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ECONOMIA E MERCADOS
Flávio Arantes dos Santos
Economia e mercados
1ª edição
Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2019
2
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
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Editorial
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Beatriz Meloni Montefusco
Daniella Fernandes Haruze Manta
Hâmila Samai Franco dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
ISBN 978-85-522-1637-7
2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
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ECONOMIA E MERCADOS
SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 5
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Apresentação da disciplina
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Já no caso do estudo da macroeconomia, você entenderá as relações
econômicas agregadas, baseadas no comportamento dos agentes
econômicos enquanto grupos. Nesse caso, você será apresentado as
relações básicas existentes entre as famílias, as empresas, o governo e
o setor externo na economia como um todo. A partir dessas relações,
você aprenderá como as contas nacionais são determinadas, além
de compreender o balanço de pagamentos, ou seja, as relações da
economia nacional com o resto do mundo. Por fim, você vai conhecer
os conceitos da macroeconomia utilizados na condução das políticas
econômicas, discutindo seus efeitos nos problemas de desemprego,
crescimento econômico e inflação.
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Fundamentos de teoria econômica
Autor: Flávio Arantes
Objetivos
7
1. Introdução
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parte da vida das pessoas mesmo que elas não estejam preocupadas
ou mesmo que não percebam o quanto a disciplina as influencia. Já
no tópico 2.2, você aprenderá de maneira mais formal os principais
conceitos utilizados na economia e quais são os problemas
fundamentais que a disciplina econômica se dispõe a enfrentar.
Você certamente já parou para pensar alguma vez que a “economia” está
presente na sua vida de diversas formas e que ela está sempre definindo
suas possibilidades e oportunidades, influenciando suas escolhas ou
decisões e ajudando a determinar seu modo de viver em sociedade. Se
por acaso nunca parou conscientemente para refletir sobre a “economia”,
certamente já pensou bastante sobre ela de maneira inconsciente, sem
perceber que aquele assunto específico se tratava de uma abordagem
econômica ou que você fez, mesmo sem perceber, uma análise
econômica durante a sua vida. Bastar ligar a TV, navegar pela internet ou,
ainda, passar os olhos em algum jornal que você pode perceber o quanto
a economia está presente no dia a dia de qualquer pessoa.
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Entretanto, qualquer informação, notícia ou conteúdo que se refere
a economia parte de uma série de embasamentos teóricos que a
justificam. A partir deste tópico, você vai se familiarizar com os principais
conceitos utilizados na discussão econômica e com as duas grandes
vertentes teóricas que sustentam as abordagens da economia enquanto
objeto de estudo. Você vai saber em qual contexto usar determinada
abordagem e qual conceito utilizar em uma situação econômica
específica. Mas, afinal de contas, o que é economia?
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grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas.
(VASCONCELLOS; GARCIA, 2000, p. 2, grifo do autor)
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categoria de análise. É uma disciplina que abriga elementos das ciências
exatas, como a matemática, ou mesmo a física, para a solução de
problemas relacionados a quantidades, valores ou uso dos recursos.
Mas também é uma disciplina que considera as abordagens oriundas
das humanidades, como a história de um país que o levou ao modo
como ele se encontra hoje em dia; ou da sociologia, para analisar
os indivíduos enquanto seres que convivem num determinado tipo
de configuração da sociedade, ou, ainda, elementos da psicologia,
que levam os indivíduos a serem singulares e terem determinados
comportamentos na sociedade em que vivem. Afinal de contas, como
você certamente já percebeu, a Economia trata de recursos, valores,
quantidades e, mais importante, de PESSOAS! Que se organizam das
mais diversas formas e se relacionam das maneiras mais diversas
possíveis com os fins mais diversificados possíveis.
• Escolhas.
• Produção.
• Necessidades.
• Escassez.
• Distribuição.
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12
ASSIMILE
Escassez econômica: o sentido dado pela economia à
escassez é o mesmo dado por qualquer dicionário de
língua portuguesa, mas com o adicional de estar sempre
relacionado às necessidades da sociedade. Dessa forma,
a economia lida com o dilema entre a finitude dos
recursos (naturais, monetários, sociais...) de que dispõe
frente às necessidades dos seres humanos que, por
pressuposto, são ilimitadas.
[...] pode ser definido como sendo a forma política, social e econômica pela
qual está organizada uma sociedade. É um particular sistema de organização
da produção, distribuição e consumo de todos os bens e serviços que as
pessoas utilizam buscando uma melhoria no padrão de vida e bem-estar.
13
ASSIMILE
Meios de produção: são os recursos utilizados na produção
de bens e serviços numa empresa, numa indústria ou
numa economia como um todo. São chamados também
de fatores de produção e incluem, basicamente, terra,
recursos naturais, trabalho, capital e tecnologia.
3. As abordagens da microeconomia e da
macroeconomia
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campo da microeconomia se atém. Você verá que é uma área da
Economia que se preocupa com o comportamento dos agentes
econômicos enquanto consumidores, produtores ou vendedores.
É na microeconomia que se desenvolvem a teoria do consumidor
e a teoria da firma, ou da empresa. Na seção 3.2, você aprenderá
o que é a macroeconomia e as áreas da Economia com as quais
essa abordagem se preocupa. Como você perceberá, essa área do
conhecimento está preocupada com o conjunto dos consumidores, o
conjunto das empresas, o conjunto de ações do governo e as relações
de uma economia com outras economias do mundo.
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PARA SABER MAIS
Adam Smith (1723-1790) foi um filósofo, economista e
autor britânico nascido na Escócia, que é considerado o
pai da economia moderna ou, ainda, o pai do capitalismo.
Aliando seus conhecimentos de filosofia moral à análise
econômica, Smith defendia que os seres humanos são
naturalmente propensos às trocas e que sempre se
relacionam entre si com esse objetivo.
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Figura 1 – Adam Smith (1723-1790)
Fonte: WilshireImages/iStock.com.
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O mercado nada mais é do que o local onde as relações entre os
agentes econômicos acontecem. Nele são realizadas as trocas que Smith
defendia ser a maneira mais eficiente de completar o processo produtivo
e garantir de fato “a riqueza das nações”. Para ele, o mercado deveria
ser LIVRE, para possibilitar as transações diretamente entre produtores
e compradores e sem a intervenção do governo, a não ser para garantir
a liberdade de negociações. Isso porque o autor acreditava numa “mão
invisível” que garantiria o ajuste de mercado, pois o interesse de cada
agente econômico levaria a um ajuste benéfico para todos. Ou seja, a
soma das ações individuais levaria ao bem comum e coletivo.
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empresas e das indústrias com as quais eles interagem. Você percebe
e apreende a dinâmica de setores econômicos específicos e faz uma
extrapolação para a compreensão daquele sistema de relações em que
determinada empresa ou indústria está envolvida. Mas e para a análise
do comportamento econômico como um todo? Como você pode analisar
o funcionamento da economia de maneira geral? Será que é possível
extrapolar a dinâmica de um mercado ou de uma indústria específica
para um país como um todo? Como calcular as grandes relações, as
relações agregadas da economia?
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A partir da publicação da obra A teoria geral do emprego, do juro e
da moeda, em 1936, Keynes colocou uma nova forma de entender a
economia. Segundo o autor, o mercado é a configuração mais eficiente
para que as transações entre produtores e compradores ocorram, mas
esse mercado não pode ser deixado livre, ao sabor da “mão invisível”
de Smith. Na interpretação de Keynes, o comportamento otimizador de
cada agente econômico não necessariamente leva ao bem-estar comum.
A ideia é de que, mesmo que as empresas otimizem suas decisões de
investimento e de produção e os consumidores otimizem suas escolhas
de consumo e de oferta de mão de obra, o encontro de ambos no
mercado pode não resultar num equilíbrio da economia como um todo.
Mas você deve estar pensando: o que, de fato, Keynes quer dizer com
isso? O que quer dizer esse equilíbrio da economia como um todo?
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Figura 2 – John M. Keynes (1883-1946)
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4c/Lopokova_and_
Keynes_1920s_cropped.jpg. Acesso em: 8 jan. 2020.
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Mas e onde está o caráter macroeconômico da análise? Está justamente
no fato de que Keynes não estava preocupado com uma empresa
específica, nem com um mercado específico e muito menos com um tipo
de trabalhador ou de consumidor específico. Sua preocupação maior era
com o nível agregado de produção, com o nível total de desemprego na
economia e com a insuficiência de demanda global para atingir o pleno
emprego dos fatores de produção.
Dessa maneira, Keynes criou uma abordagem que não era objeto
da disciplina econômica principalmente porque, até então, a
análise econômica baseava-se fundamentalmente na abordagem
microeconômica oriunda de Smith. A análise macroeconômica,
portanto, vem da interpretação de Keynes e trata do estudo agregado
da atividade econômica, ocupando-se das magnitudes globais, com
vistas à determinação das condições gerais de crescimento e de
equilíbrio da economia como um todo. Ou seja, a macroeconomia
estuda a determinação e o comportamento dos agregados econômicos,
como o Produto Interno Bruto (PIB), o consumo nacional (das famílias),
o investimento agregado, as exportações totais que um país faz para o
exterior, as importações totais que o país recebe de fora, o nível geral
de preços e os determinantes da inflação e todas as demais variáveis
que representam algum tipo de “agregado” da economia.
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política monetária, política fiscal, a busca pelo controle da inflação,
a discussão sobre a taxa de câmbio, a questão do desemprego, as
políticas de fomento à economia, entre diversas outras.
TEORIA EM PRÁTICA
De tempos em tempos, a economia brasileira passa por
algum tipo de crise econômica que impacta a produção
nacional e o nível de emprego. Às vezes, a crise interna
no país é decorrente de alguma crise internacional,
em que os países mundo afora deixam de demandar
os produtos brasileiros e reduzem suas relações
comerciais com o Brasil. Quando isso ocorre, alguns
setores da economia são mais afetados do que outros,
mas o impacto sobre a produção e o emprego é visto
na economia como um todo. Em outros momentos, as
crises são decorrentes da própria dinâmica interna, por
exemplo, quando há uma queda expressiva do consumo
das famílias por conta da dificuldade de acesso ao
crédito. Tendo em vista esse cenário, quais elementos
você classificaria como explicações microeconômicas
da crise? Quais os elementos que fazem parte da
abordagem macroeconômica? Há alguma interação
entre ambas as abordagens?
