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ECONOMIA E MERCADOS
Flávio Arantes dos Santos

Economia e mercados

1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2019

2
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Santos, Flávio Arantes dos


S237e Economia e mercados/ Flávio Arantes dos Santos, –
Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A, 2019.
123 p.

ISBN 978-85-522-1637-7

1. Crise econômica. 2. Economia. 3. Mercado 4. Consumo


I. Título.
CDD 330
(Bibliotecário Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753)

2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

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ECONOMIA E MERCADOS

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 5

Fundamentos de teoria econômica 7

Microeconomia: princípios da oferta e da demanda 28

Estrutura da empresa: produção e custos 52

Estruturas e dinâmicas de mercado 75

Macroeconomia das contas nacionais 99

Princípios de economia internacional 122

Macroeconomia aplicada: preços e políticas macroeconômicas 145

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Apresentação da disciplina

A disciplina Economia e Mercados faz uma introdução à economia para


os alunos que nunca tiveram contato com a disciplina econômica ao
mesmo tempo em que aprofunda vários conceitos para aqueles que já
dominam alguns aspectos da teoria econômica.

A disciplina apresenta e discute o objeto de estudo da economia


enquanto ciência e detalha a divisão metodológica existente na análise
desse objeto. Além disso, também é escopo aplicar os conceitos
apreendidos na prática. Isso ocorre quando, a partir da discussão
teórica e dos instrumentos de análise apresentados, os alunos
conseguem observar as relações econômicas existentes na sociedade,
identificar os principais problemas econômicos do mundo real e
propor soluções para superar esses problemas, seja por meio do
mercado ou por meio do governo.

Dessa maneira, na disciplina Economia e Mercados, você vai conhecer


o objeto de estudo da ciência econômica, os principais autores que
dão o alicerce desse conhecimento, bem como as grandes abordagens
ou os grandes campos de estudo da economia, que se dividem em
microeconomia e em macroeconomia.

Ao ser apresentado ao estudo da microeconomia, você será capaz de


analisar de maneira geral o comportamento dos agentes econômicos
quando eles estão desempenhando o papel de consumidores ou o papel
de produtores. A partir desses papéis, você conseguirá derivar as leis
gerais da demanda e da oferta de mercado, bem como compreender as
condições de equilíbrio. Quando o mercado não estiver em equilíbrio,
você saberá identificar os ajustes de mercado, ou seja, as variações
nos preços e/ou nas quantidades até o ponto em que o mercado atinja
seu equilíbrio. Para conseguir realizar essa análise, você aprenderá as
estruturas de mercado e o modo como as empresas e os consumidores
se comportam se essa estrutura estiver baseada na concorrência perfeita,
na concorrência monopolística, no monopólio ou nos oligopólios.

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Já no caso do estudo da macroeconomia, você entenderá as relações
econômicas agregadas, baseadas no comportamento dos agentes
econômicos enquanto grupos. Nesse caso, você será apresentado as
relações básicas existentes entre as famílias, as empresas, o governo e
o setor externo na economia como um todo. A partir dessas relações,
você aprenderá como as contas nacionais são determinadas, além
de compreender o balanço de pagamentos, ou seja, as relações da
economia nacional com o resto do mundo. Por fim, você vai conhecer
os conceitos da macroeconomia utilizados na condução das políticas
econômicas, discutindo seus efeitos nos problemas de desemprego,
crescimento econômico e inflação.

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Fundamentos de teoria econômica
Autor: Flávio Arantes

Objetivos

• Analisar a economia enquanto uma ciência social


aplicada e enquanto objeto de estudo acadêmico.

• Aprender os conceitos básicos de economia e


que a ciência econômica é dividida, de maneira
geral, em duas grandes áreas de conhecimento: a
microeconomia e a macroeconomia.

• Discutir as contribuições de Adam Smith para a


abordagem microeconômica e de John M. Keynes
para a abordagem macroeconômica.

• Refletir que, a partir da microeconomia e da


macroeconomia, é possível analisar a maior parte
dos problemas econômicos que o estudioso de
economia enfrenta.

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1. Introdução

No Tema 1, você aprenderá os conceitos básicos da economia enquanto


uma área do conhecimento acadêmico e científico. Isso significa que
você descobrirá que a economia é uma ciência social com fundamentos
teóricos que podem ser aplicados no dia a dia dos diferentes agentes
econômicos que se encontram na sociedade. Você verá que a economia
é uma ciência complexa, que leva em consideração várias áreas do
conhecimento científico para realizar suas análises e para propor
intervenções no ambiente social, natural e econômico dos seus agentes.

Neste Tema 1, você será capaz de distinguir os problemas econômicos


fundamentais que os agentes econômicos enfrentam e de classificar
esses agentes conforme a situação com a qual eles se deparam. Isso
quer dizer, por exemplo, que você saberá analisar o comportamento
de um agente econômico quando ele aparece enquanto consumidor
numa relação econômica e distinguir o comportamento desse mesmo
agente se ele atuar como um vendedor no mesmo tipo de relação
econômica. Do mesmo modo, você saberá analisar o comportamento
do conjunto de consumidores ou do conjunto de vendedores numa
sociedade quando o problema a ser tratado refere-se às relações
econômicas no geral, ou agregadas, como os economistas costumam
denominar. Essa capacidade de análise e de classificação é de extrema
importância para seu conhecimento porque, a partir dela, você saberá
se determinado problema econômico é de origem microeconômica ou
de origem macroeconômica.

2. Economia enquanto ciência social e


conceitos básicos

Neste tópico, você aprenderá as principais questões econômicas que


tanto os estudiosos de economia quanto as pessoas de maneira geral
enfrentam a cada dia. No tópico 2.1, você verá que a economia faz

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parte da vida das pessoas mesmo que elas não estejam preocupadas
ou mesmo que não percebam o quanto a disciplina as influencia. Já
no tópico 2.2, você aprenderá de maneira mais formal os principais
conceitos utilizados na economia e quais são os problemas
fundamentais que a disciplina econômica se dispõe a enfrentar.

2.1 O objeto de estudo da economia

Você certamente já parou para pensar alguma vez que a “economia” está
presente na sua vida de diversas formas e que ela está sempre definindo
suas possibilidades e oportunidades, influenciando suas escolhas ou
decisões e ajudando a determinar seu modo de viver em sociedade. Se
por acaso nunca parou conscientemente para refletir sobre a “economia”,
certamente já pensou bastante sobre ela de maneira inconsciente, sem
perceber que aquele assunto específico se tratava de uma abordagem
econômica ou que você fez, mesmo sem perceber, uma análise
econômica durante a sua vida. Bastar ligar a TV, navegar pela internet ou,
ainda, passar os olhos em algum jornal que você pode perceber o quanto
a economia está presente no dia a dia de qualquer pessoa.

O aumento do preço dos combustíveis, a cotação do dólar, a taxa de


desemprego do país, o nível de produção da indústria automobilística,
a queda nas exportações, a elevação dos gastos públicos, a taxa de
inadimplência no comércio, as altas taxas de juros cobradas pelos
bancos e o patamar da dívida são alguns dos inúmeros exemplos de
como nosso dia a dia está repleto de temas, conceitos, assuntos e
abordagens que fazem parte da economia. A economia acaba tornando-
se uma área do conhecimento que você discute com base nas suas
experiências próprias, no empirismo que o cotidiano lhe fornece a todo
momento, talvez sem se dar conta dos porquês que estão por trás
de todas essas questões. Esse empirismo ou experiência adquirida é
capaz de deixá-lo apto a participar de qualquer discussão numa roda
de amigos, num jantar de família ou mesmo numa reunião de trabalho,
pois faz parte do processo de aprendizagem que acontece com qualquer
pessoa ao longo das suas experiências de vida.

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Entretanto, qualquer informação, notícia ou conteúdo que se refere
a economia parte de uma série de embasamentos teóricos que a
justificam. A partir deste tópico, você vai se familiarizar com os principais
conceitos utilizados na discussão econômica e com as duas grandes
vertentes teóricas que sustentam as abordagens da economia enquanto
objeto de estudo. Você vai saber em qual contexto usar determinada
abordagem e qual conceito utilizar em uma situação econômica
específica. Mas, afinal de contas, o que é economia?

PARA SABER MAIS


O termo “economia” vem da palavra grega “οικονομία”, que
pode ser desmembrada em outros dois termos: οἶκος e
νόμος. Oἶκος, ou “oikos” na versão ocidentalizada, significa
casa. Já vόμος, ou “nomos”, significa “costume ou lei” ou
também “gerir ou administrar”. Dessa maneira, o significado
inicial de economia era relacionado às “leis da casa”, à
“administração doméstica” ou à “administração do lar”.

Existem diversas maneiras de definir “economia”, mas todas elas


utilizam os mesmos conceitos em comum. O economista estadunidense,
professor da Universidade de Harvard, Nicholas Gregory Mankiw define
a disciplina econômica de uma maneira bastante simples, sendo ela
“o estudo de como a sociedade administra seus recursos escassos”
(MANKIW, 2008, p. 4). Já os economistas Marco Antonio Sandoval de
Vasconcellos e Manuel Enriquez Garcia, professores da Universidade
de São Paulo e autores de uma das principais obras de introdução à
economia no Brasil, a definem como:

Economia é a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade


decidem (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção
de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e

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grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas.
(VASCONCELLOS; GARCIA, 2000, p. 2, grifo do autor)

Em ambas as definições, você percebe que os autores usam as


mesmas palavras, ou palavras com significado semelhantes, como,
por exemplo, “recursos”, “escassez (escassos)”, “estudo” e, ainda,
“sociedade”. Dessa forma, em seu sentido mais amplo, a Economia
é o ramo da ciência que estuda a produção e distribuição de bens e
serviços pela sociedade. É uma disciplina do conhecimento que foca:

• Nos recursos que existem e são escassos, seja num local


específico, numa determinada região ou no mundo de
maneira geral.

• No porquê de a sociedade escolhe usar esses recursos que não


são infinitos.

• Na forma que a sociedade faz a utilização desses recursos.

• Nas consequências de todo esse processo de escolha.

Outra forma de abordar a disciplina econômica é entendê-la como nada


mais nada menos que uma categoria de análise na qual você é treinado
para desempenhar um determinado papel na sociedade, assim como
ocorre com as demais áreas do conhecimento humano. Isso significa
que, da mesma maneira que você é treinado a lidar com números
para resolver alguns cálculos matemáticos, ou da mesma maneira que
um médico é treinado para analisar os sintomas de um paciente e a
fazer um diagnóstico, a disciplina econômica o treina ou lhe ensina a
pensar de uma maneira específica, com focos específicos e utilizando
ferramentas específicas. Ela o capacita a fazer análises e resolver
problemas segundo categorias determinadas.

Talvez a grande diferença da Economia com relação às demais áreas


do conhecimento é que ela é um campo de estudo que leva em
consideração diversos instrumentos para se desenvolver enquanto

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categoria de análise. É uma disciplina que abriga elementos das ciências
exatas, como a matemática, ou mesmo a física, para a solução de
problemas relacionados a quantidades, valores ou uso dos recursos.
Mas também é uma disciplina que considera as abordagens oriundas
das humanidades, como a história de um país que o levou ao modo
como ele se encontra hoje em dia; ou da sociologia, para analisar
os indivíduos enquanto seres que convivem num determinado tipo
de configuração da sociedade, ou, ainda, elementos da psicologia,
que levam os indivíduos a serem singulares e terem determinados
comportamentos na sociedade em que vivem. Afinal de contas, como
você certamente já percebeu, a Economia trata de recursos, valores,
quantidades e, mais importante, de PESSOAS! Que se organizam das
mais diversas formas e se relacionam das maneiras mais diversas
possíveis com os fins mais diversificados possíveis.

2.2 Conceitos básicos e principais problemas econômicos


Você já está utilizando (e sabendo como utilizar) de maneira
inconsciente os principais conceitos de economia nesta Leitura
Fundamental e, com certeza, no seu dia a dia, seja em casa, no local
de trabalho ou nos seus estudos. Por mais que sejam complexas as
categorias que formam a abordagem econômica da sociedade, boa
parte da nomenclatura e dos conceitos utilizados na economia vem
do seu uso comum, do seu significado usual do dicionário (dizem que
essa é uma característica dos economistas, que costumam ter pouca
criatividade com os nomes!). São eles:
• Recursos.

• Escolhas.

• Produção.

• Necessidades.

• Escassez.

• Distribuição.

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ASSIMILE
Escassez econômica: o sentido dado pela economia à
escassez é o mesmo dado por qualquer dicionário de
língua portuguesa, mas com o adicional de estar sempre
relacionado às necessidades da sociedade. Dessa forma,
a economia lida com o dilema entre a finitude dos
recursos (naturais, monetários, sociais...) de que dispõe
frente às necessidades dos seres humanos que, por
pressuposto, são ilimitadas.

Tendo em vista as necessidades da sociedade frente à escassez de


recursos, o economista profissional, o estudioso da economia e mesmo
o cidadão comum fazem escolhas para melhor utilizar aquilo que têm
à sua disposição. Esse melhor uso, na linguagem econômica, significa
tornar ótimo ou “otimizar” as decisões que têm que tomar dentro de
um sistema econômico. Segundo Vasconcellos e Garcia (2000, p. 2),
o sistema econômico:

[...] pode ser definido como sendo a forma política, social e econômica pela
qual está organizada uma sociedade. É um particular sistema de organização
da produção, distribuição e consumo de todos os bens e serviços que as
pessoas utilizam buscando uma melhoria no padrão de vida e bem-estar.

No sistema econômico em que você vive, o sistema capitalista ou a


economia de mercado, as decisões de otimização dos usos dos recursos
são tomadas por meio da livre iniciativa dos indivíduos, da garantia da
propriedade privada dos meios de produção e de alguma coordenação
por meio do Estado. Isso significa que as pessoas são livres para se
organizarem nas atividades produtivas, que a economia e as pessoas
ofertam recursos produtivos e que o Estado, por meio do governo,
determina o sistema de leis, as regras, os limites e as áreas para que a
economia possa funcionar de maneira ótima, eficiente e estável.

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ASSIMILE
Meios de produção: são os recursos utilizados na produção
de bens e serviços numa empresa, numa indústria ou
numa economia como um todo. São chamados também
de fatores de produção e incluem, basicamente, terra,
recursos naturais, trabalho, capital e tecnologia.

Dados o sistema econômico, os fatores de produção disponíveis,


a necessidade ilimitada da sociedade e a escassez de recursos, a
economia se depara com alguns problemas principais: o que produzir?
Quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? Como distribuir
a produção?

As respostas a essas questões econômicas vão depender do


momento histórico em que a economia se encontra, da relação
entre os proprietários dos diversos fatores de produção, do poder
do governo em influenciar as decisões privadas da livre iniciativa, da
grandeza do problema e, ainda, da abordagem que se está levando em
consideração na solução. Na disciplina econômica, existem duas grandes
abordagens que podem ser levadas em consideração, a depender da
questão econômica a ser enfrentada. São elas: a microeconomia e a
macroeconomia – tema do próximo tópico.

3. As abordagens da microeconomia e da
macroeconomia

Neste tópico, você aprenderá as duas principais abordagens da


Economia enquanto disciplina ou área do conhecimento científico.
Na seção 3.1, você saberá as principais discussões a que o

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campo da microeconomia se atém. Você verá que é uma área da
Economia que se preocupa com o comportamento dos agentes
econômicos enquanto consumidores, produtores ou vendedores.
É na microeconomia que se desenvolvem a teoria do consumidor
e a teoria da firma, ou da empresa. Na seção 3.2, você aprenderá
o que é a macroeconomia e as áreas da Economia com as quais
essa abordagem se preocupa. Como você perceberá, essa área do
conhecimento está preocupada com o conjunto dos consumidores, o
conjunto das empresas, o conjunto de ações do governo e as relações
de uma economia com outras economias do mundo.

3.1 O campo de estudo da microeconomia

Mesmo que você nunca tenha ouvido falar em microeconomia na sua


vida, você certamente faz alguma ideia do que seja essa abordagem
porque agora já sabe qual é o objeto de estudo da Economia
como um todo e as principais questões que a disciplina pretende
responder. Você também já sabe os principais conceitos utilizados na
análise econômica, o que torna ainda mais fácil o aprendizado sobre
o campo de estudo ou o campo de análise microeconômico.

A microeconomia é a abordagem inicial a partir da qual se


desenvolveram praticamente todas as demais abordagens da
economia moderna, mas que tem estreita relação com o conceito
grego de economia como “administração da casa” ou “administração
da empresa”. A análise microeconômica surge a partir dos
pensamentos de Adam Smith no século XVII, sobre a maneira de
tornar o processo de produção de alfinetes mais eficiente, ou a
fábrica mais produtiva. O processo de produção que Smith analisava
era o manufatureiro, ou pré-industrial, em que as ferramentas ainda
eram rudimentares e não existia o maquinário característico das
indústrias modernas.

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PARA SABER MAIS
Adam Smith (1723-1790) foi um filósofo, economista e
autor britânico nascido na Escócia, que é considerado o
pai da economia moderna ou, ainda, o pai do capitalismo.
Aliando seus conhecimentos de filosofia moral à análise
econômica, Smith defendia que os seres humanos são
naturalmente propensos às trocas e que sempre se
relacionam entre si com esse objetivo.

Smith percebeu que se houvesse uma divisão das etapas da manufatura


de alfinetes, com cada trabalhador especializado em desempenhar
uma função específica no processo produtivo, a quantidade produzida
de alfinetes aumentaria de maneira significativa. Ou seja, Smith
elaborou uma teoria a partir da observação da sua realidade, provando
que o aumento da produtividade da manufatura de alfinetes estava
relacionado à divisão do trabalho envolvido.

A partir desse caso específico, Smith foi capaz de desenvolver uma


obra grandiosa, referência em todo o mundo e conhecida como a
primeira obra a tratar a economia de maneira sistematizada.
A publicação intitulada Uma investigação sobre a natureza e as causas
da riqueza das nações, mas mais conhecida simplesmente como
A riqueza das nações, foi lançada inicialmente em 1776 e representa
uma mudança significativa na história do pensamento econômico e no
desenvolvimento da Economia enquanto disciplina e objeto de estudo.

Além das vantagens produtivas associadas à divisão do trabalho,


A riqueza das nações trata também do valor gerado na produção
manufatureira, da distribuição dos rendimentos advindos da produção,
da consequente acumulação de capital e, ainda, das considerações
sobre o funcionamento do livre mercado nas sociedades comerciais.

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Figura 1 – Adam Smith (1723-1790)

Fonte: WilshireImages/iStock.com.

Neste momento, você deve estar se perguntando: e a relação de Smith


com a microeconomia? Bem, a microeconomia, enquanto abordagem
teórica, nasceu a partir da análise da fábrica de alfinetes promovida por
esse autor escocês.

Smith estava analisando as possíveis maneiras de otimizar a


produção de um bem, levando em consideração os fatores produtivos
disponíveis, a tecnologia da época e os recursos necessários para
aquele empreendimento manufatureiro. Ou seja, se trouxermos para a
discussão de hoje em dia, o autor estava analisando o funcionamento
de uma empresa com base no que ela possui de meios de produção.
É justamente dos aspectos relacionados ao funcionamento de
uma empresa ou de uma indústria em particular que a análise
microeconômica trata. A microeconomia se preocupa com todas as
relações econômicas que ocorrem dentro de uma empresa e nas suas
relações com as demais empresas e com os consumidores de seus
bens ou serviços. Essas relações econômicas partem dos motivos
que levam um agente econômico a consumir, passam pelas decisões
dos empresários de produzir e se desdobra nas relações que ambos
realizam no mercado econômico.

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O mercado nada mais é do que o local onde as relações entre os
agentes econômicos acontecem. Nele são realizadas as trocas que Smith
defendia ser a maneira mais eficiente de completar o processo produtivo
e garantir de fato “a riqueza das nações”. Para ele, o mercado deveria
ser LIVRE, para possibilitar as transações diretamente entre produtores
e compradores e sem a intervenção do governo, a não ser para garantir
a liberdade de negociações. Isso porque o autor acreditava numa “mão
invisível” que garantiria o ajuste de mercado, pois o interesse de cada
agente econômico levaria a um ajuste benéfico para todos. Ou seja, a
soma das ações individuais levaria ao bem comum e coletivo.

Dessa maneira, a análise microeconômica se desenvolveu durante


séculos para tratar das teorias que discutem o comportamento
dos consumidores; das abordagens que determinam as decisões
de produção e de uso dos recursos por parte das empresas; das
mudanças tecnológicas e das inovações nos diferentes processos
produtivos; das diferentes estruturas de mercado e dos diversos
elementos que o compõem e dos possíveis ajustes nas estruturas para
que haja equilíbrio. Ou seja, a microeconomia trata de todas as teorias
relacionadas ao comportamento econômico que têm como base uma
economia empresarial.

3.2 O campo de estudo da macroeconomia

Até aqui, você já aprendeu quais são os problemas a serem enfrentados


pela economia de maneira geral, a influência de Adam Smith no
desenvolvimento da disciplina econômica e o campo de atuação da
abordagem microeconômica. Fica fácil, assim, distinguir quais são os
temas abordados pela macroeconomia: praticamente, as demais áreas
da Economia que não são abordadas pela microeconomia!

Pelo instrumental microeconômico, você analisa o comportamento


dos consumidores e produtores, assim como o comportamento das

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empresas e das indústrias com as quais eles interagem. Você percebe
e apreende a dinâmica de setores econômicos específicos e faz uma
extrapolação para a compreensão daquele sistema de relações em que
determinada empresa ou indústria está envolvida. Mas e para a análise
do comportamento econômico como um todo? Como você pode analisar
o funcionamento da economia de maneira geral? Será que é possível
extrapolar a dinâmica de um mercado ou de uma indústria específica
para um país como um todo? Como calcular as grandes relações, as
relações agregadas da economia?

Para responder a essas questões, você utiliza a abordagem


da macroeconomia. Na história do pensamento econômico, a
macroeconomia surgiu para complementar os tradicionais enfoques
“microscópicos” da economia com uma nova abordagem, um olhar
mais “macroscópico” para as relações econômicas. Surgiu para que
a realidade econômica pudesse ser apreendida em seus aspectos
amplos, agregados, globais. Assim como Smith foi uma figura
fundamental para o desenvolvimento da disciplina econômica como
um todo e da microeconomia em particular, John Maynard Keynes foi
o ponto de inflexão na discussão econômica, ao iniciar, no século XX, a
abordagem macroeconômica.

PARA SABER MAIS


John Maynard Keynes (1883-1946) foi um economista
britânico nascido na Inglaterra que é considerado o pai da
macroeconomia e o precursor das políticas econômicas.
Keynes causou uma revolução na disciplina econômica ao
provar que as relações agregadas da economia não seguem
o mesmo comportamento das relações individuais e que o
mercado, por si só, não consegue atingir o equilíbrio. Na sua
visão, o governo deve agir na coordenação do mercado.

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A partir da publicação da obra A teoria geral do emprego, do juro e
da moeda, em 1936, Keynes colocou uma nova forma de entender a
economia. Segundo o autor, o mercado é a configuração mais eficiente
para que as transações entre produtores e compradores ocorram, mas
esse mercado não pode ser deixado livre, ao sabor da “mão invisível”
de Smith. Na interpretação de Keynes, o comportamento otimizador de
cada agente econômico não necessariamente leva ao bem-estar comum.
A ideia é de que, mesmo que as empresas otimizem suas decisões de
investimento e de produção e os consumidores otimizem suas escolhas
de consumo e de oferta de mão de obra, o encontro de ambos no
mercado pode não resultar num equilíbrio da economia como um todo.

Mas você deve estar pensando: o que, de fato, Keynes quer dizer com
isso? O que quer dizer esse equilíbrio da economia como um todo?

Lembre-se de que, em 1929, houve uma quebra da bolsa de valores


de Nova York que ocasionou uma grande crise econômica global nos
anos seguintes. Essa crise, chamada de Grande Depressão, levou
à quebra de muitas empresas, a problemas de produção e ao
aumento do desemprego na economia mundial. Durante esse
período, Keynes analisava o comportamento das empresas, dos
trabalhadores, dos investidores na bolsa e do governo e percebia dois
problemas fundamentais: havia uma quantidade enorme de mão
de obra desempregada ao mesmo tempo em que havia capacidade
produtiva não utilizada nas empresas. Do ponto de vista do empresário,
seria razoável não investir numa economia que não tem perspectivas
de crescimento, ou seja, numa economia em que ele sabe que não vai
conseguir vender sua produção. Da mesma maneira, sem emprego, os
trabalhadores não conseguiriam gastar, pois não tinham renda para tal.
Havia um único agente no sistema econômico que poderia demandar
trabalho dos desempregados, contratar empresas para fornecer bens e
serviços e fazer com que a economia como um todo saísse da depressão
e voltasse a crescer. Esse agente é o governo.

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Figura 2 – John M. Keynes (1883-1946)

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4c/Lopokova_and_
Keynes_1920s_cropped.jpg. Acesso em: 8 jan. 2020.

Keynes defendia que, quando necessário, o Estado ou o governo


deveria atuar na economia, coordenando a ação entre empresas e
trabalhadores para que os desempregados conseguissem empregos
e para que as empresas voltassem a funcionar e a vender seus bens
e serviços. Em épocas de baixo crescimento econômico, de alto
desemprego ou de crises, o Estado seria o único agente capaz de
gastar sem ter uma renda prévia, o único agente da economia que
conseguiria demandar bens e serviços de maneira autônoma, como se
diz na linguagem de economia. Para Keynes, sempre que o mecanismo
de mercado não fosse suficiente para gerar um nível de produção na
economia que fosse condizente com o pleno emprego dos meios de
produção disponíveis, o governo deveria agir para cobrir essa falha e
garantir que todos que quisessem trabalhar tivessem emprego.

Você pode perceber que, da ideia de atuação do Estado na economia,


coordenando, ajudando e incentivando a produção privada, surgem as
políticas econômicas, ou políticas keynesianas, como ficaram conhecidas.

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Mas e onde está o caráter macroeconômico da análise? Está justamente
no fato de que Keynes não estava preocupado com uma empresa
específica, nem com um mercado específico e muito menos com um tipo
de trabalhador ou de consumidor específico. Sua preocupação maior era
com o nível agregado de produção, com o nível total de desemprego na
economia e com a insuficiência de demanda global para atingir o pleno
emprego dos fatores de produção.

A política macroeconômica keynesiana visa “...administrar a demanda


agregada de modo a mantê-la no nível adequado à sustentação do pleno
emprego. Idealmente, a política econômica keynesiana seria aquela que
estimularia empresários a utilizar os fatores de produção disponíveis,
deixando inteiramente a seu cargo a decisão de onde empregá-los”.
(CARVALHO, 2008, p. 14)

Dessa maneira, Keynes criou uma abordagem que não era objeto
da disciplina econômica principalmente porque, até então, a
análise econômica baseava-se fundamentalmente na abordagem
microeconômica oriunda de Smith. A análise macroeconômica,
portanto, vem da interpretação de Keynes e trata do estudo agregado
da atividade econômica, ocupando-se das magnitudes globais, com
vistas à determinação das condições gerais de crescimento e de
equilíbrio da economia como um todo. Ou seja, a macroeconomia
estuda a determinação e o comportamento dos agregados econômicos,
como o Produto Interno Bruto (PIB), o consumo nacional (das famílias),
o investimento agregado, as exportações totais que um país faz para o
exterior, as importações totais que o país recebe de fora, o nível geral
de preços e os determinantes da inflação e todas as demais variáveis
que representam algum tipo de “agregado” da economia.

Como a macroeconomia estuda os agregados econômicos, você


certamente já deduziu que é nessa abordagem que se encontram as
discussões sobre crescimento econômico, sobre política econômica,

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política monetária, política fiscal, a busca pelo controle da inflação,
a discussão sobre a taxa de câmbio, a questão do desemprego, as
políticas de fomento à economia, entre diversas outras.

Agora você já possui todo o ferramental básico e as principais


categorias de análise econômica para iniciar seus estudos mais
aprofundados e suas discussões sobre a economia. A partir do
ferramental microeconômico e do instrumental macroeconômico, você
consegue entender e analisar a maior parte dos problemas econômicos
que enfrentará ao longo da vida.

TEORIA EM PRÁTICA
De tempos em tempos, a economia brasileira passa por
algum tipo de crise econômica que impacta a produção
nacional e o nível de emprego. Às vezes, a crise interna
no país é decorrente de alguma crise internacional,
em que os países mundo afora deixam de demandar
os produtos brasileiros e reduzem suas relações
comerciais com o Brasil. Quando isso ocorre, alguns
setores da economia são mais afetados do que outros,
mas o impacto sobre a produção e o emprego é visto
na economia como um todo. Em outros momentos, as
crises são decorrentes da própria dinâmica interna, por
exemplo, quando há uma queda expressiva do consumo
das famílias por conta da dificuldade de acesso ao
crédito. Tendo em vista esse cenário, quais elementos
você classificaria como explicações microeconômicas
da crise? Quais os elementos que fazem parte da
abordagem macroeconômica? Há alguma interação
entre ambas as abordagens?

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VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. A economia enquanto objeto de estudo existe há muito
tempo e os gregos já possuíam uma discussão sobre os
princípios que deveriam reger essa disciplina. Entretanto,
a economia __________ surgiu a partir da interpretação
de ______________ sobre a realidade _________ em que a
Grã-Bretanha se encontrava. Seus estudos deram início
à análise ________ mas também se preocupava com as
condições _________da economia.

Assinale a alternativa que contenha os termos corretos


para as lacunas acima:

a. Moderna; Keynes; industrial; microeconômica;


específicas.

b. Moderna; Smith; industrial; microeconômicas; gerais.

c. Medieval; Smith; manufatureira;


macroeconômica; gerais.

d. Moderna; Keynes; manufatureira; macroeconômica;


específicas.

e. Moderna; Smith; manufatureira;


microeconômica; gerais.

2. A Economia se divide em dois campos de atuação ou


duas abordagens distintas. São elas:

a. A macroeconomia, que se preocupa em analisar o


comportamento das empresas e dos consumidores.

24
24
A microeconomia, que está preocupada com o
crescimento econômico de um país.

b. A microeconomia e a macroeconomia. Enquanto a


microeconomia está preocupada com as decisões dos
consumidores individuais, a macroeconomia aborda
os temas relacionados às empresas.

c. A microeconomia, que estuda como consumidores


e empresas tomam decisões e como esses agentes
interagem nos mercados, e a macroeconomia, que
aborda os fenômenos agregados da economia, como
crescimento do PIB, inflação e desemprego.

d. A macroeconomia, que se preocupa com as


decisões dos agentes agregados na economia,
e a microeconomia, que aborda o comércio
internacional do país.

e. A microeconomia, que foi fundada por Adam Smith


e estuda o comportamento geral dos preços, da
produção e do emprego no país, e a macroeconomia,
fundada por John Keynes, que aborda a dinâmica nos
mercados capitalistas.

