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Equipe de Tradução

Envio: Soryu
Tradução: Ana ML
Leitura Inicial: Cindy
Leitura e Revisão Final: Carla C. Dias
Formatação: Bec Brawn North
Nota da Autora
Este livro contém conteúdo adulto, incluindo sexo
explícito e violência. Por favor, não leia se tiver menos de 18
anos ou se este tipo de conteúdo for perturbador para você.

A cidade de West Bend, no Colorado não existe.


É um lugar fictício inspirado em uma cidade importante
para mim.
DEDICÁTORIA
Para minha querida Emma, sempre e para sempre.

Para o meu marido, que sabe que quando digo que


quero um encontro a noite, isso significa que escrevo em um
canto e preciso dele para me salvar... E o faz de qualquer
maneira.

Para os autores e leitores que conheci ao longo do


caminho que se tornaram amigos queridos, especialmente
Jordan e Joanna. Não posso expressar minha gratidão por
seu apoio... E sua vontade de me dizer como ele é.

Para Sirens de Sabrina. Você é o melhor e sou tão


grata por seus esforços incansáveis!

E, claro, para todos os meus leitores. Quando escrevi


meu primeiro romance, não tinha ideia de que alguém leria
e muito menos que escreveria cinco romances! É por causa
de seu apoio e carinho que sou abençoada por ser capaz de
continuar escrevendo.

Obrigado.
PARTE UM
E, afinal, o que é uma mentira?
É apenas a verdade disfarçada.

Lord Byron, Don Juan, Canto XI


Capítulo Um
Tempest
Hoje à noite roubarei meio milhão de dólares.

Bem, deixe-me simplificar. Não tomarei posse do


dinheiro esta noite, porém é quando acontece a mágica. É
quando concluirei o negócio. Na verdade, roubar não é a
palavra certa para isso. O homem ao meu lado, a pessoa que
tenta me impressionar com cada fibra do seu ser vulgar, o
dará para mim. Insistirá que tire dele.

E me agradecerá pelo privilégio de me apropriar do


seu dinheiro.

Então farei isso.

Minha equipe levará uma parte dos lucros – dividido


em quatro partes — e o resto vai para a pessoa que
realmente merece — a vítima deste desprezível. Então
vamos cair fora de Las Vegas — separadamente, é claro.
Estive aqui por um mês de qualquer maneira. No que me
diz respeito, tempo suficiente. Fico inquieta. Sempre fui
uma andarilha.

Você tem que ser quando faz o que faço.


Sou uma vigarista. Uma artista do contra.

Uma traficante. Uma ladra.

Parece pior do que é.

As pessoas pensam que sabem o significado de ser uma


vigarista. Pensam que vigaristas roubam velhinhas e suas
economias de vida e tomam a aposentadoria de famílias
trabalhadoras. Acham que sou algum tipo de caçadora de
ouro ou viúva negra, casando com homens ricos pelo
dinheiro e então esperando até que morram.

Essas pessoas não poderiam estar mais erradas sobre


mim.

Não sabem a minha história. De modo nenhum.

Não sou o cara mau aqui. No caso, a menina má. Os


verdadeiros vilões, os verdadeiros vigaristas são os
banqueiros, os gestores de fundos de investimento, os CEOs
que brincam com seus funcionários como se fossem peças
de xadrez. Nem me fale sobre os políticos, líderes dos
países, os que tomam decisões que afetam pessoas boas com
base em lobistas com a maioria de dinheiro e maior
influência.

Fazem com que aquilo que faço pareça brincadeira de


criança.

Eu? Eu sou uma das meninas boas.


Sou como Robin Hood. Pego dos idiotas, as pessoas
que merecem ser enganadas e redistribuo para pessoas que
merecem, aquelas que foram vítimas.

Acredito em karma, o castigo justo pelos erros do


passado.

Mas, às vezes, o karma precisa de um empurrão extra


na direção certa.

Eu dou esse empurrão.

E empurrar o karma é exatamente o que faço aqui.

Silas
Às vezes o tempo fica mais lento, chega a um impasse,
como se alguém apertasse um botão gigante de pausa em
todo o universo. Isso geralmente acontece nos momentos
importantes: nascimentos, mortes, coisas assim.

E momentos como agora.

Sento-me no quarto dos fundos, em uma cadeira de


ferro meio enferrujada, olhando para o chão de concreto
sujo de sabe quantos anos de imundície, a superfície
desgastada com manchas de forma irregular. Tudo
desapareceu no ambiente, os homens no quarto falando ao
meu redor, o barulho da multidão do lado de fora, os
sedentos por sangue, à espera de uma luta.

Sempre fui bom em bloquear merdas, separando-me


de tudo ao meu redor, isolando-me.

Foi como sobrevivi a minha infância.

Isso e a luta. Inclusive quando era criança. Está na sua


natureza, minha mãe costumava dizer. Saiu chutando do
útero.

Embora esta luta... seja diferente. É pessoal.

— Oi, Saint. — a voz me tira dos meus pensamentos. —


Saint. Está ouvindo?

Trigg agachou na minha frente, sua expressão escura.


Ele era um dos lutadores que conheci quando estava no
circuito aqui em Las Vegas, antes de voltar para West Bend.

— Onde está sua cabeça? — perguntou.

Trigg pensou que me distraí com o que aconteceu com


Abel. Mas isso não era o que estava em minha mente.

Não deveria lutar hoje à noite. Deveria ser Abel. Ele me


ligou quando estava em Hollywood com Elias e River e me
pediu um favor. Era um favor fácil, não seria grande coisa.
Ele queria que estivesse no canto da gaiola em sua luta.
Estive fora do circuito nos últimos meses e ele confiava em
mim. Depois do que aconteceu entre mim e Coker, a merda
que me mandou de volta para West Bend há alguns meses
atrás, sabia que estaria lá em um piscar de olhos.

Era para estar no canto da gaiola ao lado de Abel esta


noite, o apoiando. Ao invés disso, Abel estava no hospital,
depois de ser atropelado.

A merda nisto tudo era que eu sabia quem fez aquilo.


Todos sabiam quem era o responsável. Podíamos não saber
quem era o motorista, mas sabíamos perfeitamente quem o
contratou. Roy Coker, meu ex-agente. Todos sabiam que
tipo de pessoa ele era, até onde iria para garantir que os
seus lutadores vencessem.

Ou perdessem, dependendo de como andavam as


apostas e onde estavam as probabilidades.

Coker tentou me convencer a perder, então sabia em


primeira mão o que acontecia quando ficava em seu
caminho ou quando não faz o que lhe era dito.

No meu caso, o resultado não foi grande.

Claro, nunca fui bom em fazer o que me mandavam


fazer.
— Sim, cara. — disse. — Minha cabeça está exatamente
onde precisa estar.

Trigg se agachou ainda mais, olhando-me


intensamente.

— Você tem isso. — disse — Rush é um animal. Mas


você é melhor.

Era melhor, quase disse. Então afastei esse


pensamento da minha cabeça. Não lutei, não uma luta real
de qualquer maneira, desde que Coker me sabotou meses
atrás.

Quando me bateram tanto que quase morri.

Não estava em boa forma quando voltei para West


Bend. Inclusive quando sai do hospital e estava
relativamente curado, pelo menos exteriormente. Minha
mãe achava que estava bebendo, mas era apenas o fato de
que ainda me recuperava da surra que levei. Falei para Elias
que voltaria para West Bend porque tinha lesionado meu
joelho, ele não precisa se envolver no desastre que era a
minha vida. Especialmente quando tanta coisa acontecia em
West Bend. Cuidaria de tudo sozinho.

Depois que me recuperei, voltei ao treinamento.

O problema era que tinha consciência de que todo o


treinamento no mundo não adiantaria se não lutasse. E a
última luta que estive terminou em um banho de sangue. O
meu.

Então, havia o medo persistente de que teria perdido


meu jeito.

Depois, havia a pequena questão que o médico disse,


especificamente, para não lutar mais. Ele me avisou que
outra pancada na cabeça me mataria.

Balancei a cabeça para Trigg.

— Sim. — disse — Sou melhor do que Rush.

Mas as palavras soaram vazias, especialmente para


mim.
Capítulo Dois
Tempest
Olhava as mensagens de texto em meu celular,
mantendo uma expressão desinteressada quando Coker me
apresentou ao seu lutador.

Coker pensou que montava uma armadilha. Mas ele


era o único que era enganado.

Coker era o alvo.

— Este é Rush. — disse, apontando para o homem


grande, apenas de shorts e uma toalha sobre os ombros.

Rush se levantou e caminhou em nossa direção.

Olhei o lutador de cima abaixo, mal tirando os olhos do


meu celular quando assenti. — Entendo.

— Seus pontos fortes são a superioridade no solo e o


ataque. — disse Coker. — Um animal.

Não tinha ideia do que queria dizer. Virei-me para sair,


mostrando o quão impressionada estava com o lutador
quando Coker me seguiu.

Como um cachorrinho, pensei.


— Certamente tem boa aparência. — confessei. — Isso
nunca é demais para a população feminina.

— Tenho todo um estábulo de lutadores. Mais dez


como ele, todos produtos de primeira linha. — disse Coker.

Podia ouvir a pontada de desespero em sua voz.

Coker era como um adolescente desajeitado, tentando


desesperadamente entrar na turma legal. Por um segundo,
quase me senti mal sobre o que faríamos com ele. No
entanto, só por um segundo. Essa sensação passou quando
me lembrava exatamente porque fazíamos isso.

— Acalme-se, vaqueiro. — Disse, segurando a minha


mão. — Nunca disse nada sobre a necessidade de mais de
um lutador. Sequer começou a me impressionar com o que
tem. Não colocaremos o carro na frente dos bois, OK?

Coker sorriu. — Rush a impressionará. — disse — Isso


é certo. E quando o fizer, estarei pronto para falar sobre
negócio.

Ri, mas não pela razão que pensava.

Às vezes, um golpe era muito fácil. As pessoas pensam


que enganar alguém requer uma enorme quantidade de
artifícios, mas, na realidade, a maior parte do tempo requer
muito pouco. Você só tem que escolher o alvo certo, o tipo
ganancioso, o tipo que é mais do que feliz em quebrar as
regras. Esse tipo de alvo está disposto a crer que lhe dará
um retorno exponencial do seu investimento, um negócio de
uma só vez na vida.

E quanto maior o retorno, mais disposto o alvo fica de


acreditar que é possível.

As pessoas estão surpreendentemente dispostas a se


enganarem.

Todos querem acreditar em finais felizes. O problema é


que no mundo real, são fabricados por pessoas assim como
eu, pessoas que tentam vender algo que não existe.

— Pronto, Sr. Coker? — perguntei. — Sequer entendeu


o projeto.

Coker indicou os assentos que nos foram reservados na


área isolada ao lado da gaiola. Sentei-me, cruzei as pernas
alisando minha saia. Estava deslocada aqui, com saia e salto
alto preto ponta de agulha, bolsa e brincos caros.

Minha vestimenta não era totalmente conservadora;


jogava como uma produtora de televisão internacional, de
modo que arrumei meu cabelo e carreguei na maquiagem,
caprichando no delineador preto e lábios vermelhos. Mais
pinta de roqueira do que de executiva. Estava chamativa
demais para um lugar como este e esse é exatamente o
efeito que buscava.
Passava a impressão eu te fodo se quiser. Pelo menos,
essa era a minha intenção.

Coker sentou-se ao meu lado, inclinado para frente, os


cotovelos sobre os joelhos. Com a cabeça raspada, sua
barriga e seu sotaque, toda a sua presença gritava magnata
do petróleo, não agente de luta.

— Não pediria para encontrá-la se não tivesse uma


ideia do por que está aqui. — disse — Carl, da Burning
Sands MMA me disse o que faz, que não busca apenas um
lutador aqui. Disse que tem um novo canal de luta,
apresentando lutas para um público internacional. Aquele
cara não consegue ficar de boca fechada. Acha que somos
amigos, ao invés de rivais. Não entende como o negócio
funciona. Não da forma como você e eu.

Coker riu e sorri, os cantos de minha boca apertados.

— Ele lhe disse por que estava aqui, não é? —


perguntei. — Ele me garantiu que seria discreto. Bem,
então, temo não ter interesse em negociar com ele.

A verdade era que minha equipe fez essa configuração,


espalhando que procurava por talentos locais dentro do
circuito de Roy Coker. Coker precisava saber o que fazia
aqui em Las Vegas, mas não por mim.

O alvo deve sempre pensar que o golpe é ideia sua.


— Bem. — disse Coker. — Sua perda. Meu ganho.

— Espero que entenda que a discrição é extremamente


importante para mim e para as pessoas com quem trabalho.
— disse. — A falta deste critério é simplesmente...
Inaceitável.

Roy Coker fez um movimento de fechar um zíper na


frente da boca. — Boca fechada. — disse — Sou tão discreto
quanto precisa. Mas quero que saiba que estou pronto para
fazer o que for preciso para entrar no negócio.

Enruguei meu nariz em uma expressão de desdém. —


Estou aqui para ver o seu lutador. Algo mais do que isso
exigiria um capital maior do que teria.

Agia de maneira deliberadamente evasiva, desde que


contava com o fato de que Coker viu nossa manchete de
capa. A manchete dizia que observávamos os lutadores para
um canal de luta internacional com grande audiência no
Oriente Médio e Leste Asiático. Um dos membros da minha
equipe, Emir (hacker e extraordinário especialista em
tecnologia) enviou vídeos, supostamente tirados do nosso
canal de luta internacional e os publicou online, retroativo
ao longo dos últimos seis meses.

A chave era que demos a entender que havia uma


oportunidade em potencial para um agente que quisesse
investir em um dos shows. E essa era a mensagem que se
espalhou através de sussurros e rumores no circuito de luta.
Essa era a mensagem que queríamos que chegasse a Coker.

— Tente-me. — disse — Que tipo de capital fala?

Esperei um momento, ouvindo os sons das pessoas


reunidas ao redor, todos eles à espera da luta começar.

— Meio milhão de dólares. — disse, inclinando-me em


sua direção — Estou aqui para ver seu lutador, porque estou
curiosa e ficarei porque gosto de ver um homem atraente
golpear outro homem. Mas, receio que um investimento
como este é algo que deva ser deixado para os meninos
grandes, Sr. Coker.

Mantive meus olhos para frente, mas com o canto do


olho, podia vê-lo se mexer desconfortavelmente na cadeira.
Ele tirou um lenço e enxugou a testa.

A verdade é que a minha equipe sabia o que ele podia


pagar. Meio milhão de dólares não era um número que
acabava de puxar da minha manga.

Ele ficou em silêncio por um momento.

Esta era a minha parte favorita do golpe, a parte onde


observamos se o que previmos sobre o comportamento do
alvo era verdade.

Será que morderia a isca?


A verdade era que quase sempre mordiam. Homens
gananciosos não resistiam à oportunidade de agir em sua
ganância.

Para mim, em um grande golpe, não havia nada mais


emocionante do que este momento.

Podia sentir o arrepio em meus braços. Meu coração


acelerou, o sangue bombeando alto em meus ouvidos, a
adrenalina correndo em minhas veias.

Esta parte de um golpe era como uma corrida. Nunca


fui viciada em qualquer coisa, como álcool ou drogas, graças
a meus pais, que incutiram em mim a importância da
consciência situacional. Porém, o momento de executar um
golpe vencia qualquer outra coisa na vida que podia
imaginar. Era como uma versão estendida desse exato
momento, antes que os dados lançados caiam sobre a mesa,
a jogada definitiva, o destino na balança.

O agente pigarreou. — Preciso chamar meu lutador. —


disse — Mover algumas coisas. Mas posso gerenciar esse
tipo de capital. Isto é, se garante o tipo de retorno que ouvi
que dará aos investidores.

Virei a cabeça lentamente e acenei. — Talvez tenha te


subestimado, Sr. Coker.

Essa era outra mentira. Acertamos, conforme o


esperado.
Inclinei-me para trás e cruzei os braços enquanto o
locutor anunciava os lutadores, satisfeita com o fato de que
este era um golpe garantido.

Sentia-me presunçosa.

Coker era nosso. Por completo. O seu lutador só


precisava fazer uma boa luta, derrubando o outro cara, para
que ficasse impressionada com ele. Então, seria apenas uma
questão de convencer Coker que não deveria nos dar seu
dinheiro.

O engraçado é que, quanto mais sugere a alguém para


não fazer algo, mais intrigado essa pessoa fica com a
perspectiva de fazer exatamente isso.

— E de calção azul... — a voz do locutor soou. — Silas


Saint.

Assim que pronunciou o nome, os cabelos em minha


nuca se eriçaram. Não ouvi esse nome há anos.

Não, desde que tinha dezessete anos.

Silas atravessou o ringue. Mesmo antes que chegasse,


sabia disso.

A maneira como se movia, seu físico...

Mas não era apenas seus músculos ou seu queixo


quadrado que me disseram que era o mesmo Silas do meu
passado. Era algo intangível, a forma como desencadeou
algum tipo de memória sensorial. Era como se cada célula
do meu corpo soubesse que era ele no ringue, um choque de
eletricidade em resposta a sua mera presença.

Mesmo se não ouvisse o seu nome, saberia. Sabia que


era ele no momento em que o vi.

Meu coração disparou e prendi a respiração quando ele


virou, caminhando para o meu lado da gaiola.

E então ele olhou diretamente em meus olhos. Aqueles


malditos olhos azuis que reconheceria em qualquer lugar.
Eles me assombraram. Ele me assombrava, a sua memória,
a maneira como costumava me olhar, com o rosto entre as
minhas coxas.

Fui o seu primeiro amor.

Ele foi o único homem que amei. O que deixei para


trás, sem dizer adeus.

E estava aqui, tão perto que podia me levantar e


estender a mão para alcançá-lo. Enquanto caminhavam ao
longo da beira da gaiola seus olhos nunca deixaram os
meus. Virou a cabeça para me olhar, mesmo depois que
passou por mim.

Silas Saint.
Senti a pressão familiar da atração, algo primal, um
sentimento antigo de anos atrás. Era a mesma coisa que
sentia por ele quando éramos crianças.

Sua expressão era dura. Irritada. Reconheci o olhar,


era a mesma expressão que tinha depois das explosões de
seu pai bêbado, quando entrava em cena para salvar sua
mãe.

Estava tão envolvida no fato de que Silas se


materializou de algum lugar no fundo de meu subconsciente
e agora estava em minha frente, que levei um minuto para
perceber a implicação de sua presença aqui.

Coker não estava no topo. Foi por isso que o


escolhemos como alvo. Ele tinha um histórico de lutas
arranjadas. Coker queria me impressionar. Queria ganhar
por qualquer meio necessário.

E isso era um problema.

Porque ou Silas cairia e realmente seria ferido ou Silas


acabaria com o lutador de Coker. Em qualquer caso, meu
golpe terminaria. Era o fim.

De qualquer maneira, seria descoberta.

Ao meu lado, Coker ficou de pé.

— Filho da puta! — falou com as mãos fechadas em


punhos.
— Algo está errado? — perguntei.

— Nada que não possa lidar. — disse — Com licença.

Eu o vi dirigir-se para um dos seus comparsas do outro


lado da gaiola e meu coração afundou enquanto eu
observava Silas, do outro lado, com a cabeça inclinada,
falando com o cara no seu canto.

Esperava que Silas soubesse o que acontecia. E o que o


esperava.

Passei meu dedo sobre a tela no meu celular e enviei


uma mensagem simples.

Temos um problema.
Capítulo Três

Silas
Pensei que era uma alucinação, vendo-a ali sentada.

Tempest Wilde.

Jamais imaginei que a veria novamente depois que me


deixou e saiu de West Bend sem uma palavra.

Tínhamos dezessete anos.

Tempest saiu da cidade e sequer me disse adeus.


Limpou a minha pequena poupança e também o dinheiro
que juntava para me afastar da minha família. E a minha
medalha de luta do campeonato estadual, que significava
tudo para mim.

Naquela época, sua saída foi o fim do mundo para


mim.

Reconheci assim que a vi. Estava alguns anos mais


velha, com certeza e seu cabelo mais escuro, não o loiro que
costumava ser, mas a reconheceria em qualquer lugar.

E lá estava ela, nos braços de Roy Coker.

O idiota que quase me matou.


Trigg estava no canto, dizendo alguma coisa para mim.
Ele falou, mas não ouvi. Tudo o que conseguia pensar era
nela.

Odiei-a depois que me deixou.

Podia sentir a raiva bombeando em minhas veias. Já


estava motivado após o que Coker fez a Abel, mas vê-la ali
com Coker foi a cereja no topo do maldito bolo.

Não conseguia parar de olhá-la. Sete anos atrás, foi o


meu amuleto de sorte no torneio de luta livre estadual que
me colocou no radar do treinador do Oklahoma State, a luta
com a qual consegui uma bolsa de estudo integral. Até que
fui expulso da universidade.

— Saint. — Trigg disse, batendo em meu rosto. —


Vamos lá. Concentre-se na luta.

— Estou pronto. — disse. Ao ouvir meu nome ser


anunciado, me afastei de Trigg e mirei o árbitro. Quando
meus olhos encontraram os de Coker, não pude deixar de
sorrir; ele esperava algum lutador de segunda categoria
como substituto, não eu. Mesmo na penumbra da
adrenalina e do caos do momento, podia dizer que estava
furioso.

Quando soou a campainha, Rush se jogou para frente,


vindo para mim com uma enxurrada de socos dos quais me
esquivei, focado apenas em cansá-lo. Alguém deveria tê-lo
ensinado sobre não se cansar nos primeiros trinta segundos
de uma luta. Entrei, dando uma série de chutes baixos que
no interior de sua coxa, enquanto cambaleava para frente,
para o lado e para trás de uma de suas pernas. Um deles
pousou um pouco acima do joelho e ele gritou quando caiu
de costas no tatame.

— Finalize-o, Silas. — ouvi Trigg gritar do canto da


gaiola.

Então eu fiz. O resto da luta foi um borrão enquanto


acabava com Rush. Estava atordoado, minha visão nublada,
obscurecida pela adrenalina e pela névoa da raiva. Não
tenho certeza se pararia se alguém não me puxasse de cima
dele após a luta ser finalizada.

Quando me levantei, fiz contato visual com Coker


novamente.

Foda-se. Sabia que apostou no seu lutador. Imaginava


que algum lutador de má qualidade substituiria Abel esta
noite.

Esperava que tivesse perdido muito dinheiro.

Esperava que custasse muito mais que isso. Merecia


mais do que isso acontecendo com ele.

O árbitro segurou meu punho em sinal de vitória e


fiquei ali, imóvel, observando Tempest.
Ela se lembrou de mim... Podia ver isso em seus olhos.
Não sabia se devia ficar satisfeito ou furioso com isso.

Ao lado dela, Coker gritou alguma coisa e saiu, com o


rosto vermelho. E então Tempest começou a se afastar.

Ela parou por um momento, olhando por cima do


ombro e me deu o mais breve dos sorrisos.

Merda.