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VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. A economia enquanto objeto de estudo existe há muito
tempo e os gregos já possuíam uma discussão sobre os
princípios que deveriam reger essa disciplina. Entretanto,
a economia __________ surgiu a partir da interpretação
de ______________ sobre a realidade _________ em que a
Grã-Bretanha se encontrava. Seus estudos deram início
à análise ________ mas também se preocupava com as
condições _________da economia.
24
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A microeconomia, que está preocupada com o
crescimento econômico de um país.
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a. As ciências exatas, como matemática e física, que
ajudam nos cálculos de otimização das decisões de
consumidores e empresas.
Referências bibliográficas
26
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Gabarito
Questão 1 – Resposta: E
Resolução: Adam Smith é considerado o pai da economia moderna
e sua interpretação da realidade manufatureira da Grã-Bretanha
deram início à abordagem microeconômica. Entretanto, Smith
também se preocupava com questões gerais da economia, como
as origens e as causas da riqueza dos países.
Questão 2 – Resposta: C
Resolução: a microeconomia e a macroeconomia. Enquanto a
microeconomia aborda temas relacionados ao comportamento
das empresas e dos consumidores, a macroeconomia está
preocupada com o comportamento geral da economia, com os
agregados econômicos.
Questão 3 – Resposta: A
Resolução: a economia é considerada uma ciência social
aplicada. Isso significa que ela pega emprestado elementos das
humanidades, como história, sociologia, psicologia, etc., mas
também usa elementos das ciências exatas, como matemática e
física, para ajudar nos cálculos de otimização das decisões dos
agentes econômicos.
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Microeconomia: princípios
da oferta e da demanda
Autor: Flávio Arantes
Objetivos
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1. Introdução
Você vive numa sociedade capitalista, em que boa parte das relações
sociais são relações econômicas. Isso significa que elas acontecem
no mercado e são mediadas pelo dinheiro. É no mercado que
consumidores e produtores se encontram e realizam as transações: os
primeiros demandando bens e serviços produzidos e ofertados pelos
segundos. As transações no mercado ocorrem por meio da troca de
dinheiro por um determinado bem ou serviço.
Pela sua experiência pessoal, você sabe que é o preço que determina
a quantidade de um bem ou de um serviço oferecido no mercado. Já
a quantidade demandada daquele determinado bem vai depender
de uma série de fatores. Esses fatores vão desde as necessidades do
consumidor, suas preferências, seus gostos e terminam sempre na
sua renda. Assim, a despeito das características individuais de cada
consumidor, em última instância, o que vai determinar a quantidade
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que ele demanda daquele bem ou serviço é sua capacidade de
pagamento ou sua restrição orçamentária. Dessa forma, quantidade,
preços e renda estão sempre em questão quando você está fazendo
uma análise microeconômica.
ASSIMILE
3. Demanda
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30
ASSIMILE
31
Tabela 1 – Preço e demanda de pizza
Preço da pizza Quantidade demandada de pizza
R$ 0,00 12
R$ 5,00 10
R$ 10,00 8
R$ 15,00 6
R$ 20,00 4
R$ 25,00 2
R$ 30,00 0
O Gráfico 1 mostra que a curva de demanda por pizza condiz com a lei
da demanda: tudo o mais mantido constante, a demanda será maior
quanto menor o preço. Ou seja, se nada acontecer com a renda de Luigi,
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se os gostos dele não mudarem e se suas preferências se mantiverem as
mesmas, ele vai demandar mais de um determinado bem quanto mais
baixo for seu preço.
Mas o que vale para Luigi, no caso da Lei da Demanda, também vale
para sua esposa Mária – e vale para todos os indivíduos que demandam
pizza. Mária tem preferências, gostos e renda diferentes de Luigi, e
demanda pizzas conforme a terceira coluna da Tabela 2 abaixo mostra:
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Dessa forma, a curva de demanda de mercado é igual ao somatório de
todas as curvas de demanda de todos os indivíduos que se encontram
no mercado. No exemplo que você está analisando, é a soma da curva
de Luigi e Mária que, individualmente, estão representadas no gráfico 2a
e, juntas, estão representadas no gráfico 2b.
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Mas e se outras condições que determinam a demanda por um
bem mudam? O que acontece com a curva de demanda se a renda
dos consumidores muda? E se as preferências e os gostos desses
consumidores sofrem alterações? O que acontece com a demanda?
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exemplo, é muito comum o consumo de bens inferiores, como salsicha,
macarrão instantâneo, “pratos feitos” ou mesmo passe de ônibus. Esses
bens não são inferiores pela qualidade do alimento ou do transporte
público, mas sim porque, quando o universitário consegue um emprego,
com renda maior, ele deixa de consumir ou reduz seu consumo de
macarrão instantâneo e passa a consumir um almoço no restaurante.
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3.4 Deslocamento da curva de demanda
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Perceba pelo Gráfico 4a acima que o preço da barrinha de chocolate
continuou o mesmo (R$ 5), mas a demanda aumentou de 10 para
15 unidades. No mesmo preço, o mercado demanda mais barrinhas
de chocolate. A mesma lógica vale para o caso em que as preferências
ou os gostos dos consumidores mudam e eles passam a demandar
mais barrinhas, independentemente do preço.
38
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Gráfico 5 – Deslocamento da curva de demanda de arroz branco
39
No seu dia a dia, a depender do tipo de bem em questão, as
alterações nos preços de mercado, na renda dos consumidores,
nas preferências e em qualquer outro condicionante da demanda
têm implicações diversas. Você já tem o ferramental básico para
efetuar essas análises do lado da demanda, falta agora aprender o
comportamento do lado dos produtores de bens, ou seja, a dinâmica
da oferta no mercado.
4. Oferta
40
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Gráfico 6 – Curva de oferta de um bem
[...] lei da oferta: com tudo o mais mantido constante, quando o preço de
um bem aumenta, a quantidade ofertada desse bem também aumenta,
e, quando o preço de um bem cai, a quantidade ofertada desse bem
também cai. (MANKIW, 2014, p. 71)
41
que vários princípios que valem para a demanda também valem para a
oferta, desde a construção da curva até a análise dos seus movimentos.
Pizzaria Pizzaria
Preço da pizza Oferta de mercado
La Mamma La Bella
R$ 0,00 0 0 0
R$ 5,00 1 3 4
R$ 10,00 3 5 8
R$ 15,00 5 7 12
R$ 20,00 8 8 16
R$ 25,00 9 11 20
R$ 30,00 11 13 24
42
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Gráfico 7 – Movimento ao longo da curva de oferta de fatias de pizza
43
Gráfico 8 – Deslocamento da curva de oferta de pizza
44
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Na Tabela 4 abaixo estão as informações sobre o mercado de pizzas,
em que você pode perceber a demanda total (soma da demanda
de todos os consumidores) e a oferta total (soma de todos os
ofertantes) de pizzas.
Tabela 4 – Mercado de pizza
Preço da pizza Demanda de mercado Oferta de mercado
R$ 0,00 21 0
R$ 5,00 18 4
R$ 10,00 15 8
R$ 15,00 12 12
R$ 20,00 9 16
R$ 25,00 6 20
R$ 30,00 3 24
Fonte: elaborada pelo autor.
45
Em quaisquer preços diferentes de R$ 15 você pode perceber que o
mercado está fora do equilíbrio. Imagine, por exemplo, que o preço
esteja estipulado em R$ 25. Nesse preço, a quantidade ofertada será
de 20 pizzas, enquanto a quantidade demandada será de apenas 6
(Tabela 4). O gráfico 10a mostra que há um excesso de oferta.
46
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Os preços vão se alterar até que o mercado encontre novo preço de
equilíbrio. Isso significa que as atividades de muitos compradores
e vendedores conduzem a um preço em que demanda e oferta
sejam iguais. Assim, no preço de equilíbrio, todos os compradores e
vendedores estão satisfeitos e não há pressões, para cima ou para
baixo, sobre os preços ou quantidades (MANKIW, 2014).
Se, por outro lado, cientistas descobrem que comer pizza faz bem para
aliviar o estresse e indicam que todas as pessoas comam pelo menos
uma pizza durante a semana, a curva de demanda se desloca para a
direita, atingindo novo preço de equilíbrio, conforme 11b.
47
Com toda essa análise do mercado, tanto pelo lado da oferta quanto
pelo lado da demanda, você está apto a criar as suas hipóteses de
pesquisas e efetuar suas análises de acordo com o bem ou serviço
de seu interesse. A análise microeconômica aqui apresentada o
ajuda a perceber e a apreender o processo dinâmico de ajuste da
maior parte dos mercados.
TEORIA EM PRÁTICA
Você sabe que o Brasil é um país tropical, que faz calor
na maior parte do ano e na maior parte das regiões. Você
também sabe que muitos costumes daqui são herdados
do passado colonial. Um desses costumes é o padrão de
vestimenta, que fundamentalmente replica o modo de
vestir europeu. Pensando nas condições climáticas, uma
grande multinacional que opera no país decidiu que todos
os seus funcionários deveriam usar camisetas claras, de
algodão, em vez de ternos ou paletós. Todos, inclusive os
executivos com cargos mais altos. Como a multinacional
emprega muitos trabalhadores e é referência como uma
das melhores empresas para se trabalhar, todas as outras
multinacionais resolveram replicar a medida. Tendo
em vista o impacto nacional da iniciativa e utilizando
as curvas de oferta e demanda, explique e mostre
graficamente o que aconteceu com: o mercado nacional
(oferta e demanda) de camisetas, o mercado de ternos e
paletós e o mercado de algodão assim que a medida foi
adotada. Imagine que houve, num segundo momento,
uma superprodução de algodão e a invenção de uma
máquina de camisetas mais produtiva. O que você acha
que acontece com as curvas de mercado nesse segundo
momento? Explique e mostre graficamente.
