEN (1990-2003) ...............645
QUADRO 212 TESTE DE PHILLIPS-PERRON PARA IKPR (1981-2003) ....................645
QUADRO 213 ESTIMAÇÃO EM TAXAS DE VARIAÇÃO PARA A RELAÇÃO 56
(1981-2003) ............................................................................................................................645
QUADRO 214 ESTIMAÇÃO EM TAXAS DE VARIAÇÃO PARA A RELAÇÃO 56
(1991-2003) ............................................................................................................................646
QUADRO 215 ATIVOS DOS FUNDOS DE PENSÃO EM % DO PIB: VÁRIOS PAÍSES -
2003 ........................................................................................................................................647
QUADRO 216 CORRELAÇÕES ENTRE ATIVOS FINANCEIROS E CONSUMO DAS
FAMÍLIAS (1988-2003).........................................................................................................654
QUADRO 217 ESTIMAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE AF E CF (1994-2003) ................655
QUADRO 218 - ESTIMAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE JP E CF (1993-2003) .................656
ÍNDICE DE FIGURAS
ANEXOS
1. FONTES DE DADOS
1.1. Fontes básicas dos dados utilizados: IPEADATA; IBGE; Banco Central do Brasil;
DIEESE; Ministério da Previdência e da Assistência Social; Pen World Table; OIT;
CEPAL; Ministério da Fazenda; Ministério da Indústria e Comércio; Funcex e
BNDES;
1.2. Os dados sobre o nível geral de emprego e massa salarial foram obtidos em
MARQUETTI (2000), Notas Metodológicas sobre as Informações Estatísticas
Utilizadas na Análise do Padrão de Progresso Técnico na Economia Brasileira, 1950-
1998. As fontes utilizadas por este autor foram o IPEA, o IBGE, a FGV e Summers e
Heston (1991). Foram considerados como trabalhadores os empregados, os
trabalhadores independentes (conta-própria) e os trabalhadores não-remunerados;
1.3. As séries do estoque de capital fixo foram estimadas por MORANDI (2003) e podem
ser encontradas no IPEADATA;
1.5. A massa de lucro bruto foi calculada pela diferença entre o valor do produto interno
bruto e a massa salarial. A taxa de lucro bruto consiste na razão entre a massa de
lucro bruto e o estoque total de capital fixo produtivo (isto é, sem considerar-se as
construções residenciais);
2. SOFTWARES UTILIZADOS:
2.1. Análise Gráfica: EXCEL 2003 e STATISTICA FOR WINDOWS 6.0;
2.2. Análise Econométrica: EVIEWS 3.1; GNU Regression, Econometrics and Times-
Series Library-Gretl 1.3.0; PcGive 9.21 e STATA 8.0;
Miguel BRUNO
Les gouvernements sont censées faire transiter les économies d un extrême à l autre,
en acceptant passivement les "solutions" exogènes, en général complètement déconnectées
des spécificités nationales. L objectif principal de cette analyse est de fournir une approche
alternative à ces deux extrêmes, en mobilisant les contributions théoriques et
méthodologiques de la Théorie (française) de la Régulation, en tant que macroéconomie
historique et institutionnelle. La thèse explicite les particularités des modes de régulation et
des régimes d accumulation qui sont à l origine des principales tendances macroéconomiques
observées dans l économie brésilienne.
AUTEUR:
Miguel BRUNO
TITRE:
MOTS-CLÉS:
DIRECTEURS DE THÈSE:
JURY:
Jaime MARQUES-PEREIRA (UPMF) rapporteur
Octavio A. CAMARGO CONCEIÇÃO (UFRS) rapporteur
Luiz Carlos BRESSER-PEREIRA (FGV) Examinateur
Benjamin CORIAT (Paris XIII) Examinateur
Robert BOYER (EHESS) Co-Directeur de thèse
João SABOIA (IE/UFRJ) Co-Directeur de thèse
726
INTRODUCTION
En général on suppose que les sorties des grandes crises consistent à toujours adopter
la direction opposée. S'il y avait protectionnisme, alors il faut libéraliser; si la présence de
l'État était considérée excessive, alors sa participation doit être réduite; s'il y avait des
garanties même minimes d'emploi, il est alors nécessaire de les enlever et d approfondir le
degré de flexibilité des relations de travail.
