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Curso de

Manejo e Conservação de
Recursos Naturais

MÓDULO IV
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para
este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do
mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados a seus respectivos autores descritos
na Bibliografia Consultada.
MÓDULO IV

23 Como Manejar de Áreas Protegidas

A partir do momento em que uma área de proteção é legalmente estabelecida, ela


deve ser eficazmente manejada se quisermos que a diversidade biológica seja mantida. A
sabedoria popular de que “a natureza sabe o que é melhor” e de que existe um “equilíbrio
da natureza” faz com que muitas pessoas cheguem à conclusão de que a biodiversidade
está melhor sem a intervenção humana. A realidade é muitas vezes diferente, em muitos
casos o homem já alterou de tal forma o meio ambiente que as espécies e comunidades
remanescentes precisam da intervenção humana para sobreviver. O Brasil e o mundo
estão cheios de Parques que existem apenas no Papel, criados por decreto
governamental, mas não efetivamente manejados na prática. Esses Parques
gradativamente – ou algumas vezes rapidamente – perderam as espécies e sua
qualidade de habitat se deteriorou. Em muitas situações, as pessoas não hesitam em
cultivar, extrair madeira e minério em áreas protegidas porque a terra pertencente ao
governo é de “todos”, “qualquer um” pode pegar o que quiser e “ninguém” está querendo
interpor-se. O ponto crucial é que as unidades de conservação, às vezes, precisam ser
ativamente manejadas para evitar sua deterioração. Entretanto, as decisões sobre o
manejo de uma unidade de conservação podem ser tomadas mais eficazmente quando
as informações são fornecidas por um programa de pesquisas e quando há financiamento
disponível para a implementação dos planos de manejo.
Também é verdade que às vezes o melhor manejo é justamente não fazer coisa
alguma, as medidas de manejo são, algumas vezes, ineficazes ou mesmo negativas. Por
exemplo, realizar um manejo eficaz para promover a abundância de espécies de caça,
tais como o veado, envolve eliminar os predadores maiores, como os lobos e os felinos. A
remoção desses predadores pode resultar numa explosão de populações de espécies de
caça (e, inicialmente, de roedores). O resultado é uma superpastagem, degradação de
habitat e um colapso das comunidades de plantas e de animais.
Manejadores de Parques excessivamente entusiastas, que retiram árvores caídas
e vegetação rasteira para “melhorar” a sua aparência podem, inadvertidamente, remover

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um recurso essencial para a feitura dos ninhos de certas espécies e habitat para outras.
Em muitos Parques, o incêndio faz parte da ecologia da área. As tentativas de suprimir
incêndios por completo são caras e artificiais, eventualmente causando grandes e
incontroláveis incêndios tais como o que ocorreu em Brasília em 1994, e no Parque
Yellowstone em 1988.
Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC – em seus Art.
12, 13, 14, 15 e 16 o plano de manejo da unidade de conservação, elaborado pelo órgão
gestor ou pelo proprietário quando for o caso, será aprovado:

I - em portaria do órgão executor, no caso de Estação Ecológica, Reserva


Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural, Refúgio de Vida Silvestre, Área de
Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva
de Fauna e Reserva Particular do Patrimônio Natural;
II - em resolução do conselho deliberativo, no caso de Reserva Extrativista e
Reserva de Desenvolvimento Sustentável, após prévia aprovação do órgão executor.
Art. 13. O contrato de concessão de direito real de uso e o termo de compromisso
firmados com populações tradicionais das Reservas Extrativistas e Reservas de Uso
Sustentável devem estar de acordo com o Plano de Manejo, devendo ser revistos, se
necessário.
Art. 14. Os órgãos executores do Sistema Nacional de Unidades de Conservação
da Natureza - SNUC, em suas respectivas esferas de atuação, devem estabelecer, no
prazo de cento e oitenta dias, a partir da publicação deste Decreto, roteiro metodológico
básico para a elaboração dos Planos de Manejo das diferentes categorias de unidades de
conservação, uniformizando conceitos e metodologias, fixando diretrizes para o
diagnóstico da unidade, zoneamento, programas de manejo, prazos de avaliação e de
revisão e fases de implementação.
Art. 15. A partir da criação de cada unidade de conservação e até que seja
estabelecido o Plano de Manejo, devem ser formalizadas e implementadas ações de
proteção e fiscalização.
Art. 16. O Plano de Manejo aprovado deve estar disponível para consulta do
público na sede da unidade de conservação e no centro de documentação do órgão
executor.

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23.1 Planejamento de Áreas Protegidas

O tamanho e local das áreas protegidas no mundo todo, são frequentemente


determinados pela distribuição das populações, pelo valor da terra e pelos esforços de
conservação dos cidadãos conscientes. Em muitos casos, a terra é preservada por não
ter valor comercial imediato, por exemplo, uma determinada empresa pode reservar uma
área localizada em solos arenosos e inférteis para se criar um parque.
Embora a maioria das áreas de conservação tenham sido adquiridas e criadas por
outras razões que não seu valor de conservação, dependendo da disponibilidade de
dinheiro e de terra, uma literatura considerável na área de ecologia da paisagem tem
discutido as melhores formas de planejamento de áreas de conservação para proteção da
diversidade biológica, com base em padrões espaciais da paisagem (Figura 07). As
diretrizes desenvolvidas a partir desse enfoque são de grande interesse dos governos,
empresas e proprietários particulares de terras, que estão sendo pressionados para
administrar suas propriedades tanto para a produção comercial de recursos naturais como
para diversidade biológica. Entretanto, os biologistas de conservação têm também sido
alertados para não apresentar diretrizes, simples e gerais, para o planejamento de
reservas naturais, pois cada uma das situações de conservação requer
considerações específicas. As questões-chave que os biologistas de conservação
tentam apresentar incluem:
1. Qual a extensão que reservas naturais devem ter para proteger as espécies?
2. É melhor criar uma única reserva ou muitas de tamanho menor?
3. Quantos espécimes de uma espécie ameaçada devem ser protegidos em uma
reserva para evitar a extinção?
4. Que forma deveria ter uma reserva natural?
5. Quando várias reservas são criadas, elas deveriam estar próximas umas das
outras ou bem distantes, e deveriam ser isoladas ou interligadas por corredores?

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(Fig. 28) - Princípios de planejamento de reservas foram propostos com base nas teorias
de biogeografia de ilhas. Imagine que as reservas sejam “ilhas” de comunidade biológica
original cercada por áreas que se tornaram inabitáveis para aquelas espécies devido a
atividades humanas, tais como, agricultura, pecuária ou desenvolvimento industrial. A
aplicação prática desses princípios ainda está sendo estudada. Os princípios contidos
aqui têm sido objeto de muita discussão, mas de maneira geral, aqueles mostrados à
direita são considerados preferíveis aos da esquerda. (Fonte: Shafer, 1997)

23.1.1 Tamanho de Reserva

Uma antiga controvérsia na área da biologia da conservação surgiu a partir da


questão da riqueza das espécies ser maximizada em uma grande reserva natural ou em
diversas pequenas reservas com área total igual, esta controvérsia veio a ser conhecida
na literatura como o “debate SLOSS” (sigla em inglês para o termo “única e grande ou
várias e pequenas”). É melhor ter uma reserva de 10.000 hectares ou quatro reservas
de 2.500 hectares cada? Os proponentes de grandes reservas argumentaram que
somente estas podem conter quantidade suficiente de indivíduos de espécies de
grande porte, ampla extensão e baixa densidade (tais como os grandes carnívoros) de
forma a manter as populações em longo prazo. Ainda, uma grande reserva minimiza
os efeitos de borda, abriga mais espécies, e tem maior diversidade de habitat do
que uma reserva pequena. Estas vantagens que os grandes Parques têm de acordo
com a teoria biogeográfica de ilhas, têm sido demonstradas em vários levantamentos de
animais e plantas em unidades de conservação. Há três implicações práticas para este
ponto de vista. Primeiro, quando uma nova unidade está sendo estabelecida esta deveria
ser de um tamanho que pudesse comportar o maior número de espécies possível.
Segundo, quando possível, mais terras vizinhas às reservas naturais deveriam ser
adquiridas a fim de aumentar a área das unidades já existentes. E por último, se houver
possibilidade de escolha entre criar uma nova unidade pequena ou uma grande em
habitats semelhantes, a opção deve recair sobre a grande. Por outro lado, uma vez que
uma unidade supera um determinado tamanho, o número de novas espécies incluídas
começa a diminuir para um determinado aumento da área. Nesse caso, a criação de uma

