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Metodologias Ágeis
Uma Visão Prática

De que se trata o artigo: ção crítica das informações disponíveis


Avaliação da presença das metodo- sobre os resultados da aplicação das
logias ágeis no mercado de desen- metodologias ágeis em projetos reais
volvimento de software. Neste artigo, de desenvolviment
desenvolvimento. o.
o autor procura verificar quantitati- Em que situação o tema é útil:
vamente alguns pontos de interesse, As metodologias ágeis, como a Extre-
identificando o estado atual do movi- me Programming (XP) e o Scrum, entre
mento ágil e a pouca disponibilidade outras, têm despertado atenção cres-
André Luiz Banki
banki@altoqi.com.br 
de estudos de caso que possam ser cente do mercado. Esse movimento,
Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Santa usados como fonte sistemática de re- baseado no ciclo de desenvolvimento
Catarina (UFSC), Mestre em Engenharia Civil (na sultados para comparação. incremental e iterativo, está focado na
área de Estruturas), também pela UFSC, e Espe- Para que serve: colaboração do cliente, no valor dos in-
cialista em Engenharia de Software pelo SENAI/
Florianópolis, trabalha como Gerente de Desenvol-
Fornecer subsídios para o processo de divíduos e na adaptação às mudanças,
vimento na empresa AltoQi Tecnologia em Informá- escolha de uma metodologia de desen- tendo mostrado ganhos de produtivi-
tica Ltda., tendo sido responsável pela concepção volvimento a ser adotada por uma em- dade nos mais diversos tipos de proje-
e coordenação do desenvolvimento de diversos presa de software através de uma avalia- tos de desenvolvimento de software.
sistemas de renome nacional na área de Engenharia.

A
Sérgio Akio Tanaka
escolha da metodologia mais tos de interesse, identicando a presença
 sergio.tanaka@audare.com.br 
 sergio.tanaka@audare.com.br 
Especialista em Gestão Empresarial pelo Instituto adequada para o desenvolvimen- das metodologias ágeis no mercado, o es-
Superior de Ensino (ISE), em convênio com o IESE to de soware em uma organi- tado atual do movimento ágil e a pouca
de Barcelona; Mestre em Ciência da Computação zação não é uma tarefa trivial. As meto- disponibilidade de estudos de caso que
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Pós- dologias ágeis têm despertado o interesse possam ser usados como fonte sistemáti-
graduado pela Universidade Estadual de Londrina
nas áreas de Redes de Computadores e Banco de do mercado, apresentando evidências de ca de resultados para comparação.
Dados e em Análise de Sistemas pela UniFil. É Diretor melhoria na produtividade, mas, para que
e consultor certificado pela IBM Rational e Webs- possam ser efetivamente usadas em larga Introdução
phere na AUDARE
acadêmica, Engenharia
atua como de eSoftware.
Professor Na área
Coordenador de escala, precisam provar alguns de seus A maior parte dos projetos de desen-
Pós-Graduação da Universidade Filadélfia (UNIFIL) e pontos de vista. Neste artigo, procura-se volvimento de software pode ser des-
da área de Engenharia de Software do SENAI/SC. vericar quantitativamente alguns pon- crita simplesmente como “programar