Les économies sont incitées à passer d'un extrême à l autre, avec les gouvernements en
acceptant passivement les "solutions" exogènes, en général complètement déconnectées des
spécificités nationales. L'objectif principal de cette analyse est de fournir une approche
alternative aux deux extrêmes, en mobilisant les contributions théoriques et méthodologiques
de la Théorie (française) de la Régulation, en tant que macroéconomie historique et
institutionnelle. La thèse essaie de montrer les particularités des modes de régulation et des
régimes d'accumulation qui répondent par les principales tendances macroéconomiques
observées dans l'économie brésilienne.
Il y a ici une claire rupture avec les visions traditionnelles qui cherchent à expliquer
« l'économique par l'économique », c'est-à-dire, par la mobilisation d une axiomatique
totalisante et en même temps réductrice, la réalité économique est considérée comme le
résultat des déterminations purement marchandes, dérivées du comportement de sujets
individuels. Quand les structures, des institutions ou des formes sociales d'organisation sont
considérées, elles sont rajoutées à l'axiomatique de départ sans jamais modifier leurs
hypothèses micro-économiques. En utilisant une analogie, les institutions sont introduites
dans le contexte des analyses néoclassiques comme si elles entraient par les fenêtres d'une
construction déjà complète et définitive"; sont des ornements ou des composantes pour
enrichir une structure théorique considérée universellement valable. Mais dans les analyses
régulationnistes, les institutions émergent comme "les fondations elles-mêmes d'un bâtiment
qui doit, par principe méthodologique, s'adapter aux mutations irréversibles de la réalité "; les
institutions, les règles et les conventions ne sont pas des entités déductibles d'une logique
d'optimisation. Ce sont les supports de micro, méso et macrorégularités fondamentaux à la
reproduction sociale et économique. Au lieu de doter les marchés de densité et d'efficacité,
elles sont le substrat par excellence des relations et régularités économiques.
seulement parce que la périodisation est un des objectifs de ce travail, mais parce qu ils
influencent les résultats des tests de racines unitaires et de cointégration.
Dans le cas des théories économiques traditionnelles, cette vision a été réglée par un
ensemble d'analogies avec des phénomènes physiques ou biologiques: "équilibre",
"hystérésis", taux "naturel", etc. Dans les mots de JEVONS (1988), "la théorie économique
traitée de cette façon suggère une étroite analogie avec la science de la Mécanique et on
vérifie que les lois de l'échange se ressemblent aux lois d'équilibre d'un levier". Néanmoins,
par la réduction de plusieurs processus sociaux déterminants à des normes de comportement
caractéristiques du "monde naturel", ces théories s abstraient de propriétés qui sont
spécifiques des systèmes économiques: dynamique évolutive, complexité, historicité,
indétermination, etc. Comme a déjà observé LATOUCHE (1977), les phénomènes
économiques sont alors appréhendés dehors de leur enracinement social effectif, comme si
l'économie fût une dimension de l'homme ou une dimension de la nature et pas un produit de
l'histoire.
D'un point de vue ontologique, les propriétés d'un système plus complexe comme le
social ne peuvent pas être déduites par simple analogie avec le comportement de systèmes de
moindre complexité (comme les systèmes physiques ou biologiques). L'importance du
concept de régulation est qu'il peut traduire, dans le plan des analyses, des propriétés et des
moments qui sont spécifiques aux systèmes socio-économiques. Il cherche à exprimer
l'existence de moments de compatibilité dynamique entre la production et la demande, en tant
qu un résultat de la conjugaison de structures sociales complexes et non comme une
dérivation logique de "mécanismes" purement marchands, centrés exclusivement dans les
comportements individuels optimisateurs.
Les cinq formes institutionnelles (rapport salarial, État, régime monétaire et financier,
les formes de concurrence et d'adhésion au régime international) émergent comme
conjonction de procédures sociopolitiques et institutionnelles. Ce sont des unités d'analyse
dont l'importance théorique provient de la constatation empirique qu ils produisent des
régularités macroéconomiques fondamentales à la dynamique de l'accumulation de capital.
Ces régularités sont dérivées de procédures qui sont en même temps génératrices de rigidité.
Ceci explique parce que certaines configurations favorisent, dans un premier moment,
l'émergence de trajectoires stables de croissance, mais elles ensuite tendent à se convertir en
facteurs endogènes d'inertie et de crise des régimes d'accumulation. En conséquence, la
régulation apparaît comme l expression d'une phase transitoire de stabilité des structures du
système socio-économique et de l'existence de facteurs qui n empêchent pas l existence des
crises économiques.