48
48
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. A quantidade _________de um bem depende, dentre
outros aspectos, do seu preço de mercado e da ________
por parte dos agentes econômicos. Quando _________ se
igualam, é possível dizer que ______ está em ________.
Assinale a alternativa que contenha os termos corretos
para as lacunas acima:
49
c. Excesso de oferta, que ocasionou uma queda nos
preços do café dois anos depois, que não compensou
os custos.
50
50
Referências bibliográficas
MANKIW, N. G. Introdução à economia. São Paulo: Cengage Learning, 2014.
Gabarito
Questão 1 – Resposta E
Resolução: a quantidade ofertada depende da capacidade de
produção da empresa no mercado, do preço do produto vendido
e da demanda pelo produto. Quando as quantidades ofertadas e
demandadas se igualam, o mercado fica em equilíbrio.
Questão 2 – Resposta C
Resolução: excesso de oferta. Como muitos produtores
resolveram cultivar café, a oferta aumentou no mercado
dois anos depois, o que fez com que os preços caíssem.
Preços menores do que o esperado podem comprometer a
rentabilidade do empreendimento.
Questão 3 – Resposta B
Resolução: no caso do carro flex, gasolina e etanol são bens
substitutos. Quando há uma quebra de safra de cana-de-açúcar,
o preço do etanol se eleva e o mercado demanda mais gasolina,
deslocando a curva de demanda de gasolina para a direita.
51
Estrutura da empresa:
produção e custos
Autor: Flávio Arantes
Objetivos
52
52
1. Introdução
2. Conceitos fundamentais
53
ela busca maximizar seu lucro, ou resultado, frente aos insumos e ao
mercado consumidor com que ela se depara.
ASSIMILE
Custo marginal é o custo que a empresa tem para produzir
uma unidade adicional de um bem ou serviço que ela
54
54
oferta. Receita marginal é a receita advinda da venda de
uma unidade adicional do bem ou serviço ofertado pela
empresa. Produto marginal é a produção de uma unidade
adicional do bem ou serviço ofertado pela empresa.
Assim, além das médias de custo e de receita que a empresa tem por
oferecer determinado bem ou serviço, ela sempre considera a oferta
de uma unidade adicional daquele bem ou serviço para checar se vale a
pena continuar produzindo ou se ela se mantém no nível de produção
em que se encontra. Isso significa dizer que a empresa está sempre
analisando a receita marginal do bem que produz frente ao seu custo
marginal, ou seja, está sempre considerando os custos e benefícios de
uma unidade adicional do produto, do produto marginal.
3. Produção
55
que ela tem disponível para iniciar o processo produtivo. O olhar deve
abrigar também aspectos mercadológicos, ou seja, se ela é capaz
de produzir de maneira eficiente, que cumpra com requisitos que a
levem à maximização dos lucros, ou a uma produção eficiente frente à
produção do mercado como um todo.
56
56
Em que q é a quantidade produzida ou o volume de produção, K é o
capital empregado, L é a quantidade de mão de obra utilizada e F é a
forma com que capital e trabalho se relacionam, ou seja, uma maneira
de representar a tecnologia de produção utilizada pela empresa.
Como você sabe, a forma com que a empresa consegue produzir varia
ao longo do tempo, principalmente por causa de desenvolvimentos
tecnológicos ou das inovações que aprimoram o processo produtivo ou
o tornam mais eficiente de alguma maneira.
57
ou dos produtores. Já no médio prazo, os economistas começam a
considerar que o comportamento das variáveis econômicas pode mudar
razoavelmente por conta da própria dinâmica econômica. Consumidores
podem diversificar ou aumentar seu consumo, as empresas podem
passar a ofertar algo novo ou começar a atuar em novas áreas. Agora,
no longo prazo, as variáveis econômicas podem passar por mudanças
significativas, fruto de alterações na própria dinâmica da economia ao
longo do tempo. As estruturas e a dinâmica da economia no longo prazo
podem ser completamente distintas daquelas iniciais.
Você também viu que, no curto prazo, pelo menos um dos insumos
se mantém fixo enquanto os demais variam. No caso da função
de produção apresentada, geralmente, a análise microeconômica
mantém o capital fixo e analisa o que ocorre com a produção quando
o trabalho varia ao longo do tempo. Isso se deve ao fato de ser
relativamente mais fácil contratar nova mão de obra do que mudar os
equipamentos da empresa.
58
58
Para iniciar sua análise sobre a capacidade produtiva e as características
de produção, você pode considerar os dados da empresa Solados Ltda.,
especializada em calçados, conforme a Tabela 5 a seguir:
0 10 0
1 10 15 15 15
2 10 45 22,5 30
3 10 90 30 45
4 10 120 30 30
5 10 142 28,4 22
6 10 162 27 20
7 10 168 24 6
8 10 168 21 0
9 10 162 18 -6
10 10 150 15 -12
59
Mas se a Solados Ltda. contrata o nono e o décimo trabalhador, sua
produção total cai para 162 e 150 pares, respectivamente.
60
60
ASSIMILE
Rendimento marginal decrescente é um princípio segundo
o qual a produção adicional de um bem diminui conforme
se aumenta a utilização de um insumo, mantidos os demais
insumos constantes (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).
61
Ainda pela Tabela 5, na quarta coluna, você pode analisar a
produtividade da empresa, medida pela quantidade de pares de
calçados produzidos por trabalhador empregado. É possível notar que,
conforme o produto marginal do trabalho diminui, a produtividade da
empresa também diminui.
62
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Você pode tirar várias conclusões a partir da Tabela 6. Veja que a
primeira delas é de que a lei dos rendimentos marginais decrescentes
do trabalho continua valendo. Pegue o capital fixo em 3 (K = 3), por
exemplo, e aumente a quantidade de trabalho empregada. Veja que o
produto marginal para o emprego de duas unidades de trabalho (L =
2) é 20, mas vai caindo conforme o trabalho aumenta, pois o produto
marginal de L = 3 é 15; o de L = 4 é 10 e o de L = 5 é 5. Como exercício,
você pode usar a fórmula do produto marginal apresentada na seção
anterior e verificar a lei para os demais valores de K.
Outra conclusão que você pode tirar é que o mesmo nível de produção
pode ser obtido com diferentes combinações de capital e trabalho
(K; L). Veja como exemplo a produção total de 80 pares de calçados e
perceba que eles podem ser obtidos com o uso de (K = 5; L = 1), (3; 2), (2;
3) ou (1; 5). Na microeconomia, as diversas combinações entre capital e
trabalho que dão origem a um mesmo nível de produção formam curvas
chamadas de isoquantas, conforme o Gráfico 12 abaixo.
63
Outra conclusão que pode ser extraída da Tabela 6 e do Gráfico
12 é a relação de troca entre capital e trabalho para a produção de
determinada quantidade de pares de calçados. Veja no exemplo
da produção de 105 pares que a Solados Ltda. pode empregar a
combinação (4;3) ou (3;4). Nesse caso específico, para manter a
produção de 105 pares, a empresa “se desfaz” de uma unidade de
capital (4 → 3) para utilizar uma unidade adicional de trabalho (3 → 4).
A razão em que essa troca é feita chama-se taxa de substituição técnica.
Como você se desfaz de uma unidade de um fator de produção para
adquirir uma unidade do outro, é uma troca marginal, então o nome
completo é taxa marginal de substituição técnica (TMST):
4. Custos
64
64
No caso dos custos contábeis, a preocupação é com relação ao passado
da empresa, a estrutura de seus ativos e passivos, como se você tivesse
tirado uma foto de um momento específico da empresa no tempo
(PINDYCK; RUBINFELD, 2013; MANKIW, 2019). Nessa foto, você vê o gasto
da empresa com o pagamento de pessoal, com os empréstimos que
tomou, com o quanto paga para os fornecedores, com seu aluguel, com as
contas de água, luz, etc. Todos esses custos são custos contábeis, custos
que dependem do fluxo de entrada e saída de dinheiro da empresa.
65
alugar. Mesmo que o custo contábil seja zero ou muito próximo de zero
(pagamento dos mínimos de água e energia elétrica, por exemplo), o
custo de oportunidade para a empresa pode ser elevado se o prédio se
situar numa região em que os imóveis são muito valorizados.
66
66
num determinado período. Além dos custos fixos, variáveis e total, a
empresa ainda tem na sua estrutura seus custos médios e seus custos
marginais. Como você já aprendeu os conceitos de médio e marginal
na Seção 2 desta Leitura Fundamental e como você já fez um exercício
parecido na Seção 3, ao tratar de produto médio e produto marginal,
você facilmente entenderá a Tabela 7 a seguir, que apresenta a
estrutura de custos da Solados Ltda.
67
395 na produção de 11 pares de calçados. Esse aumento se reflete no
aumento dos custos totais, pois, como você pode perceber na quarta
coluna da Tabela 7, eles aumentam na mesma magnitude do aumento
dos custos variáveis.
68
68
Gráfico 13 – Curvas de custo da Solados Ltda.
Pela representação gráfica, você pode perceber que sempre que o custo
marginal for menor que o custo variável médio, a curva de custo variável
médio vai estar na descendência. Isso significa que você está adicionando
um valor menor a uma média existente, o que faz a média cair. Da
mesma maneira, sempre que o custo marginal for maior que o custo
variável médio, a curva de custo variável médio vai estar na ascendência.
Outra forma de afirmar isso é lembrando que você está adicionando um
valor maior a uma média existente, o que faz a média subir.
69
isso ocorre na produção de sete pares e de nove pares de calçados,
respectivamente, como você pode perceber no Gráfico 13.
70
70
aumento da produção reduz o custo total médio de longo prazo da
empresa. Em linguagem do dia a dia, isso significa que a empresa tem
custos menores se produzir mais.