Fui atrás dela. Ignorando as pessoas que me rodeavam,


tentando me felicitar pela minha vitória, empurrei a
multidão, procurando por ela, mas ela já tinha ido embora.

Quando virei, Trigg estava ali, com a mão em meu


ombro, batendo-me com força. Continuava observando,
procurando Tempest no meio da multidão, convencido de
que era apenas uma invenção da minha imaginação ou
algum resquício da lesão na cabeça que sofri meses atrás.

— Onde vai? — Trigg perguntou. — Merda, cara. Foi


uma luta incrível. Você fez isso. Você acabou com Rush. E
Coker ficou chateado, também.

— Sim. — disse, distraído. — Você viu aquela menina?

— Que menina? — perguntou Trigg. — Essa luta foi


tudo, Saint. É o seu retorno. Dê uma olhada ao redor. Todas
essas garotas se jogarão em você. Será inundado com tanta
boceta que não será capaz de ver claramente.
— A mulher com Coker. — disse, ainda olhando para
trás. — Você a viu?

— Não tenho nenhuma ideia de quem é, se é isso o que


pergunta. — disse — Uma de suas novas garotas, talvez? No
entanto, era sexy. Não a chutaria da cama. Por quê? Tem
tesão por ela? Quer que pergunte por aí?

Uma de suas novas garotas. Por que esse pensamento


me faz querer socar alguém?

— Sim. — disse. — Pergunte por aí. Descubra quem ela


é.

— OK.

— Soube alguma coisa sobre Abel? — perguntei.

— Recebi uma mensagem de sua esposa durante a luta.


— disse — Está tudo bem, cara. Bem, tão bom quanto se
pode esperar depois do que aconteceu. Ela disse que seu
seguro os cobrirá. Ele tem duas de costelas quebradas e o
médico disse que o estado da sua perna é promissor.

Suspirei de alívio. — Merda. Isso é bom.

— É muito bom, eu diria. Também ganhou esse


prêmio. E contra o lutador de Coker.

— Sim. — Olhei ao redor, examinando a multidão,


procurando Coker. — Sabe que será um problema.
Trigg sorriu. — Bem, não é a única pessoa nesta cidade
com quem ele está furioso.

— O que quer dizer? — perguntei. — Algo está


acontecendo?

— Não quero dizer nada. — Disse — Só que o karma


tem uma maneira de voltar para alguém. Se faz essa merda,
jogando sujo como isso, eventualmente o encontrará.

— Sim. — disse. — Claro, nunca é demais dar um


empurrãozinho no karma.

Trigg olhou para mim. — O que planeja?

Antes que respondesse, ouvi a voz de Coker atrás de


mim e virei.

— Você me custou um bom dinheiro, seu imbecil. —


rosnou, correndo na minha direção.

Corri até ele, fazendo com que caísse no chão com um


bom soco de direita em seu rosto, mas seus comparsas
intervieram e ameaçaram me arrastar para fora. Quando
Trigg os bloqueou, o proprietário do ginásio ficou entre nós.

— Não aqui, Saint. — Trigg disse parado entre mim e


Coker. — Há muitas testemunhas.

Coker limpou o sangue no canto de seu lábio. — Você


está morto, Saint.
— Já tentou me matar uma vez, se bem me lembro
Coker. — disse. — Fez um trabalho de merda.

Ele sorriu, seus dentes da frente manchados de sangue,


dando-lhe um olhar enlouquecido. — Da próxima vez, farei
melhor.

— Boa sorte. — disse.

Trigg me empurrou pela pequena multidão que se


reuniu ao nosso redor, guiando-me para a saída. —
Cuidado, Saint. — disse Trigg. — Esse cara tem muito
alcance. Nós dois sabemos disso.

— Coker é um imbecil. — cuspo no chão. — Trigg, me


faça um favor. Descubra por que a garota estava com ele.

— Trigg balançou a cabeça e sorriu. — Só você pensaria


em boceta agora.

— Não estou. — disse. Era apenas parcialmente


verdade. — Só quero saber o que Coker trama.

— Tudo bem. — disse Trigg. — Perguntarei por aí. Um


dos caras saberá. Se deixá-lo sozinho, se acalmará aqui?
Não quebre nada.

— Foda-se. — disse. — Olhe para este buraco de merda.


Não há nada aqui para quebrar. — Sentei-me em uma
cadeira.
— Trigg estava certo. Precisava me acalmar. Sentei-me,
respirando e desejando que meu ritmo cardíaco voltasse ao
normal. Mas quando fechei meus olhos tudo o que podia ver
era Tempest.

Tempest colocou o cabelo atrás da orelha e me olhou


com os olhos arregalados. Puxou os joelhos até o peito, os
braços ao redor de suas pernas e se enrolou em uma
pequena bola, sentando-se na rocha plana que beirava a
clareira na floresta.

Pensei que meu coração explodiria, olhando para ela.


Era a coisa mais linda que já vi.

— Não deveria ter escoteiros no torneio amanhã. —


disse.

— Será incrível. — disse — Sei que será.

— Merda. — ao seu lado, peguei uma pedrinha. —


Preciso conseguir uma bolsa, Tempest. Preciso sair daqui.
Precisamos sair daqui. Podemos fazer algo melhor longe
daqui...
Ela assentiu com a cabeça, mordendo seu lábio
inferior. — Você conseguirá, Silas. Sei que sim. Você é bom.

Virei na sua direção, puxei-a para o meu colo e ela


envolveu suas longas pernas ao redor da minha cintura.
Seu cabelo caiu sobre mim, as mechas loiras caindo em
volta do meu rosto quando pressionou sua testa na minha,
fechando os olhos.

— Onde quer que vá, irá comigo. — disse. – Por uma


vez, se fixaria em um lugar.

Olhou para mim, os olhos brilhantes.

— Quando completar dezoito anos... — disse —


Finalmente serei capaz de parar de me mudar.

Tempest se aproximou e me beijou, seus lábios


macios. Um pequeno gemido escapou de seus lábios e sua
língua encontrou a minha. Puxei-a com força contra mim.

Nos três dias seguintes, no torneio do campeonato


estadual, ela estava bem ali, torcendo por mim ao meu
lado. Meus pais não estavam presentes e nem os dela, mas
ela e Elias estavam lá e é isso era o que importava para
mim. Tinha dezessete anos e Tempest e Elias eram as
pessoas mais próximas no meu mundo.

Quando ganhei, Tempest correu para mim, pulou em


meus braços e agarrou-se ao meu pescoço enquanto
enrolava as pernas ao redor da minha cintura. Pressionou
a cabeça em meu pescoço e me beijou.

— Sabia que ganharia.

— Foi por sua causa. — disse — Você é meu amuleto


da sorte. Agora precisa estar em todas as minhas lutas.

— Estarei em cada uma delas. — prometeu.

Duas semanas mais tarde, Tempest foi embora.


Somente depois que me deixou que descobri o que seus pais
fizeram. Eram vigaristas que aplicaram o Esquema Ponzi 1
em várias famílias ricas da cidade. Eram rumores, claro.
Nenhuma das famílias admitiu ser enganada. Suponho que
não parecia grande quando era uma pessoa de negócios que
se envolvia em algum tipo de jogo de ganho fácil e de regime
duvidoso e perdeu o seu dinheiro.

1Esquema Ponzi é uma operação de investimento fraudulenta que implica no


pagamento de juros aos investidores com seu próprio dinheiro investido e do dinheiro
de novos investidores. Este golpe consiste no processo no qual os ganhos que obtêm
os primeiros investidores são gerados graças ao dinheiro contribuído por eles mesmos
e por novos investidores que são enganados pelas promessas de obter, em alguns
casos, grandes valores. Este sistema somente funciona se a quantidade de novas
vítimas aumentarem
Mas as pessoas falavam. Nessa época não sabia o que
significava o Esquema Ponzi. Não até alguns anos depois,
quando ouvi esse tipo de coisa nas notícias, que percebi a
magnitude do que aconteceu em West Bend. Que os pais de
Tempest eram verdadeiros vigaristas da vida real. E
Tempest era um deles.

Tempest foi embora sem deixar um bilhete. Sua avó,


supostamente a razão para Tempest e seus pais visitarem
West Bend, tinha uma mancha preta em sua reputação, o
tipo que minha família tinha enquanto eu crescia.

Pelo que ouvi falar, ela se mudou da cidade e não tinha


certeza do que aconteceu ou ainda morava lá.

Não tinha certeza se era realmente a avó de Tempest,


para começar. Podia ser parte do esquema. Mas ela
simplesmente desapareceu.

Da mesma forma que Tempest.

Só que Tempest não desapareceu realmente, não da


minha memória, pelo menos. Não conseguia apagá-la do
meu passado, não importava o quanto tentei. Passei cada
minuto livre do meu último ano lutando na escola, zangado
com ela. Zangado com o mundo. E o tempo que não passei
lutando, estava na casa do meu treinador. Ele sabia que o
meu pai trabalhava como zelador em nossa escola, bêbado
na maior parte do tempo. Então, o meu treinador me tomou
sob sua asa.

Foi o único que me ensinou a trabalhar com madeira


em sua garagem. Passava seu tempo livre construindo
móveis e fazendo esculturas. Ele me mostrou como usar o
torno e como achar um bom pedaço de madeira. Quando a
artrite, em suas mãos, ficou muito dolorosa para continuar,
disse que o espaço era meu.

Tempest apareceu em West Bend e agitou tudo. Me


deu vida. E então sumiu da cidade, levando tudo que era
bom com ela. Estava convencido de que era o meu amuleto
de sorte e a levou quando se foi.

Mas meu treinador me colocou no caminho certo, me


disse que não havia essa coisa como sorte. Você faz o seu
próprio caminho na vida, disse ele.

Mesmo assim, levou muito tempo para perceber que a


sorte era algo para otários.

Assim como o amor.


Capítulo Quatro

Tempest
Sentei de pernas cruzadas na enorme poltrona, virando
a medalha em meus dedos. A repetição do movimento
combinado com a sensação do metal frio em minha pele me
acalmava.

Iver me entregou uma taça de champanhe. Peguei-a,


apesar de não combinar com a situação onde estávamos no
golpe.

— Champanhe? — perguntei. — Não parece que temos


algo para comemorar. Estou errada?

— Sempre existe uma razão para champanhe, querida.


— Iver tomou um gole do seu copo. — Você e essa moeda.
Algum dia me dirá o que é ou quem é o dono?
— Não é uma moeda. — disse, distraída com meus
pensamentos. — É apenas para dar sorte.

Embaraçosamente, meus pensamentos sequer estavam


focados no golpe, da maneira como deveria. Ao invés disso,
tudo que conseguia pensar era no aparecimento inesperado
de Silas em minha vida.

Olhei para a medalha em minhas mãos. A visão trouxe


de volta a memória dolorosa do dia que deixei West Bend.

— Não irei! — protestei. Mas continuei a colocar as


roupas na mala, me preparando para o inevitável.

É claro que iria. Não podia ficar.

— O quê? — Minha mãe ficou em minha frente, com as


mãos nos quadris, balançando a cabeça. — Acha que
duraria um minuto nesta cidade depois que sairmos? Seu
pai e eu aplicamos um golpe. O fundo está prestes a cair.
Realmente acha que ficaria aqui e escaparia das
consequências?

— Terei dezoito anos no próximo ano. — Implorei. —


Não podemos ficar em um lugar por um ano?
Minha mãe fez um gesto em direção ao meu pai. —
Coloque algum sentido nela. — disse desgostosa. — É sobre
aquele rapaz Saint, com quem esteve conversando por
meses? Realmente quer desistir de tudo em sua vida por
ele?

— Tudo em minha vida? — minha voz soou aguda,


como se pertencesse à outra pessoa. — Oh! Sim. Isso é tudo
o que poderia querer, não é? Mudar-me constantemente,
de lugar para lugar, de uma hora para outra, mentindo
para todos sobre tudo? É como viver no paraíso. Ninguém
sabe o meu nome. Desta vez sou Mariah. Qual será a
minha nova identidade?

Ninguém sabe o meu nome, exceto Silas, pensei.


Disse-lhe que meu nome era Tempest. Ele pensou que era
apenas um apelido. Queria que ele soubesse a verdade. Era
importante para mim que alguém soubesse quem era,
mesmo que não soubesse que Tempest nada mais era do
que um apelido. Queria dar a alguém uma parte de mim
que não poderia dar a qualquer outra pessoa, alguma
semelhança da verdade, mesmo que fosse apenas uma
pequena parte. Se não podia lhe dar qualquer outra coisa,
pelo menos lhe daria o meu nome.

— Virá conosco. — disse meu pai. — Seja razoável.


Sabe o que acontecerá se ficar? Quando souber que
aplicamos um golpe em um grupo de famílias na cidade,
será presa.

— Sou menor de idade. — disse. — Ninguém prenderá


uma criança.

— Uma criança que está perto de se tornar adulta


quando completar dezoito anos. — meu pai disse. —
Lembre-se disso. Acha que as autoridades acreditarão que
não fazia parte do golpe?

Fiquei em silêncio, protestando contra o meu destino,


mesmo que soubesse em meu coração que fugir era a única
opção.

— Estão roubando de pessoas boas. — repreendi. —


Pessoas decentes. Não está certo.

Não acho que havia uma coisa mais odiosa que


poderia dizer ao meu pai, mesmo se lhe dissesse que queria
vê-lo morto.

Ele me olhou, com choque em suas feições, antes de


olhar para a minha mãe e novamente para mim. — Não te
ensinei nada? — perguntou. — Qualquer um que se permite
ser enganado merece ser enganado. Essas pessoas, estas
boas pessoas, possuem muito mais de onde veio esse.

— Não é justo. — reclamei. — E quanto a Letty? O que


fará aqui depois que saímos? Posso ficar com ela.
Sua avó não está em condições de cuidar de você. —
disse minha mãe. — ela luta como pode. Não tem dinheiro
o suficiente para se preocupar com uma boca a mais para
alimentar.

Engoli o meu orgulho, dei um passo adiante e abracei


meu pai. — Obviamente, irei com vocês. — menti. — Mas
não serei feliz.

— Estou contente de ver que é sensata. – falou.

— Sim. — falei. — Sensata. Só preciso de um pouco de


ar e para pensar em tudo.

Então saí e fui direto para o carro, segurando as


chaves que peguei do bolso do meu pai.

Veria Silas. Não iria embora.

A mãe Silas atendeu a porta, seu roupão apertado


firmemente nela, uma nova contusão sob o olho. Parecia
abalada e perguntei se estava bem. Era a primeira vez que
a via.
— Silas não está aqui. — disse com a voz trêmula. —
Saiu para algum lugar.

Voltou para a sala da pequena casa, deixando a porta


aberta. Tomei isso como um convite para entrar.

A casa era pequena, o interior escuro e as cortinas


estavam fechadas. A única luz no interior vinha de uma
fresta entre dois painéis de tecido barato pregados na
moldura de uma das janelas. Fiquei lá por um minuto,
piscando enquanto meus olhos se adaptavam à escuridão.
Nunca fui à casa de Silas antes. Perguntei-lhe uma vez se
queria me levar para casa, mas apenas balançou a cabeça,
dizendo que não queria que o veneno de seus pais passasse
para mim. Sabia que o pai de Silas tratava a ele e sua mãe
como seu saco de pancadas pessoal.

Silas o odiava.

Estar aqui pessoalmente e ver onde Silas vivia era de


alguma forma mais horrível do que previ. Senti minha
respiração falhar, quase como se estivesse ofegante,
mesmo depois que disse a mim mesma para me acalmar.

Quando viajamos dois verões antes, uma velha cigana


falou sobre a minha aura. Ri quando me disse que minha
aura estava roxa. Disse que significava que eu era
intuitiva e sensível. Ela era uma enganadora, devia saber.
Mas estar aqui agora, tudo que conseguia pensar era que
este lugar, inclusive a mãe de Silas, era cercado por uma
nuvem escura. Se realmente existia aura, tudo aqui seria
preto.

— Onde está Silas? — perguntei. — Ele está bem?

Ela debruçou-se no sofá, com o rosto entre as mãos.

— Ele saiu, foi em algum lugar. Ele sai, às vezes. Não


sei onde. Ele apenas sai.

Senti uma onda de raiva por não saber onde estava


Silas. Como não tinha ideia de onde seu filho estava? E
como exibia tão pouca preocupação com ele?

O sentimento foi seguido imediatamente por piedade


por esta mulher destruída. — Está bem? — perguntei com a
voz suave. — Precisa de um pouco de gelo?

A mãe de Silas balançou a cabeça negando.

— O quarto dele fica lá embaixo se quiser esperar.


Não sei quanto tempo ficará fora. Só preciso me deitar
aqui por um minuto. As dores de cabeça... — a sua voz
sumiu enquanto deitava no sofá esfarrapado.

Perguntei-me se estava bêbada ou se deveria chamar


um médico. Fiquei parada por um momento pensando no
que fazer, quando ela falou, com os olhos ainda fechados.
— Sei sobre você. — disse. — Sobre sua família. Sua
avó não é tão calada sobre as coisas.

Meu coração apertou. Silas entenderia, pensei. Eu lhe


disse o meu nome. Eu lhe disse a verdade. Na verdade,
não. Ele não tinha ideia de quem era. Era tão culpada
quanto meus pais, assim como estava envolvida em todos
os seus golpes, desde que era uma criança.

Silas me odiaria.

— Silas tem uma chance real, você sabe. – falou com


os olhos ainda fechados. Sequer olhou para mim. — Tem
uma chance de conseguir uma bolsa de estudos para sair
daqui. Não precisa de nada que o prenda. Não precisa de
ninguém para amarrá-lo. Especialmente alguém como
você.

Lágrimas rolaram de meus olhos e lutei contra a


vontade de chorar na frente dela. Sabia que ela estava
certa.

— Preciso deixar uma mensagem. — disse. — Não


posso sair sem isso.

— No final do corredor. – disse. — Segunda porta à


esquerda. Não o procure. Será pior se ele se despedir.

Andei pelo corredor em transe, incapaz de pensar.


Quando entrei no quarto de Silas, parei ao lado da porta,
absorvendo tudo. Alguns livros estavam descuidadamente
empilhados no chão, um caderno em cima e alguns papéis
espalhados sobre a cama. O quarto era estéril, móveis e
nada mais, exceto as medalhas de luta livre de Silas
penduradas em uma parede. Eram a única cor no quarto.
Todo o resto era apenas... cinza.

Esquivando-me dos seus livros, peguei uma caneta e


fiquei parada esperando pelas palavras que não queriam
vir. Como explicaria a decepção que era a minha vida?

No final, não tentei explicar. Não havia muito a dizer.


Ao invés disso, apenas disse a verdade.

“Desculpe-me por tudo. Tenho que sair. É melhor


para nós dois. Você fará grandes coisas. Não
precisa mais de mim para ter sorte. Sempre terá o
meu coração.” Tempest

Dobrei o papel e deixei-o na cama de Silas. Quase saí


pela porta, mas voltei, parando na parede onde as
medalhas de luta livre estavam penduradas, lembrando
suas vitórias.

Memórias do meu tempo com ele.

Meus dedos passaram pelas medalhas e considerei


minhas ações por um momento antes de pegar uma das
medalhas na parede e colocá-la no bolso.
Era a única coisa que podia pensar em fazer. Não
podia sair sem algo dele, um lembrete do garoto que
roubou o meu coração.

Então fiz a coisa mais difícil que já tive que fazer.

Fui embora.

Virei a medalha entre os meus dedos, o emblema


texturizado e as letras na superfície eram a coisa mais
familiar no mundo para mim até agora. Guardei-a, dizendo
a mim mesma que era um amuleto de sorte. Como a maioria
dos vigaristas, tinha uma veia supersticiosa que não podia
evitar, não importando o quão irracional sabia que era. Mas
era mais do que apenas um amuleto de sorte e não poderia
deixá-lo.

Uma voz me tirou dos meus pensamentos. — Bem,


Ariana?

Olhei para cima, respondendo ao meu nome. Ou,


melhor, o nome pelo qual meu time me conhecia. Eram as
pessoas mais próximas do mundo para mim e ainda assim
não sabiam o meu nome verdadeiro.
Apenas Silas sabia.

De pé a poucos metros de distância, Iver franziu os


lábios, pensativo, depois recuou sentando em uma cadeira
em minha frente, alisando a perna da calça do que era, sem
dúvida, um terno de cinco mil dólares. Se havia uma coisa
que Iver tinha, era um gosto impecável e por tudo: arte,
roupas, jóias, mulheres. Era exuberante e um namorador
incorrigível. Mas entre Iver e eu não houve essa faísca. Não
tive essa faísca com ninguém, além de Silas.

Esse era o problema com um primeiro amor, do tipo


ardente que existiu entre Silas e eu. Destruiu-me para
sempre, comparando-o com todos os outros pelo resto da
minha vida.

A faísca foi tão brilhante que nada estaria à sua altura.

Inclusive agora, a memória das mãos de Silas correndo


pelo meu corpo, acariciando a minha pele, o calor da
respiração dele contra mim enviou um arrepio pela minha
espinha.

— Bem o que? — Perguntei.

— Bem. — Disse Iver, com o cenho franzido enquanto


olhava para mim. — Bem alguma coisa, querida. Sua cabeça
estava em algum lugar e certamente não estava pensando
sobre o agente de luta desleixado que estamos a espoliar.
Eu senti um calor se originar nas minhas bochechas e
isso não era uma característica minha. Eu tinha aprendido
há muito tempo a esconder as minhas reações, corar para as
coisas não era algo que queria fazer na minha linha de
trabalho. Era um descuido, uma sentença de morte em
potencial.

Em vez disso, ri da sugestão de Iver que estava


distraída com alguma coisa. Eu não estava distraída. Eu não
me permitiria ser distraída pela lembrança de Silas.

Silas era história antiga.

— O champanhe está me fazendo corar. — Menti.

— Posso notar. — comentou — Mas definitivamente


não é o champanhe. A Ariana que conheço pode lidar com
uma ou duas taças de champanhe. Mas me absterei de
perguntar algo sobre seu segredinho para satisfazer minha
curiosidade. Temos questões mais urgentes para tratar.
Distração não é uma opção.

— Não. — repeti, me castigando mentalmente. —


Distração não é uma opção.

— Então. — continuou Iver. — O que o seu instinto diz?

— Meu instinto? — perguntei sem entender.

Tudo no que conseguia pensar era o que os meus


instintos diziam sobre Silas. Procure-o.
Tirei esse pensamento da minha cabeça.

— Sim, querida. — falou balançando a cabeça. — Algo


te deixou alterada. O que seu instinto diz sobre o trabalho?
Sobre Coker?

Obriguei-me a voltar para o presente. Chega do


passado. Essa merda não me comeria viva.

— Meu instinto diz que perdemos. Ele fez tudo o que


sabíamos que faria. Ele engoliu a informação sobre o
projeto de televisão, então fraudou a luta. Exatamente o que
queríamos.

— Definitivamente fez pouco. — falou Emir do outro


lado do quarto, sentado em uma mesa com dois laptops
abertos, absorvido em algum jogo. Emir era especialista em
absolutamente qualquer coisa que envolvesse tecnologia.
Em outras palavras, tudo o que não entendia.