733
"Ou bien il y a, vraiment, des lois de l'histoire - et, dans ce cas, une
activité typiquement humaine est impossible, excepté, dans le
meilleur des hypothèses, comme technique; ou alors les hommes font
leur histoire - et la tâche du travail théorique n'est plus celle de
découvrir des lois, mais l'élucidation des conditions qui encadrent et
délimitent cette activité, des régularités qu'elle peut présenter, etc."
(Cornelius CASTORIADIS, in les Carrefour du Labyrinthe, 1986)
Son intérêt pour une analyse empirique du cas brésilien dérive du fait que dans son
évolution de long terme, une économie capitaliste industrielle est capable de développer une
variété de régimes d'accumulation, en fonction des configurations historiques des formes
institutionnelles. En outre, comme combinaison structurelle d'un régime de productivité avec
un régime de demande, une approche en termes de régimes de croissance permet de dépasser
le réductionnisme et le mécanicisme des analyses traditionnelles en termes de fonctions de
production. Le concept de régime de productivité est alors mobilisé pour exprimer la diversité
des combinaisons possibles entre capital et travail, à partir de relations qui sont toujours
735
Une taxinomie des régimes d'accumulation se rend alors importante dans le contexte
des macro-analyses régulationnistes: il y a des régimes à dominante extensive ou à dominante
intensive; profit led growth; demand led growth; export led growth; et aussi régimes finance
led growth. Chacun de ces régimes répond par une certaine norme d'évolution
macroéconomique, y compris les spécificités de leurs crises et aussi par les formes de
génération et de distribution de la valeur ajoutée totale. Dans ce contexte, le potentiel
explicatif et heuristique de la Théorie de la Régulation dérive du fait que sa méthodologie et
principes de base n'opèrent aucune dissociation arbitraire entre une sphère considérée
purement économique et autre considerée comme non-économique, où gravitent les
comportements sociaux et politiques.
Après environ trente ans d'évolution depuis son origine dans des milieux des années
70, l'examen de la littérature économique régulationniste suggère que la Théorie de la
Régulation cherche à se consolider comme une macroéconomie historique et institutionnelle.
Des régimes contrastés de croissance et de crise sont leurs principaux objets, dans la mesure
où la variabilité des dynamiques économiques et sociales reste comme une source inépuisable
de nouveaux défis aux théories macroéconomiques établies.
monétaire s'articulaient en tant que facteurs de développement du marché domestique pour les
premières industries de biens de consommation non durables. Néanmoins, le capital industriel
émergent devait affronter aux restrictions provoquées par une économie caractérisée par un
coefficient d'importations élevé et par un appareil d'État contrôlé par les classes liées au
secteur agro-exportateur. En outre, comme la presque totalité des institutions composantes du
régime fisco-financier (THÉRET; 2002) restaient dépendantes des recettes fiscales originaires
du secteur agro-exportateur, l'État s'abstenait de promouvoir délibérément la base industrielle
brésilienne. Cette situation changerait à partir du moment où la grande crise de 1930 rompt
avec une norme séculaire d'insertion internationale qui maintenait la dynamique de l'économie
brésilienne fortement dépendante de la demande extérieure.
En comparant les différences entre le PIB réel et le PIB potentiel au Brésil avec les
mêmes différences au Mexique et aux Etats-Unis, on constate mieux la plus grande instabilité
de la croissance économique brésilienne. L'amplitude des fluctuations du produit est
supérieure à celle observée dans l'économie des Etats-Unis et au Mexique. À partir de
1974/75, le taux d investissement (participation au PIB de la formation brute de capital fixe)
et le taux d accumulation de capital (taux de croissance du stock de capital fixe brut) sont
déclinants au Brésil.
Chômage et relations de travail - à partir de la seconde moitié des années 80, les taux
de chômage entrent dans une tendance d'expansion. La chute du niveau d'emploi dans le
739
secteur industriel a été néanmoins, dramatique. Tant que dans les périodes de forte croissance
économique, les gains de productivité se sont produits aux dépenses du salaire moyen réel,
dans la période postérieure au Plan Réal, ils ont été obtenus aux dépenses de l'emploi et avec
de la chute de la masse salariale.
