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Ciências e
Matemática
PESQUISA E FORMAÇÃO
DE PROFESSORES
ORGANIZADORES
Roque Ismael da Costa Güllich
Erica do Espirito Santo Hermel
Reitor Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Jaime Giolo Joviles Vitório Trevisol
Vice-Reitor Pró-Reitor de Planejamento
Antônio Inácio Andrioli Charles Albino Schultz
Chefe de Gabinete Pró-Reitor de Assuntos Estudantis
Stefani Daiana Kreutz Marcelo Recktenvald
Assessora Especial do Reitor para Assuntos Internacionais Pró-Reitor de Gestão de Pessoas
Maria Helena Baptista Vilares Cordeiro Henrique Dagostin
Procurador-Chefe Secretária Especial de Laboratórios
Rosano Augusto Ames Cladis Juliana Lutinski
Pró-Reitor de Administração e Infraestrutura Secretário Especial de Obras
Péricles Luiz Brustolin Rodrigo Emmer
Pró-Reitor de Extensão e Cultura Secretário Especial de Tecnologia e Informação
Emerson Neves da Silva Claunir Pavan
Pró-Reitor de Graduação
João Alfredo Braida
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................. 9
EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS
EDUCAÇÃO EM SAÚDE
1 Introdução
1 O mapa pode ser considerado uma das modalidades de representação mais versáteis, pois conjuga elementos
pouco acessíveis à linearidade da linguagem discursiva. (BIEMBENGUT, 2008).
Para Duval (2003), o acesso aos objetos matemáticos passa necessariamente por
representações semióticas, visto que esses objetos não são diretamente acessíveis à
percepção, necessitando, para a sua apreensão, o uso de uma representação. Essas
representações são expressas por meio de símbolos, tabelas, gráficos e algoritmos,
possibilitando a comunicação de ideias matemáticas e as atividades cognitivas do
pensamento implicadas na atividade matemática.
Para o autor, uma análise do conhecimento matemático é, essencialmente,
uma análise do sistema de produção de suas representações semióticas. A maneira
matemática de raciocinar e de visualizar está intrinsecamente ligada à utilização
de representações semióticas, pois toda comunicação em matemática se estabelece
Tipo de Representações
registro
Língua -Derivada da função f no ponto de abscissa x = a;
Natural -Derivada da função no ponto;
-Derivada da função f num ponto x;
-Coeficiente angular da reta tangente a uma curva;
-Limite da razão incremental;
-Taxa de variação instantânea;
-Taxa de variação da função no ponto de abscissa x = a;
-Velocidade instantânea;
-Inclinação da reta tangente à curva no ponto de abscissa “a”;
-A derivada de uma função f é a função f ’ que fornece a declividade da tangente ao
gráfico de f em qualquer ponto (x,f(x)) e também a taxa de variação em x;
-Tangente do ângulo formado (no sentido anti-horário) entre a reta t (tangente à cur-
va) e o eixo horizontal x;
-Derivada de f em relação a x;
-Limite da variação de y em relação a variação de x, quando a variação de x tende a
zero;
-Limite da inclinação das secantes.
Fonte: Godoy (2004, adaptado).
f (t ) − f (t 0 )
15. v(t 0 ) = lim
t →t 0 t − t0
3 Perspectivas metodológicas
P1 Rogerio dos Santos Lobo. O Tratamento dado por livros didáticos ao conceito de deri-
vada. 01/10/2012. Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Benedito
Antonio da Silva.
P2 Ledâ do Carmo Vaz. O conceito de limite, derivada e integral em livros didáticos de
cálculo e na perspectiva de professores de matemática e de disciplinas específicas em
cursos de Engenharia. 01/08/2010. Mestrado. Centro Federal de Educação Técnica de
Minas Gerais João Bosco Laudares.
P1 O objetivo do estudo foi identificar como três livros didáticos apresentam a derivada
como taxa de variação instantânea e se esse enfoque efetua tratamentos e conversões e
promove mudanças de registros de representação semiótica de acordo com a teoria de
Duval, na introdução do conceito, por meio dos textos, exercícios resolvidos e exercícios
propostos e outras atividades.
P2 O objetivo geral foi investigar como os professores de Matemática e de disciplinas espe-
cíficas do curso de Engenharia abordam o conceito de limite, derivada e integral em sala
de aula e também como os autores de livros didáticos tratam esses conceitos.
P3 O objetivo da pesquisa foi investigar os conhecimentos dos alunos que já passaram por
um curso de Cálculo e estudaram “a derivada” quanto as suas aplicações e tentar classifi-
car as dificuldades desses alunos diante dessas atividades.
P4 O objetivo foi investigar como a coordenação de registros contribui para a explicitação
dos conhecimentos mobilizados por alunos ingressantes no curso de Cálculo, frente às
tarefas organizadas com base no conceito de função.
P5 O objetivo é diagnosticar dificuldades que os alunos possam apresentar em
distinguir representações semióticas da noção de derivada e seus significados,
bem como de domínio de tratamentos e conversões.
Fonte: As autoras (2014).
Nas pesquisas analisadas, uma das intenções foi identificar quais autores
são referenciados para fundamentar teoricamente os estudos desenvolvidos.
Percebemos que os dados empíricos das pesquisas são analisados via teoria dos
Registros de Representação Semiótica de Raymond Duval.
Mapa 13 – Mapa dos principais referenciais teóricos das pesquisas
P1 O autor destaca a teoria dos Registros de Representação Semiótica como uma ferramenta
de análise, pois permitiu verificar como a derivada com ênfase na taxa de variação é tra-
tada nos três livros analisados, tanto no que diz respeito às diferenças no enfoque dado,
quanto à exploração da coordenação de registros por parte dos autores. Ainda, dois dos
livros analisados não apresentam de forma explícita a derivada como taxa de variação e
aquele que apresenta a relaciona com o coeficiente angular. São apresentados no texto da
dissertação alguns quadros que resumem os tratamentos e as conversões e alguns indica-
dores da Análise de Conteúdo de Bardin: contextualização, demonstração e aplicação.
P2 O autor aponta que em relação aos RRS constatou que tanto os autores dos livros de
Cálculo, quanto professores de Matemática e de disciplinas específicas nos cursos de En-
genharia utilizam o que Duval denomina de conversões. Na pesquisa, essas conversões
aconteceram na elaboração conceitual, passando-se da abordagem algébrica para a gráfica,
geométrica e numérica, esta última explorando tabelas de valores. O autor destaca ainda
que o uso de várias representações semióticas em interação constante proporcionou con-
dições de diferentes interpretações e possibilidade de melhor compreensão conceitual.
P3 O autor destaca que os estudantes apresentam maior facilidade para realizar tratamentos
no registro algébrico e aponta a necessidade de utilização de diferentes formas de repre-
sentação envolvendo o conceito de derivada. Apresenta, ainda, que os sujeitos da pesquisa
evidenciam dificuldades tanto conceituais quanto manipulativas, as quais aumentam
quando é necessário mobilizar o conceito para resolver alguma situação de aplicação.
P4 A autora destaca que a coordenação entre diferentes registros de representação favorece
a explicitação dos conhecimentos dos alunos e que, por meio das conversões propostas,
foi possível caracterizar o tipo de tratamento e procedimento utilizado e o nível de com-
plexidade mobilizada em relação aos conhecimentos envolvidos.
P5 As dificuldades no processo de ensino e aprendizagem do conceito de derivada podem
estar relacionadas ao fato de no ensino privilegiarem-se alguns registros de representa-
ção na introdução da noção deste conceito e em problemas e exercícios.
Fonte: As autoras (2014).
5 Considerações finais
REFERÊNCIAS
permite reflexar el punto de vista del autor sobre los procesos más
significativos de la dinâmica em la que está imerso. Es una guía para la
reflesión sobre la práctica, favoreciendola toma de consciência del pro-
fesor sobre su processo de evolución y sobre sus modelos de referencia
(Idem, p. 19-20).
− A gente falou bastante bobagem, mas a senhora viu que juntos a gente
chegou na mesma conclusão, quer dizer, na definição que o livro tem.
