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Implantação de sistemas de pastejo rotacionado

 
Octávio Ferreira da Rosa Filho e Rogério Marchiori Coan
Coan Consultoria
coanconsultoria@coanconsultoria.com.br
 
Um bom sistema de pastejo consiste na combinação harmônica dos
elementos que compõem este sistema: planta, animal, solo e outros
componentes ambientais, como chuva e temperatura que irão garantir o
suprimento dos animais ali alocados e a permanência da forragem em
bons patamares produtivos. Cabe a nós, gestores do sistema, manejá-lo
de maneira a atender essas duas premissas, garantindo o suprimento ao
animal e mantendo a forragem com alta capacidade produtiva, evitando
assim que o sistema entre em colapso, que no caso, resulta em baixa
produtividade/ha e degradação das pastagens.

Dois fatores são determinantes na definição do sistema de pastejo: a


freqüência de pastejo, que é determinada pelo período de ocupação e
período de descanso, e a intensidade de uso, que é determinada pela
pressão de pastejo. As diferentes combinações destes dois fatores
definem o sistema de pastejo, que entre outros podem ser classificados
como: contínuo (com carga fixa ou variada), diferido ou rotacionado.
Várias pesquisas já foram feitas no sentido de comparar os vários sistemas
existentes na busca de se definir qual deles seria o mais recomendado.

Os resultados são os mais variados e controversos. Observa-se que em


sistemas muito intensivos, como o pastejo rotacionado com baixo período
de ocupação, há um maior ganho por área e um menor ganho por animal,
ao contrário dos sistemas menos intensivos onde os animais
individualmente têm ganhos maiores, porém em decorrência de uma
menor taxa de lotação verifica-se ganhos menores por área. O que pode
ser notado nestes estudos é que, para qualquer sistema a ser adotado o
importante é equilibrar a oferta de forragem com a quantidade de animais
a serem alimentados.

Desse ponto de vista, o pastejo rotacionado confere maior possibilidade


de intervenção do homem em alguns fatores importantes do sistema
como: diminuição da seletividade do material consumido pelos animais,
em função da diminuição da área de pastejo, pastejo uniforme de toda
área, respeito ao período de descanso exigido pela forrageira utilizada,
menor deslocamento dos animais em busca do alimento e,
conseqüentemente, menor gasto de energia.

Antes de iniciarmos a implantação de um sistema rotacionado precisamos


conhecer a espécie forrageira a ser utilizada, para então dimensionarmos
o nosso projeto, respeitando a exigências produtivas dessa forrageira.
Nesse momento é importante conhecermos: o período de descanso
exigido pela planta, para definirmos então o período de descanso dos
piquetes; qual a altura dos meristemas da planta (pontos de rebrota), para
então definirmos a altura de pastejo e resíduo pós-pastejo; quais as
exigências nutricionais da planta para definirmos então nosso plano de
adubação.

Tomemos como exemplo uma área de 20 ha de pastagem da espécie


Panicum maximum cv. Mombaça, a ser divida em piquetes para
implantação de um sistema de pastejo rotacionado.
Como já foi dito, o primeiro passo para iniciarmos o dimensionamento do
nosso projeto é conhecermos qual o período de descanso exigido pela
forrageira. Esses dados podem ser facilmente obtidos na literatura
especializada. Para o Mombaça o período de descanso recomendado é de
27 dias. Devemos definir também neste momento o período de ocupação
de cada piquete. Nessa hora devemos levar em consideração que quanto
mais intensivo o nível de exploração a ser adotado, menor o período de
ocupação de cada piquete, maior a necessidade de número de piquetes e,
conseqüentemente, maior o investimento com infra-estrutura,
principalmente cercas. Recomenda-se períodos de ocupação inferiores a 2
dias somente em áreas pequenas e com alto nível de adubação de
reposição, principalmente nitrogenada. Para os cálculos do nosso exemplo
adotaremos um período de ocupação de 3 dias.

Conhecendo o período de descanso exigido pela forrageira e o período de


ocupação de cada piquete, definimos a quantidade de piquetes a serem
construídos. Esse número pode ser obtido pela seguinte fórmula:
Já sabemos então que nosso pastejo rotacionado, com uma área total de
20 ha, será composto por 10 piquetes, de aproximadamente 2 ha (ainda
devemos descontar as metragens da área de descanso e corredores) que
serão ocupados por 3 dias cada um. O próximo passo será definir a
quantidade de animais que serão alocados nesta área. Para tal,
precisamos estimar a quantidade de forragem produzida na área. Essa
medida pode ser feita pelo corte e pesagem da forragem de uma área
amostral conhecida e em seguida extrapolada para toda área. É
importante que no momento da coleta da amostra a ser pesada, realize-se
o corte da forragem “simulando” a altura do pastejo e já levando em
conta o resíduo pós-pastejo que deve ficar na saída dos animais. Esse
resíduo é que garantirá reservas para que a planta tenha uma boa taxa de
fotossíntese após a retirada dos animais e, conseqüentemente, uma
rebrota vigorosa, sem precisar utilizar reservas das raízes, atrasando assim
seu crescimento e fazendo com que a altura de pastejo não esteja ideal
quando os animais retornarem ao piquete. A estimativa de massa
produzida ser feita com base na matéria seca, que também pode ser
facilmente estimada com o auxilio de um forno de microondas e uma
balança comum. Voltando ao nosso exemplo consideremos que o valor
encontrado para produção forrageira no momento da amostragem foi de
1.530 kg de matéria seca por hectare.