3. A Economia é uma disciplina que treina as pessoas


num tipo de categoria de análise da realidade.
Essa categoria de análise se vale de uma série de
outras áreas do conhecimento cientifico existente.
Entre as ciências que ajudam na formação da
abordagem econômica se destacam:

 25
a. As ciências exatas, como matemática e física, que
ajudam nos cálculos de otimização das decisões de
consumidores e empresas.

b. As humanidades, como a sociologia, pois os agentes


econômicos vivem em sociedade, mas não a
psicologia, pois o comportamento individual de uma
pessoa não afeta os resultados do mercado.

c. A matemática, mas não a psicologia, pois a Economia


trata de agentes racionais que usam cálculos para
tomar suas decisões.

d. Matemática e física, pois a Economia é uma


ciência exata.

e. História e sociologia, uma vez que a Economia é uma


ciência social que pretende calcular as decisões dos
agentes econômicos.

Referências bibliográficas

CARVALHO, F. Equilíbrio fiscal e política econômica keynesiana. Revista Análise


Econômica, Porto Alegre, ano 26, n. 50, p. 7-25, 2008.
KEYNES, J. M. Teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro. 1. ed. bras.
Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1964 (1936).
MANKIW, N. G. Introdução à economia. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2008.
SMITH, A. A riqueza das nações. Rio de Janeiro: Abril Cultural, 1982.
VASCONCELLOS, M. A. S; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 5. ed.
São Paulo, SP: Saraiva, 2017.

26
26
Gabarito

Questão 1 – Resposta: E
Resolução: Adam Smith é considerado o pai da economia moderna
e sua interpretação da realidade manufatureira da Grã-Bretanha
deram início à abordagem microeconômica. Entretanto, Smith
também se preocupava com questões gerais da economia, como
as origens e as causas da riqueza dos países.
Questão 2 – Resposta: C
Resolução: a microeconomia e a macroeconomia. Enquanto a
microeconomia aborda temas relacionados ao comportamento
das empresas e dos consumidores, a macroeconomia está
preocupada com o comportamento geral da economia, com os
agregados econômicos.
Questão 3 – Resposta: A
Resolução: a economia é considerada uma ciência social
aplicada. Isso significa que ela pega emprestado elementos das
humanidades, como história, sociologia, psicologia, etc., mas
também usa elementos das ciências exatas, como matemática e
física, para ajudar nos cálculos de otimização das decisões dos
agentes econômicos.

 27
Microeconomia: princípios
da oferta e da demanda
Autor: Flávio Arantes

Objetivos

• Aprender os princípios da análise


microeconômica que embasam as decisões dos
produtores e dos consumidores.

• Refletir sobre a teoria do consumidor.

• Discutir os tipos de bens, as leis da demanda e


da oferta e o equilíbrio de mercado.

• Analisar os desequilíbrios de mercado e os


ajustes via preços.

28
28
1. Introdução

Agora, você aprenderá os princípios fundamentais da análise


microeconômica. Isso significa que você conhecerá os primeiros
conceitos e as principais ferramentas da microeconomia. Você perceberá
o quanto a análise microeconômica está presente no nosso dia a dia e é
essencial para o entendimento do funcionamento dos mercados.

Neste tema, você ficará apto a analisar as decisões dos agentes


econômicos, os pressupostos considerados para a tomada dessas
decisões e a dinâmica que ocorre no mercado a partir de cada decisão
individual. Ao final desta Leitura Fundamental, você terá aprendido o
que é teoria do consumidor, as primeiras ideias da teoria do produtor e
as interações via mercado.

2. Mercado, dinheiro e preços

Você vive numa sociedade capitalista, em que boa parte das relações
sociais são relações econômicas. Isso significa que elas acontecem
no mercado e são mediadas pelo dinheiro. É no mercado que
consumidores e produtores se encontram e realizam as transações: os
primeiros demandando bens e serviços produzidos e ofertados pelos
segundos. As transações no mercado ocorrem por meio da troca de
dinheiro por um determinado bem ou serviço.

Pela sua experiência pessoal, você sabe que é o preço que determina
a quantidade de um bem ou de um serviço oferecido no mercado. Já
a quantidade demandada daquele determinado bem vai depender
de uma série de fatores. Esses fatores vão desde as necessidades do
consumidor, suas preferências, seus gostos e terminam sempre na
sua renda. Assim, a despeito das características individuais de cada
consumidor, em última instância, o que vai determinar a quantidade

 29
que ele demanda daquele bem ou serviço é sua capacidade de
pagamento ou sua restrição orçamentária. Dessa forma, quantidade,
preços e renda estão sempre em questão quando você está fazendo
uma análise microeconômica.

ASSIMILE

Restrição orçamentária: o total de recursos disponíveis


para um agente econômico realizar um gasto, ou seja,
demandar um bem ou serviço no mercado. A restrição
orçamentária é medida pelas diversas remunerações
dos agentes (salários, lucros, aluguéis, juros, etc.) e
pela sua capacidade de levantar empréstimos no
sistema financeiro.

Independentemente do mercado em questão, algumas características


gerais estão sempre presentes nas relações entre produtores e
consumidores e acabam se transformando em leis gerais. O primeiro
conjunto dessas relações determina a demanda.

3. Demanda

A demanda nada mais é do que o quanto você deseja de determinado


bem ou serviço ofertado no mercado. Ela é determinada pela sua
necessidade do bem, pelos seus gostos, pelas suas preferências,
pela qualidade do bem e por uma série de outros determinantes
individuais que têm a ver com sua experiência de vida e sua posição
social. Na análise microeconômica, a demanda por determinado bem
está sempre colocando em contraposição o preço do bem e a restrição
orçamentária do consumidor.

30
30
ASSIMILE

Quantidade demandada: o quanto o consumidor pretende


adquirir ou adquire de fato de determinado bem ou serviço
no mercado. A quantidade demandada vai depender do
preço estabelecido para o bem ou serviço em questão e da
capacidade de pagamento do consumidor.

3.1 Curva de demanda

Mantendo a renda sem variar, a quantidade demandada de um


bem por determinado consumidor depende de seu preço. Quando o
preço de um bem diminui, normalmente, as pessoas compram mais
ou menos do bem? E se o preço do bem aumenta? O que acontece
com a demanda?

A resposta a essas questões fornece a Lei da Demanda:

[...] com tudo o mais mantido constante, quando o preço de um


bem aumenta, a quantidade demandada deste diminui; quando o
preço diminui, a quantidade demandada do bem aumenta.
(MANKIW, 2014, p. 65)

O uso de um exemplo concreto o ajudará na análise do comportamento


dos consumidores. Com o exemplo, você pode traçar um gráfico que
será útil em quaisquer análises microeconômicas.

Considere então que Luigi chegou da Itália recentemente e se


maravilhou com a pizza brasileira. Luigi gostou tanto da pizza daqui
que, durante uma semana qualquer, demanda pizzas segundo preços e
quantidades apresentados na Tabela 1 abaixo:

 31
Tabela 1 – Preço e demanda de pizza
Preço da pizza Quantidade demandada de pizza
R$ 0,00 12
R$ 5,00 10
R$ 10,00 8
R$ 15,00 6
R$ 20,00 4
R$ 25,00 2
R$ 30,00 0

Fonte: elaborada pelo autor.

Como Luigi gostou muito da pizza brasileira, se ela for gratuita,


sua alimentação semanal será basicamente à base de pizza, e ele
demandará 12 pizzas no total. Por outro lado, se o preço da pizza for
R$ 30,00, Luigi não demanda nenhuma pizza. Numa representação
gráfica, a demanda de Luigi por pizza é a seguinte:

Gráfico 1 – Curva de demanda por pizza

Fonte: elaborado pelo autor.

O Gráfico 1 mostra que a curva de demanda por pizza condiz com a lei
da demanda: tudo o mais mantido constante, a demanda será maior
quanto menor o preço. Ou seja, se nada acontecer com a renda de Luigi,

32
32
se os gostos dele não mudarem e se suas preferências se mantiverem as
mesmas, ele vai demandar mais de um determinado bem quanto mais
baixo for seu preço.

Mas o que vale para Luigi, no caso da Lei da Demanda, também vale
para sua esposa Mária – e vale para todos os indivíduos que demandam
pizza. Mária tem preferências, gostos e renda diferentes de Luigi, e
demanda pizzas conforme a terceira coluna da Tabela 2 abaixo mostra:

Tabela 2 – Preço e demanda de mercado de fatias de pizza


Quantidade de- Quantidade de- Quantidade de-
Preço da pizza
mandada de Luigi mandada de Mária mandada mercado
R$ 0,00 12 9 21
R$ 5,00 10 8 18
R$ 10,00 8 7 15
R$ 15,00 6 6 12
R$ 20,00 4 5 9
R$ 25,00 2 4 6
R$ 30,00 0 3 3

Fonte: elaborada pelo autor.

Se o mercado de pizza é formado apenas por esses dois consumidores,


quando você soma a demanda de pizza de Luigi com a de Mária, você
obtém a demanda do mercado por pizza.

Gráfico 2 – Curva de demanda por pizza

Fonte: elaborado pelo autor.

 33
Dessa forma, a curva de demanda de mercado é igual ao somatório de
todas as curvas de demanda de todos os indivíduos que se encontram
no mercado. No exemplo que você está analisando, é a soma da curva
de Luigi e Mária que, individualmente, estão representadas no gráfico 2a
e, juntas, estão representadas no gráfico 2b.

3.2 Movimento ao longo da curva de demanda

A partir da demanda de mercado, você não apenas consegue analisar


a demanda total por determinado bem, mas também o que acontece
quando algumas condições mudam. O primeiro passo é analisar o
que ocorre com a demanda de determinado bem quando seu preço
muda. Essa pergunta é fácil de responder, pois a resposta já está na
própria Lei da Demanda. A representação gráfica para isso, contudo,
se encontra no Gráfico 3 abaixo:

Gráfico 3 – Movimento ao longo da curva de demanda

Fonte: elaborado pelo autor.

De acordo com o Gráfico 3 e com a Lei da Demanda, mudanças de


preços causam movimentos ao longo da curva de demanda, pois,
quando o preço aumenta, a demanda cai, e quando o preço cai, a
demanda aumenta.

34
34
Mas e se outras condições que determinam a demanda por um
bem mudam? O que acontece com a curva de demanda se a renda
dos consumidores muda? E se as preferências e os gostos desses
consumidores sofrem alterações? O que acontece com a demanda?

Antes de você estudar o que acontece com a curva de demanda, é


preciso saber que os bens não são todos iguais e, na microeconomia,
existe uma maneira de classificá-los para poder analisar como a
demanda por eles responde às alterações nos seus determinantes.

3.3 Classificação dos bens

Até aqui, você aprendeu que a demanda de um bem aumenta quando


seu preço diminui e que a demanda diminui conforme seu preço
aumenta. Na realidade, isso é algo que ocorre costumeiramente
no seu dia a dia, algo que é comum na maior parte dos mercados.
A microeconomia utiliza esse fato comum na nossa realidade para
classificar bens cuja demanda aumenta quando o preço diminui como
“bens comuns”.

Com uma classificação parecida com os bens comuns estão aqueles


bens que a microeconomia classifica como “bens normais”.
Normalmente, se sua renda aumenta, se você passa a receber um
salário maior, a demanda por alguns bens que você consome aumenta.
Se a demanda pelo bem aumentar quando a renda aumentar, o bem
é considerado um bem normal. Exemplos são os pacotes maiores
de internet, planos mais amplos de telefonia, uso mais frequente do
automóvel, TV por assinatura, etc.

Agora você pode estar pensando se existe algum caso em que a


demanda por algum bem diminui quando a renda do consumidor
aumenta. De fato existe, e a microeconomia classifica esses bens como
“bens inferiores”. Exemplos de bens inferiores são muito mais comuns
do que parece a uma primeira vista. No ambiente universitário, por

 35
exemplo, é muito comum o consumo de bens inferiores, como salsicha,
macarrão instantâneo, “pratos feitos” ou mesmo passe de ônibus. Esses
bens não são inferiores pela qualidade do alimento ou do transporte
público, mas sim porque, quando o universitário consegue um emprego,
com renda maior, ele deixa de consumir ou reduz seu consumo de
macarrão instantâneo e passa a consumir um almoço no restaurante.

Veja que deixar de consumir um bem inferior, como a salsicha,


para consumir um almoço em um restaurante é diferente de outra
classificação de bens que existe na microeconomia, o caso dos “bens
substitutos”. Apesar de você substituir a salsicha pelo almoço, o
determinante da troca foi o aumento da sua renda. Bens substitutos
são aqueles que você substitui a demanda por outro similar quando
seu preço aumenta. Se você sempre come proteína animal e o preço
da carne bovina aumenta, provavelmente você optará pela carne suína
ou pela carne de frango. As carnes, nesse caso, são bens substitutos.
O mesmo vale para marcas diferentes, quando você escolhe outro
detergente, pois sua marca preferida aumenta o preço. Ou, ainda,
quando você opta por abastecer seu carro flex com etanol quando o
preço da gasolina aumenta.

Veja que, a partir do exemplo do veículo, é possível mais uma forma


de classificar os bens. Você só consome etanol ou gasolina se tiver
um carro flex. Então, o consumo de combustível é complementar ao
seu uso do carro. Carro e combustível são “bens complementares”.
O consumo de um bem implica o consumo do outro. Isso vale
também nas máquinas de café espresso que requerem a cápsula
ou o sachê de café para serem utilizadas.

Uma vez conhecida a classificação de bens utilizada na análise


microeconômica, você está apto a analisar o que ocorre na demanda de
determinado bem quando um de seus determinantes muda, seja ele a
renda, as preferências, os gostos ou o preço de outros bens relacionados.

36
36
3.4 Deslocamento da curva de demanda

Você viu na seção 3.2 que mudanças no preço de um bem causam


movimentos ao longo da curva desse bem. Agora você vai perceber que
mudanças nas condições que determinam a demanda de algum bem
específico fazem com que a curva de demanda se desloque no plano
que relaciona preços e quantidades.

Mais um exemplo concreto pode ajudar na sua análise. Suponha


que Luigi e Mária gostem de comer uma barrinha de chocolate após
suas refeições, mas não comem com frequência porque o chocolate
custa caro na pizzaria que frequentam. Entretanto, este mês, ambos
ganharam promoção nos seus respectivos empregos e estão recebendo
um salário maior. Com o novo salário, podem comer o chocolate após a
pizza. Não houve nenhuma mudança no preço do chocolate, a demanda
aumentou apenas porque as pessoas estão mais ricas. Nesse caso, a
curva de demanda se desloca para a direita.

Gráfico 4 – Deslocamento da curva de demanda de barrinhas


de chocolate

Fonte: elaborado pelo autor.

 37
Perceba pelo Gráfico 4a acima que o preço da barrinha de chocolate
continuou o mesmo (R$ 5), mas a demanda aumentou de 10 para
15 unidades. No mesmo preço, o mercado demanda mais barrinhas
de chocolate. A mesma lógica vale para o caso em que as preferências
ou os gostos dos consumidores mudam e eles passam a demandar
mais barrinhas, independentemente do preço.

Você, com certeza, já notou que o raciocínio inverso também vale,


ou seja, se, por algum motivo, as pessoas deixam de demandar
determinado bem, a curva de demanda desse bem se desloca para a
esquerda, conforme o Gráfico 4b. Se as pessoas perdem o emprego,
por exemplo, elas podem comer menos chocolate e a demanda se
desloca para a esquerda, independentemente do preço do chocolate.
Ou, ainda, se é descoberto que comer chocolate faz mal para o
coração, menos pessoas irão querer comprar chocolate e a demanda
se deslocará para a esquerda. No Gráfico 4b acima, a demanda se
desloca de D1 para D2 e a quantidade demandada no exemplo cai de
20 para 10 unidades.

Os mesmos tipos de deslocamentos da curva de demanda de um


bem ocorrem se há alterações no preço de um bem substituto.
Suponha que você considere que arroz branco e arroz integral sejam
substitutos entre si, pois ambos são fonte de carboidrato. Se o preço
do arroz integral aumenta, você pode preferir substituí-lo por arroz
branco. Se isso ocorre, a demanda por arroz branco vai aumentar,
ocasionando um deslocamento para a direita na curva de demanda
do arroz branco. No Gráfico 5 abaixo, a demanda vai de D1 para D3.

38
38
Gráfico 5 – Deslocamento da curva de demanda de arroz branco

Fonte: elaborado pelo autor.

Por outro lado, se o preço do arroz integral diminui e você o considera


mais nutritivo que o arroz branco, haverá deslocamento para a esquerda
da demanda de arroz branco, de D1 para D2 no Gráfico 5, indicando
uma queda na demanda por arroz branco, independentemente do
movimento dos preços do arroz branco.

Já no caso de bens complementares, a análise fica mais interessante


e você já pode perceber o motivo. Imagine que a renda da população
aumente e todos comecem a demandar máquinas de café espresso
sem que o preço da máquina mude. Se mais máquinas são
demandadas, o complemento da máquina, que são as cápsulas,
também terá sua demanda aumentada. Isso significa que o
deslocamento para a direita da curva de demanda da máquina implica
um deslocamento para direita (aumento) na demanda por cápsulas de
café, por se tratarem de bens complementares.

Mas se por acaso o preço das cápsulas aumentarem muito, é possível


que tomar café espresso fique restrito a uma pequena parcela da
população. Assim, o aumento do preço das cápsulas pode deslocar
curva para a esquerda, diminuindo a sua demanda. Como você pode
perceber, a análise dos bens complementares já abre uma variedade de
possibilidades e discussões.

 39
No seu dia a dia, a depender do tipo de bem em questão, as
alterações nos preços de mercado, na renda dos consumidores,
nas preferências e em qualquer outro condicionante da demanda
têm implicações diversas. Você já tem o ferramental básico para
efetuar essas análises do lado da demanda, falta agora aprender o
comportamento do lado dos produtores de bens, ou seja, a dinâmica
da oferta no mercado.

4. Oferta

Quando você analisa a demanda de um bem, você está pensando do


ponto de vista dos consumidores. Agora, se você muda a perspectiva
de análise para a ótica dos produtores, a discussão passa a ser feita a
partir da oferta de um bem e não mais da demanda.

Claro que o produtor, ou ofertante, precisa saber da demanda


pelo seu bem para decidir o quanto vai ofertar e se é viável
produzir aquele bem específico. Mas, por ora, pense apenas na
quantidade que o produtor está pretendendo oferecer. Do que
depende essa quantidade?

A oferta de um bem tem uma série de determinantes: preço dos


insumos utilizados, disponibilidade de matéria-prima, tecnologia
de produção e acesso a ela, expectativas sobre as vendas e,
fundamentalmente, preço do bem ofertado.

Se você é o produtor ou vendedor de um bem, o que o incentivaria a


ofertar mais desse bem? Claro que, tudo o mais mantido constante,
um aumento no preço do bem que você oferta incentiva um aumento
da oferta. Ou seja, quanto maior o preço, mais o ofertante está
disposto a oferecer. Isso significa que oferta e preço são positivamente
relacionados. O Gráfico 6 mostra um exemplo genérico.

40
40
Gráfico 6 – Curva de oferta de um bem

Fonte: elaborado pelo autor.

PARA SABER MAIS


Sigla da curva de oferta: você certamente já percebeu
que as siglas usadas em economia são a primeira
letra do termo em questão. Então, por exemplo, “P” é
de preço e “D” de demanda. Mas, então, por que “S”
é oferta? Porque o S é do termo em inglês “supply”,
que significa “oferta”. Assim como o “S” também pode
significar poupança, pois vem de “savings”. O contexto é
que define se o “S” é oferta ou poupança!

Assim como a demanda, a oferta também possui uma lei:

[...] lei da oferta: com tudo o mais mantido constante, quando o preço de
um bem aumenta, a quantidade ofertada desse bem também aumenta,
e, quando o preço de um bem cai, a quantidade ofertada desse bem
também cai. (MANKIW, 2014, p. 71)

Como você já aprendeu uma série de características da curva de


demanda, analisar a oferta fica muito mais fácil e intuitivo. Isso significa

 41
que vários princípios que valem para a demanda também valem para a
oferta, desde a construção da curva até a análise dos seus movimentos.

4.1 Oferta de mercado e movimento ao longo da curva

O Gráfico 6 é uma curva genérica de oferta num determinado mercado.


Ela pode expressar tanto uma curva individual quanto a própria
curva de mercado. No caso da curva de oferta de mercado, ela é
simplesmente a soma das curvas de todos os ofertantes presentes
naquele mercado. Suponha que o mercado de pizzas é composto
por duas pizzarias apenas, La Mamma e La Bella, que ofertam pizzas
segundo os preços dados na Tabela 3 abaixo:

Tabela 3 – Preço e oferta de mercado de fatias de pizza

Pizzaria Pizzaria
Preço da pizza Oferta de mercado
La Mamma La Bella
R$ 0,00 0 0 0
R$ 5,00 1 3 4
R$ 10,00 3 5 8
R$ 15,00 5 7 12
R$ 20,00 8 8 16
R$ 25,00 9 11 20
R$ 30,00 11 13 24

Fonte: elaborada pelo autor.

De maneira geral, a pizzaria La Bella consegue ofertar mais pizzas do


que a pizzaria La Mamma a qualquer preço estabelecido no mercado.
É muito provável que os custos de produção da La Bella sejam
menores que os da La Mamma. Mas, neste momento, você está
interessado em saber a quantidade de pizzas que serão ofertadas no
mercado, que é a soma das duas ofertas individuais, representada na
última coluna da Tabela 3. É possível perceber que, quanto maior o
preço da pizza, mais pizzas serão ofertadas no total.

42
42
Gráfico 7 – Movimento ao longo da curva de oferta de fatias de pizza

Fonte: elaborado pelo autor.

Alterações nos preços da pizza indicam movimentos ao longo da


curva de oferta. Já alterações nas condições de oferta de pizza
implicam deslocamentos da curva, como você pode perceber na
seção 4.2 a seguir.

4.2 Deslocamentos da curva de oferta

As mudanças nos determinantes da oferta de um bem implicam


deslocamentos na curva de oferta do bem. Suponha, por exemplo,
uma redução no preço da farinha de trigo. Considerando que
a farinha é um insumo na produção das massas de pizza, uma
redução no seu preço faz com que fique mais barata a produção
de pizzas, o que incentiva a pizzaria a vender mais, mantidos os
preços de mercado da pizza. No Gráfico 8 abaixo, isso significa um
deslocamento de S1 para S2.

 43
Gráfico 8 – Deslocamento da curva de oferta de pizza

Fonte: elaborado pelo autor.

Seguindo a mesma lógica, caso haja alguma dificuldade na oferta de


pizzas, seja porque uma das pizzarias faliu ou porque houve uma quebra
de safra de trigo, a curva de oferta de pizza se desloca para a esquerda,
de S1 para S3, pois, a determinado preço, a oferta de mercado é menor
devido à dificuldade na produção.

5. Oferta e demanda em conjunto

Até aqui, você percebeu que consumidores e produtores têm interesses


distintos em relação ao preço do bem em questão. Pelas análises
das curvas de demanda, quanto maior o preço, menor a quantidade
demandada de um bem. Por outro lado, pela análise da curva de oferta,
quanto maior o preço, mais os produtores querem ofertar esse bem.
Qual é a solução então?

44
44
Na Tabela 4 abaixo estão as informações sobre o mercado de pizzas,
em que você pode perceber a demanda total (soma da demanda
de todos os consumidores) e a oferta total (soma de todos os
ofertantes) de pizzas.
Tabela 4 – Mercado de pizza
Preço da pizza Demanda de mercado Oferta de mercado
R$ 0,00 21 0
R$ 5,00 18 4
R$ 10,00 15 8
R$ 15,00 12 12
R$ 20,00 9 16
R$ 25,00 6 20
R$ 30,00 3 24
Fonte: elaborada pelo autor.

Existe um único preço nesse mercado em que a quantidade demandada


de pizzas é igual à quantidade ofertada. No preço de R$ 15, a quantidade
de pizzas ofertadas e demandadas é de 12 unidades. Assim, o preço de
R$ 15 representa o preço de equilíbrio de mercado. Todos os ofertantes
e demandantes estão satisfeitos com o preço e a quantidade de pizzas
no mercado. Esse resultado é conhecido como equilíbrio de mercado e é
representado no Gráfico 9 abaixo.

Gráfico 9 – Equilíbrio de mercado

Fonte: elaborado pelo autor.

 45
Em quaisquer preços diferentes de R$ 15 você pode perceber que o
mercado está fora do equilíbrio. Imagine, por exemplo, que o preço
esteja estipulado em R$ 25. Nesse preço, a quantidade ofertada será
de 20 pizzas, enquanto a quantidade demandada será de apenas 6
(Tabela 4). O gráfico 10a mostra que há um excesso de oferta.

Gráfico 10 – Desequilíbrios de mercado

Fonte: elaborado pelo autor.

Situação oposta é observada no Gráfico 10b, em que, ao preço de


R$ 5, há um excesso de demanda. Nesse preço, as pizzarias não estão
dispostas a ofertar mais do que quatro pizzas, mas a demanda de
mercado é de 18.

Sempre que há um excesso de demanda ou um excesso de oferta,


os preços se ajustam até que a demanda se iguale à oferta e o
mercado entre em equilíbrio novamente. Vendedores respondem
ao excesso de demanda aumentando os preços. Entretanto, para
um excesso de oferta, eles reduzem os preços até o preço de equilíbrio.
Esse mecanismo de alterações de preços para igualar quantidades
ofertadas e demandas é o ajuste de mercado.

46
46
Os preços vão se alterar até que o mercado encontre novo preço de
equilíbrio. Isso significa que as atividades de muitos compradores
e vendedores conduzem a um preço em que demanda e oferta
sejam iguais. Assim, no preço de equilíbrio, todos os compradores e
vendedores estão satisfeitos e não há pressões, para cima ou para
baixo, sobre os preços ou quantidades (MANKIW, 2014).

E se, por acaso, de uma hora para outra, ocorre um grande


terremoto e metade dos fornos que assam as pizzas quebram e
a produção fica prejudicada? A primeira curva a se modificar por
conta dessa catástrofe é a de oferta ou a de demanda por pizzas?
Você já percebeu até aqui que é a curva de oferta, uma vez que as
condições de produção é que foram afetadas pelo terremoto. A curva
se desloca para a esquerda, atingindo um novo preço de equilíbrio
conforme o Gráfico 11a.

Gráfico 11 – Desequilíbrios de mercado

Fonte: elaborado pelo autor.

Se, por outro lado, cientistas descobrem que comer pizza faz bem para
aliviar o estresse e indicam que todas as pessoas comam pelo menos
uma pizza durante a semana, a curva de demanda se desloca para a
direita, atingindo novo preço de equilíbrio, conforme 11b.

 47
Com toda essa análise do mercado, tanto pelo lado da oferta quanto
pelo lado da demanda, você está apto a criar as suas hipóteses de
pesquisas e efetuar suas análises de acordo com o bem ou serviço
de seu interesse. A análise microeconômica aqui apresentada o
ajuda a perceber e a apreender o processo dinâmico de ajuste da
maior parte dos mercados.

TEORIA EM PRÁTICA
Você sabe que o Brasil é um país tropical, que faz calor
na maior parte do ano e na maior parte das regiões. Você
também sabe que muitos costumes daqui são herdados
do passado colonial. Um desses costumes é o padrão de
vestimenta, que fundamentalmente replica o modo de
vestir europeu. Pensando nas condições climáticas, uma
grande multinacional que opera no país decidiu que todos
os seus funcionários deveriam usar camisetas claras, de
algodão, em vez de ternos ou paletós. Todos, inclusive os
executivos com cargos mais altos. Como a multinacional
emprega muitos trabalhadores e é referência como uma
das melhores empresas para se trabalhar, todas as outras
multinacionais resolveram replicar a medida. Tendo
em vista o impacto nacional da iniciativa e utilizando
as curvas de oferta e demanda, explique e mostre
graficamente o que aconteceu com: o mercado nacional
(oferta e demanda) de camisetas, o mercado de ternos e
paletós e o mercado de algodão assim que a medida foi
adotada. Imagine que houve, num segundo momento,
uma superprodução de algodão e a invenção de uma
máquina de camisetas mais produtiva. O que você acha
que acontece com as curvas de mercado nesse segundo
momento? Explique e mostre graficamente.

48
48
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. A quantidade _________de um bem depende, dentre
outros aspectos, do seu preço de mercado e da ________
por parte dos agentes econômicos. Quando _________ se
igualam, é possível dizer que ______ está em ________.
Assinale a alternativa que contenha os termos corretos
para as lacunas acima:

a. Demandada; oferta; os mercados; o preço; desajuste.

b. Ofertada; oferta; as quantidades; o mercado;


equilíbrio.

c. Demandada; demanda; as quantidades; o mercado;


desajuste.

d. Ofertada; demanda; os preços; a oferta; equilíbrio.

e. Ofertada; demanda; as quantidades; o mercado;


equilíbrio.

2. Do plantio à produção, o café demora aproximadamente


dois anos. Dada a alta do preço do produto num ano
determinado, diversos produtores de milho e soja
resolveram mudar o cultivo para café. Passados dois
anos, esse novos produtores quebraram. Qual seria
uma razão para a falência?

a. Excesso de demanda, pois os novos produtores não


conseguiram suprir o mercado aquecido.

b. Excesso de oferta, pois os novos produtores não


conseguiram suprir o mercado aquecido.

 49
c. Excesso de oferta, que ocasionou uma queda nos
preços do café dois anos depois, que não compensou
os custos.

d. Excesso de demanda, que ocasionou uma queda nos


preços do café dois anos depois, que não compensou
os custos.

e. Excesso de demanda e de oferta, que fez com que os


preços se mantivessem estáveis.

3. O carro flex foi uma grande inovação no mercado


brasileiro de veículos. Poder utilizar mais de um
combustível (gasolina, do petróleo; etanol, da cana-
de-açúcar) deu mais autonomia aos consumidores.
Considerando a nova dinâmica do mercado de combustível
por conta da tecnologia flex, é possível afirmar que:

a. Gasolina e etanol são bens substitutos para carros


flex, mas a variação do preço de um não afeta a
demanda do outro.

b. Gasolina e etanol são bens substitutos e a quebra


de safra da cana de açúcar faz deslocar a curva de
demanda de gasolina para a direita.

c. Gasolina e etanol são bens inferiores, pois o aumento


de renda dos consumidores induz a um aumento do
consumo de ambos.

d. Gasolina é um bem complementar, mas etanol é um


bem substituto.

e. O aumento do preço do petróleo não causa nenhum


impacto na demanda por etanol.