No curso de especialização
Quando questionados a respeito das causas dessa atitude, a maioria dos pro-
fessores argumentou que é uma prática comum neste nível de ensino, capaz de
favorecer um “crescimento” no senso de responsabilidade e de organização dos
alunos. Além disso, propicia um fator de “motivação” dos alunos. Essa “motiva-
ção” é tida, pelos professores, como indicativo de uma “boa” aula, propiciando sua
“satisfação” ou “insatisfação”, conforme ilustram os trechos a seguir.
Esse relato também apresenta a situação dos conhecimentos prévios dos alunos,
neste caso favorável ao desenvolvimento da temática em questão. Noutras situa-
ções descritas pelos professores esse conhecimento era tomado como obstáculo à
aprendizagem dos alunos, muitas vezes “difícil de ser superado”.
O relato da professora Silmara evidencia essa situação:
No grupo de professores de SP
O início das reuniões do grupo era ocupado pelos relatos dos professores,
contemplando discussões bastante intensas. As discussões começavam voltadas
às tarefas planejadas e à sala de aula e, muitas vezes, se abriam para questões mais
amplas que envolviam a escola como um todo e situações de foro mais abran-
gente, que se apresentavam no meio educacional. Assim, o dia a dia do professor
comparecia naturalmente e com características genuínas, dando conta de uma
complexidade inerente ao próprio contexto, mesmo que restrito, para efeito da
nossa análise, à sala de aula.
A atuação dos professores indicava uma postura para enfrentar os problemas
com os quais se deparavam, na tentativa de desenvolver o que planejaram e que
acreditavam que seria capaz de levar o aluno a aprender. Esse processo envolvia o
grupo todo, mas nos deteremos principalmente na parte que se refere aos profes-
sores e suas maneiras de compreender a situação e de procurar respostas para os
Antes achava que duas aulas de física era demais. Agora acho pouco.
[...] A professora de química é muito amiga minha, só que ela é muito
tradicional: dá bastante conteúdo e avalia só conteúdo. Ela expõe na
lousa, os alunos têm que ficar quietos e copiar! Às vezes eu sugiro sutil-
mente que faça atividades diferentes, que procure ver o que os alunos
estão pensando e avalie outras coisas que não só o conteúdo... (Raquel)
Mas não adianta, ela não sabe como fazer isso! (Carla)
Nesse sentido, a atenção dos professores ficou mais aguçada para as suas ações
e às de seus colegas, no sentido de verificarem as contribuições que a avaliação
crítica-reflexiva poderia dar à sua própria prática pedagógica. O depoimento da
professora Vânia indica essa possibilidade.
Alguns diários que foram apresentados hoje [...] foram muito interessan-
tes. Às vezes o núcleo conceitual era o mesmo, mas a maneira de aplicar
foi diversificada, tais como: vídeos, palestras, leituras e interpretação de
textos, feiras na escola com mostra de trabalhos, participação na horta
escolar. (Vânia)
REFERÊNCIAS
1 Introdução
Exemplo 1
O Conceito de FUNÇÃO AFIM, mais especificamente as representações
de retas crescentes e decrescentes e a variação do coeficiente angular a partir da
exploração com o Software Winplot Fig. 1: a) y = 3x+5 e b) y = -3x+5
Figura 1: Gráfico das Funções
Exemplo 2
O gráfico da FUNÇÃO SENO, a partir de um software com o qual é possível
visualizar e relacionar com o círculo trigonométrico que vai representando o
triângulo retângulo na tela juntamente com a curva senoidal, estudo feito com o
Software: Trigonometria, o que tornou possível a identificação a partir da visua-
lização do gráfico, o domínio e a imagem, sinal e periodicidade da função seno,
assim foi possível verificar o comportamento da função seno em diferentes valores
como na Figura 2.
Figura 2: Gráfico da Função
Exemplo 3
A exploração de propriedades do TRIÂNGULO EQUILÁTERO com o soft-
ware Régua e Compasso, a medida dos lados e dos ângulos internos do triângulo
pode ser visualizada na Figura 3, através da representação construída a partir das
ferramentas do software.
Figura 3: Medidas
REFERÊNCIAS
1 Apresentação
Neste capítulo, devido à limitação de espaço, será relatada uma das atividades
aplicadas na fase de experimentação (3ª fase) seguida da análise das produções dos
alunos (4ª fase). Para mais detalhes, é possível consultar a tese “Atividades digitais
e a construção dos conceitos de proporcionalidade: uma análise a partir da Teoria
dos Campos Conceituais” (FIOREZE, 2010).
Essas figuras tinham como objetivo levar o aluno a verificar que a impressão
perceptiva não dá conta do significado de um desenho; desenhos que a impressão
registra como iguais podem guardar distintas relações geométricas.
Após essa atividade introdutória, foi trabalhada uma sequência de situações rela-
cionadas com a ampliação/redução de triângulos e com a trigonometria do triângulo
retângulo. Embora os alunos tenham trabalhado na oitava série com a trigonometria
do triângulo retângulo, em alguns grupos foi necessário relembrar termos como “cateto
adjacente”, “cateto oposto”, ou “hipotenusa”, além de identificá-los no triângulo dado.
Alguns grupos também expressaram dúvidas sobre o significado da represen-
tação m(AC)/m(BC) e suas variantes. Nesse sentido, Vergnaud (2001) entende que
a representação é constituída de elementos simbólicos e semióticos, necessários
à ação do sujeito (gráficos, diagramas, notação algébrica, etc.) e, às vezes, não é
direta, existindo lacunas entre o que está na mente do indivíduo e a representação
dada por símbolos ou palavras.
Na sequência, foi solicitado que os alunos trabalhassem com o triângulo
retângulo (este previamente construído), tendo um dos ângulos 300, conforme
mostra a ilustração.
Figura 4: Triângulo retângulo
REFERÊNCIAS
1 Introdução
2 Origens e contexto
3 Aprendizagem significativa
Fonte: Os autores.
Fonte: Os autores.
5 Considerações finais
REFERÊNCIAS
1 Introdução
2 Referencial teórico
Autores como Shulman (1986, 1987), Garcia (1995), Saviani (1996), Gauthier
(1998), Tardif (1991, 2002), Pimenta (1998, 2002, 2005), entre outros, constituem
teorias ou tipologias relacionadas aos saberes docentes necessários para a formação
de professores. Com base nessas teorias e tipologias procuramos estabelecer uma
compreensão acerca do conceito de Formação Pedagógica.
Dessa forma, entendemos que a Formação Pedagógica é composta, de maneira
geral, por saberes docentes relacionados às Ciências da Educação e, de maneira
mais específica, por saberes docentes relacionados ao Ensino da Matéria.
Essas duas categorias de saberes docentes são tomadas como base para a
Formação Pedagógica justamente pelo caráter que possuem, ou seja, por estarem
diretamente relacionadas ao processo de ensino, sendo formadas, portanto, por
conteúdos que informam, perpassam ou permeiam a docência, como no caso dos
saberes relacionados às disciplinas das Ciências da Educação, ou por saberes que
dizem respeito diretamente à docência, no momento da transposição didática (CHE-
VALLARD, 1991), como no caso dos saberes relacionados ao Ensino da Matéria.
Conforme Santos (2011, p. 105), existem três instâncias que definem a atua-
ção da docência na educação formal, a saber: a sala de aula, para a qual todos os
professores têm uma formação básica, pautada no trabalho didático; a escola e a
rede de ensino.
Com base nisso, a autora assume que o docente é (ou deveria ser) um pro-
fissional formado para atuar em todas as instâncias do sistema de ensino e para
participar ativamente da construção de propostas educacionais maiores e, por-
tanto, a sua formação deve garantir saberes e conhecimentos que lhe permitam
3 Procedimentos Metodológicos
5 Considerações finais
REFERÊNCIAS
1 Introdução
1 Esta é uma versão ampliada do texto original apresentado no IX Encontro Nacional de Pesquisa em Educação
em Ciências – IX ENPEC (2013).
2 Resultado de pesquisa financiada pelo CNPq.
2 Contexto e metodologia
No extrato a seguir o foco das interações ocorre entre F1, professora com
graduação em Biologia e doutorado em Educação, F2, professor com graduação em
Biologia e doutorado em Educação, F3, professora com graduação e doutorado em
Química e F4, professora com graduação em Matemática e mestrado em Educação.
Neste encontro também estavam presentes os professores de Ciências e Ma-
temática da escola, outros professores/pesquisadores e acadêmicos da UFGD.