L'économie brésilienne s'est caractérisée par un dynamisme élevé entre 1900 et 1979,
avec des taux moyens de croissance du PIB et du PIB par habitant, respectivement, de 6% et
de 3% à l'année. L'industrialisation du pays a effectivement contribué à ce résultat dans la
mesure où elle lance les bases pour la détermination endogène du niveau de revenu et
l'emploi. Après cette longue période de développement économique, l'économie entre dans
une trajectoire de grandes difficultés macroéconomiques et structurelles. La performance
macroéconomique dans les années 80 et 90 se montre très inférieure par rapport aux périodes
précédentes.
740
iii. Endettement public très élevé - à partir du régime politique arbitraire post-1964,
l'endettement public est entré dans une trajectoire persistante d'expansion dont les
conséquences macroéconomiques devenaient visibles dans les années 80. Néanmoins, dans la
période post-Real, la dette s'élève en fonction de la logique de ce plan de stabilisation de prix
que dans sa première phase s'est basée sur la manutention de taux de change surapprécié et
combinées avec des taux d'intérêts réels extrêmement onéreux au Trésor National Brésilien;
742
iv. Forte réduction de l'autonomie de la politique économique - dans les années 90,
l'idéologie de la globalisation néolibérale approfondit l'ouverture commerciale et financière,
provoquant une réduction drastique dans l'autonomie de la politique économique. Sous la
pression du grand capital bancaire et financier dans le plan national et international, l'État va
établir comme priorité l'équilibre des comptes publics et la gestion des dettes interne et
externe, tout en questionnant l'efficacité des politiques industrielles et du développement
économique;
Néanmoins, comme avaient déjà constaté AFONSO et SOUZA (1977), la participation des
dépenses sociales dans le budget d'état au Brésil est extrêmement réduite quand comparée aux
participations des rubriques directement rapportées à l'accumulation du capital ;
Quant à la hiérarchie du rapport salarial brésilien, l'analyse historique supportée par les
tests économétriques fournit des éléments empiriques considérables pour le classer comme
une forme institutionnelle toujours subordonnée dans l'architecture définissant les modes de
régulation au Brésil.
Dans le secteur industriel, les relations salariales sont normalement plus structurées et
les syndicats plus organisés, de sorte que les pertes inflationnistes tendent à être recomposées
avec plus d agilité que dans les autres secteurs économiques et cette recomposition peut
éventuellement précéder à l actualisation monétaire du salaire minimum de la part des
autorités gouvernementales. Si d'un côté l'économie était encore fermée en termes
commerciaux (jusqu en 1989), d'autre côté la procédure d'ouverture politique avec la
redémocratisation du pays a favorisé la reprise des mouvements syndicaux en profit des
revendications salariales. Alors, les changements dans le salaire moyen nominal de l'industrie
"causent au sens de Granger" les changements dans le salaire minimum nominal;
745
De telle façon que sous la période du « miracle brésilien"(1966-1973) mais aussi dans
les années 90, la part salariale a souffert des chutes successives et accentuées, en exprimant
l'augmentation de la concentration fonctionnelle du revenu en faveur des profits. Néanmoins,
l'analyse empirique montre que dans le cas du "miracle économique" brésilien, les gains de
productivité se sont produits aux dépenses des salaires, tandis que dans les années 90,
l'augmentation de la productivité a été obtenue aux dépenses de l'emploi. Dans le premier cas,
il s'agissait d'une économie fermée en termes commerciaux et sous un régime politique
arbitraire. Dans ces conditions, le rapport salarial a été soumis à un processus d'encadrement
forcé à la logique d'un régime d'accumulation socialement excluant. Dans le deuxième cas,
l'État, sous un régime politique démocratique, adhère à la logique de la globalisation
néolibérale et aux préceptes du « Consensus de Washington » et soumet le rapport salarial aux
pressions de la concurrence et des finances internationales. Dans les deux cas, l'État a été
mobilisé pour soumettre les relations salariales aux prérogatives du grand capital national et
international.
appréhender les spécificités des formes à travers lesquelles le capital bancaire et financier
impose des limites à la croissance économique et en même temps se nourrit tant de l'inflation
comme des tendances à la stagnation qui ont marqué les décennies de 80 et 90.
L'analyse de l'évolution de longue période du RMF brésilien révèle son rôle structurelle et
subordonnée à la forme institutionnelle d'insertion internationale, une caractéristique qui
est commun aux économies en développement. Dans ce contexte, la haute dépendance des
capitaux étrangers et la tendance historique au déséquilibre extérieure se renforcent
comme obstacles à la consolidation de la monnaie nationale. En conséquence, les
pressions inflationnistes sont recréées de forme récurrente, malgré la stabilité relative
atteinte sous le Réal. Cependant, comme l institutionnalisation qui garantit la mobilité des
capitaux est maintenue comme une prérogative du capital bancaire et financier et
légitimée par l'État, le taux d'intérêts se convertit dans l'instrument par excellence de
contrôle de l'inflation et de garantie de la rentabilité réelle des capitaux financiers.