50
50
Referências bibliográficas
MANKIW, N. G. Introdução à economia. São Paulo: Cengage Learning, 2014.

Gabarito

Questão 1 – Resposta E
Resolução: a quantidade ofertada depende da capacidade de
produção da empresa no mercado, do preço do produto vendido
e da demanda pelo produto. Quando as quantidades ofertadas e
demandadas se igualam, o mercado fica em equilíbrio.
Questão 2 – Resposta C
Resolução: excesso de oferta. Como muitos produtores
resolveram cultivar café, a oferta aumentou no mercado
dois anos depois, o que fez com que os preços caíssem.
Preços menores do que o esperado podem comprometer a
rentabilidade do empreendimento.
Questão 3 – Resposta B
Resolução: no caso do carro flex, gasolina e etanol são bens
substitutos. Quando há uma quebra de safra de cana-de-açúcar,
o preço do etanol se eleva e o mercado demanda mais gasolina,
deslocando a curva de demanda de gasolina para a direita.

 51
Estrutura da empresa:
produção e custos
Autor: Flávio Arantes

Objetivos

• Aprender os principais conceitos relacionados


à decisão de produzir da empresa.

• Analisar a função de produção de uma empresa.

• Discutir as diferenças da produção no curto


e no longo prazo.

• Entender os custos de produção aos quais


as empresas estão submetidas.

• Discutir as decisões de produção da empresa


a partir dos seus custos.

• Estudar a estrutura produtiva da empresa


por meio da estrutura de custos de curto e
longo prazos.

52
52
1. Introdução

Nesta Leitura Fundamental, você vai aprender os principais conceitos


relacionados à decisão de produção de uma empresa. Baseado nesses
conceitos, você será capaz de analisar como a empresa combina os
recursos que tem à sua disposição da maneira mais eficiente possível no
seu processo de produção.

Você também vai aprender a analisar a estrutura de custos de uma


empresa, discutindo os pontos em que o custo aumenta ou diminui
dependendo da quantidade de bem ou serviço produzido. A partir da
discussão da estrutura produtiva e da estrutura de custos da empresa,
você será capaz de analisar as decisões de produção da empresa no
curto e no longo prazo e o seu tamanho eficiente.

2. Conceitos fundamentais

Para poder analisar as decisões de produção de uma empresa,


você precisa ter em mente alguns conceitos fundamentais que a
microeconomia toma emprestado da área de exatas, como cálculo e
estatística. Esses conceitos permitem que todos tenham uma linguagem
comum, facilitando o entendimento e a interpretação dos tópicos
relacionados às decisões da empresa.

O primeiro deles é o conceito de maximização. Como você pode


perceber, maximização está relacionada a tornar máximo, extrair o
máximo, buscar o máximo possível. Ou seja, maximizar alguma decisão,
ação ou resultado. Na microeconomia, quando se trata da decisão dos
consumidores, por exemplo, é pressuposto que eles estão sempre
buscando maximizar os benefícios do consumo de determinado bem
ou do uso de algum serviço. Ou, ainda, de maneira geral, os
consumidores estão buscando a maximização da utilidade de um
bem ou serviço. No caso da empresa, tem-se como pressuposto que

 53
ela busca maximizar seu lucro, ou resultado, frente aos insumos e ao
mercado consumidor com que ela se depara.

Outro conceito, relacionado ao de maximização, é o seu oposto, a


minimização. Para uma empresa que maximiza os lucros, a minimização
está relacionada às variáveis que têm de ser diminuídas, reduzidas
ou tornadas mínimas para que o lucro seja máximo. Como você sabe,
lucro é receita menos custos, então, para maximizar o lucro, a empresa
deve buscar a minimização de seus custos, minimizar os desperdícios,
minimizar as despesas no geral.

Para que a empresa consiga produzir de maneira a maximizar seu lucro,


ela precisa tomar algumas decisões ao longo do processo produtivo.
Para guiar suas decisões, ela avalia o quanto está recebendo por produto
vendido e o quanto esse produto vendido custa para ser produzido. Na
realidade, a empresa está sempre levando em consideração a receita
e o custo médio da sua produção. Isso nada mais é do que dizer que a
empresa divide tudo que ela recebe pela quantidade vendida (média de
receita; receita por unidade do produto) ou tudo que ela tem de custos
por quantidade vendida (média do custo; custo por unidade do produto).

Entretanto, há ainda mais um conceito fundamental que a empresa usa


para basear suas decisões e que está relacionado tanto à sua receita
média quanto ao seu custo médio (e, por consequência, aos seus
valores totais). É o quanto custa para produzir uma unidade adicional
de um bem ou ofertar uma unidade adicional de um serviço. Ou, ainda,
o quanto a empresa vai receber da venda dessa unidade adicional do
bem ou serviço. Esse “um a mais” que a empresa leva em consideração
é o conceito de “marginal”.

ASSIMILE
Custo marginal é o custo que a empresa tem para produzir
uma unidade adicional de um bem ou serviço que ela

54
54
oferta. Receita marginal é a receita advinda da venda de
uma unidade adicional do bem ou serviço ofertado pela
empresa. Produto marginal é a produção de uma unidade
adicional do bem ou serviço ofertado pela empresa.

Assim, além das médias de custo e de receita que a empresa tem por
oferecer determinado bem ou serviço, ela sempre considera a oferta
de uma unidade adicional daquele bem ou serviço para checar se vale a
pena continuar produzindo ou se ela se mantém no nível de produção
em que se encontra. Isso significa dizer que a empresa está sempre
analisando a receita marginal do bem que produz frente ao seu custo
marginal, ou seja, está sempre considerando os custos e benefícios de
uma unidade adicional do produto, do produto marginal.

Com esses conceitos básicos, você é capaz de analisar as decisões de


produção da empresa, que também dependem do tipo de mercado
no qual ela está inserida. Entretanto, de maneira geral, as empresas
possuem as mesmas categorias básicas para iniciar a análise
da produção.

3. Produção

O primeiro elemento levado em consideração para que a empresa


possa produzir e ofertar determinado bem ou serviço num determinado
mercado é sua capacidade de produção. Você pode pensar que essa
afirmação é relativamente óbvia, mas um olhar mais aprofundado lhe
permite analisar que a capacidade de produção de uma empresa é um
pouco mais complexa do que parece numa primeira vista.

Quando você está analisando a capacidade de produção de uma


empresa, o olhar não é apenas sobre a estrutura física ou a tecnologia

 55
que ela tem disponível para iniciar o processo produtivo. O olhar deve
abrigar também aspectos mercadológicos, ou seja, se ela é capaz
de produzir de maneira eficiente, que cumpra com requisitos que a
levem à maximização dos lucros, ou a uma produção eficiente frente à
produção do mercado como um todo.

A empresa está preocupada, também, com o preço a que ela


consegue vender seus produtos, com as restrições de custos, com as
escolhas dos insumos e com uma série de outros fatores que serão
apresentados na sequência.

3.1 Tecnologia e função de produção

Quando se analisa a tecnologia de uma empresa, a preocupação


é basicamente em entender e retratar como os insumos se
transformam em produtos para então serem ofertados no mercado.
Outra maneira de expressar a mesma preocupação é analisando
como a empresa combina máquinas, equipamentos, instalações
físicas, mão de obra, energia elétrica e matérias-primas diversas no
seu processo produtivo.

Na microeconomia, costuma-se resumir ou restringir essa série de


insumos utilizados no processo produtivo em apenas dois que, no fim
das contas, são os mais importantes para a produção. O primeiro é o
trabalho, que basicamente abriga a mão de obra humana utilizada no
processo produtivo, e o segundo é o capital, que corresponde a todos
os demais insumos utilizados. A combinação de trabalho e capital
dá a função de produção da empresa, ou seja, a quantidade total
produzida a partir da maneira como a empresa consegue combinar
seus insumos.

A forma mais geral e simplificada de retratar a produção de uma


empresa é por meio de uma função do tipo:

56
56
Em que q é a quantidade produzida ou o volume de produção, K é o
capital empregado, L é a quantidade de mão de obra utilizada e F é a
forma com que capital e trabalho se relacionam, ou seja, uma maneira
de representar a tecnologia de produção utilizada pela empresa.

PARA SABER MAIS


Uma empresa pode ser classificada de acordo com as
parcelas relativas de capital e de trabalho que utiliza no seu
processo produtivo. Se a proporção de capital é maior que
a de trabalho, a empresa é considerada intensiva em capital
ou capital-intensiva. De outro modo, se a quantidade de
trabalho é maior relativamente à de capital, a empresa é
trabalho-intensiva ou intensiva em trabalho.

A função de produção determina a quantidade de bens ou serviços que


uma empresa consegue produzir num determinado período, geralmente
de um ano, dadas as quantidades de trabalho e de capital que ela tem
disponível e a forma com que eles são combinados.

Como você sabe, a forma com que a empresa consegue produzir varia
ao longo do tempo, principalmente por causa de desenvolvimentos
tecnológicos ou das inovações que aprimoram o processo produtivo ou
o tornam mais eficiente de alguma maneira.

De modo geral, na economia, as mudanças que ocorrem ao longo


do tempo são levadas em consideração, fazendo com que o analista
deixe claro se está tratando da discussão de curto, médio ou longo
prazo. Salvos alguns episódios atípicos, como guerras, catástrofes
ambientais, calamidades públicas, crises imprevistas, os economistas
costumam considerar que, no curto prazo, há poucas mudanças
no comportamento da economia, seja da parte dos consumidores

 57
ou dos produtores. Já no médio prazo, os economistas começam a
considerar que o comportamento das variáveis econômicas pode mudar
razoavelmente por conta da própria dinâmica econômica. Consumidores
podem diversificar ou aumentar seu consumo, as empresas podem
passar a ofertar algo novo ou começar a atuar em novas áreas. Agora,
no longo prazo, as variáveis econômicas podem passar por mudanças
significativas, fruto de alterações na própria dinâmica da economia ao
longo do tempo. As estruturas e a dinâmica da economia no longo prazo
podem ser completamente distintas daquelas iniciais.

Justamente por considerar as mudanças que ocorrem no processo


produtivo ao longo do tempo e, principalmente, por causa daquelas
relacionadas às mudanças tecnológicas, a microeconomia costuma dividir
sua análise em curto prazo e longo prazo. Para o curto prazo, a análise
microeconômica considera aquele período em que a empresa não
consegue alterar a quantidade de, pelo menos, um insumo produtivo,
ou seja, pelo menos um insumo é fixo. Já no longo prazo, a empresa
consegue variar todos os insumos utilizados em seu processo produtivo.

3.2. Produção no curto prazo

Como você viu na seção anterior, a função de produção genérica de


uma empresa leva em consideração a forma e a quantidade de capital
e trabalho que ela consegue empregar em sua atividade produtiva num
período determinado.

Você também viu que, no curto prazo, pelo menos um dos insumos
se mantém fixo enquanto os demais variam. No caso da função
de produção apresentada, geralmente, a análise microeconômica
mantém o capital fixo e analisa o que ocorre com a produção quando
o trabalho varia ao longo do tempo. Isso se deve ao fato de ser
relativamente mais fácil contratar nova mão de obra do que mudar os
equipamentos da empresa.

58
58
Para iniciar sua análise sobre a capacidade produtiva e as características
de produção, você pode considerar os dados da empresa Solados Ltda.,
especializada em calçados, conforme a Tabela 5 a seguir:

Tabela 5 – Características da produção da Solados Ltda.

Quantidade de Quantidade Produto Produto Produto mar-


trabalho (L) de capital (K) total (q) médio (q/L) ginal (Δq/ΔL)

0 10 0    
1 10 15 15 15
2 10 45 22,5 30
3 10 90 30 45
4 10 120 30 30
5 10 142 28,4 22
6 10 162 27 20
7 10 168 24 6
8 10 168 21 0
9 10 162 18 -6
10 10 150 15 -12

Fonte: elaborada pelo autor. Adaptada de Pindyck e Rubinfeld (2013).

É possível perceber que a empresa Solados Ltda. possui um capital fixo


de dez unidades (máquinas e equipamentos) e está analisando o que
ocorre com sua produção se aumentar a quantidade de trabalhadores
empregados no processo produtivo. Só com o capital, a empresa
não produz nenhum par de calçado. Se ela contrata um trabalhador,
consegue produzir 15 pares. Ao contratar dois trabalhadores, a
produção aumenta para 45 pares e assim por diante. Desse modo,
de maneira geral, com o capital constante, quanto mais trabalho é
empregado, mais calçados a empresa consegue produzir.

Como você pode perceber pela terceira coluna da Tabela 5, essa


afirmação é válida até o total de sete trabalhadores. Se a empresa
contrata o oitavo trabalhador, a produção se mantém em 168 pares.

 59
Mas se a Solados Ltda. contrata o nono e o décimo trabalhador, sua
produção total cai para 162 e 150 pares, respectivamente.

Isso ocorre devido a dois fatores: o produto marginal do trabalho,


dado na última coluna da Tabela 5, e dos rendimentos marginais
decrescentes, que determinam o produto marginal.

O produto marginal do trabalho, como você aprendeu no “Assimile” da


Seção 2, mede a variação na produção de calçados quando se adiciona
uma unidade de trabalho. Em termos matemáticos, o produto marginal
do trabalho é expresso pela variação da quantidade produzida (Δq)
dividida pela variação na quantidade de trabalho empregada (ΔL):

Isso significa que, se a Solados Ltda. tem dois trabalhadores e quer


saber o quanto um terceiro empregado contribui para a sua produção,
ela compara a produção total de dois trabalhadores com a produção
total gerada pelo terceiro trabalhador, o trabalhador adicional, ou o
trabalhador marginal:

Assim, um terceiro trabalhador agrega 45 pares de calçados na


produção total da empresa. Você pode perceber pela Tabela 5 que
dois empregados produzem 45 pares de calçados e três empregados
produzem 90 pares, ou seja, o produto marginal do emprego de um
terceiro trabalhador é de 45 pares de calçados.

Mas isso só ocorre até a contratação do sétimo empregado. O produto


marginal do oitavo trabalhador é zero, e do nonoº trabalhador em
diante é negativo, ou seja, empregar mais do que oito trabalhadores na
Solados Ltda. faz a produção da empresa se reduzir. Isso se deve aos
rendimentos marginais decrescentes do trabalho.

60
60
ASSIMILE
Rendimento marginal decrescente é um princípio segundo
o qual a produção adicional de um bem diminui conforme
se aumenta a utilização de um insumo, mantidos os demais
insumos constantes (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

O princípio dos rendimentos marginais decrescentes ocorre na


maior parte dos processos de produção. No exemplo da Solados
Ltda., você pode imaginar que, com sete trabalhadores, a empresa
atingiu uma configuração ótima de produção, em que os sete
empregados conseguem administrar as dez máquinas em operação
de maneira eficiente. A introdução do oitavo trabalhador não
aumenta em nada a produção total, mas tampouco atrapalha.
Já o nono ou décimo trabalhador pode(m) atrapalhar o processo
produtivo dos demais, gerar(em) distúrbios nas máquinas ou no
ambiente de trabalho que alterem a configuração em que a empresa
atingiu seu máximo de produção.

Veja que não necessariamente o rendimento marginal decrescente tem


a ver com a qualidade do trabalhador. Os dez empregados podem ter a
mesma qualificação e as mesmas habilidades técnicas, mas a utilização
de dez trabalhadores não é a forma mais produtiva. Pense, por exemplo,
que você precise contratar um pedreiro para cavar uma piscina e que
você possui duas pás para o serviço. Se o pedreiro utilizar uma pá, ele
consegue cavar mais do que apenas com a mão. Se você contratar mais
um pedreiro, idêntico ao primeiro nas condições físicas, ele vai agregar
mais ao trabalho ao utilizar a segunda pá. Mas se você contratar mais
uma pessoa, que utiliza a mão para cavar, o trabalho dela vai ajudar
a piscina a ser cavada mais rapidamente, mas o que essa terceira
pessoa agrega é menos do que o que a segunda agregou. Nesse caso, o
trabalho empregado tem rendimentos marginais decrescentes.

 61
Ainda pela Tabela 5, na quarta coluna, você pode analisar a
produtividade da empresa, medida pela quantidade de pares de
calçados produzidos por trabalhador empregado. É possível notar que,
conforme o produto marginal do trabalho diminui, a produtividade da
empresa também diminui.

Dado então o rendimento marginal do trabalho, que implica um produto


marginal decrescente, o que a empresa pode fazer para que sua
produção não caia quanto mais trabalho seja empregado? A resposta
mais simples é variar a quantidade de capital empregada.

3.3 Produção no longo prazo

A análise da produção no longo prazo permite que a empresa tome


decisões sobre a quantidade de cada recurso que será utilizado e da
sua estratégia de produção. Ou seja, quando você também varia a
quantidade de capital empregada no processo de produção, a análise
passa a ser de longo prazo e não mais de curto prazo. Tome o exemplo
da Tabela 6 abaixo, em que a Solados Ltda. pode empregar quaisquer
variações de uma a cinco máquinas e de um a cinco trabalhadores.

Tabela 6 – Combinações de K e L para a produção da Solados Ltda.


Trabalho
Capital 1 2 3 4 5
1 25 45 60 70 80
2 45 65 80 90 95
3 60 80 95 105 110
4 70 90 105 115 120
5 80 95 110 120 125
Fonte: elaborada pelo autor.

Assim, se a Solados Ltda. quer produzir o máximo de calçados, ela


vai empregar cinco unidades de capital e cinco unidades de trabalho,
gerando uma produção total de 125 pares. Mas se ela empregar apenas
uma unidade de cada, ela só vai produzir 25 pares de calçados.

62
62
Você pode tirar várias conclusões a partir da Tabela 6. Veja que a
primeira delas é de que a lei dos rendimentos marginais decrescentes
do trabalho continua valendo. Pegue o capital fixo em 3 (K = 3), por
exemplo, e aumente a quantidade de trabalho empregada. Veja que o
produto marginal para o emprego de duas unidades de trabalho (L =
2) é 20, mas vai caindo conforme o trabalho aumenta, pois o produto
marginal de L = 3 é 15; o de L = 4 é 10 e o de L = 5 é 5. Como exercício,
você pode usar a fórmula do produto marginal apresentada na seção
anterior e verificar a lei para os demais valores de K.

Outra conclusão que você pode tirar é que o mesmo nível de produção
pode ser obtido com diferentes combinações de capital e trabalho
(K; L). Veja como exemplo a produção total de 80 pares de calçados e
perceba que eles podem ser obtidos com o uso de (K = 5; L = 1), (3; 2), (2;
3) ou (1; 5). Na microeconomia, as diversas combinações entre capital e
trabalho que dão origem a um mesmo nível de produção formam curvas
chamadas de isoquantas, conforme o Gráfico 12 abaixo.

Gráfico 12 – Curvas isoquantas da Solados Ltda.

Fonte: elaborado pelo autor.

Veja pelo Gráfico 12 que, quanto maior a produção, mais fatores de


produção são empregados e mais à direita está a isoquanta (Iq).

 63
Outra conclusão que pode ser extraída da Tabela 6 e do Gráfico
12 é a relação de troca entre capital e trabalho para a produção de
determinada quantidade de pares de calçados. Veja no exemplo
da produção de 105 pares que a Solados Ltda. pode empregar a
combinação (4;3) ou (3;4). Nesse caso específico, para manter a
produção de 105 pares, a empresa “se desfaz” de uma unidade de
capital (4 → 3) para utilizar uma unidade adicional de trabalho (3 → 4).
A razão em que essa troca é feita chama-se taxa de substituição técnica.
Como você se desfaz de uma unidade de um fator de produção para
adquirir uma unidade do outro, é uma troca marginal, então o nome
completo é taxa marginal de substituição técnica (TMST):

No caso da Solados Ltda., a TMST é 1, ou seja, você se desfaz de uma


unidade de capital (-1) para usar uma unidade adicional de trabalho (1)
e manter a produção constante. Outra forma de dizer a mesma coisa
é afirmar que capital e trabalho são substituíveis na razão de 1 para
1. Entretanto, dependendo da tecnologia e da função de produção da
empresa, a TMST pode mudar, variando conforme o formato da curva
isoquanta levada em consideração.

Dadas as características da produção da empresa, sua produtividade


e sua TMST, qual a combinação de fatores de produção que ela vai
escolher para produzir? E qual o nível de produção da empresa? As
respostas a essas questões são buscadas na análise dos custos de
produção que ela enfrenta.

4. Custos

Para você poder analisar a estrutura de custos de uma empresa, é


preciso levar em consideração dois grandes blocos de custos: os custos
contábeis e os custos econômicos.

64
64
No caso dos custos contábeis, a preocupação é com relação ao passado
da empresa, a estrutura de seus ativos e passivos, como se você tivesse
tirado uma foto de um momento específico da empresa no tempo
(PINDYCK; RUBINFELD, 2013; MANKIW, 2019). Nessa foto, você vê o gasto
da empresa com o pagamento de pessoal, com os empréstimos que
tomou, com o quanto paga para os fornecedores, com seu aluguel, com as
contas de água, luz, etc. Todos esses custos são custos contábeis, custos
que dependem do fluxo de entrada e saída de dinheiro da empresa.

Os custos econômicos, por seu turno, são os custos relacionados


às decisões futuras da empresa, ao seu desempenho futuro, às
oportunidades que podem aparecer, às escolhas frente aos recursos
escassos (PINDYCK; RUBINFELD, 2013; MANKIW, 2019) e não estão
ligados necessariamente aos fluxos financeiros da empresa.

PARA SABER MAIS


Custos explícitos e custos implícitos estão diretamente
relacionados aos custos contábeis e aos custos
econômicos. Os custos explícitos são aqueles facilmente
mensuráveis, pois envolvem fluxos financeiros. Já os
custos implícitos são aqueles que não envolvem fluxos
financeiros, como o custo de oportunidade.

O custo econômico mais importante talvez seja o custo de oportunidade.


O custo de oportunidade de um investimento, por exemplo, nada
mais é do que o custo de todos os empreendimentos aos quais uma
empresa está renunciando frente ao investimento que ela escolheu
realizar. Ou seja, o custo de todas as possibilidades (oportunidades) que
a empresa deixa de lado quando toma uma decisão de investimento.
No exemplo de uma empresa que possui um prédio vazio, o custo de
oportunidade desse prédio é o aluguel que ela deixa de receber se não o

 65
alugar. Mesmo que o custo contábil seja zero ou muito próximo de zero
(pagamento dos mínimos de água e energia elétrica, por exemplo), o
custo de oportunidade para a empresa pode ser elevado se o prédio se
situar numa região em que os imóveis são muito valorizados.

Na análise microeconômica, o que está sendo considerado são os


custos econômicos, que levam em consideração também os custos de
oportunidade da empresa.

Além dos custos contábeis e econômicos, para analisar o comportamento


de uma empresa, você precisa levar em consideração os custos que estão
relacionados à produção, quando a empresa resolve entrar em atividade
(funcionamento) e ofertar algum bem ou serviço no mercado.

O primeiro desses custos é o chamado custo fixo, aquele que a


empresa incorre e que independe da quantidade efetivamente
produzida. A Solados Ltda., por exemplo, aluga o galpão onde fabrica
os calçados, contrata um escritório de contabilidade para fazer
seu balanço e possui dois vigias, um durante o período diurno e
outro no período noturno. O aluguel do galpão, o valor mensal do
pagamento do escritório contábil, bem como os salários dos dois
vigias são custos fixos da empresa: ela precisa arcar com esses custos
independentemente da quantidade de calçados que fabrica.

Já aqueles custos que variam conforme varia a produção de calçados são


os custos variáveis da Solados Ltda. Os custos com o couro, a borracha,
as linhas para costura, os fios para os cadarços, a cola utilizada e os
demais insumos da produção de calçados aumentam se a Solados Ltda.
decide aumentar a sua produção. São custos variáveis da empresa, pois
aumentam se a empresa aumenta a quantidade produzida ou diminuem
se a empresa diminui a produção.

Quando você soma o total de custos fixos da Solados Ltda. com os


seus custos variáveis, é possível encontrar o custo total da empresa

66
66
num determinado período. Além dos custos fixos, variáveis e total, a
empresa ainda tem na sua estrutura seus custos médios e seus custos
marginais. Como você já aprendeu os conceitos de médio e marginal
na Seção 2 desta Leitura Fundamental e como você já fez um exercício
parecido na Seção 3, ao tratar de produto médio e produto marginal,
você facilmente entenderá a Tabela 7 a seguir, que apresenta a
estrutura de custos da Solados Ltda.

Tabela 7 – Estrutura de custos da Solados Ltda.


Custo Custo Custo Custo
Nível de Custo Custo Custo
mar- fixo variável total
produção fixo variável total
ginal médio médio médio
CF CV CT CMg CFMe CVMe CTMe
0 100 0 100
1 100 60 160 60 100,0 60,0 160,0
2 100 88 188 28 50,0 44,0 94,0
3 100 108 208 20 33,3 36,0 69,3
4 100 122 222 14 25,0 30,5 55,5
5 100 140 240 18 20,0 28,0 48,0
6 100 160 260 20 16,7 26,7 43,3
7 100 185 285 25 14,3 26,4 40,7
8 100 214 314 29 12,5 26,8 39,3
9 100 252 352 38 11,1 28,0 39,1
10 100 310 410 58 10,0 31,0 41,0
11 100 395 495 85 9,1 35,9 45,0

Fonte: elaborada pelo autor. Adaptada de Pindyck e Rubinfeld (2013).

Como você pode perceber, a Solados Ltda. possui um custo fixo de


100 para qualquer nível de produção. Se ela não produz nenhum par
de calçados, se produz um par apenas ou 11 pares de calçados, seu
custo fixo será o mesmo, de 100. Entretanto, à medida que a produção
aumenta, o custo variável da empresa também aumenta, atingindo

 67
395 na produção de 11 pares de calçados. Esse aumento se reflete no
aumento dos custos totais, pois, como você pode perceber na quarta
coluna da Tabela 7, eles aumentam na mesma magnitude do aumento
dos custos variáveis.

Mas a Tabela 7 aponta outras conclusões interessantes. A primeira


delas é com relação ao custo fixo médio. Como você pode perceber,
o custo fixo médio sempre diminui à medida que a produção
aumenta. Veja que essa é uma questão de cálculo simples, pois você
está dividindo um número constante (100) por uma quantidade
produzida cada vez maior (1, 2, 3...11). Isso significa que, quanto mais
a Solados Ltda. produz, mais ela dilui o custo fixo na quantidade
produzida, ou seja, cada produto adicional capta uma parcela cada
vez menor do custo fixo.

Outra conclusão que você pode tirar a partir da Tabela 7 é a de que


o custo total médio é a soma do custo fixo médio e do custo variável
médio. O custo fixo médio sempre cai, o que faz com que o custo total
médio diminua. Entretanto, o custo variável médio tem uma queda
inicial até a produção de sete pares de calçados e começa a aumentar
a partir do oitavo par de calçado. Enquanto a queda do custo fixo
médio compensa o aumento do custo variável médio, o custo total
médio cai. Quando o aumento do custo variável médio compensa a
queda do custo fixo médio, o custo total médio aumenta.

Uma parte importante da explicação da mudança do custo variável


médio se deve à variação do custo marginal que, por sua vez, se deve à
lei dos rendimentos marginais decrescentes. No Gráfico 13 abaixo, em
que você pode ver representadas as curvas de custo, você conseguirá
analisar a dinâmica dos custos de produção.

68
68
Gráfico 13 – Curvas de custo da Solados Ltda.

Fonte: elaborado pelo autor.

Pela representação gráfica, você pode perceber que sempre que o custo
marginal for menor que o custo variável médio, a curva de custo variável
médio vai estar na descendência. Isso significa que você está adicionando
um valor menor a uma média existente, o que faz a média cair. Da
mesma maneira, sempre que o custo marginal for maior que o custo
variável médio, a curva de custo variável médio vai estar na ascendência.
Outra forma de afirmar isso é lembrando que você está adicionando um
valor maior a uma média existente, o que faz a média subir.

O mesmo tipo de raciocínio vale para a relação entre o custo marginal e


o custo total médio. Sempre que o custo marginal for maior que o custo
total médio, a curva de custo total médio irá decrescer. Sempre que o
custo marginal for maior que a curva de custo médio total, a curva de
custo total médio está na ascendência.

Dessa forma, é ainda possível perceber que a curva de custo marginal


cruza as curvas de custo variável médio e de custo total médio em
seus pontos de mínimo. No caso específico da empresa Solados Ltda.,

 69
isso ocorre na produção de sete pares e de nove pares de calçados,
respectivamente, como você pode perceber no Gráfico 13.

A última conclusão importante que você pode tirar da análise das


curvas de custo do Gráfico 13 acima é com relação ao ponto mínimo
da curva de custo total médio. No caso da Solados Ltda., o custo total
médio mínimo é o referente à produção de nove pares de calçados.
Essa é a quantidade que os economistas chamam de escala eficiente
da empresa, o ponto em que a produção minimiza o custo total médio.
Se a Solados Ltda. produzir menos do que nove pares de calçados, ela
está produzindo num custo maior que o mínimo (MANKIW, 2019), então,
considerando estritamente os custos de produção, vale a pena ela
continuar produzindo até pelo menos nove pares de calçados.

A escala de eficiência está relacionada ao tamanho da empresa, que pode


variar no curto, no médio e no longo prazo. Pense numa montadora
global de automóveis, por exemplo. Nos primeiros meses em que a
montadora inicia suas atividades, até conseguir organizar sua produção,
o tamanho das fábricas e a quantidade das unidades fabris, a maior
parte de seus custos é de custo fixo no curto prazo. Entretanto, no longo
prazo, depois de já estabelecida, pode ser relativamente fácil abrir novas
unidades, fechar outras e ajustar a produção de forma que, no longo
prazo, a maior parte dos custos dessa montadora seja de custos variáveis.

Aplicando a lógica do curto prazo para o longo prazo, você pode


perceber que, no curto prazo, a tendência é de que a empresa
diminua seu custo total médio à medida que ela aumenta a produção.
Lembre-se de que, como a maior parte dos custos são fixos no curto
prazo, sempre que você aumenta a produção, o custo fixo médio
diminui. Como o custo fixo e o custo total são praticamente iguais no
curto prazo, o custo total médio diminui.