[2] F2: É, mas têm outras coisas, eu dei aula de Biologia Celular dois anos,
lá no Paraná. Então, eu peguei uma ementa, lá tinha os conteúdos que
estava bem claro: célula - Tipos de transporte, membranas, organelas,
ciclo celular, material genético. Então, vira praticamente uma tradição,
pois não depende do professor. O conteúdo é este. Então, dá certo receio
de você alterar alguma coisa e prejudicar o aluno. Já tem anos que se
trabalha isto daqui. Agora eu vou dizer que isto aqui não é importante!
Mas, como assim que não é importante?! Porque é muito complicado
a gente mexer no currículo, porque tem coisas essenciais e talvez nem
tanto. Então, a pessoa tem que ter muito conhecimento, tanto da área
dele mesmo quanto da área de aprendizagem, para saber o que ele pode
deduzir, o que você precisa passar para ele [o aluno].
[4] F3: Sempre se têm os dois lados. Tem um lado que amarra, e o outro
que organiza também. Uma coisa boa que é a organização deste processo.
Necessita de uma organização em caso de escolas públicas. Essa amarra
até certo ponto é interessante, ela organiza a vida dele [do aluno]. Aí,
quando ele chegar na minha escola, ele não vai ter um tempo para ter
aula de reforço. Não dá para gente construir o currículo, o outro construir
o dele. São coisas que são básicas. Agora, a forma de dar ênfase em mais
em uma coisa ou outra, é isso que o professor tem a autonomia a fazer. Ele
não pode mesmo pensar de construir ele próprio o currículo.
(a) Então, vira praticamente uma tradição, pois não depende do professor.
O conteúdo é este. Então dá certo receio de você alterar alguma coisa e
prejudicar o aluno.
(b) [...] Porque é muito complicado a gente mexer no currículo, porque
tem coisas essenciais e talvez nem tanto, então a pessoa tem que ter muito
conhecimento tanto da área dele mesmo quanto da área de aprendizagem,
para saber o que ele pode deduzir o que você precisa passar para ele.
Por isso, nos turnos [1] e [3] F1 reforça a necessidade de uma formação con-
tinuada, que aborde aspectos variados da atividade docente, inclusive a conscien-
tização e apropriação do sentido e significado do currículo. Retoma-se, então, a
afirmação feita sobre uma percepção equivocada de um dos papéis do professor:
o professor passa a ser um técnico e reprodutor de currículos, programas e ações
pedagógicas, concebidos e elaborados por especialistas externos ao contexto escolar.
De F3 emerge a mesma percepção da falta de autoridade do professor para
refletir, propor e/ou implementar eventuais mudanças de currículo: Não dá para
gente construir o currículo, o outro construir o dele [...] ele não pode mesmo pensar
de construir ele próprio o currículo.
Nesse sentido, cabe perguntar: quem, então, constrói o currículo? Que cur-
rículo? Para quem? (REZENDE; LOPES; EGG, 2004). No nível mais imediato
da sala de aula, uma resposta poderia apontar o livro didático como elemento
predominante no embate entre a possível ação autônoma e reflexiva do professor
[5] F4: Bom, toda aula que eu dou, toda atividade que tenho oportuni-
dade de participar na universidade, eu sempre me questiono, né! Sempre
problematizo, procuro problematizar. Como? Por exemplo. Vocês estavam
aí..., F1 estava perguntando..., é... Quais teorias de aprendizagem que vocês
conheciam e uma pergunta que eu me faço sempre é: O que é aprender?
O que significa aprender? Quando eu sei que ensinei alguma coisa, né!
Que eu ensinei e o aluno aprendeu. Será que só a avaliação que eu faço,
será que eu verifiquei mesmo se ele aprendeu ou não? O que é aprender,
que momento, o que me diz se o aluno aprendeu ou não. E para isso eu
preciso saber o que é aprender. Para eu saber o que é aprender, quais as
maneiras possíveis, de eu fazer com que esse aluno aprenda, né! A partir
do momento que eu souber o que é aprender eu posso pensar em que
maneiras que é possível que ele aprenda, que o meu aluno aprenda.
Paradoxalmente, as falas dos turnos [1] a [4] podem reforçar nos professores
da escola “características técnicas do trabalho dos professores, provocando uma
degradação de seu estatuto e retirando-lhes margens importantes de autonomia
profissional” (NÓVOA, 1992, p. 24).
A ação de formação continuada estaria, então, prestando um desserviço para
os professores desta escola? Não. Ao reconhecer os conflitos que inevitavelmente
surgem quando se propõe o debate multidisciplinar entre diferentes atores, a coor-
denação do projeto aceitou o desafio de refletir sobre os reflexos disso tanto entre
os formadores quanto entre os professores. Entendemos que, para os professores,
essas diferentes percepções do fazer docente entre os formadores tem o poder de
aproximar dois grupos – professores e pesquisadores – ao expor as contradições,
inseguranças e resistências que diferentes histórias profissionais produzem em um
4 Palavras finais
REFERÊNCIAS
3 Um Wiki é um Website para o trabalho coletivo de um grupo de autores. A sua estrutura lógica
é muito semelhante a de um blogue, mas com a funcionalidade acrescida de qualquer visitante
poder clicar para modificar, agregar ou suprimir o conteúdo da página, ainda que este tenha sido
criado por outros autores (COUTINHO & JÚNIOR, 2007).
4 E-portfólios são criados por meio da utilização de ferramentas variadas disponíveis no computador e online.
Consistem numa coleção organizada e diversificada de trabalhos, resultante de um processo de seleção realizado
de forma deliberada e sistemática, ao longo de um período significativo de tempo, acompanhado de uma reflexão
sobre a importância que o trabalho teve para quem o elabora (BERNARDES; MIRANDA, 2003).
5 Por tecnologias ubíquas (TU) entendem-se os dispositivos tecnológicos omnipresentes que permitem obter
informações a qualquer momento e em qualquer lugar e de que são exemplo os telemóveis, leitores de Mp3 e
Mp4, leitores de livros digitais, computadores portáteis, PDA, smartphones e tablets (DELGADO, 2014).
3 Considerações finais
Em síntese, as TIC podem ser utilizadas nas salas de aulas de Ciências Naturais
com, pelo menos, três diferentes finalidades, a saber: i) como ferramentas educa-
cionais para construção do conhecimento substantivo sobre conteúdos específicos
da área; ii) como facilitadoras do desenvolvimento de capacidades de raciocínio,
de comunicação e de argumentação fundamentadas; iii) como promotoras de
ativismo social.
Como tal, em todas essas finalidades, a concepção de Ciência do professor
é crucial, pois dela dependem as metodologias que serão utilizadas ou, enfim,
como serão conduzidas as atividades numa perspectiva dinâmica de construção
do conhecimento científico inacabado, provisório e parcial.
Contudo, o que se pode perceber por meio da análise dos resultados das
investigações é de que a utilização de TIC em aulas de Ciências Naturais auxilia
no desenvolvimento de capacidades de raciocínio, de comunicação e de argumen-
tação fundamentadas. Essas capacidades já seriam suficientes para justificar-se a
integração curricular das TIC no ensino e na aprendizagem de Ciências Naturais.
Porém, como afirma Reis (2013), o que se almeja na Educação em Ciências como
finalidade superior é que os estudantes passem da sensibilização para a ação fun-
damentada, ou seja, que se transformem em produtores ativos de conhecimento,
por meio da investigação e da tentativa de mudar situações e comportamentos
– ação sociopolítica.
REFERÊNCIAS
1 Introdução
Dessa forma, sinaliza-se a seguir alguns elementos da narrativa que podem fazer
do exercício da escrita narrativa da experimentação um dispositivo formativo e de
produção de conhecimento a respeito da Química (DORNELES, GALIAZZI, 2012).
Dorneles (2013) propõe a escrita narrativa na formação de professores de
Química por meio do quinteto dramatístico de Burke (1969), que se constitui na
cena (quando e onde ocorreu a história); agentes (personagens); ato (enredo da
narrativa, acontecimentos); propósito (o quê e por que narrar tais acontecimentos);
instrumento (como foi feita a história). Na escrita narrativa da experimentação os
elementos do quinteto orientam o escritor a narrar de maneira a envolver o leitor
com o lugar, os acontecimentos vivenciados na experimentação, e os propósitos
tratam-se das experiências que os sujeitos expressam por meio das suas aprendizagens.