Néanmoins, comme sa mobilisation pour impulser le crédit aux secteurs productifs est
rendue difficile par les conditions institutionnelles qui maintiennent l'ouverture financière,
la reprise d'une trajectoire de croissance économique forte et durable est peu probable;
La transition d un RMF dual et, par nature, inflationniste, à un RMF avec haute restriction
monétaire a impliqué le changement des conditions sur lesquelles l'accumulation
financière se développait. Entre 1980 et 1993, la haute inflation et les mécanismes
d'indexation ont été la base de l'expansion financière et des grands profits du secteur
bancaire. Ce fait a pu être constaté quand les tests économétriques ont montré qu existait
une causalité unidirectionnelle entre l'inflation et l'accroissement de la participation au
PIB de la valeur ajoutée par le secteur financier;
automatiquement disponibles aux secteurs directement productifs, donc ils sont canalisés
vers les actifs financiers, de moindre risque et de rentabilité réelle garantie.
Le RMF postérieur au Plan Real répond aussi par la restriction salariale et par la hausse
du chômage, à partir de son interaction avec les autres formes institutionnelles. Un rapport
salarial fortement concurrentiel, une norme d'insertion internationale d'orientation
néolibérale et un État hautement endetté dont les besoins de financement se sont convertis,
comme dans les années 80, dans le support de l'évaluation des capitaux de court terme.
Cette architecture institutionnelle a été le support de la stabilité de prix sous la nouvelle
monnaie et non seulement la logique originale d'un programme de combat à l'inflation.
Néanmoins, cette configuration a été aussi la responsable par la quasi-stagnation du
produit et du revenu, ce qui a caractérisé la "deuxième décennie perdue" en ce qui
concerne le développement et le rachat de la dette sociale brésilienne.
Les résultats empiriques indiquent que les formes de la concurrence - que dans l'économie
brésilienne sont basées sur des structures de marché fortement oligopolisés - n'auraient pas
été significativement touchées par l'ouverture commerciale et par la libéralisation
financière. La chute des indicateurs de taux de marge sectoriels serait plus l'expression
d'une phase préliminaire d'adaptation au nouvel environnement macroéconomique post-
ouverture et post-stabilisation de prix qu une tendance de long terme de réduction du
pouvoir de marché des grandes entreprises nationales et multinationales.
En ce qui concerne les taux de marge moyens sectoriels, les travaux empiriques
disponibles montrent qu'il y a eu des réductions dans leurs niveaux à partir de la transition
pour une économie ouverte, sous la validité du Real. Néanmoins, si les indicateurs
indiquent une augmentation relative de la concurrence oligopolistique, on n'observe pas
une réduction substantielle du pouvoir de marché des grandes firmes qui contrôlent les
secteurs-clefs de l'économie.
Les activités intensives en travail ont perdu participation, ce que peut être considéré
comme un facteur supplémentaire dans les limites à la création d'emploi au Brésil ;
La principale cause de la chute du taux d utilisation des capacités dans la période 1981-
2003 a été la chute du taux de profit initiée en 1974. Le mode de développement par
substitution d'importations se développait sous la logique de régimes de croissance du
type profit-led avec forte présence de l'État et la participation du capital étranger.