— Livrou-se do outro lutador com um atropelamento.


O lutador ainda está no Hospital Geral Mercy. Tem alguns
ossos quebrados, mas parece que ficará bem.

— Isso é bom. — manifestei. — Estávamos longe


quando fizeram isso. Nunca escolhemos esse caminho. —
Senti-me mal e responsável pelo lutador machucado. Mas
disse a mim mesma que se não fosse aquele lutador, seria
outra pessoa. Além disso, aplicávamos esse golpe para o
benefício das outras vítimas de Roy Coker. — Só que agora
teremos que ir embora.

— Por quê? — perguntou Iver.

Sentei-me ereta na cadeira. — O lutador de Coker


perdeu. Essa é a questão. Precisávamos que seu lutador
ganhasse.

Iver tomou um gole da sua taça e encolheu os ombros.


— Suponho que é assim que vê isso. — comentou.

— Acha que devemos ir em frente com isso? —


perguntei. — É muito arriscado. Não nos arriscamos. A
menos que o alvo invista dinheiro, não mudamos o jogo.
Não perseguimos. Coker tentava nos impressionar com o
seu lutador, que foi abatido. Agora, espera que iremos
embora, não que o perseguiremos. Se o perseguimos,
passaremos a imagem de que estamos necessitados. Essa é
uma sentença de morte para nós. Sabe disso.

— É uma causa nobre. — falou Oscar do outro lado do


quarto onde casualmente bebericava um copo de uísque.

Suspirei. — Sempre é uma causa nobre. — falei. — E


Coker é um bastardo repugnante. Estou ciente de tudo isso.

— Mas neste caso, é muito pessoal para mim. —


afirmou Iver.
— E quantas vezes fizemos um trabalho pessoal para
Iver? — Emir perguntou. — Nem sabia que tinha uma vida
pessoal além dessas paredes.

— A intriga e emoção em minha vida pessoal seria


demais para lidar, Emir. — disse Iver com os olhos
brilhando.

Emir riu. — Atrizes e champanhe 24 horas por dia, 7


dias por semana.

— Não se esqueça do caviar. — acrescentou Iver. — E


os iates. Na verdade, sou como o James Bond dos vigaristas.

Era a primeira vez que Iver pedia algo pessoal. Iver era
uma pessoa extremamente reservada. Inclusive para mim,
que era sensível ao lidar com as pessoas, que ainda nem
sabia exatamente onde morava. Mas, aparentemente, ele
tinha uma governanta, cujo marido foi um dos lutadores de
Coker, que ficou muito mal depois que Coker acabou com
ele. Iver considerava Coker um problema pessoal que
precisava ser removido.

Somos um grupo heterogêneo, pensei. Um grupo de


vigaristas reformados que continuam aplicando golpes.
Mas, por um bem maior. Era bobagem. Até engraçado. Mas
somos quem somos. Meus pais sempre diziam que era
possível tirar um vigarista do golpe, porém nunca tirar o
golpe de um vigarista.
Eu era quem era. Fazia as coisas do meu jeito, não do
jeito dos meus pais. Viam a todos como um alvo, sem
importar quem. E se tivesse uma vulnerabilidade, se
tornaria um alvo melhor. Meus pais abominavam fraqueza.

Quando fiz 18 anos, jurei fazer as coisas de maneira


diferente, usar minhas habilidades apenas com as pessoas
que mereciam. Quando me juntei a Iver, Emir e Oscar que
tudo se encaixou.

Iver falou de maneira insistente. — Nunca disse que


devemos persegui-lo. — explicou. — Na verdade, devemos
aumentar a aposta para ele.

— Faça-o saltar da ponte. — acrescentou Oscar,


erguendo o copo.

— Por favor, não diga que acha isso uma boa ideia,
Oscar. — supliquei. — Sempre é a voz da razão. Não
assumimos riscos excessivos. Ensinou-me isso. Podemos
reagrupar e descobrir outra coisa. Emir pode hackear suas
contas.

— Hackear é muito arriscado. — indicou Emir.

— Deveria ouvir o que Iver tem a dizer. — aconselhou


Oscar. — Quando recebemos sua mensagem, discutimos
outras possibilidades.

— Isto é um motim. — resmunguei.


Iver jogou a cabeça para trás, rindo. — Motim? —
perguntou. — Sugere que é a capitã deste navio?

— Sempre pensei em mim como o capitão. – alegou


Emir

Iver gesticulou em sua direção, com um sorriso


travesso. — Vê? — perguntou Iver. — Feriu os sentimentos
de Emir. Além disso, há três dias, estava decidida a
derrubar o agente. De repente, quer parar e fugir?

Corei. A verdade é que ver Silas me assustou. Tentava


não ser supersticiosa, mas vê-lo foi como um sinal.

Não era um bom presságio alguém voltar do meu


passado assim.

— Não quero parar e fugir. — menti. — Quero ir e viver


para aproveitar outro dia. Um velho sábio me ensinou isso.

Olhei significativamente para Oscar, que estava com o


cotovelo no piano, a imagem de um aposentado inofensivo
de pijama. Na realidade, era um brilhante estrategista e um
dos mais bem sucedidos vigaristas do século passado.

— Bem. — interveio Oscar. — Acho que é uma opção


viável.

— Ok. — suspirei. — Qual é o plano? Diga-me sobre


ele.
— O agente envergonhou a si mesmo. — disse Iver. —
Seu lutador foi inútil. Caçava talentos e investidores para
um canal de televisão legítimo, mas talvez você não esteja à
procura de talento. Talvez você esteja realmente procurando
o oposto do talento.

— Tipos que entregam uma luta. — falei.

— Mais do que apenas entregar a luta. — ponderou


Iver. — E se estivesse realmente à procura de lutadores para
uma rede privada sem regras? Talvez seja o último a lutar
sem regras. Totalmente fora da legalidade.

— Até a morte? — perguntei, balançando a cabeça.

— Não o venderia dessa maneira. — pontuou Iver. —


Um canal de gladiadores. O tipo real do gladiador. Uma luta
até a morte.

— Então, até a morte. — repeti.

Iver fez um som de negação. — Que possa esmagá-lo.


Es-ma-gar. — Explicou

— Coker provavelmente estaria mais do que feliz em


fornecer o produto para algo como isso. — admiti.

— É também mais sujo. — disse Iver. — O que significa


que será mais caro. Como também mais arriscado.
— É melhor para nós. — comentou Oscar, piscando
para mim.

— O que significa mais dinheiro. Uma recompensa


maior. Quanto mais? — perguntei, olhando para Emir.

Emir sorriu. — Verifiquei suas finanças. — disse —


Podemos aumentar mais.

Havia algo doentio na emoção que senti com a


perspectiva de aumentar a aposta inicial, incrementando o
risco. Isto deve ser igual à emoção que os apostadores
sentem, pensei.

Porém era a coisa certa a fazer, disse a mim mesma.


Coker era o pior da escória. E depois havia a questão do
marido de governanta de Iver, que merecia revanche, depois
do que Coker fez com ele.

— Tudo bem. — concordei. —Estou no jogo.


Capítulo Cinco
Silas
— É isso? — perguntei.

A pequena casa na nossa frente era cercada por um


pequeno quintal, principalmente marrom, a única cor verde
era a proveniente das ervas daninhas irregulares que
cresceram entre os remendos no chão pontilhado de sujeira.
A bicicleta de uma criança estava apoiada contra os degraus
da frente. Do outro lado da rua, três homens estavam
falando em frente a uma casa igualmente deprimente,
inclinados contra um carro suspeito. Eu podia sentir seus
olhos em nós quando saímos do carro.

— Sim, cara. — disse Trigg. — Isso não é bom. Johnny


e Deborah precisaram se mudar uns meses atrás.
Conseguiram pagar algumas das contas do hospital, mas
levou tudo o que tinham.

— Merda. Não posso acreditar que viviam em um lugar


como este. Mandei-lhes dinheiro, mas não era muito, já que
devia dinheiro para Fat Harry. Não sabia que era tão ruim.
Coker deve pagar pelo que fez. — suspirei pesadamente e
guardei as chaves do carro no bolso antes de olhar para os
caras do outro lado da rua. — Elias me matará se algo
acontecer ao seu Mustang. Fica louco quando se trata deste
carro.

— Bem, é um bonito carro. Faz sentido ser paranóico.


O vigiaremos de dentro. — comentou Trigg. Levantou a
bainha de sua camisa para revelar a arma escondida em sua
cintura. — Mas trouxe isso, apenas no caso...

— Como está a sua menina? — perguntei, enquanto


caminhávamos para a porta da frente.

— Está bem. — respondeu Trigg. — Johnny disse que


ela tem alguns problemas na escola. Mas isso não é uma
grande surpresa, se a escola está em um bairro como este,
entende?

A porta abriu antes mesmo de batermos e Deborah nos


recebeu com um avental em sua cintura. Limpou as mãos
no tecido e acenou para que entrássemos, olhando para os
homens do outro lado da rua.

— Silas, Trigg. Entrem. — disse — O que fazem aqui?

Ficamos parados desajeitadamente na entrada da


pequena casa, Trigg inclina perto de uma janela depois de
dar um abraço em Deborah. — Ficarei aqui fora para ficar
de olho no carro. — comentou.
— É o carro do meu irmão. — expliquei, sabendo como
parecíamos, vindo para este bairro em um carro assim,
como dois idiotas ricos. A verdade era que estávamos bem
longe disso.

— Provavelmente é uma boa ideia vigiá-lo. —


argumentou Deborah, sacudindo a cabeça. — Aqueles
homens do outro lado da rua não são bons. Drogas, acho.
Um monte de gente entra e sai da casa.

— Trigg disse que se mudou para cá há alguns meses.


— falei.

Deborah apontou para a mesa e cadeiras e me sentei,


enquanto se ocupava na cozinha, pegando copos e uma
garrafa de água.

— As contas do hospital nos deixaram sem dinheiro. —


respondeu.

— Mas isso foi há um ano. — falei, balançando a


cabeça. — Pensei que as contas do hospital estivessem todas
pagas com o seguro do Johnny.

— Todas as contas do hospital decorrentes da luta


foram pagas. — afirmou Deborah. — Mas ele escondeu os
problemas com tonturas. Como chamaram? Vertigem. Não
podia operar máquinas pesadas, então perdeu o emprego na
fábrica há alguns meses atrás. Tudo começou a desmoronar.
— Sinto muito, Deb. — lamentei — Saí e... não sabia. Se
soubesse, mandaria mais.

Ela acenou com a mão com desdém. — Por favor, Silas.


— protestou. — Já fez muito. Depois do que aconteceu com
você...

— Tive sorte. — falei, mudando de assunto. Não queria


uma festa de piedade. — O que Johnny faz? Ele está bem
agora?

Deborah encolheu os ombros. — Seguimos em frente.


– afirmou. – Trabalha como empacotador e pega trabalhos
ocasionais aqui e ali. Ainda tem tonturas e enxaquecas.
Precisamos reduzir um pouco. Ficaremos bem. Conte-me
sobre você. Como está? Voltou à cidade para ficar? Johnny
ficará muito feliz em vê-lo. Trabalhará até tarde hoje.

Neguei com a cabeça. — Apenas passando por aqui. —


comentei. — Tive uma luta ontem à noite.

O rosto de Deborah empalideceu. — Voltou com


Coker?

— Não, não, claro que não. — assegurei. — Abel me


chamou para ficar no seu canto para uma luta, mas acabou
no hospital, por isso, tomei o seu lugar.

Colocou a mão na boca, com os olhos arregalados. —


Ele está bem? Foi Coker?
Neguei. — Não, não. — menti, olhando para Trigg.
Deborah não precisa de mais nada para se preocupar. — Ele
teve um acidente de carro completamente aleatório. Mas
está bem. Apenas machucado, nada sério. Direi que
perguntou por ele.

— Então lutou? — perguntou, com a voz trêmula.

Segurei sua mão, cobrindo-a com a minha. — Sim. —


respondi. — E também estou bem. Acabei com cara.

Deborah deu um tapinha na minha mão. — Por favor,


se cuide Silas. — rogou. — Foi esperto para sair quando
precisou. Eu me preocupo com você e com os outros
lutadores.

— Estou bem. — reiterei. — Trouxemos algo. O


dinheiro da luta, menos o que devia a alguém. Com sorte
ajudará.

Trigg pegou o envelope com o dinheiro de dentro da


jaqueta e colocou sobre a mesa. — Deve ser o suficiente para
sobreviver por um tempo. Não é permanente, mas...

Deborah inalou bruscamente, levando a mão à boca.

— Não. — exclamou. — Não posso aceitar Silas. É seu.


Precisa do dinheiro.

— Não aceitarei um não como resposta, Deb. —


argumentei. — Foi como uma mãe para mim, mais do que a
minha verdadeira e não posso pensar em você e Johnny
passando necessidades. Não é justo.

— Não posso aceitar, Silas. Afirmou com voz firme. —


Tenho um trabalho, faço limpeza para um homem rico e lhe
disse o mesmo quando se ofereceu para ajudar. Não somos
um caso de caridade. Nós conseguiremos.

— Isto não é caridade, Deb. — insisti. — É uma forma


de pagamento por tudo que você e Johnny fizeram por mim,
tirando-me dos problemas quando cheguei aqui em Las
Vegas. Ou não se recorda que me ajudaram com meus
problemas?

— Não nos deve nada, Silas. — assegurou, balançando


a cabeça. Mas podia ver lágrimas brotando em seus olhos,
enfraquecendo sua determinação.

— Sim, claro, não devo nada — zombei. — Somente a


minha vida. Não me importo com o que disser, o dinheiro
fica aqui. Se não quiser usá-lo, então o guarde para Kara. —
Sabia que mencionar o nome de sua filha faria Deborah
voltar atrás.

Ela me olhou por um longo tempo até que finalmente


concordou. — Obrigado, Silas. — disse. — Você também,
Trigg.

Trigg sorriu. — Não olhe para mim. — disse. — Isto é


ideia de Silas.
Capítulo Seis

Tempest
— Estou contente que estamos à luz do dia. —
comentei. Ainda não atingimos o nosso destino e o bairro se
tornava cada vez mais perigoso.

Iver estava distraído, seu olhar focado ao redor — Sim.


— comentou distraído. — Provavelmente levaríamos um tiro
aqui à noite.

— O GPS diz que estamos no lugar certo. — Indiquei. —


Este é o endereço que Emir conseguiu.

Emir conseguia virtualmente qualquer informação que


precisávamos sobre as vítimas e as pessoas que ajudávamos,
porém havia algo em comprovar pessoalmente que sempre
me fazia sentir melhor sobre um emprego. Emir ria de mim,
me chamava de supersticiosa, já que sua informação nunca
estava errada. E, neste caso, tinha imagens do bairro onde a
governanta de Iver e sua família viviam, facilmente obtida
na internet. Mas havia apenas algo sobre ver com meus
próprios olhos que não podia ser substituído.
Normalmente fazíamos esse tipo de coisa no início,
quando verificávamos a história de uma vítima, antes
mesmo de começarmos um trabalho. Mas desta vez, tentava
quebrar velhos hábitos, dizendo a mim mesma que minhas
compulsões não eram razoáveis. Quando chegava o
momento, era uma criatura de hábitos. Iver sabia que me
deixava louca o fato de ainda não ter feito a minha
verificação. Então concordou em vir comigo.

— Só para não ser morta. — advertiu. — Vi as fotos do


Emir e conheço Deborah. A história é verdadeira.

Estacionei no final da rua, a uma distância segura para


visualizar a casa da governanta de Iver. — Será que ela
ganhou algum dinheiro? — perguntei, apontando para o
Mustang brilhante estacionado na frente da casa.

Iver franziu a testa. — É um dos carros de Coker?

Balancei a cabeça, passando mentalmente a lista de


veículos conhecidos de Coker. Tinha uma excelente
memória para detalhes como esse. — Não que eu saiba.

Permanecemos sentados dentro do carro desligado em


silêncio até que Iver falou.

— Traria champanhe, se soubesse que vigiaríamos.

Ri, lembrando a primeira vez que Iver e eu


trabalhamos juntos. Fazíamos um trabalho de vigilância,
por causa de um mau negócio de Iver. Mas, na forma típica
de Iver, não estava nem um pouco preocupado.

— Relaxa moça. — disse Iver com um falso sotaque


escocês e uma piscadela. — Não é o fim do mundo, você
sabe.

Permaneci na janela olhando para onde a van não


marcada parada em frente do hotel, a mesma van que
ficou parada lá por horas. Não disse nada, paranóica de
que o quarto podia ter sido grampeado.

Então Iver virou as costas, atravessou o quarto em


direção ao bar e pegou uma garrafa de champanhe do
balde de gelo. Agarrando duas taças de champanhe, ele
passou por mim sem dizer uma palavra.

— Champanhe? Mesmo? É meio-dia e não acho que a


ocasião pede champanhe. — mencionei.

— Oh, querida. — disse Iver. — Não é para você. — E


saiu do quarto, batendo a porta com força.

Momentaneamente atordoada, me perguntava o que


fazia. Observei da janela enquanto caminhava em direção
a van utilitária, balançando a garrafa de champanhe e
taças como se nada importasse no mundo.

Minha respiração falhou e coloquei a mão em minha


boca quando bateu na traseira da van e a porta abriu. Ele
entregou o champanhe aos agentes, disse-lhes alguma
coisa, então se afastou como se nada de anormal
acontecesse. Mesmo de onde estava, o via assobiando
enquanto andava.

Quando Iver voltou, estava lá, boquiaberta, antes de


começar a rir. — O que lhes disse? — perguntei.

Iver sorriu. — Simplesmente os felicitei por um


trabalho bem feito. — assegurou. — É importante
reconhecer os funcionários públicos. São muitas vezes
desvalorizados.

A porta da casa da governanta abriu e exalei


bruscamente quando dois homens saíram do prédio e
caminharam em direção ao carro.

— Os visitantes — observou Iver. Olhando para mim,


pausou. — E... Espere um minuto. Sabe quem são eles.
Neguei e engoli em seco. — Não.

— Não minta para mim. — advertiu. — Esqueceu que


posso ler as pessoas? — a expressão em seu rosto diz tudo.

— Não é nada. — indiquei. — Ninguém.

Coloquei o carro em movimento, pronta para passar


por eles e sair de lá, mas não conseguia. Ao invés, fiquei
sentada com o olhar fixo em Silas. Vi a porta do lado do
condutor abrir e a luz traseira acender. Quando o carro saiu
da frente da casa, vacilei.

A pequena voz em minha cabeça dizia que era uma


ideia estúpida segui-lo.

Não o faça. — pensei. —Deixe-o ir.

— Posso ver o que quer fazer. – informou Iver. - E se,


por um momento, acredita que a deixarei seguir alguém que
não está envolvido neste trabalho por causa de uma razão
pessoal, sem saber todos os detalhes sórdidos, não me
conhece bem o suficiente.

Ignorei Iver e coloquei o carro na estrada devagar,


longe o suficiente de Silas para que não pudesse nos ver.

Se havia uma coisa que sabia fazer, era seguir alguém.

Foi uma das minhas aulas quando crescia. Quando


tinha 8 anos, me especializei em bater carteiras. Meu pai
me ensinou seus truques com as cartas e aos 10 anos era
especialista no poker e aplicava golpes jogando bilhar.
Estive envolvida na maioria dos golpes dos meus pais como
apoio, mas, na adolescência, era realmente boa no que fazia.

Muito boa.

Meus pais estavam orgulhosos. Mentir e fugir eram


minha segunda natureza. Fugir de uma perseguição era tão
instintivo quanto respirar. Seguir alguém sem ser vista
demorou um pouco mais.

Minha educação não foi exatamente normal. Foi


altamente incomum. E por incomum, queria dizer muito
fodida para os padrões da maioria das pessoas. Enquanto
outras crianças aprendiam a ler e escrever, aprendia a arte
de bater carteiras e o carteado.

Algumas crianças aprenderam a Regra de Ouro, eu


aprendi o Código do Ladrão.

A mão do meu pai voou até meu pulso, rápido como


um raio e me olhou com um sorriso afetado, seu dente de
ouro brilhando a luz do sol.
— Capturada.

— Merda. — Puxei minha mão e coloquei-a no bolso


do meu casaco esfarrapado e desgastado.

— Hannah Wilde. — disse olhando para minha mãe.


— Sua filha acabou de fazer uma tentativa excessivamente
desajeitada para levar minha carteira.

— Minha filha? — minha mãe estava na frente da


casa, sentada em uma cadeira de balanço com um jornal
cobrindo seu rosto. Soltou o jornal, em seguida, olhou por
cima do ombro para nós. — As habilidades de roubar
carteiras de Tempest são mais semelhantes às suas do que
às minhas.

Meu pai olhou para mim e piscou. — Melhor sorte da


próxima vez. – aconselhou ele. — Precisa de mais prática.
Já tem 8 anos. Deveria ser mais discreta do que isso.

Suspirei e chutei a pedra no chão sob meu sapato. —


Vamos, pai. — reclamei. — Quando posso tentar de
verdade?

— Tentará quando estiver preparada. – advertiu. — E


só então. Se pude pegá-la, significa que não está pronta.

Eu o segui até a varanda da frente da casa onde


morávamos. Não era a nossa casa, é claro. Era uma farsa.
Ocupávamos, fingindo ser parentes dos proprietários. Já
estávamos lá por duas semanas.

— Pai? — perguntei.

Ele sentou-se na varanda, em seguida, tirou um


baralho de cartas e começou a embaralhá-las. As cartas
voavam pelo ar como um borrão. Sentei-me a sua frente,
hipnotizada como sempre pelo movimento.

— Gosto daqui. — falei.

Ele não respondeu, continuou embaralhando, os


dedos voando. — Podemos ficar aqui? — perguntei.

Minha mãe me olhou por cima do jornal. — Quer


dizer, como pessoas normais?

Assenti com o pensamento de ser uma pessoa normal,


alguém com uma casa e amigos, alguém que se hospeda
em um lugar, como algo saído de um sonho.

— Não está destinada a ser uma pessoa normal, me


ouviu? — admoestou meu pai, parando de embaralhar as
cartas. Colocou três cartas na pequena mesa entre nós, em
seguida, fez um gesto em minha direção. — Sente-se. É
uma vigarista, entende isso? É o seu direito de
primogenitura. Quer trabalhar para outra pessoa toda a
sua vida? Ser uma escrava do sistema?
Exalei pesadamente. — Não. — respondi. Não sabia o
que isso significava, mas pareceu ruim. — Mas poderíamos
ficar em um lugar. Sem ter que mudar tanto.

Meu pai me deu um longo olhar. — E o quê? Encontre


a Rainha. — ordenou, fazendo uma pausa por um
momento, enquanto esperava que escolhesse uma carta, o
que fiz, de forma incorreta. — Se finca raízes, morre. É tão
simples como isso. Não existe permanência em um lugar
para pessoas como nós. Você é uma andarilha. Está em seu
sangue. As pessoas que trabalham para alguém são
enganadas. As pessoas que possuem as empresas são os
verdadeiros vigaristas.