Nesse sentido, a escrita narrativa torna-se dispositivo para pensar-se acerca da
experimentação na formação de professores de Química, como também possibilita
a compreensão da aprendizagem dos fenômenos estudados, numa perspectiva de
que a experimentação se torne um acontecimento transformador para o aprendiz.
Busca-se uma participação colaborativa na experimentação; assim, quando as
narrativas são lidas, conversadas e escritas nos espaços de formação, possibilita
ao autor da história e ao outro que a lê pensar sobre a experimentação na ação
docente e na sua formação, viabilizando que outras histórias possam ser narradas.
Concorda-se com o autor por acreditar que a experiência é aquilo que nos
acontece na experimentação; são as possibilidades de aprendizagem, a abertura
para o desconhecido, para o que não é possível antecipar. A narrativa a seguir
exemplifica a proposta de conceber a experimentação como acontecimento7:
7 A narrativa foi escrita pela professora pesquisadora na disciplina de estágio supervisionado II no curso de
Química Licenciatura da FURG.
Bom, e agora fiquei umas três horas tentando baixar as fotos para nossa
narrativa, mas meu celular não é reconhecido por meu computador. Por
enquanto é isso! (Professora Maria – Diário coletivo da experimentação
– 04 de maio de 2014).
8 O estudo e a determinação da tensão superficial dos diferentes leites foram adaptados de artigos da Revista
Química Nova e Química Nova na Escola (SILVA, 1997; BEHRING et al., 2004).
7 Considerações finais
REFERÊNCIAS
1 Introdução
Para Meihy (1996, p. 13), “a história oral é um recurso moderno usado para ela-
boração de documentos, arquivamento e estudos referentes à vida social das pessoas”.
A oralidade visa ao entendimento da vida das pessoas no cotidiano social,
pois de acordo com Thompson (1992, p. 44), “é a história construída em torno da
vida das pessoas”.
Segundo Freitas (2002, p. 18), trata-se de “um método de pesquisa que utiliza
a técnica da entrevista e outros procedimentos articulados entre si, no registro de
narrativas da experiência humana”. Percebe-se, nesta definição, que a história oral
é, ao mesmo tempo, uma fonte e uma técnica.
Para Garnica (2004, p.78), é “a história (re) construída a partir da oralidade,
numa clara complementação [...] àquela concepção de história pautada somente
em documentos escritos”.
O autor situa a valorização desse tipo de história na contribuição da Escola
dos Annales, principalmente a partir do final dos anos 1960, quando se passa a
admitir que
[...] o uso da História Oral merece ser justificada, seja no caso do emprego
exclusivo dela, seja como resultante da necessidade de complementação
do material coletado, pois as razões de uma opção metodológica tornam
mais significativo o valor do estudo elaborado. (JUCÁ, 2003, p. 56).
Durante esses anos em que temos utilizado a história oral em nossas pesquisas
podemos enumerar alguns dos trabalhos publicados:
1. CARNEIRO, C. C. B. E. S.; BARRETO, M. C.; PONTES, M. G. O.; MOURA,
F. M. T.; OUTROS. Ensino de ciências e matemática no Ceará: conside-
rações históricas acerca da década de 60. In: XVII Encontro de Pesquisa
Acreditamos que o nosso trabalho com a história oral tem sido profícuo, muito
ainda resta a fazer, embora as dificuldades operacionais sejam muitas e demande
um tempo considerável para sua realização. Mas está em nossa consciência que o
registro e a reflexão histórica podem levar a investigações mais originais e, conco-
mitantemente, a desvendar coordenadas essenciais que resultem em uma política
salutar para a melhoria do Ensino de Ciências e a formação de seus docentes.
6 Algumas considerações
No decorrer de nossas pesquisas tem ficado evidente que pouco foi dito, escrito
ou registrado. E muito, ainda, precisa ser pesquisado. No entanto, procurar as vozes
silenciosas do passado tem permitido encontrar respostas, suscitar dúvidas, tirar
algumas lições, denunciar problemas, realçar qualidades. Enfim, torna possível
entender, pelo menos, o que tem ocorrido em relação à formação docente para o
ensino de Ciências, aos currículos, suas modificações e as influências nas décadas
pesquisadas, percebendo pontos positivos e negativos, evidenciando valores e “des-
valores”, para um possível entendimento do presente e uma construção do futuro.
As pesquisas têm demonstrado que há uma grande história a ser escrita e só
temos acenado o seu começo. É preciso ficar claro que a memória e a história do
Ensino de Ciências no Ceará fazem parte de um patrimônio histórico e cultural
e, como tal, necessita de registro. No desenvolvimento de nossos estudos há um
envolvimento profundo desde seu delineamento inicial até a divulgação dos
REFERÊNCIAS
1 Introdução
A educação no mundo passa por uma crise e, conforme Fourez (2003), exis-
tem vários pontos de vista e atores envolvidos nessa crise: alunos, professores,
dirigentes da economia, pais e cidadãos. Os alunos não conseguem enxergar um
sentido nos conteúdos trabalhados na escola e não aceitam mais passivamente a
mera transmissão dos conteúdos em sala de aula. E os professores, por sua vez,
não conseguem contextualizar os assuntos relacionados às suas disciplinas e nem
demonstrar a importância desses temas para o futuro dos estudantes. Além disso,
eles estão imersos em um contexto de desvalorização e pauperização da profissão
docente. Já os dirigentes da economia se preocupam apenas com índices e estatísticas,
transformando a educação em mera mercadoria, não investindo o suficiente na
capacitação docente e nas condições estruturais das escolas. Em relação aos pais e
cidadãos de uma forma geral, o autor aponta que boa parte não se preocupa com
a qualidade do ensino oferecido nas escolas.
Entretanto, as dificuldades da educação não são recentes, tanto que já no
século XVII, através da Didática Magna de Comenius (1592-1670), o qual é con-
siderado o fundador da Didática Moderna, foi proposto um sistema articulado de
ensino, reconhecendo o igual direito de todos os homens ao saber, com o intuito
7 Algumas considerações
REFERÊNCIAS
ADAMS, J., KING, C. The new geography of science: research and collaboration
in Brazil. Global research report. Thomson Reuters, june, 12p, 2009.
1 Introdução e contexto
1 O estudo envolveu o planejamento da abordagem temática intitulada “Poluição do Ar: o Ar que respiramos”,
baseada na Situação de Estudo (MADANER; ZANON, 2004) “Ar atmosférico: uma porção do mundo material
sobre a qual se deve pensar” (MALDANER, 2007). A temática foi desenvolvida em duas turmas do ensino mé-
dio: 1º ano (com 30 alunos) e 2º ano (com 23 alunos), de uma escola pública estadual de Florianópolis/SC, no
contraturno dos estudantes, no âmbito do programa Ensino Médio Inovador. Houve também o planejamento de
questionários e entrevistas semiestruturadas com grupos de estudantes. Na turma do 1ª ano foram desenvolvidas
doze horas/aula de 45 minutos, e na turma do 2º ano, nove horas/aula de 45 minutos.
2 Embora a pesquisa apresentada neste trabalho não tenha sido planejada no coletivo de professores da escola,
como propõe Maldaner (2003), optou-se pela denominação de professor/pesquisador pela categoria corresponder
à perspectiva defendida.
3 Freire (2001) discute a educação como um processo de constante libertação do homem. “Educação que, por
isto mesmo, não aceitará nem o homem isolado do mundo – criando este em sua consciência –, nem tampouco
o mundo sem o homem – incapaz de transformá-lo” (p. 75-76). O educador destaca ser preciso ver o homem
na “interação com a realidade, que ele sente, percebe e sobre a qual exerce uma prática transformadora” (p. 75).
Com isso, busca-se a tomada de consciência (ultrapassando a mera apreensão da presença do fato) e sua supe-
ração, que exige a “inserção crítica de alguém na realidade que se lhe começa a desvelar” (p. 77) e que não pode
ser de caráter individual, mas social.
