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Marina Colasanti
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer fila para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar
nas filas em que se cobra.
Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no
Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio
Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por
falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha,
Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um
animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para
cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de
Sant'Anna.
O texto acima é extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro,
1996, pág. 09.