L'économie brésilienne n a jamais fait la transition pour un régime wage-led ou export-
751
led, ce que pourrait être la base pour une société de consommation de masse et plus
égalitaire. Dans ce contexte, la chute du taux de profit, concomitament à une expansion et
à une concentration financières sans précédents historiques, il déchaînerait la chute du
taux d'utilisation des capacités productives;
Au début des années 90, le taux de profit augmente, mais le taux d'accumulation de capital
reste stagné. Pendant les phases de forte croissance économique, taux d'accumulation,
taux de profit et taux d'utilisation des capacités sont restés positivement corrélées. Dans la
période postérieure au Plan Real, la persistance d'un faible taux d'utilisation des capacités
peut être expliquée par le processus de financiarisation qui soumet l'économie brésilienne
aux prérogatives de la "globalisation" et a comme support l' endettement extérieur et
intérieur élevé du pays. Les évidences empiriques indiquent que l'économie brésilienne
actuelle fonctionne sur la base d'un nouveau régime tiré par les finances, c est-à-dire, d'un
régime du type finance led growth;
Le régime d'accumulation a été à dominante extensive dans la période 1951-1963, avec les
gains de productivité stagnants entre 1951-60 et en chute entre 1961-63. Un fait qui est
cohérent avec les résultats du « Plan d'Objectifs » lesquels visaient élargir les capacités de
production et consolider l'industrialisation du pays;
Il faut remarquer que si les années 90 ont été considérés comme une deuxième "décennie
perdue" en termes de croissance et de développement socio-économique, c est à partir de
1994 que la tendance à la chute du taux de profit s interrompt. En 2002, le taux général de
profit de l'économie brésilienne atteint le niveau de 25.8%, le plus haut depuis la récession
de 1983 ;
Dans le cas brésilien actuel, on constate que cette variable se présente dans une nette
trajectoire de croissance. La conclusion directe est qu il n'y a pas d'indications d une crise
structurelle dans l'économie brésilienne. D'autre part, il n'y a pas de raison théorique pour
supposer que le rétablissement de la rentabilité des capitaux est une condition suffisante
pour relancer l'économie dans un processus de croissance économique forte et durable. La
hausse du taux de profit peut être, par exemple, un moyen de survie des capitaux
directement productifs en face de la "ponction rentier" qui leur est imposée par le capital
financier dans une époque de « globalisation » néolibérale et financière;
Pour la période 1991-2003, nous n avons pas obtenu des évidences empiriques qui
supportent l'existence de la relation KV. L'approche kaldorienne de cette relation est
établie dans l'existence de causalité cumulative dans le plan macroéconomique, en
estimant l'influence de la demande globale comme un facteur d'impulsion de la dynamique
de l'industrie et de l'économie. Néanmoins, dans la décennie de 90, la demande globale est
restée, dans la plupart de la période, très contenue, tant par le régime de politique
économique que par la hausse du chômage conjoncturel et structurel;
Le modèle de BOWLES-BOYER (1990; 1995) pour les régimes d'accumulation est testé
pour le cas brésilien, dans la version proposée par UEMURA (2000). Les résultats des
estimations des fonctions d épargne, d investissement et d exportations nettes permettent
les considérations suivantes:
La crise des années 60 peut être interprétée comme un résultat de cette déconnexion
entre l'évolution des gains de productivité et le salaire moyen réel, quand l'accumulation de
capital initie sa phase intensive. Comme une crise cyclique, elle n est pas un résultat de
l épuisement du mode de régulation en vigueur, mais de l'incapacité des formes
institutionnelles à absorber les nouveaux déséquilibres produits par une expansion rapide des
capacités de production, pendant la mise en uvre du « Plan de Metas ».
changement dans les configurations des formes institutionnelles. Un résultat direct a été la
conversion du régime monétaire financier et de la nouvelle forme d'insertion internationale à
la catégorie de formes institutionnelles hiérarchiquement supérieures, en soumettant l'État et
le rapport salarial aux prérogatives d'une adhésion néolibérale au processus de globalisation;
Ces résultats peuvent être interprétés comme étant liés à la logique du modèle
d'industrialisation par substitution d'importations et par conséquence, à l'inexistence d'un
standard de croissance extravertie. Néanmoins, la transition observée dans la deuxième
période ne signifie pas l'établissement d'un régime d'accumulation du type export-led growth,
ce qui pourrait être la base d une montée des niveaux de revenu et de l'emploi dans l'économie
brésilienne post-libéralisation et post-Plan Real;
d) En bref, les signes des élasticités des fonctions estimées du modèle BOWLES-
BOYER permettent les suivantes constatations :
d'accumulation a été du type profit led growth. Ce fait confirme les analyses
historiques concernant l existence, pendant le "miracle", d'un modèle de croissance
tiré par des élevés taux de profit et d'endettement extérieur;
dans la période 1984-2003, une spécification de court terme conduit à une valeur
aussi positive pour l'élasticité par rapport au profit de l'excès de demande globale,
L'analyse empirique montre que la productivité du travail a augmenté dans les années
90, ce qui a résulté de l'augmentation dans l'intensité du capital (K/N), c'est-à-dire, les gains
de productivité ont été obtenus principalement par la substitution accélérée du capital au
travail;
Dans les années 90, l'économie brésilienne a eu accès à des nouvelles technologies de
l information et de la communication (NTIC), avec des forts impacts dans la réorganisation de
leurs bases techniques productives. Néanmoins, il est surprenant le fait que cette économie n a
pas réussi à soutenir la hausse de son taux d'accumulation de capital, malgré des gains
considérables de productivité, particulièrement dans l'industrie de transformation. Une
explication possible est proportionnée par la Théorie de la Régulation: un régime de
croissance ou d'accumulation est le résultat de la compatibilité dynamique entre un régime de
productivité et un régime de demande. Les évidences empiriques indiquent que le régime de
demande dans la période post-libéralisation et post-Real n est pas capable de supporter le
nouveau régime de productivité. Les taux de variation du taux d'accumulation de capital et le
taux de croissance de la demande intérieure (Y+M-X) ont continué en chute tendancielle entre
1994 et 2003, en même temps que le ratio profit/ taux d'accumulation est resté dans une
tendance anormale de croissance. En autres termes, les augmentations de la part des profits,
observées dans cette période, n'ont pas été capables de stimuler de l'expansion des capacités
de production.
