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PASTEJO ROTACIONADO

Edgard Matos

O pastejo rotacionado não consiste simplesmente na divisão da


pastagem em piquetes e na utilização do pasto pelo gado em sistema de
rotação. O sistema de pastejo rotacionado tecnicamente concebido implica
no estabelecimento correto do número de piquetes (NP) na pastagem, que
por sua vez guarda relação com o tempo de permanência dos animais em
cada piquete - período de ocupação (PO) - e o descanso ótimo pelo qual
cada um deles deve passar para a total recuperação do pasto - período de
repouso (PR) - sendo calculado pela fórmula: NP=PR / PO + 1. Entre os
fatores que influenciam no período de repouso, estão: espécie forrageira;
fertilidade do solo; temperatura; horas de luz e umidade do solo. No aspecto
concernente a espécie forrageira referimo-nos as particularidades inerentes
a cada uma, incluindo-se no contexto as variedades dela existentes. No
tocante a fertilidade do solo, pressupõe-se uma correta adubação da
pastagem com base na indicação da análise de solo para a espécie
cultivada, ponto essencial na condução de um pastejo bem sucedido.
Temperatura e horas de luz são da maior influência no metabolismo e
velocidade de crescimento das plantas com variações, sobretudo sazonais. A
umidade do solo constitui-se fator limitante em toda fase de
desenvolvimento das forrageiras. Quanto ao período de ocupação
recomenda-se seja no máximo de 3 (três) dias, por conta do caráter seletivo
do animal no pasto, que inicia o consumo pelas partes mais nutritivas e
digestíveis da planta, fato que irá implicar na queda de produção do animal a
medida que ele permanece mais tempo em um mesmo piquete, em virtude
da gradativa perda de qualidade do pasto nele restante.

Outra questão muito importante na condução do pastejo rotacionado é


o dimensionamento da área de cada piquete que deve ser feito em função
da quantidade de pasto útil disponível, calculado em matéria seca, e a
demanda de forragem do rebanho à alimentar em termo de unidade
animal. O resultado da operação irá permitir estabelecer a carga animal
(UA/ha) que significa o número de animais em pastejo, em certo momento,
numa determinada área de pastagem. O correto dimensionamento da área
de cada piquete - subtende-se em fazê-lo de forma tal que quando da
retirada dos animais de um determinado piquete esses animais tenham sido
satisfatoriamente alimentados e nele – piquete - não haja sobra além da
natural, nem escassez de pasto. Portanto sem que haja prejuízo nem para
planta forrageira nem para o animal. Ou seja, em perfeita sintonia com o que
disse o francês André Voisin, criador do método de pastejo dos animais em
rotação pelos piquetes, quando definiu pastejo como sendo: “Encontro da
vaca com o pasto. Implicando na integração de um com o outro”.
Existem 2 (dois) métodos bastantes utilizados por técnicos e
produtores para calcular a área do piquete, que foram denominados direto e
indireto. O método direto é mais preciso e também mais complexo, visto que
requer pesagem da forragem, medição da altura do pasto e cálculos
matemáticos. Devendo, portanto, ser utilizado por técnico entendido no
assunto. Enquanto no método indireto, mais fácil e menos preciso, a
produção de forragem é calculada por estimativa mediante a medição da
altura do pasto seguido do uso de uma tabela auxiliar que em função da
altura encontrada para cada espécie, estima-se a quantidade de forragem
existente na área.
EXEMPLO DO EMPREGO DO MÉTODO DIRETO

Informações básicas para cálculo da área do piquete e determinação


da capacidade de suporte da pastagem

 Rebanho a alimentar: 20 vacas de 450 kg de peso vivo/cab ou 20


UA

 Consumo de matéria seca por UA/dia: 2,5% do Peso vivo ou


11,25 kg

 Período de ocupação de cada piquete: 2dias (embora um dia seja


o mais indicado, sobretudo quando a divisão da área em
piquetes, for efetuada com cerca elétrica)

 Período de repouso do pasto: 24 dias

 Número de piquetes: 13 (24/2 + 1)

No cálculo do dimensionamento da área do piquete e


determinação da capacidade suporte da pastagem, sabendo-se de
antemão o rebanho que se precisa alimentar em pastejo e o período de
ocupação dos animais em cada piquete, necessita-se saber quanto de pasto
disponível existe por unidade de área (ha) em quilos de matéria seca. Para a
determinação da quantidade de forragem disponível lança-se mão do
método do "quadrado" que consiste no emprego de uma moldura de ferro
(vergalhão) ou de madeira, retangular ou quadrada, de área interna variando
entre 0,5m² a 1,0 m², ou seja: (0,50m x 1,00m) ou (1,00 m X 1,0 m),
instrumento de avaliação este, que deverá ser lançado ao acaso, no piquete
a ser pastejado no dia seguinte. No local em que cair a moldura, faz-se com
uma régua a medição da altura do revaldo dentro dela e anota-se. Em
seguida corta-se, pesa-se e anota-se a forragem delimitada pela moldura.
Repete-se por mais três vezes no mesmo piquete, os lançamentos da
moldura e as operações de medição da altura e peso do pasto, no sentido de
tornar mais confiáveis as projeções resultantes dessas informações.

