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Texto de apoio ao curso de Especialização

Atividade Física Adaptada e Saúde


Prof. Dr. Luzimar Teixeira

INDICAÇÃO PARA A PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS DIRIGIDOS A IDOSOS


*Daniela Karina da SILVA ,** Mauro V.G. de BARROS
*Especializando em Avaliação e Prescrição de Programas e Exercícios Físicos - UEL / PR

**Professor do Dep. do Conhecimento Técnico e Científico em Ed. Física - ESEF / UPE

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, na maioria das sociedades, tem havido um aumento na expectativa de vida,
repercutindo num incremento do número de pessoas pertencentes a terceira idade,
principalmente nos países mais desenvolvidos como o Japão, a Suécia, os EUA e o Canadá
onde a expectativa média de vida é de 75 anos; nos países subdesenvolvidos, todavia, essa
expectativa média de vida não ultrapassa os 56 anos no Peru, 48 anos na Bolívia e 61 anos no
Brasil (Matsudo & Matsudo, 1992).

Desde 1930 ocorreram, no país, modificações nas causas de morbidade e mortalidade com a
redução da incidência de doenças infecto-contagiosas (sobretudo nas regiões sul e sudeste) e
aumento na incidência de doenças crônico - degenerativas, representadas principalmente pelas
doenças do aparelho circulatório. Historicamente as neoplasias não modificaram de modo
acentuado a sua prevalência na população (Brasil, 1995).

Por outro lado, sabe - se que o processo de envelhecimento é acompanhado por uma série de
alterações fisiológicas acorridas no organismo (Leite, 1990; Weineck, 1991; Skinner, 1991;
FederighiI, 1995; Faro Jr., Lourenço & Barros Neto, 1996a; Zogaib, Bittar & Bicarrelo, 1996),
bem como pelo surgimento de doenças crônico - degenerativas adivindas de hábitos de vida
inadequados (tabagismo, ingestão alimentar incorreta, tipo de atividade laboral, ausência de
atividade física regular, etc.).

Em virtude desses aspectos, acredita - se que a participação do idoso em programas de


exercício físico regular poderá influenciar no processo de envelhecimento, com impacto sobre a
qualidade e expectativa de vida, melhoria das funções orgânicas, garantia de maior
independência pessoal e um efeito benéfico no controle, tratamento e prevenção de doenças
como diabetes, enfermidades cardíacas, hipertensão, arteriosclerose, varizes, enfermidades
respiratórias, artrose, distúrbios mentais, artrite e dor crônica (Matsudo & Matsudo, 1992;
Shephard, 1991).

Por esses motivos, diversos estudos nessa área tem procurado descrever os benefícios,
dificuldades e peculiaridades do condicionamento físico, visando prevenir e atenuar o declínio
funcional decorrente do processo de envelhecimento (Leite, 1990; Yazbek & Batistella, 1994;
Acsm, 1994; Federighi, 1995; Matsudo & Matsudo, 1993); outros trabalhos analisaram o risco à
saúde decorrente da participação do idoso em programas de exercícios (Weineck, 1991), ou os
critérios mínimos de aptidão cardiorrespiratória e motora para sustentar o programa sem risco à
saúde (Leite, 1990). O treinamento esportivo para os idosos, não como campo de realização de
altas performances mas como meio para manutenção e alcance da saúde, tem sido estudada
por Apell & Mota (1991); outros trabalhos procuraram enfocar a capacidade de desempenho ou

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treinamento do idoso verificando os declínios funcionais e comparando-os aos de outros
indivíduos (atletas, sedentários, pessoas jovens, etc.) (Skinner, 1991; Weineck, 1991).

Dessa forma o presente estudo buscou investigar como está indicada a prescrição de exercícios
para idosos, constante na literatura publicada entre 1986 e 1996, em língua portuguesa, sob a
forma de livros, periódicos, anais e publicações eletrônicas. Para tanto, procurou-se coletar
dados quanto aos seguintes aspectos: a)considerações para elaboração de programas de
exercícios para idosos; b)indicações dos objetivos para programa de exercícios dirigidos a esse
grupos de pessoas; c)composição da sessão de exercícios; d)cuidados e restrições quanto a
condução dos programas; e)intensidade, duração, freqüência e tipo de exercícios
recomendados.
CONSIDERAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DO PROGRAMA DE EXERCÍCIOS
Na elaboração de um programa de exercícios ísicos é importante ter o conhecimento específico
sobre a faixa etária em que o indivíduo está inserido e sobre as modificações que ocorrem neste
período, além de considerar também as peculiaridades individuais. Nesse sentido, diversos
autores tem procurado apontar alterações decorrentes do processo de envelhecimento, bem
como as implicações dessas alterações na elaboração e supervisão desses programas.

