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A partir do que se tem como retórica Clássica houveram algumas modificações até a produção
dos sermões do Padre Antônio Vieira, dentre essas, podemos destacar a questão do acréscimo
da memória dentro das partes do discurso.
Artigo sobre a memoria
Pag. 3 - Como de costume na época, foi escrito para ser recitado em público. Ele foi
responsável pelo apaziguamento de toda uma população. De acordo com a dissertação acima
citada, o Rei de Portugal acabara de assinar um tratado que punha fim à escravidão indígena, e
os tapuias eram escravizados no Maranhão. Tal documento atingia diretamente os bolsos dos
senhores de terra. Como é possível vislumbrar, houve grande número de manifestações. Não
existe, na tese e em alguns documentos por nós analisados, nenhuma menção de como tais
movimentos funcionaram. Talvez uma pesquisa mais aprofundada encontre a resposta. Para
conter toda a movimentação, o capitão-mor do Maranhão engendrou uma reunião com o já
muito conhecido Antônio Vieira. No encontro, ficou acordado que, em um sermão, o padre
jesuíta emprestaria sua palavra para tratar sobre o assunto
Pag. 4 - Segundo Aristóteles, “muito conta para a persuasão, sobretudo nas deliberações e,
naturalmente, nos processos judiciais, a forma como o orador se apresenta e como dá a
entender as suas disposições aos ouvintes” (ALEXANDRE JR., 2012, p. 83). Essa ideia é
importantíssima para entender o que vem a ser Ethos. Não basta apenas contar com a lógica
do discurso, tampouco apenas com as emoções despertadas nos ouvintes. Essas precisam ser
combinadas com a impressão que o público tem do orador, melhor dizendo, a imagem que ele
constrói de si. Segundo o filósofo nascido na Estagira, o ethos é mais importante no gênero
deliberativo. Este tem a função de elogiar ou censurar alguém ou alguma coisa.
Pag. 5 – Observar a página por completo - Sobre o caráter do orador, segundo Aristóteles, três
são as causas que o tornam persuasivo: a prudência, a virtude e a benevolência.
Pag. 6 - A phronesis, outrora por Aristóteles chamada da causa ligada à razão prática, é
pensada por Barthes como uma sabedoria objetiva. Em Vieira, introduzindo uma análise do
texto, é possível perceber a presença desse aspecto quando o português dá início à exposição
de seu plano para libertar os tapuias e não falir os colonos do Maranhão. O trecho destacado
encontra-se na parte IV do sermão da Primeira Dominga de Quaresma.
Pag. 6-7 - Já a arete, pensada pelo estagirita como uma virtude moral que acompanha a
primeira, é vista por Barthes como uma franqueza sem temor acrescida de uma qualidade
teatral. No sermão por nós selecionado, vemos que a franqueza de Vieira é algo presente de
tal forma que raras são as ocasiões nas quais o português coloca a qualidade no centro do
discurso. Na parte III do sermão, Vieira produz uma pergunta eloquente: “Qual é o melhor
amigo: aquele que vos avisa do perigo ou aquele que por vos não dar pena vos deixa perecer
nele?” Na indagação, Vieira elimina quaisquer dúvidas quanto à sua franqueza e vontade de
ajudar seus amigos e pessoas de alta estima. Sobre a qualidade teatral, a noção é particular a
Barthes. Em Aristóteles, poucas são as referências sobre a proximidade entre o exercício
teatral e a Retórica. Como Barthes não discorre sobre o assunto, assim como outros, cremos
ser a qualidade teatral a invocação da participação do público ouvinte do discurso através da
emoção ou inquietação do último provocada pelo orador. Na acima mencionada parte III do
sermão, Vieira escreve sobre os cativeiros injustos sofridos pelos Hebreus nas mãos dos
Egípcios e os males que deles provieram. Em determinado momento, pergunta: “Sabeis quem
traz pragas às terras? Cativeiros injustos. Quem trouxe ao Maranhão a praga dos holandeses?
Quem trouxe a praga das bexigas? Quem trouxe a fome e a esterilidade? Estes cativeiros.” Em
uma comparação muito feliz, provavelmente feita em brados de repreensão, Vieira aproximou
as ações dos colonos do Maranhão às dos Egípcios. Com isso, trouxe o seu ouvinte para dentro
do discurso através de uma qualidade teatral.
Pag.8 - Logicamente, podemos ver que Antônio Vieira empresta a voz de Deus para construir o
seu ethos. Deus ama realmente todos colonos que possuem escravos tapuias, mas, para
Antônio Vieira, sobra a função de mensageiro respeitável do Todo-Poderoso.
[...] podemos então passar para as emoções que constituem um ethos paternal. As emoções
por nós escolhidas são analisadas na Arte Retórica e formam, de acordo com o nosso
entendimento, os pilares de um ethos paternal. Como dito anteriormente, são as emoções: a
Amizade, o Temor, a Vergonha (estes compartilhados pelo orador) e o caráter do idoso. Para a
construção do ethos paternal, entendemos o termo paternal como algo que lembra o carinho
e a proteção de um pai. Vieira não vai chamar os fiéis de filhos, pois sabe que Pai é só aquele
que está nas alturas, mas vai assumir uma postura de proteção, muito parecida com a de um
pai, em vários momentos de seu sermão.
Pag. 8-9 - É possível apontar mais de uma passagem para o que é posto sobre a Amizade no
Sermão da Primeira Dominga de Quaresma pertencente a Antônio Vieira. Podemos retomar o
trecho em que Vieira faz uma analogia entre o comportamento do médico cristão e do Padre
que sobe ao púlpito para desenganar os ouvintes. Além da interpretação, tal leitura pode ser
sugerida ainda já mencionada expressão “Qual é melhor amigo? ” Vieira, além de construir um
ethos amigo, ainda o faz marcado linguisticamente.
Levando em consideração tudo o que foi posto acima a respeito das emoções que constituem
um ethos paternal e também sua presença no texto de Vieira, pode-se afirmar que o autor
português se valeu da Retórica de origem Aristotélica para compor seu sermão. Além de a
informação oferecer à leitura do sermão novas maneiras de entender o texto, ainda ajuda a
ver, na prática, a aplicação da ciência originalmente sintetizada por Aristóteles.
Pag. 9 - É preciso persuadir. Deus, aliado fi el dos portugueses, não pode admitir os cativeiros
injustos. O Senhor não permitirá que tal condição prevaleça, e Vieira adverte, num movimento
característico da sua ousadia, citando o cativeiro dos judeus no Egito, a recusa do Faraó em
libertá-los e a reação de Deus diante de tamanha injustiça como conduziu todo um povo ao
inferno. “Um povo inteiro em peccado? Um povo inteiro ao inferno? Quem se admira d’isto,
não sabes que coisa são captiveiros injustos” (VIEIRA, 1945, p. 15), adverte o combatente
jesuíta. Na sua ânsia pela persuasão, aponta para os castigos e identifi ca nos fl agelos que
assolam ou assolaram o Maranhão o castigo divino. “Sabeis quem traz as pragas às terras?
Captiveiros injustos. Quem trouxe ao Maranhão a praga dos Hollandezes? Quem trouxe a
fome e a esterilidade? Estes captiveiros” (VIEIRA, 1945, p. 15). O seu objetivo aparece. Trata-se
de um empenho contra os cativeiros injustos, num claro desafi o aos interesses que orientam a
prática dos colonos, acusados de trazerem ao Maranhão e Grão-Pará e, consequentemente, ao
Reino de Portugal, as pragas que ameaçam a integridade de uma região importante para o
Império Português.