Determinação do teor de matéria seca das amostras

Da forragem obtida nas 4 amostras, após bem misturadas, retira-se


uma porção de 500 g que deve ser gradativamente desidratada em uma
estufa, forno microondas, elétrico ou fogão a lenha. A operacionalização da
desidratação faz-se levando a amostra de forragem ao forno por alguns
minutos, seguidas vezes e após sucessivas pesagens, até a estabilização do
seu peso. Ocorrendo isso será sinal que toda água nela contida evaporou-se.
Então, mediante uma simples regra de três, determina-se o teor de matéria
seca, como seja:
500 g de forragem fresca pesaram ao final 100 g de material desidratado

100g de forragem fresca pesarão ao final X g de material desidratado

X = 100g/500g X100 = 20% de MS

Determinação da quantidade de forragem disponível

Admitindo-se que o peso médio/amostra de forragem natural das 4


amostras de dentro do "quadrado" pesou de 2,0 kg/m², tem-se em 10.000
m², ou um hectare, 20.000 kg de forragem natural ou ainda 4.000 kg de
matéria seca (20,0%) por hectare. Por outro lado, considerando-se como
exemplo, que a altura média do relvado encontrada foi de 40,0 cm, a
densidade da forragem natural seria de 500 kg/ha/cm (20.000 / 40), ou 100
kg/ha/cm de matéria seca (4.000/40).
Área de cada piquete, área de pasto e capacidade de suporte

Considerando-se o rebanho de 20 UA, o período de ocupação do


piquete de 2 dias, um consumo de matéria seca de 11,25 kg/UA/dia, a
existência de 4.000 kg de matéria seca por hectare de pasto e que apenas
50% destes são consumidos pelos animais, ficando os outros 50%
inaproveitáveis, resíduos pós- pastejo, deve-se fazer os cálculos a seguir
para encontrar as informações requeridas no tópico deste parágrafo:

Necessidade de matéria seca para o rebanho:

20 UA X 11,25Kg/UA/dia X 2dias = 450 kg

Quantidade de matéria seca utilizável / ha = 2.000 kg (4.000kg X 0,50)

Área do piquete = 450,0 kg X 10.000 m² / 2.000 kg =2.250 m²

Área / UA /dia = 2.250 m² / 20 UA / 2 dias = 56,25 m²

Área de pasto necessária = 13 piquetes X 2250 m² = 29.250 m² ou 2,92


ha

Capacidade de suporte da pastagem = 20 UA / 2,92 ha = 6,85 UA/ha/ano

Para ilustrar melhor este trabalho, vejamos um caso real de pastejo


rotacionado, que está sendo feito na Fazenda Normal, pertencente à
Ematerce, cujos resultados aqui apresentados, são da minha
responsabilidade e foram obtidos no dia 30/01/05.
Avaliação de pastejo rotacionado em capim Coast cross, período de
repouso de 25 dias, área de 2,0 ha e partindo do pressuposto de um
nível de aproveitamento de 60 % do pasto existente

SEQUÊNCIA DE PASSOS

1. Retirada das amostras

Com vistas à medição da altura média e peso da forragem natural contida no


piquete pelo método direto - método do "quadrado", usou-se uma moldura de
madeira de 1,0 m² de área (1,0 m X 1,0 m) e dentro do piquete que iria ser
pastejado no dia seguinte, fez-se, seguidamente 4 lançamentos ao acaso da
moldura e onde ela caía, mediu-se de cada vez a altura do revaldo tomando-se
como referência a planta que nos parecia a de altura média dentro do quadrado,
para em seguida com um facão, cortar e pesar a forragem de seu interior.

