O mundo de final do século XIX e início do século XX representava a competição
das grandes potências mundiais elevada ao máximo: a ‘corrida’ pela conquista de territórios. Nesse período, esses países buscaram deter para si grandes porções continentais ou insulares e assim dar base aos seus autoproclamados títulos de imperadores. A Europa e os EUA lançaram-se na aquisição de novos lugares, zonas de influência e mercados; um símbolo de status. As partes do globo que vieram a encaixar-se perfeitamente nesta nova mentalidade foram a África e o Pacífico. A América, por sua vez, pontos importantes que não a tornou foco das divisões que ocorreram pelos outros dois locais: sua dependência do mundo desenvolvido já era evidente, sem a necessidade de uma intervenção forçada e os EUA reservava para si o direito a intervir nas questões da América e das repúblicas (Doutrina Monroe); e a Ásia encontrava-se divida em impérios asiáticos tradicionais porém preservando a área de influência das grandes potências. Somado a dependência pré-existente da América em relação à Europa e aos EUA, a partir desse momento, tem-se também as colônias lançando-se a competição pela busca de mais territórios, lugares a serem subjugados. A consequência dessa disputa foi a divisão do mundo entre as potências fortes que procuravam dominar cada vez mais territórios e os lugares que se reduziam a condição de dependentes e dominados, os ‘atrasados’. Dentre as potências que se lançaram a conquista de novos territórios, está a Grã- Bretanha: controlando as grandes porções do Pacífico, como Nova Zelândia e Austrália e também o Sul da África. O império britânico marcou presença nesses lugares a partir da infiltração dos imigrantes brancos nas elites. O círculo político e administrativo formava-se desses europeus livres que buscavam algo nas novas colônias, o desenvolvimento dos sistemas políticos nesses locais a partir desses imigrantes deu-se à sombra da economia européia e não era um desejo dos mesmos de superar tal mercado, industrializando-se; apenas, complementá-lo e tinham seus interesses voltados para a produção de produtos primários. Na Ásia, a Inglaterra mantinha zonas de influência ou de administração direta (Tibete, golfo Pérsico), enquanto certas áreas reservavam-se enquanto separadores de zonais de potências rivais. Uma vez que as potências procuravam anexar cada vez mais territórios, houve a inevitável integração desses velhos centros comerciais e as novas aquisições. A busca de certos produtos capazes de serem encontrados apenas em áreas distantes não simbolizava um empecilho, mas a partir do momento que a malha de transportes e a comunicação tornavam-se mais imponentes, esses produtos tornavam-se mais acessíveis e o desenvolvimento tecnológico dependia da extração dos mesmos (borracha, petróleo, cobre...). Além do mais, nas metrópoles crescia o consumo em massa não somente dos produtos básicos e já consumidos (por sua proximidade e fácil conservação como cereais da Rússia e carne da América do Sul), mas também novos produtos como as frutas tropicais que nesse momento puderam ser acessíveis uma vez que a malha de transportes se desenvolvia. Para a Grã-Bretanha, era essencial a preservação de suas possessões, uma vez que isto era essencial para manter seus mercados ultramarinos e as fontes de produtos primários. Desde que pudesse manter seus territórios, a Inglaterra não necessitava de novas aquisições mas, para isso, era necessário impedir o avanço das demais potências – pois, neste momento, a influência britânica começava a deixar de ser exclusiva. Uma parte importante dessa administração é a produção de um legado cultural do ocidente (seja pela reprodução dos hábitos diários ou preferências, ou pela presença da Igreja. O anseio por novos territórios que contaminou todas as potências traduzia-se na disputa desses impérios e no seu esforço para coibir a expansão dos demais, de modo a proteger suas economias nacionais. Essa mentalidade, que surgira do sentimento de orgulho burguês pelo triunfo da tecnologia, da ciência..., representava a ideia de superioridade dos brancos ocidentais e sob uma mesma posição de “dominadores” uniu os ricos e os pobres frente aos nativos dominados. O período, entretanto, foi consideravelmente curto; pois a parte dos efeitos positivos, aquisições e dominações, culminou na busca exacerbada, na submissão, na ideologia da superioridade que produziu por ele mesmo seus inimigos ‘dominados’. O crescente discurso da democracia que invadia as metrópoles e as elites divergentes entrava em profundo conflito com a coerção praticada nas colônias.
HOBSBAWM, E. A era dos impérios. IN: A era dos impérios. São Paulo: Paz e Terra, 2003.