L'analyse empirique apporte des fortes évidences dans le sens que l'inertie des taux
d utilisation des capacités dans une moyenne basse et historiquement sans précédents est le
résultat du processus de financiarisation usuraire de l'économie brésilienne. Ce processus a
été inauguré du début avec la crise de la dette extérieure et la crise fiscale de l'État dans la
décennie de 80, en trouvant dans le régime monétaire et financier dual et inflationniste sa
condition structurelle de développement. Avec la libéralisation commerciale et financière et la
mise en uvre du Plan Real, dans les années 90, les prélèvements inflationnistes qui
nourrissaient le circuit de l'accumulation patrimoniale sous haute inflation ont été substitués
par le revenu financier dérivé des hauts taux d'intérêts réels reliés à la nouvelle norme
d'endettement sous des finances libéralisées. La continuité de cette nouvelle norme
présuppose la manutention d'un régime monétaire et financier à forte restriction, ce qui
emprisonne la politique économique aux intérêts directs des rentiers et propriétaires de
capital;
Tant que le ratio dette extérieure/ PIB est resté au-dessous de 10% et avant que le
compte de capital soit ouvert, il y a eu une expansion du taux d'accumulation de capital dans
l'économie brésilienne. Il y a un seuil à partir duquel la corrélation entre l endettement et
l investissement productif a son signe inversé, en passant de positive à négative. Quand ceci
se produit sous conditions structurelles spécifiques - régime monétaire et financier
inflationniste entre 1984-1993 et haute restriction monétaire sous des finances libéralisées, à
partir de 1994 - le résultat direct est la réduction des investissements productifs, en conduisant
à la quasi-stagnation ou à la chute du taux d'accumulation de capital.
Quand s'analysent les résultats des tests économétriques pour la période [1991-2003],
se détachent les faits suivants: le coefficient concernant le taux de profit n'est plus
statistiquement significatif et le signe est maintenant négatif. Le même effet se passe avec le
signe du coefficient concernant le ratio dette extérieure/ PIB (variable « bx »), dont la valeur
est devenue trois fois supérieure à celle de la première période;
régulation, tout en minimisant l'importance d'un projet de développement de long terme. Sous
ces conditions, la restriction externe a passé à surdéterminer la politique économique,
l'empêchant de répondre rapidement aux nécessités de l'accumulation de capital réel.
CONCLUSION GÉNÉRALE
transformations structurelles, mais qui simplement ont été refusées en profit d'une réinsertion
néolibérale dans le régime international.
Dans les années 90, sous la validité du Real et les finances libéralisées, cette
subordination atteint un paroxysme, en emprisonnant le régime de politique économique aux
intérêts directs des propriétaires d'actifs financiers et en détriment de l'accumulation de capital
réel. En conséquence, dans le plan politique et idéologique, les alternatives à l'actuel régime
de politique économique sont systématiquement contestées par le discours officiel et par les
segments bénéficiaires des grands profits financiers, comme inadéquates ou porteuses de
contenus "populistes" anachroniques;
L'analyse historique supportée par les tests économétriques fournit des éléments
empiriques suffisants pour la classer comme une forme institutionnelle toujours subordonnée
dans l'architecture définissant des modes de régulation au Brésil. Il s'agit d une WLN
amplement concurrentielle, segmentée et en permanence contrôlée par l'État avec l'objectif de
l'ajuster aux impératifs de court terme du régime de politique économique et de
l'accumulation de capital.