O envelhecimento é um processo que, do ponto de vista fisiológico, não ocorre necessariamente


em paralelo ao avanço da idade cronológica, apresentando considerável variação individual;
este processo surge acompanhado por uma série de modificações nos diferentes sistemas do
organismo, seja a nível antropométrico, muscular, cardiovascular, pulmonar, neural ou de outras
funções orgânicas que sofrem efeitos deletérios, além do declínio das capacidades funcionais e
modificações no funcionamento fisiológico (Faro Jr., Lourenço & Barros Neto, 1996a, 1996b;
Yazbek & Batistella,1994; Matsudo & Matsudo, 1993; Skinner,1991; Mcardle, Katch & Katch,
1986).

O envelhecimento é marcado por um decréscimo das capacidades motoras, redução da força,


flexibilidade, velocidade e dos níveis de VO2 máximo, dificultando a realização das atividades
diárias e a manutenção de um estilo de vida saudável (Marques, 1996). Ocorrem alterações
fisiológicas durante o envelhecimento que podem diminuir a capacidade funcional,
comprometendo a saúde e qualidade de vida do idoso. Essas alterações acontecem: ao nível do
sistema cardiovascular; no sistema respiratório com a diminuição da capacidade vital, da
freqüência e do volume respiratório; no sistema nervoso central e periférico, onde a reação se
torna mais lenta e a velocidade de condução nervosa declina e; no sistema músculo -
esquelético pelo declínio da potência muscular, não só pelo avanço da idade mas pela falta de
uso e diminuição da taxa metabólica basal (Faro Jr., Lourenço & Barroa Neto, 1996c; Matsudo &
Matsudo, 1992; Skinner, 1991).

É possível apontar as alterações que acontecem durante o processo de envelhecimento em


vários níveis, segundo Matsudo & Matsudo 1993) essas mudanças são as seguintes:
1. antropométricas - incremento no peso, diminuição da massa livre de gordura, diminuição da
altura, incremento da gordura corporal, diminuição da massa muscular, diminuição da densidade
óssea;
2. muscular - perda de 10 - 20% na força muscular, diminuição na habilidade para manter força
estática, maior índice de fadiga muscular, menor capacidade para hipertrofia, diminuição no
tamanho e número de fibras musculares, diminuição na atividade da ATPase miofibrilar,
diminuição das enzimas glicolíticas e oxidativas, diminuição dos níveis de ATP-CP, glicogênio,
proteína mitocondrial, diminuição na velocidade de condução, aumento do limiar de
excitabilidade da membrana e diminuição na capacidade de regeneração;

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3. cardiovascular - diminuição do débito cardíaco, diminuição da freqüência cardíaca, diminuição
do volume sistólico, diminuição da utilização de O2 pelos tecidos, diminuição do VO2 máximo,
aumento da pressão arterial, aumento na diferença arteriovenosa de O2, aumento da
concentração de ácido láctico, aumento no débito de O2, menor capacidade de adaptação e
recuperação do exercício;
4. pulmonar - diminuição da capacidade vital, aumento do volume residual, aumento do espaço
morto anatômico, aumento da ventilação durante o exercício, menor mobilidade da parede
torácica, diminuição da capacidade de difusão pulmonar O2;
5. neural - diminuição no número e tamanho dos neurônios, diminuição na velocidade de
condução nervosa, aumento do tecido conectivo nos neurônios, menor tempo de reação, menor
velocidade de movimento, diminuição no fluxo sangüíneo cerebral;
6. outros - diminuição da agilidade, diminuição da coordenação, diminuição do equilíbrio,
diminuição da flexibilidade, diminuição da mobilidade articular, aumento na rigidez de cartilagem,
tendões e ligamentos.