Nessa região descendente da curva de custo total médio, você tem o


que os economistas chamam de economia de escala na empresa: o

70
70
aumento da produção reduz o custo total médio de longo prazo da
empresa. Em linguagem do dia a dia, isso significa que a empresa tem
custos menores se produzir mais.

Entretanto, a partir do momento em que os custos variáveis passam


a ser preponderantes na determinação do custo total, a curva de
custo total médio começa a fase ascendente no longo prazo. A lógica
é a mesma que a do curto prazo e se deve aos retornos marginais
decrescentes. No longo prazo, a montadora cresceu bastante, de
maneira que o aumento da sua produção gera um aumento do custo
total médio, gerando o que os economistas chamam de deseconomias
de escala. Na linguagem do dia a dia, isso é o mesmo que dizer que,
depois de um limite de tamanho da empresa, fica mais caro aumentar
a quantidade produzida.

Por fim, a transição entre o curto e o longo prazo é conhecida como


retornos constantes de escala, ou seja, a curva de custo médio de longo
prazo é praticamente uma reta horizontal em que a quantidade a mais
produzida tem o mesmo custo que a média existente. Por exemplo, se
você dobra os insumos (os custos), você dobra a produção – o retorno é
constante, o custo total médio não muda.

Com base nos conceitos fundamentais, nas características da produção


e no comportamento dos diversos tipos e curvas de uma empresa
genérica, você é capaz de analisar a estrutura de custos, a escala
produtiva e balizar algumas decisões para a produção dessa empresa.

TEORIA EM PRÁTICA
Dado seu conhecimento sobre a estrutura de produção e
custo das empresas, Neide Sabugo, sua vizinha proprietária
de uma microempresa de bolos de milho, contratou-o para
organizar sua estrutura de custos e de produção. As únicas

 71
informações que ela possui são de que cada funcionário
que ela contratar vai custar 100 reais ao dia e que seus
custos fixos diários para a produção dos bolos são de
200 reais. Por enquanto, a Sra. Sabugo não está preocupada
com os custos dos demais insumos, e o único que varia
é o número de funcionários. Levando em consideração
a produção dada pela tabela abaixo, ajude a Sra. Sabugo
a identificar em qual nível de produção a contratação de
um trabalhador adicional prejudica a produção de bolos,
o nível mínimo de custo variável médio e a escala eficiente
de produção. Além disso, Sra. Sabugo também quer saber
quando seus custos marginais deixam de cair.
Trabalhadores 0 1 2 3 4 5 6 7
Produção 0 35 65 105 135 155 165 170

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. O custo _______ médio diminui quando o custo ______ é
______do que ele, mas aumenta quando o custo ______ é
______ do que ele.
Assinale a alternativa que contenha os termos corretos
para as lacunas:

a. Variável; marginal; maior; marginal; menor.

b. Total; marginal; maior; marginal; maior.

c. Marginal; variável; menor; marginal; maior.

d. Variável; marginal; menor; marginal; maior.

e. Variável; fixo; maior; menor; marginal.

72
72
2. A padaria do Sr. Luis começou a ter queda na produção
de pães doces depois que ele contratou o quinto
funcionário. Isso aconteceu porque:

a. O produto marginal do quinto funcionário é positivo.

b. O produto marginal do quinto funcionário é negativo.

c. O produto marginal do quinto funcionário é constante.

d. O produto marginal do quinto funcionário é zero.

e. O produto médio do quinto funcionário é zero.

3. Acreditando nas economias de escala, João Barão


aumentou a quantidade de insumos utilizados na
fabricação de sabonetes, mas seus custos médios
não diminuíram. Para entender o motivo, Sr. Barão
contratou um consultor econômico que analisou a
estrutura de custos e de produção. O consultor afirmou
que o aumento do nível de produção do Sr. Barão não
reduziu os custos médios porque:

a. Os custos fixos ainda são preponderantes.

b. A fábrica ainda está na curva de custo de curto prazo.

c. A curva de custo marginal está na fase negativa.

d. A fábrica está na curva de custo de longo prazo.

e. A fábrica é improdutiva.

 73
Referências bibliográficas
MANKIW, N. G. Introdução à economia. 8. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2019.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Tradução Eleutério Prado. 8. ed.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: D
Resolução: se o custo marginal é menor que o custo variável médio,
o custo variável médio diminui. E se o custo marginal é maior que o
custo variável médio, o custo variável médio aumenta.
Questão 2 – Resposta: B
Resolução: o produto marginal negativo faz com que a contratação
de um novo funcionário reduza a produção total.
Questão 3 – Resposta: D
Resolução: no longo prazo, a curva de custo total médio é
ascendente, o que provoca deseconomias de escala.

74
74
Estruturas e dinâmicas de mercado
Autor: Flávio Arantes

Objetivos

• Aprender sobre as diferentes estruturas


de mercado.

• Discutir as condições de maximização do lucro


das empresas em cada uma das diferentes
estruturas de mercado.

• Analisar as peculiaridades de um mercado em


concorrência competitiva.

• Refletir sobre a formação e atuação de um


monopólio na economia.

• Discutir as diferenças e semelhanças do mercado


em concorrência monopolística com os casos do
monopólio e da concorrência perfeita.

• Analisar os casos de oligopólio.

 75
1. Introdução

Nesta leitura, você aprenderá as diferentes estruturas de mercado


e a maneira como as empresas se comportam em cada uma delas.
De modo geral, é possível classificar os mercados em dois grandes
blocos, os competitivos e os não competitivos ou pouco competitivos.
De maneira simples, você pode colocar no primeiro bloco os
mercados de concorrência perfeita e os de competição monopolística
e, no segundo bloco, os monopólios, duopólios ou oligopólio.

A partir desta leitura, você perceberá que, de modo geral, para


caracterizar a tipologia do mercado em que uma empresa está
inserida, geralmente, você leva em consideração o tamanho do
mercado, o tipo de bem ou serviço que a empresa transaciona,
a existência de concorrentes, a relação da empresa com seus
concorrentes, a relação das empresas com os consumidores, a
relação das empresas com os fornecedores e a capacidade que
a empresa tem de influenciar preços e quantidades no mercado
em que atua. Você verá que essas interações distintas criam
uma dinâmica própria em cada tipo de mercado, de maneira
que os ajustes de mercado (mudanças nos preços e quantidades
transacionadas) respondem a essas especificidades.

2. Mercados competitivos

São também chamados de mercados perfeitamente competitivos,


mercados em concorrência pura ou, ainda, mercados em
concorrência perfeita. São os mercados caracterizados por muitas
empresas e muitos consumidores que transacionam produtos
idênticos (também chamados homogêneos).

76
76
Nos mercados competitivos, devido à grande quantidade de
compradores e vendedores, nenhum deles, de maneira individual,
consegue influenciar os preços praticados, justamente porque os
produtos são idênticos. Se uma empresa tenta baixar o preço no
mercado competitivo, ela atrai toda a demanda dos consumidores
para si e não dá conta de fornecer a quantidade requerida (ficando
também sujeita à possibilidade de que um de seus concorrentes
abaixe ainda mais o preço). Se ela aumenta o preço, ela perde todos
os consumidores, que vão comprar o bem ou serviço ao preço de
mercado, mais barato. O mesmo vale para os consumidores, uma vez
que cada um deles é “pequeno demais” para influenciar os preços
do mercado como um todo. Um exemplo é o consumo de pães, pois
uma única pessoa representa uma parcela insignificante no mercado
total de pães e, por mais que ela compre muitos pães, nunca será
suficiente para fazer com que os fabricantes aumentem o preço do
pão. Por essa dinâmica, nos mercados competitivos, compradores e
vendedores são tomadores de preços.

Uma última característica dos mercados competitivos é a livre entrada ou


saída de empresas do mercado. Em outros termos, as barreiras à entrada
ou à saída dos mercados competitivos são muito baixas ou inexistentes.
Você verá mais adiante nesta leitura que essa é uma característica
bastante importante para o equilíbrio de mercado (MANKIW, 2014).

2.1 Receita e maximização do lucro numa empresa


competitiva

Assim como qualquer empresa, as empresas no mercado competitivo


querem maximizar seu lucro. Ou seja, querem tornar máxima sua
receita frente aos custos que possuem no processo produtivo. A Tabela
8 abaixo indica a estrutura de custos, as receitas e os lucros diários da
Padaria Só Pão, por quilograma de pães produzidos diariamente.

 77
Tabela 8 – Estrutura de custos, receita e lucros da Só Pão

Fonte: adaptada de Mankiw (2014).

Veja que a primeira coluna indica a quantidade de pães produzida


em quilos e a segunda coluna, o preço de mercado do quilo do pão.
Como as padarias são tomadoras de preço nesse exemplo, a Só Pão
não consegue estabelecer seu preço, mas apenas vender ao preço que
ela toma do mercado. A terceira coluna mostra a receita da Só Pão, ou
seja, quanto ela vai receber por quilo de pão vendido, a quarta coluna
mostra os custos fixos e a quinta coluna, os custos variáveis, de maneira
que o custo total para se produzir determinada quantidade de pães é
dado na sexta coluna. Assim, a produção de 1 kg de pão custa 10 e a
produção de 8 kg custa 94. Se a padaria não produz nenhum quilo de
pão, ela possui um custo fixo de 6.

Veja que, quando você subtrai os custos das receitas da Só Pão,


você consegue obter o lucro da padaria, indicado na sétima coluna
da Tabela 8. Como a padaria está buscando o lucro máximo, ela
vai analisar em qual nível de produção ela consegue ganhar mais.
Segundo os dados apresentados na Tabela 8, o valor máximo dos
lucros é de 14, tanto se ela produzir 4 kg ou 5 kg de pão. Então,
quantos quilos a Só Pão deve produzir para maximizar seus lucros?

Para responder a essa questão, a Só Pão precisa comparar o quanto ela


ganha por quilo de pão adicional que ela produz versus o quanto esse

78
78
quilo adicional custa para ela produzir. São o que se chama de receita
marginal e custo marginal.

As colunas 8 e 9 da Tabela 8 indicam a receita e o custo de cada quilo


adicional produzido pela Só Pão, respectivamente. Veja que a receita
marginal da empresa é 12, justamente o preço de mercado do quilo do
pão. Se a Só Pão vender 3 kg de pão, ela tem uma receita de 36 (3 x 12),
enquanto tem uma receita de 48 se vender 4 kg (4 x 12). Assim, a receita
marginal dela é 12 (48 -36). Já os custos marginais variam ao longo da
produção, aumentando sempre que a empresa aumenta a produção.

Veja agora a última coluna da Tabela 8, que mostra a diferença entre a


receita marginal e os custos marginais da Só Pão. Essa diferença sempre
cai, até ficar negativa após a produção do sexto quilo de pão. Isso
significa que custa mais produzir o sexto quilo do que a receita que a
padaria recebe por esse quilo adicional. O mesmo vale para a produção
do sétimo e do oitavo quilo. Sai mais caro produzi-los do que o que a
empresa vai receber pela sua venda.

O raciocínio inverso vale para os níveis de produção de 1 a 4 kg. Se a


padaria não produz nada, ela tem um prejuízo de 6. Mas se produz o
primeiro quilo de pão, ela recebe 12 pela venda e paga 10 em custos,
gerando um lucro de 2. Veja que ela sai de um prejuízo de 6 para
um lucro de 2, o que equivale a uma variação do lucro de 8 [2 – (-6)],
indicado na última coluna. Em outros termos, a Só Pão está cobrindo
seu prejuízo de 6 e ainda ganhando mais 2. No caso de ela produzir
o segundo quilo de pão, o lucro dela passa de 2 a 8 (sétima coluna),
causando uma variação de 6 no seu lucro (última coluna). Isso significa
que ela recebe mais pelo segundo quilo de pão (pelo quilo adicional
de pão produzido, ou quilo marginal) do que custa para ela produzir.
Sempre que a receita marginal for maior que o custo marginal, vale a
pena a Só Pão aumentar sua produção, pois o quilo adicional produzido
aumenta seu lucro. Sempre que a receita marginal for menor que o
custo marginal, a empresa deve reduzir sua produção, pois o quilo
adicional de pão reduz seus lucros.

 79
ASSIMILE
A condição de maximização dos lucros é aquela em que
a receita marginal é igual ao custo marginal da empresa.
Antes desse ponto, a empresa consegue aumentar seu lucro
com a produção adicional, assim como, a partir dele, ela
reduz seu lucro com a produção de uma unidade adicional.

2.2. Curva de oferta e as decisões da empresa

Como você acabou de aprender, uma empresa vai produzir mais


sempre que a receita marginal for maior que o custo marginal e vai
reduzir a produção quando o custo marginal for maior que a receita
marginal. Se você analisar a curva de custos da Só Pão, vai perceber
que essa afirmativa pode ser generalizada para o total das empresas
no mercado competitivo. No Gráfico 14 abaixo, é possível ver os preços
praticados no mercado e os custos e receitas da Só Pão.

Gráfico 14 – Estrutura de custos, receita e lucros da Só Pão

Fonte: elaborado pelo autor.

80
80
Lembre-se de que a receita marginal é igual ao preço de mercado, uma
vez que a Só Pão e todas as outras empresas no mercado competitivo
são tomadoras de preços. Assim, olhando a representação do Gráfico 1,
é possível confirmar o que você aprendeu na subseção anterior: antes
de 5 kg, a Só Pão tem um incentivo para produzir mais pães, e depois
dos 5 kg, ela tem um incentivo para reduzir a quantidade produzida.

Imagine agora que o preço de mercado aumente para 18. A Só Pão vai
maximizar seus lucros quando sua receita marginal (ao novo preço) for
igual ao seu custo marginal, ou seja, no nível de 8 kg de pão.

Perceba que ela aumentou sua oferta de pão no mercado de 5 kg


para 8 kg, pois a quantidade que maximiza o lucro da Só Pão
aumentou de 5 kg para 8 kg. A Só Pão aumentou a sua oferta de
pães se movimentando ao longo da sua curva de custo marginal.
O que vale para ela, também vale para todas as empresas competitivas.

ASSIMILE
A curva de oferta de uma empresa que se encontra num
mercado competitivo é extraída da sua curva de custo
marginal, pois a curva de custo marginal determina as
quantidades que as empresas estão dispostas a ofertar a
determinado preço estabelecido no mercado.

Veja que no Gráfico 14 também existem duas outras curvas


importantes que vão ajudar na decisão da empresa de produzir
ou não ao longo do tempo. A primeira é a de custo total médio, e a
segunda, de custo variável médio. Pela Tabela 8, você pode calcular o
custo total médio da empresa (CTMe), dividindo os custos totais (CT)
pelas quantidades produzidas (Q), de maneira que, por exemplo, no
nível de produção de 2 kg de pão, o CTMe é de 8 (16 ÷ 2) e, no nível de
produção de 6 kg, o CTMe é de 10 (60 ÷ 6).

 81
Já o custo variável médio é a divisão do custo envolvido na produção
dividido pela quantidade produzida. Lembre-se de que se a Só Pão não
produz nada, ela tem um custo total de 6, que representa o custo fixo
dela. Isso significa que, independentemente da quantidade produzida de
pão, ela tem que arcar com esse custo. Já o custo variável (CV) da Só Pão
é aquele custo relacionado à produção de cada quilo de pão (farinha,
fermento, óleo, etc.), que varia (aumenta ou diminui) conforme varia a
quantidade produzida. O custo variável médio (CVMe) é o resultado da
divisão do CV pelas respectivas quantidades produzidas.

Da mesma maneira que você calcula os custos médios, você pode


calcular a receita média (RMe) da Só Pão, dividindo a receita total da
padaria pela quantidade produzida. Note que, em todos os casos, a
receita média é o próprio preço de mercado, no caso, 12.

Imagine agora, por exemplo, que o preço de mercado seja reduzido


para 6 e que nada mude nas condições de oferta da Só Pão. Sua receita
média será sempre 6, que é o novo preço de mercado. No preço de 6, a
padaria oferta 2 kg de pão, como você pode perceber na Tabela 8 e no
Gráfico 14 (receita marginal é igual ao custo marginal) e tem uma receita
total de 12 (6 x 2). Olhando na Tabela 8, você pode perceber que, para
produzir 2 kg, a padaria tem um total de custos de 16. Qual é o lucro da
Só Pão nesse cenário?

Lucro = RT – CT = 12 – 16 = -4

A Só Pão tem um prejuízo de -4 nesse cenário. Com esse prejuízo, vale a


pena ela produzir pão? Aqui entra a decisão da empresa em continuar
ou não produzindo pão ao longo do tempo.

Com o novo preço de 6, no curto prazo, quando a Só Pão não consegue


vender seus equipamentos e sair do mercado, vale a pena continuar
produzindo pão, pois o prejuízo dela (-4) é menor do que aquele
existente se ela optasse por não produzir (-6). Ela “banca” um prejuízo

82
82
de 4 em vez de um prejuízo de 6. Visto por outro ângulo, a
Só Pão incorreu em custos variáveis (4) para produzir 2 kg de pão,
mas essa produção promoveu uma receita que compensou esses
custos, reduzindo seu prejuízo total. A receita dela por quilo de pão
(RMe) foi de 6, enquanto o custo variável por quilo de pão (CVMe) foi
de 4. O custo fixo de 6 ela teria que bancar de todo modo, mas o
que ela ganha por quilo produzido (RMe) compensa o custo do
quilo produzido (CVMe) no novo preço de 6. Em termos matemáticos,
compensa produzir se a RMe > CVMe. Como no mercado competitivo a
RMe = P, a empresa produz no curto prazo se P > CVMe.

Imagine agora que o preço de mercado cai para 4, em vez de 6. Se você


fizer o mesmo raciocínio, verá que ela oferta 1 kg de pão a esse preço
e que sua receita é de 4 (4 x1). No preço de 4, o custo total da Só Pão é
de 10 (veja a segunda linha da Tabela 8, em que o custo marginal é 4, o
CT é 10). O lucro dela, então, é -6 (4 – 10). Ao preço de 4 o quilo do pão,
tanto faz a Só Pão produzir 1 kg de pão ou não produzir nada, pois o
prejuízo dela é o mesmo (-6).

Veja que, no caso em que o preço de mercado é igual a 4, a Só Pão tem


uma RMe também de 4 e um CVMe de 4. A receita que ela recebe para
produzir 1 kg não compensa o custo a mais (variável) que ela teve em
produzir; ela não “abate” o custo total, apenas “empata”.

Agora, para preços menores do que 4 (RMe = 4), não vale a pena para
Só Pão produzir nem mesmo 1 kg de pão. Imagine um preço de 3.
Supondo a produção mínima de 1 kg, a receita dela seria de 3 (3 x1),
mas os custos totais seriam de 10, dando um prejuízo de -7 (3 – 10).
Esse prejuízo é maior que o prejuízo de não fazer nenhum quilo de
pão (-6). Assim, a qualquer preço menor que 4, vale a pena a Só Pão
suspender suas atividades pelo menos temporariamente.

Essa afirmação pode ser generalizada no sentido de que:

 83
[...] a empresa paralisa as atividades se a receita que obteria produzindo for
menor do que seus custos variáveis de produção. (MANKIW, 2014, p. 267,
grifos do autor)

Como a curva de custo marginal é quem determina a curva de oferta,


toda empresa competitiva, no curto prazo, oferta sua produção a
partir do ponto que seu custo marginal for maior que seu custo
variável médio.

Mas a empresa vai continuar produzindo com prejuízo sempre? Não.


No longo prazo, a empresa competitiva vai comparar seus custos
totais por produto, ou seja, seus custos totais médios, com o preço
praticado no mercado. Se o preço for menor que seus custos totais
médios, a empresa sai do mercado, pois suas receitas não conseguem
cobrir nem os custos variáveis nem os custos fixos por produto. Agora
se os preços forem maiores que seus custos totais médios, a empresa
entra no mercado, pois a receita dela compensa seus custos por
quantidade produzida.

No mercado competitivo, a facilidade de entrada e saída das empresas


permite que, no longo prazo, apenas aquelas com estrutura de custos
compatíveis com o preço de mercado permaneçam nele, ou seja, a
competição vai selecionar as empresas com os custos totais médios
mínimos iguais ao preço praticado.

3. Monopólios

Agora que você já aprendeu de maneira detalhada como funciona


um mercado em concorrência perfeita, fica muito mais fácil e
intuitivo analisar os casos em que a estrutura de mercado se
distancia dessa situação.

A análise do monopólio parte de condições extremamente opostas às


do mercado em concorrência pura, pois, de imediato, no monopólio,

84
84
apenas uma empresa detém toda a capacidade de oferta do mercado.
Ou seja, uma única empresa produz um bem ou serviço que não possui
substitutos próximos e o produz de maneira eficiente.

Por ser a única empresa que oferta o bem ou o serviço para todo o
mercado, o monopólio é formador de preços no mercado, ao contrário
das empresas competitivas que são tomadoras de preços. A estrutura
de custos do monopólio é que vai determinar qual preço será cobrado,
como você verá na sequência.

De modo oposto à competição pura, em que as barreiras à entrada


e à saída são baixas ou inexistentes, são as barreiras à entrada que
determinam se um monopolista se mantém como o único ofertante,
porque as demais empresas não conseguem entrar no mercado e
competir com ele. De modo geral, são três as condições que garantem
as barreiras à entrada que fazem com que um mercado seja estruturado
por meio de um monopólio.

O primeiro caso é o de monopólio natural ou monopólio puro. Nesse


caso, a estrutura de custos da empresa monopolista determina que
ela seja a única capaz de produzir de maneira eficiente, pois ela,
sozinha, consegue produzir a um custo menor do que se existissem
duas ou mais empresas competindo no mercado. Um exemplo de
monopólio natural é a produção de energia por meio de hidrelétricas.
Dados os altos custos fixos de instalação de uma usina, não é viável
economicamente duas empresas construírem uma usina ao lado da
outra e competirem pelo mercado de geração de energia. É natural
que apenas uma usina se instale em uma região específica, pois os
custos dela serão menores do que a instalação de mais de uma usina.
Nos monopólios naturais, há economias de escala na produção:
quanto maior o empreendimento, mais barata fica a produção do
bem ou serviço para todo o mercado se apenas uma empresa o
ofertar; ou seja, não cabe a competição.

 85
O segundo caso de monopólio é aquele gerado pelos recursos de
monopólio, ou seja, uma única empresa detém a propriedade da
totalidade de um recurso-chave para a produção de um bem ou
serviço. Um exemplo clássico e histórico é da Aluminum Company of
America (Alcoa), que detinha quase a totalidade das minas de bauxita –
matéria-prima utilizada para a produção do alumínio – no território dos
Estados Unidos (PYNDICK; RUBINFELD, 2013). Outro exemplo clássico
é o da DeBeers, empresa sul-africana que controla mais de 80% da
produção mundial de diamantes. Esse não é o caso de um monopólio
puro, pois ela não detém 100% do mercado, mas 80% é uma parcela
significativa a ponto de a DeBeers determinar o preço mundial dos
diamantes (MANKIW, 2014).

Por fim, o terceiro caso de monopólio é originado pelas barreiras criadas


pelo governo. Os casos mais clássicos são os das patentes e dos direitos
autorais. No caso do desenvolvimento de algo novo, um medicamento,
por exemplo, a empresa inovadora pode requerer uma patente para se
tornar a única a comercializar aquele medicamento. A patente é uma
maneira de garantir uma recompensa pelos esforços despendidos pela
empresa em pesquisa e desenvolvimento de produto, e o governo pode
conceder essa exclusividade por um determinado período de tempo.
No caso dos direitos autorais, outro exemplo comum, um escritor de
romance pode requerer os direitos sobre a obra que produziu para
garantir que nenhuma empresa a publique sem o seu consentimento.
O autor tem o monopólio sobre a obra em questão (MANKIW, 2014).

Por ser o único ofertante do bem ou serviço, o monopolista tem a


capacidade de determinar a que preço vai ofertar, mas as quantidades
vendidas serão determinadas pela curva de demanda pelo bem. Como
o monopolista é o único ofertante, a curva de demanda pelo bem é a
curva de demanda de mercado. Mas, enfim, qual preço o monopolista
deve cobrar? Mais uma vez, como você já aprendeu ao analisar o
mercado competitivo, a resposta a essa questão vai depender da
estrutura de custos e das receitas da empresa monopolista.

86
86
3.1. Receita e maximização de lucro de um monopólio

Você analisou quando a Só Pão participava de um mercado


competitivo na seção anterior. Suponha agora que a Só Pão abriu uma
filial num vilarejo distante e isolado e que ela é a única empresa a
fornecer pão na localidade. Nesse caso, a Só Pão detém o monopólio
da oferta de pães no vilarejo. Como ela mudou para o vilarejo, sua
estrutura de custos e de receita também mudaram e são apresentadas
conforme a Tabela 9 abaixo.

Tabela 9 – Estrutura de receitas e custos da Só Pão

Fonte: elaborada pelo autor.

Os cálculos da Tabela 9 seguem a mesma lógica daqueles feitos para a


Tabela 8, no mercado competitivo. Uma diferença é que, para aumentar
sua venda, ela precisa reduzir os preços, como a segunda coluna aponta.
Isso significa que, se o preço for 11, a Só Pão não vende nenhum quilo
de pão. Mas se o preço cair para 10, ela vende 1 kg. Se cair para 9, ela
vende 2 kg e assim por diante. Devido a essa característica, a curva de
receita média (RMe) acaba se tornando a curva de demanda de mercado.
Quanto mais barato o preço do quilo do pão, mais pães a padaria vende.

Outra diferença com relação aos mercados competitivos é que a


receita marginal no monopólio pode ser negativa, como você pode
perceber na quinta coluna da Tabela 9. No caso das empresas

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competitivas, isso nunca acontece, pois o preço é dado pela dinâmica
de mercado e é sempre positivo, por definição. Como você lembra
que a receita marginal é igual ao preço no mercado competitivo, ela
é sempre positiva, independentemente das quantidades vendidas.
Entretanto, no caso dos monopólios, existem dois movimentos em
sentidos opostos determinando a receita total da empresa. Para
aumentar a quantidade vendida, a padaria precisa reduzir os preços.
Como você já aprendeu que a receita total é a multiplicação de
preços e de quantidades (RT = P x Q), a queda no preço pode não ser
compensada por um aumento na quantidade de maneira a aumentar
a receita total, mas sim reduzi-la.

Você pode observar esse efeito na terceira coluna da Tabela 9, a partir


do sétimo quilo de pão ofertado. Para vender 7 kg, a Só Pão precisa
reduzir o preço para 4, o que gera uma receita total de 28. Essa receita
é menor do que a receita obtida pela venda de 6 kg ao preço de 5, que
é de 30. Assim, a receita marginal do sétimo quilo é menor que a do
sexto quilo, porque a redução dos preços foi maior que o aumento da
quantidade (veja na quinta coluna da Tabela 9). O efeito da redução
dos preços foi mais forte que o efeito do aumento nas quantidades
vendidas. Então, a partir do sexto quilo de pão, com certeza não vale a
pena a padaria produzir, pois ela vai receber menos receita do que se
vendesse 6 kg apenas.

Mas qual nível de produção a empresa deve escolher? Qual o nível de


produção que maximiza o lucro de um monopolista? Veja no Gráfico 15
abaixo que a lógica é a mesma que vale para a empresa competitiva.

88
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Gráfico 15 – Estrutura de custos, receita e lucros da Só Pão

Fonte: elaborado pelo autor.

A empresa vai maximizar seu lucro no ponto em que a receita marginal


é igual ao custo marginal. No caso da Só Pão, quando a RMg e o CMg
forem iguais a 4. Perceba, pela análise das duas últimas colunas
da Tabela 9 que, de 0 até 4 kg, o aumento da quantidade vendida
compensa a redução de preço (a empresa está aumentando seus
lucros, vendendo mais a um preço menor, porque a receita marginal
é maior que o custo marginal). Mas a partir de 5 kg, o efeito preço
compensa o efeito quantidade (a empresa começa a reduzir seus
lucros porque o custo marginal é maior que a receita marginal).
Então, para maximizar seus lucros, a empresa monopolista escolhe a
quantidade produzida quando RMg = CMg.

 89
A grande diferença com relação ao mercado competitivo, contudo, é que
a empresa monopolista vai escolher o nível de preços a cobrar. No nível
de produção de 4 kg de pão, o mercado está disposto a pagar 7, como
pode ser visto pela Tabela 9 ou pelo Gráfico 15, na curva de demanda.
Então esse será o preço determinado pelo monopólio, um preço acima
do custo marginal da empresa naquela quantidade específica. Essa
diferença é chamada de mark-up.

PARA SABER MAIS


O mark-up de uma empresa é definido como a
porcentagem que o preço do produto vendido está acima
dos custos de produção. No caso da Só Pão, atuando como
monopolista, o preço de venda é de 7, enquanto o custo é
de 4, então o mark-up dela é de 75%, pois [(7 – 4) / 4] x
100 = 75%. Já as empresas competitivas não têm mark-up,
ou têm mark-up nulo, pois seu preço é igual ao seu custo de
produção por unidade produzida.

A capacidade de a empresa determinar os preços no mercado


determina seu poder de mercado. No caso do monopólio puro, o poder
de mercado é totalmente da empresa, pois ela é a única a atuar no
mercado e consegue definir seu preço. Já no mercado em concorrência
perfeita, o poder de mercado é nulo (não é dos ofertantes nem dos
demandantes), pois nenhuma empresa individual consegue determinar
o preço de mercado do produto em questão.

Casos intermediários possuem graus de poder de mercado diferentes


entre si. É o caso, por exemplo, dos mercados em concorrência
monopolista e dos oligopólios. Agora que você já conhece como
funciona a determinação dos preços, a determinação da receita e a
maximização dos lucros num mercado competitivo e num monopólio,

90
90
que são os dois casos extremos de estrutura de mercado, analisar os
casos intermediários é uma tarefa ainda mais simples, porque estes
também se aproximam mais da sua realidade cotidiana.

4. Casos intermediários

Você já percebeu, a partir desta Leitura Fundamental, que os casos de


concorrência perfeita ou monopólio puro são casos extremos e que
se aplicam mais no plano conceitual e teórico do que no dia a dia das
empresas que se encontram nos diversos mercados. O mais comum
é você analisar situações, estruturas de mercados ou relações entre
os ofertantes e demandantes, que são uma mistura dos conceitos de
concorrência com os conceitos de monopólio. Na economia, você pode
chamar essas situações de concorrência imperfeita. Existe concorrência,
existe mais de uma empresa, mas os produtos não são idênticos.
As empresas não têm o poder de formar o preço de mercado, mas
tampouco são tomadoras de preços. Os casos mais emblemáticos são
os da concorrência monopolística e dos oligopólios.