TEORIA EM PRÁTICA
Dado seu conhecimento sobre a estrutura de produção e
custo das empresas, Neide Sabugo, sua vizinha proprietária
de uma microempresa de bolos de milho, contratou-o para
organizar sua estrutura de custos e de produção. As únicas
71
informações que ela possui são de que cada funcionário
que ela contratar vai custar 100 reais ao dia e que seus
custos fixos diários para a produção dos bolos são de
200 reais. Por enquanto, a Sra. Sabugo não está preocupada
com os custos dos demais insumos, e o único que varia
é o número de funcionários. Levando em consideração
a produção dada pela tabela abaixo, ajude a Sra. Sabugo
a identificar em qual nível de produção a contratação de
um trabalhador adicional prejudica a produção de bolos,
o nível mínimo de custo variável médio e a escala eficiente
de produção. Além disso, Sra. Sabugo também quer saber
quando seus custos marginais deixam de cair.
Trabalhadores 0 1 2 3 4 5 6 7
Produção 0 35 65 105 135 155 165 170
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. O custo _______ médio diminui quando o custo ______ é
______do que ele, mas aumenta quando o custo ______ é
______ do que ele.
Assinale a alternativa que contenha os termos corretos
para as lacunas:
72
72
2. A padaria do Sr. Luis começou a ter queda na produção
de pães doces depois que ele contratou o quinto
funcionário. Isso aconteceu porque:
e. A fábrica é improdutiva.
73
Referências bibliográficas
MANKIW, N. G. Introdução à economia. 8. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2019.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Tradução Eleutério Prado. 8. ed.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.
Gabarito
Questão 1 – Resposta: D
Resolução: se o custo marginal é menor que o custo variável médio,
o custo variável médio diminui. E se o custo marginal é maior que o
custo variável médio, o custo variável médio aumenta.
Questão 2 – Resposta: B
Resolução: o produto marginal negativo faz com que a contratação
de um novo funcionário reduza a produção total.
Questão 3 – Resposta: D
Resolução: no longo prazo, a curva de custo total médio é
ascendente, o que provoca deseconomias de escala.
74
74
Estruturas e dinâmicas de mercado
Autor: Flávio Arantes
Objetivos
75
1. Introdução
2. Mercados competitivos
76
76
Nos mercados competitivos, devido à grande quantidade de
compradores e vendedores, nenhum deles, de maneira individual,
consegue influenciar os preços praticados, justamente porque os
produtos são idênticos. Se uma empresa tenta baixar o preço no
mercado competitivo, ela atrai toda a demanda dos consumidores
para si e não dá conta de fornecer a quantidade requerida (ficando
também sujeita à possibilidade de que um de seus concorrentes
abaixe ainda mais o preço). Se ela aumenta o preço, ela perde todos
os consumidores, que vão comprar o bem ou serviço ao preço de
mercado, mais barato. O mesmo vale para os consumidores, uma vez
que cada um deles é “pequeno demais” para influenciar os preços
do mercado como um todo. Um exemplo é o consumo de pães, pois
uma única pessoa representa uma parcela insignificante no mercado
total de pães e, por mais que ela compre muitos pães, nunca será
suficiente para fazer com que os fabricantes aumentem o preço do
pão. Por essa dinâmica, nos mercados competitivos, compradores e
vendedores são tomadores de preços.
77
Tabela 8 – Estrutura de custos, receita e lucros da Só Pão
78
78
quilo adicional custa para ela produzir. São o que se chama de receita
marginal e custo marginal.
79
ASSIMILE
A condição de maximização dos lucros é aquela em que
a receita marginal é igual ao custo marginal da empresa.
Antes desse ponto, a empresa consegue aumentar seu lucro
com a produção adicional, assim como, a partir dele, ela
reduz seu lucro com a produção de uma unidade adicional.
80
80
Lembre-se de que a receita marginal é igual ao preço de mercado, uma
vez que a Só Pão e todas as outras empresas no mercado competitivo
são tomadoras de preços. Assim, olhando a representação do Gráfico 1,
é possível confirmar o que você aprendeu na subseção anterior: antes
de 5 kg, a Só Pão tem um incentivo para produzir mais pães, e depois
dos 5 kg, ela tem um incentivo para reduzir a quantidade produzida.
Imagine agora que o preço de mercado aumente para 18. A Só Pão vai
maximizar seus lucros quando sua receita marginal (ao novo preço) for
igual ao seu custo marginal, ou seja, no nível de 8 kg de pão.
ASSIMILE
A curva de oferta de uma empresa que se encontra num
mercado competitivo é extraída da sua curva de custo
marginal, pois a curva de custo marginal determina as
quantidades que as empresas estão dispostas a ofertar a
determinado preço estabelecido no mercado.
81
Já o custo variável médio é a divisão do custo envolvido na produção
dividido pela quantidade produzida. Lembre-se de que se a Só Pão não
produz nada, ela tem um custo total de 6, que representa o custo fixo
dela. Isso significa que, independentemente da quantidade produzida de
pão, ela tem que arcar com esse custo. Já o custo variável (CV) da Só Pão
é aquele custo relacionado à produção de cada quilo de pão (farinha,
fermento, óleo, etc.), que varia (aumenta ou diminui) conforme varia a
quantidade produzida. O custo variável médio (CVMe) é o resultado da
divisão do CV pelas respectivas quantidades produzidas.
Lucro = RT – CT = 12 – 16 = -4
82
82
de 4 em vez de um prejuízo de 6. Visto por outro ângulo, a
Só Pão incorreu em custos variáveis (4) para produzir 2 kg de pão,
mas essa produção promoveu uma receita que compensou esses
custos, reduzindo seu prejuízo total. A receita dela por quilo de pão
(RMe) foi de 6, enquanto o custo variável por quilo de pão (CVMe) foi
de 4. O custo fixo de 6 ela teria que bancar de todo modo, mas o
que ela ganha por quilo produzido (RMe) compensa o custo do
quilo produzido (CVMe) no novo preço de 6. Em termos matemáticos,
compensa produzir se a RMe > CVMe. Como no mercado competitivo a
RMe = P, a empresa produz no curto prazo se P > CVMe.
Agora, para preços menores do que 4 (RMe = 4), não vale a pena para
Só Pão produzir nem mesmo 1 kg de pão. Imagine um preço de 3.
Supondo a produção mínima de 1 kg, a receita dela seria de 3 (3 x1),
mas os custos totais seriam de 10, dando um prejuízo de -7 (3 – 10).
Esse prejuízo é maior que o prejuízo de não fazer nenhum quilo de
pão (-6). Assim, a qualquer preço menor que 4, vale a pena a Só Pão
suspender suas atividades pelo menos temporariamente.
83
[...] a empresa paralisa as atividades se a receita que obteria produzindo for
menor do que seus custos variáveis de produção. (MANKIW, 2014, p. 267,
grifos do autor)
3. Monopólios
84
84
apenas uma empresa detém toda a capacidade de oferta do mercado.
Ou seja, uma única empresa produz um bem ou serviço que não possui
substitutos próximos e o produz de maneira eficiente.
Por ser a única empresa que oferta o bem ou o serviço para todo o
mercado, o monopólio é formador de preços no mercado, ao contrário
das empresas competitivas que são tomadoras de preços. A estrutura
de custos do monopólio é que vai determinar qual preço será cobrado,
como você verá na sequência.
85
O segundo caso de monopólio é aquele gerado pelos recursos de
monopólio, ou seja, uma única empresa detém a propriedade da
totalidade de um recurso-chave para a produção de um bem ou
serviço. Um exemplo clássico e histórico é da Aluminum Company of
America (Alcoa), que detinha quase a totalidade das minas de bauxita –
matéria-prima utilizada para a produção do alumínio – no território dos
Estados Unidos (PYNDICK; RUBINFELD, 2013). Outro exemplo clássico
é o da DeBeers, empresa sul-africana que controla mais de 80% da
produção mundial de diamantes. Esse não é o caso de um monopólio
puro, pois ela não detém 100% do mercado, mas 80% é uma parcela
significativa a ponto de a DeBeers determinar o preço mundial dos
diamantes (MANKIW, 2014).
86
86
3.1. Receita e maximização de lucro de um monopólio
87
competitivas, isso nunca acontece, pois o preço é dado pela dinâmica
de mercado e é sempre positivo, por definição. Como você lembra
que a receita marginal é igual ao preço no mercado competitivo, ela
é sempre positiva, independentemente das quantidades vendidas.
Entretanto, no caso dos monopólios, existem dois movimentos em
sentidos opostos determinando a receita total da empresa. Para
aumentar a quantidade vendida, a padaria precisa reduzir os preços.
Como você já aprendeu que a receita total é a multiplicação de
preços e de quantidades (RT = P x Q), a queda no preço pode não ser
compensada por um aumento na quantidade de maneira a aumentar
a receita total, mas sim reduzi-la.
88
88
Gráfico 15 – Estrutura de custos, receita e lucros da Só Pão
89
A grande diferença com relação ao mercado competitivo, contudo, é que
a empresa monopolista vai escolher o nível de preços a cobrar. No nível
de produção de 4 kg de pão, o mercado está disposto a pagar 7, como
pode ser visto pela Tabela 9 ou pelo Gráfico 15, na curva de demanda.
Então esse será o preço determinado pelo monopólio, um preço acima
do custo marginal da empresa naquela quantidade específica. Essa
diferença é chamada de mark-up.
90
90
que são os dois casos extremos de estrutura de mercado, analisar os
casos intermediários é uma tarefa ainda mais simples, porque estes
também se aproximam mais da sua realidade cotidiana.
4. Casos intermediários
91
Ainda como ocorre num mercado em concorrência perfeita, as empresas
na concorrência monopolística podem entrar e sair do mercado
livremente, ao contrário do que ocorre num monopólio puro. As barreiras
à entrada e saída de um mercado em concorrência monopolística
existem, mas não são impeditivas, como no caso do monopólio puro, e
tampouco inexistentes, como no caso da competição perfeita.