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METODOLOGIAS ÁGEIS

e corrigir”, sendo desenvolvidos sem senvolvedores trabalhando juntos, em


senvolvedores mais facilmente adotam as inovações
planejamento ou uma fase organizada constante comunicação), direta (o mé- e, para a direita do gráfico, cada grupo
de design do sistema. Disso usualmen- todo em si é simples de aprender e mo- apresenta uma resistência maior, ter-
te decorre uma grande quantidade de dificar) e adaptativa (capaz de respon- minando com os “tardios”, menos afei-
erros, os quais precisam ser resolvi- der às mudanças até o último i nstante). tos à adoção de qualquer inovação.
dos, em uma longa etapa que sempre Nesse conceito, inclui como metod- Segundo Ambler (2006), existe uma
estende o prazo inicialmente proposto. ologias ágeis: Extreme Programming grande mudança na percepção do mer-
O movimento original de melhoria no (XP), Scrum, Crystal, Feature Driven cado, dos dois lados do “abismo” apon-
setor foi o queouintroduziu
metodologia, seja, uma aabordagem
noção de Development
tems Development (FDD),Method
Dynamic Sys-
(DSDM), tado
ta do nessa
abismocurva. As empresas
possuem à direi-
uma expectativa
disciplinada para o desenvolvimento Open Source Sof tware Development e, significativamente diferente daquelas
de software com o objetivo de tornar com certa ressalva, o Rational Unified à esquerda na curva. Segundo esse au-
o processo mais previsível e eficiente Process (RUP)
( RUP).. tor, as empresas no lado esquerdo do
(FOWLER, 2005). abismo estão mais interessadas em no-
Em 2001, movidos pela observação Importância dos estudos para o vas idéias e mais propensas a aceitar
de que equipes de desenvolvimento mercado riscos, enquanto que as empresas no
de software nas mais diversas organi- As idéias relativas ao movimento ágil lado direito são mais conservadoras e
zações estavam presas por processos têm sido rapidamente disseminadas preferem aguardar por uma prova de
cada vez mais burocráticos, um grupo pela comunidade de desenvolvimento. que a idéia realmente funciona.
de profissionais reuniu-se para deline- Todavia, mesmo que os desenvolvedo- Grinyer (2007) afirma que as meto-
ar os valores e princípios que permi- res avaliem, de forma favorável, técni- dologias ágeis como o XP e o Scrum
tiriam às equipes de desenvolvimento cas como o desenvolvimento incremen- são consideradas inovações, pois ain-
produzir rapidamente e responder às tal e a programação orientada a testes, da são relativamente recentes no mer-
mudanças. Eles chamaram a si mes- sugerindo a adoção de uma metodolo- cado. Todavia, nem todas as técnicas
mos de Aliança Ágil. Trabalharam por gia ágil, essa decisão ainda tem que ser ágeis são inovadoras. Por exemplo, o
dois dias para criar um conjunto de tomada pela organização na qual estão desenvolvimento iterativo já se en-
valores. O resultado foi o Manifesto da inseridos. Para isso, se faz necessária contra bem estabelecido no mercado.
Aliança Ágil (MARTIN, 2002). Embora uma argumentação quantitativa. Ambler (2006) complementa, afirman-
as metodologias que compõem o mo- Na Curva de Adoção de Tecnologia, do que, como um conceito, o movi-
vimento ágil já estivessem no mercado apresentada na Figura 1 , Rogers
Ro gers (200
(2003,
3, mento ágil já cruzou o abismo, visto
há alguns a nos, com a denominação de apud GRINYER, 2007) introduz o con- que a maior parte das empresas que
“metodologias leves”, o Manifesto Ágil ceito de “decisão sobre a inovação”, o se enquadram na categoria de primei-
é considerado oficialmente como o iní- qual indica que um grupo (ou indiví- ra ou segunda maioria está ao menos
cio do movimento ágil. duo)) procura determinar as vantagens
duo demonstrando interesse nas técnicas
Segundo Abrahamsson (2002), uma e desvantagens de uma inovação, com ágeis. A metodologia Scrum e técni-
metodologia pode ser dita ágil quando
qua ndo o objetivo de reduzir a incerteza antes cas como a refatoração e o desenvol-
efetua o desenvolvimento de software de sua adoção. A partir disso, descreve vimento orientado a testes certamente
de forma incremental (liberação de pe- cinco categorias sociais, determinadas cruzaram o abismo, mas o XP como
quenas versões, em iterações de curta com base no seu grau de adoção das um todo ainda encontra resistência
duração), colaborativa (cliente e de- inovações. Os “inovadores” são os que nesse sentido.

Figura 1. Curva de Adoção de Tecnologia. Fonte: adaptado de Ambler (2006)

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performance, aplicada a alteração de me-