Dado que o modo como se ensina as Ciências tem a ver com o modo
como se concebe a Ciência que se ensina, e o modo como se pensa
que o Outro aprende o que se ensina (bem mais do que o domínio
de métodos e técnicas de ensino), torna-se pertinente aprofundar
aspectos tendo em vista a formação epistemológica dos professores
bem como aspectos relativos à concepção de aprendizagem. É da nossa
experiência como formadores de professores e como investigadores
que tais vertentes da formação são tradicionalmente obstáculos para
o entendimento de Ciência, de Educação em Ciência e de ensino das
Ciências. (CACHAPUZ, PRAIA, JORGE, 2004, p. 378).
4 Neste texto entendemos que “o aprender a fazer Ciência”, defendido por Hodson (1998), que se refere a com-
petências para desenvolver percursos de pesquisa e resolução de problemas, não constitui o foco para a formação
de estudantes da educação básica, visto que, na escola, o interesse não está em formar cientistas, diferentemente
do ensinar Ciência e sobre Ciências. Entretanto, ao ensinar sobre Ciência, entendemos ser importante não deixar
de lado discussões sobre “o como se faz Ciências”.
4 Considerações finais
1 Introdução
1 Programa de Extensão institucionalizado na Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Cerro Largo
em atividade desde o ano de 2010.
2 Programa instituído por meio da portaria nº 1.140, de 22 de novembro de 2013, pelo qual o Ministério da
Educação – MEC e as secretarias estaduais de educação assumem o compromisso com a valorização da formação
continuada dos professores e coordenadores pedagógicos que atuam no ensino médio público.
3 Cabe ressaltar que existem outras linhas da pesquisa-ação: a prática e a técnica. As visões de pesquisa-ação
educacional técnica, prática e emancipatória se distinguem com relação a seus marcos teóricos; ao tipo de relação
entre teoria e prática; ao objeto de pesquisa; à rigorosidade metodológica; à questão da objetividade x subjeti-
vidade; à racionalidade; às concepções de conhecimento, produção de conhecimento e educação envolvidas.
O caminho a ser trilhado no decorrer da pesquisa exige com que sejam es-
clarecidos aspectos relevantes quanto às concepções que me constituem. A pro-
posta de trabalho aqui apresentada tem como espaço a formação de professores
e as relações estabelecidas entre estes e os formadores, tidos como especialistas.
Nesse caso considero pertinente relatar que as razões que influenciaram a pes-
quisa nesse tema se aproximam do interesse que tenho pela epistemologia ou “as
epistemologias”, como afirma Ramos (2008, p. 26), pois reconheço a importância
de proporcionar ao professor reflexões epistemológicas acerca do conhecimento,
as quais permitirão o desenvolvimento de um olhar crítico necessário para uma
maior compreensão sobre esse conhecimento.
Nesse sentido, situo o leitor na vertente epistemológica que escolhi, conside-
rando, de acordo com Ramos (2008), que é possível reconhecer pelo menos duas:
Poderíamos interpretar que nós fomos abrindo mão dos nossos estilos
iniciais. Não teríamos mais somente o estilo de pensamento dos biólogos,
dos físicos e dos químicos, para balizar as nossas pesquisas. Mas também
não somente os da Educação. Nessa convivência que vai existindo, a gente
pode criar um outro estilo de pensamento, ou vários outros estilos de
pensamento que são compartilhados.
5 Considerações finais
REFERÊNCIAS
1 Introdução
1 Na década de 1970, por exemplo, instituições de educação superior já explicitavam inquietação com prática
pedagógica dos seus professores (VASCONCELOS, 2000). Naquele momento predominava a compreensão de de
que os problemas de ensino e aprendizagem podiam ser resolvidos a partir de uma instrumentalização técnica.
2 Compartilha-se do conceito de desenvolvimento profissional de docentes da educação superior de Pimenta e
Anastasiou (2002), pois este envolve ações e programas da formação inicial e da formação em serviço.
3 Para uma compreensão inicial de críticas a ideias de Donald Schön ver, por exemplo, Pimenta (2006). A autora
fundamenta-se em referências que auxiliam no aprofundamento a tais críticas.
4 Auguste Comte (1798-1857) elaborou a corrente filosófica denominada de positivismo que marcou pro-
fundamente a cultura do século XIX. O positivismo comteano caracterizou-se pela negação da metafísica e a
valorização de procedimentos científicos, isto é, os positivistas possuem afinidades com as ciências empíricas e
seus procedimentos são baseados especialmente na observação e experimentação (DUTRA, 2005). Com base no
exposto, o positivismo de Comte possuía quatro objetivos principais: evidenciar as leis lógicas do espírito humano;
promover uma reforma geral na educação; promover o progresso nas diversas ciências e por fim a reorganização
da sociedade em bases sólidas (DUTRA, 2005). De modo geral, o positivismo de Comte considerava as ciências
sociais e as ciências naturais semelhantes, ambas neutras.
5 O positivismo lógico surge com o Círculo de Viena e era formado no início do século XX por um grupo
de estudiosos. O positivismo lógico caracterizava-se como uma forma extrema do empirismo que enfatizava
o aspecto lógico do conhecimento científico. Para os positivistas é considerado um problema o que pode ser
verificado pelos sentidos.
6 A noção de obstáculo epistemológico pode ser sinteticamente interpretada como as causas de estagnação,
regressão, lentidões e inércia do conhecimento científico (BACHELARD, 1996).
7 A noção de perfil epistemológico desenvolvida por Bachelard (1996) expõe que a explicação de um conceito
científico está condicionada pela influência de diferentes doutrinas filosóficas. A noção de perfil epistemológico é
particularmente relevante para desenvolver a argumentação de que a noção de ruptura do referido autor envolve
o binômio continuidade-descontinuidade.
8 Ainda que no Brasil os estudantes de pós-graduação que dispõem de bolsa da CAPES, por exemplo, necessitem
realizar o estágio de docência, de modo geral não se constitui em um estudo sistematizado da docência, senão em
um processo de reprodução de modelos. A compreensão que parece predominar nesses modelos de estágios de
docência é que o mais importante é o “domínio”, por parte dos estagiários, de conhecimentos das componentes
curriculares de conteúdos específicos que estão a lecionar, de tal sorte que precisam ser ensinados a partir de
técnicas aprendidas por imitação ao longo da vida escolar e com o supervisor do estágio – docente responsável
pela componente curricular de conteúdos específicos que, geralmente, também pouco teve a oportunidade
de estudar, de forma sistematizada, a docência em sua área de formação. Em outras palavras, tal situação está
relacionada com a valorização de uma hierarquia de conhecimentos apreciada pela racionalidade técnica, como
já mencionado anteriormente.
9 Como exemplo recente de produção elaborada com as características exposta citamos a obra A experimentação
na educação em química: fundamentos, propostas e reflexões de Gonçalves e Brito (2014). Este é um dos projetos
e pesquisas desenvolvidos pelos autores do artigo relacionados ao desenvolvimento profissional de formadores
de professores de ciências da natureza.
4 Considerações finais
REFERÊNCIAS
1 Introdução
1 Curso reestruturado no ano de 2012: resultando em Licenciatura em Ciências Biológicas, Física e Química
Licenciaturas.
A discussão que segue tem como base empírica uma atividade encaminha-
da aos estudantes matriculados em Química I e que consistiu na solicitação da
representação da água nos três estados físicos. Essa atividade foi repassada aos
estudantes, após a realização da aula teórica na qual se discutiu os estados físicos
da matéria com uso de simulador disponível em: <http://phet.colorado.edu/>. O
uso de tal simulador teve como objetivo possibilitar uma maior compreensão da
organização em nível atômico molecular da matéria nos diferentes estados físicos:
sólido, líquido e gasoso, bem como nas modificações que ocorrem nos processos de
mudanças de estado físico pelo aumento da temperatura e da pressão no sistema.
Nas palavras de Giordan (2008, p. 190), “a simulação é uma mediação distinta
que serve para relacionar os fenômenos macroscópicos e submicroscópicos [...],
é no ambiente de simulações que podem se formar cenários estimuladores para a
criação de representações mentais por parte do sujeito” e, ainda segundo o autor,
“nessas situações, o sujeito se percebe diante de uma nova dimensão da realidade
obrigando-se a formular a sua própria representação, que venha a se ajustar àquela
em simulação”. Ou seja, o uso de simulações, no ensino da química, possibilita ao
estudante visualizar o processo que está em discussão e, assim, construir a sua própria
imagem com base no modelo teórico abordado. Importante destacar que o profes-
sor precisa sempre reforçar a ideia de que a simulação está ancorada em modelos
teóricos que possibilitam a explicação de um determinado fenômeno, por exemplo.