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segunda grande unidade, um pouco mais longe, pode ser uma estratégia melhor para
preservação de espécies do que aumentar a área das reservas existentes.
Os proponentes mais extremistas argumentam que pequenas reservas não
deveriam ser mantidas porque sua incapacidade para manter as populações em longo
prazo confere pouco valor de conservação. Contrários a este ponto de vista, outros
biologistas de conservação argumentam que reservas pequenas e bem localizadas
podem incluir uma grande variedade de tipos de habitats e mais populações de
espécies raras do que seria possível em uma grande extensão na mesma área.
Também, com o estabelecimento de mais reservas, mesmo que pequenas, evitar-se a
possibilidade de uma única força catastrófica, tal como a presença de um animal
exótico, uma doença, ou incêndio, viesse a destruir uma população inteira localizada em
uma única grande reserva.
Além disso, as reservas pequenas, localizadas próximo a áreas habitadas, podem
servir de excelentes centros de estudos da natureza e de educação para
conservação, estendendo os objetivos de longo alcance da biologia de conservação e
conscientizando as pessoas.
Parece que agora há um consenso quando se diz que a decisão sobre tamanho
das reservas depende do grupo de espécies que está sendo considerado, bem como das
circunstâncias científicas. Aceita-se que as grandes reservas são mais adequadas do que
as pequenas para manter muitas espécies, por causa dos tamanhos maiores das
populações e da maior variedade de habitats que elas contêm. Entretanto, pequenas
reservas bem manejadas também têm seu valor, especialmente para a proteção de
muitas espécies de plantas, invertebrados e pequenos vertebrados. Frequentemente não
há outra escolha que não seja aceitar o desafio de manejar as espécies em pequenas
reservas uma vez que não existe disponibilidade de mais área para conservação. Isto se
aplica particularmente nos locais que foram cultivados intensamente e estão
estabelecidos há séculos, tais como a Europa, a China e Java. Por exemplo, a Suécia tem
1.200 pequenas reservas naturais com uma média de cerca de 350 hectares cada, e
reservas pequenas representam de 30% a 40% da área protegida na Holanda. A situação
pode ser crítica também em áreas convertidas mais recentemente, como o Norte do
Paraná, onde a metade da área florestada, que é de 5,9%, está contida em fragmentos
menores que 34 hectares.

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23.1.2 Minimizando os Efeitos de Borda e de Fragmentação

De uma maneira geral concorda-se que Parques devem ser planejados de forma a
minimizar os efeitos de borda. Áreas que possuem forma circular minimizam a relação
borda-área, e o centro dessas áreas encontra-se mais distantes das bordas e todos os
seus pontos estão próximos das bordas. Usando longos e lineares têm mais bordas e
todos os seus pontos estão próximos das bordas. Usando esses mesmos argumentos
para os Parques com quatro lados retos, um Parque quadrado é melhor do que um
retangular alongado que tenha a mesma área. Essas idéias raramente têm sido
implantadas, se é que algum dia foram. A maioria dos Parques tem forma irregular porque
a aquisição de terras é, na grande maioria das vezes, muito mais uma questão de
oportunidade do que uma questão de completar um padrão geométrico.
A fragmentação interna de reservas, motivada por estradas, cercas, cultivo,
extração de madeira e outras atividades humanas deveria ser evitada o máximo possível
em função dos muitos efeitos negativos que a fragmentação pode causar nas espécies e
nas populações. As forças responsáveis pela fragmentação são poderosas, já que as
áreas protegidas são frequentemente as únicas terras desocupadas disponíveis para a
realização de novos projetos, como agricultura, represas e áreas residenciais. Os
planejadores governamentais frequentemente estabelecem redes de transporte e outras
infra-estruturas de propriedade particular.
As reservas naturais muitas vezes são, parte de uma matriz maior de habitat
manejado para a extração de recursos, tais como a madeira, pastagem ou cultivo
agrícola. Se a proteção da diversidade biológica puder ser incluída como prioridade
secundária no manejo das áreas produtivas, áreas maiores poderão ser incluídas nos
planos de manejo de conservação e os efeitos da fragmentação poderão ser reduzidos.
Sempre que possível, as reservas naturais deveriam ser manejadas como um sistema
regional para facilitar o fluxo e a migração de genes entre as populações e para garantir
representação adequada das espécies e dos habitats. A cooperação entre proprietários
de terra, dos setores público e privado é particularmente importante. Muitas unidades

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pequenas e isoladas estão sob o controle de diversos órgãos governamentais e
organizações privadas, especialmente nas áreas metropolitanas.
Sempre que possível, as áreas protegidas deveriam compreender um ecossistema
completo (tais como uma bacia hidrográfica, um lago ou uma cordilheira), uma vez que o
ecossistema é a unidade mais adequada de manejo. O dano a uma parte não protegida
do ecossistema poderia ameaçar a saúde do mesmo como um todo. O controle de todo o
ecossistema permite aos administradores dos parques defendê-lo mais efetivamente
contra influências externas destrutivas.

23.1.3 Corredores de Habitat

Uma idéia interessante para o manejo de um sistema de reservas naturais seria


conectar áreas protegidas isoladas a um grande sistema através do uso de corredores de
habitat- faixas de terra protegidas entre as reservas. Esses corredores de habitat,
também conhecidos como corredores de conservação ou corredores de movimento
permitiriam que plantas e animais se dispersassem de uma reserva para outra, facilitando
o fluxo de genes e a colonização. Os corredores também poderiam ajudar a preservar os
animais que são obrigados a migrar sazonalmente entre uma série de habitats diferentes
para obter alimento; se estes animais estivessem confinados em uma única reserva, eles
poderiam passar fome. Este princípio foi posto em prática na Costa Rica para conectar
duas reservas de vida selvagem, o Parque Nacional de Bráulio Carillo e a Estação
Biológica La Selva. Um corredor de 7.700 hectares de floresta com vários quilômetros de
largura, conhecido como La Zona Protetora, foi separado para permitir uma ligação
elevada que permite que pelo menos 35 espécies de aves migrem entre as duas grandes
áreas de conservação. Um corredor semelhante foi proposto para permitir que rebanhos
de grandes herbívoros migrem entre dois parques nacionais da Tanzânia.
No Brasil, vários corredores estão sendo propostos, entre eles o Corredor do
Descobrimento, na Bahia, e o Corredor do Rio Paraná. A idéia é biologicamente
interessante, mas a conservação de áreas grandes e alongadas representa ou um custo
político que poucos governos estão dispostos a pagar, ou um volume de recursos naturais
difícil de obter. Em alguns dos corredores propostos, pretende-se apenas uma integração
entre os gestores de reservas (governos Federal e Estadual), a população, e os

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proprietários de terras. Esta é uma idéia inovadora para a gestão de reservas, mas
encontra grandes obstáculos para se implementar em face da burocracia governamental e
resistência da iniciativa privada.
Embora a idéia dos corredores seja a princípio atraente, ela tem alguns
inconvenientes em potencial. Os corredores poderiam facilitar o transito de espécies
daninhas (especialmente em corredores estreitos, tomados por efeito de borda) e de
doenças de forma que uma única infestação poderia se espalhar rapidamente em toda a
área de reservas naturais conectadas e causar a extinção de todas as populações de
espécies raras. Além disso, os animais que dispersam por entre os corredores poderiam
ser expostos a maiores riscos de extinção porque os caçadores, assim como os
predadores de animais, tendem a concentrar-se em rotas utilizadas pelos animais
selvagens. Apesar de estas possibilidades serem plausíveis, inexistem dados que as
suportem.
Os corredores são obviamente mais necessários nas rotas de migração
conhecidas. Em alguns casos, pequenos blocos de habitat original entre as grandes áreas
de conservação podem também ser úteis ao facilitar a movimentação através de um
processo de alcance gradativo. Onde já existem corredores, estes deveriam ser
preservados. Muitos dos corredores que existem atualmente estão ao longo de cursos de
água e podem ser habitats de importância biológica por si só.
Todas essas teorias de planejamento de reservas têm sido desenvolvidas
principalmente com vertebrados terrestres, plantas superiores e grandes invertebrados. A
aplicabilidade dessas idéias para reservas aquáticas, onde os mecanismos de dispersão
são desconhecidos, requer investigações mais profundas.

23.1.4 Manejo de Habitats

Um parque deve ser manejado em sua totalidade para assegurar que os tipos de
habitats originais sejam mantidos. Muitas espécies ocupam apenas um habitat específico
ou um estágio de sucessão específico de um habitat. Quando uma área é selecionada
para proteção, o padrão de perturbação e de utilização humana podem mudar tão
acentuadamente que muitas espécies encontradas anteriormente no local deixam de

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existir. As perturbações naturais, incluindo incêndio, pastagem e quedas de árvores, são
elementos-chave na presença de certas espécies raras.
Em alguns santuários de vida selvagem, campos abertos são mantidos através de
roçagem ou pela pastagem de gado. O cerrado brasileiro, por exemplo, é submetido a
milhares de anos. As espécies que ocorrem no cerrado, portanto, são adaptadas a
ocorrência eventuais de fogo. Para manter esta comunidade, é necessário manter a
freqüência de fogo a que ela era submetida.
Em outros casos parte das áreas protegidas precisam ser cuidadosamente
manejadas para minimizar a ação do homem e prover as condições necessárias para as
espécies adultas. Por exemplo, certas espécies de besouros do solo são encontradas em
áreas de florestas boreais maduras e desaparecem das áreas submetidas a corte raso.

