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2 Desenhando Moveis - o Livro 1 PDF
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Móveis sem
complicação
Pacard
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Apresentação
(Ou uma desculpa esfarrapada)
Eu era um jovem aprendiz de escultor. Odiava isso. Era o caçula do setor numa fábrica de móveis, tapetes de lã, e
principalmente arte, uma escola, pode-se assim dizer. Minha mãe, minha avó e meu tio trabalhavam neste lugar,
então, com 15 anos e poucas possibilidades numa cidadezinha pequena, só me restava aceitar a bensse de ser
aceito como aprendiz de escultor mesmo. Mas eu odiava isso. Já falei. Eu queria mesmo era ser marceneiro. Ah,
como eu queria ser marceneiro, construir armários, sofás, cadeiras, ligar aquelas máquinas barulhentas e usar um
aventar surrado e impregnado de cola com pó se madeira. Um dia até fugi da seção de escultura,e por quase dois
meses, permaneci como assistente na marcenaria. Lixava pé de cadeira, limpava a fábrica ao final do dia e
alegremente compartilhava com os marceneiros mais velhos o prazer de construir móveis. Mas durou pouco. Um
dia fui descoberto pelo patrão, levado ao “urinório” e me deram um banho de sermões: minha mãe e o chefão. Aí
num daqueles laméjos de “bondade”, o chefe, nervoso, como se estivesse diante de um marginal irrecuperável, me
perguntou:
- Mas afinal, o que é que tu quer ser na vida?
Olhei pra ele e minha alma se encheu de luz. O coração disparou e eu respondi de um só fôlego:
“PROJETISTA DE MÓVEIS”.
Infelizmente, foi só a minha alma que se iluminou. Tanto o patrão quanto minha mãe me deram aí um ultimato:
- “ OU APRENDE A ESCULTURAR EM SEIS MESES, OU TÁ NA RUA. DESENHAR MÓVEIS NÃO TEM
FUTURO PRA TI”
“Rua” significava, segundo ameaças da minha mãe, internato. Não, Tudo mesmo internato. Até mesmo aprender a
esculturar, mas internato não. Aprendi. Mas que droga! Eu gostei disso. E então, me tornando um profissional em
escultura, tomei minha decisão na vida: SEREI PROJETISTA DE MÓVEIS. E SOU! Claro, que lá pelo fim dos anos
80, fui conhecer Milão, voltei cheio de catálogos e idéias, e troquei para DESIGNER. Mas antes de ser um
designer, sou e sempre serei um projetista. Deus seja louvado por isso.
Ainda no início da década de 80, por solicitação dos meus amigos marceneiros, que a esta altura já eram quase
todos donos das suas próprias marcenarias, me contratavam para que eu os auxiliasse a interpretar os projetos
mirabolantemente tecnocráticos que recebiam de alguns arquitetos, cujo excesso de informações mais parecia
estar tratando de um grandioso complexo de usinas nucleares secretas, numa linguagem que para os pobres
iletrados marceneiros, pareciam tratados interplanetários. Quando eu chegava a eles com alguns desenhos simples
em perspectiva, sem aquela parafernália de linhas, pontilhados, códigos, cotas, etc, descobriam que se tratavam
muitas vezes de simples caixotes de lenha. E foi desta forma que comecei a ensinar desenho. Reuni estes
marceneiros numa sala emprestada pela Associação Comercial, e ensinei-lhes que desenhar é mais fácil do que
escrever. De lá pra cá, posso afirmar com segurança de que a maioria das pessoas que desenham móveis na
Região das Hortênsias do Rio Grande do Sul, tem uma letra parecida com a minha, isto é, um traço que passou
de alguma forma pelo meu atelier. Fora os amigos que guardo no coração até hoje desta escola sem nome.
Hoje, estendi esse ensinamento a muitas cidades do Brasil,e ministro cursos de capacitação em desenho do
mobiliário a outros marceneiros, uns jovens, outros nem tanto, cujo espírito se iguala aos primeiros: alegria por
decobrir, não o quanto sou capaz de ensinar, mas o quanto ELES podem aprender, desde que seja de um jeito que
possam entender a linguagem do desenho.
Este livro propõe isso. Ensinar que aprender é a arte de caminhar em frente, seja onde quer que queiramos ir.
Boa leitura.
Paulo Cardoso
Florianópolis SC, Março de 2008.