todologia e efetuada nova medição. Nor-
malmente,, os estudos
malmente est udos de caso encaixam-se
nesta última categoria, com a diferença de
que não são feitos de forma controlada, es-
tabelecendo suas hipóteses apenas depois
da implantação da metodologia e não como
objetivo inicial do estudo.
Segundo
lume Grinyer
crescente de (2007), apesarformada
informação do vo-
pelas diversas pesquisas empíricas já
publicadas, há um consenso de que as
organizações ainda tomam pouco co-
nhecimento delas.
Nossa maior descoberta é a de que
Figura 2. Pesquisa: prazo para adoção do desenvolvimento ágil. Fonte: adaptado de Ambler (2007) há uma aparente contradição, entre a
armação dos desenvolvedores de que
I te m d a p e s q u i s a Resultado estes precisam de evidências de melho-
rias no processo de desenvolvimento
Percentual de empresas que adotam metodologias 46%, nas empresas de porte médio, e 12%, nas empresas de
de soware e o que os mesmos efeti-
ágeis em todos os projetos grande porte
vamente aceitam como evidências. Isto
Percentual de empresas que adotam metodologias 44% apresenta um problema de pesquisa
ágeis em algum projeto  bastante
 bastan te sério
sério:: mesm
mesmoo que os pesqui
pesqui--
Principal barreira para a adoção do desenvolvi- Falta de conhecimento (51% entre os desenvolvedores, 56% en- sadores possam demonstrar uma forte
mento ágil tre os executivos) e conável correlação entre a melhoria
Principal motivação para a adoção do desenvolvi- Melhorar a produtividade e previsibilidade no desenvolvimento no processo de desenvolvimento e a
mento ágil (para os executivos) de software (51%) melhoria para a organização como um
Principal motivação para a adoção do desenvolvi- Auxiliar no gerenciamento do escopo dos projetos (47%) todo, ainda resta o problema de conven-
mento ágil (para os desenvolvedores) cer os desenvolvedores de que as evi-
Tabela 1. Pesquisa sobre a aceitação das metodologias ágeis. Fonte: Projects@Work (2006)
dências encontradas aplicam-se à sua
situação em particular (RAINER et al,
Para que o desenvolvimento ágil possa paração da performance alcançada em 2003, apud GRINYER, 2007, p.45).
ser efetivamente aceito em todos os seg- dois grupos de interesse, sendo que um Com respeito às metodologias ágeis,
mentos do mercado, é necessário satis- usa uma dada metodologia e outro não.  Je ries
ries (2005, apud GRINYER, 2007) ar-
fazer às necessidades dos diversos gru- A cada grupo, é atribuída uma tarefa; ao ma que os prossionais formam a maior
pos, os quais são muito diferentes dos  nal, avaliam-se itens como produtivi- parte das suas idéias pelo contato direto
“inovadores”. Ao apresentar uma nova dade e taxa de erros. São exemplos des- com outros prossionais, pelo que pos-
metodologia a uma comunidade bastan- se tipo de estudo os trabalhos de Bona sam ler rapidamente e, principalmente,
te técnica como a dos desenvolvedores (2002) e Nonemacher (2003). Harrison pela prática. Nesse sentido, os estudos
de so ware, pode-se conseguir atenção (2005) critica essa abordagem, armando desenvolvidos na indústria do so ware,
apontando as suas qualidades e idéias que esses estudos seriam realmente vá- em cenários similares aos da situação da
inovadoras. Por outro
outro lado, para cruzar
cruza r o lidos se envolvessem dúzias de progra- empresa na qual se trabalha, mostram-se
“abismo” e ganhar efetivamente a aten- madores, ao invés de três ou quatro, pois, valiosos na formação de opiniões.
ção das organizações situadas no seu em grupos pequenos, existe uma grande
lado direito, é necessário reunir informa- in uência de fatores aleatórios. Presença dos métodos ágeis
ções e apresentá-las de forma a atingir a Uma alternativa aos estudos em laborató- no mercado
esfera gerencial, responsável pela efetiva rio é a pesquisa de campo, na qual os dados Uma questão muito importante, a qual
tomada de decisões. No decorrer deste são obtidos através de medições no desen- será sempre levantada por qualquer
qua lquer orga-
artigo, são fornecidos alguns dados re- volvimento de projetos reais. Todavia, para nização que estude a adoção de uma
u ma nova
centes, com respeito ao efetivo posicio- que seja obtido um número suciente de metodologia, é a quantidade de empresas
namento das metodologias na Curva de dados, isso é feito agrupando projetos de- que já a adotam com sucesso. Infelizmen-
Infeliz men-
Adoção de Tecnol
Tecnologia.
ogia. senvolvidos por equipes muito diferentes te, na comunidade de desenvolvimen-
em áreas também distintas, dicultando to de soware, não existe praticamente
Dificuldades envolvidas qualquer comparação. Outra alternativa é nada determinado estatisticamente. É
Um tipo de estudo que pode ser utiliza- a da observação individual,
individual, efetuada sobre necessário valer-se de alguns poucos es-
do para a avaliação de uma metodologia um único prossional, equipe ou projeto. tudos, conduzidos informalmente, para
de desenvolvimento envolve uma com- Nesse caso, é feita uma medição inicial de vericar as tendências do mercado.