Áreas alagadiças: O manejo de áreas alagadiças é uma questão particularmente


critica. A manutenção de áreas alagadiças é necessária para preservar populações de
aves aquáticas, peixes, anfíbios, plantas aquáticas e muitas outras espécies. Mesmo
assim, os Parques podem concorrer pela água com projetos de irrigação, planos de
controle de inundações e represas hidrelétricas e hidrovias, em lugares como o Pantanal
e os Everglades na Florida, nos Estados Unidos. As áreas alagadiças são frequentemente
interligadas, portanto uma decisão que afete os níveis de água e a qualidade de um local
tem repercussões em outras áreas.

24 Ecologia da paisagem e Desenho de Parques

A interação dos padrões de uso do solo, com a teoria de conservação e o


planejamento de reservas, fica evidente na disciplina ecologia da paisagem. A ecologia da
paisagem investiga os padrões de tipos de habitat e sua influência na distribuição das
espécies e os processos de ecossistemas. Uma paisagem é definida por Forman e
Gordon como uma “região, onde um conjunto de áreas (patches) em interação, ou
ecossistemas, se repete de forma similar”. A ecologia da paisagem tem sido estudada
mais intensamente em ambientes dominados pelo homem. Ela representa uma tendência
histórica de incorporar processos sociais, econômicos e políticos à ecologia, de modo a
planejar paisagens mais sadias.

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A ecologia da paisagem é importante para a proteção da diversidade biológica, pois
muitas espécies não são confinadas em um único habitat, mas movem-se entre habitats
ou vivem nas fronteiras onde dois habitats se encontram. Para essas espécies, os
padrões de tipos de habitat que existem em uma escala regional são de importância
crucial. A presença e a densidade de muitas espécies podem ser afetadas pelos
tamanhos dos “patches” de habitat e seu grau de ligação, ou conectividade, como dizem
os ecólogos da paisagem. Por exemplo, o tamanho da população de uma espécie animal
rara será diferente em dois parques de 100 hectares, um deles formando um desenho
alternado xadrez contendo 100 patches de campo e de floresta, cada um com 1 hectare
de área, e o outro formando um xadrez com 4 fragmentos, cada um com 25 hectares de
área. Estes padrões alternativos de paisagem podem ter efeitos muito diferentes no
microclima (vento, temperatura, umidade e luz), na ocorrência de pragas, e nos padrões
de movimentação dos animais.
Para aumentar a diversidade e quantidade de animais, os gerentes de vida
selvagem em áreas temperadas, muitas vezes tentam criar a maior quantidade possível
de variação da paisagem dentro da sua unidade de manejo, porque a vida selvagem é um
produto dos lugares onde dois habitats se encontram. Nos trópicos, a situação é
exatamente inversa. Bordas de florestas tropicais são tomadas por um reduzido número
de espécies resistentes. O aumento da quantidade (comprimento) de bordas significa
aumentar a densidade destas espécies, além de expor a reserva aos impactos do
entorno.
O objetivo dos biólogos conservacionistas, entretanto, não é simplesmente incluir o
maior número possível de espécies dentro das reservas naturais, mas também proteger
aquelas espécies que estão mais expostas ao perigo de extinção em conseqüência da
ação humana. Pequenas reservas divididas em pequenas unidades de habitat dentro de
uma paisagem restrita podem ter um maior número de espécies, porém é mais provável
que essas sejam espécies ruderais e espécies não nativas. Um fragmento que possua
uma grande quantidade de bordas pode não ter muitas espécies raras que habitam
apenas grandes blocos de habitat intacto.
Para evitar este problema localizado, a diversidade biológica precisa ser manejada
ao nível de paisagem regional, na qual o tamanho das unidades de paisagem – tais como
bacias hidrográficas ou cadeia de montanhas – aproximam-se mais das unidades naturais

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antes da perturbação humana. Uma alternativa para criar uma paisagem em miniatura de
habitats contrastantes em uma pequena escala e conectar Parques de uma área em nível
regional, e forma que unidades maiores de habitat possam ser criadas. Algumas dessas
seriam, então, grandes o suficiente para proteger as espécies raras que não suportam a
interferência humana.

25 Economia Ambiental

A atenção da economia para os problemas ambientais acentuou-se com o aumento


da poluição nas economias industrializadas. A Economia Ambiental ou Economia do Meio
Ambiente é o ramo da Ciência Econômica que se ocupa dessa análise e mensuração,
nela sobressaindo-se a versão neoclássica.
A economia ambiental procura arranjar maneiras de mitigar os problemas de modo
a maximizar o valor dos recursos. Entre esses temas incluem-se: a desflorestação, a
sobre-exploração dos recursos marinhos (essencialmente a sobrepesca), o aquecimento
global derivado do efeito de estufa resultante das emissões de gases para a atmosfera,
etc. Um grande impulso na área foi dado pelo protocolo de Quioto (procura de meios para
reduzir o efeito do aquecimento global).

25.1 Valores Econômicos

Demonstrar o valor da biodiversidade e dos recursos naturais é um assunto


complexo, pois este valor é determinado por uma variedade de fatores econômicos e
éticos. O principal objetivo da economia ambiental é desenvolver métodos para avaliar os
componentes da diversidade biológica. Foram desenvolvidas várias abordagens para
atribuir valores econômicos à variabilidade genética, às espécies, às comunidades e
ecossistemas.

Os valores são divididos em valores diretos e valores indiretos. Os valores diretos


são conhecidos em economia como bens privados, aos quais estão relacionados os
produtos obtidos pelas pessoas, e os valores indiretos conhecidos em economia como

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bens públicos, são aqueles aos quais estão relacionados os benefícios fornecidos pela
diversidade biológica, e que não implicam no uso ou destruição do recurso.

Os benefícios aos quais se pode atribuir valores indiretos incluem a qualidade da


água, a proteção do solo, recreação, educação, pesquisa cientifica, controle climático e a
provisão de futuras opções pra sociedade humana. O valor de existência é outra forma de
valor indireto que pode ser revertido em beneficio, por exemplo, a quantidade de pessoas
que desejam pagar para que as espécies sejam protegidas de extinção.

25.1.2 Valores Econômicos Diretos

Os valores diretos são atribuídos aos produtos que são diretamente colhidos e
usados pelas pessoas. Esses valores podem ser muitas vezes prontamente calculados
através da observação das atividades de grupos representativos de pessoas, da
monitoração dos pontos de produtos naturais, e pela análise de estatísticas de importação
e exportação. Os valores diretos podem ser posteriormente divididos entre valor de
consumo, relativos as mercadorias que são consumidas internamente, e valor produtivo,
relativo aos produtos que são vendidos em mercados.

• Valor de Consumo: O valor de consumo pode ser atribuído a um produto,


considerando a quantidade de pessoas que teriam que pagar para comprar produtos
equivalentes no mercado, se as fontes locais não estiverem mais disponíveis. São
mercadorias tais como lenha e animais de caça que são consumidos internamente e não
aparecem nos mercados nacionais e internacionais. Um exemplo desse enfoque foi uma
tentativa de estimar o número de porcos selvagens abatidos por caçadores nativos em
Sarawak, Leste da Malásia, realizada através dos cartuchos utilizados na zona rural e de
entrevistas com caçadores. Este estudo pioneiro avaliou que o valor de consumo da carne
de porco selvagem estava em torno de 40 milhões de dólares por ano (Caldecott, 1988).
Mas, em muitos casos, as pessoas do local não têm dinheiro para comprar os produtos no
mercado. Quando o recurso local se esgota, a pobreza rural se instala e as pessoas
migram para os centros urbanos.
• Valor Produtivo: O valor produtivo é um valor direto atribuído a produtos que são
extraídos do ambiente e vendidos no comércio nacional ou internacional. Esses produtos

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têm seu valor estabelecido por padrões econômicos aplicados ao preço pago no primeiro
ponto de venda, menos os custos desse ponto e não pelo seu custo final no varejo; como
conseqüência, o que parece ser um produto natural de menor importância pode ser, na
verdade, o ponto de partida de produtos industrializados de grande valor. A castanha do
Pará, que rendia aos catadores no Acre, em 2000, cerca de 50 centavos por Kg, custava
18 reais aos consumidores no supermercado em Belo Horizonte – MG.

Uma grande quantidade de produtos é extraída do meio ambiente e depois vendida


no mercado. Entre esses produtos estão a lenha, madeira (está entre os produtos de
maior importância atualmente), peixes e mariscos, plantas medicinais, frutas e vegetais,
carne e pele de animais silvestres, fibras,mel, cera de abelha, tinturas naturais, algas
marinhas, resinas de plantas etc. o maior valor produtivo de muitas espécies está em seu
potencial em fornecer novas possibilidades para a indústria, para a agricultura e para o
melhoramento genético das espécies agrícolas.