Imaginando que trabalharemos com vacas de 500 kg de peso corporal, em


média, teremos uma necessidade de ingestão de matéria seca de
aproximadamente 12,50 kg/animal/dia, que representa aproximadamente
2,5% do peso vivo do animal. Dessa necessidade, 4,00 kg é suprido via
concentrado fornecido no cocho, e os 8,50 kg restantes devem ser
supridos pela pastagem. Como os animais ficarão 3 dias em um mesmo
piquete, esse piquete deve ser capaz de fornecer 25,50 kg de matéria seca
para cada animal durante o período de ocupação ( 3 dias x 8,5 kg por dia).
Sabendo que a área de cada piquete é de 2 ha e que isso representa uma
produção de matéria seca de 3.060 kg, ao dividi-la pela necessidade de
cada animal para um período de 3 dias, que é de 25,5 kg, teremos então
um total de 120 animais a serem alocados nesta área.

Sabendo a quantidade de animais a serem alocados, dimensionaremos o


tamanho da área de descanso. É neste local que será servida a água e a
suplementação mineral e/ou concentrada. A área de descanso ou de laser
deve ser bem drenada, a fim de evitarmos formação excessiva de lama no
período chuvoso, com localização centralizada de preferência e, ainda,
conter sombra natural ou artificial para abrigar os animais. A medida
recomendada de área de descanso para animais adultos é de 15 a 20
m2/animal. No nosso planejamento, consideraremos 15 m2/animal e,
então, disponibilizaremos aos 120 animais uma área de descanso de 1.800
m2.
Os corredores de acesso à área de descanso devem ter uma largura de 10
m. É comum no momento da construção das cercas a tendência de
redução desse espaçamento. No entanto, a experiência tem mostrado que
corredores mais estreitos, no período chuvoso, acumulam muito barro,
dificultando a locomoção dos animais, gerando problemas de casco e
contaminação das tetas das vacas, o que pode ocasionar queda na
qualidade do leite e até problemas de mastite. A área a ser ocupada com
corredores vai depender da configuração do terreno.
O formato dos piquetes, localização da área de descanso e disposição dos
corredores irão depender do formato do perímetro da área a ser
rotacionada.

Devemos planejar os piquetes de maneira que estes fiquem com o


formato quadrado ou o mais próximo possível desse formato. É bom que
se evite a instalação de piquetes longos e estreitos, além de piquetes com
cantos estreitos, pois estas situações levam os animais a desenvolverem
um comportamento de pastejo indesejável que não irá promover o corte
da pastagem por igual.
Imaginado que a área do nosso exemplo tenha forma bastante
homogênea, teríamos a seguinte configuração.

Figura 1. Croqui ilustrativo do sistema proposto.


No entanto, em situações práticas dificilmente encontraremos um caso de
regularidade de medidas como esta, o que não impossibilita a adoção de
sistemas bem planejados e produtivos. Cabe ao técnico que esta
desenvolvendo o projeto, com auxilio de ferramentas de desenho e
criatividade, achar a melhor configuração para divisão da área.

Segue abaixo alguns exemplos de sistemas desenvolvidos pela Coan


Consultoria e que foram bem sucedidos.

Figura 2. Sistema de pastejo rotacionado em área de medidas


desuniformes.
Figura 3. Sistema de pastejo rotacionado em área de medidas
desuniformes.

Definida as divisões a serem feitas, partimos para a construção


propriamente dita do nosso sistema de pastejo rotacionado. A
transferência do que foi projetado no papel para o campo deve ser feita
por um profissional da área de topografia ou por quem tenha
conhecimento neste assunto, para que as áreas cercadas correspondam
fielmente às áreas projetadas.

A cerca elétrica é sem dúvida a maneira mais econômica de se dividir a


área em piquetes e com eficiência comprovada. No momento da
construção da cerca devemos nos atentar para escolha do eletrificador a
ser utilizado, fazer os aterramentos de acordo com o recomendado,
isolamentos em postes e colchetes devem receber cuidado especial,
distribuir a eletricidade por ramais no sistema para facilitar eventuais
manutenções, disponibilizar pára-raios ao longo das cercas, entre outros.

Segue uma estimativa de custo de implantação do projeto do nosso


exemplo. Para efeito de cálculo consideramos que as lascas foram
dispostas de dez em dez metros. A madeira utilizada foi a lasca de
eucalipto com 8 cm de diâmetro e os esticadores com 15 cm de diâmetro.
A cerca será construída com dois fios de arame. Para cálculo da mão de
obra admite-se um custo de R$ 4,00 por lasca “fincada”. Chega-se à um
custo total de R$ 12.039,91 para implantação da cercas elétricas, o que
equivale a um custo de de R$ 2.668,00 por quilometro de cerca
construída.

Tabela 1. Custo de implantação de cercas elétricas.


Finalmente, no caso do nosso exemplo, teremos um sistema de pastejo
rotacionado em uma área de 20 ha de capim Mombaça, dividida em 10
piquetes que serão ocupados durante o período de 3 dias e
permanecendo 27 dias em descanso. O número de vacas com peso médio
de 500kg alocados no sistema é 120, o que nos dá uma taxa de lotação de
6,66 U.A/ha, que já se encontra bem acima da media nacional. Podemos
intensificar ainda mais este sistema, sem alterarmos sua configuração,
apenas aumentando o numero de animais alocados. Para tanto, basta
trabalharmos com níveis mais elevados de adubação. Depois de instalado,
o ritmo de exploração mais passa a ser ditado pelos níveis de adubação e
logicamente, pela habilidade do manejador.

Octávio Ferreira da Rosa Filho é Engenheiro Agrônomo – Especialista em


Produção Animal. Consultor MÁSTER da Coan Consultoria.
Rogério Marchiori Coan é Zootecnista – Doutor em Produção Animal –
Diretor Técnico da Coan Consultoria.
 

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