REFERÊNCIAS
Tamini Wyzykowski
Roque Ismael da Costa Güllich
Camila Boszko
1 Introdução
Este capítulo tem como objetivo desenvolver reflexões com relação à ação
docente e à constituição de professores de Ciências Biológicas em formação inicial.
A partir dessas reflexões, pretendemos levantar a problematização a respeito do
potencial do desenvolvimento de narrativas durante o processo constitutivo da
docência, especialmente impulsionada no componente curricular de Prática de
Ensino em Ciências/Biologia II: Currículo e Ensino de Ciências e Biologia através
do registro de memórias de aula. Tematizamos a investigação-ação na formação
inicial por tratar-se da metodologia que o componente curricular adota/intenciona
como modelo de trabalho na graduação.
1 Este texto está parcialmente divulgado no ENACED – Encontro Nacional de Educação e no ENDIPE – Encontro
Nacional de Didática e Prática de Ensino ano de 2014.
Acreditamos que uma das alternativas para qualificar essa etapa constitutiva
é oportunizar aos licenciandos o desenvolvimento de atividades de iniciação à
docência, que tenham o intuito de apresentar aos futuros professores a carreira, o
contexto escolar, e levá-los à experiência docente desde o início de sua formação.
Ademais, é necessário destacar aos licenciandos a necessidade do próprio professor
se reconhecer num constante processo de pesquisa e aprendizagem sobre o seu
fazer (ALARCÃO, 2011).
Chaves e Aragão (2001, p. 15) destacam que “os processos de formação docente
devem privilegiar reflexões em contextos práticos, de onde emergirão novas teorias
pedagógicas que serão postas à prova novamente em situações concretas”. Nesse
sentido, acreditamos que uma estratégia formativa eficaz para estimular o hábito
reflexivo nos professores em formação inicial é a proposição do registro narrativo
das situações vivenciadas nos contextos formativos. A literatura nos aponta que
“durante as últimas décadas, também a educação passou a reconhecer, de forma
crescente, a importância da narrativa como metodologia de investigação e de
desenvolvimento pessoal e profissional de professores” (REIS, 2008, p. 1).
O que importa é que vidas não servem como modelos. Histórias apenas
servem. Nós só podemos viver as histórias que lemos ou ouvimos. Nós
vivemos nossas vidas através dos textos. O texto pode ser lido, cantado,
vivido por via eletrônica [...]. independente da sua forma ou meio, essas
histórias formam a todos nós, e são as que usamos para criar novas fic-
ções, novas narrativas (HEILBRUN apud LARROSA et. al., 1995, p. 11).
4 Considerações finais
REFERÊNCIAS
Por meio de Telescópios, não há nada até agora tão distante que não possa
ser representado às nossas vistas; e pela ajuda de microscópios não há
nada tão pequeno, que escape da nossa investigação, por conseguinte
há um novo mundo visível descoberto para o entendimento. (apud
BATISTETI; ARAÚJO; CALUZI, 2009, p. 22).
ENEBIO I/2005
“Ensino de Biologia: conhecimentos e valores em disputa”
Abordagem Prática para o Ensino de Ciências e Biologia.
Uso de um Módulo no Ensino de Biologia Celular: uma proposta pedagógica.
A Importância das Atividades Práticas de Laboratório no Aprendizado de Ciências.
Brincando com a Vida.
Novas Perspectivas para o Ensino de Biologia Celular.
Implementação da Modelagem Computacional no Ensino de Biologia.
Célula – como os alunos definem esse conceito?
A Biologia sob a Perspectiva dos Estudantes de Ensino Médio de Ijuí e Três de Maio: objeto de
estudo, dificuldades encontradas e áreas mais difíceis de aprender.
ENEBIO II/2007
“Os dez anos da SBEnBio e o ensino de Biologia no Brasil: histórias entrelaçadas”
Jogos Didáticos no Ensino Fundamental – uma proposta para ensino de Biologia Celular.
Descobrindo a Célula Através das Mãos.
O Uso de Recursos Didáticos no Ensino de Biologia.
A Presença da Temática Célula nos Anais dos Principais Encontros da Área de Ensino de Ciên-
cias e Biologia.
ENEBIO I/2005
“Ensino de Biologia: conhecimentos e valores em disputa”
Abordagem Prática para o Ensino de Ciências e Biologia.
Uso de um Módulo no Ensino de Biologia Celular: uma proposta pedagógica.
A Importância das Atividades Práticas de Laboratório no Aprendizado de Ciências.
Brincando com a Vida.
Implementação da Modelagem Computacional no Ensino de Biologia.
ENEBIO II/2007
“Os 10 anos da SBEnBio e o ensino de Biologia no Brasil: histórias entrelaçadas”
Descobrindo a Célula Através das Mãos.
O Uso de Recursos Didáticos no Ensino de Biologia.
O Ensino de Biologia Molecular no Ensino Superior e a Pesquisa na Formação Inicial de Pro-
fessores de Biologia.
Plantão Pedagógico: um trabalho realizado antes, durante e depois da visita ao museu da vida.
Esse estudo pauta-se sobre estruturas que não podem ser vistas a olho
nu, assim, os recursos bidimensionais e tridimensionais puderam atuar
como importante objeto nesta interação (T11, 2010).
Forte caráter motivador para os estudantes, mas não melhoraram, ne-
cessariamente, o aprendizado do conteúdo sobre célula, que se trata de
um tema complexo e abstrato (T14, 2012).
Apresentaram um forte caráter motivador para os estudantes, mas não
melhoraram, necessariamente, o aprendizado do conteúdo sobre célula,
que se trata de um tema complexo e abstrato (T15, 2012).
A partir desses dois últimos relatos, também é possível diagnosticar que ativi-
dades envolvendo diferentes recursos didáticos apresentam-se como motivadoras
e dinâmicas, porém nem sempre revertem em aprendizagem. Isso se considerado
que a maioria das escolas brasileiras apresenta um cenário educacional fortemente
baseado no livro didático e voltado para a memorização de conceitos, tal como se
observa em um dos objetivos dos trabalhos analisados: “facilitar a memorização
das funções das organelas citoplasmáticas” (T1, 2005).
Ainda assim, percebe-se que o uso de recursos didáticos visa, essencialmente,
promover a motivação e o envolvimento dos alunos na construção do conhecimen-
to a partir da participação direta nesse processo, não sendo meros expectadores.
Nesse sentido, alguns trabalhos apontam um envolvimento efetivo dos alunos
na produção dos modelos, servindo até mesmo como mecanismo canalizador
da energia de agitação deles, muito comum nas classes escolares. Prova disso são
alguns relatos selecionados que demonstram o papel do uso de modelos didáticos
de célula no incentivo à busca de materiais e o desenvolvimento de habilidades
artísticas e da criatividade dos alunos:
4 Considerações finais
REFERÊNCIAS
Simone Marcuzzo
Lucas de Oliveira Alvares
Tenhamos as cabeças abertas, mas não tão abertas ao ponto de nossos cérebros se
desprenderem delas
Richard Dawkins
A Ciência, tal como a arte, não é uma cópia da natureza, mas uma recriação da mesma
Jacob Bronowski
1 Relevância da neurociência
3 Neurociência e neurocientistas
Tudo deve ser tão simples quanto possa ser, mas não mais do que isso.