25.1.3 Valores Econômicos Indiretos

Os valores indiretos podem ser destinados a aspectos da diversidade biológica, tais


como processos ambientais e serviços proporcionados por ecossistemas, que propiciam
benefícios econômicos sem terem que ser colhidos e destruídos durante o uso.

• Valor não Consumista: As comunidades biológicas fornecem uma grande variedade de


serviços ambientais que não são consumidos pelo uso. Este valor não consumista é, as
vezes, relativamente fácil de se calcular, como no caso do valor de insetos que fazem a
polinizações em plantações. Culturas como maracujá, figo, abacate e outras dependem
de insetos para produzir. O valor destes polinizadores poderia ser estimado através do
cálculo sobre o quanto a plantação tem seu valor aumentado através desta ação ou sobre
quanto o agricultor teria que pagar se tivesse que alugar colméias de algum apicultor. A
seguir temos uma listagem parcial dos benefícios de se conservar a diversidade biológica
que tipicamente não aparecem nos cálculos de avaliações de impacto ambiental.

1. Produtividade dos ecossistemas;


2. Proteção das águas e recursos do solo;

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3. Controle climático;
4. Relacionamento entre espécies;
5. Recreação e ecoturismo;
6. Valor educacional e científico;
7. Indicadores ambientais: espécies que são particularmente sensíveis a toxinas
químicas podem servir como um sistema de alerta para o monitoramento da saúde do
ambiente. A abundancia, distribuição e composição de liquens são muito influenciadas
pelo histórico de fogo de uma área, de modo que os liquens podem também ser utilizados
como indicadores de histórico de fogo.

• Valor de Opção: O valor de opção de uma espécie é seu potencial para fornecer um
benefício econômico para sociedade humana em algum determinado momento futuro.
Assim que as necessidades mudam, também devem mudar os métodos de satisfação
destas necessidades. Frequentemente, a solução para um problema está em animais ou
plantas não considerados previamente. Busca-se novos produtos naturais nos reinos
animal e vegetal, ou quase inteiros. Entomologistas buscam insetos que possam ser
usados como agentes de controle biológico, os zoologistas estão identificando que
possam produzir proteína animal mais eficazmente e com menos dano ambiental em
relação as espécies já utilizadas.

Se a diversidade biológica for reduzida no futuro, habilidade dos cientistas em


localizar e utilizar novas espécies para tais fins será seriamente comprometida.

Uma questão que está sendo muito detalhada é: Quem detém os direitos de
desenvolvimento comercial sobre a diversidade biológica do mundo? No passado, as
espécies eram coletadas livremente onde quer que elas estivessem, e as empresas,
frequentemente em países desenvolvidos, vendiam então os produtos resultantes com
fins lucrativos. Cada vez mais, os paises do mundo em desenvolvimento estão exigindo
uma parcela nas atividades comerciais resultantes da diversidade biológica encontrada
em suas fronteiras.

• Valor de Existência: Muitas pessoas no mundo todo se preocupam com a vida


selvagem e com as plantas e estão voltadas para sua conservação. Algumas espécies

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tais como a Baleia, a Onça Pintada, o Mico-Leão-Dourado e muitos pássaros, causam
empatia nas pessoas e por isso são chamados de fauna carismática.

Apesar desse foco em uma única espécie parecer ingênuo, já que nenhuma
espécie vive separada de outras espécies e do seu ambiente, ele consiste na verdade de
uma estratégia conservacionista de utilizar a “fauna carismática” para levantar fundos
para conservar também as outras espécies menos carismáticas, mas não menos
importantes. Tal valor de existência pode ser dado ás comunidades biológicas tais como
as florestas e os recifes de corais, e as áreas de beleza natural.

25.2 Modelos de Valoração Ambiental

A empreitada de valorar bens naturais não é simples, mas nem por isso menos
necessária. Uma boa norma de conduta em modelagem é começar estabelecendo
modelos simples que, embora não sejam tão abrangentes ou realistas quanto seria
desejável, podem ser derivados de início para considerar minimamente a avaliação de
impactos causados ao meio ambiente. Modelos assim podem avaliar apenas danos mais
visíveis e óbvios, resultando em valorações subdimensionadas, ou seja, os valores
monetários menores do que aqueles intuitivamente percebidos. Mas isso é um avanço em
relação à antiga prática de considerar tanto o consumo de recursos naturais quanto a
produção de poluição com um custo nulo, e, consequentemente, não impondo limites a
estas atividades.
Atualmente já existem diversas técnicas de valoração dos recursos naturais, e a
literatura está plena de propostas, tanto em relação s técnicas propriamente ditas quanto
a mecanismos de governo capazes de sinalizar para a sociedade custos ambientais
embutidos no funcionamento das diversas atividades produtoras. Existem vários modelos
de valoração úteis, mas que devem ser aplicados considerando-se suas limitações.
Dentre estas diversas propostas, serão citados alguns princípios e modelos que vêm
sendo postos em prática em áreas relativas às questões ambientais:
a- Princípio do Poluidor-Pagador. De acordo com este princípio, deve haver uma
taxação sobre os poluidores, proporcional ao custo da poluição gerada por eles. Sua

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intenção é óbvia – inibir a geração de rejeitos através do incipiente de torná-la uma
atividade custosa, tornando visível o custo da degradação ambiental para o poluidor;
b- Modelo de Disposição-a-Pagar. É um dos chamados métodos de contingência e
estima o preço implícito das coisas através dos conceitos de substituição e
complementaridade. É levado a efeito através da consulta popular e tratamento estatístico
dos resultados desta consulta. Primeiro, confronta a pessoa com uma situação de
ameaça de perda do bem, forçando-a a decidir-se por uma determinada alternativa (uma
opção de contingência); segundo, a questão é tratada como uma possibilidade (o que
está sendo proposto jamais pode tornar-se realidade); terceiro, depende de cada pessoa
consultada e do número de pessoas consultadas. Pode ser usado para fornecer a
valoração de um bem natural, tal como um bosque onde as pessoas mantêm atividades
de lazer. Basicamente, o modelo busca descobrir o quanto as pessoas estão dispostas a
pagar para não deixar de usufruir daquele recurso. O somatório do valor indicado por
todas as pessoas consultadas (interessadas na área) fornece um valor monetário para o
recurso sendo analisado, ou em outras palavras, é possível assim definir a função de
demanda do recurso em questão;
c- Modelo da Disposição-a-Receber. Semelhante ao anterior, sendo também de
contingência. Porém, inverte de certa forma a proposta do modelo acima, buscando
descobrir quanto as pessoas exigiriam receber em troca da perda de um determinado
recurso natural. Em outras palavras, por quanto uma população “venderia” aquele recurso
natural. Por exemplo, poderia ter sido aplicado ao caso do afogamento do Salto de Sete
Quedas pela represa Itaipu;
d- Modelo de Custo-de-Viagem. Relaciona o custo para se alcançar um sítio com a
disposição das pessoas de pagarem pela conservação do mesmo. Assim, quanto mais
longa for a viagem supõe-se que maior seria a disposição-a-pagar. Segundo essa idéia,
existe uma relação direta entre o prazer oferecido pelo sítio e o valor que a população
atribui ao local, o que faz apropriado, particularmente, para a valoração de sítios com fins
recreacionais;
e- Modelo de Valoração Mercantil. Ao invés de valorar um sítio pelo todo, este modelo
procura estabelecer o valor econômico dele, através da avaliação dos preços de mercado
de cada um de suas partes constituintes.