Em face desses aspectos, antes de iniciar qualquer tipo de exercício, considera-se importante
que o idoso seja submetido a uma avaliação médica cuidadosa, constando preferencialmente de
um teste de esforço para prescrição do programa, quanto a essa recomendação é importante
levar em conta alguns critérios que deverão influenciar a seleção do protocolo e servem,
também, para ilustrar algumas das importantes restrições impostas pelo envelhecimento quanto
a realização de exercícios: a diminuição do VO2 máximo pode requerer que se opte por um teste
de baixa e moderada intensidade e maior duração, isso se deve também a um maior tempo
requerido para que se alcance o stead - state; usar maior período de aquecimento e pequenos
incrementos nas cargas ou incremento em intervalos de tempo maior; em função da maior
fadigabilidade deve ser diminuída a duração total do teste; a diminuição dos níveis de equilíbrio
e força indica o uso prioritário da bicicleta (ergômetro); a redução na coordenação muscular
exige, muitas vezes, a realização de mais de um teste até que se chegue a um resultado
confiável; outros fatores como o uso de dentaduras, a diminuição da acuidade visual e auditiva,
devem ser também considerados (Matsudo & Matsudo, 1993).
A partir do reconhecimento desses fatores é possível compreender que o idoso é relativamente
mais fraco, mais lento e menos potente; verificando-se com o avanço da idade uma redução no
desempenho que requer regulação do sistema nervoso, como no caso do equilíbrio e do tempo
de reação (Skinner, 1991).
OBJETIVOS DO PROGRAMA DE EXERCÍCIOS DIRIGIDOS A IDOSOS:
Existe um consenso, entre os autores, que os objetivos de um programa de exercícios devem
estar diretamente relacionados com as modificações mais importantes e que são decorrentes do
processo de envelhecimento. Desse modo, um programa de exercícios para idosos deve estar
direcionado: a)ao melhoramento da flexibilidade, força, coordenação e velocidade; b)elevação
dos níveis de resistência, com vistas a redução das restrições no rendimento pessoal para
realização de atividades cotidianas; c)manutenção da gordura corporal em proporções
aceitáveis. Esses aspectos irão influenciar na melhoria da qualidade de vida (Matsudo &
Matsudo, 1992;Apell & Mota, 1991; Marques, 1996) e poderão atenuar os efeitos da diminuição
do nível de aptidão física na realização de atividades diárias e na manutenção de um maior grau
de independência (Marques, 1996).
O programa de exercícios para idosos deve proporcionar benefícios em relação as capacidades
motoras que apoiam a realização das atividades da vida diária, melhorando a capacidade de
trabalho e lazer e alterando a taxa de declínio do estado funcional (Marques, 1996; Faro Jr.,
Lourenço & Barros Neto, 1996c; ACSM, 1994).

Segundo Yazbeck & Batistella (1994) o programa de exercícios terá como objetivo a melhoria do
condicionamento físico, diminuição do risco cardiovascular e melhoria da qualidade de vida.
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COMPOSIÇÃO DO PROGRAMA DE EXERCÍCIOS

Segundo Weineck (1991) e Acms (1994) devem estar incluídos em um programa de exercícios
para idosos o treino da força muscular, da mobilidade articular e da resistência; a preocupação
quanto a essas variáveis se deve a notável diminuição da força muscular após os 60 anos de
idade (Phillips & Haskel apud Marques, 1996), do mesmo modo, a flexibilidade e a resistência
diminuem com a idade, sabe-se, porém, que esta perda é maior quando os indivíduos não fazem
qualquer atividade física. Desse modo, mesmo que se verifique uma redução da capacidade de
trabalho com o avanço da idade, a atividade física e o treino podem contrabalançar estas
alterações já mencionadas (Marques, 1996).

A composição do programa deverá observar os resultados obtidos em testes e medidas da


aptidão física e dependerá dos objetivos, necessidades, estado de saúde e condicionamento do
indivíduo, assim como do tempo, equipamentos e instalações disponíveis. O programa deverá
conter basicamente um período de `aquecimento' e `esfriamento', uma atividade de
predominância aeróbia e outra de predominância neuro muscular. No aquecimento devem ser
realizados alongamentos e movimentos articulares para evitar lesões e contribuir para a
manutenção da mobilidade articular. A atividade ísica bem estruturada e elaborada para os
idosos, pode recuperar o ritmo e a expressividade do corpo, agilizar os reflexos e adequar os
gestos a diferentes situações (Skinner, 1991; Leite, 1990; Matsudo, 1992). São recomendados
exercícios que estimulem a melhora cardiovascular (exercícios de endurance), devendo ser
incluídos nos programas exercícios de aquecimento e volta à calma, além de um trabalho de
força muscular. Para Yazbeck & Batistella (1994) o programa de exercícios para idosos deve ser
composto basicamente por exercício dinâmicos (predominantemente isotônicos) para gerar
benefícios ao sistema cardiovascular e respiratório.
Em síntese o programa de exercícios deverá ser constituído por partes que estão relacionadas a
objetivos específicos e, consequentemente, visando promover melhorias quanto a sensação de
bem estar e nível de saúde. CUIDADOS E RESTRIÇÕES A participação do idoso em
programas de exercícios físicos deve observar os cuidados e restrições indicados abaixo:
QUADRO 1 - Restrições e cuidados quanto aos programas de exercicios.