Apontei para a carta do meio.

Sem raízes. Viajar estava no meu sangue.

Agora sentar aqui com os meus pais era um engano,


um período de calmaria em uma vida caótica.

O problema é que gostei da calmaria. Foi


reconfortante. Seguro. Queria ficar em um lugar. Mas
sabia que era temporário, que algo ruim esperava justo do
outro lado da esquina. Sempre era assim.

— Observe a carta. — censurou. — Esta vida não é


algo que escolhe fazer. É algo que nasce com você. É uma
garota de sorte. Todas essas outras pessoas cuidando de
suas vidas? As vítimas? É mais esperta do que eles.
Aprenderá como o mundo funciona. Você guia ou é guiada,
entende isso?

O problema era que não queria enxergar dessa


forma: nós contra eles. Inclusive se fosse assim, então
queria ficar. Ficar na periferia odiada por todos não era
vida. Isso era o que não entendia.

Ele bateu na mesa, o dedo perto das cartas. — Agora.


— exigiu. — Onde está a rainha?

O Mustang de Silas não era exatamente difícil de


seguir, um brilhante carro azul que se destacava,
especialmente enquanto atravessávamos as ruas deste
bairro de merda.

— Está distraída novamente. — indicou Iver. — Posso


supor que esteja preocupada pensando em um dos homens
no carro. Odeio ser o portador de más notícias, mas estou
receoso em precisar salientar que este pequeno passeio terá
de parar porque temos de nos encontrar com Coker.

Coker.
Droga. — pensei. — Mantenha sua cabeça no jogo,
Tempest.

Agia como uma adolescente apaixonada, seguindo


Silas. Perseguindo. Era uma loucura.

O que faria, mesmo se descobrisse onde Silas estava


hospedado? Era estúpido e era mais esperta do que isso.

— Agora. — disse Iver. — Fale de uma vez.

— Não há nada para dizer. — assegurei, observando


Silas virar em uma rua. Praticamente forcei-me a manter o
volante em linha reta para não segui-lo. Da minha visão
periférica vi o borrão do carro azul desvanecer-se à
distância e exalei. — É apenas um fantasma do passado, isso
é tudo.

Iver bufou em desacordo. — Esse garoto não parece


um fantasma para mim. A julgar pela expressão em seu
rosto quando o viu, diria que é uma parte muito importante
do seu presente.

Não respondi. A última coisa que precisava agora era


que Silas fosse parte do meu presente. Ele era passado e é
onde ficaria. Deixei-o para trás em West Bend.

Silas e eu éramos história antiga.


Capítulo Sete
Silas
Trigg desligou o telefone. — Abel saiu do hospital. —
Disse —Recebeu alta ontem à noite. Está bom para sair.

— É um alívio. — disse. Só pensar no que o maldito do


Coker fez para Abel e para nós três, me matava.

— Vamos tomar umas cervejas. - disse Trigg. – Vamos


celebrar. Abel nos encontrará.

— Sim. — respondi. — É uma maldita celebração Abel


parar no hospital por causa daquele idiota.

— Tudo bem, pessimista. — disse Trigg. — Que tal se


comemorarmos a sua recuperação? Pode resmungar, ficar
chateado e descobrir como matar Coker.

Resmunguei. — Isso soa melhor.

— Por favor, diga que não atirará no homem quando o


vir. Não em plena luz do dia, de qualquer maneira. — Trigg
enfiou a mão na mochila que colocou no chão do carro e
abriu um saco de batatas fritas.
— Ah, cara. — disse. — Não no carro do meu irmão.
Será o único a ser baleado em plena luz do dia se deixar
migalhas por todo o lugar.

Trigg me ignorou, colocando uma batata em sua boca


mastigando com força, em seguida, limpou os cantos de sua
boca enquanto continuava a comer.

— Estou morto de fome, homem. — disse. — Preciso


comer.

— De qualquer maneira, atirei quando o vi pela última


vez, mamãe? — perguntei.

Trigg estreitou os olhos. — Não. — respondeu. — Mas


isso foi na luta.

— Então? — perguntei distraidamente. A luta. Tudo


que lembrava da luta era Tempest ao lado do Coker.
Parecendo o pecado naquela roupa que usava, a saia
abraçando sua bunda curvilínea.

— Estava distraído. — disse — E, além disso, tinha


testemunhas.

— Diz que ele não merece levar um tiro? — perguntei.


— Depois do que fez comigo? Com Johnny? A forma como
machucou Abel ao atropelá-lo e fugir?

— Não é o que disse e sabe disso. — Trigg falou —


Coker merece mais do que levar um tiro. Emboscando os
lutadores do jeito que fez? Só digo para não fazer algo em
plena luz do dia, apenas isso.

— Não sou um idiota.

— Não disse que era um idiota, idiota. — falou. — Só


quero saber o que acontece em sua cabeça.

— Cala a boca e coma suas batatas, Trigg. — falei. —


Não te convidei para conversar sobre sentimentos. Coker é
um perigo para a segurança. Fim da história.

— Jade também era. – disse.

Ri o som amargo. Não ouvia esse nome há algum


tempo.

— Jade. — Cuspi o nome. Jade era minha ex-


namorada, a que me traiu. Traição era uma palavra muito
amena para o que fez. Tentativa de homicídio era mais
preciso. Não sabia se deu a mínima para mim ou se
trabalhava para Coker desde o início. Coker sabia que era
muito paranóico fazer algo por conta própria, por isso que a
usou. Ela foi a única que colocou algo em minha bebida no
dia da luta.

Jade podia ir para o inferno, que não estaria nem aí.

— Ela não está em nenhum lugar, você sabe. — disse. –


Saiu do radar. Provavelmente está em algum lugar no
deserto.
Já sabia. Jade desapareceu após aquela luta, meses
atrás. Tentei conseguir uma pista do seu paradeiro antes de
ir embora, mas não consegui nada. Não sabia se Coker a
protegia ou se estava morta. Para ser honesto, depois do que
fez para mim, esperava que fosse a última.

— Bom destino. — disse-lhe. — A mesma merda


deveria acontecer com Coker. Poderíamos deixá-lo no
deserto.

Trigg me olhou do banco do passageiro, com um


sorriso no rosto. — Sim, claro, só precisamos matá-lo e
deixá-lo no deserto. Não tem problema. — parou por um
momento. — Um garoto bonito como você ficará bem na
prisão.

— Cala a boca antes que arranque esse maldito sorriso


de seu rosto. — disse.

— Falando sério. — disse Trigg. — Alguns amigos meus


estão com um clube de motociclista que organizam alguns
combates, apostas e coisas para algumas pessoas ricas. The
Inferno MC. Tenho certeza de que desapareceriam com
Coker.

— Ou nós mesmos poderíamos fazê-lo.

— Alguma vez eliminou um corpo? — perguntou Trigg.


— Não é fácil. Não é um maldito programa de televisão.
Sabe em quanta merda forense precisa pensar?
Ri. — Está assistindo muito CSI2.

— Não estou brincando, homem. — falou. — Você é um


gênio. Deveria saber disso.

— Por que acha que não dei conta dele? — perguntei.

Trigg deu de ombros. — Não sei o que passa nesse seu


grande cérebro. – disse. — Só pensei que empacotou suas
coisas e abandonou Las Vegas por West Bend.

— Preciso voltar. — falei. Bati meus dedos no volante,


pensando em toda a porcaria que precisava lidar em casa
quando voltasse.

— Sim. O que aconteceu com sua mãe foi ruim. — disse


balançando a cabeça.

— Acho que sim. — Não tinha mais nada a dizer sobre


isso. Ponderei o suicídio de minha mãe desde quando
aconteceu. Overdose por comprimidos e bebidas não era
seu estilo. Não que duvidasse que fosse capaz de suicidar-se.
Mas havia razões para não o fazer. Como o fato de que o
idiota do meu abusivo pai estava finalmente fora da sua
vida. Não fazia sentido se matar depois que seu algoz estava
finalmente morto.

2 CSI: Crime Scene Investigation é uma série televisiva de ficção. Também


conhecida como CSI: Las Vegas.
— Tomaremos algumas cervejas, cara. Limparemos sua
mente dessas coisas. — a voz de Trigg interrompeu meus
pensamentos. — Hoje à noite, um dos caras da academia
colocará uma garota trabalhando como garçonete em um
dos hotéis de luxo daqui. Ela nos ligará, nem precisaremos
pagar.

— Tudo bem. — concordei. — Essa noite. Ei, perguntou


por aí sobre a garota que estava com Coker na luta?

Trigg comeu outra batata. — Oh sim, esqueci de te


dizer. — disse. — Ela foi a alguns ginásios da cidade. Uma
produtora de televisão que lida com lutas chinesas ou
alguma merda do tipo. Um canal fechado. Maggie algo.
James? Jameson. Maggie Jameson.

— Lutas chinesas. — pensei.

Trigg jogou as migalhas das batatas fritas de seu colo


no chão. Fiz uma nota mental para deixar o carro limpo
antes de Elias ver e ter um ataque cardíaco. Podia vê-lo,
agarrando-se a seu peito antes de ter um colapso somente
com a ideia de migalhas nos assentos de seu carro.

— Não sei. — disse. — Oriente Médio, talvez. Algo


assim. Algo de canais estrangeiros? Quer dizer, realmente,
quem se importa?

Então Tempest agora se chamava Maggie. Era uma


produtora de televisão internacional. Ou, mais provável, se
passando por uma. O pensamento quase me fez rir. Um
monte de besteira.

Elias ligou mais cedo, sem dúvida, querendo saber


onde o seu carro estava, mas o ignorei. Não avisei Luke ou
Killian. Sequer sei se ainda estavam na cidade. Precisava ir
para casa. Nada me prendia mais aqui, agora que a luta
terminou.

Exceto Tempest.

Ela aplicava algum tipo de golpe. Só podia ser isso. E


se estava aplicando algum golpe em Coker, com certeza
queria saber o que fazia. E, com certeza, queria estar
envolvido disso.

Tempest
Entreguei a Coker um pedaço de papel com os
números de conta.

Ele pegou, o tremor em sua mão traindo seu


nervosismo. — Então é isso. — falou.
— Sim, é isso. — respondeu Iver, olhando para Coker
sobre a borda do copo que doou para a reunião. Sua voz não
poderia ter sido mais saturada com esnobismo se tentasse.
Tive que esconder um sorriso. Iver era excepcionalmente
bom em jogar duro com uma vítima. Era uma de suas
melhores habilidades — Mas se for demais para você,
aconselho reconsiderar.

— Sim. — disse, dando um sorriso para Coker. — É


muito dinheiro e um risco para certo tipo de pessoas.
Certamente deve consultar um conselheiro se é o tipo de
homem que requer esse tipo de confirmação, porque esta
transação é destinada para homens que não se preocupam
em correr riscos.

Iver revirou os olhos e olhou para Coker com desdém.


— Sim. — disse. — Suponho que um milhão de dólares é
uma quantia considerável para algumas pessoas.

Coker pigarreou, o rosto avermelhado. — Um milhão


de dólares não é uma mudança simples para a maioria das
pessoas.

Iver virou para mim, com a mão em meu cotovelo, me


puxando para longe de Coker, em direção à porta.

— Disse que era um erro, lidar com um novo


investidor. — disse em um sussurro. — Você e as vibrações
que recebe das pessoas, almas gêmeas e tudo isso. É uma
tendência adorável, mas realmente deve desistir.

Virei para Coker. — É muito incomum considerarmos


um acordo com um investidor que não conhecemos
pessoalmente por longo tempo, Sr. Coker. Apenas
considerei isso por causa de sua reputação em ajudar seus
lutadores por qualquer meio necessário. — enfatizei as
palavras. Queria dar a entender que era um vigarista, que
sabia que era um homem podre por dentro. — Sinto que
compartilhamos certa sensibilidade, se quiser chamar
assim. Mas não necessito de sua ajuda.

— Compartilhamos o mesmo tipo de sensibilidade. —


disse — Esses lutadores são nossa matéria prima.

Iver o interrompeu. — Não estou confortável com este


arranjo.

O quê? — O rosto de Coker ficou ainda mais vermelho.


Olhou entre eu e Iver. — Disse que tínhamos um trato. Um
acordo.

Coloquei minha mão na manga de Iver. — Roger, por


favor. — disse. — O Sr. Coker é exatamente o tipo de homem
que entende o que tentamos fazer.

Coker assentiu. — Sim, faço. E os espectadores querem


o tipo de lutador que posso oferecer.
— Nossos clientes têm tudo, Sr. Coker. — falei. — São
líderes mundiais que precisam conter os seus apetites em
público. Querem uma experiência de luta mais autêntica e
estão dispostos a pagar um preço por isso.

— Não tenho nenhum problema em investir o dinheiro.


— riu nervosamente. — É só que, no meu lado do negócio,
um milhão de dólares é um grande investimento.

Iver suspirou alto e revirou os olhos, olhando Coker de


cima para baixo antes de me olhar novamente. — Não sei. —
disse. — Parece apenas mais problemas para lidar com um
investidor pequeno, o adicionando no rebanho. Poderíamos
simplesmente perguntar a um dos outros investidores se
querem aumentar a sua contribuição para um milhão.
Tenho certeza de que Billy Murdoch concordaria.

Coker arregalou os olhos. — William Murdoch é um


dos investidores?

Iver levou a mão para sua boca. — Falei demais.


Devemos sair. — Arregalou os olhos quando olhou para
mim.

— Não, não. — disse Coker. — Tenho meu laptop aqui.


Só queria outra reunião como medida de precaução. Estou
pronto para fazer a transferência.

Balancei a cabeça. — Quando estiver pronto.


Iver bateu o relógio, impaciente. — Receio que não
podemos esperar enquanto cuida dos arranjos. — disse. —
Temos outro compromisso urgente. — Atravessou a sala,
sem esperar por mim.

Apertei a mão de Coker. — Perdoe Roger. — falei. —


Ele está tão acostumado a lidar com transações maiores que
esqueceu como lidar com pequenos empresários muito
ricos. Ele foi um pequeno empresário.

— Pequeno... — a voz de Coker falhou, então sumiu.


Sabia que as engrenagens em sua cabeça trabalhavam com o
implícito em minhas palavras, não somente era um pequeno
negociador, muito menor do que as baleias que geralmente
tratávamos, mas que o tratávamos como um caso de
caridade virtual.

O implícito era que o tornaríamos rico. Obscenamente


rico.

Um homem como Coker não resistiria à tentação.

Apertei sua mão, sacudindo-a. — Preciso ir. — falei. —


Manteremos contato.

Então virei e me juntei a Iver lá fora. Permanecemos


em silêncio, mesmo depois que voltamos para o carro.
Enquanto dirigia, Iver tamborilava sobre a tela em seu
telefone. Não estávamos nem mesmo 5 minutos na rodovia,
quando olhou para cima.
— O dinheiro foi transferido. — disse.

Ri incapaz de conter minha alegria. — Fez um trabalho


brilhante lá dentro. — disse. — Seu esnobismo é bastante
convincente.

Iver piscou. — Não deixe o jogo enganá-la, querida. —


falou. — Minha vaidade raramente é parte do golpe.

Ri. — Você sabe, quando começamos juntos pela


primeira vez, não sabia se realmente tinha um coração.

— A convenci do contrário? — perguntou. — E dizem


que não pode enganar um golpista.

— Quem disse isso? — perguntei. — Isso não é um


ditado. Claro que pode enganar um golpista. Dizem que não
pode enganar um homem honesto.

— Tenho receio que não é muito preciso, também. –


falou.

Enganou pessoas honestas? — perguntei.

Iver bateu em seu telefone, distraído. — Não, desde


que me fez ver o erro em meus atos. — disse. – Sou um
homem mudado. Reformado.

— Um santo regular. — falei.


— Você é a pequena Srta. Robin Hood por um longo
tempo. Disse Iver, tirando os olhos do celular. — Alguma
vez enganou uma pessoa honesta?

— Uma vez. — respondi com a imagem de Silas em


minha mente. — Muito tempo atrás.

Depois de tudo, o amor definitivamente era uma farsa,


não era?
Capítulo Oito
Silas
— Desculpe homem! Perdi a luta. — Abel disse quando
se sentou à mesa no bar, com uma perna engessada. — Ouvi
dizer que foi épica.

— O quê? — falei. — Está se desculpando por Coker te


colocar para baixo? Está brincando comigo?

Riu. — Não. Jamais pediria desculpas por isso. Só


fiquei triste por perder o seu retorno. Quer dizer, se lutasse
contra mim, passaria vergonha porque chutaria a sua
bunda.

Levantei meu copo de cerveja. — Bem, um brinde para


o fato de que chutei o traseiro do Rush ao invés de chutarem
a minha bunda.

— Um brinde — disse Trigg enquanto se levantava. —


Agora, beba. Stacey trabalhará somente até as dez e, até lá, a
cerveja é de graça.

Bebi o último gole, tirei o copo da mão de Abel e os


entreguei a Trigg. — Aí está.
Uma mão me bateu forte no ombro e virei esperando
precisar bater em alguém. Ao invés disso, me vi cara a cara
com um homem mais velho, usando um suéter cinza e uma
bengala na mão.

— Você é aquele lutador. — afirmou. — O vi na luta da


outra noite. Foi bastante notável.

Este velhinho assistia lutas amadoras? O olhar de


incredulidade deve ter refletido no meu rosto, porque ele
riu.

— Ah, que isso! Até mesmo um velho como eu precisa


de algum hobby. — disse. — Apostar em lutas é um dos
meus. Você me fez ganhar dez mil.

Assobiei. — Parabéns. — Deve ser bom, pensei. Dez mil


era mais do que a bolsa da luta.

— Bem, vamos. — falou. — Se estiverem dispostos, há


um bar no piso superior reservado exclusivamente para os
jogos. As bebidas serão por minha conta. Qualquer coisa
que quiserem. O céu é o limite.

Abria a boca para recusar, algumas cervejas baratas


estava bem para mim, quando Trigg, que estava ao meu
lado, se adiantou.

— Bebidas grátis no bar superior? — perguntou —


Absolutamente.
— Obrigado. — disse. — Mas beberemos cerveja neste
bar, como os outros plebeus.

O velho riu. — Bem, se mudar de ideia. — me disse e


entregou um cartão. — Precisará deste cartão para acessar
os andares superiores.

Sem dizer nada, se virou e se afastou.

Trigg pegou o cartão da minha mão.

— Bem, rapazes. — disse — Hoje à noite beberemos


como os ricos fazem. Isso inclui você, Silas.

Tempest
Iver me entregou uma taça de champanhe. — Por outro
trabalho bem feito. — disse erguendo o copo. — Onde está
Oscar?

Como se fosse um sinal, a porta da suíte abriu e Oscar


entrou.

— Estou aqui. — Disse — Fui tomar um pouco de ar


fresco.
Emir lhe entregou uma taça. — O dinheiro foi
depositado em contas que a família será capaz de acessar
por debaixo do radar de qualquer entidade governamental.
Menos nossas ações, é claro.

Iver assentiu. — Darei a notícia para Deborah.

Suspirei. — Qual é o próximo, meninos?

Iver deu de ombros. — O sul da França é agradável


nesta época do ano.

— Emir? — perguntei.

— Tenho um vôo para sair da cidade amanhã. — falou.


— Há uma convenção de quadrinhos e um novo jogo de
vídeo game pelo qual morro de vontade para me trancar
com ele por uma semana.

— E você, Oscar? — perguntei. – Algum plano de


viagem prolongada?

— Oh, você sabe. – disse. — Um velho como eu não


persegue modelos, nem faz viagens prolongadas mais.

Iver riu. — Não deixe que ele conte histórias, Ariana. –


me chamou pelo meu nome de guerra. — Oscar tem mais
vida em seu mindinho esquerdo do que todos nós em nosso
corpo inteiro. O que está realmente tramando, velho?
Oscar riu. — Creio que passarei um mês em Roma. –
disse.

Iver suspirou. — Havia uma garota italiana uma vez...

Emir levantou a mão. — Nós, meros mortais, não


precisamos ouvir sobre suas aventuras com modelos e
herdeiras.

Os olhos de Iver brilharam. — Falando de herdeiras, há


a filha de um magnata que realmente devia verificar.

Emir fez uma careta. — Não se cansa de ser um


mulherengo? — perguntou.

Iver sorriu. — Não entendi a pergunta. — disse,


virando-se para mim. — A pergunta faz algum sentido para
você?

Ri. — Meninos, parem de brigar.

— Quais são seus planos para o tempo livre, Ariana? —


perguntou Oscar. — Deixará a cargo do destino?

Depois de um trabalho, normalmente ia para o


aeroporto, sem bagagem e sem planos e pegava qualquer
vôo disponível que me agradasse. Acho que lançaria um
dardo em um mapa ou algo assim e realmente deixaria o
destino decidir. Talvez fizesse isso, em algum momento no
futuro. Mas desta vez, voltaria para o Colorado. Minha avó
ainda estava lá. Fazia quase um ano desde que furtivamente
voltei para vê-la e isso era suficiente.

Tomei um gole da taça. — Acho que sim. — menti. —


Nos reuniremos em Nova York da próxima vez, rapazes?

Outra regra de um vigarista, sempre se manter em


movimento. Mudamos de cidades e identidades como as
pessoas mudam de roupa.

— No Four Seasons, acho. — disse Iver. — Ou no Ritz.

— O Ritz. — disse Oscar. — Agora, vamos para o


restaurante jantar?

Iver fez uma pausa. — Oscar, parece como o gato que


comeu o canário. — disse — O que planejou?

Emir torceu o nariz. — Por favor, diga que não falou ao


maitre que era um dos nossos aniversários. - disse ele. — Se
tiver que ouvir a equipe de garçons cantarem para mim...

— Oh Deus, Oscar. — disse. — Se tem algo na manga...

Oscar levantou as mãos, em rendição. — Um homem


idoso não pode jantar com amigos sem seus motivos serem
questionados a cada momento? — perguntou, exalando
pesadamente. – Os vigaristas são as pessoas menos
confiantes do mundo.

Iver riu. — Falou como um homem culpado.


Capítulo Nove
Silas
— Puta merda! Este lugar é uma loucura. — disse Trigg
com a voz um pouco abafada, da maneira que pessoas
bêbadas tentam sussurrar.

— Podemos pedir comida e tudo, certo? — Abel se


inclinou para mim. — Tenho medo que venham atrás de
nós com uma conta insanamente alta.

Tinha minhas dúvidas, mas neguei. — Parece que está


tudo certo. — admiti. — Quer dizer, inclusive nos deixaram
entrar vestidos dessa forma.

Não estávamos exatamente com roupas de ginástica,


mas também não estávamos vestidos como as poucas
pessoas — a maioria casais — aqui no restaurante mal
iluminado. Vi dois casais serem escoltados pela área do bar
em direção ao restaurante e usavam ternos e vestidos.