Avec la mise en uvre du Plan Real, les hauts taux réels d'intérêts ont occupé la place
avant réservée aux prélèvements inflationnistes, en perpétuant un régime monétaire et
financier inadéquat aux besoins de l'accumulation de capital productif. Ce fait permet aussi de
comprendre que le contrôle de l'inflation c est maintenu aux coûts de la croissance
économique et du détour de l'épargne macroéconomique pour les centres d'accumulation
financière et patrimoniale.
À partir de son interaction avec les autres formes institutionnelles, l actuel RMF
répond aussi par la forte restriction salariale et par la hausse du chômage sous des finances
libéralisées. Un RMF avec une restriction monétaire élevée se conjugue avec une WLN
amplement concurrentielle, un État hautement endetté et dominé par les intérêts financiers de
court terme et un standard néolibéral d'insertion internationale. Cette architecture
institutionnelle a été le support de la relative stabilité de prix sous le Real et non seulement la
logique originale d'un programme de combat à l'inflation.
Ils n'ont pas été observés l'expansion et l amélioration significative des conditions de
financement de l'économie brésilienne, ce qui aurait possibilité une plus grande connexion du
capital financier aux nécessités du capital productif. L'ouverture financière a rendu possible
une nouvelle phase pour l'absorption d'épargne extérieure mais les effets sur le taux
d'accumulation de capital et sur la croissance économique sont restés très peu significatifs.
Néanmoins, sous des finances libéralisées l'accumulation rentière-patrimoniale a gagné un
nouveau palier avec l'accès à de nouveaux services et des produits offerts par des institutions
qui opèrent dans les marchés financiers internationalisés et de plus en plus interdépendants.
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Les tests économétriques ont montré qu'un régime d'accumulation profit led a été
présent dans la période [1966-1980], qu'inclut la phase de forte croissance du "miracle
économique brésilien" (1967-1973). Ce résultat confirme les analyses historiques qui
appréhendent cette phase comme liée à un modèle de croissance basée sur des hauts taux de
profit, concentration du revenu et endettement extérieur.
Une des principales hypothèses de cette analyse est celle d une financiarisation de
l'économie brésilienne. Mais l'application de ce concept au cas brésilien actuel exige une
qualification plus appropriée à la norme de relations entre les institutions financières et les
secteurs directement productifs. Dans un environnement macroéconomique caractérisé par
des taux réels d'intérêts élevés, le processus de financiarisation acquiert un caractère usuraire,
différent de celui observé dans les pays avec un faible endettement ou des taux d'intérêts bas.
En outre, le degré de concentration du revenu et celui du stock de richesse sont aussi des
facteurs importants dans la détermination des particularités d'un standard de financiarisation.
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L analyse a montré que sous des finances libéralisées, un endettement extérieur élevé,
un régime monétaire avec haute restriction et un degré excessif de concentration du revenu et
de richesse, sont les conditions nécessaires pour l'émergence d'un régime du type finance led
growth.
Un des aspects du régime de croissance finance led brésilien est qu'il se constitue à
partir d un standard usuraire d'accumulation rentier. L'économie alterne des phases courtes
d'expansion avec des phases de baisse du niveau d'activité en raison des ajustements récessifs
sur le stock de capital, provoqués par la permanence d'un régime de crédit très sensible aux
fluctuations des prix des actifs et de l'endettement des familles et des firmes. En conséquence,
tel régime rend incompatible avec l'expansion soutenue des taux de croissance économique.
Une des caractéristiques les plus surprenantes de ce nouveau régime tiré par les
finances est la déconnexion entre le taux de profit et le taux d'accumulation de capital. Un
facteur fondamental qui conspire contre le développement durable de la croissance
économique sous un rythme élevé.
La question est, en fait, complexe et ses dimensions dépassent le contexte des relations
purement économiques. En d autres termes, le changement de cette norme de relation entre
l accumulation de base rentière-patrimoniale et l accumulation de capital productif exige la
mobilisation de forces politiques qui puissent contrebalancer l'influence exercée par les élites
financières sur l'appareil d'État brésilien et, en conséquence, sur le régime de politique
économique. Ceci signifie récupérer la souveraineté de l'État, y compris son caractère public,
tout en profitant les nouvelles conditions rendues propices par la démocratie politique, ayant
pour but approfondir et concrétiser la démocratie économique.
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