92
92
Talvez a principal vantagem que você possa perceber de um mercado
que está em concorrência monopolística é que, para o consumidor,
existe uma gama de opções em termos de produtos e serviços muito
maior do que a existente no caso dos monopólios ou da concorrência
perfeita. De fato, é o que você enfrenta todo dia enquanto faz escolhas
como consumidor. A maior parte dos bens e serviços ofertados no
mercado é ofertada por empresas em concorrência monopolística,
desde eletrodomésticos e eletrônicos até alimentos, bebidas, etc.
4.2. Oligopólio
93
e a formação de cartéis. Como são poucas empresas que atuam no
oligopólio, elas podem fazer acordos entre si para determinar os preços
e as quantidades vendidas no mercado. Essa é a caracterização dos
conluios. As empresas dividem o mercado entre si e determinam o
quanto produzir e o quanto cobrar. Quando as empresas agem com
base nesse tipo de acordo, elas estão formando um cartel e determinam
todas as características do mercado segundo seus próprios interesses.
94
94
Tanto a concorrência monopolística como os oligopólios são
estruturas de mercados que estão mais próximas da realidade
cotidiana. No dia a dia, é difícil você encontrar uma situação de
monopólio puro e mais difícil ainda encontrar uma de concorrência
pura. Mas analisando esses casos extremos e entendendo a lógica
de atuação no mercado, você consegue extrapolar a discussão
para os casos intermediários. A discussão de maximização de lucro,
determinação da receita, preços e quantidades estabelecidas em
cada mercado vai depender da estrutura de custos de cada empresa
específica. Com as ferramentas que você aprendeu aqui nesta leitura,
você está apto a realizar essas análises.
TEORIA EM PRÁTICA
95
Tabela 10 – Produção, preços e custos totais
da indústria de chope
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. A estrutura de mercado é caracterizada por um número
grande de empresas que concorrem entre si e que
produzem produtos semelhantes. As empresas possuem
poder de mercado limitado. Trata-se da:
a. Concorrência monopolística.
b. Concorrência perfeita.
c. Monopólio natural.
d. Duopólio.
e. Oligopólio.
96
96
2. A existência de um monopólio se deve basicamente
às barreiras à entrada e à saída do mercado. Os casos
mais comuns são aqueles em que o monopólio existe
por conta da:
97
Referências bibliográficas
MANKIW, N. G. Introdução à economia. 8. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Tradução Eleutério Prado. 8. ed.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.
Gabarito
Questão 1 – Resposta A
Resolução: essas são características da concorrência
monopolística, muitas empresas produzindo produtos
semelhantes e disputando o mesmo grupo de clientes.
Questão 2 – Resposta D
Resolução: o determinante mais comum para a caracterização
de um monopólio é a ineficiência da competição gerada pelos
grandes custos de instalação da empresa. Apenas uma consegue
produzir em escala eficiente.
Questão 3 – Resposta C
Resolução: nos oligopólios, as empresas estão em numero
reduzido e disputam os mesmos clientes. Para ganhar mercado,
elas diferenciam o produto e têm outras estratégias de
competição que não os preços.
98
98
Macroeconomia das
contas nacionais
Autor: Flávio Arantes
Objetivos
99
1. Introdução
2. Keynes e a macroeconomia
100
100
individual. Na visão do autor, o resultado ótimo ou eficiente para
uma empresa específica ou para um conjunto de empresas não
implica necessariamente um resultado ótimo para o total da
economia. Na incapacidade desse ótimo ocorrer, o Estado deveria
entrar em ação nas áreas em que as empresas não pudessem, não
conseguissem ou não tivessem interesse em atuar.
101
economia num período determinado. Como é um sistema de contas
nacionais, você percebe que se trata do país como um todo, o que
é, geralmente, o caso em questão quando alguém começa a estudar
macroeconomia. Mas essa contabilidade pode ser aplicada também
a outros níveis federativos, como estados e municípios. Além disso,
os valores podem ser apresentados com periodicidades diferentes,
geralmente de três em três meses e no consolidado do ano, dadas
as dificuldades técnicas de se compatibilizarem todas as relações
econômicas de um país como um todo.
102
102
ASSIMILE
Contabilidade social é um sistema de mensuração dos
agregados macroeconômicos que leva em consideração
conceitos da contabilidade empresarial, como o princípio
das partidas dobradas, os balancetes e os lançamentos
contábeis. Entretanto, além de medir as contas nacionais,
mede a relação do país com o resto do mundo, mostra
o sistema monetário e os indicadores sociais, como de
distribuição de renda e de desenvolvimento humano.
103
Cada um desses conceitos apresenta uma maneira diferente ou
alternativa de medir a “riqueza nova”, ou o “sucesso”, de um país num
determinado período. São maneiras de expressar o que de novo um
país produziu com relação ao que havia produzido no ano anterior, por
exemplo. O primeiro conceito é o do produto agregado. O produto mede
o valor de todos os bens e serviços finais que foram produzidos durante
um ano numa determinada economia.
Para efeitos de fixação do conceito, imagine o país Levain, que não tem
governo e possui quatro setores produtivos na economia: um setor que
produz sementes, um que produz trigo, um que transforma o trigo em
farinha e um último setor que usa a farinha para fazer pão. A Tabela 11
abaixo mostra uma parte do Sistema de Contas Nacionais de Levain.
104
104
é de 4.300. Por quê? Porque 4.300 é o valor dos produtos finais na
economia, o valor do pão.
105
ASSIMILE
Valor bruto da produção é o valor total gerado em todo
o processo produtivo e nele se consideram todos os
bens e serviços produzidos num determinado período
independentemente do bem ou serviço ter sido consumido
como insumo no processo produtivo. Valor adicionado é
o valor adicional gerado pela transformação de um bem ou
serviço em cada uma das etapas do processo produtivo.
106
106
Tabela 12 – Renda nacional do país Levain
107
deve ser repartida como remuneração dos fatores de
produção que a produziram. A distribuição funcional da
renda, geralmente, mostra em porcentagem da renda
total a apropriação em termos de salários, lucros, juros e
aluguéis e, às vezes, também os impostos.
108
108
3.2 Fluxo circular da renda
109
e serviços e por meio do mercado de fatores. As famílias são
proprietárias dos fatores de produção (capital, terra e trabalho) e
vendem no mercado de fatores para as empresas, que os utilizam
como insumos para a produção de bens e serviços. As empresas
vendem esses bens e serviços no respectivo mercado, onde são
comprados pelas famílias, que os consomem. Ao comprar os bens e
serviços, as famílias realizam uma despesa, que acaba se tornando
receita das empresas. As empresas usam essa receita para pagar os
insumos da produção, por meio de salários, lucros e aluguéis. Essas
remunerações, por sua vez, se tornam renda das famílias, que são
detentoras dos meios de produção, fechando o fluxo circular da renda
e dando início a uma nova rodada.
110
110
a análise pela ótica da demanda. Isso significa que os bens ou serviços
finais produzidos na economia tomaram uma forma de uso específica,
foram a contrapartida de um gasto realizado por alguém. A ótica da
demanda permite, então, que o analista entenda como os bens finais
foram apropriados pelos agentes econômicos. Ou seja, como se formou
a demanda agregada daquela economia.
DA = C + I + G + (X – M)
111
A partir da abordagem keynesiana, os economistas começaram a
analisar o impacto que a demanda agregada tem sobre o crescimento
da economia e a geração de emprego. Boa parte da literatura
macroeconômica e da análise das contas nacionais parte dessa equação
simples para tentar descobrir, entender e esquematizar os mecanismos
e as relações agregadas que levam a economia ao crescimento e à
geração de emprego e a formular políticas que ajudem a atingi-los.
112
112
O grande objetivo das contas nacionais, como você pode perceber, é a
mensuração da riqueza gerada num país de um período para o outro.
No fundo, o objetivo é medir o produto pelas três óticas para saber o
que e quanto foi produzido, quem recebeu e quanto recebeu por essa
produção e a que esse produto foi destinado.
Até aqui, nesta leitura, você notou que o termo produto e produção
foram usados e foi evitado o termo PIB (produto interno bruto). Isso foi
feito de maneira proposital porque o PIB, apesar de ser a nomenclatura
mais utilizada no caso brasileiro, é apenas uma das diversas maneiras de
se expressar a produção de um país. Não é incorreto usar PIB em vez de
produto para se referir à produção gerada num período determinado,
porque esse é o termo usado de maneira mais corriqueira no país, mas
aqui você vai aprender as diferenças dos conceitos.
• Produto interno
• Produto nacional
113
• Produto bruto
• Produto líquido
114
114
Agora que você abriu a economia para o exterior para saber a
classificação do produto, é possível inserir a figura do governo na
economia. Como o governo influencia a produção tributando ou dando
incentivos, a classificação fica em função dessa tributação ou incentivo.
115
Isso não vale apenas para o PIB, mas para todas as variáveis
econômicas. Sempre que for preciso comparar valores de anos
diferentes, você precisa levar em consideração o poder de compra da
moeda no período. Isso significa que você precisa achar um valor que
não mude entre os anos. No caso do PIB, ele constitui um valor oriundo
de uma série de bens e serviços físicos multiplicados pelos preços de
cada um desses bens e serviços no ano em questão. Uma maneira de
tornar o valor comparável é fixar o preço de um ano para o outro e
apenas multiplicar as quantidades produzidas de um ano para o outro.
Tal procedimento nada mais é do que calcular o PIB em termos reais,
ao contrário do PIB nominal.
ASSIMILE
PIB nominal: é o valor do produto interno bruto de um país
calculado aos preços e quantidades do ano em questão.
PIB real: é o valor do produto interno bruto de um país
calculado a preços fixos de um período para o outro vezes
as quantidades produzidas em cada ano.
116
116
Gráfico 16 – PIB Real vs PIB nominal no Brasil
Fonte: IPEADATA.