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METODOLOGIAS ÁGEIS

Segundo uma pesquisa realizada pela indicando que 69% delas já utilizavam relação à metodologia de desenvolvi-
empresa DigitalFocus (www.digitalfocus. alguma metodologia ágil e mais 7% pre- mento que estão adotando. Partindo
com) e apresentada em um dos eventos tendiam fazê-lo no mesmo ano. de um universo de 1016 empresas, os
mais importantes da comunidade ágil, a Outro dado importante, apresentado na autores estipularam uma amostra rele-
Agile 2006, o interesse nas metodologias Figura 3 , é o de que
q ue o desenvolvimento vante de 100 empresas e, destas, che-
de desenvolvimento ágil está crescendo, ágil já passou a fase do “projeto piloto”, garam a 57 relevantes. Na Figura 4 , é
com 81% das empresas adotando uma com a maior parte das companhias ten- indicado o número de empresas que
metodologia ágil ou procurando por uma do reportado a execução bem-sucedida adotam cada metodol
metodologia,
ogia, descartados
oportunidade
WORK, 2006). para
Essa fazê-lo (PROJECTS@
pesquisa, a qual co- de umde
o uso número relevante
metodologias de projetos com
ágeis. osPode-se
valoresobservar
menos representativos.
que mais da metade
letou informações de 136 prossionais, Esse tipo de pesquisa possui como im- dessas empresas reportou a utilização
provindos de 128 empresas de diferentes portante limitação o fato de que sua amos- de um método próprio, ou nenhum mé-
portes, teve como objetivo identicar os tragem não se baseia em nenhum método todo denido, para o desenvolvimento
fatores chave envolvidos na adoção das cientíco, cando limitada ao perl de de so ware. No restante, esse levanta-
metodologias ágeis, sob o ponto de vista “prossionais que se interessam em res- mento imparcial aponta uma expressi-
técnico e gerencial. As principais coloca- ponder questionários on-line”. É razoável va presença do RUP e o destaque para
ções estão resumidas na Tabela 1. supor que os prossionais que estão des- o XP, o Scrum e o Microso   Solutions
Outra pesquisa, bastante recente, foi contentes com uma dada metodologia não Framework (MSF). É importante comen-
conduzida por Ambler (2007), através freqüentem, da mesma forma como os de- tar que esse trabalho classi ca o MSF
de uma consulta on-line, executada em mais, o tipo de comunidade on-line consul- como uma metodologia “neutra”, con-
maio de 2007, a qual alcançou 781 pros- tada. Apesar disso, são importantes para sistindo tanto de técnicas ágeis como
sionais distribuídos nos mais diversos apontar as tendências do mercado. tradicionais, das quais
q uais o desenvol
desenvolvedor
vedor
papéis e em organizações de porte diver- Um estudo mais dirigido foi feito na pode adotar as que desejar, e posiciona
so. Nessa pesquisa, o autor arma que o o RUP no lado das metodologias tradi-
desenvolvimento ágil certamente já cru- Suécia, por Fransson
com o objetivo e Klercker
de mapear (2005),
as pequenas cionais. A Figura 5 apresenta o Eixo de
zou o “abismo” citado anteriormente. A e médias empresas de desenvolvimen- Agilidade usado pelos autores, no qual
Figura 2 apresenta o grau de adoção das to de software do país e levantar o g rau se observam diversas metodologias en-
técnicas ágeis nas empresas consultadas, de satisfação de cada uma delas, com contradas na bibliograa.

ura 4.. Metodologia


Figura e o o o a dee desenvolvimento
esenv
envoo vm
v men o adotada
a o a a (Suécia).
u c a Fonte:
on e:e: adaptado
a a a dee
Figura 3. Pesquisa: número de projetos ágeis já executados. Fonte: adaptado de Ambler (2007) Fransson e Klercker (2005, p.51)

Figura 5. Eixo de Agilidade. Fonte: adaptado de Fransson e Klercker (2005, p.35)