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LIÇÃO UM
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Combinação
Vamos combinar então que foi muito fácil, francamente. Mas como viu, trabalhamos com retas e
curvas puras. Agora, podemos então combinar as duas, sabe, do tipo, farinha, açúcar, manteiga e
fermento, mas que com a mão certa e a temperatura certa, tenhamos um delicioso bolo (nham, me
deu fome).
Veja só! Sem as mãos!!!
As réguas mais usadas são fabricadas em acrílico, PVC alumínio, aço (para
mecânica), e em geral são graduadas em centímetros (cm) e milímetros (mm).
E não pare por aí: Vá à uma marcenaria e peça que o marceneiro corte sua régua
restante ao meio no sentido do comprimento. Você vai ficar no lucro, pois vai ter então
DUAS réguas bem novinhas de perspectiva.
Para montar um kit de sobrevivência do projetista
01 Escalímetro nº 01
01fita crepe
Lapiseira 0.5
01 lápis HB
01 lápis 3b ou mais macio
01 borracha de silicone (não é pra aplicar nos air bags. É pra apagar os borrões mesmo)
01 par de esquadros médio (28cm é um bom tamanho)
01 transferidor (vai usar pouco, mas fica com cara de profissional. Sempre impressiona ter um desses pendurado)
01 caixa de lápis de cor (12 cores dá e sobra)
01 estilete com lãmina nova (tome cuidado com os dedinhos)
01 calculadora (o ideal seria que você mesmo conhecesse as quatro operações. Mas se não der,use a maquininha
sem dó nem piedade. Falando em piedade, voce ainda lembra do PI? ( 3,1416...?)).
01 pasta A-3 (Seus desenhos lindos não podem ficar rolando por aí. São preciosos)
01 gabarito de circunferências ou Circulógrafo (popular bolômetro)
01 gabarito de peças hidro-sanitárias em escalas: 1/20 – 1/25 – 1/50
01 gabarito de elipses
01 jogo de curvas francesas (além de bonitinhas, são bastante usadas)
01 compasso de boa qualidade
Papel sulfite 75-90g
Papel sulfite 240g (Vá a uma tipografia ou gráfica e peça folhas inteiras. Daí, peça com jeitinho, faça olhinho de
cachorro pidão, para que cortem ao meio tres vezes. Você terá então tamanho A-3, ideal para guardar na sua
pastinha). Não precisa ser margeado. Você mesmo pode fazer isso e sai mais barato do que comprar em papelaria.
01 trena metálica (compre uma de 5 m que vai ajudar muito).
Papel Vegetal 90-95g tamanho A-3
01 kit de canetinhas recarregáveis com tinta nankin: 0.2 – 0.3 – 0.5 – 0.8 – 1.0 (você vai gastar um poucquinho
mais na compra destas canetas, mas elas duram muuuito mais do que as descartáveis, que custam quase a mesma
coisa.
01 tubo de tinta Nankin para recarga (tome cuidado no manuseio para não deixar cair na roupa. NUNCA mais sai
essa encrenca. Eu que o diga. Perdi a conta de todos os ternos Armani que perdi por causa de nankin derramado
neles).
Mesa de Desenho – Forre a mesa com plástico verde (preferível ao branco). Deixe bem esticado, fixando-o embaixo
da prancha com grampos ou percevejos bem firmes. (Veja detalhes adiante)
Fita Crepe (parac fixar o papel e os percevejos à mesa)
Percevejos (NÃO espete na mesa. Vire-os de cabeça pra baixo e fixe com fita crepe à mesa. Serão seus pontos de
fuga na perspectiva).
Papel “croquis”
Canetinhas hidrocor (O Ministério do bom senso se diverte: Não gaste com canetas caras enquanto não estiver bem
afiado no desenho. Guarde a vontade para quando já estiver bem tarimbado pra coisa).
Um radinho de camelô pra ficar antenado no mundo. Projetista alienado o lambisome pega.
Lâmpada sobre a mesa. Se você for destro, cuide para que a luz incida sobre seu ombro esquedro diretamente no
grafite. Se for canhoto, faça o contrário.
Flanela e Benzina para limpeza da mesa e dos instrumentos. A benzina limpa a gordura e o grafite, mas não tira o
nankin. Como a mão tem gordura, que associada ao grafite do trabalho deixa a folha com má impressão, de tempos
em tempos limpe a mesa, o desenho e os instrumentos com Benzina. Não use álcool, pois este danifica o acrílico dos
instrumentos. JAMAIS passe limpa-vidros ou silicone na mesa. Isso impede a fixação do papel.