E eu que pensei estar realmente bem vestido hoje à


noite, com jeans e camisa polo. Com certeza nos
destacávamos, inclusive por que o bar estava vazio.
— Charuto, senhores? — um homem apareceu ao lado
da mesa, de smoking e carregando uma caixa.

— Porra, sim. — Trigg disse, então limpou a garganta.


— Quer dizer, sim. Por favor. Seria excelente, Senhor.

Ao meu lado, ouvi Abel segurar uma risada. —


Elegante. — disse em voz baixa.

Pegamos os charutos e os colocamos sobre a mesa.

— Isso é que vida. — disse Trigg. — Se me tornar


profissional, minha vida será assim o tempo todo.

— Se você se tornar profissional. — disse Abel —


Treinaria e viveria limpo para não perder tudo pelo qual
trabalhou tanto.

— Merda, homem. — Trigg disse, apontando para o seu


corpo. — Este corpo é uma maldita máquina. Ele pode lidar
com qualquer coisa que jogue nele.

Abel riu. — Seja como for, homem. — disse — Deixe o


tempo passar. Espere até que esteja com 30. Merda, com 25
anos.

— Isso está muito longe. — disse Trigg. — Neste


momento, estou na minha melhor condição. Todos nós
estamos.
— Sim, homem, olhe para mim. — disse Abel,
apontando para a sua perna engessada. — Sou a definição
de melhor condição, aqui mesmo.

Aconteceu de olhar pela sala enquanto riam. E, de


repente, tudo se desvaneceu no fundo.

Era ela.

Tempest.

Estava parada na entrada do restaurante, com um


vestido preto que brilhava na luz de velas e deslizava sobre
todas as suas curvas. O vestido sem alças não escondia as
tatuagens ao redor de seus antebraços e bíceps e
serpenteava em seu ombro. Deveria parecer conservadora e
elegante no vestido que usava, era esse tipo de vestido, mas
não pareceria mais ousada se tentasse.

Claro, poderia vestir um saco de papel, por tudo o que


importava para mim, que não conseguiria tirar os olhos
dela.

Quando seus olhos encontraram os meus, seus lábios


se entreabriram, apenas ligeiramente.

Era como se tudo no mundo parasse naquele


momento.

Eu me levantei.
Sabia que deveria sentir-me zangado por ter fugido.
Sabia que não deveria ter nada a ver com ela. Ela era uma
ladra que fez promessas, fugiu com coisas que eram
preciosas para mim.

Incluindo meu coração.

Mas simplesmente não podia negar. Eu a queria.

Atravessei a sala, ouvindo Abel protestar de onde


estava sentado à mesa. — O que está fazendo, Silas?

— Puta merda. É a produtora de TV. — disse Trigg,


assobiando. — Ele tem algumas bolas. Ela está fora do seu
alcance. Ela está com o cara rico, aquele que pagou nossas
bebidas.

Atrás dela, havia um grupo de homens. Eram


despretensiosos, insignificantes, de nenhuma maneira
parecia que pertenciam ao mesmo grupo. Um deles usava
um terno caro, como uma espécie de modelo masculino. O
outro um moletom com capuz, tênis e óculos de armação
preta. E o homem mais velho, o que nos convidou, estava
atrás deles com um casaco de lã, segurando uma bengala.

Senti algo que não conseguia nominar, vê-la com eles.


Esses homens só podiam trabalhar com ela, as pessoas com
as quais escolheu ficar.

Sua equipe.
Uma onda de ciúme me dominou, esse sentimento de
possessividade que não conseguia abrir mão. Ela foi minha
uma vez.

Ou melhor, uma vez pensei que fosse minha.

Disse a mim mesmo que já não tinha direito sobre ela.


Nunca tive, mesmo naquela época.

Parei a poucos metros de distância do grupo, olhando


para o velho. — Você.

Tempest virou e olhou atrás dela. — Oscar. Disse com a


voz voz suave. — O que fez?

Ele deu de ombros. — Sou simplesmente um homem


velho, à procura de uma refeição. — Disse, pegando no
cotovelo do homem de terno e chamando o maitre. — Creio
que há uma mesa no outro extremo, ali perto da janela,
perfeita para nós três.

O nerd com os óculos tirou os olhos de seu celular. —


Estamos em quatro.

O homem de terno deu um tapa nas costas dele e


limpou a garganta. — Acredito que será apenas três de nós
para o jantar, Emir. — disse.

O grupo seguiu o maitre para o outro lado do


restaurante e dei um passo para frente, mais perto de
Tempest. Tinha o desejo quase irresistível de colocar minha
mão em sua nuca, pegar um punhado de cabelo e puxá-la
para mim.

Ou estrangulá-la.

Não sabia qual sentimento era mais forte.

Ao invés disso, fiquei parado, olhando para ela.

— Tempest Wilde. — disse. — Ou devo chamá-la


Maggie?

Ela ficou parada, sem expressão por um momento.

— Você me encontrou. — disse.

Não tinha certeza se estava desapontada ou com


prazer.

E, em seguida, um sorriso brincava em seus lábios. —


Silas Saint. — disse — Já faz um longo tempo.

Ela abaixou a cabeça, tirou uma mecha de cabelo


castanho e roxo da sua testa e me olhou com os olhos
brilhando. Seu cabelo estava diferente de como me
lembrava. Mas o olhar que me deu era familiar.

Essa parte, não tinha esquecido.


PARTE DOIS
”Quando se está apaixonado, sempre
começa a enganar a si mesmo e sempre
acaba por enganar os outros. Isso é o que
o mundo chama de ROMANCE.“

Oscar Wilde, Retrato de Dorian Gray


Capítulo Dez

Tempest
— O que faz aqui, Tempest? — perguntou Silas. Ficou
tão perto de mim que não conseguia pensar em nada, exceto
de como era bom sentir seus lábios pela minha pele.

— Uma garota sente fome. — disse. Assim que as


palavras saíram da minha boca, percebi o quanto soaram
sugestivas. Silas fez um som em sua garganta, baixo e
gutural.

Fiquei parada, bebendo na sua presença. Queria ficar


ali para sempre, com minha vida em espera.

— Estava na luta. — Disse — Maggie Jameson é como


se chama agora?

— Tempest. — disse. — É Tempest. Sempre fui.

Ele riu, mas não havia nenhuma alegria no som, era


apenas amargo. — Seu nome era real, então? — perguntou.
— Essa era a única coisa que não era uma mentira.

— Sabe que não é verdade, Silas. — disse com a voz


suave. — Com você, era real. Éramos real. — pensava que o
enganei, arrancado seu coração e deixado West Bend,
deixando-o, sem me importar com nada. Não sabia como foi
difícil deixá-lo para trás. Sua mãe tinha razão. Iria apenas
destruí-lo. Ele não tinha ideia de como era difícil estar de pé
a sua frente agora.

— Sei Tempest? — perguntou. — Não sabe o


significado da palavra real.

— Te amei uma vez. — disse sinceramente. Uma vez. —


Naquela época, isso foi real.

Algo brilhou em seu rosto de forma dolorosa e intensa


e quase lamentei dizer-lhe a verdade. Foi um erro dizer algo
que lhe causaria mais dor, anos mais tarde.

Silas deu um passo adiante tão perto de mim que podia


sentir seu hálito quente, seu rosto a centímetros do meu. Eu
o ouvi inalar e cada célula do meu corpo respondeu à sua
proximidade, antecipando seu toque.

Desesperada por seu toque.

Queria saber se seus lábios ainda eram os mesmos.


Queria saber se sentiria o mesmo, como em anos atrás. Se
os nossos corpos se fundiam, encaixando-se como duas
peças de um quebra-cabeça, da mesma forma como quando
éramos adolescentes, inicialmente atrapalhados e ingênuos.

Mas ele não me beijou.


Ao invés disso, passou a mão por meu braço
provocando arrepios em minha pele até que sua mão atingiu
minha nuca. Agarrou meu cabelo, segurou um punhado e
me puxou para perto dele. O movimento provocou um
choque de dor em meu corpo que me fez estremecer.
Seguido imediatamente por uma onda de excitação com seu
toque.

— Lá fora. — rosnou. — Agora.

Mal afrouxou o aperto em meu cabelo, sua mão ainda


no meu pescoço, ele me conduziu ao redor das mesas no
bar, passando por seus amigos e pelas portas de vidro
matizado que davam em uma varanda vazia. A arquitetura
da cidade se estendia a nossa frente, as luzes cintilantes de
Las Vegas prolongavam por quilômetros até desaparecerem
no deserto. Música ecoando suavemente dos alto-falantes.

Silas me empurrou para frente até chegar ao outro lado


da varanda, onde havia um toldo com tecido branco
esvoaçante combinado com almofadas brancas e mesas de
vidro. Sem perguntar, pegou a bolsa da minha mão e
colocou-a sobre uma das mesas. Mal se moveu. Ao invés
disso, levou-me até a beira do espaço, seu aperto inflexível.

Só parou quando atingiu a parede de vidro que se


alinhava na varanda, finalmente soltando-me.
Virei para encará-lo, com o meu coração batendo
freneticamente. — A maioria das pessoas diria ‘Olá. Como
você tem estado? Sente-se. Posso pagar-lhe uma bebida?’
— disse.

Silas não sorriu. Sua expressão era escura, os olhos


mais cinzentos do que o azul suave das minhas recordações,
como o tipo de céu que se vê na praia justo antes de uma
tempestade.

Escuro e ressentido.

Ele deu um passo para frente e eu me inclinei para


trás, a grade fria da varanda contra a minha pele envolta no
tecido de corte baixo do meu vestido. Silas deslizou sua mão
na minha cintura, o gesto possessivo. Quando ele falou, sua
voz era baixa e rouca.

— Gostaria que dissesse Olá? — perguntou.

— Isso seria legal.

— Olá, Tempest.

A maneira como disse, do fundo da garganta, me


deixou fraca e engoli em seco antes de falar. — Olá, Silas.

— Gostaria de sentar? — sua mão deslizou para o meio


do meu estômago, demorando-se por um momento e o
movimento provocou um choque de excitação, como
eletricidade, correndo pelas minhas veias.
— Não.

— Posso te pagar uma bebida? — traçou seu dedo do


meio do meu abdômen, entre meus seios, para o topo do
meu decote e parou ali.

— Não.

Baixou o olhar para o meu peito, enquanto traçava o


contorno da parte superior dos meus seios, logo acima do
decote do meu vestido. Fechei os olhos levemente, me
sentindo com 17 anos novamente, antecipando seu corpo
pressionado contra o meu.

— Não. — disse — Isso dificulta mais. Está feliz agora?

— Eufórica. — disse. — É tão difícil estender um pouco


de cortesia a uma velha amiga?

Ele grunhiu. — Isso é o que somos, Tempest? Velhos


amigos? Por que apareceu de repente em minha vida?

Dei de ombros, o gesto muito mais indiferente do que


sentia. Por fora, era o retrato da calma. Por dentro, era uma
história completamente diferente. — Coincidência. – falei.
— Ou talvez seja apenas o destorcido senso de humor do
universo.

Estava ciente do dedo de Silas parado no topo do meu


peito, imóvel. Minha respiração falhou.
— O que fazia com Coker? — perguntou.

— Não posso lhe dizer, Silas. — Queria explicar, dizer


porque fazia o que fazia, dizer-lhe que não era quem era
naquela época, quando era cúmplice de golpes dos meus
pais. Mas sabia que a explicação seria oca. Além disso, o que
sei sobre Silas agora? Poderia mesmo confiar nele?

Silas me olhou, seus olhos azuis preenchidos com uma


mistura de luxúria e ira. Colocou um dedo por dentro do
decote do meu vestido contra o meu peito nu.

Respirei fundo, saboreando a frescura do ar e olhei


para trás para o restaurante, ciente de que mal bloqueava o
meu corpo com o seu.

— Preferia estar lá dentro com seus parceiros de


negócios? — perguntou, notando o meu olhar. Abaixou mais
seu dedo, roçando o meu mamilo, que imediatamente
endureceu em resposta ao seu toque.

Ouvi um gemido escapar dos meus lábios. — Estou


aqui com você, não é? — perguntei. Não conseguia pensar.
Não quando começou a me provocar, girando o dedo ao
redor do meu mamilo.

— Sim, mas precisei arrastá-la pelo cabelo — disse. —


Se quiser ir... — sua voz sumiu, mas o dedo não parou de se
mover. — não respondi à sua implicação de que estava livre
para ir.
Não verbalmente, de qualquer maneira.

Ao invés disso, arqueei minhas costas ao seu toque.

Dando-lhe permissão.

Silas me pressionou com mais força na grade da


varanda, inclinando-se em mim e afastando os meus joelhos
com a perna. Senti o tecido de meu vestido levantar em
minha coxa. Não tirava os olhos dos meus quando tirou a
mão do meu peito e chegou até a bainha do meu vestido, no
interior da minha coxa.

Balancei minha cabeça. — Aqui não. — mal conseguia


pronunciar as palavras. Excitação inundava minha cabeça,
tornando-se impossível pensar.

— Ninguém pode nos ver. — disse. — Seus dedos


tocaram na parte superior da minha coxa e engasguei.

— Silas. — disse mais como um gemido do que uma


palavra.

— Sem calcinha? — seu tom de voz mais parecia uma


afirmação do que uma pergunta. — Jesus Cristo, Tempest.

Balancei minha cabeça. Era vertiginoso estar tão perto


dele novamente.

— Marca o vestido. — disse suavemente. — Não gosto.

— Porra.
— É isso que procura, Silas? — perguntei. Não tinha
certeza se o desafiava ou fazia uma oferta. — Uma transa
rápida, pelos velhos tempos?

Moveu sua mão, subindo entre as minhas pernas e o


seu dedo encontrou o meu clitóris. Quando me tocou, gemi,
mais alto do que pretendia.

Aproximou-se de mim, sua boca perto do meu ouvido e


falou — Definitivamente transarei com você, Tempest. —
disse. — Mas não será nada rápido. Sentirei você gozar aqui
e agora em meus dedos. E então a levarei para onde quer
que esteja hospedada e recordarei como gozava em meu
pau.

Senti meu rosto esquentar e minhas bochechas ficarem


vermelhas. — Você é descarado, não é? — perguntei. — Não
é exatamente o velho Silas que conhecia.

Silas brincou em minha entrada com a ponta do seu


dedo até que o segurava, apertando meus dedos em seus
braços. Em seguida, colocou seu dedo dentro de mim.

— As coisas mudam. — disse.

— Nem tudo. — disse. Algumas coisas permanecem


exatamente as mesmas.
Silas fez um som baixo em sua garganta, algo
semelhante a um grunhido e me beijou avidamente, sua
língua buscando a minha.

Se fosse possível um beijo ser preenchido com anos de


raiva silenciosa, este era aquele beijo.

Era familiar e estranho.

Silas era familiar e estranho ao mesmo tempo.

Meu corpo parecia pegar fogo, inflamado pelo calor de


seu corpo no meu. Queria rasgar suas roupas, pressionar o
meu corpo no dele, sentir sua pele na minha. Queria que me
esmagasse com seu toque.

Arqueei minhas costas enquanto me beijava. Não


queria que ele parasse de fazer o que fazia entre as minhas
pernas, movendo seus dedos em mim, me acariciando,
deixando-me cada vez mais próximo do orgasmo.

Quando interrompeu o beijo, joguei minha cabeça para


trás, meu cabelo derramando sobre meus ombros. Silas
beijou do meu pescoço até a minha orelha, movendo sua
língua sobre o lóbulo, provocando um arrepio em minha
espinha. — Oh, Deus, Silas. — disse.

Ele sussurrou perto do meu ouvido. — Goze para mim.

— Você não deveria… aqui... Silas. — minha voz estava


ofegante, minhas palavras saindo entre suspiros.
— Goze para mim. — disse insistentemente. Ele me
acariciou, as pontas de seus dedos dentro de mim
pressionando naquele lugar mais sensível.

— Silas... Você... Deve... Parar.

Ele pausou. — Quer que pare? — perguntou. — Esteja


certa sobre isso.

Não. Isso não era o que queria.

O que quero? Pressionei-me em sua mão.

— Isso é um não, então – falou. — Quer que continue.

— Sim. — disse.

Mas não se mexeu. Ao invés disso, passou a língua pelo


lóbulo da minha orelha respirando calor em mim. — Diga-o,
então.

— Sim. Continue. — disse quase com um gemido.

Ele fez um som estalando com a língua. — Realmente


precisa aprender boas maneiras e cortesia. — disse — Peça
direito.

Ri, virei o rosto para encará-lo, meus lábios pairando


contra ele. — Você está brincando.

Ele rolou o polegar sobre meu clitóris. — Dificilmente.


– disse. — O que quer, Tempest? Se quiser que continue,
deve dizer ―Por favor, Silas me faça gozar aqui mesmo, em
seus dedos.‖

Abri minha boca, minha cabeça nublada pelo desejo.


Deus, seria tão fácil, tão incrivelmente fácil, apenas dizer
por favor. Implorar para Silas, do jeito que queria que
fizesse.

Mas foda-se, filho da puta arrogante!

— Não. — disse com os olhos fixos nos dele. — Sabe


que não sou esse tipo de garota.

— O tipo que diz por favor? — perguntou.

— O tipo que pede. — disse, retomando meus sentidos.

Quem Silas achava que era, retornando para minha


vida, agarrando-me pela nuca e dizendo o que fazer?
Dizendo-me que me foderia sem sentido se apenas lhe
pedisse educadamente?

Silas esboçou um sorriso. Com os dedos ainda dentro


de mim, se aproximou, me beijou na boca, desta vez com
cuidado, mordendo meu lábio inferior e puxando-o antes de
soltá-lo.

Então tirou os dedos das minhas pernas e os levou à


boca. Lentamente, passou a língua da base dos dedos até as
pontas.
— Você tem exatamente o mesmo gosto.

Corei com uma mistura de frustração sexual e irritação


pela sua arrogância. Por seu jogo maldito. E irritada comigo
mesma, pela maneira que, quando disse gosto, a imagem
dele nu, recostado enquanto o sugava, passou pela minha
mente.

Não pude evitar, mas me perguntei se ainda tinha um


gosto bom. E o fato de que me perguntava, me deixava puta.

— Deveria voltar para seus amigos. — disse. Enquanto


eu precisava tomar um banho frio. Estremeci com o pulsar
entre as minhas pernas.

Algo que parecia surpresa cruzou seu rosto e senti uma


sensação de satisfação presunçosa. Será que pensava que
realmente me rebaixaria e imploraria para me fazer gozar
aqui? Agora que seu toque não me distraia, a ideia parecia
estúpida. Silas sempre foi arrogante.

— Sim. — Disse – Foi um... Reencontro... Interessante.

Deu um passo para trás e me lembrei de algo. Peguei


minha bolsa na mesa.

— Espera.

Silas fez uma pausa. — O quê?


— Aqui. — Retirei a medalha, a decisão impulsiva,
antes que tivesse a chance de reconsiderar. Havia servido ao
seu propósito, foi um lembrete do que houve entre nós, há
muito tempo. Mas não me deu sorte.

Não tivemos sorte juntos. Foi exatamente o oposto.

Silas virou-a em sua mão, com o cenho franzido. —


Minha medalha do campeonato estadual. – disse.

Balancei a cabeça. — Achei que sabia que a levei.

Olhou para mim. — Você a guardou.

Ri. — Achou que a penhoraria ou algo assim?

Ele ficou parado, imóvel. — Não. Sim. Você levou


minha poupança. Por que não a penhorou?

— Primeiro de tudo. — disse. — É uma medalha de


competição. Não é feita de ouro. Em segundo lugar, do que
fala? Nunca levei suas economias.

— Quando me deixou. – falou. — Fugiu com o dinheiro


que guardei para sair de West Bend. Pegar a medalha do
campeonato estadual foi apenas a cereja no topo do bolo.

Balancei a cabeça lentamente. — Não. — disse. — A


medalha foi a única coisa que peguei e me senti mal o
suficiente sobre isso e sobre sair. Queria dizer-lhe
pessoalmente, mas deixei um bilhete. Sua mãe...
Silas me interrompeu. — Que bilhete?

— Deixei um bilhete em seu quarto no dia em que


meus pais e eu saímos da cidade.

— Não. — disse — Não havia nenhum bilhete. As coisas


simplesmente não estavam lá.

— Sua mãe não te disse? — perguntei reflexivamente


antes que percebesse. — Não, é claro que não. Ela não disse.

Silas olhou para a medalha em suas mãos, em seguida,


novamente para mim, sua expressão difícil de ler.

— Todo esse tempo. — falou. — Pensei que apenas


tinha fugido.

— Pensou que fugi sem dizer nada? — perguntei. — E


roubado suas economias? Sabia para o que era o dinheiro.
Era para sair de West Bend, para ficar longe de seu pai.

Ele me olhou — Para nós. – disse. – Se supunha que


era para nós.

Engoli em seco, de repente minha garganta apertada.


— Sim. – concordei. — Para nós.

— Nos casaríamos. — Disse, virando a medalha


novamente em sua mão.

— Não precisa me lembrar. — rebati — Não é como se


tivesse esquecido.
Não esqueceria. Mesmo se tivesse sido uma vida atrás.

— Te odiei. — disse — Por um longo tempo, te odiei.

Balancei a cabeça piscando, mordendo meu lábio


inferior para me distrair das lágrimas que ameaçavam cair.
— Eu sei.

— Por que a manteve? — perguntou, dando um passo


para frente novamente, se aproximando mais de mim.

— Para me dar sorte. — disse. Era a resposta


automática que dava sempre que Iver, Emir ou Oscar me
perguntavam sobre ela. Seguida imediatamente pela
resposta honesta — Precisava de um lembrete. De você. De
nós.

Silas me olhou firmemente por um longo momento.


Por um momento, era como se fosse aquele mesmo menino
novamente, o que amei antes.

— Tudo bem. — disse — Um lembrete de nós...

Mas suas palavras não eram melancólicas. Mantiveram


toda a promessa do que queria fazer comigo e tremi. Na
ponta dos pés em meus saltos altos, encostei minha
bochecha na dele.

— Leve-me para algum lugar. — sussurrei. — Algum


lugar que não seja aqui.
— Pergunte direito. — disse.

— Por favor.

Ele fez o mesmo som novamente, um rosnado baixo


que sugeria que me curvaria e me levaria aqui.

— Vamos. — Disse com a mão na parte inferior das


minhas costas.

Voltamos para dentro, passando pelo bar onde os


amigos do Silas nos olharam quando passamos.

— Sortudo filho da puta. — Disse um deles assobiando


baixo sob sua respiração.

Virando a cabeça, pisquei por cima do meu ombro


quando passamos por eles.

— Com licença. — O maitre nos parou quando


saíamos. — Srta. Jameson.

— Sim? — Estava distraída pensando em Silas e no que


queria que fizesse comigo.

— Os cavalheiros que estavam com você antes

Olhei através do restaurante para a mesa vazia. — Sim?


— perguntei. — Eles saíram?

Ele assentiu. — Disseram que se responsabilizaria pela


conta.
Ri. — Claro que sim. – Respondi. — Adicione à conta
do meu quarto, por favor.