RESTRIÇÕES CUIDADOS
Altas intensidades de exercicios ( MARQUES, 1966; MATSUDO & MATSUDO, 1993; FARO
JÚNIOR, LOURENÇO & BARROS NETO, 1996c) Não ultrapassar a amplitude máxima dos
movimentos ( MARQUES,1966 )
Solicitação do sistema anaeróbico deve ser evitada ( MARQUES,1966, LEITE, 1990; FARO
JÚNIOR, LOURENÇO & BARROS NETO, 1996c) Não prolongar exercícios na presença de dor
( MARQUES,1966 )
Exercicios isométricos ( MARQUES,1966, LEITE, 1990; FARO JÚNIOR, LOURENÇO &
BARROS NETO, 1996c) Uso de medicamentos ( YAZBECK & BATISTELLA,1994 )
Movimentos Rápidos e bruscos ( MATSUDO & MATSUDO, 1992) Não levar a exaustão (
MATSUDO & MATSUDO, 1992)

Exercícios de elevada intensidade e a conseqüente solicitação do sistema anaeróbio devem ser


evitados, por conduzirem a um maior desgaste muscular e aumentarem o risco de lesões nessas
estruturas, além de produzirem efeitos sobre o VO2 máximo, limiar anaeróbio e respostas
cardiorrespiratórias, que são muito similares aqueles obtidos através de exercícios de baixa e
moderada intensidade (Marques, 1996; Matsudo & Matsudo, 1993; Faro Jr., Lourenço & Barros
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Neto, 1996c). Os exercícios nunca devem ser realizados até a exaustão, fadiga e na presença
de dor, pois esses são fatores que podem indicar a realização de atividades intensas, respostas
dessa natureza, recomendam a interrupção da sessão de exercícios e a necessidade de
redimensionamento da prescrição (Marques, 1996; Matsudo & Matsudo, 1992).
Existem indicações de que os exercícios estáticos (Marques, 1996) e utilização da manobra de
valsalva (Marsudo& Matsudo, 1992) são contra - indicados em programas dirigidos para idosos,
devido as suas implicações sobre a elevação da pressão arterial. Da mesma maneira,
movimentos abruptos, transições entre altas e baixas intensidades, mudanças bruscas de
posição e movimentos rápidos da cabeça são atividades que podem representar um risco
desnecessário em programas destinados a esse ipo de público (ibid.).

Os movimentos podem ser realizados com extensão completa, mas a amplitude máxima de uma
articulação não deve ser ultrapassada, pois os movimentos de hiper extensão afetam a
estabilidade das articulações e podem ter como conseqüência, danos e dores mais ou menos
permanentes (Marques, 1996).

Segundo Yazbeck & Batistella (1994) e Matsudo & Matsudo (1992), as atividades esportivas
devem ser realizadas em temperaturas amenas, nunca em condições climáticas extremas de frio
e calor. Outro aspecto importante a ser observado é a utilização de medicamentos, que pode
produzir no organismo efeitos indesejáveis durante a realização de esforços físicos Marques
(1996).

Foi possível observar que alguns autores, ao abordar os cuidados e restrições relativos a
elaboração de programas de exercícios para idosos, não mencionam os motivos ou a base
teórica que apoia a sua proposição, apontando apenas um breve comentário sobre o assunto.

INTENSIDADE, DURAÇÃO, FREQUÊNCIA E TIPO DE EXERCÍCIOS

Com relação ao tipo de exercício físico, existe um consenso de que a melhor opção esta nos
exercícios dinâmicos, de predominância aeróbia, em função dos benefícios que se pode obter ao
nível da aptidão cardiorrespiratória, força e resistência muscular, com menor sobrecarga sobre o
músculo cardíaco (Marques, 1996), do mesmo modo, acredita-se que uma freqüência de 3
sessões semanais parece ser aceitável. Ao compararmos as indicações acerca da duração e
intensidade para o programa de exercícios, observou-se uma diversidade muito grande nas
recomendações constantes das publicações consultadas (ver a quadro 02). QUADRO 2 -
Intensidade e duração para exercicios físicos, indicada por diversos autores:

AUTOR DURAÇÃO INTENSIDADE


WEINECK (1991 ) 45 min. 50% FC máxima (início)
70 a 80% FC máxima
MCARDLE ( 1986 ) 20 a 40 min 60 a 80% FC máxima
FARO JR, LOURENÇO E BARROS NETO (1996c) 20 a 30 min

20 a 60 min 40 a 50% FC máxima (início)


50 a 85% FC máxima (progressão)
60 a 90% FC máxima (manutenção)
MATSUDO & MATSUDO ( 1992 ) 20 a 60 min 50 a 74% FC máxima
12 a 13 (Escala de Borg )
SKINNER (1991) 45 min.
5
(mínimo) baixa a moderada
40% FC máxima (mínimo)
50 a 70% FC máxima
LEITE (1990) 50 a 85 min 65 a 85% FC máxima
MARQUES ( 1996 ) 20 min 60 a 70% FC máxima
ACSM (1994) 20 a 40 min determinada no teste de esforço
YAZBEK & BATISTELLA ( 30 a 30 min de acordo com a capacidade individual

Para Weineck(1991) a transição entre o programa mínimo (1 sessão semanal de 45 minutos) e o


programa ideal (3 sessões semanais de 45minutos), deveria ser efetuada paulatinamente e de
acordo com as condições individuais do idoso. A intensidade das cargas de resistência deve ser
equivalente a 50 % da capacidade circulatória máxima, no início, depois cerca de 70 a 80 %
(ibid.); quanto a esse aspecto, Faro Jr, Lourenço & Barros Neto (1996c) defendem que a
duração das atividades aeróbias pode variar de 20 a 60 minutos de trabalho continuo, o
programa poderia iniciar com 20 a 30 minutos ou com sessões múltiplas de 10 minutos (sujeitos
destreinados). Em relação a determinação da freqüência semanal ideal foram sugeridos os
critérios apresentados no quadro abaixo (ibid.). A determinação desses parâmetros, no entanto,
pode variar de pessoa para pessoa de acordo com as preferências e limitações impostas pelo
estilo de vida e disponibilidade de tempo; podem, ainda, exercer um impacto significativo na
aderência ao exercício tendo em vista que as atividades de maior duração estão associadas a
altos índices de abandono dos programas.

QUADRO 03 - Seleção do número de sessões semanais a partir da capacidade funcional em


METs

Capacidade funcional em METs N.0 de sessões semanais


< 3 Mets múltiplas sessões diárias
3 a 5 Mets de 2 a 3 sessões
> 5 Mets de 3 a 5 sessões

Para Matsudo & Matsudo (1992) a intensidade do esforço físico deverá corresponder a uma
fração de 50 a 74 % do VO2 máximo ou da freqüência cardíaca máxima; uma escala visando a
determinação da percepção subjetiva de esforço pode ser um recurso bastante útil na
verificação da intensidade dos exercícios, recomenda-se adotar níveis entre 12-13 da escala
proposta por Gunnar Borg que varia de 6 a 20. Um outro assunto que merece destaque diz
respeito a estratégia empregada para estimativa da freqüência cardíaca máxima, quanto a esse
aspecto Weineck (1991) sugere que, em programas dirigidos a iniciantes idosos, possa ser
utilizada a seguinte estratégia: FCM = 180 - idade (anos).

Um aspecto relevante - já citado - é a grande variabilidade na indicação dos parâmetros


intensidade e duração, observada a partir da presente revisão, as figuras 01 e 02 ilustram esse
aspecto.

FIGURA 01 - Duração das sessões de exercicios fisicos para a 3a idade, variações nas
recomendações constantes de algumas publicações.
6
MINUTOS

. 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
MÍNIMO . ------------------ ------------------ ------------------- --------- . . .
MÁXIMO . . ------------------ ------------------- ----------------- ------------------ -------------- ---------

FIGURA 02 - Intensidade da sessão de exercicios fisicos para a 3a idade, variações nas


recomendações constantes de algumas publicações.

Fração da capacidade funcional

. 40% 50% 65% 70% 85% 90% 100%


MÍNIMO . ---------- -------------------- -------------------- --------- . .. ..
MÁXIMO . . ------------ -------------------- ------------------- ------------------- --------------- .