* Só não vá pegar gosto e sair por aí cheirando benzina, e depois se te pegam fazendo doideira, dizendo que o
Pacard foi quem ensinou, que Pacard isso e o Pacard aquilo. Tsc tsc. Não não!
A mesa de Desenho
A Mesa de Desenho é um território sagrado. Deve permanecer imaculada. Ninguém, mas absolutamente ninguém
que não pertença à confraria, deve sequer imaginar em chegar perto, pois conseqüências inimagináveis são
esperadas para quem ultrapassa o sacrossanto tavolárium do desenhista. Fontes seguras descrevem que alguns
corajosos aventureiros chegaram perto demais e hoje são vistos perambulando entre corredores de lugares
tenebrosos, como Agências de publicidade, estúdios de design e até mesmo, pasmem: dando aulas de desenho do
mobiliário.
Agora sim vem aquela parte que todo mundo corre: Perspectiva!
Quando anuncio uma edição de meus cursos, ouço inevitavelmente as perguntas:
- Voce ensina perspectiva?
- Com quantos pontos?
- Voce ensina o ponto?
Naturalmente sei que estão falando do “ponto” de fuga, isto é, DOS PONTOS de fuga. Aí é que entendo a
preocupação das pessoas: Fogem das aulas quando não descobrem o tal “ponto”. De fato, há controvérsias entre
os cientistas sobre a existência ou não do ponto. Mas outro ponto. Os de fuga estão comprovadamente
encontrados e é isso que voce vai aprender agora.
O que é a perspectiva?
Perspectiva é a forma com que o olho distingue a profundidade dos espaços e objetos. Se não existisse, talvez
ficaríamos trombando nas coisas o tempo todo. Literalmente iria ser muito chato. Ela acontece graças à curvatura
do olho, que “recolhe” toda luminosidade e seus efeitos, e concentra, graças à esta lente poderosamente
desenhada que Deus nos deu para que não nos passem a perna. Essa concentração de luz e sombras é lançada
sobre o nervo ótico e enviada ao cérebro sob forma de impulsos elétricos, para ser reprocessada no cérebro.
Com isso é necessário que um panorama de 180 graus horizontais e o mesmo verticalmente, sejam reduzidos a
uma escala infinitésima, para que caiba tudo num pontinho do tamanho da ponta de um alfinete. Está inventada a
escala e a perspectiva. Ao mesmo tempo. Só que os povos antigos não sabiam disso. Os egipcios, com todo seu
conhecimento de astronomia, matem[atica, cervejaria, idolatria e patifarias faraônicas, desenhavam as figuras
ridiculamente desproporcionais, de lado e sem nenhuma perspectiva.
Ponto de Ponto de
Fuga Fuga
Esquerdo Linha do Direito
Horizonte
Guarde isto:
As linhas aqui
destacadas em azul Guarde isto:
e vermelho, serão as A Linha do
linhas auxiliares que
nascem sempre C horizonte é um
junto à uma das eixo imaginário
arestas e fogem sempre à altura
para os pontos de Aresta principal D B dos olhos do
fuga. (porque é que está Base do observador.
mais próxima do objeto
observador
D A
Guarde isto:
As linhas verticais
Guarde isto: em perspectiva
Na figura ortogonal (real, serão SEMPRE
mensurável),vamos escolher um As linhas
horizontais em PARALELAS
ponto de partida para colocar o VERDADEIRAS,
observador ( o sujeito que vai perspectiva serão
SEMPRE isto é: Nunca irão
observar a figura, é lógico). Nesse se encontrar.
caso, escolhemos vértice A, no VIRTUAIS, isto é:
nascem nas *Estamos falando
sentido A,B à direita, e A,D , à de desenho de
esquerda. arestas e fogem
para os pontos de objetos pequenos
fuga. e de interiores. A
Mamãe sentiria regra não vale
orgulho. Fiz isso para grandes
sozinho.. alturas ou
profundidades,
pois neste caso
sim, haverão
pontos de fuga
acima e abaixo da
linha do horizonte.
Analisando a Perspectiva em desenhos e construções da antiguidade
Teatro
Epidaurus,
no
Peloponeso
(Grécia),
cidade do
legendário
rei
Agamenon.