4.1 Concorrência monopolística

Como o próprio nome sugere, a estrutura de mercado em que


predomina a concorrência monopolística é aquela que tem
características da concorrência perfeita e do monopólio puro.

Como na concorrência pura, no mercado em concorrência monopolística


existem muitas empresas que produzem bens ou serviços semelhantes,
mas não idênticos, e que estão competindo pelo mesmo grupo
de consumidores. Como no monopólio, por ofertarem produtos
exclusivos (similares, mas não idênticos), as empresas em concorrência
monopolística conseguem determinar seu preço por meio de um
mark-up e, portanto, não são tomadoras de preços no mercado. Isso
significa que os preços praticados pelas empresas em concorrência
monopolística são maiores que seus custos marginais.

 91
Ainda como ocorre num mercado em concorrência perfeita, as empresas
na concorrência monopolística podem entrar e sair do mercado
livremente, ao contrário do que ocorre num monopólio puro. As barreiras
à entrada e saída de um mercado em concorrência monopolística
existem, mas não são impeditivas, como no caso do monopólio puro, e
tampouco inexistentes, como no caso da competição perfeita.

Como num monopólio puro, as empresas em concorrência


monopolística se deparam com uma curva de demanda com inclinação
negativa. Isso significa que, para vender maiores quantidades de seus
bens e serviços, elas precisam reduzir o preço cobrado. Isso implica que,
ao contrário da competição pura e como no monopólio, as empresas
que competem de maneira monopolística estão sujeitas aos efeitos
preço e quantidade na determinação de suas receitas totais.

Quando você pensa sobre a maximização do lucro de uma empresa


em concorrência monopolística, você deve analisar as alterações dos
preços e das quantidades da mesma maneira que na análise de um
monopólio, pois haverá níveis de produção em que a receita marginal
será negativa. Justamente como no monopólio, a queda no preço (efeito
preço) pode compensar (ser maior que) o aumento na quantidade
vendida (efeito quantidade), indicando uma queda na receita total
(receita marginal negativa).

Assim como no mercado competitivo, na concorrência monopolística,


os custos médios vão determinar sua escala de produção eficiente,
mas não necessariamente essa escala será completamente preenchida.
Isso significa que as empresas podem trabalhar com algum nível de
capacidade ociosa, ou seja, um nível de instalações que podem ser
usadas, mas não estão sendo durante o processo produtivo corrente.
O fato de o preço cobrado pela empresa ser maior que seu custo marginal
garante margem de manobra para que elas possam mudar a quantidade
produzida sem alterar o preço. Isso ocorre se a empresa diminuir seu
mark-up, por exemplo, ou utilizar uma parte da capacidade ociosa.

92
92
Talvez a principal vantagem que você possa perceber de um mercado
que está em concorrência monopolística é que, para o consumidor,
existe uma gama de opções em termos de produtos e serviços muito
maior do que a existente no caso dos monopólios ou da concorrência
perfeita. De fato, é o que você enfrenta todo dia enquanto faz escolhas
como consumidor. A maior parte dos bens e serviços ofertados no
mercado é ofertada por empresas em concorrência monopolística,
desde eletrodomésticos e eletrônicos até alimentos, bebidas, etc.

Os bens e serviços que não são ofertados pela concorrência


monopolística são ofertados pelos oligopólios, como você já pode
imaginar pela leitura realizada até aqui. Afinal, a concorrência pura e o
monopólio só existem em situações extremamente específicas.

4.2. Oligopólio

Assim como a concorrência monopolista, o oligopólio é uma estrutura


de mercado em que você pode afirmar que as empresas estão em
competição imperfeita. Mas, ao contrário da concorrência monopolística,
em que há uma mistura de elementos da concorrência pura e do
monopólio puro, o oligopólio é uma estrutura que está mais próxima
das características do monopólio.

Os oligopólios são caracterizados pela existência de poucas empresas


que ofertam produtos similares, mas não idênticos, e que competem
pelos mesmos clientes. Nos oligopólios, as empresas atuantes têm
poder de mercado maior que aquele das empresas em concorrência
monopolística, mas menor do que o do monopólio. Os oligopólios são
formadores de preços e determinam seu preço acima do seu custo
marginal. O mark-up expressa o poder de mercado de cada empresa
atuante em um mercado oligopolizado.

Essas características dão margem aos principais problemas relacionados


à estrutura de mercado baseada nos oligopólios, que são os conluios

 93
e a formação de cartéis. Como são poucas empresas que atuam no
oligopólio, elas podem fazer acordos entre si para determinar os preços
e as quantidades vendidas no mercado. Essa é a caracterização dos
conluios. As empresas dividem o mercado entre si e determinam o
quanto produzir e o quanto cobrar. Quando as empresas agem com
base nesse tipo de acordo, elas estão formando um cartel e determinam
todas as características do mercado segundo seus próprios interesses.

Você já deve ter ouvido falar da Opep, a Organização dos Países


Exportadores de Petróleo, criada nos anos 1960 em Bagdá, capital do
Iraque. O propósito da organização era que os países produtores de
petróleo se fortalecessem frente às grandes compradoras do produto,
estabelecidas principalmente nos Estados Unidos, que forçavam a
venda do petróleo a preços cada vez mais baixos. A Opep é, muitas
vezes, entendida como um cartel, uma vez que os países podem forçar
um aumento forçado nos preços mundiais do petróleo ao reduzirem a
quantidade disponível do produto.

Dadas as possibilidades de conluio e formação de cartéis, em muitos


casos de estruturas de mercado caracterizadas pelos oligopólios, cabe
a regulação estatal. No Brasil, por exemplo, os serviços de telefonia
estão concentrados nas mãos de poucas empresas, o que configura
um oligopólio. Cabe à Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel,
regular o mercado para evitar práticas abusivas, tanto com relação ao
aumento dos preços quanto com relação às restrições forçadas na oferta
do serviço. Outro órgão importante para a prevenção dos conluios e das
práticas abusivas pelas empresas em oligopólios no Brasil é o Conselho
Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, que, de maneira geral,
zela pela livre concorrência no mercado e analisa processos de fusões e
aquisições que podem comprometer a competição. Exemplos famosos
analisados pelo Cade foram os da fusão entre as empresas Sadia e
Perdigão e, ainda, entre o Extra e o Carrefour. O órgão estabelece limites
e determina práticas para que as novas empresas se enquadrem nas
características de concorrência, prevenindo, assim, práticas monopolistas.

94
94
Tanto a concorrência monopolística como os oligopólios são
estruturas de mercados que estão mais próximas da realidade
cotidiana. No dia a dia, é difícil você encontrar uma situação de
monopólio puro e mais difícil ainda encontrar uma de concorrência
pura. Mas analisando esses casos extremos e entendendo a lógica
de atuação no mercado, você consegue extrapolar a discussão
para os casos intermediários. A discussão de maximização de lucro,
determinação da receita, preços e quantidades estabelecidas em
cada mercado vai depender da estrutura de custos de cada empresa
específica. Com as ferramentas que você aprendeu aqui nesta leitura,
você está apto a realizar essas análises.

TEORIA EM PRÁTICA

Você foi contratado pelo Cade para verificar a denúncia


de que as empresas Drinko e Góro estão praticando
conluio no mercado de chope de Ilha Isolada, um paraíso
natural na costa brasileira. Drinko e Góro produzem
chopes artesanais e são os únicos vendedores de
bebidas alcóolicas na Ilha Isolada. Diariamente, ambos
vendem cinco barris de chope ao preço de 35 reais
e a população residente acha um absurdo que eles
determinem quem vai produzir e vender o chope a
cada dia. De acordo com a população, os preços
deveriam ser de 15 reais, e a quantidade ofertada,
de nove barris. As características desse mercado (custo
e produção das duas em conjunto) são dadas na tabela
abaixo. Enquanto fiscal do Cade, analise a estrutura de
custos, a demanda, os preços praticados e determine se
as empresas Drinko e Góro estão praticando conluio e se
a reclamação da população é genuína.

 95
Tabela 10 – Produção, preços e custos totais
da indústria de chope

Barris de chope Preço Custo total


0 60 5
1 55 6
2 50 8
3 45 11
4 40 15
5 35 20
6 30 25
7 25 33
8 20 41
9 15 50
10 10 58

Fonte: elaborada pelo autor.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. A estrutura de mercado é caracterizada por um número
grande de empresas que concorrem entre si e que
produzem produtos semelhantes. As empresas possuem
poder de mercado limitado. Trata-se da:

a. Concorrência monopolística.

b. Concorrência perfeita.

c. Monopólio natural.

d. Duopólio.

e. Oligopólio.

96
96
2. A existência de um monopólio se deve basicamente
às barreiras à entrada e à saída do mercado. Os casos
mais comuns são aqueles em que o monopólio existe
por conta da:

a. Presença de muitas empresas ofertando produtos


similares.

b. Ausência da intervenção do governo.

c. Ausência de uma grande empresa que produz a


totalidade da oferta de mercado.

d. Presença de uma única empresa que consegue


produzir de maneira eficiente.

e. Presença de baixos custos de entrada e de saída.

3. Oligopólios e concorrência monopolística são as duas


estruturas de mercado mais comuns na maior parte das
economias mundiais. São características dos oligopólios:

a. Muitas empresas, mercados exclusivos e


padronização do produto.

b. Muitas empresas, disputa pelos mesmos


clientes e diferenciação do produto.

c. Poucas empresas, disputa pelos mesmos


clientes e diferenciação do produto.

d. Poucas empresas, mercados exclusivos e


diferenciação do produto.

e. Poucas empresas, mercados exclusivos e


padronização do produto.

 97
Referências bibliográficas
MANKIW, N. G. Introdução à economia. 8. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Tradução Eleutério Prado. 8. ed.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.

Gabarito

Questão 1 – Resposta A
Resolução: essas são características da concorrência
monopolística, muitas empresas produzindo produtos
semelhantes e disputando o mesmo grupo de clientes.
Questão 2 – Resposta D
Resolução: o determinante mais comum para a caracterização
de um monopólio é a ineficiência da competição gerada pelos
grandes custos de instalação da empresa. Apenas uma consegue
produzir em escala eficiente.
Questão 3 – Resposta C
Resolução: nos oligopólios, as empresas estão em numero
reduzido e disputam os mesmos clientes. Para ganhar mercado,
elas diferenciam o produto e têm outras estratégias de
competição que não os preços.

98
98
Macroeconomia das
contas nacionais
Autor: Flávio Arantes

Objetivos

• Aprender os princípios da análise


macroeconômica.

• Discutir os conceitos básicos, os agregados e os


fluxos macroeconômicos.

• Compreender a dinâmica da determinação da


renda agregada e do produto interno bruto (PIB).

• Entender a identidade macroeconômica


fundamental e discutir o fluxo circular da renda.

• Aprender os conceitos de variáveis reais e


variáveis nominais e as medidas de inflação.

 99
1. Introdução

Nesta leitura, você será apresentado aos principais conceitos da


macroeconomia, assim como entenderá as principais variáveis
macroeconômicas. A macroeconomia surge na história do pensamento
econômico como uma complementação da análise econômica que
existia até então, a da microeconomia. Enquanto a microeconomia está
preocupada com o comportamento de produtores e consumidores
de maneira individualizada, em mercados específicos, com interações
específicas, a macroeconomia se preocupa com as variáveis agregadas.

Você vai perceber que a macroeconomia não analisa especificamente


um mercado, uma empresa, ou a dinâmica de uma indústria em
particular, mas analisa todos os mercados, todas as empresas, todas as
indústrias de maneira agregada, agregando todos os comportamentos
e ações. Os cálculos dessas variáveis agregadas dão origem ao Sistema
de Contas Nacionais, ou à contabilidade nacional, que você também
aprenderá nesta leitura.

2. Keynes e a macroeconomia

A macroeconomia, enquanto uma vertente da disciplina econômica,


surge por meio dos trabalhos de John Maynard Keynes, mais
especificamente da publicação do livro A teoria geral do emprego, dos
juros e da moeda em 1936. Esse economista inglês, que nasceu no final
do século XIX e faleceu um ano após o término da Segunda Guerra
Mundial, estava preocupado em preencher algumas lacunas para as
quais a teoria econômica desenvolvida até então, a microeconomia,
não havia se atentado.

A primeira grande contribuição de Keynes se baseia na diferença que


o comportamento agregado possui com relação ao comportamento

100
100
individual. Na visão do autor, o resultado ótimo ou eficiente para
uma empresa específica ou para um conjunto de empresas não
implica necessariamente um resultado ótimo para o total da
economia. Na incapacidade desse ótimo ocorrer, o Estado deveria
entrar em ação nas áreas em que as empresas não pudessem, não
conseguissem ou não tivessem interesse em atuar.

O autor passou a se preocupar com o resultado da soma das ações


das empresas, das famílias e do governo na determinação de um
resultado econômico agregado que fosse considerado ótimo ou eficiente
socialmente. Ou seja, buscou compreender e explicar as determinações
das variáveis num olhar macroscópico, agregado, somando as ações de
cada conjunto desses agentes, dando origem, então, à macroeconomia.

Isso significa que, a partir de Keynes, a análise econômica não se


preocupa apenas com a produção ou o consumo de algum indivíduo,
empresa, ou setor especifico da economia, mas com a produção total
ou com o consumo total da economia como um todo, o que leva em
consideração todas as empresas, em todos os segmentos e todos
os consumidores, de todos os tipos, numa determinada localidade,
seja ela um município, estado ou federação. Por isso, o “macro” na
macroeconomia significa um olhar sobre o todo primeiramente,
ao contrário do “micro” da microeconomia, que olha as partes
primeiramente.

Como você já deve estar percebendo, é na macroeconomia desenvolvida


a partir de Keynes que se encontram as discussões sobre o produto
total, ou seja, o PIB, sobre o consumo total, o investimento total ou o
gasto total do governo em uma economia.

Para poder somar esses agregados, identificar os diversos totais e


explicar seu funcionamento, os países desenvolveram um Sistema
de Contas Nacionais, ou de contabilidade nacional, no qual registram
tudo o que foi produzido, consumido, investido, gasto, etc., em uma

 101
economia num período determinado. Como é um sistema de contas
nacionais, você percebe que se trata do país como um todo, o que
é, geralmente, o caso em questão quando alguém começa a estudar
macroeconomia. Mas essa contabilidade pode ser aplicada também
a outros níveis federativos, como estados e municípios. Além disso,
os valores podem ser apresentados com periodicidades diferentes,
geralmente de três em três meses e no consolidado do ano, dadas
as dificuldades técnicas de se compatibilizarem todas as relações
econômicas de um país como um todo.

3. Conceitos macroeconômicos básicos e as


contas nacionais

A análise macroeconômica cuida do estudo agregado de toda a


atividade econômica de uma localidade específica ao longo de
um período determinado de tempo. Para efeitos de praticidade,
aqui você vai pensar sempre em termos de um país, pois, como
você verá, a macroeconomia se ocupa de magnitudes globais para
entender as condições gerais que determinam o crescimento e o
equilíbrio da economia como um todo. Ou seja, a macroeconomia
estuda a determinação e o comportamento de varáveis como o PIB,
o consumo nacional, o investimento agregado, as exportações, o
gasto geral do governo, o nível geral de preços e uma série de outros
agregados econômicos.

Como a macroeconomia estuda o funcionamento geral da economia,


é nela também que estão as discussões sobre a política econômica de
um país, a discussão sobre a resolução de problemas como a inflação
e o desemprego, sobre as crises que um país enfrenta e as alternativas
para sair da crise. Para estudar a macroeconomia e as relações entre
os agregados macroeconômicos, você precisará saber um pouco de
contabilidade. Neste caso, a contabilidade social.

102
102
ASSIMILE
Contabilidade social é um sistema de mensuração dos
agregados macroeconômicos que leva em consideração
conceitos da contabilidade empresarial, como o princípio
das partidas dobradas, os balancetes e os lançamentos
contábeis. Entretanto, além de medir as contas nacionais,
mede a relação do país com o resto do mundo, mostra
o sistema monetário e os indicadores sociais, como de
distribuição de renda e de desenvolvimento humano.

De maneira geral, a contabilidade nacional mostra o resultado do


“funcionamento” de uma economia durante um determinado período
de tempo – convencionalmente, um ano. No Brasil, os dados são
consolidados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e
são divulgados também de maneira trimestral.

As contas nacionais apresentam tudo o que o país produziu, tudo o que


consumiu e tudo o que deixou de consumir, ou seja, tudo que virou
estoque ou exportações. Para medir todos esses agregados diferentes,
que vão de bananas a aviões, de lápis a computadores ou de pães a
serviços em salões de beleza, a unidade de comparação é a moeda ou
o dinheiro. Então, para saber as contas nacionais de um país, você está
analisando um sistema de valores monetários.

3.1 Produto, renda e despesa agregada

Na macroeconomia e no Sistema de Contas Nacionais, os três


principais conceitos são os de produto agregado, renda agregada e
despesa agregada, que você também vai achar na literatura como
“nacional” em vez de “agregado”.

 103
Cada um desses conceitos apresenta uma maneira diferente ou
alternativa de medir a “riqueza nova”, ou o “sucesso”, de um país num
determinado período. São maneiras de expressar o que de novo um
país produziu com relação ao que havia produzido no ano anterior, por
exemplo. O primeiro conceito é o do produto agregado. O produto mede
o valor de todos os bens e serviços finais que foram produzidos durante
um ano numa determinada economia.

Para efeitos de fixação do conceito, imagine o país Levain, que não tem
governo e possui quatro setores produtivos na economia: um setor que
produz sementes, um que produz trigo, um que transforma o trigo em
farinha e um último setor que usa a farinha para fazer pão. A Tabela 11
abaixo mostra uma parte do Sistema de Contas Nacionais de Levain.

Tabela 11 – Produção do país Levain

Fonte: elaborada pelo autor.

O setor de sementes não teve custos de produção e produziu sementes


no valor de 1.000, que foram totalmente vendidas para o setor que
produz trigo. O setor produtor de trigo comprou as sementes e
conseguiu gerar uma produção no valor de 2.500, que foi vendida ao
setor de farinha. O setor produtor de farinha usou os 2.500 em trigo que
comprou para produzir 3.750 em farinha, que vendeu ao setor produtor
de pão. Este, por sua vez, transformou o total de farinha em pães no
valor de 4.300, que foi consumido pela população.

Qual é o produto agregado dessa economia? Se você analisou bem o


conceito do produto, verá facilmente que o produto agregado da Levain

104
104
é de 4.300. Por quê? Porque 4.300 é o valor dos produtos finais na
economia, o valor do pão.

As sementes, o trigo e a farinha “desapareceram” durante o processo


produtivo ou, melhor dizendo, foram incorporados ao pão, uma vez
que foram insumos no processo de produção. As sementes foram
consumidas para fazer o trigo que, por sua vez, foi consumido pra fazer
a farinha que, por sua vez, foi consumida para fazer o pão.

Outra forma de mostrar o produto é considerando tudo o que foi


produzido na economia e retirando o que “desapareceu” como insumo
no processo produtivo. Veja que, no caso de Levain, o valor total da
produção é de 11.550 (1.000 + 2.500 + 3.750 + 4.300), mas o valor total
de insumos é de 7.250 (1.000 + 2.500 + 3.750). Fazendo a diferença:
produto = 11.550 – 7.250 = 4.300, exatamente o valor do pão.

O total produzido numa economia, sem desconsiderar os insumos, é


chamado de Valor Bruto da Produção que, no caso de Levain, é de
11.550. Para evitar contar a semente, o trigo e a farinha duas vezes, ou
seja, para evitar a dupla contagem, os economistas retiram o que foi
utilizado de insumo, no caso, 7.250. O produto é, então, o valor dessa
diferença que, de fato, é o total de bens finais produzidos na economia.

A última maneira de medir o produto é por meio do que cada setor


produtivo adicionou de novo na economia, o valor adicionado em cada
processo produtivo. O setor de sementes adicionou um valor de 1.000
numa economia que não tinha nada produzido. Já o setor de trigo pegou
esses 1.000 em sementes e adicionou um valor de 1.500, gerando 2.500
em trigo. O setor de trigo pegou o valor existente até então, de 2.500,
e adicionou 1.250, gerando um novo produto de 3.750. Por fim, o setor
produtor de pães pegou esse valor de 3.750 e adicionou um valor de
550, gerando um produto final na economia de 4.300. Veja na última
coluna o valor adicionado por cada setor. A soma do valor adicionado
em cada setor da economia é igual ao seu produto agregado.

 105
ASSIMILE
Valor bruto da produção é o valor total gerado em todo
o processo produtivo e nele se consideram todos os
bens e serviços produzidos num determinado período
independentemente do bem ou serviço ter sido consumido
como insumo no processo produtivo. Valor adicionado é
o valor adicional gerado pela transformação de um bem ou
serviço em cada uma das etapas do processo produtivo.

Depois que você aprendeu os conceitos de produto, valor bruto da


produção e valor adicionado, analisar o conceito de renda agregada, ou
renda nacional, fica mais fácil e intuitivo.

Como você sabe, da sua experiência pessoal, para se produzirem


bens e serviços em uma economia, é preciso empregar fatores de
produção. De maneira geral, empregam-se trabalho, capital físico,
ou seja, as máquinas, recursos naturais e, às vezes, capital financeiro.
A renda nacional é o somatório de todas as remunerações dos fatores
de produção utilizados nos diferentes processos produtivos levados
a cabo em um país durante um período de tempo. O trabalho recebe
como remuneração o salário, o capital de risco recebe os juros como
remuneração, as instalações recebem o aluguel e o capital físico é
remunerado pelo lucro. Assim, o conceito de renda nacional é:

Renda nacional = salários + lucros + aluguéis + juros

No valor de cada produto, é possível distinguir ou diferenciar a parte


que foi paga em salários, a que foi paga em lucros, em aluguéis e em
juros. Considere, entretanto, para fins didáticos, que na produção do
pão o país Levain apenas empregue trabalho e capital como fatores
de produção. Isso significa que as remunerações serão apenas as
referentes aos salários pagos e aos lucros gerados. A Tabela 12 abaixo
mostra a distribuição das remunerações em Levain.

106
106
Tabela 12 – Renda nacional do país Levain

Fonte: elaborada pelo autor.

A produção total do país Levain depende bastante do trabalho enquanto


fator de produção, de maneira que 60% do que é adicionado em
cada etapa do processo produtivo se deve a ele. Já o capital tem uma
importância de 40% na geração do valor nesse país. A Tabela 12 mostra,
na segunda coluna, que são pagos 600 em termos de salários no setor
produtor de sementes, 900 no de trigo, 750 no de farinha e 330 no de
pães. Já a terceira coluna mostra a remuneração do capital, os lucros, em
cada setor, de 400, 600, 500 e 220, respectivamente. Note que, ao somar
as linhas de cada setor produtivo na Tabela 12, você encontra o valor
adicionado naquela etapa. Nada mais justo, uma vez que, para produzir
aquele valor adicionado, você precisou contratar trabalho e capital,
que devem ser remunerados. A soma do total de remunerações dá o
valor de 4.300, a renda nacional. Veja que é o mesmo valor do produto
nacional, uma vez que, para se fazer esse produto, foi preciso remunerar
todos os fatores de produção na magnitude dessas remunerações.

PARA SABER MAIS


Distribuição funcional da renda é uma maneira
de medir como o produto gerado numa economia
é distribuído entre os fatores de produção. Dada a
identidade entre produto, renda e despesa, toda produção

 107
deve ser repartida como remuneração dos fatores de
produção que a produziram. A distribuição funcional da
renda, geralmente, mostra em porcentagem da renda
total a apropriação em termos de salários, lucros, juros e
aluguéis e, às vezes, também os impostos.

Por fim, o último conceito importante para a mensuração das contas


nacionais é o conceito de despesa agregada, gasto agregado, dispêndio
agregado, ou, ainda, demanda agregada. A demanda agregada considera
não o valor do que foi produzido ou recebido na forma de remuneração,
mas o que foi demandado no final do processo produtivo.

No caso de Levain, a demanda final da economia foram pães no valor de


4.300. Nesse caso específico, os pães foram consumidos e a demanda
agregada foi de 4.300. Todos daquela economia gastaram suas
remunerações em pães, nesse valor. O gasto agregado ou dispêndio
agregado foi de 4.300. Aqui, o princípio das partidas dobradas, de
contabilidade, o ajuda a entender melhor essa relação. Segundo esse
princípio, para toda ação existe uma reação de igual magnitude em
sentido contrário. No caso da contabilidade social, para toda venda
realizada existe uma compra/uma demanda realizada – se alguém
vendeu é porque alguém comprou. Então, se alguém gastou, alguém
recebeu de volta em forma de renda.

Veja que produto, renda e dispêndio são iguais em termos agregados


no Sistema de Contas Nacionais. Isso leva à identidade contábil mais
importante da contabilidade social:

Produto agregado ≡ renda nacional ≡ demanda agregada

A identidade indica que não há produção que não seja o gasto de


alguém e que não seja, simultaneamente, a geração de renda para
outrem. Quando você soma todas essas relações, você tem a identidade
de maneira agregada, ou nacional.

108
108
3.2 Fluxo circular da renda

A maneira mais comum de comprovar a identidade contábil de que


produto agregado é idêntico à renda agregada, que por sua vez é
idêntica à despesa agregada, é por meio do fluxo circular da renda.

Os economistas e os estudiosos de contabilidade nacional usam o fluxo


circular há anos como meio mais didático de expressar as relações
econômicas que ocorrem numa economia num determinado momento
e agregá-las. A Figura 3 abaixo mostra essas relações.

Figura 3 – Fluxo circular da renda

Fonte: adaptada de Paulani e Braga (2014).

Você pode começar a análise da Figura 3 a partir de qualquer


ponto, pois, por se tratar de um fluxo circular, a análise passa pelos
mesmos pontos, mas sob olhares diferentes ou, como é o conceito na
contabilidade social, sob óticas diferentes.

A economia simples acima é dividida entre as famílias e as firmas,


que possuem relações econômicas por meio do mercado de bens

 109
e serviços e por meio do mercado de fatores. As famílias são
proprietárias dos fatores de produção (capital, terra e trabalho) e
vendem no mercado de fatores para as empresas, que os utilizam
como insumos para a produção de bens e serviços. As empresas
vendem esses bens e serviços no respectivo mercado, onde são
comprados pelas famílias, que os consomem. Ao comprar os bens e
serviços, as famílias realizam uma despesa, que acaba se tornando
receita das empresas. As empresas usam essa receita para pagar os
insumos da produção, por meio de salários, lucros e aluguéis. Essas
remunerações, por sua vez, se tornam renda das famílias, que são
detentoras dos meios de produção, fechando o fluxo circular da renda
e dando início a uma nova rodada.

Dependendo do momento do fluxo, você está analisando as relações


levadas a cabo na economia num determinado período sob uma ótica
diferente. Quando a análise é feita a partir do que foi produzido, ou
do que foi adicionado ao final de cada etapa do processo produtivo,
você está analisando sob a ótica do produto. Entretanto, quando
você analisa as remunerações pagas ao longo do fluxo circular, a ótica
em questão é a ótica da renda. Por fim, se você está analisando o
momento em que essa renda é gasta, ou que o produto é comprado,
você está na ótica da demanda.

3.3 Demanda agregada

Você aprendeu que, ao analisar as contas nacionais por meio da


produção ou do valor adicionado em cada etapa do processo
produtivo, você está utilizando a ótica da produção e que, para produzir
determinado produto final ao longo de um período, você precisa
remunerar os fatores de produção, o que o leva a analisar as contas
nacionais pela ótica da renda.

Agora, quando um economista ou estudioso das contas nacionais quer


descobrir a destinação de tudo o que foi produzido na economia, ele faz

110
110
a análise pela ótica da demanda. Isso significa que os bens ou serviços
finais produzidos na economia tomaram uma forma de uso específica,
foram a contrapartida de um gasto realizado por alguém. A ótica da
demanda permite, então, que o analista entenda como os bens finais
foram apropriados pelos agentes econômicos. Ou seja, como se formou
a demanda agregada daquela economia.

Geralmente, na macroeconomia, os agentes econômicos são


classificados em famílias e empresas, como você percebeu pelo fluxo
circular da renda. No entanto, os agentes econômicos também são
classificados em governo e setor externo. Dessa forma, tudo o que
é produzido na economia é demandado por um desses agentes.
Na versão mais simplificada, no modelo básico da macroeconomia, a
demanda agregada é formada pelo consumo das famílias (C), pelos
investimentos das empresas (I), pelos gastos do governo (G), pelos
gastos realizados com produtos vindos do exterior (importações – M)
e pelos gastos que o resto do mundo realiza com produtos do país
(exportações – X). Dessa forma, a demanda agregada (DA) pode ser
expressa pela seguinte equação:

DA = C + I + G + (X – M)

Em que as importações têm o sinal negativo, pois indicam um valor


que está sendo enviado para fora do país produtor – é uma renda
apropriada pelos fatores de produção espalhados no resto do mundo e
não no país.

Assim, a ótica do dispêndio ou despesa agregada apresenta os gastos


que os agentes econômicos realizam para adquirir (comprar) a
produção, ou seja, é o destino da produção.

É importante dar esse destaque à ótica do dispêndio porque toda


a análise que Keynes iniciou em 1936, e que diversos autores em
macroeconomia foram desenvolvendo ao longo dos anos, se relaciona
ao poder da demanda agregada em influenciar as decisões de produção.

 111
A partir da abordagem keynesiana, os economistas começaram a
analisar o impacto que a demanda agregada tem sobre o crescimento
da economia e a geração de emprego. Boa parte da literatura
macroeconômica e da análise das contas nacionais parte dessa equação
simples para tentar descobrir, entender e esquematizar os mecanismos
e as relações agregadas que levam a economia ao crescimento e à
geração de emprego e a formular políticas que ajudem a atingi-los.

4. O Sistema de Contas Nacionais e a classificação


do produto

Até aqui, nesta leitura, você aprendeu a analisar em detalhes os


conceitos agregados de produto, renda e demanda. O Sistema de
Contas Nacionais (SCN) presente no Brasil e na maior parte dos países
economicamente relevantes no mundo apresenta a riqueza nova
gerada durante um período sob as três óticas anteriormente discutidas:
produto, renda e demanda.