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f- Modelo de Preço Hedônico. É um método indireto, estatístico que busca valorar um
recurso através do relacionamento de alguns de seus atributos (bela paisagem, alto risco)
com o preço da terra ou do trabalho. A partir da diferença nos preços entre bens
semelhantes, pode-se inferir estatisticamente o preço de um atributo presente num deles
e ausente no outro.
g- Modelo de Avaliação Direta. É um método de difícil experimentação porque precisa
de que uma situação real seja criada para que a resposta do público possa ser então
avaliada e transformada em valor. É possível, por exemplo, estabelecer uma taxa de
cobrança para verificar se o público de uma localidade pagaria a taxa para visitar um sítio
natural.
h- Títulos de Poluição Ambiental. O órgão regulador do ambiente estabelece um limite
para determinados poluentes numa região. Emite títulos que correspondem, no seu
conjunto, a toda poluição que seria admissível na região, derivada de estudos de
avaliação de capacidade de suporte para aqueles poluentes. Estas ações de poluição são
negociadas em bolsa. À medida que uma empresa, a qual adquiriu alguns desses títulos
para poder poluir, muda sua tecnologia para uma menos poluente, ela pode revender
esses títulos para uma outra indústria que esteja se estabelecendo na região. Este
procedimento tem duas grandes vantagens: primeiro, trabalha com a capacidade de
suporte de área, o que guarda uma forte relação com a realidade local, e ainda permite
ajustes futuros; segunda, que abre espaço para que entidades de defesa ambiental
adquiram parte dos títulos, efetivamente retirando poluição do mercado. Na prática os
títulos vão se valorizando com o tempo, porque a tendência é que mais empresas entrem
na área aumentando a disputa pelos títulos, e o conseqüente aumento do preço dos
títulos tende a inibir a geração de mais poluentes. Já em uso com sucesso em algumas
áreas dos Estados Unidos.
É natural que cada uma dessas técnicas apresente suas falhas, e todas elas são,
de uma forma ou de outra, deficientes na captura de um suposto verdadeiro valor
atribuído pela sociedade como um todo para um determinado recurso natural.
À medida que um conhecimento maior da extensão dos danos ambientais e de
seus mecanismos de atuação for surgindo, os métodos de avaliação e valoração de que
tratamos neste módulo se tornarão mais concretos, precisos, abrangentes e aceitos: uma
maior parcela de valores e critérios será progressivamente agregada, fazendo com que o

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resultado final do “custo ambiental” seja cada vez mais parecido com a realidade
percebida do problema, e que, simultaneamente, nossa percepção seja progressivamente
mais abrangente.
Olhando para o passado, parece ser inútil discutir se o culpado pelos danos
ambientais foi a Economia, que falhou em não valorá-los corretamente, ou a engenharia,
que falhou em não prevê-los corretamente em seus projetos. Tudo leva a crer que trata-se
essencialmente de uma crise de percepção humana.
Essa falha de percepção pode ser minimizada, entre outras coisas, aplicando-se as
mesmas armas que vêm sendo usadas na destruição do ambiente, a ciência e a
tecnologia, para conservar e preservar o planeta.

26 Legislação Ambiental

É ilusão pensar que os problemas ambientais possam ser resolvidos somente


pela educação. A existência de boas leis conservacionistas e, muito mais do que isto, a
justa aplicação destas, cria oportunidades para mudar atitudes diante da natureza. Permitir
que tais leis não sejam cumpridas é deseducar e anarquizar as relações entre a riqueza
natural do país e a população.
No Brasil, a preocupação com a conservação e a preservação dos recursos
naturais renováveis remonta aos idos de 1907, quando a primeira versão do Código das
Águas foi apresentada à Câmara Federal, aprovados em segunda discussão e teve sua
tramitação interrompida. Em 1915 foi criado o primeiro Serviço Florestal no estado de São
Paulo. Mais tarde, em 1934, foi promulgado o Código das Águas, que se mantém até os
dias de hoje, complementada pela Lei 9433/97. Também é de 1934 o primeiro Código
Florestal do Brasil, pela Lei 4771, de 1965, que implantou o novo Código Florestal que
vigora até hoje. A Lei 4504, conhecida como o Estatuto da Terra, sancionada em 1964,
veio integrar, juntamente com o Código de Caça e Pesca um complexo conjunto de
instrumentos legais. Atualmente, existe um elenco de leis e legislações federais, estaduais
e municipais, com objetivos diferentes e muitas vezes conflitantes nas suas aplicações.
Existe um sistema de meios punitivos com a finalidade de coibir a degradação e
o uso irracional dos recursos naturais, podendo ser realizado através de uma ação civil
pública.

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A Lei 7347(24/07/85) impõe a responsabilidade por danos causados ao meio
ambiente e recursos hídricos ao cidadão, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico. Tal lei representou uma grande evolução na proteção dos
recursos naturais, possibilitando os prejudicados a reclamar da justiça os seus direitos.
O Mandato de Segurança (Lei 1533/51) permite que pessoas físicas e jurídicas
ingressem em juízo, buscando a proteção do direito civil ou coletivo.
Segundo a Lei 4717/65 (Lei de Ação Popular), todo cidadão pode recorrer à justiça
para obter a invalidação de atos administrativos ou fatos que possam ser lesivos ao
patrimônio público, histórico e cultural, à moralidade administrativa e ao meio ambiente.
Há muitos anos existe uma preocupação em todo o mundo com a defesa do meio
ambiente, sendo crescentes os movimentos ambientalistas e propostas governamentais,
objetivando a sua proteção. O aumento dessa consciência ecológica vem, aos poucos,
surtindo seus efeitos, mesmo que precariamente, em vista das dificuldades encontradas
na fiscalização dos crimes contra a natureza em extensas áreas, principalmente em países
de grande extensão territorial, como é o caso do Brasil.
Há muitas leis em nosso País que protegem a fauna e a flora e prescrevem punição
para os vários tipos de poluição. Tais leis são mal aplicadas, principalmente contra as
unidades de proteção e se torna um trabalho difícil. Quase sempre é mais fácil
regulamentar as causas e as fontes do que reparar as conseqüências. A agressão ao meio
ambiente é fruto da grave injustiça que existe nas relações entre os grupos dominantes e
dominados, no interior da maioria dos países pobres e da evidente desigualdade entre os
países desenvolvidos e os periféricos. A tecnologia, o desenvolvimento e o avanço do
conhecimento científico fazem com que as nações do Primeiro Mundo avancem em
progressão geométrica, enquanto as nações periféricas ou ficam estagnadas ou avançam
em progressão aritmética, distanciando-se cada vez mais dos primeiros. Isso evidencia a
implicação de riscos da concentração de problemas ambientais nos países periféricos,
onde a educação, a saúde, a habitação, o sistema produtivo e o apoio ao conhecimento
são completamente relegados ao um plano inferior. É imperioso que o exercício da
cidadania seja consolidado, na busca incessante da sistemática e eficiente participação na
organização social, política, e jurídica de cada cidadão, que com a ajuda de sua
comunidade se fortalecerá e fará prevalecer os seus direitos. É necessário que se cumpra
e se faça cumprir a legislação existente. No Brasil, quem aplica as leis é o Estado, mas o

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próprio Estado pode ser o causador ou estar conivente com muitos crimes contra a
natureza, pois é ele que constrói estradas, aeroportos, barragens para produção de
energia. Numa democracia, é saudável e até indispensável que os cidadãos se unam em
associações para garantir, juntamente com as autoridades competentes, a defesa do meio
ambiente. Em alguns países, a eficiência do Estado na fiscalização de crimes contra a
natureza é controlada pela justiça; o Estado pode ser condenado a pagar indenizações por
omissão. É preciso, pois, informação e educação, para se ter cidadãos ativos. Somente
assim as leis de proteção ambiental passarão à condição de direito fundamental de todos
os cidadãos.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988, em seu artigo 5º, inciso
LXXIII, estabelece que:
“Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao MEIO AMBIENTE e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
autor, se comprovada má fé, isento de custas judiciais e do ônus de sucumbência."
Ainda no Capítulo VI - DO MEIO AMBIENTE - Artigo 225, a proteção ao meio ambiente
ganha destaque especial.
Artigo 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e
à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
1º . Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e dos ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as
entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
VI - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;

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V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade.
§ 2º. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
§ 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º. A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
mato-grossense e a Zona Costeira são patrimônios nacionais e a sua utilização far-se-á na
forma da lei, dentro das condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º. São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º. As usinas que operam com reator nuclear deverão ter sua localização definida
por lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
OBSERVAÇÃO: Os ecossistemas de Cerrado e a Caatinga não foram contemplados no
texto da lei.

26.1 Lei dos Crimes Ambientais


A mais recente lei ambiental (Lei 9605 de 12/02/98) é a lei dos crimes ambientais,
cujos alguns artigos são citados a seguir.

Capítulo I
Disposições Gerais
Art. 2o - Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos
nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem

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como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o
gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa
de outrem, deixar de impedir a sua prática quando podia agir para evitá-la.
Art. 3o - As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida
por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no
interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

Capítulo V
Dos Crimes contra o Meio Ambiente

Seção 1
Dos Crimes contra a Fauna
Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre,
nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da
autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:
Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
§ 1o - Incorre nas mesmas penas:
I - quem impede a procriação da fauna sem licença, autorização ou em desacordo
com a obtida;
II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;
III - quem vende, expõe à venda exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou
depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em
rota migratória bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros
não autorizados ou sem a devida permissão licença ou autorização da autoridade
competente.
§ 2o - No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada
ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a
pena.