Note que a curva azul, do PIB nominal, tem uma inclinação sempre
ascendente em toda a série, enquanto a curva vermelha, do PIB
real, é menos inclinada e tem pontos de redução. No caso específico
do gráfico acima, o IBGE calcula o total do PIB utilizando os preços
praticados em 2010. Ou seja, multiplica todas as quantidades de
bens e serviços finais de 1994 até 2018 pelos preços de 2010. Isso, na
economia, significa dizer que o PIB está em preços constantes de 2010
e, como retirou a influência da inflação na série, permite a comparação
em termos reais ao longo do tempo.
117
os preços de um ano como referência, por meio dos índices de preços,
para comparar os valores ao longo do tempo, você está tratando de
variáveis reais ou constantes em vez de variáveis nominais ou correntes.
TEORIA EM PRÁTICA
118
118
e gerar maior valor agregado ao longo do tempo.
O departamento de coleta de dados do país conseguiu
levantar as informações sobre a produção de sementes
de milho e de trigo, sobre a produção de farinha de
trigo e de milho e sobre a produção de pães e de bolos
de milho. Contudo, muitos desses produtos se tornaram
insumos do processo produtivo e o país não consegue
medir seu PIB para o ano corrente. O país continua
tendo quatro setores na cadeia produtiva do pão e
mais quatro na cadeia produtiva do milho. Na cadeia
do pão, sabe-se que o setor 1 produziu sementes com
um valor de 2.500, que foram vendidas para o setor
produtor de trigo. O setor de trigo produziu 3.780 em
trigo e vendeu 2.500 para o setor produtivo de farinha,
tendo armazenado 1.280 em trigo. O setor produtivo
de farinha produziu um valor de 3.750 em farinha,
armazenou um valor de 750 em farinha e vendeu
3.000 para o setor produtivo de pães. Este último
produziu um valor de 5.200 em pães que foram
vendidos aos consumidores finais. Na cadeia do
milho, foram produzidas sementes num valor de
800, das quais 600 foram vendidas para o setor
produtor de milho. Este produziu 2.400 em espigas
de milho que foram vendidas no valor de 1.400 para
fazer farinha e 1.000 enquanto milho verde para uma
quermesse da cidade. O setor produtor de farinha
conseguiu produzir um valor total de 2.690, dos
quais 1.940 foram para o setor produtor de bolos
e 750 foram estocados. O setor de bolos produziu
um valor total de 2.500. Como analista contratado
pelo país, qual o PIB de Levain?
119
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
120
120
3. Com relação à inflação, aos índices de preços e
ao cálculo de valores nominais e reais, é correto
afirmar que:
a. O conceito de PIB nominal expurga a inflação.
Referências bibliográficas
FEIJÓ, C. A. et al. Contabilidade social: o novo Sistema de Contas Nacionais do
Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2004.
PAULANI, L. M.; BRAGA, M. B. A nova contabilidade social. São Paulo: Saraiva, 2005.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas: www.ibge.gov.br.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada: www.ipeadata.gov.br/.
Word Bank Open Data: https://data.worldbank.org/.
Gabarito
Questão 1 – Resposta D
Resolução: esse é o conceito de produto agregado.
Questão 2 – Resposta B
Resolução: o produto interno bruto mensura a produção dentro do
país, ou seja, a produção doméstica.
Questão 3 – Resposta D
Resolução: PIB real é o PIB nominal expurgado da inflação, que é
dada por um índice de preços.
121
Princípios de economia
internacional
Autor: Flávio Arantes
Objetivos
122
122
1. Introdução
Nesta leitura, você vai aprender como e por que os países mantêm
relações comerciais e financeiras entre si. Você vai entender os motivos
que levam os países a manterem as relações internacionais e a
realizarem transações econômicas, transacionando bens e serviços em
escala global. Além disso, você vai aprender os benefícios e os custos
para o país quando ele se abre aos mercados globais de bens e serviços.
2. Determinantes do comércio
Você sabe que o país em que vive não é isolado do mundo. Isso
vale sempre em termos geográficos e, principalmente, em termos
econômicos. Entretanto, em quaisquer livros de economia, sejam eles
de introdução à economia, de microeconomia ou de macroeconomia, os
autores, geralmente, começam a discussão tratando de uma economia
fechada e, muitas vezes, sem governo.
123
Por que não já começar as análises de uma maneira mais realista? Por
que não levar em consideração que o país transaciona bens e serviços
com seus vizinhos – sejam eles próximos ou distantes?
3. Vantagens comparativas
124
124
No caso das transações comerciais que dão origem a toda discussão
sobre economia internacional, o primeiro motivo que leva um país
a querer manter relações com os outros é o referente às vantagens
comparativas.
ASSIMILE
Vantagem comparativa é a capacidade que um produtor
tem de produzir um bem ou serviço com custo de
oportunidade menor do que outro produtor (MANKIW,
2020). Isso significa que um país que possui vantagem
comparativa na produção de um bem tem mais habilidade
para produzir e ofertar esse produto no mercado
internacional porque é “mais barato” economicamente
para ele produzir do que para outro país produzir.
Outro exemplo é com relação aos eletrônicos. Todos sabem que a China
é o maior produtor de eletrônicos do mundo e que as maiores empresas
mundiais do ramo estão instaladas lá. Por quê? Justamente porque a
China possui vantagem comparativa na produção de eletrônicos com
125
relação ao resto do mundo. A China tem mais mão de obra e, devido à
sua abundância relativa, a mão de obra empregada tem salários mais
baixos comparativamente à maior parte das outras economias do
mundo. Por ter um grande mercado consumidor interno, várias fontes
de matérias-primas, ganhos de escala e por uma série de outros fatores,
como grande know-how em tecnologia acumulado durante décadas, a
China acaba tendo vantagem comparativa em eletrônicos com relação
ao restante do mundo.
126
126
Não é à toa que esse é o exemplo clássico mais conhecido na literatura.
Ele é o exemplo original utilizado por David Ricardo, em 1817, para
justificar a especialização de cada um dos países (Portugal e Inglaterra)
na produção de um dos dois bens, incentivar o comércio entre ambos e,
como consequência, formular a sua teoria das vantagens comparativas e
de comércio internacional.
127
A Tabela 13 indica que Portugal produz uma unidade de vinho utilizando
90 horas de trabalho e produz uma unidade de tecido utilizando 80
horas de trabalho. Já a Inglaterra precisa de 100 horas de trabalho para
produzir uma unidade de tecido e de 120 horas para produzir uma
unidade de vinho.
Veja que uma unidade de vinho na Inglaterra custa 1,2 (120 ÷ 100)
unidade de tecido. Já em Portugal, uma unidade de vinho custa 0,89
(80 ÷ 90) unidade de tecidos. Portugal tem vantagem comparativa na
produção de vinho. Já o tecido custa 0,83 (100 ÷ 120) unidade de vinho
na Inglaterra e 1,13 (90 ÷ 80) unidade de vinho em Portugal. A Inglaterra
tem vantagens comparativas na produção de tecidos.
128
128
unidade de vinho e trocá-la com a Inglaterra por uma unidade de
tecido. Portugal obteria a mesma quantidade de tecido, mas com uma
economia de 10 horas de trabalho.
ASSIMILE
Exportações são o somatório do valor de todos os bens
produzidos internamente em um país e vendidos no
exterior. Importações são o somatório do valor de todos os
129
bens produzidos no exterior (resto do mundo) e comprados
por um país. Balança comercial é a diferença entre o valor
das exportações e o valor das importações de um país,
também chamada de exportações líquidas.
130
130
3.3 Argumentos contrários ao comércio internacional
131
comparativa. No exemplo clássico, a produção de vinho levaria os
trabalhadores portugueses das fábricas de tecidos a perderem o
emprego. Com o tempo, é possível que esses trabalhadores sejam
alocados em outras indústrias nas quais o país possui vantagem
comparativa, invalidando em parte o argumento. Mas poderia demorar
muito tempo até que esses os trabalhadores desempregados fossem
realocados. Dessa forma, alguma restrição ao comércio internacional
poderia limitar a destruição dos empregos, mas a liberdade comercial
poderia aumentar o padrão de consumo.
132
132
O argumento de se tornar menos dependente das trocas internacionais
vale para episódios como os da crise mundial de 1929 ou da Segunda
Guerra Mundial, em que o Brasil não conseguia importar bens e serviços
produzidos pelos países que estavam se recuperando desses episódios e
não tinham capacidade de produzir para exportar.
133
tipos de instituições. Um exemplo bastante claro do argumento é o
de países em que há pouca ou nenhuma legislação trabalhista, ou em
que os trabalhadores têm poucos direitos, o que deixa a mão de obra
do país muito mais barata que a mão de obra no restante do mundo.
Os países com essas condições estariam concorrendo de maneira
desleal com os países em que a mão de obra é mais cara por conta da
legislação trabalhista e dos direitos dos trabalhadores. Para evitar essa
concorrência desleal, que destruiria os empregos do país com melhores
condições trabalhistas, seria justificável a imposição de restrições à
comercialização com os países com mão de obra mais barata.
134
134
do mundo. As relações comerciais são só apenas uma das diversas
formas que os países possuem de estabelecer relações econômicas
entre si. As demais são as relações financeiras, de movimentação de
valores de capital que os países estabelecem entre si. Essas relações
financeiras estão associadas, na sua maior parte, à compra de ativos
em determinado país por investidores residentes no resto do mundo.
É o que se chama de fluxo de recursos financeiros, fluxo de capitais
externos ou, ainda, movimentação de capitais.
135
Todos os fluxos financeiros internacionais, sejam eles atrelados ao envio
de mercadorias ou à prestação de serviços, ou sejam eles estritamente
financeiros, que não estão atrelados ao envio de um bem ou serviço,
estão registrados contabilmente num dispositivo chamado de balanço
de pagamentos. A nomenclatura é praticamente autoexplicativa, pois
indica o balanço que se faz entre todos os fluxos que entraram e saíram
de um país especifico ao longo de um ano. Como os fluxos envolvem
movimentações financeiras, ou pagamentos, convencionou-se chamar o
instrumento de balanço de pagamentos.