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C a te g o r i a Nº. de fatores
alliance.org), a qual atingiu mais de 700
prossionais, com a mesma intenção de
1 – Me
Melh
lhor
oria
ia no pr
proc
oces
esso
so de
de dese
desenv
nvol
olvi
vime
ment
nto,
o, co
como
mo re
resp
spost
ostaa a rep
repet
etid
idos
os fr
frac
acas
asso
soss em
em pro
proje
jeto
toss 15
determinar como os processos ágeis têm
2 – Influências internas na organizaç ão
ão (gerente, desenvolvedor sênior ou arquiteto) 11 sido implementados nas diversas orga-
3 – Fato r competitivo (prazo para colocação do produto no mercado) 10 nizações. Dos 722 prossionais pesqui-
4 – Influências externas à organização (treinamento o u consultoria ex terna) 8 sados, mais de 25% vinham de empresas
com mais de 250 pessoas, mas apenas
5 – Respos ta a requisitos em constante variação 5
18% deles trabalhavam em equipes de
6 – Acompanhamento de tendências tecnológicas e do mercado 2
7 – Downsizing da equipe e process o de desenvolvimento 2 mais
provamde que,
10 pessoas.
emboraEsses números com-
o desenvolvimento
Total 53 ágil possa ser adaptado para empresas
Tabela 2. Fatores de adoção de uma metodologia ágil. Fonte: adaptado de Grinyer (2007) de maior porte, a grande maioria dos
projetos é desenvolvida por pequenas
equipes (BARNETT
( BARNETT,, 2006).
Essa pesquisa
pesquis a aponta que o desenvolvi-
mento ágil tem garantido um signi can-
te retorno sobre o investimento para as
organizações que o adotam. Analisando
os fatores que levaram à adoção de uma
metodologia ágil, identicou os fatores
presentes na Figura 6.
Comparando esses resultados com os
da Tabela 2 , pode-se
pode-s e observar que o au-
mento da produtividade e da qualidade
do so ware, aliado à capacidade de ge-
renciar requisitos em constante variação,
é o grande motivador da adoção de uma
metodologia ágil de desenvolvimento,
seja essa qualquer uma das abordadas
no presente trabalho.
Com relação às barreiras para a adoção
Figura 6. Fatores de adoção de uma metodologia ágil. Fonte: adaptado de Barnett (2006)
do desenvolvimento ágil, Barne (2006)
comenta que, no início do Movimento
A partir disso, contam-se 11 empresas uma consulta feita a três listas de dis- Ágil, o principal motivo citado era a fal-
adotando uma abordagem tradicional, cussão populares na comunidade ágil, ta de apoio por parte das gerências e da
contra 6 adotando a abordagem ágil. Em- esse autor coletou 41 relatos, relacionan- organização como um todo. Agora, isso
 bora diversos autores, como Kruchten do 53 fatores que levaram à adoção de não é mais tão importante. A falta de
(2001), Pollice (2001), Kohrell e Wonch uma metodologia ágil. Esses fatores fo- prossionais qualicados para o desen-
(2005), entre outros, defendam a idéia de ram organizados em 7 categorias, apre- volvimento ágil e a resistência dos pró-
que o RUP é um processo con gurável, sentadas na Tabela 2. prios desenvolvedores à mudança são
contendo os mesmos valores das meto- Grinyer (2007) menciona outro fato re- agora apontados como os principais fato-
dologias ágeis, deve-se lembrar que, para levante observado nesse levantamento: res, conforme observado na Figura 7.
ns de pesquisa, deve-se levar em conta nenhum dos estudos de caso reportou Esse resultado, somando 42% nos fa-
a forma como este está sendo efetiva- a aplicação de uma metodologia exata- tores relativos à formação da própria
mente aplicado. Nesse estudo, o RUP foi mente como descrita, mas sempre com equipe de desenvolvimento, é consisten-
percebido por seus participantes como alguma personalização ao contexto no te com as conclusões apresentadas pela
uma metodologia mais tradicional. qual foi aplicada. Deve-se apontar, tam- Projects@Workk (2006), na Tabela 1 , e com
Projects@Wor
 bém, que nenhum dos estudos indicou as colocações feitas por Ambler (2007),
Casos de implantação das metodologias os motivos pelos quais as empresas que segundo o qual o desenvolvimento ágil
Um ponto interessante a se avaliar, adotaram uma nova metodologia acre-  já cruzou o “abismo” citado na Curva de
destacado por Grinyer (2007), é a forma ditaram que essa mudança efetivamen- Adoção de Tecnologia. Isso se con rma
pela qual as organizações têm ses e decidi- te levaria à solução dos problemas apon- pela observação de que já existe grande
do pela adoção dos métodos ágeis, visto tados na Tabela 2 . apoio, por parte das gerências, na ado-
que, conforme já mencionado, não exis- Além desse levantamento documental, ção do movimento ágil. A iniciativa
tem indicações claras na literatura
l iteratura ou no deve-se destacar a pesquisa conduzida pela adoção de uma metodologia ágil
meio acadêmico. Em um estudo baseado pela VersionOne (www.versionone.net) e não está mais partindo unicamente dos
na análise da literatura disponível e em apoiada pela Agile Alliance (www.agile- “inovadores” (normalmente, apenas o