No caso brasileiro, a mensuração do Sistema de Contas Nacionais teve


início em 1947 por meio da Fundação Getúlio Vargas (RJ), e em 1956,
passou a formar um conjunto integrado de estatísticas, padronizado
pelos manuais da Organização das Nações Unidas (ONU). No ano de
1986, a mensuração passou para o IBGE até que, em 1996, houve uma
mudança significativa no Sistema Consolidado de Contas Nacionais,
onde a conta do governo deixou de constar e passou a ser publicada
como informação complementar, em particular, como Conta Corrente
das Administrações Públicas. Em março de 2007, a publicação das
Contas Integradas pelo IBGE mudou o ano-base da mensuração,
passando de 1990 para 2000 e, em 2008, o SCN passou a ter nova
referência (Manual de 2008 da ONU), a qual os sistemas estatísticos
nacionais ainda estão se adaptando. Essa medida tem como objetivo
incorporar nova classificação de bens e serviços, novas fontes de dados,
atualizar conceitos e definir novas estruturas de referência.

112
112
O grande objetivo das contas nacionais, como você pode perceber, é a
mensuração da riqueza gerada num país de um período para o outro.
No fundo, o objetivo é medir o produto pelas três óticas para saber o
que e quanto foi produzido, quem recebeu e quanto recebeu por essa
produção e a que esse produto foi destinado.

Até aqui, nesta leitura, você notou que o termo produto e produção
foram usados e foi evitado o termo PIB (produto interno bruto). Isso foi
feito de maneira proposital porque o PIB, apesar de ser a nomenclatura
mais utilizada no caso brasileiro, é apenas uma das diversas maneiras de
se expressar a produção de um país. Não é incorreto usar PIB em vez de
produto para se referir à produção gerada num período determinado,
porque esse é o termo usado de maneira mais corriqueira no país, mas
aqui você vai aprender as diferenças dos conceitos.

O produto de um país pode ser classificado de diversas maneiras:


interno ou nacional; bruto ou líquido; a preços de mercado ou a custo de
fatores; em termos nominais ou reais.

• Produto interno

• É um conceito geográfico que leva em consideração a produção


realizada dentro do país. No produto interno está todo bem
ou serviço final produzido dentro dos limites geográficos desse
país. A produção de uma empresa chinesa que produz dentro do
território brasileiro entra no cálculo do produto interno.

• Produto nacional

• É um conceito que leva em consideração a titularidade dos


fatores de produção usados. Pertence ao produto nacional de
um país todos os produtos que empregam fatores de produção
que pertencem aos residentes desse país, independente do
local onde esse produto foi realizado. Uma empresa chinesa
que produz no território brasileiro entra no cálculo do produto
nacional chinês, mas não no produto nacional brasileiro.

 113
• Produto bruto

• Considera, em unidades monetárias, o valor de todos os bens


e serviços finais produzidos num determinado período numa
economia, sem considerar a depreciação. Ou seja, considera os
produtos finais sem considerar o desgaste dos equipamentos
para produzi-los ao longo do tempo.

• Produto líquido

• Considera a depreciação, ou seja, considera o valor referente ao


desgaste dos equipamentos utilizados para a produção dos bens
ou serviços finais num determinado período.
Produto líquido = Produto bruto – depreciação

Com a classificação entre bruto e líquido, é possível fechar os conceitos


necessários para realizar comparações entre uma economia interna em
relação ao resto do mundo.

No Brasil, utiliza-se PIB que, na comparação internacional, é o GDP


(Gross Domestic Product). No caso do produto nacional bruto (PNB),
dada sua equivalência macroeconômica com a renda nacional bruta
(RNB), pode ser traduzido para GNI (Gross National Income) na
comparação internacional.

A diferença entre o PIB e o PNB (GNI) é a renda líquida enviada ao


exterior (RLEE):

RLEE = renda enviada – renda recebida do exterior

Essa RLEE é a diferença entre o envio ao exterior de rendas pela


utilização de capital físico, financeiro, ou da tecnologia de empresas
estrangeiras e o recebimento de rendas vindas do exterior devido às
atividades de capital (juros e lucros) ou uso de tecnologia (royalties)
nacionais no exterior.

GNI (PNB) = PIB – RLEE

114
114
Agora que você abriu a economia para o exterior para saber a
classificação do produto, é possível inserir a figura do governo na
economia. Como o governo influencia a produção tributando ou dando
incentivos, a classificação fica em função dessa tributação ou incentivo.

Tem-se, então, o produto a custo de fatores (Pcf), ou a preços básicos,


que reflete apenas os custos de produção, ou seja, a remuneração dos
fatores de produção (salários, juros, aluguéis e lucros). Adicionalmente,
tem-se o produto a preço de mercado (Ppm), que leva em consideração
o valor dos impostos e subsídios, ou seja, calcula a produção nacional ao
seu valor de mercado:

Ppm = Pcf + impostos – subsídios

A diferença entre o produto a preço de mercado e o produto a custo


de fatores é a colocação do papel do governo na economia, ou seja,
abre-se lugar para a cobrança de tributos e impostos indiretos e o
desconto dos subsídios.

A última classificação importante com relação ao PIB se deve ao fato


de ele ser sempre um valor monetário. Como você sabe, os valores,
de modo geral, não são os mesmos de um período para outro.
Provavelmente, R$ 100 hoje valem mais do que R$ 100 daqui a um ano
e com certeza valem menos do que R$ 100 um ano atrás. Essa perda
de valor da moeda ocorre devido à inflação, ou seja, à mudança de
preços dos bens e serviços ao longo do tempo. Bens e serviços ficam
mais caros, sofrem um aumento de preços ou, de maneira similar, a
moeda em negociação perde poder de compra, o dinheiro passa a
“valer menos” de um período para outro. Sendo assim, como comparar
o PIB produzido em um ano com o PIB de anos anteriores – uma vez
que o PIB do ano corrente teve seu valor alterado pelo aumento dos
preços? Em outros termos, como comparar PIBs de anos distintos se
existe inflação na economia?

 115
Isso não vale apenas para o PIB, mas para todas as variáveis
econômicas. Sempre que for preciso comparar valores de anos
diferentes, você precisa levar em consideração o poder de compra da
moeda no período. Isso significa que você precisa achar um valor que
não mude entre os anos. No caso do PIB, ele constitui um valor oriundo
de uma série de bens e serviços físicos multiplicados pelos preços de
cada um desses bens e serviços no ano em questão. Uma maneira de
tornar o valor comparável é fixar o preço de um ano para o outro e
apenas multiplicar as quantidades produzidas de um ano para o outro.
Tal procedimento nada mais é do que calcular o PIB em termos reais,
ao contrário do PIB nominal.

ASSIMILE
PIB nominal: é o valor do produto interno bruto de um país
calculado aos preços e quantidades do ano em questão.
PIB real: é o valor do produto interno bruto de um país
calculado a preços fixos de um período para o outro vezes
as quantidades produzidas em cada ano.

O PIB real expurga o efeito da mudança de preços, ou seja, da inflação


de um ano para o outro. Veja no Gráfico 16 a diferença entre o PIB real e
o PIB nominal desde a estabilização da economia brasileira (que reduziu
a inflação) no ano de 1994.

116
116
Gráfico 16 – PIB Real vs PIB nominal no Brasil

Fonte: IPEADATA.

Note que a curva azul, do PIB nominal, tem uma inclinação sempre
ascendente em toda a série, enquanto a curva vermelha, do PIB
real, é menos inclinada e tem pontos de redução. No caso específico
do gráfico acima, o IBGE calcula o total do PIB utilizando os preços
praticados em 2010. Ou seja, multiplica todas as quantidades de
bens e serviços finais de 1994 até 2018 pelos preços de 2010. Isso, na
economia, significa dizer que o PIB está em preços constantes de 2010
e, como retirou a influência da inflação na série, permite a comparação
em termos reais ao longo do tempo.

De modo geral, a inflação é dada por um índice de preços. Os índices


de preços mais conhecidos e mais utilizados no Brasil são o IPCA (índice
de preços ao consumidor amplo), que mede a inflação oficial do país,
cuja meta é divulgada pelo governo, e o IGP-DI (índice geral de preços
– disponibilidade interna) que é o índice que corrige a maior parte dos
contratos no país, principalmente os aluguéis. Sempre que você utiliza

 117
os preços de um ano como referência, por meio dos índices de preços,
para comparar os valores ao longo do tempo, você está tratando de
variáveis reais ou constantes em vez de variáveis nominais ou correntes.

A lógica do cálculo de um índice de preços é a mesma daquela de se


calcular o PIB real versus o PIB nominal de uma economia. O órgão
responsável (IBGE ou FGV) escolhe uma cesta de bens, como se fosse
uma grande “cesta básica” de consumo, e mensura como o valor dessa
cesta muda ao longo dos anos. Ao dividir o valor da cesta de um ano
com relação aos outros anos, obtém-se o índice desejado. No caso do
PIB, a cesta é muito complexa, de maneira que o índice de preços recebe
um nome especial: deflator implícito do PIB.

Agora que você conhece todas as classificações possíveis do PIB,


entende quais as óticas possíveis para se analisar o PIB de um país, sabe
o que é a demanda agregada e sua importância macroeconômica e sabe
diferenciar o que são variáveis reais de variáveis nominais por meio dos
índices de preços, ficará muito mais fácil entender e analisar as variáveis
macroeconômicas e participar de discussões sobre contas nacionais e
crescimento econômico de maneira mais rigorosa e precisa.

TEORIA EM PRÁTICA

Levain é um país que ainda está engatinhando em


termos mundiais e não possui um departamento
de estatística suficientemente grande e com um
corpo técnico qualificado para mensurar suas contas
nacionais. É um país pequeno, que era especializado
na cadeia produtiva do pão, mas que agora também se
enveredou na cadeia produtiva do milho, como forma
de revezar os cultivos ao longo do tempo

118
118
e gerar maior valor agregado ao longo do tempo.
O departamento de coleta de dados do país conseguiu
levantar as informações sobre a produção de sementes
de milho e de trigo, sobre a produção de farinha de
trigo e de milho e sobre a produção de pães e de bolos
de milho. Contudo, muitos desses produtos se tornaram
insumos do processo produtivo e o país não consegue
medir seu PIB para o ano corrente. O país continua
tendo quatro setores na cadeia produtiva do pão e
mais quatro na cadeia produtiva do milho. Na cadeia
do pão, sabe-se que o setor 1 produziu sementes com
um valor de 2.500, que foram vendidas para o setor
produtor de trigo. O setor de trigo produziu 3.780 em
trigo e vendeu 2.500 para o setor produtivo de farinha,
tendo armazenado 1.280 em trigo. O setor produtivo
de farinha produziu um valor de 3.750 em farinha,
armazenou um valor de 750 em farinha e vendeu
3.000 para o setor produtivo de pães. Este último
produziu um valor de 5.200 em pães que foram
vendidos aos consumidores finais. Na cadeia do
milho, foram produzidas sementes num valor de
800, das quais 600 foram vendidas para o setor
produtor de milho. Este produziu 2.400 em espigas
de milho que foram vendidas no valor de 1.400 para
fazer farinha e 1.000 enquanto milho verde para uma
quermesse da cidade. O setor produtor de farinha
conseguiu produzir um valor total de 2.690, dos
quais 1.940 foram para o setor produtor de bolos
e 750 foram estocados. O setor de bolos produziu
um valor total de 2.500. Como analista contratado
pelo país, qual o PIB de Levain?

 119
VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Com relação aos conceitos de produto, renda e despesa


agregada, é correto afirmar que:

a. A despesa agregada é contabilmente idêntica à renda


agregada, mas não ao produto agregado.

b. Pela ótica da renda, é possível somar o valor


adicionado em cada etapa do processo produtivo.

c. A renda agregada é calculada pela receita federal e o


produto pelo IBGE.

d. O produto agregado mensura o valor de todos os


bens e serviços finais produzidos num período
determinado.

e. A renda agregada não tem relação com a despesa


agregada num período determinado.

2. Com relação às classificações do produto, é correto


afirmar que:

a. O PIB capta toda a produção nacional em


determinado país.

b. O PIB capta toda a produção doméstica de


determinado país.

c. O PNB não tem relação com os fluxos de renda do


país com o exterior.

d. O PNB capta a produção doméstica do país.

e. A RNB é equivalente ao PIB.

120
120
3. Com relação à inflação, aos índices de preços e
ao cálculo de valores nominais e reais, é correto
afirmar que:
a. O conceito de PIB nominal expurga a inflação.

b. O PIB real considera a inflação realmente ocorrida.

c. O PIB nominal leva em consideração um índice de


preços para corrigir seu valor.

d. O PIB real é o mesmo que o PIB nominal


corrigido por um índice de preços.

e. As variáveis nominais não consideram o preço.

Referências bibliográficas
FEIJÓ, C. A. et al. Contabilidade social: o novo Sistema de Contas Nacionais do
Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2004.
PAULANI, L. M.; BRAGA, M. B. A nova contabilidade social. São Paulo: Saraiva, 2005.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas: www.ibge.gov.br.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada: www.ipeadata.gov.br/.
Word Bank Open Data: https://data.worldbank.org/.

Gabarito
Questão 1 – Resposta D
Resolução: esse é o conceito de produto agregado.
Questão 2 – Resposta B
Resolução: o produto interno bruto mensura a produção dentro do
país, ou seja, a produção doméstica.
Questão 3 – Resposta D
Resolução: PIB real é o PIB nominal expurgado da inflação, que é
dada por um índice de preços.

 121
Princípios de economia
internacional
Autor: Flávio Arantes

Objetivos

• Aprender os princípios da economia internacional


a partir das vantagens comparativas.

• Discutir as vantagens e as desvantagens de uma


economia aberta ao comércio internacional.

• Analisar os fluxos financeiros internacionais.

• Aprender os conceitos e a forma de registro


das transações internacionais no balanço de
pagamentos do país.

• Refletir sobre os regimes cambiais e a


movimentação da taxa de câmbio.

122
122
1. Introdução

Nesta leitura, você vai aprender como e por que os países mantêm
relações comerciais e financeiras entre si. Você vai entender os motivos
que levam os países a manterem as relações internacionais e a
realizarem transações econômicas, transacionando bens e serviços em
escala global. Além disso, você vai aprender os benefícios e os custos
para o país quando ele se abre aos mercados globais de bens e serviços.

Para ficar apto a discutir a economia internacional, você vai aprender


os seus princípios gerais, que ajudam a analisar o setor externo do país.
Ou seja, você saberá identificar e analisar aquele setor da economia
nacional que apresenta a relação do país com o resto do mundo e como
são contabilizados os fluxos comerciais e os fluxos financeiros.

Para que sua compreensão das relações existentes nos mercados


internacionais seja completa, sua análise vai levar em consideração
as questões microeconômicas e as questões macroeconômicas que
embasam a discussão do setor externo de uma economia. Assim, você
também aprenderá sobre o papel da taxa de câmbio nas economias
abertas e os diferentes tipos de regimes cambiais.

2. Determinantes do comércio

Você sabe que o país em que vive não é isolado do mundo. Isso
vale sempre em termos geográficos e, principalmente, em termos
econômicos. Entretanto, em quaisquer livros de economia, sejam eles
de introdução à economia, de microeconomia ou de macroeconomia, os
autores, geralmente, começam a discussão tratando de uma economia
fechada e, muitas vezes, sem governo.

Mas se na realidade os países têm relações entre si e não estão isolados


no mundo, por que a abordagem inicial é geralmente feita dessa forma?

 123
Por que não já começar as análises de uma maneira mais realista? Por
que não levar em consideração que o país transaciona bens e serviços
com seus vizinhos – sejam eles próximos ou distantes?

O argumento geral é de que a economia como um todo se baseia


nas mais diversas formas possíveis de trocas e que, levando em
consideração as trocas mais simples, dentro de um país ou dentro de
uma região isolada, o estudioso em economia consegue extrapolar
as relações para a economia mundial. Ou seja, se você entende bem
os princípios que regem as trocas simples, você estará apto a analisar
trocas mais complexas, que envolvem diversos países ou regiões
econômicas. Aqui, você não precisa fazer toda essa transição, pois vai
considerar que o mundo é um grande mercado, com as fronteiras físicas
e econômicas abertas a todos e onde os países transacionam bens e
serviços entre si. As transações ocorrem como se fossem dentro de uma
região qualquer. A única diferença é que essa região é o mundo.

Mas por que os países fazem transações entre si como se fossem um


único mercado integrado? Por que mandam bens e serviços produzidos
dentro do país para o exterior e recebem bens e serviços vindos de fora?
E mais, por que muitos bens e serviços vindos de fora são do mesmo
tipo que os produzidos internamente? As respostas a essas questões e
as ponderações que devem ser feitas sobre o fato de o mundo não ser
um grande mercado você vai aprender nas seções seguintes.

3. Vantagens comparativas

Países trocam bens e serviços entre si porque estão localizados


próximos um do outro, porque querem alguma mercadoria, bem ou
serviço de que não dispõem e o outro país possui, porque não querem
ficar com algum bem ou serviço que produzem ou possuem em excesso
ou simplesmente porque querem diferenciar seu consumo, como um
consumidor muda seu padrão ou estilo de vida ao longo do tempo.

124
124
No caso das transações comerciais que dão origem a toda discussão
sobre economia internacional, o primeiro motivo que leva um país
a querer manter relações com os outros é o referente às vantagens
comparativas.

ASSIMILE
Vantagem comparativa é a capacidade que um produtor
tem de produzir um bem ou serviço com custo de
oportunidade menor do que outro produtor (MANKIW,
2020). Isso significa que um país que possui vantagem
comparativa na produção de um bem tem mais habilidade
para produzir e ofertar esse produto no mercado
internacional porque é “mais barato” economicamente
para ele produzir do que para outro país produzir.

Países podem ter algumas características, como abundância de


recursos, matérias-primas, ou excesso de produtividade nas suas
terras que os levem a produzir de maneira mais eficiente determinados
produtos agrícolas do que outros países. Veja, por exemplo, o caso do
trigo que se come no Brasil. Boa parte do trigo utilizado aqui vem da
Argentina. Um dos motivos para o Brasil comprar trigo da Argentina
é que lá os produtores conseguem produzir trigo (por causa do clima,
por exemplo) a custos mais baixos do que os agricultores no Brasil.
No caso, a Argentina tem vantagem comparativa na produção do trigo
com relação ao Brasil. E em vez de produzir trigo, o Brasil compra da
Argentina porque é mais barato economicamente.

Outro exemplo é com relação aos eletrônicos. Todos sabem que a China
é o maior produtor de eletrônicos do mundo e que as maiores empresas
mundiais do ramo estão instaladas lá. Por quê? Justamente porque a
China possui vantagem comparativa na produção de eletrônicos com

 125
relação ao resto do mundo. A China tem mais mão de obra e, devido à
sua abundância relativa, a mão de obra empregada tem salários mais
baixos comparativamente à maior parte das outras economias do
mundo. Por ter um grande mercado consumidor interno, várias fontes
de matérias-primas, ganhos de escala e por uma série de outros fatores,
como grande know-how em tecnologia acumulado durante décadas, a
China acaba tendo vantagem comparativa em eletrônicos com relação
ao restante do mundo.

Veja que possuir vantagem comparativa não leva os países a


produzirem apenas aquilo em que possuem a vantagem comparativa,
nem que existam sempre as transações entre os países e, muito
menos, que essas relações sejam sempre favoráveis ou benéficas a
todos os países. Apesar de comprar trigo da Argentina e eletrônicos
da China, o Brasil também produz trigo e alguns bens eletrônicos.
Da mesma maneira que o país compra carros do Japão e da Europa
e vende carros fabricados em território brasileiro para a Argentina
e para o Uruguai, por exemplo. Toda essa discussão vai depender
de uma série de fatores sociais, econômicos e políticos (nacionais e
internacionais) dos países em questão, como você verá na sequência.
Contudo, antes de passar às discussões mais gerais sobre o comércio
internacional e sobre as transações econômicas e financeiras que
acontecem em escala global, é preciso fixar em termos mais formais o
conceito de vantagens comparativas.

3.1 O exemplo clássico das vantagens comparativas

Qualquer livro-texto de economia internacional, manual de referência


em teoria de comércio exterior ou quase todas as primeiras aulas
sobre economia aberta em cursos de graduação ou pós-graduação
começam a discussão sobre as vantagens do comércio internacional
a partir de um exemplo clássico, amplamente conhecido. Trata-se da
comparação entre a capacidade de produção de vinhos e tecidos de
Portugal e da Inglaterra.

126
126
Não é à toa que esse é o exemplo clássico mais conhecido na literatura.
Ele é o exemplo original utilizado por David Ricardo, em 1817, para
justificar a especialização de cada um dos países (Portugal e Inglaterra)
na produção de um dos dois bens, incentivar o comércio entre ambos e,
como consequência, formular a sua teoria das vantagens comparativas e
de comércio internacional.

PARA SABER MAIS


David Ricardo (1772-1823) foi um economista inglês
conhecido como um dos mais influentes pensadores da
escola clássica de economia, juntamente com Adam Smith
e Thomas Malthus. Em 1817, Ricardo publicou o trabalho
intitulado Princípios de economia política e tributação, em que
apresenta, entre outros conceitos, o princípio das vantagens
comparativas e a defesa do livre comércio entre as nações.

O exemplo de Ricardo leva em consideração que Portugal e Inglaterra


produzem vinhos e tecidos de qualidade idêntica, mas têm capacidades
distintas de produção. Levando em consideração apenas o trabalho
humano utilizado na produção, os países precisam das quantidades de
horas de trabalho apresentadas na Tabela 13 abaixo para produzir uma
unidade de vinho e uma unidade de tecido.

Tabela 13 – Quantidade de horas de trabalho necessárias


para a produção de uma unidade de vinho e
de uma unidade de tecido em cada país

Fonte: adaptada de Vasconcellos e Garcia (2017).

 127
A Tabela 13 indica que Portugal produz uma unidade de vinho utilizando
90 horas de trabalho e produz uma unidade de tecido utilizando 80
horas de trabalho. Já a Inglaterra precisa de 100 horas de trabalho para
produzir uma unidade de tecido e de 120 horas para produzir uma
unidade de vinho.

Como Portugal precisa de menos horas de trabalho do que a Inglaterra


para produzir uma unidade de qualquer um dos bens, Portugal tem
vantagens em termos absolutos na produção dos dois bens. É mais
barato produzir vinho ou tecido em Portugal do que na Inglaterra.
Entretanto, relativamente ao vinho, é mais caro produzir tecido em
Portugal do que na Inglaterra e, relativamente ao tecido, é mais caro
produzir vinho na Inglaterra do que em Portugal.

Veja que uma unidade de vinho na Inglaterra custa 1,2 (120 ÷ 100)
unidade de tecido. Já em Portugal, uma unidade de vinho custa 0,89
(80 ÷ 90) unidade de tecidos. Portugal tem vantagem comparativa na
produção de vinho. Já o tecido custa 0,83 (100 ÷ 120) unidade de vinho
na Inglaterra e 1,13 (90 ÷ 80) unidade de vinho em Portugal. A Inglaterra
tem vantagens comparativas na produção de tecidos.

3.2 Vantagens do comércio internacional

De acordo com a teoria formulada por Ricardo, se cada um dos países se


especializar na produção do bem em que possui vantagem comparativa
e realizar trocas entre si, ambos obterão mais benefícios no consumo
dos bens do que se cada um deles produzir ambos os bens.

O argumento é válido, por exemplo, se você considera que a relação de


troca entre vinho e tecido seja de 1 para 1 em qualquer país. Ou seja,
para se conseguir uma unidade de vinho, é preciso se desfazer de uma
unidade de tecido e vice-versa. Na ausência de comércio, Portugal precisa
de 90 horas de trabalho para produzir uma unidade de tecido. Entretanto,
o país poderia usar apenas 80 horas de trabalho para produzir uma

128
128
unidade de vinho e trocá-la com a Inglaterra por uma unidade de
tecido. Portugal obteria a mesma quantidade de tecido, mas com uma
economia de 10 horas de trabalho.

Do mesmo modo, a Inglaterra poderia produzir uma unidade de


vinho utilizando 120 horas de trabalho se fosse isolada do comércio
internacional. Mas mantendo relação com Portugal para poder trocar
as mercadorias, a Inglaterra usa apenas 100 horas de trabalho para
produzir uma unidade de tecido e a troca por uma unidade de vinho,
economizando 20 horas de trabalho (VASCONCELLOS; GARCIA, 2017;
MANKIW, 2020).

Dessa forma, se Portugal se especializar na produção de vinho para


trocar com a Inglaterra, ele ganha o benefício de poupar horas de
trabalho que poderiam ser utilizadas na produção de mais vinho para
a troca por mais tecido ou para o próprio consumo. Portugal estaria
em melhores condições de consumo, em termos de quantidade, ao
trocar com a Inglaterra. No argumento do lado oposto, de acordo com
a teoria de Ricardo, a Inglaterra deveria se especializar na produção de
tecido para a troca internacional com Portugal. Nessa especialização,
a Inglaterra também teria um maior nível de consumo a partir do
comércio internacional.

A especialização leva o país a ser exportador dos bens em que possui


vantagem comparativa na produção e a ser importador dos bens em
que não possui vantagem comparativa. No exemplo clássico, a Inglaterra
seria exportadora de tecidos e importadora de vinhos e Portugal
exportador de vinhos e importador de tecidos.

ASSIMILE
Exportações são o somatório do valor de todos os bens
produzidos internamente em um país e vendidos no
exterior. Importações são o somatório do valor de todos os

 129
bens produzidos no exterior (resto do mundo) e comprados
por um país. Balança comercial é a diferença entre o valor
das exportações e o valor das importações de um país,
também chamada de exportações líquidas.

Saindo do exemplo clássico em que os bens têm qualidade idêntica, a


realidade das economias capitalistas contemporâneas permite perceber
que, além do aumento no volume do consumo, o comércio internacional
pode gerar uma maior variedade de bens e serviços disponíveis em
todos os países. É o comércio internacional que permite, por exemplo,
que os consumidores no Brasil comprem alfajor argentino, cerveja
alemã, carro japonês, computador americano e smartphone produzido
na China. Cada país produz uma diversidade de bens e serviços que
são diferentes entre si e entre os países no mundo, de maneira que as
relações comerciais permitem a troca dessa diversidade.

O comércio internacional ainda pode permitir maior concorrência


entre as empresas, de maneira que, quando o país abre suas
fronteiras ao comércio internacional, ele pode quebrar exclusividades
de mercado que determinada empresa pode possuir numa economia
fechada. Ademais, uma empresa pode obter ganhos de escala se
conseguir vender para fora do país em que está instalada. Isso
significa que, ao explorar novos mercados e aumentar o tamanho da
sua planta industrial, a empresa pode reduzir seus custos e produzir
mais, ofertando mais produtos a preços menores e a um mercado
maior. Todos os agentes econômicos poderiam ganhar com essa
economia de escala.

Além disso, argumenta-se que, ao realizarem transações entre si,


os países estão mais abertos a receber e mandar ideias, culturas
e informações para outros países, de modo que, abrindo suas
fronteiras econômicas, o desenvolvimento das nações, de modo
geral, poderia ser alcançado.

130
130
3.3 Argumentos contrários ao comércio internacional

A teoria das vantagens comparativas leva à defesa de que as trocas


internacionais trazem benefícios aos países participantes de acordo com
os argumentos elencados na seção anterior. Claro que, se um país se
especializar na produção do bem em que possui vantagem comparativa,
ele consegue ofertar esse bem de maneira mais eficiente que os demais
e obter algo que não conseguiria produzir, pelo menos de maneira mais
eficiente. Entretanto, uma das limitações é que a teoria não prevê as
mudanças estruturais pelas quais todos os países passam ao longo de
seu processo de desenvolvimento econômico e, em certo sentido, até
advoga de maneira contrária a esse movimento.

Imagine o caso do Brasil dos anos 1930, que possuía vantagens


comparativas na produção do café, por exemplo. O país produzia café
de maneira mais eficiente que os demais países, exportava o produto
para o resto do mundo e importava a maior parte dos bens de consumo
duráveis e semiduráveis. Você sabe que muita coisa mudou no país
desde os anos 1930 e que o Brasil produz desde café a nanotecnologia
nos dias atuais, por exemplo.

Será que se o Brasil se mantivesse especializado na produção de café


ou de outros gêneros alimentícios, dada a sua vantagem comparativa
na produção agrícola, ele conseguiria trocar esses bens por todos os
outros que não produz? Será que o país teria atingido um grau de
desenvolvimento maior do que conseguiu depois dos anos 1930?

Com certeza, a resposta a essas questões é negativa. Tanto por conta


da própria história do desenvolvimento econômico brasileiro quanto
pelos argumentos contrários ao livre comércio internacional e à
especialização dos países.

O primeiro e mais simples dos argumentos contrários ao livre


comércio internacional e à especialização diz respeito à destruição
dos empregos nos setores em que o país não possui vantagem

 131
comparativa. No exemplo clássico, a produção de vinho levaria os
trabalhadores portugueses das fábricas de tecidos a perderem o
emprego. Com o tempo, é possível que esses trabalhadores sejam
alocados em outras indústrias nas quais o país possui vantagem
comparativa, invalidando em parte o argumento. Mas poderia demorar
muito tempo até que esses os trabalhadores desempregados fossem
realocados. Dessa forma, alguma restrição ao comércio internacional
poderia limitar a destruição dos empregos, mas a liberdade comercial
poderia aumentar o padrão de consumo.

O segundo argumento contrário ao livre comércio e à especialização


do país diz respeito à proteção de uma indústria nascente. De acordo
com esse ponto de vista, é estratégico para o país limitar o comércio
no setor da atividade econômica em que ele quer se desenvolver.
Desenvolver e incentivar novos setores econômicos deixa o país
menos dependente de um único setor ou de poucos setores de
produção para exportação. O Brasil utilizou essa estratégia durante
seu processo de industrialização que, como os demais países da
América Latina, recebeu o nome de industrialização por substituição
de importação. Ou seja, os países estavam fechados ao comércio
internacional para desenvolver internamente o que era produzido no
exterior, reduzindo a dependência dos produtos vindos de fora.

PARA SABER MAIS


Industrialização por substituição de importações foi
um processo de industrialização pelo qual a maior parte
dos países da América Latina passou, notadamente após
a crise econômica mundial de 1929 e após os anos 1960.
Consistia basicamente em o governo fomentar a produção
interna dos bens que eram importados até então, de
maneira a desenvolver a indústria nacional e a reduzir a
dependência dos produtos vindos do exterior.

132
132
O argumento de se tornar menos dependente das trocas internacionais
vale para episódios como os da crise mundial de 1929 ou da Segunda
Guerra Mundial, em que o Brasil não conseguia importar bens e serviços
produzidos pelos países que estavam se recuperando desses episódios e
não tinham capacidade de produzir para exportar.