Albert Eistein
Via de regra, não existe uma disciplina que trabalhe especificamente neuro-
ciência. Portanto, o assunto é abordado dentro de diversas disciplinas. Abaixo estão
listados os conteúdos relacionados com o estudo do sistema nervoso em diferentes
disciplinas dos cursos de graduação das áreas biológicas e da saúde:
a. Biofísica: conceitos básicos de físico-química e biofísica molecular; mem-
branas biológicas: estrutura e composição, transporte passivo e ativo de
íons e pequenas moléculas, transporte de macromoléculas e partículas
(endo e exocitose); canais iônicos e biopotenciais: natureza do potencial
elétrico da célula, canais protéicos transmembrana e origem do potencial
de repouso, potencial de ação e suas fases, estimulação e propagação do
potencial de ação; técnicas de diagnóstico por imagem como tomografia
computadorizada e ressonância magnética nuclear.
b. Biologia celular/citologia: funcionamento e estrutura das organelas e do
núcleo; citoesqueleto de neurônios e células gliais; ciclo celular; sinalização
e morte celular; matriz extracelular e seus componentes.
c. Histologia: tipos e características morfológicas das células do tecido nervoso;
organização histológica de regiões do encéfalo, medula espinhal, gânglios
nervosos, nervos; plasticidade neuro-glial; barreiras do sistema nervoso;
métodos histológicos de estudo do tecido nervoso e quantificação.
d. Anatomia: divisões morfofuncionais do sistema nervoso central e periférico;
vias; revestimentos; vascularização do sistema nervoso.
e. Bioquímica: metabolismo energético no sistema nervoso; sistemas de neu-
rotransmissão; transmissão sináptica; mecanismos de transdução de sinais,
proteínas G, sistemas enzimáticos efetores, mensageiros intracelulares.
f. Embriologia: desenvolvimento do sistema nervoso, desde a formação dos
folhetos embrionários, neurulação, diferenciação do encéfalo e medula
6 Pesquisa em neurociência
REFERÊNCIAS
1 Introdução
1 Este texto resulta dos estudos do mestrado em Educação nas Ciências, da Unijuí, de autoria de Daiane Faber,
sob orientação da Dra. Maria Cristina Pansera de Araújo e colaboração da Dra. Vidica Bianchi.
Gaspar (2006) considera que o conceito de saúde tem evoluído ao longo dos
tempos e, atualmente, “implica a capacitação dos indivíduos para que possam
desenvolver-se e influenciar positivamente o meio que os envolve, tomando de-
cisões saudáveis e adaptando-se continuamente às exigências do meio” (p. 19).
Nesse sentido, a pesquisa científica no campo da educação procura pontuar
e evidenciar situações para que a sociedade se aproprie desse conhecimento de
modo a subsidiar ações educativas que possibilitem mudanças de hábitos e de
estilo de vida, como no caso do tabagismo, que representa um dos mais graves
problemas de saúde pública. O indivíduo pode tornar-se tabagista passivo ou ativo,
em qualquer idade, além de contribuir com a poluição ambiental e o consumo
passivo de tabaco por outros sujeitos com quem convivem, uma vez que o efeito
do tabagismo é individual e coletivo. Por isso, compreender a formação do hábito
tabagista desde a adolescência e as possibilidades de mudança é uma ação relevante
de pesquisa em educação em saúde.
A adolescência é a faixa etária mais suscetível à influência da família, dos
amigos, da mídia e da sociedade em geral, para que os jovens experimentem e
usem tabaco. Portanto, nesta fase, a prevenção ao tabagismo é prioritária. Nesse
contexto, a educação constitui um dos meios para estimular o cuidado ao corpo
e a promoção da saúde. Pressupõe-se que o estudante, ao conhecer melhor as
consequências do uso de determinadas substâncias para o desenvolvimento de
seu corpo, a exemplo do tabaco, pode modificar o comportamento de usuário e
constituir um hábito, que diminua os riscos à saúde.
Para alguns autores, fumar é uma drogadição ou vício; já para outros, é uma
questão de direito de escolha e liberdade em ser ou não tabagista com todos os
riscos decorrentes (SILVA et al., 2007). O uso ativo do tabaco não deixa a pessoa
violenta, mas reduz sua saúde, e a comercialização legal torna-o aceito socialmente,
sem que as pessoas se preocupem com seus danos diretos e indiretos.
Entre as principais substâncias contidas no tabaco está a nicotina, que, ao causar
dependência física e psíquica, é considerada uma droga. Para o Instituto Nacional do
Portanto, o uso excessivo de drogas observado nos últimos anos e seus efeitos
na vida do indivíduo e da sociedade é considerado, hoje, “um problema de saúde
pública. A situação vem se tornando cada vez mais alarmante e com grande im-
pacto social”. (CALDEIRA, 1999, p. 150).
Quando se fala em drogas lícitas, não se pode esquecer o malefício que trazem
à humanidade. O tabaco, que nem sempre é considerado uma droga e, muitas
vezes, tem seu consumo estimulado, ocupa o primeiro lugar entre as drogadições.
Cabe destacar que a palavra currículo tem sido também utilizada para
indicar efeitos alcançados na escola, que não estão explicitados nos planos
e nas propostas, não sendo sempre, por isso, claramente percebidos pela
comunidade escolar. Trata-se do chamado currículo oculto, que envolve,
dominantemente, atitudes e valores transmitidos, subliminarmente,
4 Considerações finais
REFERÊNCIAS
1 Introdução
5 Metodologias de ensino
A UFRGS não foge muito dessa descrição, pois à exceção de uma capacitação
pedagógica obrigatória para os docentes em estágio probatório, nenhuma exigência
adicional dessa natureza é estabelecida pela instituição.
Outro obstáculo comum à atividade docente, em especial o ensino, é relacio-
nado às diferenças entre curso de formação e curso(s) no qual o professor ensina.
Novamente, encontramos em Isaia (2006) uma reflexão sobre o assunto quando
a autora nos diz:
Embora haja uma origem comum entre o curso de minha graduação, Ciências
Biológicas, e o curso de atuação docente, Biomedicina, é inegável que o conjunto de
conhecimentos, habilidades e, especialmente, competências diverge entre os dois.
Enquanto no primeiro a preocupação é formar profissionais capazes de entender
as relações entre os seres vivos e os seus ambientes naturais, o biomédico deve ser
preparado para entender profundamente um único organismo, o ser humano, na
saúde e na doença, assim como a sua relação com o ambiente natural.
O curso de Biomedicina, como a maioria dos cursos de graduação da UFRGS,
é estruturado em uma matriz curricular formada principalmente por disciplinas
oferecidas pelos diversos Departamentos que colaboram com o curso. A participação
de cada Departamento se dá essencialmente em função da sua área de concentração
de conhecimento e não a uma vinculação à área formativa do curso. Assim, muitas
vezes, os Departamentos funcionam como meros prestadores de serviço na forma
de transmissores de conhecimento, sem que haja uma participação mais efetiva no
processo de criação e consolidação do projeto pedagógico do curso. Como conse-
quência, observa-se frequentemente a disseminação de conteúdos fragmentados que
são vistos pelos alunos como um conjunto de informações desconexo e dissociado
das suas expectativas, gerando profundas dúvidas quanto à real importância na
sua formação profissional. Essa situação se manifesta mais claramente nos anos
iniciais do curso por tratar-se do período focado nos conhecimentos de caráter
básico e, não raramente, é fator preponderante na desmotivação do aluno com o
curso, levando-o, inclusive, ao seu abandono.
A experiência adquirida no processo de criação do projeto pedagógico do
curso de Biomedicina e, posteriormente, a sua coordenação nos anos de implan-
tação, foi fundamental, sob o aspecto pessoal, para o desenvolvimento de um novo
olhar sobre a realidade da docência e a consequente formação discente. Hoje é
muito clara para mim a impossibilidade do exercício pleno da docência quando
ela é desenvolvida de forma desarticulada do projeto político-pedagógico do
curso e da IES na o docente atua. Essa é uma problemática cuja responsabilidade
é compartilhada tanto por professores que não se interessam na sua própria ca-
7 Considerações Finais
REFERÊNCIAS
Juliana de Castilhos
“[...] nada justifica que se ignore quase tudo sobre quase tudo. A tendência a afunilar a cultura
individual a um campo muito restrito reduz mais e mais o que cada um sabe, especialmente o de cada
geração subsequente. O conhecimento da massa é imenso, porém o conhecimento de cada um é muito
limitado. Por isso, cada campo restrito está sendo mais e mais reduzido, produzindo microcampos
científicos que obnubilam a visão de quem a eles se dedica e deixando, sem dúvida, muito espaço livre
para estudar outros campos da ciência e da chamada cultura. [...] Parcialmente devido a essa catástro-
fe cultural, os super-especialistas das chamadas humanidades geralmente ignoram e até desprezam o
culto à ciência. Os super-especialistas da chamada ciência, por seu lado, frequentemente também consi-
deram as humanidades como algo desprezível e irrelevante. Essas posições adotadas por uns e por ou-
tros são desastrosas para o conhecimento e, a meu ver, muito humilhantes para quem as esposa. Como
admirador da civilização grega, a mais importante de toda a História, adoto o critério helênico de que
todo o saber deve ser unificado, no que os gregos chamavam “filosofia” (isto é, afim do saber, amigo do
saber) ou no que hoje chamamos “ciência” (isto é, conhecimento, em latim). Acercando-me do fim de
minha vida, não posso deixar de apelar para os novos acadêmicos, bem mais jovens do que eu, para
que almejem tornar-se “linces”, como eram considerados os membros da primeira academia do mundo.