ASSIMILE
Balanço de pagamentos é o instrumento com o registro
sistemático das transações econômicas de um país com o
exterior durante certo período de tempo. São registrados
todos os fluxos de exportações, importações, fretes,
seguros, empréstimos, doações e investimentos que um
país realiza com o resto do mundo.
136
136
assistência técnica, royalties, salários e ordenados. Já as segundas, as
rendas secundárias, referem-se ao movimento de donativos entre o país
e o exterior. A Tabela 14 abaixo indica uma representação genérica do
balanço de transações correntes.
137
derivativos, a conta registra os pagamentos ou recebimentos
das operações relacionadas ao mercado futuro de títulos e ações.
A conta “outros investimentos” abriga os financiamentos internacionais,
as moedas e os depósitos (por exemplo, os depósitos em caução),
os créditos comerciais (como os créditos para exportadores), os
empréstimos diretos, o financiamento de importações, entre outros
ativos e passivos. Por fim, os ativos em reserva englobam o ouro
monetário (ouro em barras, por exemplo), a posição (resultado de ativo
menos passivo) do país junto ao FMI, os títulos e depósitos que o país
tem em outras moedas internacionais, dólar ou euro, por exemplo.
138
138
(crédito/ativo). Para o país como um todo, o agregado dos agentes
econômicos que importaram produtos do resto do mundo fez com que
o país enviasse, como um todo, dinheiro para o exterior e recebesse os
produtos importados.
139
5. Taxa de câmbio
A taxa de câmbio livre de mercado atingiu o valor de 0,829 em 14 e 17/10/1994 e o valor de 4,195 em
1
140
140
determina a taxa de câmbio e garante que vai trocar a moeda do
país pela moeda externa naquele valor. Ou seja, se o câmbio
R$/US$ é 1,0, o governo brasileiro troca R$ 1,00 por US$ 1,00 sempre
que algum agente requerer. Nos regimes de câmbio fixo, o país
precisa conseguir a moeda externa de alguma forma, seja exportando
mercadorias, emitindo dívidas ou tomando emprestado de organismos
internacionais. Já nos regimes de taxa flutuante, é a movimentação das
transações internacionais que garante o nível da taxa de câmbio.
No caso brasileiro, que adota o regime do câmbio flutuante desde
1999, a entrada de dólares no país deixa o real valendo mais
relativamente ao dólar e a saída de dólar do país deixa o real valendo
menos relativamente ao dólar.
141
TEORIA EM PRÁTICA
Você foi contratado como analista do setor externo do
Banco Central do Brasil e seu cargo exige que você faça
atualizações diárias nos registros do balanço de pagamento
do país. Ao fim de um dia de pouca movimentação
nas relações internacionais do país, foram registradas
exportações no valor de US$ 100 milhões e importações
no valor de US$ 80 milhões. Além disso, o país recebeu
US$ 20 milhões em dólares de empréstimos externos e
donativos no valor de US$ 5 milhões. Houve também uma
remessa de lucros das empresas instaladas aqui, mas que
possuem matrizes no exterior, no valor de US$ 8 milhões,
amortizações pagas de dívidas externas no valor de
US$ 10 milhões e juros das dívidas de US$ 20 milhões.
Por fim, houve investimento externo no país no valor
de US$ 30 milhões. Dadas essas informações, você
precisa registrar no balanço de pagamentos toda essa
movimentação de recursos do país com o resto do mundo.
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
142
142
d. Outros países possuem vantagem comparativa
na produção.
143
c. O país não possui vantagem absoluta na produção e é
melhor continuar fechado ao comércio internacional.
Referências bibliográficas
INTERNATIONAL MONETARY FUND (IMF). Balance of payments and international
investment position manual. International Monetary Fund, 6. ed. Washington,
D.C: 2009.
MANKIW, N. G. Introdução à economia. Tradução da 8. edição norte-americana.
São Paulo: Cengage Learning, 2020.
VASCONCELLOS, M. A. S; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 5. ed.
São Paulo: Saraiva, 2017.
Gabarito
Questão 1 – Resposta C
Resolução: se o país possui vantagem comparativa na produção de
um bem, ele se tornará exportador desse bem.
Questão 2 – Resposta B
Resolução: se utilizarem as vantagens comparativas para realizar o
trabalho, essa é a melhor combinação.
Questão 3 – Resposta E
Resolução: tendo um preço mais baixo que o preço no mercado
internacional, é provável que o país se torne um exportador do
produto por possuir vantagens comparativas.
144
144
Macroeconomia aplicada: preços
e políticas macroeconômicas
Autor: Flávio Arantes
Objetivos
145
1. Introdução
2. Preços macroeconômicos
146
146
financeiro, retorno em termos de bem-estar e uma infinidade de outros
parâmetros cuja lista ficaria enorme para discorrer aqui. No fundo, a
ideia é que, inconsciente ou conscientemente, você sempre leva em
consideração uma referência, um parâmetro, uma variável ou algum
outro critério que julga conveniente nas suas escolhas.
Grosso modo, você não está cometendo nenhum grande erro se disser
que, basicamente, o preço é a principal variável econômica utilizada
como parâmetro para a tomada de decisões por parte dos agentes.
Afinal de contas, quando você compra alguma coisa, você paga o preço
pelo que comprou o bem. Quando recebe o salário, está recebendo o
preço da sua mão de obra multiplicado pelo tempo trabalhado.
Os investimentos que executa também são baseados em preços.
b. A taxa de juros, por ser o preço que se paga pelo dinheiro ou,
como os economistas gostam de afirmar: por ser o preço pela
renúncia da liquidez.
147
Essas três variáveis-chaves da macroeconomia, esses três preços
macroeconômicos, estão sempre na mídia e sempre são motivos de
muita discussão no país. Mas, afinal, por que se fala tanto em inflação,
taxa de juros, e taxa de câmbio no Brasil?
148
148
ASSIMILE
Preço: “em sentido amplo, o conceito expressa a relação
de troca de um bem por outro. Em sentido mais usual e
restrito, representa a proporção de dinheiro que se dá em
troca de determinada mercadoria, constituindo, portanto,
a expressão monetária do valor de um bem ou serviço”
(SANDRONI, 1999, p. 487-488).
149
do conceito: imagine que uma cesta básica no período t custa R$ 110,00.
Mas essa mesma cesta básica poderia ser adquirida por R$ 100,00 no
período t – 1, ou seja, no mês ou no ano passado. Qual foi o aumento de
preços da cesta básica? E qual foi a inflação no período?
Ou seja, você pode dizer que a inflação no período foi de 10% ou que o
preço da cesta básica aumentou em 10%.
A inflação, nesse caso, foi de 10%, ou seja, você pode dizer que os preços
aumentaram em R$ 11,00 ou que a taxa de aumento dos preços foi de
150
150
10%. Mas essa taxa de aumento é a mesma que a taxa de aumento no
período anterior, de 10%. A inflação não aumentou no período, mas
ficou estável em 10%. Houve um aumento dos preços, mas a inflação
não aumentou. Assim, sempre que há um aumento na inflação é porque
a taxa de aumento nos preços é maior de um período para o outro.
151
Fundação Getúlio Vargas (FGV). O IPCA é o índice que mede a inflação
oficial do país e tem a base 100 em dezembro de 1993 e o IGP é o
índice que corrige a maior parte dos contratos realizados no país,
como os contratos de aluguéis, e tem como mês-base agosto de 1994.
Mas também são importantes outros índices, como o Índice Nacional
dos Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE, o Índice Nacional do
Custo da Construção (INCC), especializado na variação da inflação na
construção civil, da FGV, e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), mas que é restrito
ao custo de vida das famílias de São Paulo Capital.
O IGP, por sua vez, abrange não só o consumo, mas também as etapas
do processo produtivo, e é composto por mais três índices: o Índice de
Preços ao Produtor Amplo (IPA), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC)
e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). Geralmente, o IGP
vem com um “sobrenome”, no caso, como IGP-M (mercado) ou o IGP-DI
(disponibilidade interna). No caso do IGP-M, os dados são coletados do
dia 21 de um mês ao dia 20 do mês seguinte e é o índice utilizado para
corrigir, junto com outros parâmetros, os contratos de energia elétrica
e de aluguéis no país. Já no IGP-DI, os dados são coletados do dia 1 ao
30 do mês em questão e o índice é utilizado para medir, por exemplo,
as dívidas dos estados com o governo federal.
152
152
2.3 O preço do dinheiro: a taxa de juros
Como você sabe, sempre que algum agente econômico toma dinheiro
emprestado no banco ou em uma instituição financeira, precisa pagar
o empréstimo em um determinado período, sendo a quantia paga
sempre superior ao que foi emprestado. Essa diferença entre a quantia
emprestada e a quantia paga, ou seja, os juros do empréstimo, é a
remuneração requerida pelo detentor original do recurso (do dinheiro)
para se desfazer dele pelo período determinado.
153
mais liquido da economia, pois pode se transformar em qualquer outro
ativo rapidamente e sem perdas.
154
154
estabelecida nos títulos de dívida pública do governo é o parâmetro das
taxas de juros cobradas no mercado como um todo.
155
A taxa Selic, apurada nesse mercado interbancário intermediado pelo
Banco Central (BC) do Brasil, acaba sendo a principal referência para
todas as transações que envolvem empréstimos entre os agentes
econômicos no país.
A taxa de câmbio nada mais é que uma relação de troca entre a moeda
local e uma moeda estrangeira. Ou, dito de outra forma, o preço
internacional da moeda, pois mostra o quanto a moeda de um país vale
em termos da moeda de outros países. No caso brasileiro, geralmente se
compara o real (R$) com o dólar dos Estados Unidos (US$) e o euro (€) da
União Europeia, as duas moedas mais fortes no mercado internacional.