Além disso, a restrição comercial e a não especialização do país vale


também para o argumento em favor de uma menor dependência
do país com relação ao exterior, principalmente no que a Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) conceituou de
deterioração dos termos de troca durante os anos 1960 e 1970.
Segundo a Cepal, instituição que pensa o desenvolvimento econômico
da América Latina, os países produtores de bens primários (como
o café, ou vinho) perdem capacidade de troca internacional para
os países produtores de bens manufaturados (como o tecido ou os
eletrônicos). Se mantidos o livre comércio e a especialização das
economias, o aumento do padrão de consumo mundial implica o
aumento da demanda por bens manufaturados de maneira mais
que proporcional ao aumento da demanda por produtos agrícolas,
por exemplo. Quando os países se desenvolvem e a renda nacional
aumenta, o consumo nacional de celulares e de automóveis aumenta
mais que proporcionalmente ao consumo de arroz ou de óleo de soja.
Esse aumento incentiva a produção de mais manufaturados e favorece,
em termos de rendimentos, os países com vantagens comparativas
na produção desses bens. A contrapartida da relação é que os países
produtores de bens agrícolas precisariam produzir cada vez mais para
ter acesso aos bens manufaturados, justamente porque sua capacidade
de troca ou o valor dos bens primários ficaria cada vez menor quando
comparados aos bens manufaturados.

A livre comercialização e a especialização também suscitam o argumento


da concorrência desleal. A concorrência só seria justa, ou leal, se todos
os países participantes do comércio internacional produzissem sob as
mesmas condições, as mesmas regras, as mesmas leis e os mesmos

 133
tipos de instituições. Um exemplo bastante claro do argumento é o
de países em que há pouca ou nenhuma legislação trabalhista, ou em
que os trabalhadores têm poucos direitos, o que deixa a mão de obra
do país muito mais barata que a mão de obra no restante do mundo.
Os países com essas condições estariam concorrendo de maneira
desleal com os países em que a mão de obra é mais cara por conta da
legislação trabalhista e dos direitos dos trabalhadores. Para evitar essa
concorrência desleal, que destruiria os empregos do país com melhores
condições trabalhistas, seria justificável a imposição de restrições à
comercialização com os países com mão de obra mais barata.

Como você pode perceber, existe uma série de argumentos não


econômicos para a limitação da liberdade de um país entrar numa
relação internacional. Quando é decisão de um país desenvolver um
setor específico da atividade econômica, mesmo podendo obter o bem
ou serviço do exterior, trata-se de uma decisão política, relacionada
à soberania nacional, que tenta eximir o país de uma dependência
externa. Em contextos históricos específicos, os países se fecham às
relações internacionais para dar atenção às áreas que consideram
estratégicas para o desenvolvimento interno e, porventura, que possam
dar maior autonomia ou melhor inserção externa. Como explicado nos
parágrafos anteriores, os países da América Latina se utilizaram dessa
estratégia durante seu desenvolvimento econômico, mas outros países,
como a Coreia do Sul, se fecharam por um período considerável para
que, depois do desenvolvimento interno, se tornassem uma grande
potência econômica a partir dos anos 1980.

4. Fluxos internacionais e balanço de pagamentos

Os argumentos desenvolvidos sobre os custos e os benefícios de o


país se abrir para as relações internacionais, que foram desenvolvidos
na seção anterior, ficam ainda mais evidentes quando você considera
que os países não possuem apenas relações comerciais com o resto

134
134
do mundo. As relações comerciais são só apenas uma das diversas
formas que os países possuem de estabelecer relações econômicas
entre si. As demais são as relações financeiras, de movimentação de
valores de capital que os países estabelecem entre si. Essas relações
financeiras estão associadas, na sua maior parte, à compra de ativos
em determinado país por investidores residentes no resto do mundo.
É o que se chama de fluxo de recursos financeiros, fluxo de capitais
externos ou, ainda, movimentação de capitais.

Basicamente, essas relações acontecem de dois modos. O primeiro


modo é o investimento direto, em que o agente econômico residente
de um país executa um investimento no exterior. Se, por exemplo, uma
empresa brasileira abrir uma filial nos Estados Unidos, o Brasil está
fazendo um investimento direto externo nos Estados Unidos.
Se uma empresa americana abre uma nova fábrica no Brasil, a
economia brasileira está recebendo um investimento direto no país.
O segundo modo é o investimento em carteira, que ocorre quando o
residente de um país compra ações ou títulos públicos em outro país.
Se, por exemplo, os europeus compram ações da Petrobras, eles estão
realizando um investimento em carteira; no caso, compondo sua carteira
de investimentos com os ativos da empresa brasileira. De maneira
semelhante, se um brasileiro, ou uma empresa brasileira, ou um banco
brasileiro compra títulos públicos da dívida dos Estados Unidos, o agente
econômico em questão está realizando um investimento em carteira.
Esses fluxos de dinheiro, fluxos financeiros de aquisição e venda de
ativos no mercado internacional são os fluxos que representam a
movimentação financeira nos mercados globais.

Além dessas movimentações, ainda existem aqueles fluxos de


capital que ocorrem por meio de doações, transferências, ajudas
ou empréstimos internacionais ou de remunerações de fatores de
produção de propriedade de um país, mas que estão sendo utilizados
no exterior. Um exemplo deste último caso é o de uma filial de uma
empresa alemã operando no Brasil, que envia parte dos lucros à
Alemanha ou mesmo dividendos aos seus acionistas fora do Brasil.

 135
Todos os fluxos financeiros internacionais, sejam eles atrelados ao envio
de mercadorias ou à prestação de serviços, ou sejam eles estritamente
financeiros, que não estão atrelados ao envio de um bem ou serviço,
estão registrados contabilmente num dispositivo chamado de balanço
de pagamentos. A nomenclatura é praticamente autoexplicativa, pois
indica o balanço que se faz entre todos os fluxos que entraram e saíram
de um país especifico ao longo de um ano. Como os fluxos envolvem
movimentações financeiras, ou pagamentos, convencionou-se chamar o
instrumento de balanço de pagamentos.

ASSIMILE
Balanço de pagamentos é o instrumento com o registro
sistemático das transações econômicas de um país com o
exterior durante certo período de tempo. São registrados
todos os fluxos de exportações, importações, fretes,
seguros, empréstimos, doações e investimentos que um
país realiza com o resto do mundo.

No balanço de pagamentos de um país existem quatro contas: balanço


em transações correntes, conta capital, conta financeira e a conta
erros e omissões.

O balanço em transações correntes é a mais conhecida do público em


geral, pois nela estão registradas a balança comercial, que se refere
ao fluxo de exportações e importações de bens tangíveis, e a conta
de serviços, que inclui fretes, seguros, gastos com turismo, transporte
e serviços governamentais (embaixadas). Além delas, estão também
no balanço de transações correntes as rendas primárias e as rendas
secundárias. As primeiras referem-se à remuneração dos fatores de
produção utilizados no país, mas que são de propriedade de outro
país, ou seja, referem-se ao pagamento de juros, lucros e dividendos,

136
136
assistência técnica, royalties, salários e ordenados. Já as segundas, as
rendas secundárias, referem-se ao movimento de donativos entre o país
e o exterior. A Tabela 14 abaixo indica uma representação genérica do
balanço de transações correntes.

Tabela 14 – Balança de transações correntes

Fonte: elaborada pelo autor.

Os itens 1 e 2 da Tabela 14 correspondem ao saldo do envio e do


recebimento de recursos, que também é conhecido como transferência
líquida de recursos ao exterior (TLRE). Já os itens 3 e 4 são a renda
liquida enviada ao exterior, pois são os saldos de todas as rendas
enviadas para o exterior menos as rendas recebidas do exterior.

A segunda conta do balanço de pagamentos se refere à conta


capital, ou seja, a conta que contabiliza as transferências unilaterais
de ativos reais, financeiros e intangíveis entre residentes do país
e não residentes. Basicamente, a conta capital envolve direitos de
propriedade sobre ativos e não a renda gerada a partir desses ativos.
Tais direitos são de dois tipos: as transferências de bens não financeiros
não produzidos, ou seja, a cessão de patentes e direitos autorais sem
contrapartida financeira; e as transferências unilaterais de capital que
incluem ativos reais e financeiros.

Já a conta financeira registra os fluxos decorrentes de transações com


ativos e passivos financeiros entre residentes e não residentes do país.
Estão nessa conta, além dos investimentos diretos e dos investimentos
em carteira, cujos exemplos você já viu nos parágrafos anteriores, os
derivativos, os outros investimentos e os ativos de reserva. No caso dos

 137
derivativos, a conta registra os pagamentos ou recebimentos
das operações relacionadas ao mercado futuro de títulos e ações.
A conta “outros investimentos” abriga os financiamentos internacionais,
as moedas e os depósitos (por exemplo, os depósitos em caução),
os créditos comerciais (como os créditos para exportadores), os
empréstimos diretos, o financiamento de importações, entre outros
ativos e passivos. Por fim, os ativos em reserva englobam o ouro
monetário (ouro em barras, por exemplo), a posição (resultado de ativo
menos passivo) do país junto ao FMI, os títulos e depósitos que o país
tem em outras moedas internacionais, dólar ou euro, por exemplo.

Por fim, a conta “erros e omissões” existe devido aos equívocos no


registro das operações. Ela representa a diferença entre o saldo do
balanço de pagamentos e o financiamento do resultado, ou seja,
surge quando se tenta compatibilizar transações físicas e financeiras
e as várias fontes de informações sobre os dados internacionais
(como Banco Central, Departamento de Comércio Exterior e Receita
Federal). A soma das quatro contas fornece o resultado do balanço de
pagamentos que, por definição, é zero.

Tabela 15 – Representação sintética do balanço de pagamentos

Fonte: elaborada pelo autor.

O resultado do balanço de pagamentos é zero porque o registro


das transações é feito pelo método das partidas dobradas, ou seja,
toda transação gera um crédito que é a contrapartida de um débito
executado, como é na contabilidade convencional. Um modo simples
de entender é que, para importar um produto dos Estados Unidos, por
exemplo, a pessoa envia o dinheiro (débito/passivo) e recebe o produto

138
138
(crédito/ativo). Para o país como um todo, o agregado dos agentes
econômicos que importaram produtos do resto do mundo fez com que
o país enviasse, como um todo, dinheiro para o exterior e recebesse os
produtos importados.

A convenção para o registro das contas no balanço de pagamentos dos


países que adotaram a 6ª Edição do Manual do FMI (IMF, 2009) é dada
pela Tabela 16 abaixo.

Tabela 16 – Convenção do registro das contas no balanço de pagamentos

Fonte: adaptada de Banco Central do Brasil (2014).

Levando em conta a convenção apresentada pela Tabela 16 acima,


os países, como o Brasil, registram suas transações econômicas
com o resto do mundo e contabilizam seu balanço de pagamentos.
O que ainda precisa ser destacado é que, apesar de, muitas vezes, as
transações envolverem o envio ou o recebimento de bens ou ativos
tangíveis de um país para o outro, o registro é feito em termos de
valor monetário, na moeda usada na maior parte das transações
internacionais, ou seja, o dólar dos Estados Unidos. Para completar
seu aprendizado sobre os princípios de economia internacional, resta
apenas discutir o conceito de taxa de câmbio.

 139
5. Taxa de câmbio

A taxa de câmbio nada mais é do que a relação entre a moeda de


um país e a moeda de outro país, ou seja, a relação pela qual você
consegue trocar reais (R$) por qualquer outra moeda do mundo.
Para praticamente todas as moedas importantes, como o dólar, o
euro, o iene, a libra, etc., existe uma taxa de câmbio expressa em
reais (R$). Entretanto, em se tratando da compatibilização das contas
do balanço de pagamentos, é comum que a relação sempre seja
expressa em reais por dólares dos Estados Unidos (US$) porque o
dólar é a moeda mais usada nas transações internacionais. A taxa de
câmbio (E) nada mais é que:

No caso do Brasil, desde a estabilização da inflação a partir do Plano


Real, em 1994, a taxa de câmbio R$/US$ já oscilou entre 0,83 a 4,201,
indicando os períodos em que a moeda brasileira valia mais do que a
moeda dos Estados Unidos, no primeiro caso, e menos do que a moeda
estrangeira no segundo. Mas por que essas variações?

As variações dos valores das moedas, quando comparadas com outras


moedas do mundo, dependem, em primeiro lugar, da importância
da moeda. Moedas usadas com mais frequência nas transações
internacionais ou moedas de grandes economias costumam ter um
valor mais alto que as demais. O dólar, o euro, a libra ou o iene valem
mais que o real e o peso argentino justamente por isso.

Outro motivo que determina as variações das taxas de câmbio é o


regime cambial do país em questão. De modo geral, os países podem
ter um câmbio fixo ou um câmbio flutuante. No câmbio fixo, como
foi o caso, por exemplo, do Brasil na introdução do real, o governo

A taxa de câmbio livre de mercado atingiu o valor de 0,829 em 14 e 17/10/1994 e o valor de 4,195 em
1

24/9/2015. Dados das Séries Estatísticas do Banco Central do Brasil.

140
140
determina a taxa de câmbio e garante que vai trocar a moeda do
país pela moeda externa naquele valor. Ou seja, se o câmbio
R$/US$ é 1,0, o governo brasileiro troca R$ 1,00 por US$ 1,00 sempre
que algum agente requerer. Nos regimes de câmbio fixo, o país
precisa conseguir a moeda externa de alguma forma, seja exportando
mercadorias, emitindo dívidas ou tomando emprestado de organismos
internacionais. Já nos regimes de taxa flutuante, é a movimentação das
transações internacionais que garante o nível da taxa de câmbio.
No caso brasileiro, que adota o regime do câmbio flutuante desde
1999, a entrada de dólares no país deixa o real valendo mais
relativamente ao dólar e a saída de dólar do país deixa o real valendo
menos relativamente ao dólar.

No caso em que o Brasil aumente suas exportações ou receba muito


investimento externo no país, existe uma massa de valores em dólar
que estão entrando na economia. Se o governo não muda a quantidade
de reais em circulação, com um aumento de dólares para cada real que
existe em circulação na economia brasileira, há uma valorização do
real, ou seja, o real passa a valer mais que o dólar, como, por exemplo,
quando se precisava apenas de R$ 0,83 para comprar US$ 1,00. No caso
oposto, quando o Brasil importa muitos bens e serviços, quando os
investidores internacionais retiram seus dólares do Brasil ou quando
o Brasil envia, por algum outro motivo, dólares ao exterior, há uma
desvalorização da moeda, pois há menos dólares aqui para cada real
em circulação. Outra forma de dizer o mesmo é que se precisa de mais
reais para comprar os dólares. Esse é o caso, por exemplo, de quando o
câmbio se desvalorizou e chegou a R$ 4,20 para comprar R$ 1,00.

Agora que você já aprendeu os princípios básicos que levam os países


a estabelecerem transações econômicas entre si, os conceitos para o
registro dessas transações no balanço de pagamento, além dos tipos
de regimes cambiais e da determinação da taxa de câmbio no mercado,
fica muito mais fácil entender e analisar as relações econômicas que o
Brasil tem com o resto do mundo.

 141
TEORIA EM PRÁTICA
Você foi contratado como analista do setor externo do
Banco Central do Brasil e seu cargo exige que você faça
atualizações diárias nos registros do balanço de pagamento
do país. Ao fim de um dia de pouca movimentação
nas relações internacionais do país, foram registradas
exportações no valor de US$ 100 milhões e importações
no valor de US$ 80 milhões. Além disso, o país recebeu
US$ 20 milhões em dólares de empréstimos externos e
donativos no valor de US$ 5 milhões. Houve também uma
remessa de lucros das empresas instaladas aqui, mas que
possuem matrizes no exterior, no valor de US$ 8 milhões,
amortizações pagas de dívidas externas no valor de
US$ 10 milhões e juros das dívidas de US$ 20 milhões.
Por fim, houve investimento externo no país no valor
de US$ 30 milhões. Dadas essas informações, você
precisa registrar no balanço de pagamentos toda essa
movimentação de recursos do país com o resto do mundo.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Dada a possibilidade do comércio internacional, um país


geralmente exporta o bem em que:

a. Possui vantagem mínima na produção.

b. Outros países têm vantagem absoluta na produção.

c. Possui vantagem comparativa na produção.

142
142
d. Outros países possuem vantagem comparativa
na produção.

e. Possui vantagem comparativa e absoluta na produção.

2. Pedro e Lucas estão se associando para lavar os carros


e cortar a grama das casas da vizinhança em que
moram. Pedro consegue lavar um carro em 2 horas e
aparar a grama em 1 hora. Já Lucas consegue lavar o
carro em 3 horas e aparar a grama em 1 hora. Qual é a
melhor combinação para que ambos possam usar suas
vantagens comparativas no empreendimento?

a. Pedro lava o carro e Lucas corta a grama.

b. Pedro corta a grama e Lucas lava o carro.

c. Pedro lava o carro e corta a grama.

d. Lucas lava o carro e corta a grama.

e. Lucas e Pedro lavam o carro e cortam a


grama sozinhos.

3. Um país que não permite o comércio internacional tem


o preço doméstico da produção de etanol menor do
que o preço internacional. Dessa forma, seria correto
afirmar que:

a. O país possui vantagem absoluta na produção do


etanol e se tornaria um importador do produto caso
se abrisse ao comércio internacional.

b. O país possui vantagem comparativa na produção do


etanol e se tornaria um importador do produto caso
se abrisse ao comércio internacional.

 143
c. O país não possui vantagem absoluta na produção e é
melhor continuar fechado ao comércio internacional.

d. O país não possui vantagem comparativa, mas é


melhor abrir ao comércio internacional para exportar
o produto.

e. O país possui vantagem comparativa na produção


e se tornaria um exportador caso se abrisse ao
comércio internacional.

Referências bibliográficas
INTERNATIONAL MONETARY FUND (IMF). Balance of payments and international
investment position manual. International Monetary Fund, 6. ed. Washington,
D.C: 2009.
MANKIW, N. G. Introdução à economia. Tradução da 8. edição norte-americana.
São Paulo: Cengage Learning, 2020. 
VASCONCELLOS, M. A. S; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 5. ed.
São Paulo: Saraiva, 2017.

Gabarito
Questão 1 – Resposta C
Resolução: se o país possui vantagem comparativa na produção de
um bem, ele se tornará exportador desse bem.
Questão 2 – Resposta B
Resolução: se utilizarem as vantagens comparativas para realizar o
trabalho, essa é a melhor combinação.
Questão 3 – Resposta E
Resolução: tendo um preço mais baixo que o preço no mercado
internacional, é provável que o país se torne um exportador do
produto por possuir vantagens comparativas.

144
144
Macroeconomia aplicada: preços
e políticas macroeconômicas
Autor: Flávio Arantes

Objetivos

• Aprender os principais preços macroeconômicos,


que são os parâmetros para as decisões dos
agentes econômicos em qualquer economia.

• Discutir a relação entre esses preços e a


capacidade de o governo realizar políticas
macroeconômicas para atuar na economia
conforme os objetivos traçados.

• Analisar como essas relações ocorrem no caso


específico do Brasil, que pauta suas políticas
macroeconômicas a partir de um regime de
metas de inflação.

 145
1. Introdução

Nesta leitura, você vai aprender os principais conceitos com relação


aos preços macroeconômicos existentes e com relação às políticas
econômicas que podem ser levadas a cabo pelo governo. Além disso,
você também vai aprender como a política macroeconômica é realizada
atualmente no Brasil, além de analisar suas origens e discutir suas
propostas e seus efeitos sobre variáveis como inflação, PIB e emprego.

Os preços macroeconômicos são aqueles que todos os agentes levam


em consideração para balizar suas escolhas, tomar suas decisões e
atuar na economia. São também o reflexo do conjunto de ações de
todos os agentes num determinado momento econômico. As políticas
macroeconômicas são instrumentos que o Estado possui para atuação
na economia, seja essa atuação direta, quando o próprio governo age
nas variáveis econômicas, seja essa atuação indireta, quando o governo
incentiva o setor privado a atuar.

Após esta leitura, você estará apto a discutir as questões


macroeconômicas de maior relevância no país e analisar os debates
econômicos que ocorrem entre os formuladores de políticas públicas.

2. Preços macroeconômicos

Na economia contemporânea, os agentes econômicos (empresas,


famílias, governo, agentes internacionais...) estão a todo o momento
analisando o ambiente econômico em que atuam, balizando suas
escolhas e tomando suas decisões com base em algum tipo de
comparação. Mesmo que de maneira inconsciente, você sempre está
comparando o que tem, o que quer ter ou o que precisa com alguma
alternativa à sua disposição. De maneira geral, tal comparação leva
em consideração fatores como valor, necessidade, tempo, retorno

146
146
financeiro, retorno em termos de bem-estar e uma infinidade de outros
parâmetros cuja lista ficaria enorme para discorrer aqui. No fundo, a
ideia é que, inconsciente ou conscientemente, você sempre leva em
consideração uma referência, um parâmetro, uma variável ou algum
outro critério que julga conveniente nas suas escolhas.

Enquanto consumidor, quais são as variáveis, os parâmetros ou


referências que, consciente e inconscientemente, você leva em
consideração para tomar suas decisões? E se você for empresário?
Essas variáveis mudam?

Grosso modo, você não está cometendo nenhum grande erro se disser
que, basicamente, o preço é a principal variável econômica utilizada
como parâmetro para a tomada de decisões por parte dos agentes.
Afinal de contas, quando você compra alguma coisa, você paga o preço
pelo que comprou o bem. Quando recebe o salário, está recebendo o
preço da sua mão de obra multiplicado pelo tempo trabalhado.
Os investimentos que executa também são baseados em preços.

De todos os preços possíveis e imagináveis na economia como um todo,


três deles, em especial, podem ser considerados como fundamentais
nas análises macroeconômicas. São eles:

a. O(s) índice(s) de preços, propriamente dito(s), que mede(m) a


inflação da economia, como o IPCA, o IGP, o IPC, entre outros.

b. A taxa de juros, por ser o preço que se paga pelo dinheiro ou,
como os economistas gostam de afirmar: por ser o preço pela
renúncia da liquidez.

c. A taxa de câmbio, por ser o preço de uma moeda em relação a


uma moeda estrangeira, o que, no caso do Brasil, é o preço do
dólar, do euro da libra esterlina (ou de qualquer outra moeda
estrangeira) em reais.

 147
Essas três variáveis-chaves da macroeconomia, esses três preços
macroeconômicos, estão sempre na mídia e sempre são motivos de
muita discussão no país. Mas, afinal, por que se fala tanto em inflação,
taxa de juros, e taxa de câmbio no Brasil?

Em primeiro lugar, porque inflação, juros e câmbio são os principais


parâmetros macroeconômicos avaliados por parte de todos os agentes
econômicos para a tomada de decisões, mesmo que de maneira
inconsciente. Quantas vezes você não se perguntou: vale a pena tomar
empréstimo hoje? Ou devo esperar mais um pouco? Devo trocar de
carro hoje ou no próximo mês ou no próximo ano? É possível viajar
para o exterior? Consigo comprar as matérias-primas que minha
empresa precisa no momento?

Em segundo lugar, porque essas variáveis estão intimamente


relacionadas. A taxa de juros influencia diretamente a taxa de câmbio
e, “quase diretamente”, a inflação da economia. A taxa de câmbio
influencia a inflação e, às vezes, influencia a taxa de juro. Já a inflação
influencia os movimentos na taxa de juros e na taxa de câmbio
(real) do país.

Em terceiro lugar, mas não menos importante, porque esses três


preços-chaves da macroeconomia estão intimamente relacionados à
política econômica adotada no país. Como você verá mais adiante nesta
leitura, desde 1999, pelo menos, o governo brasileiro pauta sua política
econômica por um regime que busca atingir uma meta para a inflação,
baseado numa política na qual o câmbio flutua (ou seja, não tem uma
taxa fixa) e em que a taxa de juros é a variável que o governo administra
para atingir seus objetivos. Antes, contudo, de passar a essas discussões,
é preciso assimilar bem os conceitos.

2.1 Preços versus inflação

Qual a diferença entre preços e inflação?

148
148
ASSIMILE
Preço: “em sentido amplo, o conceito expressa a relação
de troca de um bem por outro. Em sentido mais usual e
restrito, representa a proporção de dinheiro que se dá em
troca de determinada mercadoria, constituindo, portanto,
a expressão monetária do valor de um bem ou serviço”
(SANDRONI, 1999, p. 487-488).

O aumento persistente dos preços com relação ao patamar anterior


é denominado inflação, enquanto a redução dos preços com relação
ao período anterior é chamada de deflação. De modo geral, a inflação
em um período t é calculada como a variação do nível de preços
naquele período com relação ao nível de preços no período anterior,
ou seja, em t – 1:

Em que a π é a inflação (ou deflação, se o resultado for negativo)


no período t e P o nível de preços, ou o índice de preços, em
determinado período.

Dessa forma, enquanto o preço é uma medida em um momento


específico (uma foto), a inflação é uma taxa que mede a variação dos
preços em dois ou mais momentos (como um filme, contínuo).

Sendo assim, qual a diferença, então, entre aumento dos preços e


aumento da inflação?

O aumento dos preços indica que um bem ou um serviço está mais


caro de um período para o outro. Já o aumento da inflação indica que
a taxa de aumento dos preços desse bem ou serviço é maior de um
período para o outro. Veja um exemplo simples para ajudar na fixação

 149
do conceito: imagine que uma cesta básica no período t custa R$ 110,00.
Mas essa mesma cesta básica poderia ser adquirida por R$ 100,00 no
período t – 1, ou seja, no mês ou no ano passado. Qual foi o aumento de
preços da cesta básica? E qual foi a inflação no período?

O aumento de preços é fácil de perceber, pois é R$ 10,00 (110 –


100 = 10). Já o aumento de inflação pode ser calculado usando a
seguinte fórmula:

Ou seja, você pode dizer que a inflação no período foi de 10% ou que o
preço da cesta básica aumentou em 10%.

Agora imagine que, no mês seguinte (t + 1), a cesta básica aumentou


para R$ 130,00. Qual a inflação do período? Usando a mesma lógica:

Assim, a inflação da cesta básica foi de 18,2% ou o aumento do preço


da cesta foi de 18,2%. Veja que, nesse caso, a inflação foi maior que no
momento anterior, pois 18,2% é maior que 10%. Nesse caso, você pode
afirmar que a taxa de inflação aumentou, pois o preço da cesta básica
aumentou num ritmo maior que o ritmo de aumento anterior.

Quando o governo diz que a inflação da economia aumentou é porque


a taxa de aumento dos preços está maior que a taxa de aumento no
período anterior. Os preços continuam aumentando, num ritmo maior
que o anterior. Um último exemplo fixa ainda mais o conceito: imagine
que, em vez de subir para R$ 130, a cesta básica subiu para R$ 121,00.
Qual a inflação do período?

A inflação, nesse caso, foi de 10%, ou seja, você pode dizer que os preços
aumentaram em R$ 11,00 ou que a taxa de aumento dos preços foi de

150
150
10%. Mas essa taxa de aumento é a mesma que a taxa de aumento no
período anterior, de 10%. A inflação não aumentou no período, mas
ficou estável em 10%. Houve um aumento dos preços, mas a inflação
não aumentou. Assim, sempre que há um aumento na inflação é porque
a taxa de aumento nos preços é maior de um período para o outro.

2.2 Preços e índices de preços

Para medir a inflação de um país, os órgãos responsáveis geralmente


levam em consideração os índices de preços, ou seja, medidas que
captam a variação dos preços (gerais da economia) em períodos
determinados. A lógica é a mesma do exemplo discutido anteriormente,
da variação de uma cesta básica de um período a outro. A diferença é
que as cestas nos índices de preços são muito mais complexas e levam
em consideração uma gama de produtos distintos, conforme o índice
adotado e a região do país em consideração.

Geralmente, a instituição fixa ou determina uma cesta de bens de


consumo padrão em determinadas regiões do país e, todo mês, ou a
cada 15 dias, ou a cada período determinado, a instituição responsável
coleta os preços referentes àquela cesta e mede a sua variação, mais
ou menos como nos exemplos. A partir de um mês de referência, o
índice é calculado e as análises sobre as variações dos preços são feitas.
A variável chama índice porque o mês de referência é tido como 100.
Da mesma forma que nos exemplos anteriores, se houve uma variação
de 10% na inflação de um mês para o outro, o índice passa a 110.
Ou, se os preços caíram 5% no geral, o índice de preços passa a 95.
Isso evita fazer contas com números muito grandes e padroniza todas as
cestas numa base. Mas vale mencionar que as instituições responsáveis
também apresentam as variações em termos percentuais.

Os dois índices mais usados no Brasil são o Índice Geral de Preços


ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), e o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), da

 151
Fundação Getúlio Vargas (FGV). O IPCA é o índice que mede a inflação
oficial do país e tem a base 100 em dezembro de 1993 e o IGP é o
índice que corrige a maior parte dos contratos realizados no país,
como os contratos de aluguéis, e tem como mês-base agosto de 1994.
Mas também são importantes outros índices, como o Índice Nacional
dos Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE, o Índice Nacional do
Custo da Construção (INCC), especializado na variação da inflação na
construção civil, da FGV, e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), mas que é restrito
ao custo de vida das famílias de São Paulo Capital.

2.2.1 Índice de Preços ao Consumidor Amplo

O IPCA mede a variação nos preços de produtos e serviços consumidos


pelas famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos nas regiões
metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte,
Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Brasília e no município
de Goiânia. O período de coleta dos preços vai do primeiro dia ao último
dia do mês corrente. Existe também o IPCA – 15, que tem a mesma
lógica do IPCA, mas cuja coleta é do dia 15 de um mês ao dia 15 do mês
seguinte. O IPCA é o índice oficial da inflação no Brasil.

2.2.2 Índice Geral de Preços

O IGP, por sua vez, abrange não só o consumo, mas também as etapas
do processo produtivo, e é composto por mais três índices: o Índice de
Preços ao Produtor Amplo (IPA), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC)
e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). Geralmente, o IGP
vem com um “sobrenome”, no caso, como IGP-M (mercado) ou o IGP-DI
(disponibilidade interna). No caso do IGP-M, os dados são coletados do
dia 21 de um mês ao dia 20 do mês seguinte e é o índice utilizado para
corrigir, junto com outros parâmetros, os contratos de energia elétrica
e de aluguéis no país. Já no IGP-DI, os dados são coletados do dia 1 ao
30 do mês em questão e o índice é utilizado para medir, por exemplo,
as dívidas dos estados com o governo federal.

152
152
2.3 O preço do dinheiro: a taxa de juros

Como você sabe, sempre que algum agente econômico toma dinheiro
emprestado no banco ou em uma instituição financeira, precisa pagar
o empréstimo em um determinado período, sendo a quantia paga
sempre superior ao que foi emprestado. Essa diferença entre a quantia
emprestada e a quantia paga, ou seja, os juros do empréstimo, é a
remuneração requerida pelo detentor original do recurso (do dinheiro)
para se desfazer dele pelo período determinado.