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§ 3o - São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies
nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte
de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas
jurisdicionais brasileiras.
§ 4o - A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente
no local da infração;
II - em período proibido à caça;
III - durante a noite;
IV - com abuso de licença;
V - em unidade de conservação;
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em
massa.
§ 5o - A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça
profissional.
§ 6o - As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.
Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem
a autorização da autoridade ambiental competente:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e
licença expedida por autoridade competente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1o - Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em
animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos
alternativos.
§ 2o - A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.
Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o
perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas,
baías ou água jurisdicionais brasileiras:

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Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas:
I - quem causa degradação e viveiros, açudes ou estações de aqüicultura de
domínio público;
II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licença,
permissão ou autorização da autoridade competente;
III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre
bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica.
Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares
interditados por órgão competente:
Pena - detenção, de um a três anos ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:
I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos
inferiores aos permitidos;
II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de
aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;
III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da
coleta, apanha e pesca proibidas.
Art. 35. Pescar mediante a utilização de:
I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito
semelhante;
II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente:
Pena - reclusão de um ano a cinco anos.
Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar,
extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes,
crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento
econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas
oficiais da fauna e da flora.
Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:
I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;

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II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora
de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente;
IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão
competente.

Seção II
Dos Crimes contra a Flora
Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente,
mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente sem
permissão da autoridade competente:
Pena - detenção, de um a três anos ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de
que trata o art. 27 do Decreto no 99.274 de 6 de junho de 1990, independentemente de
sua localização:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 1o - Entende-se por Unidades de Conservação as Reservas Biológicas, Reservas
Ecológicas, Estações Ecológicas, Parques Nacionais, Estaduais e Municipais, Florestas
Nacionais, Estaduais e Municipais, Áreas de Proteção Ambiental, Áreas de Relevante
Interesse Ecológico e Reservas Extrativistas ou outras a serem criadas pelo Poder
Público.
§ 2o - A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior
das Unidades de Conservação será considerada circunstância agravante para a fixação
da pena.
§ 3o - Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

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Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um
ano, e multa.
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar
incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer
tipo de assentamento humano:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente.
Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação
permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por ato
do Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração,
econômica ou não, em desacordo com as determinações legais:
Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa.
Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha,
carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor,
outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o
produto até final beneficiamento:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, tem em
depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produto de origem vegetal,
sem licença válida para todo o tempo da viagem ou de armazenamento, outorgada pela
autoridade competente.
Art. 48. Impedir ou dificultar regeneração natural de florestas e demais formas de
vegetação:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Art. 49. Destruir, danificar, lesar o maltratar, por qualquer modo ou meio plantas de
ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as pena
cumulativamente.
Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a seis meses, ou multa.

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Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora
de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 51. Comercializar motoserra o utilizá-la em florestas e nas demais formas de
vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou
instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodutos
florestais, sem licença da autoridade competente:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é aumentada de um sexto a um
terço se:
I - do fato resulta a diminuição de águas naturais, a erosão do solo ou a
modificação do regime climático;
II - o crime é cometido:
a. no período de queda das sementes;
b. no período de formação de vegetações;
c. contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça
ocorra somente no local da infração;
d. em época de seca ou inundação;
e. durante a noite, em domingo ou feriado.

26.2 Proteção Legal de Espécies

A nossa legislação ambiental é voltada para conservação de ecossistemas.


Existem historicamente poucas menções particulares a espécies. A primeira limitação a
extração de uma espécie foi feita pela Coroa Real Portuguesa, que tornou as árvores de
Pau-brasil propriedade real, e o seu corte sujeito a concessão. Menos do que
preocupação com a conservação da espécie, a coroa pretendia impedir que navios
franceses extraíssem madeira da colônia. Posteriormente outras espécies foram incluídas
na lista, criando o termo madeira de lei.

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A legislação ambiental atual raramente trata de espécies, como no artigo 16 do
código florestal, que obriga a extração racional da floresta de Araucária, e pela Portaria
IBAMA 439, de 1989, que obriga os produtores de palmito a repor os indivíduos extraídos
na razão de três para um.
Recentemente, os Estados passaram a publicar listas de espécies ameaçadas,
como no Rio de Janeiro (Portaria SEMA, 01 de 1998), além da Lista Oficial de Espécies
da Fauna Ameaçadas de Extinção (Portaria IBAMA 1.522,1989).
A estratégia de listar espécies em extinção é recomendada pela UICN, que edita
suas conhecidas Listas vermelhas de Espécies Ameaçadas. Esta estratégia é bastante
usada nos Estados Unidos, cuja principal lei para proteção de espécies é a Lei das
espécies em Extinção. Esta lei serviu como modelo para outros países, além do Brasil,
embora sua implementação frequentemente tenha se mostrado controvérsia.

26.2.1 Lei de Proteção à Fauna n 5.197 de 03/01/67

Art. 1º - Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu


desenvolvimento e que vive naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre,
bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, são propriedade do Estado, sendo
proibido a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.
§ 1º - Se peculiaridades regionais comportarem o exercício da caça, a permissão
será estabelecida em ato regulamentador do Poder Público Federal.
§ 2º - A utilização, perseguição, caça ou apanha de animais da fauna silvestre em
terras de domínio privado, mesmo quando permitidas na forma do parágrafo anterior,
poderão ser igualmente proibidas pelos respectivos proprietários, assumindo estes a
fiscalização de seus domínios. Nestas áreas, para a prática do ato de caça o
consentimento expresso ou tácito dos proprietários, nos termos dos arts. 594, 595, 596,
597 e 598 do Código Civil.
Art. 2º - É proibido o exercício da caça profissional.
Art. 3º - É proibido o comércio de espécimes da fauna silvestre e de produtos que
impliquem a sua caça, perseguição, destruição ou apanha.

26.3 Resolução CONAMA nº 303 de 20 de março de 2002

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Dispõe sobre áreas de preservação permanente - parâmetros, definições e limites de
Áreas de Preservação Permanente.

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, no uso das


competências que lhe são conferidas pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981,
regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, e tendo em vista o disposto
nas Leis nos 4.771, de 15 de setembro e 1965, 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e o seu
Regimento Interno, e
Considerando a função sócio-ambiental da propriedade prevista nos arts. 5º, inciso XXIII,
170, inciso VI, 182, § 2º, 186, inciso II e 225 da Constituição e os princípios da prevenção,
da precaução e do poluidor-pagador;

- Considerando a necessidade de regulamentar o art. 2º da Lei nº 4.771, de 15 de


setembro de 1965, no que concerne às Áreas de Preservação Permanente;

- Considerando as responsabilidades assumidas pelo Brasil por força da Convenção da


Biodiversidade, de 1992, da Convenção Ramsar, de 1971 e da Convenção de Washington,
de 1940, bem como os compromissos derivados da Declaração do Rio de Janeiro, de
1992;

- Considerando que as Áreas de Preservação Permanente e outros espaços territoriais


especialmente protegidos, como instrumentos de relevante interesse ambiental, integram o
desenvolvimento sustentável, objetivo das presentes e futuras gerações, resolve:

Art. 1º Constitui objeto da presente Resolução o estabelecimento de parâmetros,


definições e limites referentes às Áreas de Preservação Permanente.

Art. 2º Para os efeitos desta Resolução, são adotadas as seguintes definições:


I - nível mais alto: nível alcançado por ocasião da cheia sazonal do curso d`água perene
ou intermitente;
II - nascente ou olho d`água: local onde aflora naturalmente, mesmo que de forma

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Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
intermitente, a água subterrânea;
III - vereda: espaço brejoso ou encharcado, que contém nascentes ou cabeceiras de
cursos d`água, onde há ocorrência de solos hidromórficos, caracterizado
predominantemente por renques de buritis do brejo (Mauritia flexuosa) e outras formas de
vegetação típica;
IV - morro: elevação do terreno com cota do topo em relação a base entre cinqüenta e
trezentos metros e encostas com declividade superior a trinta por cento (aproximadamente
dezessete graus) na linha de maior declividade;
V - montanha: elevação do terreno com cota em relação a base superior a trezentos
metros;
VI - base de morro ou montanha: plano horizontal definido por planície ou superfície de
lençol d`água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota da depressão mais baixa ao
seu redor;
VII - linha de cumeada: linha que une os pontos mais altos de uma seqüência de morros
ou de montanhas, constituindo-se no divisor de águas;
VIII - restinga: depósito arenoso paralelo a linha da costa, de forma geralmente alongada,
produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades
que recebem influência marinha, também consideradas comunidades edáficas por
dependerem mais da natureza do substrato do que do clima. A cobertura vegetal nas
restingas ocorrem mosaico, e encontra-se em praias, cordões arenosos, dunas e
depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional, estrato herbáceo,
arbustivos e abóreo, este último mais interiorizado;
IX - manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das
marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa,
predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com influência flúvio-
marinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao
longo da costa brasileira, entre os estados do Amapá e Santa Catarina;
X - duna: unidade geomorfológica de constituição predominante arenosa, com aparência
de cômoro ou colina, produzida pela ação dos ventos, situada no litoral ou no interior do
continente, podendo estar recoberta, ou não, por vegetação;
XI - tabuleiro ou chapada: paisagem de topografia plana, com declividade média inferior a
dez por cento, aproximadamente seis graus e superfície superior a dez hectares,

165
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
terminada de forma abrupta em escarpa, caracterizando-se a chapada por grandes
superfícies a mais de seiscentos metros de altitude;
XII - escarpa: rampa de terrenos com inclinação igual ou superior a quarenta e cinco
graus, que delimitam relevos de tabuleiros, chapadas e planalto, estando limitada no topo
pela ruptura positiva de declividade (linha de escarpa) e no sopé por ruptura negativa de
declividade, englobando os depósitos de colúvio que localizam-se próximo ao sopé da
escarpa;
XIII - área urbana consolidada: aquela que atende aos seguintes critérios:
a) definição legal pelo poder público;
b) existência de, no mínimo, quatro dos seguintes equipamentos de infra-estrutura urbana:
1. malha viária com canalização de águas pluviais,
2. rede de abastecimento de água;
3. rede de esgoto;
4. distribuição de energia elétrica e iluminação pública ;
5. recolhimento de resíduos sólidos urbanos;
6. tratamento de resíduos sólidos urbanos; e
c) densidade demográfica superior a cinco mil habitantes por km2.

Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada:


I - em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção horizontal, com
largura mínima, de:
a) trinta metros, para o curso d`água com menos de dez metros de largura;
b) cinqüenta metros, para o curso d`água com dez a cinqüenta metros de largura;
c) cem metros, para o curso d`água com cinqüenta a duzentos metros de largura;
d) duzentos metros, para o curso d`água com duzentos a seiscentos metros de largura;
e) quinhentos metros, para o curso d`água com mais de seiscentos metros de largura;
II - ao redor de nascente ou olho d`água, ainda que intermitente, com raio mínimo de
cinqüenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte;
III - ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mínima de:
a) trinta metros, para os que estejam situados em áreas urbanas consolidadas;
b) cem metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d`água com até
vinte hectares de superfície, cuja faixa marginal será de cinqüenta metros;

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IV - em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de
cinqüenta metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado;
V - no topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir da curva de nível
correspondente a dois terços da altura mínima da elevação em relação a base;
VI - nas linhas de cumeada, em área delimitada a partir da curva de nível correspondente
a dois terços da altura, em relação à base, do pico mais baixo da cumeada, fixando-se a
curva de nível para cada segmento da linha de cumeada equivalente a mil metros;
VII - em encosta ou parte desta, com declividade superior a cem por cento ou quarenta e
cinco graus na linha de maior declive;
VIII - nas escarpas e nas bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir da linha de ruptura em
faixa nunca inferior a cem metros em projeção horizontal no sentido do reverso da
escarpa;
IX - nas restingas:
a) em faixa mínima de trezentos metros, medidos a partir da linha de preamar máxima;
b) em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação com função
fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues;
X - em manguezal, em toda a sua extensão;
XI - em duna;
XII - em altitude superior a mil e oitocentos metros, ou, em Estados que não tenham tais
elevações, à critério do órgão ambiental competente;
XIII - nos locais de refúgio ou reprodução de aves migratórias;
XIV - nos locais de refúgio ou reprodução de exemplares da fauna ameaçadas de extinção
que constem de lista elaborada pelo Poder Público Federal, Estadual ou Municipal;
XV - nas praias, em locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre.
Parágrafo único. Na ocorrência de dois ou mais morros ou montanhas cujos cumes
estejam separados entre si por distâncias inferiores a quinhentos metros, a Área de
Preservação Permanente abrangerá o conjunto de morros ou montanhas, delimitada a
partir da curva de nível correspondente a dois terços da altura em relação à base do morro
ou montanha de menor altura do conjunto, aplicando-se o que segue:
I - agrupam-se os morros ou montanhas cuja proximidade seja de até quinhentos metros
entre seus topos;
II - identifica-se o menor morro ou montanha;

167
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
III - traça-se uma linha na curva de nível correspondente a dois terços deste; e
IV - considera-se de preservação permanente toda a área acima deste nível.

Art. 4º O CONAMA estabelecerá, em Resolução específica, parâmetros das Áreas de


Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso de seu entorno.

Art. 5º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se a


Resolução
CONAMA 004, de 18 de setembro de 1985.

26.4 Código Florestal

A Lei Nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 que instituiu o Código Florestal foi


alterada pela Lei Nº 7.803, de 18 de julho de 1989.

Lei Nº 7.803, de 18 de julho de 1989.

Altera a redação da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e revoga as Leis nºs 6.535,
de 15 de junho de 1978, e 7.511, de 7 de julho de 1986.

Art. 1º A Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, passa a vigorar com as


seguintes alterações:

I - o art. 2º passa a ter a seguinte redação:

“Art. 2º .....................................

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em
faixa marginal cuja largura mínima seja:

1) de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de


largura;

168
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
2) de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinqüenta) metros de largura;

3) de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200
(duzentos) metros de largura;

4) de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos)
a 600 (seiscentos) metros de largura;

5) de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a
600 (seiscentos) metros;

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer
que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de
largura;

g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo,


em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a


vegetação.

Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas


nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos
respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a
que se refere este artigo."

II - o art. 16 passa a vigorar acrescido de dois parágrafos, numerados como § 2º e


3º, na forma seguinte:

"Art. 16 ................................

§ 1º Nas propriedades rurais, compreendidas na alínea a deste artigo, com área


entre 20 (vinte) a 50 (cinqüenta) hectares, computar-se-ão, para efeito de fixação do limite

169
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
percentual, além da cobertura florestal de qualquer natureza, os maciços de porte
arbóreo, sejam frutíferos, ornamentais ou industriais.

§ 2º A reserva legal, assim entendida a área de, no mínimo, 20% (vinte por cento)
de cada propriedade, onde não é permitido o corte raso, deverá ser averbada à margem
da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada, a
alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de
desmembramento da área.

§ 3º Aplica-se às áreas de cerrado a reserva legal de 20% (vinte por cento) para
todos os efeitos legais."

III - o art. 19 passa a vigorar acrescido de um parágrafo único, com a seguinte


redação:

"Art. 19. A exploração de florestas e de formações sucessoras, tanto de domínio


público como de domínio privado, dependerá de aprovação prévia do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, bem como da adoção
de técnicas de condução, exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os
variados ecossistemas que a cobertura arbórea forme.

Parágrafo único. No caso de reposição florestal, deverão ser priorizados projetos


que contemplem a utilização de espécies nativas."

IV - o art. 22 passa a ter a seguinte redação:

"Art. 22. A União, diretamente, através do órgão executivo específico, ou em


convênio com os Estados e Municípios, fiscalizará a aplicação das normas deste Código,
podendo, para tanto, criar os serviços indispensáveis.

Parágrafo único. Nas áreas urbanas, a que se refere o parágrafo único do art. 2º.
desta Lei, a fiscalização é da competência dos municípios, atuando a União
supletivamente."

V - o art. 44 fica acrescido do seguinte parágrafo único:

170
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
Parágrafo único. A reserva legal, assim entendida a área de, no mínimo, 50%
(cinqüenta por cento), de cada propriedade, onde não é permitido o corte raso, deverá
ser averbada à margem da inscrição da matrícula do imóvel no registro de imóveis
competente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a
qualquer título, ou de desmembramento da área."

VI - ficam-lhe acrescidos dois artigos, numerados como arts. 45 e 46 renumerando-


se os atuais arts. 45, 46, 47 e 48 para 47, 48, 49 e 50, respectivamente:

"Art. 45. Ficam obrigados ao registro no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA os estabelecimentos comerciais responsáveis
pela comercialização de moto-serras, bem como aqueles que adquirirem este
equipamento.

§ 1º. A licença para o porte e uso de moto-serras será renovada a cada 2 (dois)
anos perante o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
- IBAMA.

§ 2º. Os fabricantes de moto-serras ficam obrigados, a partir de 180 (cento e


oitenta) dias da publicação desta Lei, a imprimir, em local visível deste equipamento,
numeração cuja seqüência será encaminhada ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e constará das correspondentes notas
fiscais.

§ 3º. A comercialização ou utilização de moto-serras sem a licença a que se refere


este artigo constitui crime contra o meio ambiente, sujeito à pena de detenção de 1 (um) a
3(três) meses e multa de 1(um) a 10 (dez) salários mínimos de referência e a apreensão
da moto-serra, sem prejuízo da responsabilidade pela reparação dos danos causados.

Art. 46. No caso de florestas plantadas, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e


dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA zelará para que seja preservada, em cada
município, área destinada à produção de alimentos básicos e pastagens, visando ao
abastecimento local."

171
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
Art. 2º. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa) dias,
contados de sua publicação.

Art. 3º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 4º. Revogam-se as Leis n.ºs 6.535, de 15 de junho de 1978, e 7.511, de 7 de julho
de 1986, e demais disposições em contrário.

Brasília, 18 de julho de 1989; 168º. da Independência e 101º. da República.