A taxa de câmbio é utilizada nas relações que o país tem com o resto
do mundo, sendo as mais evidentes e comuns aquelas relacionadas à
importação e exportação de bens e serviços. Além da importação e da
exportação, há também o gasto com o turismo, seja de brasileiros no
exterior, seja de estrangeiros no Brasil, os envios ou recebimentos de
recursos por meio da conta financeira do país, onde estão registrados
os investimentos feitos no exterior ou recebidos do exterior, a remessa
ou o recebimento de lucros ou, ainda, outros movimentos de capitais
internacionais. Tomando como exemplo a relação da moeda brasileira
com o dólar, a taxa de câmbio é definida como:
156
156
A mídia e os economistas em geral usam os termos valorização e
desvalorização do dólar ou do real para tratar desses movimentos.
Assim, quando o real está mais barato que o dólar, é correto afirmar que
o dólar está valorizado e o real desvalorizado. Num exemplo genérico,
se o câmbio passasse de R$/US$ = 2,00 para R$/US$ = 3,00, diz-se que o
real se desvalorizou e, no caso oposto, de 3 para 2, por exemplo, diz-se
que o real se valorizou, ou que a taxa de câmbio se valorizou.
157
valorizada, para que o setor de exportação não se prejudique,
por exemplo, ou quando está muito desvalorizada, para que as
importações não fiquem mais caras, por exemplo. Mas existe uma
série de outras razões pelas quais o BC intervém no mercado de
câmbio e não só nele, mas na economia como um todo. Essas
intervenções são uma parte da prerrogativa de que o governo tem de
atuar na economia quando julga necessário. De maneira geral, essas
intervenções são chamadas de políticas macroeconômicas, como você
vai discutir na sequência desta leitura.
3. Políticas macroeconômicas
158
158
para o governo, em teoria, os empréstimos ao público em geral também
devem ficar mais baratos. Veja que o impacto do governo na economia
é indireto porque os bancos podem simplesmente não emprestar o
dinheiro para o público em geral, mesmo que as taxas de juros estejam
mais baixas. Outro exemplo é quando o governo reduz um imposto
sobre a folha de pagamento das empresas com o intuito de que elas,
menos oneradas, possam contratar mais mão de obra. O impacto na
economia é indireto, pois depende das intenções das empresas de
empregar mais pessoas, a despeito da redução do imposto.
Por um lado, essas três políticas econômicas são frutos de uma forma
específica de se enxergar o papel do governo na economia: a de que
o governo deve indicar aos agentes econômicos do setor privado
as condições atuais e futuras da economia para que estes agentes
possam tomar suas decisões com certa segurança. Por outro lado,
as políticas também são fruto da estratégia do Plano Real que, ao
superar o problema das altas taxas de inflação na economia brasileira,
requereu um regime que garantisse sua manutenção em níveis baixos.
Esse regime ganhou o nome de metas de inflação.
159
cumprida. Pela maior parte dos anos seguintes, entre 2005 e 2016,
a meta foi 4,5% a.a. com os mesmos intervalos de +2 p.p. ou -2 p.p.
A partir de 2017, o intervalo de tolerância caiu para 1,5 p.p. e a meta
prevista para o IPCA de 2022 é de 3,5% a.a.
160
160
investidores, a taxa Selic funciona como parâmetro para a realização
de um investimento e também influencia o custo do capital. Do lado
do sistema financeiro, é o “ponto de partida” para os empréstimos de
diversos setores. A partir das negociações entre o sistema financeiro e os
investidores e do nível da taxa básica de juros, a quantidade de crédito
é determinada na economia. Claro que, na determinação do crédito,
de maneira específica, entram as peculiaridades de cada instituição
financeira (se é um banco de investimento, um banco comercial ou
uma instituição de fomento) e suas relações com os diversos tipos de
clientes (por exemplo, pessoas físicas ou jurídicas, grandes ou pequenas
empresas, investidores nacionais ou estrangeiros, etc.).
161
Se a inflação é um dos resultados possíveis do processo de redução da
taxa de juros, o governo precisa tomar medidas para controlá-la, uma
vez que está num regime de metas inflacionárias. Seguindo o mesmo
tipo de raciocínio que o anterior, mas de maneira inversa, um aumento
na Selic promove uma redução do nível de atividade econômica,
redução da demanda, redução do emprego e, assim, teoricamente, uma
redução da inflação. Com o aumento da Selic, as instituições financeiras
aumentam suas taxas cobradas pelos empréstimos, o crédito se reduz,
os empréstimos caem e, por consequência, os gastos da economia
como um todo também são reduzidos, impactando a atividade
econômica e o emprego de maneira negativa. No entanto, nesse
cenário, a inflação pode cair, conforme o esperado. Por esse motivo, os
movimentos da taxa básica de juros da economia são a principal forma
de controle da inflação do país e, como você pode perceber, são um tipo
de controle indireto. É indireto porque, no fim das contas, depende da
predisposição dos bancos em emprestar ou suspender os empréstimos
conforme a taxa de juros varia. Ou, ainda, depende de a inflação ser, de
fato, uma inflação de demanda, ou seja, ocasionada por um aumento
na procura por bens e serviços superior à capacidade de oferta da
economia. Há casos em que a inflação é de custo, por exemplo, quando
uma matéria-prima importada fica mais cara e não está diretamente
relacionada com a demanda da economia. Por esses motivos, em toda
a explicação, foi usada a palavra “teoricamente”: a teoria indica esses
mecanismos do impacto da taxa de juros nas condições econômicas,
mas as relações do dia a dia dependem de agentes que podem não se
comportar de acordo com o que a teoria prevê.
162
162
fiscal são por meio dos seus gastos e da sua arrecadação. No primeiro
caso, o governo pode contratar e manter o pessoal necessário para o
funcionamento das instituições públicas, investir em áreas básicas, como
saúde, educação, saneamento básico, infraestrutura ou, ainda, destinar
recursos para programas sociais. Já por meio das receitas públicas,
o governo pode influenciar a atividade econômica criando impostos,
alterando as alíquotas daqueles impostos já existentes, dando isenções
fiscais ou subsídios econômicos ou, ainda, vendendo ativos públicos, ou
seja, privatizando instituições públicas.
163
A política fiscal, que busca sempre a geração de superávits primários
ou redução dos déficits primários, é condizente com o regime de
política macroeconômica adotado no país, o que se refere às metas
de inflação. Mas como funciona? Funciona a partir dos mecanismos de
financiamento que o governo tem à sua disposição comparado ao uso
que ele faz dos recursos obtidos.
164
164
suas obrigações e continuam financiando o país por meio da compra
de títulos públicos. Com o resultado primário fora da meta (menor do
que o esperado), há basicamente dois movimentos: o temor do setor
privado de que o setor público não tenha recursos para pagar a dívida
e, em resposta, as ações do governo para aliviar esse temor, ou seja, os
cortes nos gastos. Toda vez que o governo age nesse sentido, ele está
executando uma política fiscal condizente com o regime de metas de
inflação, mesmo que não condizente com outros objetivos, como o de
investir em áreas fundamentais para o país.
165
Entretanto, a rigor, desde 1999, é correto dizer que o Brasil não possui
política cambial porque adota um regime de câmbio flutuante. Dessa
forma, a política cambial seria a de deixar o câmbio se movimentar de
acordo com os movimentos dos mercados internacionais.
Mas nem sempre essa foi a política cambial do país. Quando o país
implantou o Plano Real, em 1999, para conter a inflação, precisou criar
uma nova moeda (justamente o real – R$). Para dar garantia de que a
nova moeda tinha valor no mercado, o governo afirmou que ela valia
o equivalente a um dólar (R$ 1,00 = US$ 1,00), ou seja, o lastro do real
passou a ser o dólar e qualquer pessoa que não acreditasse no valor da
moeda brasileira poderia trocá-la por dólares nessa razão de 1 para 1
que o BC garantia a conversão. O regime então era o de taxas de câmbio
administradas, ou seja, o BC administrava o mercado de câmbio para
que o real não ultrapassasse o limite de R$ 1/US$ 1. A taxa de câmbio
poderia se valorizar, mostrando que o real era uma moeda forte, mas
não se desvalorizar acima dessa paridade (1/1).
166
166
e, por consequência, os gastos totais. Além disso, os juros altos
oneram a dívida pública, pois o governo precisa economizar ainda
mais para pagar juros cada vez maiores. Como o aumento dos juros
significou aumento da dívida pública e recessão na economia, chegou
um momento em que o governo brasileiro considerou insustentável
a manutenção da taxa de câmbio administrada e resolveu “liberar” o
câmbio. Houve então uma crise de desvalorização do real em 1999 e a
taxa de câmbio passou para mais ou menos R$ 4,00/US$ 1 assim que o
câmbio passou a ser flutuante no país.
TEORIA EM PRÁTICA
Como estudioso em economia com experiência na análise
das variáveis macroeconômicas-chave, você foi contratado
pelo governo do Longistão para tentar solucionar o
problema de desemprego e de alta inflação em que o
167
país se encontra. Sabe-se que as empresas do Longistão
estão propensas a contratar empregados se as condições
de crédito melhorarem e se houver demanda para seus
produtos. A população desempregada não possui renda e
não consegue consumir e, além disso, a inflação está sendo
influenciada pelos preços dos produtos importados e pela
volatilidade da taxa de câmbio. Apesar de ter superávit
nas contas públicas, o governo não sabe o que pode fazer
para intervir na economia. Dado esse quadro geral, quais
seriam seus apontamentos para a execução da política
macroeconômica do Longistão?
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
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2. Levando em consideração que a taxa de câmbio
é o preço internacional de uma moeda, aponte a
afirmação correta.
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d. Uma redução da taxa de juros deixa os empréstimos
mais caros.
Referências bibliográficas
SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Editora Best
Seller, 1999.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Taxa Selic. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/
controleinflacao/taxaselic. Acesso em: 11 nov. 2019.
Gabarito
Questão 1 – Resposta C
Resolução: essa é a definição de inflação, um aumento no nível
de preços.
Questão 2 – Resposta E
Resolução: esse é o conceito de desvalorização cambial.
Questão 3 – Resposta A
Resolução: um aumento da taxa de juros prejudica o crédito e
reduz a demanda, com impactos na atividade econômica.
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