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METODOLOGIAS ÁGEIS

pessoal estritamente técnico), mas dos


líderes. Segundo Grinyer (2007), esse é o
segundo fator mais importante,
i mportante, com 27%
de participação. Barne (2006) apontou,
em sua pesquisa, que em 11% dos casos,
a iniciativa pela adoção do desenvolvi-
mento ágil veio diretamente da presi-
dência da empresa e, em outros 33% dos
casos, dos gerentes de desenvolvimento.
Medidas objetivas de sucesso
Conforme já comentado no início deste
artigo, um fator que é levado em conta pe-
los prossionais ao decidir pela adoção de
uma nova metodologia é a existência de
casos de sucesso documentados por ou-
tras empresas, principalmente do mesmo
porte e área de atuação. Podem-se obter
diversos estudos de caso em sites concei-
tuados, como o da Agile Alliance (www.
agilealliance.org) ou da Scrum Alliance Figura 7. Barreiras para a adoção do desenvolvimento ágil. Fonte:
Fonte: adaptado de Barnett (2006)
(www.scrumalliance.org). Todavia, esse
conjunto de informações está disperso e Ante
Antess do
do XP
XP (20
(2001
01)) Depo
Depois
is do
do XP
XP (20
(2002
02))
carece de medidas objetivas. Com relação Programas 87 91
à avaliação dos resultados obtidos em es- Horas de trabalho 23,531 17,726
tudos de caso comparativos, a principal
H o ra s / P ro g ra m a 270 190
conclusão estabelecida foi a de que não
Tabela 3. Aumento de produtividade na Sabre. Fonte: Sabre Airline Solutions (2004)
existem estudos que possam ser usados,
cienticamente, como referência. Todos O aumento de produtividade na Sabre pela Escrow.com, uma empresa de pe-
os casos referem-se aos resultados obti- foi medido em um projeto de conversão de queno porte. Uma delas, chamada “V2”,
dos na adoção de uma nova metodologia, uma aplicação C++ para Java, com a mu- foi desenvolvida com o uso de uma me-
mas comparados a uma situação anterior, dança da plataforma destino para a Web, todologia dita “tradicional” e a outra,
na qual não existia nenhum
nen hum processo for- o qual obrigou o re-desenvolvimento de chamada “V3”, com o XP. Os resultados
mal ou era adotada uma metodologia es- mais de 100 programas, na camada de in- apresentad
apresentadosos na Figura 8 , embora tam-
tritamente tradicional, em cascata. Além terface com o usuário. O resultado da ado-  bém se
s e baseiem
bas eiem em
e m critérios
cr itérios subjet
subjetivos,
ivos,
disso, os resultados apresentados são ção do XP foi uma melhoria de 42%, con- apontam benefícios importantes obtidos
sempre bastante subjetivos, apontando forme os dados apresentados na Tabela 3. com a adoção dessa metodolo
metodologia.gia. Neste
diculdades ou melhorias sem quanti- Além disso, esse mesmo estudo repor- cenário, o XP foi adotado sem a necessi-
cá-las especicamente. ta uma redução no número de defeitos dade de adaptações.
Uma das poucas exceções nesse senti- encontrados com relação às suas versões Segundo Barne (2006), a comunidade
do é o caso publicado pela Sabre Airline anteriores. Em um projeto, ProtMana- técnica precisa ser capaz de demonstrar
Solutions (2004), o qual relata a adoção ger, com cerca de 500.000 SLOCs, apenas quantitativamente os benefícios atin-
do XP por sua equipe de 300 desenvol- 10 erros foram reportados nos dois pri- gidos pela adoção do desenvolvimento
vedores, como resposta aos problemas meiros meses que sucederam o lança- ágil a m de convencer as empresas mais
de atraso no cronograma e elevado nú- mento da sua versão desenvolvida com tradicionais a fazer a mesma mudança.
mero de defeitos enfrentados antes dis- a metodologia XP,
XP, contra mais de 500 em O estudo citado no item anterior tentou
so. Embora a empresa tenha precisado sua versão anterior. Possivelmente ou- fazer com que os prossionais pesqui-
acrescentar técnicas não previstas no tros fatores podem ter in uenciado este sados apontassem os valores que foram
XP, para lidar com projetos de maior resultado como, maior conhecimento efetivamente obtidos pela adoção de
escala, as práticas do desenvolvimento do domínio e experiência da equipe de uma metodologia ágil. Os resultados,
iterativo, estórias de usuário, testes auto- desenvolvimento. Aliado a isto, este re- apresentados na Figura 9  mostram que
matizados e programação em pares, por sultado pode também indicar um ganho os desenvolvedores que adotam as meto-
exemplo, foram levadas a cabo com su- com o uso da metodologia XP. dologias ágeis estão bastante satisfeitos
cesso. Segundo esse relato, a adoção de Outro estudo relevante foi reportado com os resultados que têm encontrado.
outras metodologias ágeis, como o RUP, por Marchesi et al (2002), comparando o Finalmente, pode-se concluir que o de-
o Scrum e o FDD também foram avalia- desenvolvimento
desenvol vimento de duas versões de um senvolvimento ágil está em um momento
das, mas com a opção pelo XP. produto para comércio eletrônico, feito de inexão, passando a ser adotado por