Resultados obtidos:

1ª amostra

a. Altura do pasto = 75 cm
b. Peso de 1,0 m² de pasto = 1.110 g
2ª Amostra

a. Altura do pasto =70 cm


b. Peso de 1,0 m² de pasto = 1.210 g
3ª Amostra

a. Altura do pasto = 75 cm
b. Peso de 1,0 m² de pasto =1.400 g
4ª Amostra

a. Altura do pasto = 60 cm
b. Peso de 1,0 m² = 1.020 g

Embora se saiba que existe estreita correlação entre a altura e a


quantidade de pasto na área contendo forragem, quando se faz
comparação entre os resultados das 4 amostras avaliadas acima, verifica-
se que nem sempre os pastos mais altos das amostra obtidas são
também os mais pesados, mesmo tratando-se de uma única espécie
forrageira. Isso ocorre, devido às diferentes densidades do pasto nos
diversos stands das amostras. Apesar da ocorrência vez por outra de
resultados assim aparentemente incoerentes, o fato não chega a ser
freqüente, portanto, relevante, daí, porque, é na altura do pasto que o
produtor geralmente se baseia para estimar a carga animal a ser
colocada na sua pastagem.

2. Determinação da quantidade de forragem fresca disponível,


utilizável e da matéria seca

 Altura média das amostras: (75 cm + 70 cm + 75 cm + 60 cm) /


4 = 70 cm

 Peso médio das amostras: (1110 g + 1210 g + 1400 g + 1020


g) / 4 = 1185 g

2.1. Forragem fresca disponível: 1,0 m² = 1, 185 kg . Então

20.000 m² = 23.700 kg

2.2. Forragem fresca utilizável: 60% X 23.700 kg = 14.220 kg

2.3. Matéria seca

Passos para determinação

1º passo: misturou-se bem a forragem obtida das 4 amostras e dela


extraiu-se 500 g.

2º passo: pesou-se uma panela de alumínio para receber a forragem


que iria ser desidratada no forno aquecido a gás butano da fazenda.

 Peso da panela = 1160 g

 Peso da forragem = 500 g

 Peso total =1660 g

3º passo: levou-se a panela com a forragem ao forno, seguidamente,


até a completa estabilização do peso, indicativo da perda total da
água ou que só restava a matéria seca da forragem, obtendo-se os
resultados abaixo:

 Decorridos 15minuto fez-se a 1ª pesagem: peso = 1595 g

 Mais 15 minutos, fez-se a 2ª pesagem: peso = 1500 g

 Mais 13 minutos, fez-se a 3ª pesagem: peso = 1420 g


 Mais 15 minutos, fez-se a 4ª pesagem: peso = 1380 g

 Mais 10 minutos, fez-se a 5ª pesagem: peso = 1300 g

 Mais 10 minutos, fez-se a 6ª pesagem: peso = 1300 g

2.3.1. Teor de matéria seca da forragem

 1300 g peso total – 1160 g peso da panela = 140 g de m. seca

 (100 X 140 g) / 500 g de f. fresca = 28,0% de matéria seca

Obs.: este teor de matéria seca encontrado está além do desejado


que deveria encontrar-se entre 20,0% e 24,0% para essa espécie de
forrageira, tornando-se um indicativo de forragem "passada", com perda
de valor nutritivo e digestibilidade. Podendo-se atribuir o fato a um
possível subpastejo no rodízio anterior e uma elevada quantidade de
macega.

2.3.2. Quantidade de matéria seca utilizável por ano:

14.220 kg X 14,6 = 207.612 kg

 Nº de pastejo na área por ano: 365 dias / 25 dias (p. repouso)


= 14.6

 Forragem fresca utilizável na área

 Total de matéria seca utilizável por ano em 2,0 há:

28,0% X 207.612 kg =58.131 kg

1. Determinação da capacidade de suporte da pastagem em unidade


animal (UA) por hectare (ha)

 Consumo de MS/UA/ano = 11,25 kg X 365 dias = 4106 kg

 MS utilizável /ha/ano = 58.131/2 = 29.065 kg

 Capacidade Suporte=29.065 kg/4106 kg=7,07 UA/ha/ano

Ao concluir este trabalho, salientamos que pastagens irrigadas constituídas de


gramíneas adaptadas ao nosso semiárido, de boa palatabilidade e rico valor
nutritivo, se utilizadas em pastejo rotacionado, constituem-se uma alternativa
bastante viável em produtividade e rentabilidade na exploração da bovinocultura de
leite. Atente-se nesse método de manejo de pastagem que para consumar-se o
preconizado acima, necessário se faz levar em conta outras condicionantes também
inerentes à atividade leiteira, tais como:
*assistência técnica e gerencial; *qualidade do leite;
*potencial leiteiro do rebanho; *adubação e irrigação corretas; e

*sanidade animal; *resfriamento do leite.

Em: 22/05/2017

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