Que enxerguem muito longe, abrangendo um ângulo acadêmico de saber muito amplo e passando essa
atitude para seus alunos. Precisamos deixar de formar formiguinhas, treinadas para carregar pedaci-
nhos de folhas de um lugar a outro quase que cegamente, e voltar a formar linces.”
Professor Cesar Timo-Iaria (Discurso proferido na cerimônia de posse dos novos acadêmicos de
2002, Academia Brasileira de Ciências)
O ensino superior em saúde, de uma maneira geral, vem sendo alvo de muitas
críticas e isso se deve ao fato do surgimento de um crescente questionamento por
parte da sociedade sobre a capacidade das instituições de ensino superior cum-
prirem as finalidades de seus currículos, que deveriam ser as de desenvolver as
potencialidades intelectuais dos estudantes, incentivar sua capacidade de análise,
julgamento, avaliação crítica e de construir a habilidade para resolver problemas.
Além disso, as falhas na formação, no desempenho e no desenvolvimento profis-
sional do professor universitário, podem comprometer a construção adequada do
conhecimento. No entanto, embora ainda exista uma formação fragmentada de
profissionais da área da saúde, voltada apenas para o desempenho técnico especí-
fico da sua área, o novo paradigma que emerge na educação é que as instituições
de ensino superior se voltem para a formação de um profissional com uma ampla
visão da realidade, técnica e cientificamente.
REFERÊNCIAS
1 Introdução
O século XXI traz em seu bojo avanços tecnológicos de toda ordem. Na saúde
é possível citar como exemplos o desenvolvimento da nanotecnologia, medicamen-
tos muito sofisticados, transplantes complexos, manipulação genética, clonagem,
métodos de diagnóstico de última geração, hospitais de ponta, equipamentos e
insumos hospitalares para manter a vida. Esses avanços possibilitam aos trabalha-
dores da saúde aquilo que Foucault (1997) chama de “olhar armado”, para encontrar
e solucionar problemas de saúde de ordem orgânico-biológica de forma rápida e
eficaz. Porém, o que penso ser a maior conquista e que quero destacar, refere-se,
sobretudo, às frondosas alterações e conquistas no campo social, que ampliaram a
Existe, hoje, no Planeta Terra, cerca de sete bilhões de pessoas, e destas, 870
milhões perecem com a fome, considerando que produzimos alimento suficiente
para sustentar aproximadamente vinte bilhões de pessoas, conforme Organização
das Nações Unidas – ONU (2012). Essa realidade desvela as profundas desigual-
dades sociais na distribuição de bens e riquezas. Da mesma forma, a cobertura dos
serviços sanitários no planeta é bastante insuficiente. Conforme a Organização
Mundial da Saúde (OMS) (2010), no informe sobre a saúde no mundo, os índices
de assistência materna em alguns países, por exemplo, com elevadas taxas de
mortalidade é de 10%, e, em outros, com taxas de mortalidade bastante reduzidas,
a cobertura chega a 100%; mesmo em países com os piores índices de cobertura,
as mulheres mais ricas têm bons índices de cobertura. “Eliminar esta diferencia
de cobertura entre ricos y pobres en 49 países de ingresos bajos salvaría la vida
de más de 700 000 mujeres desde este momento hasta el año 2015” (OMS, 2010,
p. 08). Também ganha destaque a expectativa de vida de crianças pobres e ricas,
de países com índices bons e ruins de cobertura sanitária. “[...] si se superara esta
diferencia de cobertura en los diversos servicios para niños menores de cinco años,
en concreto, la vacunación sistemática, salvaría más de 16 millones de vidas” (p.
08). Esse cenário só consegue êxito se contar com a indiferença das pessoas umas
com as outras, falta de sentido e significado que o outro tem em relação ao “eu”.
Feita essa breve panorâmica, remetemo-nos ao Brasil. Os indicadores men-
cionados dão conta da tarefa de relembrar que as conquistas do campo social, ao
qual se inscreve a saúde, perpassam muitas décadas de lutas. As realidades expostas
anteriormente, que deflagram extremas desigualdades de acesso à saúde, em vários
lugares no mundo, que custam muitas vidas, foi realidade no Brasil em um passado
1 Frase de Borges, s.a., citado por Miguel Arroio na obra “imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e
mestres” (2005, p. 09).
Humanizar, portanto, implica atuar com base em critérios claros de que hu-
mano se quer produzir e, sobretudo, daquele que se quer desconstruir. Trata-se de
processos de formação de conceitos, cuja intencionalidade esteja explícita. Trata-se
de ampliar os conceitos de saúde para além das concepções negativas, cujo foco é a
presença da doença, introduzindo a noção de qualidade de vida na sua formulação,
encaminhando para atuação em distintas dimensões, tais como “prevenir, cuidar,
proteger, tratar, recuperar, promover, enfim, produzir saúde” (BRASIL, 2006, p. 15).
Também faz parte dessa agenda a valorização de gestores e usuários de saúde,
por estarem implicados no seu processo de produção. “Os valores que norteiam
essa política são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade
entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários, a construção de redes de coo-
peração e a participação coletiva no processo de gestão” (BRASIL, 2006, p. 15-6).
Rego, Palácios e Schramm (2004), ao discutirem questões relativas à formação
ética e técnica de profissionais de saúde, advertiram que “[...] tais projetos focalizam
2 Positivo no sentido dado por Ricardo Bruno Mendes Gonçalves (1991), quando faz referência a conhecida frase
de Lériche que se refere a este aspecto como “a vida no silêncio dos órgãos” (p. 91).
3 Os trabalhos de Nogueira e Mioto (s.a) e Turrini; Lebrao; Cesar (2008), dão significativos elementos para
contextualizar este tópico.
4 Conforme notícia publicada no jornal “O Globo” em 19/03/2013 e 21/03/2013. Matéria disponível em: <http://
g1.globo.com/educacao/noticia/2013/03/candidato-inclui-hino-do-palmeiras-na-redacao-do-enem-e-tira-
-nota-500.html>.
7 Encaminhamentos finais
Aqueles que atuam na área da saúde têm grande compromisso social em suas
mãos, dado que ocupam lugar privilegiado e estão em contato direto com muitas
das formas pelas quais o sofrimento humano se estrutura. Cabe a cada um de
nós, a parcela de contribuição para produzir um sistema de saúde cada vez mais
complexo, cujo resultado final seja afirmar a vida. Os caminhos do cuidado à saúde
são constituídos ou reconstituídos a partir de concepções de distintos paradigmas,
que, de forma geral, considerando seus conceitos, são incompatíveis entre si. Essas
incompatibilidades originam-se dos limites que cada forma de conhecer traz e que
em alguns momentos gera tensões devido à coexistência, nos mesmos espaços,
de distintos discursos que procuram legitimar os processos de ensino na saúde e
também estabelecer os rumos das práticas de cuidado.
A racionalidade ocidental moderna, construtora do Eu autofundante, ou o
conceito de razão absoluta, trazido por Oliveira (2008), perdeu o sentido do hu-
mano solidário, justo, e não o encontrou ainda na pós-modernidade. A “crise” se
dá, dentre outros fatores, por não existir as vinculações necessárias estabelecidas
entre formação profissional, vivência do cuidado em saúde perpassado em suas
dimensões políticas. Isso em parte pela massificação da vida. Baudrillard (1993)
citado por Cruz-Neto e Minayo (1994, p. 201), refere que:
Tal como muestran los datos, los países necesitan fondos estables y sufi-
cientes para la sanidad, pero la riqueza nacional no es un requisito previo
para avanzar hacia la cobertura uni versal. Países con niveles similares
de gasto sanitario alcanzan unos resultados de salud sorprendentemente
dispares en comparación con sus inversiones. Las decisiones políticas
ayudan a explicar en gran medida esta diferencia (CHAN, 2010, p. 05).
REFERÊNCIAS