— É claro. — disse — E Srta. Jameson, eles pediram


para lhe dizer adeus.

— Entendo. – comentei.

A mão de Silas estava no meu braço quando saímos do


restaurante. — Está tudo bem?

Se deixar um grupo de vigaristas sozinhos por 30


minutos, encontrarão uma maneira de deixar a conta para
pagar, mesmo que seja um deles.

— Está tudo muito bem. — disse. — Acredito que


teremos uma suíte só para nós.
Capítulo Onze
Silas
Paramos diante da porta do quarto de hotel de
Tempest e me perguntei se reconsideraria e me diria para
sair. Mas não o fez. Ao invés disso, olhou para mim com os
olhos arregalados e fez aquela coisa com a língua
novamente, aquela coisa onde passa a língua sobre seu lábio
inferior. E tudo no que conseguia pensar era em deixar
hematomas em seus lábios com os meus.

Lembrei-me da forma como sua língua ficava na minha


pele, como sua boca doce ficava ao redor do meu pau. O
pensamento provocou calor que fluiu pelo meu corpo,
deixando meu pau duro imediatamente.

— Aqui estamos. — Tempest disse com a voz


entrecortada. Aquela voz sussurrada era um flashback de
quando tinha 17 anos, quando montou em mim enquanto
estávamos sentados em uma rocha na beira do córrego, seu
hálito quente em minha orelha enquanto me cavalgava, seus
gemidos ecoando no espaço pelo ar livre.

Agarrei sua cintura e a puxei para mim, pressionando


minha dureza contra ela. Quando inspirou, seu peito subiu e
olhei para seu vestido, o decote cavado me deu mais do que
uma dica do que estava por baixo.

Uma dica.

Lembrei-me de tudo o que estava debaixo daquele


vestido como se fosse ontem. Minhas mãos tinham seu
corpo memorizado, cada curva, cada ângulo.

Exceto, é claro, que isso foi quando tínhamos 17 anos.


Tudo nela mudou. Não era a mesma garota por quem me
apaixonei. Não, a Tempest que segurava agora estava
crescida.

E guardou aquela maldita medalha todo esse tempo.

Não sabia no que pensar sobre ela. A odiava por sair do


jeito que saiu. A odiava por fazer o que fez, ajudando seus
pais com o golpe que arruinou as mesmas pessoas na cidade
que já desprezaram a minha família antes mesmo que me
relacionasse com ela.

Ela fez as piores coisas para mim. Não entendia isso.


Ou não se importava.

Mas aqui estava ela, em meus braços novamente, todas


as curvas, tatuagens e descaramento. E a queria.

Passei minhas mãos pelos seus quadris, seguindo o


comprimento de seu vestido até que terminou. Levantei a
barra do seu vestido, então as coloquei por baixo e ao redor
de seus quadris, apertando sua bunda cheia de curvas.
Quando Tempest riu, era o som mais familiar do que
qualquer outra coisa no mundo. Ela bateu em minhas mãos.

— Silas, meu vestido está na minha bunda. — disse.

— Oh! Verdade? — apertei mais forte sua bunda. —


Isso não é decente, em absoluto.

— Solte-me, antes que alguém passe pelo corredor.

— Quem passará por aqui? — perguntei. — Gosto desta


bunda. Costumava adorar esta bunda.

— Bem, todos não precisam vê-la. — disse. Mas sorria.

— Então é melhor se apressar com esse cartão-chave.


— disse. — Porque, com certeza, não pararei de tocá-la.

Tempest riu novamente e foi impossível resistir ao


som. — Vê-la fez alguma coisa para mim. Despertou em
mim coisas que pensei enterrado há muito tempo.

Seus lábios abriram um pouco e não queria esperar por


uma resposta. Tirei uma mão da sua bunda e a coloquei em
sua nuca, puxando-a contra a minha boca. Ela se abriu para
mim, a língua pressionando na minha, gemendo em minha
boca enquanto me beijava.
Então, tão rapidamente quanto o beijo começou, ela
colocou as mãos em meu peito e me empurrou, seu batom
borrado em seus lábios, agora devido ao beijo.

— Espere. — disse. — Tenho o cartão-chave aqui. — Ela


se atrapalhou com o fecho em sua bolsa e coloquei minhas
mãos novamente onde estavam, acariciando sua bunda. —
Tire suas mãos, Silas.

Peguei o cartão-chave de seus dedos e coloquei-o na


maçaneta da porta, abrindo-a. Agachando-me ao seu lado,
ali mesmo no corredor, levantei a saia acima da sua bunda,
meus braços em volta de suas coxas, segurando-a no lugar.

Tempest gritou. — O que está fazendo, Silas?

— Não tenho certeza se me lembro da sua bunda. —


disse. — Faz muito tempo. Preciso de uma visão mais
próxima.

— Não aqui. — disse

— Está certa. — Antes que protestasse novamente, me


inclinei nela, levantando-me com ela sobre meu ombro, sua
bunda perto da minha cabeça, saia amontoada até a cintura.

— Silas Saint. — disse — Coloque-me no chão.

— Acho que não. — disse. — Tenho uma visão


privilegiada agora.
— Coloque-me no chão.

Mas não o fiz. Ao invés disso, dei um tapa em uma


nádega enquanto entrava no quarto, em seguida, peguei um
punhado de carne. — Gostava quando te tocava assim.

— Éramos crianças. — disse.

— Tenho certeza que isso é tudo o que era. — disse. —


Éramos apenas adolescentes com tesão, certo? — passei a
mão pela sua bunda cheia de curvas, ainda em meu ombro,
então, toquei meu dedo entre suas pernas, sentindo sua
umidade. Ela se contorceu com o meu toque.

— Silas, abaixe-me agora — disse.

Mas a ignorei enquanto andava pela suíte, passando a


sala de estar e o piano de cauda, observando a opulência
ridícula.

— Jesus, Tempest. Está bem, hein? Quem se hospeda


em uma suíte de hotel com um piano de cauda?

— É uma despesa de negócio. — disse.

— Despesa de negócio. — disse. As palavras saíram


amargas, mesmo que quisesse fazê-las soar dessa maneira.

Tire isso da sua cabeça, disse a mim mesmo. Não


precisa perguntar como Tempest consegue dinheiro. Isto é
apenas uma aventura. Isto é apenas revisitar o passado,
superá-lo e deixá-lo ir.

Quando cheguei ao quarto, coloquei-a na cama. — Ao


seu dispor, minha senhora. — disse na melhor voz de
mordomo que podia. Adicionei um gesto e um arco, só por
diversão.

Tentando aliviar meu humor, mas falhava. Só tornou o


momento mais constrangedor.

— Ao meu dispor? — perguntou. Virou para o lado e


apoiou a cabeça com a mão. Uma mecha de cabelo caiu
sobre seu rosto e colocou-a atrás da orelha. — Se for esse o
caso, é melhor começar a trabalhar.

— Verdade? — perguntei de pé ao lado da cama,


sorvendo-a com os meus olhos. Ela deitou com uma perna
cruzada sobre a outra, seu vestido subindo em sua coxa,
cobrindo a bunda que acabei de apalpar. Perguntei-me se
deixei a marca da minha mão em sua carne e meu pau se
agitou com o pensamento.

Fui para o outro lado da sala e tirei minha camisa, com


a intenção de atirar minhas roupas na cadeira estofada no
canto. Mas parei quando vi a cadeira.

Merda. Essa porra de cadeira provavelmente custa


mais do que a minha bolsa de luta.
Suspirei. Precisava tirar esse tipo de pensamento da
minha cabeça. Tinha uma garota deitada aqui na cama, não
uma simples garota, a garota, a garota a quem daria tudo no
mundo para segurá-la quando éramos crianças, a garota
pela qual faria qualquer coisa e aqui estava ela, quase nua,
deitada em uma cama no hotel mais chique que já estive em
toda a minha vida.

E tudo no que pensava era em como conseguiu o


dinheiro para pagar por esse quarto.

Merda, Silas, qual o seu problema?

Trigg e Abel me chutariam as bolas pelo que passava


em minha cabeça agora.

Atrás de mim, ouvi uma música iniciar, saindo suave


dos alto-falantes e virei para ver Tempest inclinando-se
para pegar um controle remoto sobre o criado mudo.

— O quê? — perguntou sentando na cama. — Você


estava olhando.

— Não estava olhando.

— Estava olhando e não era o mesmo olhar que tinha


um minuto atrás, aquele que dizia que se lançaria sobre
mim.
Balancei minha cabeça. — É todo o lugar, Tempest. —
Tem um maldito piano em seu quarto de hotel. É sempre
assim?

Tempest olhou para baixo, seu cabelo deslizando para


frente protegendo a lateral de seu rosto. Sentou de pernas
cruzadas. — Silas. — disse — Não é o que pensa.

— É difícil de engolir, é o que penso. — disse. — Vendo


tudo isso, pago por pessoas inocentes.

Tempest riu, mas quando olhei para ela, não sorria.

— Inocente. — disse — Sim, claro.

Andei ao longo das janelas que cobriam as paredes do


quarto do chão ao teto, com vista para o horizonte de Las
Vegas. Aquelas luzes nas casas lá fora, onde ficavam pessoas
normais, como eu e meus irmãos.

O tipo de pessoas que ela e seus pais enganavam.

Pessoas como seus pais, Tempest e sua equipe viam as


pessoas normais como alvos. Otários.

— Lembro-me que queria desistir de tudo, sabe. —


disse. Naquela época, quando era importante para mim e eu
era importante para ela, queria deixar tudo para trás.

— Lembro de um monte de coisas, Silas. — comentou.


Eu também. Essa era o problema, pensei. Lembrei-me
de muita coisa. Como o seu sabor. Não poderia esquecer. Ou
o jeito que ficava quando gozava; a expressão em seu rosto,
de prazer desenfreado.

Ou a forma como abaixou as mãos enquanto olhava


para o chão quando me disse que me amava pela primeira
vez, como se estivesse com muito medo de dizer as palavras,
com medo que não dissesse as mesmas palavras.

Não podia esquecer nada disso.

Mas isso foi antes. Antes que descobrisse quem era


realmente.

Virei-me para encará-la. — Não sou estúpido, Tempest.

— Dei a impressão de que acho que é um idiota, Silas?


— perguntou. — Sempre foi uma das pessoas mais
inteligentes que conheci.

— Tudo isso. — disse. — Não conseguiu trabalhando


exatamente em um emprego regular. Não é como se ganhou
isso, de forma limpa.

Tempest olhou para mim com os olhos brilhando.


Saindo da cama, atravessou para o outro lado do quarto e
parou na minha frente. — Não. — disse. — Sabia disso.
Sabia quando veio até aqui. Sabia disso antes de levantar
meu vestido na varanda lá fora e enfiar os dedos dentro de
mim. Se de repente é muito covarde para seguir adiante,
não encubra com alguma merda de crise de consciência.

A raiva me dominou. Maldita! Essa garota me deixava


zangado de uma maneira que nunca me irritou quando
éramos crianças.

A coisa é que estava certa. Fiz um monte de merda


suja, apostando em mim mesmo nas lutas. Tampouco era
como se nunca tivesse aceitado perder uma luta antes,
qualquer uma. Pensava em matar Coker.

Não tinha espaço para ser moralista.

Mas, covarde?

Era como se quisesse me irritar.

Sua cabeça estava inclinada para mim, os lábios


entreabertos, respiração superficial. Podia ouvi-la, até
mesmo sobre a música tocando no aparelho de som — Sam
Smith, implorando a uma aventura de uma só noite para
ficar. — Não sabia se queria dizer a Tempest para se foder e
me afastar dela ou se queria dobrá-la sobre a cama e enfiar
meu pênis dentro dela até que não conseguisse andar em
linha reta.

— Covarde. — disse. Coloquei minha mão em sua nuca


novamente, enfiando os dedos pelos cabelos. A sensação me
fez endurecer imediatamente e precisava me lembrar de não
arrancar seu cabelo da porra da sua cabeça. Queria puxá-la
para mim tão forte.

Ela soltou um pequeno gemido e se inclinou para mim,


com a mão em meu peito. — Faça ou cale-se.

Sua boca se transformou como se me atraísse e ainda


assim não podia resistir. Queria morder a isca.

E então, ela lambeu o lábio inferior e tudo acabou para


mim.
CAPÍTULO DOZE

Tempest
A mandíbula de Silas tencionou e o olhar que
atravessou seu rosto... por um minuto não tinha certeza de
que não apenas me odiava.

Ele me puxou para ele, sua mão segurando meu cabelo


com força. Colocou sua boca na minha e esmagou meus
lábios com os seus, em um beijo insistente e poderoso. Não
era um daqueles beijos amorosos e suaves, do tipo que dois
amantes há muito tempo afastados dariam.

Esse beijo era como uma guerra, sua língua atacando a


minha, a minha lutando com a dele, ambos despejando a
tonelada de bagagem que carregávamos.

Mas me derreti, deixando-me levar pelas sensações.

Não queria falar sobre o passado.

Não queria pensar no que aconteceu entre nós, em


tudo o que perdemos.
Quando Silas se afastou de mim, puxando-me para
longe de seus lábios pelo meu cabelo, exalou pesadamente e
abriu a boca.

Eu o interrompi com medo de que dissesse outra coisa


que não queria pensar. — Não quero mais falar. — disse.

— Então deveria calar a boca. — disse, puxando o meu


cabelo mais forte, puxando o meu rosto para o dele. Mas sua
voz estava finalmente zombeteira. — Talvez deva encontrar
um uso melhor para essa boca espertinha que tem.

Ele me beijou novamente, forte como antes e gemi,


apertando meu corpo no dele. Podia sentir sua dureza e o
queria nu e dentro de mim, o desejo urgente. Mas coloquei
minha mão em seu peito, interrompendo o beijo. — Talvez
devesse. — disse. — Tem alguma sugestão?

Silas fez um som baixo em sua garganta, soltando o


meu cabelo. — Posso pensar em algumas coisas. — disse.

Segurando a barra de sua camisa, levantei-a passando


as mãos pelas suas laterais. Tirou-a pela cabeça, jogando-a
no chão. Passando minhas mãos sobre o peito, deixo meus
dedos alisarem toda sua extensão. Fechei os olhos por um
momento, lembrando como o sentia sob meus dedos
quando tinha 17 anos, quando costumava me afastar dos
meus pais e fugir com ele para nos esconder, fazer amor
sempre que encontrávamos um lugar para ficar sozinhos.
Atrapalhei-me com o botão de sua calça jeans, meus
movimentos desajeitados, superados com a antecipação de
estar com ele. — Sim? — perguntei. — Que tipo de coisas?

Os olhos azuis de Silas escureceram com luxúria. Se


afastou de mim e me observava enquanto tirava os sapatos,
abaixou seu jeans e chutou-o para longe no tapete. Seus
músculos ondulavam a cada movimento e senti meu
coração disparar.

Deus, ele ainda é tão bonito. Não havia outra maneira


de descrevê-lo. Estava mais forte agora do que quando o
amava, tanto fisicamente quanto de outra forma.

Cansado. Irritado.

Isso me fez querê-lo ainda mais.

Alcançando o cós de sua boxer, abaixei-a, liberando


sua ereção. — Bem? — perguntei. — O que prefere que faça
com a minha boca?

Silas agarrou meus braços, me puxou contra sua nudez


enquanto tirava a última peça de roupa que usava. Com sua
testa pressionada na minha, falou próximo de minha boca.
— Pode ficar de joelhos e envolver sua doce e atrevida boca
ao redor do meu pau.

Inspirei bruscamente e me beijou suavemente desta


vez, provocando-me com sua língua. Passando minhas
mãos sobre seu peito duro, descendo para seu abdômen
musculoso, fiquei de joelhos entre as suas pernas, seu pênis
a minha frente.

Passando as minhas mãos em suas coxas, parei com


minha boca um centímetro longe dele e olhei para cima. —
É isso o que quer?

— Merda, Tempest. — Disse com a voz grave quando


enfiou as mãos em meu cabelo. — Sabe que quero. Precisa
parar de falar.

Ri. — Continua tão mandão quanto antes.

Silas agarrou meu cabelo e meu corpo respondeu


imediatamente, o pulsar entre as minhas pernas agora mais
insistente. — E você fala mais do que me lembrava.

— Não tem ideia. — disse, envolvendo minha mão ao


redor da base de seu pênis e o guiando em direção a minha
boca. Toquei com a ponta de minha língua provando o
sabor salgado do pré-sêmen que gotejava de sua cabeça.

Silas gemeu. — Porra, Tempest.

— Sequer comecei. — disse, lambendo o comprimento


antes de levá-lo em minha boca. Movendo minha mão para
cima e para baixo em seu pênis, comecei a chupá-lo mais
forte.
Ele ficou em silêncio com os olhos meio fechados até
que peguei suas bolas em minha mão e esfreguei a área
sensível sob elas. Em seguida, semicerrou os olhos e olhou
para mim.

— Se continuar, olhos brilhantes, me fará gozar direto


nessa sua pequena boca atrevida.

Fiz uma pausa quando ouvi o apelido que me chamava.

Ninguém me chamou assim em anos.

De repente, sobrecarregada com as emoções que não


podia explicar, me afastei dele.

Silas olhou para mim. — Porra, achava que não me


lembrava?

— Não sei. — Pensei que tivesse esquecido. Ou tentei


tirá-lo da minha cabeça da mesma forma que tentei
esquecer tudo sobre ele.

Ele me levantou, puxando-me contra ele. — Não


poderia esquecer. — Disse e suavemente cantarolou alguns
trechos da música, as palavras que memorizei há muito
tempo atrás, aquela canção sobre ver alguém pela primeira
vez. Tocava no café onde tivemos no nosso primeiro
encontro oficial — First Day of My Life. Sentada à sua
frente, nervosa no silêncio constrangedor, disse que gostava
da letra, a banda era ―Bright Eyes‖ e o apelido pegou,
apenas entre nós.

Levei minha mão à boca, balançando a cabeça. Por que


um apelido tão bobo me fazia sentir tão... nostálgica?

A mão de Silas cobriu a minha, afastando meus dedos


da minha boca, então colocou meu pulso em seus lábios
antes de arrastá-los até o interior do meu antebraço. O ato
me fez estremecer. Movendo as palmas pelos meus braços
até meus ombros, hesitou nas alças do meu vestido, em
seguida, encontrou o zíper. Quando ficou preso, parou e me
virou de costas, puxando mais forte. — Isso é alguma piada
de vestido de castidade ou o quê? — perguntou.

Beijou meu pescoço, me distraindo enquanto tentava


abrir o zíper novamente. — Rasgarei esse maldito vestido
nos próximos dois segundos se não abrir. — disse, antes do
zíper finalmente ceder e o vestido cair no chão.

Então as mãos de Silas estavam em mim, cobrindo-me,


movendo-se sobre meus quadris, sobre a minha bunda,
onde antes deu um tapa de brincadeira e em minhas costas.
Não pude resistir, mas deixei escapar um gemido com o seu
toque.

Com ele em pé detrás de mim e meus olhos fechados,


fui transportada novamente para quando tinha 17 anos,
quando seu toque era a coisa mais familiar do mundo. Foi
como voltar para o único lugar em que vivi que era como
uma casa para mim. Ser tocada pela única pessoa que
sempre me fez sentir em casa. — Por favor, Silas. —
sussurrei.

Deslizou as mãos ao meu redor para segurar meus


seios, sua ereção pressionada firmemente em minha bunda.
— Sabia que podia dizer por favor.

Gemi. O idiota esperava que lhe implorasse. — Pare de


enrolar e me foda agora. — disse.

Ele fez um som que era algo entre um riso e um rugido.


Segurando meus pulsos, os puxou para a parte baixa de
minhas costas e me empurrou para mais perto de uma das
janelas que davam para a cidade. Levantou meus braços,
fixando minhas palmas na janela acima da minha cabeça.

Em seguida, passou as mãos por meus braços, beijando


minha orelha, depois meu pescoço, sua aspereza em minha
pele tornando cada movimento ainda mais delicioso.
Colocou seus dedos entre as minhas pernas. — Merda, está
molhada. — disse com uma voz gutural.

— Claro que estou. — disse. — Estou implorando para


me foder aqui.

— Bem, terei piedade de você, então. Não terá que


implorar mais. — apertou seu pênis ereto em minha entrada
e depois parou. — Merda. Espere. Preservativo.
Virei para olhá-lo por sobre meu ombro. — Não tenho
nenhum. Você tem algum, certo?

— Não... Quer dizer... — parou balançando a cabeça. —


Jesus Cristo, Tempest, não tive exatamente um monte de
sexo, certo?

Ele parecia irritado e não pude deixar de esconder um


sorriso. Não é como se tivesse relações sexuais
ultimamente.

Ultimamente significando os últimos sete anos, desde


que vi Silas pela última vez.

Estava ciente de que era ridículo. Ridículo. Era uma


mulher adulta.

Mas era complicado. Não tinha a intenção de não


transar com mais ninguém. Apenas nunca encontrei
ninguém. Fui a primeira de Silas e ele o meu único.

Era como voltar ao ponto de partida.

Mas não lhe disse que não houve ninguém mais.

— Estou tomando pílula e estou limpa. — disse. — Você


está?

— Estou limpo, Tempest. — disse — E já faz um tempo


desde que tive relações sexuais.

Não tanto como para mim.


— Bem. — disse, retornando as minhas mãos para
onde as colocou na janela. — O que estamos esperando,
então?

— Tem certeza? — perguntou.

Arqueio minha bunda na sua direção. — Pare de fazer


perguntas e coloque seu pau em mim, antes que cale a sua
boca de outra maneira.

— Está ameaçando calar a minha boca sentando em


meu rosto? — sussurrou perto do meu ouvido. Senti
procurar a minha entrada com seu pau. — Acho que
gostaria dessa maneira de me calar.

— Em outra oportunidade. — disse. — Agora, quero


você dentro de mim.

Parou na minha entrada, me provocando com sua


dureza. — Diga-me.

— Dizer o que?

— Diga-me como me quer Tempest.

Meu corpo respondeu com um jorro de umidade ante a


ideia. — Quero sentir você. — disse.

— Assim? — perguntou, entrando centímetro por


centímetro, em um ritmo dolorosamente lento. — Quer
sentir meu pau duro dentro de você?
Gemi com a intrusão bem-vinda e novamente, quando
começou a se mover, lentamente no início, ganhando
impulso em seguida. Apertou meus seios, os polegares
circulando meus mamilos, a sensibilidade aumentando a
minha excitação. Gemia seu nome mais e mais enquanto
construía um ritmo, empurrando seu pau nu tão profundo
quanto podia.

Nunca fizemos isso, completamente desprotegidos,


pele contra pele, mesmo quando adolescentes. Então acho
que esta era outra primeira vez com ele.

— Oh Deus, Silas. — gritei. Meu corpo respondendo ao


seu toque. Senti que me deixava no limite.