26.5 Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA)

A Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA, estabelecida pela Lei Federal nº


6.938, de 31 de agosto de 1981, tem como objetivo principal “a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental, propícia à vida, visando assegurar, no País,
condições de desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e
à proteção da vida humana”.
Esta Lei estabeleceu os princípios de ação governamental para manutenção do
equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como patrimônio público a ser
protegido para o uso coletivo, mediante o controle e o acompanhamento da qualidade
ambiental, a racionalização do uso dos recursos naturais, a proteção aos ecossistemas e
espaços protegidos, o zoneamento ambiental, o incentivo aos estudos e pesquisas e à
educação ambiental.
A Política ambiental Brasileira está traçada, também em diversas outras seções,
como no que dispõe sobre a saúde, na que dispõe sobre patrimônio cultural, na política
agrícola e fundiária, assim como nos princípios gerais da atividade econômica.
Os objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente estão estabelecidos no artigo
4º e visam:
“I – Á compatibilização do desenvolvimento econômico-social com preservação da
qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
II – á definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e o
equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da união, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios;

172
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
III – ao estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas
relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
IV – ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para
o uso racional de recursos ambientais;
V – à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e
informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de
preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;
VI – à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua
utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para manutenção do
equilíbrio ecológico propício à vida;
VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos
ambientais com fins econômicos.”
A partir do seu estabelecimento, o conceito de qualidade ambiental passou a ser
reconhecido como um fator fundamental para a qualidade de vida. Os órgãos ambientais
de governo passaram a ser estruturados para desenvolver a gestão ambiental com a
atribuição principal de controlar os efeitos negativos do desenvolvimento econômico.
Com a constatação da crescente crise ambiental, consagrou-se o paradigma de
desenvolvimento sustentável, definido como “o modelo de desenvolvimento que objetiva a
sustentabilidade ambiental, através da utilização racional dos recursos naturais tendo em
vista o atendimento das necessidades das gerações atuais sem comprometer a
necessidades de gerações futuras” (ONU, 1991).
A constituição Federal, promulgada em 1988, consagrou estes princípios ao
estabelecer que:
“Art. 225. – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial “a sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras
gerações.”
A busca da sustentabilidade ambiental do desenvolvimento determinou uma nova
abordagem nas relações entre meio ambiente e desenvolvimento, implicando em
considerar a dimensão da capacidade de suporte dos ecossistemas naturais nas opções

173
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
políticas e sociais, impondo a análise dos custos ecológicos vinculados às atividades
humanas.

26.5.1 Princípios da Política Nacional do Meio Ambiente

1. Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio


ambiente como patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido tendo
em vista o uso coletivo;
2. Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
3. Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
4. Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
5. Controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
6. Incentivo ao estudo e a pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a
proteção dos recursos ambientais;
7. Acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
8. Recuperação das áreas degradadas;
9. Proteção das áreas ameaçadas de degradação;
10. Educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade
objetivando capacita-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

26.6 Lei Federal N° 9.985, de 18 de julho de 2000 que institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação – SNUC

A Lei Federal N° 9.985, de 18 de julho de 2000 que institui o Sistema Nacional de


Unidades de Conservação – SNUC pode ser encontrada no endereço eletrônico abaixo.
Caso não consiga acessá-la, envie um e-mail para tutoria, que estaremos lhe
encaminhando.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm
O endereço do Decreto que regulamenta os artigos da Lei Federal N° 9.985, pode ser
acessado através do endereço abaixo:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4340.htm

174
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
Obs.: As Leis, Decretos e/ou Resoluções presentes neste módulo (04), não constarão na
avaliação final com exceção da Lei Nº 7.803 de 18 de julho de 1989 (Código Florestal) e dos
princípios da Política Nacional do Meio Ambiente.

27 Acordos Internacionais

A proteção da diversidade biológica precisa ser considerada nos vários níveis de


governo. Se, de um lado, os principais mecanismos de controle existentes no mundo são
feitos de forma isolada pelos países, por outro, os acordos internacionais estão, cada vez
mais, sendo usados para proteger as espécies e os habitats. A cooperação internacional
é uma exigência crucial por várias razões. Em primeiro lugar, as espécies frequentemente
migram para além das fronteiras internacionais. Os esforços de conservação para
proteger as espécies migratórias de pássaros no norte da Europa não funcionarão, se o
habitat dos pássaros que se protegem do inverno na África for destruído.
Em segundo lugar, o comércio internacional de produtos biológicos pode resultar
numa super-exploração de espécies para suprir a demanda. O controle e o manejo do
comércio são necessários tanto na exportação quanto na importação.
Em terceiro lugar, os benefícios da diversidade biológica são de importância
internacional. Os países ricos das zonas temperadas, que se beneficiam da diversidade
biológica tropical, precisam estar dispostos a ajudar os países menos ricos que a
preservam.
Finalmente, muitos dos problemas que ameaçam as espécies e os ecossistemas
são de âmbito internacional e requerem cooperação internacional para resolvê-los. Essas
ameaças incluem a caça e a pesca predatórias, a poluição atmosférica, a chuva ácida, a
poluição de lagos, rios e oceanos, a mudança climática global e a redução do ozônio.
O único tratado internacional importante que protege as espécies é a convenção do
tratado Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES) firmada em 1973, em conjunto
com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP). O tratado está
atualmente endossado por mais de 200 países. O CITES fornece uma lista de espécies
cujo comércio internacional será controlado. Os países membros concordam em restringir
o comércio e a exploração destrutiva daquelas espécies. O anexo I do tratado inclui
aproximadamente 675 animais e plantas cuja comercialização está proibida e o Anexo II

175
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores
inclui cerca de 3.700 animais e 21.000 plantas cujo comércio internacional é regulado e
monitorado. Entre as plantas os anexos contemplam importantes espécies herbáceas tais
como, orquídeas, cicadáceas, cactos, plantas carnívoras e samambaias, cada mais eles
contemplam espécies de árvores. Entre os animais, os grupos cuidadosamente
controlados incluem os papagaios, felinos, baleias, tartarugas marinhas, pássaros
predadores, rinocerontes, ursos, primatas, as espécies escolhidas como animais de
estimação, para zoológicos, e comercialização em aquários e as espécies caçadas para o
comércio de pele, lã ou outros produtos comerciais.
Os tratados internacionais tais como o CITES são implementados quando um país
signatário emite leis que caracterizam sua violação como ato criminoso. Uma vez que as
leis do CITES são promulgadas em um país, a polícia , as autoridades alfandegárias, as
autoridades ambientalistas e outros agentes governamentais podem prender e processar
os indivíduos em posse ou que comercializem as espécies listadas no CITES e apreender
os produtos ou órgãos envolvidos. Os seguintes organismos fornecem consultoria técnica
aos países: UICN – The World Conservation Union Wildlife Trade Specialist (Grupo
Especializado em Comercialização de Espécies Silvestres do Sindicato Internacional para
Conservação), o Fundo Internacional para a Natureza (WWF) a rede TRAFFIC e o centro
Mundial de Monitoração da conservação (WCMC), Unidade de Monitoração do Comércio
de Espécies Silvestres. O sucesso mais notável do CITES foi uma interdição no comércio
de marfim que estava causando graves reduções das populações de elefantes da África.
Outro tratado internacional é a convenção sobre as Espécies Migratórias de
Animais Silvestres, assinada em 1979, com enfoque principal nas espécies de pássaros.
Esta convenção serve como importante complemento ao CITES para encorajar os
esforços internacionais no sentido de preservar as espécies de pássaros que migram para
além das fronteiras internacionais, e por enfatizar as abordagens regionais no que diz
respeito à regulamentação da pesquisa, administração e caça. O problema com esta
convenção é que apenas alguns países (cerca de 40) a assinaram e seu orçamento é
muito limitado. Ela também não contempla outras espécies migratórias, tais como os
mamíferos e peixes marinhos.
Outros acordos internacionais que protegem as espécies são:
• A Convenção sobre a Conservação dos Recursos Marinhos Vivos da Antártica;

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• A Convenção Internacional para a regulamentação da pesca à baleia, que constitui a
Comissão Internacional da Pesca à Baleia;
• A Convenção Internacional para a Proteção de Pássaros e a Convenção Benelux
sobre Caça e Proteção de Pássaros;
• A Convenção sobre Pesca e Conservação dos Recursos Vivos no Mar Báltico;
• Diversos acordos que protegem grupos específicos de animais tais como ao pitus,
lagostas, caranguejos, focas (comércio de pele), salmões e vicunhas.
Um ponto fraco nestes tratados internacionais é que a participação é voluntária, os
países podem sair da convenção para ir atrás de seus próprios interesses quando
consideram difícil a obediência ao acordo. Esta falha foi evidenciada recentemente
quando muitos países deixaram a Comissão Internacional de Pesca à Baleia porque esta
proibiu a caça. É necessário que haja persuasão e pressão pública para induzir os países
a colocar em vigor as cláusulas dos tratados e processar aqueles que a violam.

------ FIM MÓDULO IV -----

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