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Figura 8. Comparação dos resultados obtidos com o XP na Escrow.com. Fonte: Marchesi et al  (2002,
 (2002, p. 358)

Figura 9. Valores obtidos pela adoção de uma metodologia ágil. Fonte: adaptado de Barnett (2006)
um número crescente de empresas. Com so não possa garantir o sucesso de um quantitativamente, a presença das diver-
isso, um número maior de equipes pode projeto, certamente a adoção de um pro- sas metodologias ágeis no mercado de
passar a quanticar seus resultados. Es- cesso inadequado
i nadequado pode comprometê-lo. desenvolvimento de so ware, bem como
pera-se, para um futuro próximo, que in- Neste trabalho, foi mostrada a impor- as adaptações que se fazem necessárias
formações mais consistentes, relativas à tância da publicação de estudos de caso, e o grau de satisfação de seus usuários.
adoção das metodologias estudadas nes- como ferramenta indispensável para a Essa ausência é ainda mais sentida quan-
te trabalho, sejam levantadas e apresenta- adoção de metodologias inovadores nas do se procuram por dados referentes ao
das à comunidade de desenvolvimento. empresas. O movimento ágil ainda deve mercado nacional.
ser classicado como uma inovação, em-
Conclusões  bora alguns dados já apontem para
pa ra um Dê seu feedback sobre esta edição!  F eedb a 
a c  

A escolha da metodologia mais adequa- novo cenário, no qual o desenvolvimen-   u


  e
   s
     ê
k  

da para o desenvolvimento de so ware to ágil está em um momento de in exão, A Engenharia de Software Magazine      D o     
s      

 b  
tem que ser feita ao seu gosto.  r  
  e
em uma organização, levando em consi- passando a ser defendido também na es- Para isso, precisamos saber o que você,   t
   a
    e
  e
  s

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deração os inúmeros fatores envolvidos, fera gerencial das organizações. leitor, acha da revista!
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não é uma tarefa trivial. Por outro lado, Uma deciência importante, apontada Dê seu voto sobre este artigo, através do link:
é um fator preponderante para o sucesso por este trabalho, foi a ausência de da-
www.devmedia.com.br/esmag/feedback 
da organização. Embora um bom proces- dos que possam ser usados para avaliar,

28  Engenharia de Software Magazine –


Magazine – Metodologias Ágeis
 

METODOLOGIAS ÁGEIS

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