Agarrou um punhado de meus cabelos, puxando


minha cabeça para trás e me segurando firme contra ele
enquanto entrava em mim, beijando minha orelha. Quando
falou, o calor de sua respiração em meu ouvido me levou tão
longe que não conseguia pensar em nada, exceto ser
fundida a ele.

Seu toque. Os seus lábios. Seu pau.

Tudo era uma névoa de sensação.

— É tão apertada, Tempest. — disse empurrando para


dentro de mim mais forte. Soltando meu cabelo, agarrou
minha cintura, apertou minha bunda com tanta força contra
ele que não podia pensar estar separada dele.
— Silas. — gritei. Cada célula do meu corpo estava em
chamas com seu toque. Minhas mãos presas na janela,
fechei os olhos, esquecendo de tudo, exceto ele e eu.

O toque de Silas, a respiração, o calor de seu corpo...


Aquelas eram as únicas coisas que importavam.

Senti cada onda de prazer, até que fluiu pelo meu


corpo da ponta dos meus dedos das mãos até meus pés.

Perto do meu ouvido, a voz de Silas me despertou. —


Goza comigo, olhos brilhantes. — disse com a voz rouca. —
Quero senti-la gozar comigo.

Estava tão perto, mas suas palavras me empurraram


sobre a borda e ouvi a minha voz gritando seu nome
repetidas vezes quando gozei. A explosão de prazer foi tão
intensa que pensei que perderia o fôlego. Silas entrou em
mim uma, duas, três vezes, cada vez mais profundo do que a
anterior e então me inundou com sua semente.

Depois agarrou meus seios, esfregou seu rosto na


lateral do meu pescoço, murmurando meu nome. Ficamos
ali o que pareceu uma eternidade, o meu coração batendo
descontroladamente. O peito de Silas pressionado em
minhas costas, subindo e descendo rapidamente enquanto
recuperava o fôlego. Depois de um tempo, afastou os fios de
cabelo na minha nuca e me beijou, o gesto provocando uma
onda de prazer em meu corpo que era quase demais para
suportar.

— Tempest. — disse suavemente.

— Sim. — Não havia mais nada a dizer.

Foi estranho quando caminhamos em direção do


banheiro, cada um se limpando, não mais distraídos pela
névoa do desejo. Não devia ser estranho, pensei, sentindo-
me estranhamente decepcionada. Pensava que as coisas
entrariam magicamente no lugar, só porque transamos?

Passando por mim no quarto, Silas bateu em minha


bunda, o gesto me tirando dos meus pensamentos. Agarrou
meu braço e me puxou contra ele, seus lábios tocando nos
meus de leve, não me beijando. Tocava Samson, de Regina
Spektor no aparelho de som e comecei a cantarolar a
música, enquanto Silas esfregava seu rosto no meu e
balançava suavemente ao som da música. Não disse nada e
o deixei me segurar enquanto dançávamos nus no quarto do
hotel.

Dançar com ele me deixava triste. Devia me sentir


feliz, pensei.

Mas estar com ele não parecia uma festa de boas


vindas.

Parecia uma despedida.


Capítulo Treze
Silas
Deitado na cama, passei minhas mãos pelo cabelo de
Tempest, pensando. Não sabia o que pensar sobre o que
aconteceu entre nós. Ela era um fantasma do meu passado
que nunca pensei que veria novamente. E agora, não
somente a vi novamente, mas toquei-a, transei com ela...
Estou aqui deitado, abraçando-a.

Meu cérebro não podia processar essa merda.

Não sabia o que lhe dizer. Tanta coisa passou entre


nós.

Ela se mexeu ao meu lado. — Como tem passado Silas?

Exalei pesadamente. Era o tipo de pergunta que fazia


em uma reunião do ensino médio e respondia com alguma
besteira sobre todas as coisas que faz, se gabava da sua
promoção e sua esposa loira de pernas longas e três filhos
lindos.

Eu não tinha uma resposta impressionante.


Como é que explico o que fiz para mim mesmo quando
ela foi embora?

— Estou bem. — disse.

— Bom. — disse — Isso é bom.

Fiquei em silêncio.

— Não estava bem. — disse ela. — Por um tempo. As


coisas não eram boas.

Não, pensei. Foi uma merda quando você partiu.

— Seus pais? — perguntei. — Estão por aí?

Riu com amargura. — Em algum lugar.

— Você não sabe?

Tempest encolheu os ombros. — Brigamos depois que


fugimos de West Bend. — disse — Eles precisavam manter
um perfil baixo. Eu queria ficar em algum lugar, terminar o
último ano. Não queria mais fugir. Ameacei entregá-los
para polícia e me abandonaram.

— Jesus, Tempest. — disse, minha mão fez uma pausa.

Ela pegou minha mão, colocando-a em seu rosto. — Eu


sei. — disse. — Não devia ter feito algo parecido.

— Algo parecido com o que?

— Ameaçar entregá-los. — disse — Foi a traição final.


Sentei-me e puxei-a para perto de mim na pilha de
travesseiros na cabeceira da cama. — Eles te arrastaram por
todo o país e te criaram como uma criminosa. — disse —
Tinha apenas 17 anos.

Não podia compreender a maneira como seus pais a


usaram. Como podia crescer para ser qualquer coisa,
exceto uma criminosa, se a criaram dessa maneira?

Tempest virou para mim na cama e sentou de pernas


cruzadas. — É uma coisa de vigarista. — disse — Você não se
vira contra outra pessoa. E a família...

— Mas não os entregou. — Indiquei.

— Ameacei – disse. — E falava sério. Eu faria. Acho que


os entregaria e assistiria quando fossem para a prisão. Ele
estava errado. Estava com raiva e com ódio e queria
machucá-los por me levarem para longe de West Bend.

Longe de mim. Eu sabia o que ela queria dizer.

— Então o que aconteceu?

— Eles se foram. – respondeu. — Colocaram os pés na


estrada e desapareceram.

— Sem você.

Tempest assentiu. — Puf. – disse. – Sumiram. Tentei


localizá-los, acompanhei-os aqui e ali, apenas para vigiá-los.
Queria ter certeza de que estavam bem. Minha mãe me
enviou cartões postais algumas vezes. Não sei como me
encontrou. Acredito que me vigiava da mesma forma que a
vigiei.

Estendi a mão e segurei seu rosto, minha mão


descansando em sua bochecha. Passando o meu polegar em
seu queixo, disse — Por que não voltou para West Bend?

Por que não voltou para mim?

Tempest mordeu seu lábio inferior, passei a ponta do


meu polegar sobre o lábio onde mordeu. — Voltar para
você? — perguntou. — Você me odiava. E sua mãe tinha um
ponto. Você acabaria ganhando uma bolsa de estudos. Você
tinha tudo para fugir de West Bend. Não precisava ficar
preso comigo, te deixar em apuros por roubar coisas ou por
enganar a pessoa errada.

— Tempest. — comecei.

— Não. — protestou. — Não me dê alguma besteira


sobre não ser verdade. É exatamente o que aconteceria. Te
arruinaria... — encolheu os ombros e olhou para a cama. —
E sabe disso.

Queria dizer-lhe que ela me arruinou de qualquer


maneira. Quando se foi, não tinha mais nada. Por anos, foi
assim que vivi. Como se não tivesse motivos para viver.
Estava zangado com o mundo todo.

Mas ela me silenciou antes que dissesse qualquer coisa,


subindo no meu colo e pressionando seus lábios nos meus.

Não falamos depois disso. Ao invés disso, sentou sobre


meu pau e encontramos um ritmo suave quando colocou as
pernas em volta da minha cintura e me montou até que
finalmente gozamos em uma explosão ofuscante.

Quando gozou, não tirei os olhos dela. Tentei


memorizar sua expressão, para gravá-la em meu cérebro,
salvá-la em minha memória para que a recuperasse no
futuro.

Sabia que o que acontecia entre nós não duraria.

Este momento era fugaz.

Tudo era.
Tempest
Quando acordei, a luz solar fluia através das janelas e
banhava o quarto com sua luz dourada. Ao meu lado, Silas
pressionou seu corpo no meu. Quando me mexi, ele
murmurou alguma coisa e me puxou mais forte para perto
dele.

Deitar na cama com ele assim também era a primeira


vez. Quando éramos adolescentes, era sexo frenético em
uma cabana abandonada ou em um cobertor debaixo das
estrelas. Nunca assim.

Era bom. Mas, ao mesmo tempo, a sua doçura amarga


destruía meu coração.

Silas colocou sua mão em meu quadril, esfregou seu


rosto em meu pescoço. — Bom Dia.

— Bom Dia.

Silas passou a mão sobre meu quadril, pressionando


sua ereção em mim. Meu corpo respondeu imediatamente,
meus mamilos endurecendo enquanto passava as mãos
sobre meus seios.

— Tempest — disse, movendo sua mão para apertar


minha bunda. — Nunca terei o suficiente de você.
— Tenho certeza que me teve o suficiente na noite
passada. — provoquei quase incapaz de manter o sorriso em
meu rosto. — Mal consegui dormir.

— Hummm — murmurou. — Reclamando? Não parece


que seu corpo esteja reclamando. — colocou a mão entre
minhas pernas, encontrou meu clitóris e, simultaneamente,
puxou minha bunda contra si.

Ri. — Não estou reclamando, em absoluto. —


Assegurei. Mas bati em sua mão. — Preciso fazer xixi.

Saí da cama, me esquivando de Silas e rindo enquanto


tentava me agarrar outra vez. Dentro do banheiro, escovei
meus dentes e fiquei apresentável, maravilhada com meu
horrendo cabelo de cama.

Silas abriu a porta e entrou.

Virei. — Silas! — gritei com a voz estridente. — A porta


estava fechada. Isso é muito inadequado.

— O quê? Estava quase urinando. — disse sorrindo, em


pé à minha frente, com sua evidente ereção matinal.

— Então, fará xixi em minha frente? — perguntei,


protegendo os olhos e andando. — Não preciso ver isso!

— Ainda não estamos nesse ponto? — perguntou por


cima do ombro enquanto fechava a porta. Escutei-o rir.
— Não! — gritei. — Definitivamente não estamos nesse
ponto.

Quando saiu do banheiro, parou na minha frente com


as mãos na cintura. — Então, não fazer xixi na sua frente. —
disse — Alguém já te disse que é meio puritana?

— Sim, sou totalmente puritana. — repliquei. — Só


porque não quero vê-lo fazer xixi. Sou praticamente a porra
de uma freira.

— Tem uma boca um pouco suja. — Silas disse


sorrindo. Agarrou minha cintura, sua mão circulando ao
redor, na parte inferior das minhas costas.

— Talvez deva lavá-la. — insinuei.

— Merda, Tempest. — protestou. — Não me provoque.


Assim me faz pensar no que deveria usar para lavá-la.
Terminamos as coisas dessa maneira ontem à noite, se você
se recorda.

Se eu recordava...

Sim, definitivamente me lembrava de estar ajoelhada


aos pés de Silas, com seu pênis em minha boca. A
lembrança instantaneamente provocou uma onda de calor
entre minhas pernas.

— Poderíamos terminar as coisas dessa maneira hoje.


— disse, abaixando minha mão, apertando sua dureza.
— Tenho toda a intenção. — assegurou perto de meu
ouvido. — Colocarei meu rosto entre as suas pernas e a
lamberei até que grite. Quero que goze em minha língua.

Acariciava o comprimento de seu pênis com a mão. —


Tentando fazer algo comigo agora?

Silas rosnou em meu ouvido. — Não. — disse —


Preparei um banho.

Ele virou e o segui, caminhando lentamente sobre o


piso de mármore no amplo banheiro, onde a banheira
estava quase cheia até a borda, bolhas dançando ao longo da
superfície.

Silas se inclinou, desligou a água e seu olhar encontrou


o meu. — O quê?

— Um banho de espuma?

Ele deu de ombros. — Viu o buraco de merda onde


cresci. — explicou enquanto cruzava para onde estava e me
puxava para me beijar. — Trouxe esse pobre menino branco
para a cobertura de uma suíte em Las Vegas. Pode estar
acostumada a esse tipo de coisa, mas eu não. Então, entrará
nesta banheira que é do tamanho de uma pequena piscina e
me deixará fazer o que sempre quis fazer com você.

Olhei para ele. — Que é?


— Passar as minhas mãos em você na banheira. —
respondeu deslizando os dedos pelo meu cabelo antes de me
beijar suavemente nos lábios. — Lavá-la.

— Quer tomar banho comigo. — repeti, distraída com


seus dedos em minha cabeça.

— Quero aproveitar este lugar com você. — informou.


— A banheira, o quarto, a sala, o corredor. Quero todo este
lugar.

— Silas. — comecei. Parte de mim queria sair agora


mesmo. Correr. Voltaria para o Colorado para ver minha
avó e, em seguida, não sabia para onde iria. Provavelmente
em algum lugar no exterior. E depois, New York. No
próximo mês, em algum outro lugar. E Silas estava agora
em Las Vegas, lutando.

Não fico em um só lugar. Não por ele e não por


qualquer um. Não importa o quanto quisesse.

Não que tenha me perguntado.

Mas podia sentir o impulso de ficar com ele aqui,


brincando de casinha nesta sala gigante do hotel, passando
os dias na cama.

Esse sentimento era perigoso.

Silas pareceu sentir a minha hesitação e colocou o dedo


em meus lábios.
— Não diga mais nada. — alertou. — Tudo no que está
pensando, não diga. Isso é o que é. Quero você e terei você,
olhos brilhantes. Não estou discutindo, nem jogando. Não
dou a mínima para qualquer outra coisa. Bem aqui e agora
você é minha e isso é tudo o que importa.

Abri minha boca para falar, mas ele me interrompeu.

— Se tiver que beijá-la para te calar, então é o que


farei, Tempest. — prometeu, antes de me beijar, me
deixando sem palavras. Se afastou. — Agora. – ordenou. —
Vá para a porra da banheira antes que eu mesmo a jogue
nela.

Balancei a cabeça, rindo quando entrei na banheira e o


calor da água me envolveu. Não sabia o que fazer com Silas.

Ele saiu do banheiro e quando retornou ouvi no som


estéreo uma música de Matt Nathanson que dizia sobre
afogar-se no amor e Silas estava com uma garrafa de
champanhe e duas taças na mão.

— Encontrei em sua geladeira. – comentou.

— Que horas são? — perguntei.

— Não tenho a menor ideia. — disse sorrindo,


enquanto enchia as taças e me entregou uma. — E não
quero saber. Não me importo. Nada mais importa para mim
agora.
Silas entrou na banheira, segurando a taça no alto, fora
da água. Sentou-se à minha frente, inclinando-se para trás e
sorriu, antes que tomasse um gole de sua taça.

— Então é assim o tempo todo?

— O quê? — perguntei. — Champanhe e banhos de


espuma?

— Sim. — afirmou. — Viver uma vida boa?

— Às vezes. — esclareci.

— Posso perguntar como chegou aqui, depois que seus


pais fugiram? Ou eu não quero saber?

Dei de ombros. — É complicado. Você não quer saber.

Assentiu. — Nada sobre você é simples, Tempest. —


comentou.

Bebeu sua taça em um longo gole, então colocou-a no


chão, ao lado da banheira.

Sorri melancolicamente. — Nenhuma das melhores


coisas da vida é fácil.

— Vem aqui. — ordenou, pegando a taça da minha mão


e colocando-a ao lado da sua no chão antes de me puxar
para perto dele.

Passou as mãos sobre meu corpo molhado, circulando


meus seios e senti uma onda de excitação com seu toque.
Colocando suas mãos em concha, trouxe água até o topo da
minha cabeça. Ela escorreu pelo meu cabelo e ao meu redor
e ele passou as mãos sobre o meu cabelo uma e outra vez.

Descansei contra ele, fechando os olhos enquanto


lavava o meu cabelo de forma lenta e terna, sem dizer uma
palavra. Por um tempo só me perdi em seu toque e na
música. Não sabia se era tudo devido ao sexo na noite
anterior, a falta de sono, o calor do banho ou a taça de
champanhe, mas me sentia bêbada, embriagada por ele.

Abaixei na água e enxagüei meu cabelo e quando


levantei, Silas puxou-me sobre o seu colo, sua dureza
evidente.

— Quero você. — assegurou, guiando a cabeça de seu


pau em minha entrada.

Deslizei sobre seu comprimento pouco a pouco até que


ele estava totalmente dentro de mim. Meu cabelo caiu para
frente, fazendo algumas gotas de água escorrer pelo seu
rosto enquanto meus lábios capturavam o seu. Não disse
nada, apenas me movi nele, lentamente no início e depois
mais rápido quando me sentia mais excitada. Silas agarrou
minha bunda, me apertando sobre ele.

— Tempest. — disse com a voz rouca. — Não acho que


tenha ideia do que faz comigo.
Gemi, com minha língua entre seus dentes enquanto o
beijava mais forte, pressionando meus seios em seu peito.
Ele segurou um dos meus seios em sua mão, então, cobriu-o
com a boca, rodando sua língua em meu mamilo e me
chupou enquanto o montava.

— Isso. — rosnou. — Mais profundo. Monte em meu


pau.

Meus movimentos tornaram-se mais rápidos e o levei


mais profundo dentro de mim. Ele pegou um punhado do
meu cabelo e puxou minha cabeça para trás enquanto me
beijava avidamente, raspando seus dentes em meu rosto,
queixo e em meu pescoço.

— Foda-me, Silas. — exigi, colocando as palmas das


mãos na borda da banheira atrás dele para me segurar.

Quando escorreguei, Silas rosnou. — Maldita banheira.


— resmungou, tirando-me de seu pênis. — Vamos para fora.

Saí da banheira e joguei uma toalha para Silas,


parando para ver a água correr pelo seu corpo. Ele me
enrolou na toalha, me secou lentamente antes de se secar
rapidamente e jogá-la no chão.

Saímos do banheiro. Eu primeiro, caminhando de


costas para que olhar ele.

— O que está olhando? — perguntou, sorrindo.


— Você.

— Gosta do que vê?

Sorri e revirei os olhos. — Você quer que acaricie seu


ego.

Assentiu e arqueou as sobrancelhas, num gesto


exagerado. — Isso não é tudo que quero que acaricie. —
disse

Ri. — Menino indecente.

— Parece que você o faz vir à tona. — alegou, me


cercando e me esquivei dele. — Oh, é assim que será? A
perseguirei, se precisar.

— Venha me pegar, então. — disse, virando-me e


andando para a sala. Atrás de mim, Silas riu, pegando-me
quando virava o corredor.

— Boa ideia. — elogiou, levantando-me com as mãos


sob a minha bunda. Coloquei minhas pernas ao redor de
sua cintura. — Ainda não a tive nesta sala...
Capítulo Catorze
Silas
Tempest riu. — Então me terá em toda parte nesta
suíte?

Olhei para ela. — Pensou que estava brincando? —


perguntei. — Passaram-se sete anos desde que te vi. Tenho
um monte de merda reprimida para trabalhar.

Isso era um maldito eufemismo.

Além disso, voltaria para casa, não ficaria aqui em Las


Vegas. Quem sabia onde Tempest iria ou onde morava? Se
trabalhava em toda essa angústia com ela, agora era a
minha única opção.

— Então a resolverá me fodendo por toda parte desta


suíte? — perguntou Tempest.

— Isso parece um bom plano — comentei. — Disse que


a foderia por toda suíte. Só não decidi por onde começo.

O piano de cauda me provocou. Então caminhei até


ele, ainda segurando Tempest e ela olhou por cima do
ombro, rindo.

— No piano? — questionou. —Realmente?


— O quê? — perguntei. — A tampa está fechada. Tenho
certeza de que te agüenta.

— Oh, somente eu, então? — perguntou — Não subirá


comigo?

— Bem, não sejamos ridículos. — argumentei,


colocando a sua bunda na borda do piano, afastando suas
coxas.

Tempest riu, inclinando-se para frente, seu cabelo


caindo sobre seus olhos. — Você é o único que colocou a
minha bunda nua em cima de um piano. — comentou. —
Quem pensa que é? Christian... como é mesmo que se
chama?

Puxei-a para frente para que sua bunda ficasse na beira


do piano e me inclinei, tocando-a com minha língua. —
Você tem um gosto tão doce. — assegurei. — E quem é
Christian? Espero que não esteja falando de um namorado.

Ela não respondeu, apenas soltou um gemido quando


comecei a lambê-la devagar, cuidadosamente, explorando-a
com minha língua antes de me concentrar em seu clitóris.
Tempest agarrou a minha nuca, apertou-me contra ela e me
afastei.

— Então? — perguntei.
— Então, o quê? — ela murmurou com a respiração
irregular.

— Quem é esse Christian?

— Você sabe. Aquele do livro. Aquele do BDSM. —


respondeu.

Cobri seu clitóris novamente apenas para provocá-la,


sugando-o e provocando outro gemido. Brincava com sua
entrada com a minha língua, seu sabor doce e salgado ao
mesmo tempo.

— Não posso... Lembrar-me... O nome... Agora mesmo.

— Pensava que comê-la no piano seria mais parecido


com o filme, aquele com o rico homem de negócios e a
prostituta. — coloquei meu dedo dentro dela, acariciando-a
gentilmente enquanto voltava minha boca para seu clitóris.

Quando falou, suas palavras foram pontuadas com


suspiros. — Você lembra.

Olhei-a de entre as suas coxas. — Lembro que me


forçou a vê-lo. — falei enquanto colocava um segundo dedo
dentro dela.

— Oh, Deus, sim. – gemeu jogando a cabeça para trás.


— Você... Era... Um... Merda... Quer dizer, compreensivo...
Sobre isso.
— Só queria te comer. — falei, voltando minha boca
para seu clitóris.

Ela me agarrou com mais força, pressionando-me nela


novamente, gemendo com mais freqüência agora. Meu pau
estava muito duro. Não sei o que havia nessa garota. Mas
algo nela ainda me deixava louco.

— Assim mesmo. — sussurrou. — Merda... Silas.

Continuei procurando um ritmo com os dedos,


acariciando-a enquanto mordisquei seu clitóris — Oh,
querida, não tento mais te comer. — assegurei. — Isso é um
negócio feito. Te farei gozar na minha língua e depois a
foderei até gozar novamente.

Tirei meus dedos e coloquei meu rosto entre suas


pernas, saboreando sua doçura. A fodi com a minha língua
até que gozou, apertando minha cabeça entre suas coxas
enquanto se inclinava para frente e puxava minha cabeça
nela. Quando terminou, poderia prová-la em meus lábios,
em minha língua.

Mas não lhe dei qualquer tempo para se recuperar. Ao


invés disso, levantei-a do piano enquanto ainda estava
relaxada, com a cabeça em meu pescoço e coloquei-a sobre
a coisa mais próxima que encontrei: uma longa poltrona
revestida com um tecido de aparência aveludada.
Então fiz o que prometi. Enfiei meu pau em sua boceta
molhada, ainda palpitante de seu orgasmo e a comi até que
não agüentava mais e, finalmente, derramei minha porra
dentro dela.

Depois, puxei-a com força para mim, sentindo o calor


de seu corpo no meu, ouvindo o som de sua respiração no
silêncio da sala. Queria ficar assim, a vida em pausa, deitado
com ela, fingindo que havia algo mais do que realmente se
tratava.