MODO DE PROGRESSÃO E CARACTERÍSTICAS DOS PROGRAMAS DE EXERCÍCIOS


QUANTO AOS COMPONENTES FORÇA MUSCULAR E FLEXIBILIDADE:
Existem poucas indicações, na literatura, sobre a forma de progressão (modificação) das
atividades na sessão e durante o programa de exercícios; não se verifica, também, uma
preocupação muito grande com relação a delimitação de parâmetros para prescrição de
atividades neuromusculares, todavia, sabe-se da importância da força muscular e da
flexibilidade na terceira idade (Skinner, 1991).
Nesse sentido, vale destacar ainda que Matsudo & Matsudo (1992) apontam a manutenção da
mobilidade e a proteção contra as lesões, como importantes benefícios derivados das atividades
visando o fortalecimento muscular em programas dirigidos a idosos. Recomenda-se que as
atividades neuromusculares devem ser realizadas no mínimo 2 vezes por semana, envolvendo
grandes grupos musculares e com baixo nível de incremento de cargas; em programas visando
o fortalecimento muscular as tarefas devem exigir, no máximo, um terço da força máxima (Rost
apud Weineck, 1991). Em relação aos exercícios de alongamento, recomenda-se um freqüência
semanal diária, com a realização de exercícios envolvendo as articulações da coluna, ombros e
quadris, indica-se ainda que sejam realizadas de 1 a 3 séries e 15 repetições para cada
exercício.
A progressão dos exercícios deverá variar de acordo com a intensidade, assim se a carga atual
for leve os incrementos podem ser semanais, se as cargas são moderadas, somente, após 2 ou
3 semanas, porém, é importante considerar que o idoso requer mais tempo para obter benefícios
em um programa regular de exercícios, em linhas gerais, sabe-se que é possível progredir de
um nível moderado para um mais rigoroso em 4 ou 6 semanas, até se alcançar o nível de
manutenção.Para Weineck (1991) o incremento da carga, em iniciantes, deve ser realizado
sempre por meio de um aumento na abrangência e só depois na intensidade das atividades.
Faro Jr., Lourenço & Barros Neto (1996c) sugerem que o ritmo de progressão dos exercícios irá
depender da idade, condições de saúde, capacidade funcional, preferências pessoais e
7
objetivos, para as pessoas aparentemente saudáveis a progressão comporta três estágios:
a)início (4 a 6 semanas de atividade leve); b)aprimoramento (4 a 6 meses com aumentos
graduais) e; c)manutenção (após 6 meses modificar ou manter o programa). Quanto a esse
assunto, Skinner(1991) defende que em cada nível do programa deve ser despendido o maior
tempo possível, para garantir uma maior adaptação antes de se promover aumentos na
freqüência, duração ou intensidade.

CONCLUSÕES

O declínio das capacidades físicas e as modificações fisiológicas decorrentes do envelhecimento


são aspectos fundamentais para a elaboração de programas de exercícios para idosos. Viu-se
que os objetivos desses programas deverão estar diretamente relacionados com as alterações
decorrentes do processo de envelhecimento, assim as metas associadas a prática de exercícios
deveriam ser: melhoria da qualidade de vida, retardamento das alterações fisiológicas, melhoria
das capacidades motoras e benefícios sociais, psicológicos e físicos.

Quanto a composição da sessão de exercícios existem referências, nos trabalhos consultados,


em relação aos seguintes componentes: a) aquecimento, incluindo exercícios de alongamento e
atividades físicas de baixa intensidade; b) parte principal, incluindo exercícios de resistência
aeróbia, força e resistência muscular e; c) volta à calma, incluindo exercícios de alongamento.
Quanto a esse assunto, uma grande lacuna observada diz respeito a disposição seqüencial
adequada, do mesmo modo, falta um maior esclarecimento sobre a função e organização das
atividades em cada um desses componentes.

Não foram verificadas divergências quanto ao tipo e freqüência semanal, contudo, observou-se
grandes variações na indicação da duração e intensidade recomendados em programas de
exercícios dirigidos para idosos.

Existiu uma abordagem diversificada quanto ao modo de progressão dos exercícios, além de
existirem poucas referências na literatura a respeito das atividades visando desenvolvimento da
força muscular e flexibilidade.
Em face do exposto, sugere-se realizar outros estudos procurando definir com maior precisão:
a)parâmetros para prescrição de exercícios dirigidos a idosos;
b)disposição seqüencial adequada para os componentes de um programa de exercícios físicos;
c)modo de progressão adequado em programas desenvolvidos com idosos.

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