Na economia, é comum dizer que o dinheiro é o ativo mais líquido que


existe, ou seja, o ativo do qual você consegue se desfazer de maneira
mais rápida possível sem perder valor. Ou que você consegue trocar de
maneira mais rápida e sem perder valor por outro ativo de mesmo valor.

Parece um tanto abstrato o conceito, mas pense num exemplo prático.


Considere que você precisa de R$ 30.000 para dar de entrada numa
casa nova e que você possui um automóvel com o valor de mercado de
R$ 30.000. Se você quiser vender o carro por esse valor, provavelmente
vai conseguir, dependendo das condições em que ele se encontra.
Entretanto, a venda pelo valor de mercado pode demorar um tempo
maior que o que você esteja disposto a esperar. Se você quiser vender
um carro de R$ 30.000 de maneira rápida, provavelmente você vai
precisar baixar o preço dele, para talvez R$ 25.000 ou R$ 20.000. Você
vende o carro de maneira rápida, mas perde dinheiro na transação e
não consegue o suficiente para dar de entrada na casa. Entretanto, se
você tem R$ 30.000 em dinheiro na sua caderneta de poupança e quer
transformar esses R$ 30.000 na entrada da casa nova, você consegue
fazê-lo imediatamente sem perder nenhum valor. Os R$ 30.000
não precisaram se transformar de carro em dinheiro e de dinheiro
em entrada da casa própria. Já estavam na forma de dinheiro e se
transformaram de maneira imediata e sem perda de valor em entrada
da casa. Esse é o conceito de liquidez, um ativo se transformar em outro
de maneira rápida e sem perda de valor. Por isso, o dinheiro é o ativo

 153
mais liquido da economia, pois pode se transformar em qualquer outro
ativo rapidamente e sem perdas.

Como o dinheiro é líquido, para se desfazer dele, qualquer agente


econômico requer algum prêmio por isso. Esse prêmio pago ao agente
que se desfaz do dinheiro para cedê-lo a outro agente é chamado de
taxa de juros, ou prêmio pela renúncia da liquidez, como gostam de
falar os economistas.

A taxa de juros é o preço do dinheiro no mercado e seu parâmetro


principal é a taxa de juros que o governo paga para tomar emprestado
de todos os agentes econômicos. O motivo é muito simples. Se o banco
empresta o dinheiro a algum investidor, ele deve receber juros relativos
ao quanto espera que esse investidor fature no futuro, aos riscos
do empreendimento e ao risco de tomar um calote se o tomador do
empréstimo não pagar. Mas, além disso, para emprestar o dinheiro, o
banco deve levar em consideração algum parâmetro, como mencionado
no início desta leitura. No caso, o principal parâmetro levado em
consideração é a taxa de juros que o governo paga para quem empresta
para ele. Isso ocorre por meio da taxa de juros que o governo paga
sobre sua dívida pública. Ou seja, quando o governo emite um título de
dívida, na verdade, ele está tomando dinheiro emprestado dos demais
agentes da economia e promete um pagamento de juros de acordo com
uma taxa que ele mesmo, o governo, define.

Por definição, o governo não quebra e é o agente mais líquido do


sistema porque, em último caso, pode imprimir moeda para sanar
suas dívidas. Dessa forma, tendo em vista emprestar o dinheiro para
o governo e emprestar o dinheiro para um investidor ou um cidadão
comum, o banco faz uma ponderação de risco e retorno de cada um
dos empréstimos. Como o cidadão comum ou o investidor têm mais
riscos de quebrar do que o governo, a taxa de juros cobrada pelo banco
para emprestar ao agente comum tende a ser maior que aquela que o
governo oferece para quem compra suas dívidas. Assim, a taxa de juros

154
154
estabelecida nos títulos de dívida pública do governo é o parâmetro das
taxas de juros cobradas no mercado como um todo.

No Brasil, a taxa de referência ou de parâmetro das taxas de juros da


economia é chamada de taxa Selic. Essa taxa é a que garante o ajuste
dos balanços dos bancos ao final de um dia de operação. A lógica é a
seguinte: no fim do expediente, alguns bancos detêm mais dinheiro do
que gostariam de deter nas suas carteiras. Dinheiro parado representa
juros perdidos pelos bancos, mesmo que de um dia para outro. Além
disso, muito dinheiro no mercado tende a diminuir o preço dele,
ou seja, tende a diminuir a taxa de juros do mercado. Para que isso
não aconteça, o governo garante que vai “comprar” todo o dinheiro
que está no mercado interbancário ao fim do dia e pagar uma taxa
determinada para que os bancos se desfaçam do dinheiro e recebam
um título de dívida em troca, que paga juros. Essa taxa é a Selic do dia.
Assim, entre ficar com o dinheiro parado no caixa sem receber juros
e emprestar para o governo e ganhar um retorno, os bancos acabam
emprestando para o governo, mesmo que durante um dia (ou uma
noite). Essas operações, geralmente, se desfazem no dia seguinte, ou
seja, a troca é refeita no dia seguinte conforme os bancos precisam de
liquidez, ou seja, duram apenas uma noite e, por isso, são conhecidas
como operações de overnight.

PARA SABER MAIS


Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e
de Custódia (Selic), do Banco Central do Brasil, que
se baseia num sistema informatizado destinado à
custódia de títulos de dívida do governo, ao registro
das operações com esses títulos e à liquidação de
operações com esses títulos (Fonte: adaptado de
Banco Central do Brasil).

 155
A taxa Selic, apurada nesse mercado interbancário intermediado pelo
Banco Central (BC) do Brasil, acaba sendo a principal referência para
todas as transações que envolvem empréstimos entre os agentes
econômicos no país.

2.4 O preço internacional do dinheiro: taxa de câmbio

A taxa de câmbio nada mais é que uma relação de troca entre a moeda
local e uma moeda estrangeira. Ou, dito de outra forma, o preço
internacional da moeda, pois mostra o quanto a moeda de um país vale
em termos da moeda de outros países. No caso brasileiro, geralmente se
compara o real (R$) com o dólar dos Estados Unidos (US$) e o euro (€) da
União Europeia, as duas moedas mais fortes no mercado internacional.

A taxa de câmbio é utilizada nas relações que o país tem com o resto
do mundo, sendo as mais evidentes e comuns aquelas relacionadas à
importação e exportação de bens e serviços. Além da importação e da
exportação, há também o gasto com o turismo, seja de brasileiros no
exterior, seja de estrangeiros no Brasil, os envios ou recebimentos de
recursos por meio da conta financeira do país, onde estão registrados
os investimentos feitos no exterior ou recebidos do exterior, a remessa
ou o recebimento de lucros ou, ainda, outros movimentos de capitais
internacionais. Tomando como exemplo a relação da moeda brasileira
com o dólar, a taxa de câmbio é definida como:

Em que E vem do inglês exchange (troca).

A relação pode ser interpretada como a quantia de reais que são


necessários para se adquirir um dólar no mercado internacional. O Brasil
adota um regime de câmbio flutuante, ou seja, o preço da moeda local
está ora mais alto, ora mais baixo com relação à moeda estrangeira.

156
156
A mídia e os economistas em geral usam os termos valorização e
desvalorização do dólar ou do real para tratar desses movimentos.
Assim, quando o real está mais barato que o dólar, é correto afirmar que
o dólar está valorizado e o real desvalorizado. Num exemplo genérico,
se o câmbio passasse de R$/US$ = 2,00 para R$/US$ = 3,00, diz-se que o
real se desvalorizou e, no caso oposto, de 3 para 2, por exemplo, diz-se
que o real se valorizou, ou que a taxa de câmbio se valorizou.

Sempre que há entrada de dólares no Brasil, aumenta a quantidade


de dólares por real no país, e a relação R$/US$ diminui. Com mais
dólares dentro do Brasil, mais “barato” fica o dólar ou, alternativamente,
mais “caro” fica o real: para cada real que você possui, você consegue
comprar mais dólares. Da mesma forma, quando há saída de dólares
da economia, há menos dólares por real, e o dólar fica mais “caro”.
Assim, o câmbio valorizado significa que a relação R$/US$ está baixa
(1 para 1, por exemplo) e o câmbio desvalorizado implica uma relação
R$/US$ alta (3/1, por exemplo).

Mas o que causa esses movimentos de valorização e desvalorização


da taxa de câmbio? Em primeiro lugar, a entrada e saída de dólares
(ou a entrada e saída de outra moeda internacional) se dá por meio
das transações correntes do país com o resto do mundo, ou seja,
basicamente por meio das importações e exportações de bens e
serviços e do envio para o exterior ou do recebimento do exterior
de rendas diversas (como pagamento de juros, lucros e dividendos,
assistência técnica, royalties, salários e donativos). Em segundo
lugar, pelos movimentos no mercado financeiro, como a entrada de
capital estrangeiro para movimentações na bolsa de valores ou para
investimentos diretos no país, por exemplo.

Com câmbio flutuante, teoricamente, o país, por meio do BC, não


interfere na taxa de câmbio, deixando seus movimentos serem
determinados pelo mercado. Na prática, entretanto, BC intervém
na determinação do câmbio, quando avalia que a taxa está muito

 157
valorizada, para que o setor de exportação não se prejudique,
por exemplo, ou quando está muito desvalorizada, para que as
importações não fiquem mais caras, por exemplo. Mas existe uma
série de outras razões pelas quais o BC intervém no mercado de
câmbio e não só nele, mas na economia como um todo. Essas
intervenções são uma parte da prerrogativa de que o governo tem de
atuar na economia quando julga necessário. De maneira geral, essas
intervenções são chamadas de políticas macroeconômicas, como você
vai discutir na sequência desta leitura.

3. Políticas macroeconômicas

De maneira geral, as políticas macroeconômicas são o conjunto de


todas as ações que o governo executa com vistas a influenciar a
economia do país. Essas ações são baseadas em medidas que podem ter
impacto direto ou indireto na economia, estimulando ou restringindo o
crescimento do país, a geração de emprego e o nível da inflação.

Medidas diretas são aquelas que têm impacto imediato sobre a


economia. Exemplos dessas medidas são quando o governo executa
um pacote de redução de impostos sobre produtos industrializados
ou quando empresta dinheiro para algum banco com problemas
financeiros. Em ambos os casos, os agentes econômicos são afetados de
maneira direta, seja porque a redução do imposto deixa os bens mais
baratos e facilita a compra pela população, seja porque o empréstimo
realizado ao banco, efetivamente, injeta dinheiro no caixa da instituição.

Medidas indiretas são aquelas que podem influenciar o


comportamento dos agentes econômicos e, a partir daí, influenciar
a economia. Quando, por exemplo, o BC reduz a taxa Selic, a intenção
é de que todas as demais taxas de juros da economia também se
reduzam, pois, como você viu na seção anterior, a Selic é o parâmetro de
referência para as demais taxas. Assim, ficando mais barato emprestar

158
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para o governo, em teoria, os empréstimos ao público em geral também
devem ficar mais baratos. Veja que o impacto do governo na economia
é indireto porque os bancos podem simplesmente não emprestar o
dinheiro para o público em geral, mesmo que as taxas de juros estejam
mais baixas. Outro exemplo é quando o governo reduz um imposto
sobre a folha de pagamento das empresas com o intuito de que elas,
menos oneradas, possam contratar mais mão de obra. O impacto na
economia é indireto, pois depende das intenções das empresas de
empregar mais pessoas, a despeito da redução do imposto.

Geralmente, a política econômica (ou macroeconômica) de um país


pode ser vista pelas ações relacionadas à sua política monetária,
à sua política fiscal e à sua política cambial. Desde 1999, a política
macroeconômica do Brasil é pautada por uma política monetária
baseada no ajuste da taxa Selic pelo BC, uma política fiscal baseada na
busca por resultados positivos nas contas públicas (superávit primário)
e por uma política cambial em que a taxa de câmbio flutua conforme os
movimentos do mercado.

Por um lado, essas três políticas econômicas são frutos de uma forma
específica de se enxergar o papel do governo na economia: a de que
o governo deve indicar aos agentes econômicos do setor privado
as condições atuais e futuras da economia para que estes agentes
possam tomar suas decisões com certa segurança. Por outro lado,
as políticas também são fruto da estratégia do Plano Real que, ao
superar o problema das altas taxas de inflação na economia brasileira,
requereu um regime que garantisse sua manutenção em níveis baixos.
Esse regime ganhou o nome de metas de inflação.

No regime de metas de inflação, o país toma a maior parte de suas


medidas de política econômica para que a inflação não saia do limite
estabelecido. Logo que tal regime foi implantado no Brasil, em 1999,
a meta para a inflação medida pelo IPCA era de 8%, com um limite de
tolerância de +2 pontos percentuais (p.p.) ou -2 p.p., ou seja, o IPCA
poderia registrar 6% ao ano (a.a.) ou 10% a. a. que a meta estaria sendo

 159
cumprida. Pela maior parte dos anos seguintes, entre 2005 e 2016,
a meta foi 4,5% a.a. com os mesmos intervalos de +2 p.p. ou -2 p.p.
A partir de 2017, o intervalo de tolerância caiu para 1,5 p.p. e a meta
prevista para o IPCA de 2022 é de 3,5% a.a.

Para atingir as metas de inflação, a principal política utilizada é a


política monetária e a principal ferramenta é o ajuste da taxa Selic,
que também pode ser chamada de taxa básica de juros da economia.
Mesmo que a política monetária seja a principal, a política fiscal e o
regime cambial implantado no país cumprem papéis fundamentais no
regime de metas de inflação.

3.1 Política monetária

Como já discutido em seções anteriores desta leitura, a taxa básica de


juros serve como referência para as demais taxas de juros do sistema
financeiro. É a taxa Selic que o mercado interbancário utiliza nas suas
operações de fechamento de balanço no final do dia e para ajustar seus
níveis desejados de liquidez. Em teoria, a taxa Selic também serve como
parâmetro para que os investidores avaliem se vale a pena executar
determinado investimento. Isso porque o investidor pode imobilizar seu
dinheiro em um empreendimento que contém riscos, incertezas e um
determinado retorno previsto, ou emprestar seu dinheiro ao governo, ou
seja, investir em títulos públicos, que têm maior liquidez, menores riscos
e retorno garantido. O que vai definir sua opção, grosso modo e em
termos quantitativos e objetivos, é o retorno previsto das alternativas
que o investidor possui. Fora os aspectos objetivos, o investidor pode
ter algo subjetivo que o leva a decidir por um empreendimento que não
seja necessariamente o de maior retorno ou o mais líquido. Mas, em
todos os casos, os títulos públicos remunerados pela taxa Selic são uma
das principais opções à disposição dos investidores no geral.

Para a determinação geral dos investimentos na economia, os


investidores e o sistema financeiro entram em negociação. Do lado dos

160
160
investidores, a taxa Selic funciona como parâmetro para a realização
de um investimento e também influencia o custo do capital. Do lado
do sistema financeiro, é o “ponto de partida” para os empréstimos de
diversos setores. A partir das negociações entre o sistema financeiro e os
investidores e do nível da taxa básica de juros, a quantidade de crédito
é determinada na economia. Claro que, na determinação do crédito,
de maneira específica, entram as peculiaridades de cada instituição
financeira (se é um banco de investimento, um banco comercial ou
uma instituição de fomento) e suas relações com os diversos tipos de
clientes (por exemplo, pessoas físicas ou jurídicas, grandes ou pequenas
empresas, investidores nacionais ou estrangeiros, etc.).

Teoricamente, quanto mais baixa a taxa Selic, maior é a oferta de


crédito da economia, pois o parâmetro das taxas de juros está mais
baixo e, assim, teoricamente, é mais fácil emprestar dinheiro aos
diversos clientes e mais fácil pagar os empréstimos. Como é mais fácil
tomar dinheiro emprestado e como o empréstimo é mais barato para
ser pago, mais agentes econômicos buscam se endividar para realizar
seus gastos, sejam esses de consumo ou de investimento. Com mais
crédito na economia, possibilitado pelos menores níveis gerais de taxa
de juros, teoricamente, maiores são o investimento, o consumo e as
despesas em geral. Quanto maiores são as despesas executadas, mais
a economia se movimenta e, assim, teoricamente, reduções na taxa
Selic dão as condições para o aumento no nível de atividade do país e
do nível de emprego, uma vez que consumo e investimento aumentam,
promovendo crescimento econômico.

Entretanto, nem sempre esse crescimento econômico é o único


resultado do processo de redução na taxa de juros. Às vezes é possível
que o aumento dos gastos gere um aumento dos preços e, por
consequência, um aumento da inflação. Isso ocorre quando a oferta da
economia como um todo, ou seja, sua capacidade de produzir bens e
serviços, não é capaz de atender à demanda crescente por parte dos
agentes econômicos. Nesse caso, as empresas, como resposta, acabam
aumentando os preços e gerando inflação.

 161
Se a inflação é um dos resultados possíveis do processo de redução da
taxa de juros, o governo precisa tomar medidas para controlá-la, uma
vez que está num regime de metas inflacionárias. Seguindo o mesmo
tipo de raciocínio que o anterior, mas de maneira inversa, um aumento
na Selic promove uma redução do nível de atividade econômica,
redução da demanda, redução do emprego e, assim, teoricamente, uma
redução da inflação. Com o aumento da Selic, as instituições financeiras
aumentam suas taxas cobradas pelos empréstimos, o crédito se reduz,
os empréstimos caem e, por consequência, os gastos da economia
como um todo também são reduzidos, impactando a atividade
econômica e o emprego de maneira negativa. No entanto, nesse
cenário, a inflação pode cair, conforme o esperado. Por esse motivo, os
movimentos da taxa básica de juros da economia são a principal forma
de controle da inflação do país e, como você pode perceber, são um tipo
de controle indireto. É indireto porque, no fim das contas, depende da
predisposição dos bancos em emprestar ou suspender os empréstimos
conforme a taxa de juros varia. Ou, ainda, depende de a inflação ser, de
fato, uma inflação de demanda, ou seja, ocasionada por um aumento
na procura por bens e serviços superior à capacidade de oferta da
economia. Há casos em que a inflação é de custo, por exemplo, quando
uma matéria-prima importada fica mais cara e não está diretamente
relacionada com a demanda da economia. Por esses motivos, em toda
a explicação, foi usada a palavra “teoricamente”: a teoria indica esses
mecanismos do impacto da taxa de juros nas condições econômicas,
mas as relações do dia a dia dependem de agentes que podem não se
comportar de acordo com o que a teoria prevê.

3.2 Política fiscal

Essa política macroeconômica se relaciona ao “fisco”, ou seja, aos


recursos financeiros arrecadados pelo governo na economia e ao modo
como o governo faz uso desses recursos. De maneira geral, as duas
principais formas de o governo atuar na economia por meio da política

162
162
fiscal são por meio dos seus gastos e da sua arrecadação. No primeiro
caso, o governo pode contratar e manter o pessoal necessário para o
funcionamento das instituições públicas, investir em áreas básicas, como
saúde, educação, saneamento básico, infraestrutura ou, ainda, destinar
recursos para programas sociais. Já por meio das receitas públicas,
o governo pode influenciar a atividade econômica criando impostos,
alterando as alíquotas daqueles impostos já existentes, dando isenções
fiscais ou subsídios econômicos ou, ainda, vendendo ativos públicos, ou
seja, privatizando instituições públicas.

Sempre que o governo altera suas despesas ou receitas com vistas a


influenciar a economia do país, ele está executando uma política fiscal.
Muitas vezes, a política fiscal não ocorre sob essa denominação, como,
por exemplo, no caso das renúncias fiscais, ou seja, das isenções de
impostos que objetivam estimular a economia. O caso mais frequente
na economia brasileira é a redução do imposto sobre produtos
industrializados (IPI), quando o governo tem a intenção de aumentar
a venda desses produtos. Outro exemplo de política fiscal que ocorre
sem esse nome é o caso da implantação de um programa social, como o
Bolsa Família, que se traduz em aumento dos gastos públicos.

Para destacar como a política fiscal é entendida hoje em dia, tanto no


Brasil como no exterior, é correto afirmar que, sempre que o governo
toma medidas para, deliberadamente, ajustar as contas públicas do
país, ele está executando uma política fiscal. No caso particular do
Brasil, em que o regime de metas de inflação é o norteador das
políticas, esse ajuste das contas públicas é feito com a intenção de
gerar um superávit primário ou de se reduzir o déficit primário.
Ou seja, as contas públicas são ajustadas para que as despesas
caiam em relação às receitas. O resultado (superávit ou déficit) é
denominado “primário”, pois é com base em receitas e despesas
primárias, isso é, desconsiderando as receitas e despesas financeiras
do país – basicamente receitas de aplicações financeiras que o
governo executa e despesas com juros da dívida que o governo emite.

 163
A política fiscal, que busca sempre a geração de superávits primários
ou redução dos déficits primários, é condizente com o regime de
política macroeconômica adotado no país, o que se refere às metas
de inflação. Mas como funciona? Funciona a partir dos mecanismos de
financiamento que o governo tem à sua disposição comparado ao uso
que ele faz dos recursos obtidos.

De maneira geral, para se financiar, o governo cobra impostos dos


agentes econômicos e emite títulos públicos para cobrir as despesas
que não foram supridas pela arrecadação de impostos. Em se
tratando dos títulos públicos, os investidores, além de observarem
a remuneração dada a partir das taxas de juros, também avaliam a
capacidade de pagamento do principal da dívida do país, ou seja, a
capacidade que o país possui de amortizar sua dívida ao longo do
tempo. Quando o governo gera um superávit primário, ele mostra
que o país possui recursos suficientes para honrar os compromissos
assumidos, assim como a trajetória dos gastos e da arrecadação
pública também mostra o esforço do país nesse sentido. Como a mídia
costuma divulgar, o superávit primário é a “economia” que o país faz
para pagar os juros da dívida pública.

Essa “economia” é dada ou pelo aumento da arrecadação ou pelo


corte dos gastos públicos. O corte de gastos, no Brasil, significa
principalmente corte em investimentos públicos, pois é muito mais
fácil o governo deixar de investir em algo novo do que deixar de pagar
o custeio de algo que já está em operação. Num exemplo simples, seria
mais fácil o governo não construir um hospital do que deixar de pagar
o salário dos médicos e enfermeiros de um hospital público já em
funcionamento. Em termos do orçamento público, as despesas que o
governo pode cortar se chamam discricionárias e as que ele não pode
cortar são chamadas de obrigatórias. Os cortes são realizados para o
pagamento dos juros da dívida.

Com o superávit ou o déficit primário dentro da meta estabelecida,


teoricamente, os investidores entendem que o governo vai honrar

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suas obrigações e continuam financiando o país por meio da compra
de títulos públicos. Com o resultado primário fora da meta (menor do
que o esperado), há basicamente dois movimentos: o temor do setor
privado de que o setor público não tenha recursos para pagar a dívida
e, em resposta, as ações do governo para aliviar esse temor, ou seja, os
cortes nos gastos. Toda vez que o governo age nesse sentido, ele está
executando uma política fiscal condizente com o regime de metas de
inflação, mesmo que não condizente com outros objetivos, como o de
investir em áreas fundamentais para o país.

Além das implicações do pagamento dos juros dos detentores da dívida


pública, um resultado primário do setor público fora da meta pode
indicar que o governo está gastando demais. Esse gasto também pode
ser visto como causador da inflação no país. Assim, além de garantir o
pagamento da dívida, a política fiscal é vista como forma de controlar a
inflação do país, pois, com o governo gastando menos, teoricamente, há
menos demanda e menos pressão para o aumento dos preços.

Dessa maneira, a política monetária e a política fiscal devem andar


na mesma direção, ou seja, a de garantir o funcionamento do regime
de metas de inflação que, desde o Plano Real, é a dinâmica da
política macroeconômica do Brasil, mesmo que, em muitos sentidos,
principalmente no de investimento público e dos gastos sociais, possa
ser prejudicial para o país.

3.3 Política cambial

Política cambial é toda a movimentação no mercado de moedas


internacionais que o país executa com o objetivo de influenciar a
economia por meio da taxa de câmbio. Assim, por exemplo, se o país
tem a intenção de fomentar as exportações, o BC atua no mercado
de moedas para que o real fique desvalorizado em termos das outras
moedas, e o país, ao vender seus produtos no exterior, consiga receber
mais receita na moeda local.

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Entretanto, a rigor, desde 1999, é correto dizer que o Brasil não possui
política cambial porque adota um regime de câmbio flutuante. Dessa
forma, a política cambial seria a de deixar o câmbio se movimentar de
acordo com os movimentos dos mercados internacionais.

Mas nem sempre essa foi a política cambial do país. Quando o país
implantou o Plano Real, em 1999, para conter a inflação, precisou criar
uma nova moeda (justamente o real – R$). Para dar garantia de que a
nova moeda tinha valor no mercado, o governo afirmou que ela valia
o equivalente a um dólar (R$ 1,00 = US$ 1,00), ou seja, o lastro do real
passou a ser o dólar e qualquer pessoa que não acreditasse no valor da
moeda brasileira poderia trocá-la por dólares nessa razão de 1 para 1
que o BC garantia a conversão. O regime então era o de taxas de câmbio
administradas, ou seja, o BC administrava o mercado de câmbio para
que o real não ultrapassasse o limite de R$ 1/US$ 1. A taxa de câmbio
poderia se valorizar, mostrando que o real era uma moeda forte, mas
não se desvalorizar acima dessa paridade (1/1).

Para garantir o câmbio administrado, o BC “comprava” dólares via


emissão de dívida pública, ou seja, oferta de um título no mercado que
paga juros (preço da moeda, como visto nas seções iniciais dessa leitura)
e recebe uma moeda em troca, o dólar, que não paga juros.

Entretanto, quando ocorreram as crises internacionais entre 1995 e


1998 (como as crises do México, da Ásia e da Rússia), os investidores
internacionais começaram a acreditar que o próximo país a entrar em
crise seria o Brasil, e começaram a retirar seus investimentos do país, o
que significou uma saída expressiva de dólares do Brasil. Para conter a
saída de dólares, o governo, por meio do BC, aumentou a taxa de juros
Selic, tentando atrair investidores com um pagamento de juros mais
altos sobre sua dívida e tentando garantir a taxa de câmbio.

Mas, como você aprendeu na discussão sobre a política monetária,


taxas de juros altas prejudicam a economia porque reduzem o crédito

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e, por consequência, os gastos totais. Além disso, os juros altos
oneram a dívida pública, pois o governo precisa economizar ainda
mais para pagar juros cada vez maiores. Como o aumento dos juros
significou aumento da dívida pública e recessão na economia, chegou
um momento em que o governo brasileiro considerou insustentável
a manutenção da taxa de câmbio administrada e resolveu “liberar” o
câmbio. Houve então uma crise de desvalorização do real em 1999 e a
taxa de câmbio passou para mais ou menos R$ 4,00/US$ 1 assim que o
câmbio passou a ser flutuante no país.

Desde 1999, o discurso oficial é de que a taxa de câmbio flutua


livremente de acordo com o movimento dos mercados internacionais,
mas, na prática, como explicado anteriormente, o BC intervém para não
deixar o real se valorizar ou desvalorizar muito, justamente para que não
haja muita volatilidade na taxa de câmbio, o que prejudicaria as análises
dos agentes econômicos sobre os contratos baseados em moeda
externa, e para que o câmbio não tenha impactos muito significativos
sobre a inflação e, a partir daí, as taxas de juros internas.

Agora que você já aprendeu os principais preços macroeconômicos


e as relações entre eles, assim como as políticas macroeconômicas
realizadas em qualquer país, além das especificidades do caso
brasileiro, você está apto a analisar o comportamento das economias
de maneira geral, entendendo os motivos que levam os governos, em
especial o brasileiro, a agir de determinada forma a depender dos
momentos em que a economia se encontra.

TEORIA EM PRÁTICA
Como estudioso em economia com experiência na análise
das variáveis macroeconômicas-chave, você foi contratado
pelo governo do Longistão para tentar solucionar o
problema de desemprego e de alta inflação em que o

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país se encontra. Sabe-se que as empresas do Longistão
estão propensas a contratar empregados se as condições
de crédito melhorarem e se houver demanda para seus
produtos. A população desempregada não possui renda e
não consegue consumir e, além disso, a inflação está sendo
influenciada pelos preços dos produtos importados e pela
volatilidade da taxa de câmbio. Apesar de ter superávit
nas contas públicas, o governo não sabe o que pode fazer
para intervir na economia. Dado esse quadro geral, quais
seriam seus apontamentos para a execução da política
macroeconômica do Longistão?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. De acordo com o conceito de preços, índice de preços e


de inflação, é correto afirmar que:

a. Quando há inflação na economia, os preços se


mantêm os mesmos ao longo do tempo.

b. As mudanças nos índices de preço explicam aumentos


da inflação.

c. O aumento do nível de preços numa economia indica


que existe inflação.

d. O aumento da inflação não está relacionado à


variação dos preços.

e. A inflação de um país e as mudanças nos índices de


preços não estão relacionadas.

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2. Levando em consideração que a taxa de câmbio
é o preço internacional de uma moeda, aponte a
afirmação correta.

a. A desvalorização da moeda doméstica ocorre quando


ela está valendo mais que a moeda estrangeira.

b. A moeda doméstica está valorizada quando a relação


de troca entre ela e a moeda estrangeira é alta.

c. A valorização da moeda doméstica indica que estão


saindo moedas estrangeiras do país.

d. A moeda doméstica está desvalorizada quando,


com pouca moeda doméstica, você compra muita
moeda estrangeira.

e. Quando a moeda doméstica passa a valer menos do


que a moeda estrangeira, a relação de troca entre as
duas aumenta.

3. De acordo com a teoria sobre os movimentos na taxa


de juros básica da economia, avalie as afirmações e
aponte a correta.

a. Um aumento da taxa de juros reduz a atividade


econômica.

b. Uma redução da taxa de juros atrai investidores


internacionais.

c. Um aumento da taxa de juros facilita o crédito.

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d. Uma redução da taxa de juros deixa os empréstimos
mais caros.

e. Um aumento da taxa de juros aumenta a demanda.

Referências bibliográficas
SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Editora Best
Seller, 1999.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Taxa Selic. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/
controleinflacao/taxaselic. Acesso em: 11 nov. 2019.

Gabarito

Questão 1 – Resposta C
Resolução: essa é a definição de inflação, um aumento no nível
de preços.
Questão 2 – Resposta E
Resolução: esse é o conceito de desvalorização cambial.
Questão 3 – Resposta A
Resolução: um aumento da taxa de juros prejudica o crédito e
reduz a demanda, com impactos na atividade econômica.

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