Mas isso era estúpido e sabíamos disso.

O que acontecia agora era o que era. Resolvíamos o


passado e nada mais. Tempest era uma vigarista, alguém
que enganava pessoas inocentes. Não importa o quão difícil
era imaginar, era um fato.

Isto era o fim, puro e simples.

Não podia ser qualquer outra coisa.

Mesmo se quisesse.
Tempest
Passei meus dedos nas costas da sua mão, onde estava
firmemente pressionada em meu abdômen. Era perigoso,
ficar deitada como se fôssemos um casal, duas pessoas
comuns com vidas normais. Parecia muito familiar, muito
acolhedor.

Lembrei-me que não havia nada entre a gente.

Qualquer coisa que sentia agora era apenas um


artefato do passado, remanescente de uma paixão de
infância, a neblina, o delírio e a estupidez do amor jovem.

E todos sabiam que não se podia confiar em


sentimentos quando se tratava de um amor adolescente.

Isso era o que Silas era e nada mais.

— Silas? — perguntei.

— Sim, olhos brilhantes. — sua mão pausou em meu


estômago.

— Sinto muito, você sabe. — achava que sabia, mas


parecia importante dizer.
— Sei. — disse beijando a minha cabeça. Ficou em
silêncio por um longo tempo antes de falar novamente. —
Ficará em Las Vegas?

— Não. — não entrei em detalhes. Não precisava saber


para onde iria em seguida. Qual seria o ponto? Era uma
vigarista. Não ficaria no mesmo lugar mais tempo do que o
suficiente para executar um golpe. Não tenho encontros.
Não tenho relacionamentos. E, com certeza, não me
apaixono.

Mas Silas não me pediu para elaborar. Não perguntou


mais nada, apenas me virou de costas, colocou seu pênis em
mim e me fodeu lentamente, com os olhos presos nos meus
o tempo todo.

Disse-me que o que acontecia entre nós era um ponto


final.

E na manhã seguinte, quando nos despedimos, me


lembrei desse fato.

O problema era que, quando disse adeus, não pareceu


um ponto final. Pareceu que acabei de apertar no botão de
pausa em nós.

E isso me assustou.
Capítulo Quinze
Silas
— Você parece... descansado. — comentou Trigg
enfatizando a palavra, com um enorme sorriso estampado
em seu rosto. Ele riu alto de sua própria piada.

— Cala a boca. — falei. — O que aconteceu? Por que


Deborah quer devolver o dinheiro?

Trigg deu de ombros. — Não sei. — afirmou. — Mas ela


quer te encontrar para devolvê-lo. Disse que não conseguiu
falar com você porque o seu telefone estava desligado. Não
lhe disse que a razão do seu telefone estar desligado era
porque saiu do bar com a sexy produtora de televisão na
outra noite. Não sabia que era assim ainda, cara. — fez uma
pausa, rindo. — Mas acho que a pegou, certo?

— Que idade tem, doze anos? — perguntei. — Não


deixarei Deborah devolver o dinheiro. Já lhe disse isso?

Trigg assentiu. — disse. — Johnny falou que estavam


com muito dinheiro.
— Como é que repentinamente estão com muito
dinheiro?

— Não disse pelo telefone. — comentou. — É por isso


que precisamos ir pessoalmente. Mas insistem em devolver.
Isso é tudo que sei. Agora, me conte sobre a garota. Ela era
tão quente como ela parecia que seria na cama?

— Até parece que falarei com você sobre isso, Trigg.

Trigg riu. — Desculpe. — disse. — Não sabia que já


estava apaixonado por ela.

— Cale a boca. — resmunguei. — Não estou apaixonado


por ela.

Disse a mim mesmo e era no que queria acreditar.

— Não entendo Deborah. — O envelope com o dinheiro


estava intocado sobre a mesa — Isso foi um presente.

— Precisa disso mais do que nós, Silas. — disse. Seu


rosto estava corado e estava praticamente radiante.

— O que aconteceu? Ganhou na loteria? — perguntei.


— Mais ou menos. — respondeu. — realmente não
posso falar sobre isso.

— Bem, precisa, porque não aceitarei esse dinheiro de


volta até que me diga o que aconteceu.

— Não é nada ruim, Silas. — assegurou. — É


exatamente o oposto, na verdade. Alguém conseguiu uma
maneira de acertar as coisas com Coker. Estamos bem
agora. Para sempre.

Balancei minha cabeça. — Merda, Deborah —


murmurei — Se algo parece bom demais para ser verdade,
definitivamente não é. Isso envolve dinheiro? Não quero
que você e Johnny acabem mal.

— É legítimo. — explicou. — Nos encontramos com um


advogado. Há uma relação de confiança estabelecida.

— Não entendo. — comentei. — Da parte de Coker?

Deborah encolheu os ombros. — Meu empregador fez


os arranjos. Um homem para quem limpo a casa disse que
Coker reviu seus erros.

Olhei para Trigg, que estava com os olhos arregalados.

— Isso não soa como Coker. — afirmei.

Deborah sorriu. — Não me importo se Coker foi


pressionado para nos dar o dinheiro ou se fez isso porque
encontrou Jesus. Tudo que me importa é o fato de que o
dinheiro é real, Silas e que poderemos sair deste bairro e
que a minha filha não levará um tiro indo para a escola.

— Deborah, tem certeza que não é nada ilegal?

Deborah levantou. — Chega Silas. — interrompeu. —


Mesmo que o dinheiro não tenha sido obtido da maneira
adequada, tenho certeza de que estamos bem. E não
aceitarei que não pegue o dinheiro de volta. Sei que tem
suas próprias coisas para se preocupar.

Olhei para Trigg e ele balançou a cabeça.

— Ok, Deborah. — concordei. — Confiar que sabe o que


faz.

— Obrigada. — disse. — Agora, sorria. Está um lindo


dia.

Esperei até que estávamos no carro para comentar


sobre o assunto. — O que está acontecendo?

— Sabe tanto quanto eu, cara. — disse Trigg.

— O que aconteceu nos últimos dias?

— Você quer dizer, nos últimos dias, enquanto estava


enfurnado na suíte do hotel, fazendo sexo com a produtora
de TV? — Trigg perguntou, sorrindo.

— Não falarei sobre ela. — avisei.


— Não sei cara. — Trigg continuou. — Nada aconteceu
que tenha ouvido falar. Não existe nenhuma chance de que
o dinheiro tenha vindo de Coker, pelo amor de Deus. Pode
imaginar Coker ter qualquer tipo de remorso? Dando
dinheiro a Johnny?

— Não. — concordei. — É uma loucura. Mesmo assim,


pergunte por aí. Vê se alguém fala sobre qualquer coisa
acontecendo. Eu só gostaria de saber que não é o dinheiro
de um traficante de drogas, não sei o que diabos, sendo
lavado ou algo assim.

— Certo. — disse Trigg. — Vai ficar ou sair?

— Tenho que voltar para West Bend e devolver este


carro para o meu irmão. – falei. — Mas lembra do que disse
sobre aqueles seus amigos, os do clube de motoqueiros?

— Os que cuidariam de Coker...

— Sim, aqueles. — falei. — Faça algumas perguntas


sobre isso, também, se puder.

— Não preciso fazer perguntas sobre isso. — disse


Trigg. — Se der a sua palavra, cuidarão dele. Coker não
tentou me matar, por isso não é um pedido meu. É você,
Johnny e Abel que precisam tomar essa decisão.

Balancei a cabeça. — Pensarei nisso.


— Onde estava? — Elias olhou atrás de mim para a
garagem.

Joguei-lhe as chaves do carro. — Não se preocupe, o


seu precioso bebê está muito bem. — fiz uma pausa. — Mais
ou menos. Preciso limpar na parte de dentro.

— O quê? — Elias gritou me empurrando para olhar


dentro do carro. — Comeu lá dentro, porra?

— São apenas migalhas. — gritei enquanto ia até o


carro. — Não se preocupe. Envolvi o cadáver no porta-malas
no plástico primeiro.

— Como vai, Silas? — River abriu a porta, colocou a


cabeça para e olhou para Elias, antes que franzisse as
sobrancelhas para mim. — Ele realmente é paranóico com
esse carro, não é?

— Paranóico pode ser uma palavra para definir isso. —


respondi. — Porém, louco soa melhor. Portanto, esta é a
nova casa?

Mesmo que tivesse ido a Los Angeles com Elias quando


foi dizer a River que a amava, ainda não podia acreditar que
a estrela de Hollywood voltou para West Bend para
sossegar. Se fosse honesto comigo mesmo, estava um pouco
enciumado. Qualquer um pensaria que uma grande estrela
do momento como ela seria metida e mimada, mas River
parecia realmente se preocupar com o meu irmão gêmeo.
Queria algo parecido com o que tinham.

Pensei que tivesse aquela coisa especial com Tempest,


anos atrás. Mas estava errado. Estar com ela nos últimos
dias em Las Vegas me fez recordar a maneira como as coisas
eram naquela época.

Despertou velhos sentimentos e isso não era bom.

— Sim. — sorriu. — Estamos organizando tudo agora.


Quer beber algo?

— Café seria bom, se tiver. — respondi enquanto a


segui para a cozinha. — Como é a vida longe Hollywood? Já
ficou entediada em West Bend?

— Ainda não. — abriu a geladeira. — Quer leite no seu


café? Oh, pega. Prepara como quiser. O açúcar está sobre o
balcão.

Coloquei duas colheres de açúcar na xícara e tomei um


gole. — É uma grande mudança de ritmo para você, não é?
River deu de ombros. — Você pensaria que sim —
disse. — Mas West Bend parece ter sua própria cota de
drama, como na Califórnia.

Ri. — Merda. Isso é certo.

— Elias estava preocupado com você. — comentou.

Os passos de Elias eram pesados quando entrou na


cozinha. — Não estava preocupado. –falou irritado, abrindo
um dos armários para pegar uma xícara de café, fechando a
porta com força. — Estava preocupado com o meu carro,
talvez. Onde estava?

— O que, por acaso sou sua mulher? — perguntei.

A curiosidade de Elias me deixava com raiva e, de


repente, me senti protetor com o tempo que passei com
Tempest. Podia antecipar o que Elias faria se dissesse que
estive com ela. Elias deixou West Bend logo após Tempest,
teve o seu GED3 e ingressou na Marinha cedo, mas sabia o
que aconteceu com Tempest. E sabia que fiquei destruído
com o que aconteceu. Elias odiaria que estivesse com ela.

Certamente pensaria que aplicava um golpe em mim.

Tampouco tinha certeza de que podia confiar nela.

3 GED, abreviação de General Educational Development Test. É o exame de


certificação para os alunos que não conseguiram diploma universitário.
Mas isso não importava, uma vez que não a veria
novamente.

Elias cerrou sua mandíbula e sabia que tentava não me


bater na frente de River. — Já desapareceu antes, agindo
misteriosamente e essa merda toda. E desta vez foi para Los
Angeles com o meu carro. Mas ainda não me dirá onde
esteve? Não leva tanto tempo sair de carro de Los Angeles
para West Bend, Silas.

Sentada à mesa, River limpou a garganta. — Elias.

— Não, é sério, irmão. – disse.

Exalei pesadamente. — Me desculpe, não atendi aos


telefonemas, ok? Participei de uma luta enquanto estava lá.

— Uma luta? — perguntou River. — Está bem?

— Sim, estou bem. Falei. Então percebi que pensou que


quis dizer que entrei em uma briga de bar ou algo assim. —
Eu luto, às vezes. Ou lutava, com mais regularidade. Em
Albuquerque, depois em Las Vegas no circuito de luta de lá.
Boxe, MMA, esse tipo de coisa.

— Pensei que tivesse lesionado o ligamento anterior


cruzado. — disse Elias, citando a mentira que lhe contei
como sendo a razão pela qual voltei para West Bend.
Não queria dizer-lhe que Coker tinha feito um número
em mim. Eu estava tentando impedi-lo de se envolver em
qualquer uma dessas merdas.

— Está praticamente curado agora. — disse. — De


qualquer forma, era apenas um favor para um amigo que
precisou se retirar da luta, um negócio de uma vez. Estou
fora da cena agora. Teria telefonado, mas amarrava algumas
pontas soltas por lá, tudo bem? Sinto muito.

Elias grunhiu uma resposta, mas sabia que isso


significava que estava perdoado. — Olha, eu tentei entrar
em contato com você por uma razão. Killian precisou voltar
para a plataforma de petróleo, mas Luke esteve por aqui
entre seu trabalho, pesquisando as coisas.

Killian é um sujeito muito forte, trabalhando nas


plataformas de petróleo por meses. Da mesma forma, o
trabalho de Luke como bombeiro pára-quedista geralmente
o levava para longe daqui. Surpreendi-me que ficou na
cidade, desde que voltou. Meus dois irmãos mais velhos
sempre estiveram tão prontos quanto Elias e eu para
começar a vida longe desta cidade e de nossa família, assim
que pudessem.

— Ah, é? — perguntei, tomando meu café. — É


estranho Luke ficar por aqui. Está realmente interessado
nas mortes de nossos pais?
Elias deu de ombros. — Luke não ficaria aqui por causa
disso. — Elias argumentou. — Acho que existe alguma
garota aqui que esteja interessado.

— Ainda assim. — disse. — Agora que Luke investiga a


morte da mãe, você está interessado? Mas quando disse que
o suicídio era suspeito, era o único louco.

— Luke não tem uma história de ser imprevisível. —


disse Elias.

— Cara, qual é o seu problema? — perguntei.

— Calma, rapazes. Sem brigas. — River ficou ao lado de


Elias e colocou a mão em seu braço. —Elias.

Elias estreitou os olhos para mim. — Tudo bem. —


disse, beijando a cabeça de River. — Preciso telefonar para
Luke, de qualquer maneira.

River sentou-se à mesa na cozinha enquanto Elias


subiu as escadas. Apontou para uma cadeira a sua frente.

— Elias estava preocupado com você, sabe disso.

— Elias tem o hábito de se preocupar com coisas sem


razão. — disse.

— Imagino que sim. — admitiu. — É seu irmão, então,


provavelmente é super protetor.
— Era super protetora com sua irmã? — perguntei,
imediatamente lamentando a pergunta. Devia ser um ponto
sensível, depois que flagrou sua irmã e seu ex-noivo juntos.
— Desculpe. Não queria perguntar isso. Sou um idiota total.

— Não se preocupe. — disse rindo. — Costumava ser


super protetora com ela. Provavelmente faria isso melhor.
Você sabe, uma vez que ela agiu como uma idiota.

Suspirei. — Família, certo?

— Sim. — respondeu. — Não pode viver com eles, mas


também não pode matá-los e despejar seus corpos.

— Está tudo bem, River. – assegurei. — Quer dizer, é


muito fácil falar com você. Mais fácil do que falar com o
meu próprio gêmeo, às vezes.

Ela corou. — Obrigado, Silas. — disse. — Tenho certeza


que Elias tem boas intenções.

— Sim, eu sei – expressei. — Ele acha que sou o mesmo


garoto que foi expulso da faculdade há alguns anos.

— Você é? — questionou.

— Não.

— Então, não se preocupe com isso. — disse

— Sinto muito pelo que aconteceu com sua irmã, mãe e


as outras coisas. — disse.
River riu. — Eu não. — assegurou. — Estou tão feliz
que tudo tenha acontecido dessa forma. Viper era um
babaca. E minha irmã e minha mãe eram parasitas. As
coisas aconteceram exatamente como deveriam. Se não
fosse assim, nunca conheceria Elias. Além disso, o karma os
alcançará, de qualquer forma.

— O que quer dizer?

Ela sorriu. — Não deveria me sentir tão presunçosa.


Mas, o que posso dizer? Eu sou mesquinha.

Ri. — Tenho certeza de que não é mesquinho se sentir


presunçosa. O que aconteceu?

— Fiquei sabendo por meio de amigos, se isso importa.


– esclareceu. — E em algumas revistas, também. Minha
irmã perdeu o grande contrato que tinha com a empresa de
cosméticos. Acontece que existia algum tipo de cláusula
moral. E ter uma de suas modelos enganando alguém em
um reality show não é exatamente o que a marca esperava.

— Ela teve o que merecia.

— Bem, espere, ainda há mais. — assegurou River. —


Em seguida, fez uma cirurgia plástica. E, pela sua aparência
nas revistas, não ficou... como posso dizer... muito bom.
Então, ela saiu de sua agência também. E Viper transou com
todas as suas amigas modelos. Foi assim que acabou.
—Espero que sua mãe tenha o que merece, também. —
declarei.

— River doou todas as suas coisas para a caridade. —


disse Elias, andando atrás dela e colocando a mão em seu
ombro. — Vendeu a casa e a despejou.

— Ela é tóxica. — afirmou, segurando na mão de Elias.


— Então agora, limpei o peso morto da minha vida e
estamos recomeçando aqui em West Bend.

A maneira como River olhou para Elias me fez pensar


em Tempest.

Esqueça-a, disse a mim mesmo. Provavelmente ela já


te esqueceu também.
Capítulo Dezesseis

Tempest
Caminhei pela calçada até o edifício com o capacete em
minha mão, olhando ao redor cautelosamente. Não voltei
para West Bend desde que tinha dezessete anos. Voltei para
esta área apenas para visitar minha avó Letty, mas depois
do escândalo com os meus pais, ela havia se mudado para
uma cidade próxima. Fiquei totalmente longe do Colorado
nos primeiros dois anos depois que saí de West Bend já que
vivia precariamente e depois voltei por curtos períodos
quando podia, ao longo dos anos.

Antes, quando tudo aconteceu com os meus pais e


fugimos da cidade, minha avó gastou o pouco dinheiro que
tinha para contratar alguém para nos rastrear, mas não
conseguiu. Dois anos mais tarde, quando finalmente
consegui voltar para vê-la foi quando soube que meus pais
me abandonaram e eu vivia por conta própria.

Desde então, nos aproximamos, ainda que apenas por


meio de visitas esporádicas. Minha avó era minha única
família e era um lembrete de uma época em minha vida
quando as coisas eram pacíficas. Felizes.
Claro, esse período de tempo era como a calmaria
antes da tempestade.

Não tinha condições de vê-la tão freqüentemente


quanto queria e nunca voltei a West Bend, uma vez que a
minha avó se mudou para uma das cidades vizinhas.

Até agora.

Agora que estava neste - como se chamava o lugar no


site? — Centro de Assistência — precisei voltar para West
Bend para vê-la. Não estava entusiasmada com a ideia de
colocá-la neste lugar. Tentei até contratar uma enfermeira
para ajudá-la em sua casa, mas não aceitou. Protestou, disse
que era hora de se mudar para cá. Irritei-me com a ideia.
Um lar de idosos? Não, obrigada. Mas insistiu que não era
esse tipo de lugar e, pelo telefone, parecia feliz.

Até que me ligou há algumas semanas e disse que


queria me ver. Isso me deixou preocupada, embora tenha
dito que não era uma emergência.

Então, estava de volta em West Bend, pela primeira vez


em sete anos.

Menti para Iver e os demais, dizendo-lhes que viajaria


para algum lugar e tiraria umas férias.

Minha equipe não sabia nada sobre meu passado ou


sobre a minha família. Claro, Emir provavelmente tinha um
dossiê sobre mim, mas nunca me disse nada, então preferia
pensar que se absteve de usar suas habilidades de
tecnologia para descobrir tudo o que podia sobre mim.

Os membros da minha equipe eram as pessoas mais


próximas do mundo para mim, mas não sabiam nada sobre
o meu passado. E a única coisa que sabia sobre o passado de
cada um deles é que se envolveram em golpes. Vigaristas
eram engraçados assim. Éramos mestres em deixar nosso
passado para trás, criando novas vidas em todos os lugares
que passávamos e desligando das antigas. Minha infância
não foi tão real para mim quanto a minha vida presente e
não queria manchar o meu presente com fantasmas do
passado.

Exceto por Silas.

Trouxe essa parte do passado direito para o meu


presente. E foi incrível.

Mas precisava deixar Silas em Las Vegas, onde


pertencia.

A porta do quarto estava aberta, mas bati de qualquer


maneira.

— Nana?

Letty me olhou de onde estava sentada em sua cadeira


estofada, vestida da cabeça aos pés, em uma roupa esportiva
de leopardo cravejado de strass. Seu rosto se iluminou
imediatamente. — Tempest!

— Não se levante, Nana. — disse, andando pelo quarto


para abraçá-la. — Como está?

— Oh, você é um colírio para os olhos, querida. — disse


— Sente-se, sente-se. Fique um pouco. Ficará por um
tempo, né?

— Alguns dias, Nana. — respondi. — Podia me dar ao


luxo de passar alguns dias em West Bend, disse a mim
mesma. Duvidava que alguém me reconheceria agora, pelo
menos se olhasse superficialmente. A última vez que
realmente coloquei os pés em West Bend, era uma menina
desengonçada e desajeitada de 17 anos. E mesmo se alguém
me reconhecer, não era como se houvesse um mandado de
prisão contra mim.

Havia também uma parte de mim que desejava a


familiaridade de West Bend. Era o único lugar no qual fui
verdadeiramente feliz e queria uma dose desse sentimento
novamente.

— Deixe-me olhar para você, menina. — pediu Letty,


fazendo uma pausa, olhando meu corpo de cima para baixo,
estreitando-os quando olhou para mim. — Perdeu peso. Não
está comendo o suficiente? Tem olheiras sob seus olhos.
Não está dormindo? Não minta para mim. Não está
dormindo o suficiente. Posso ver isso em seus olhos.

— Está bem, Nana. — disse. — Basta com a enxurrada


de perguntas.

— Oh, não me venha com essa coisa de Nana. – falou.


— Para que o capacete? Andando nessa armadilha da morte
novamente?

Suspirei, fingindo exasperação, mas secretamente feliz


com todas as perguntas. Era uma parte de nossa rotina que
me era familiar. — Sim, estou dormindo, Nana. Não, não
perdi peso. Sim, estou comendo. Sim, ainda ando de moto...
Aliás, foi assim que vim de Las Vegas, na verdade. Agora,
como se sente?

— Sente-se, menina. — Disse insistentemente,


apontando para a cadeira estofada a sua frente. Esperou me
sentar para recomeçar a falar, estalando a língua nos dentes
enquanto balançava a cabeça. – Os jovens de hoje em dia.
Não sei por que anda em algo assim. Está pedindo para ser
arrastada por um caminhão.

Ri. — Bem, não podemos mais passear em cavalos e


carruagens, da forma como as pessoas faziam quando era
uma menina.

Letty piou. — Carruagens puxadas por cavalos. —


replicou. — Acha que tenho 200 anos, Tempest?
— Não parece ter um dia mais do que 150 anos, Nana.
— falei.

Ela deu uma gargalhada segurando o estômago e,


finalmente, prendeu a respiração. — Oh, Tempest, senti
falta de você e do seu senso de humor.

Inclinei-me para frente em minha cadeira. — Sério,


Nana. — disse. — Como está? Seja honesta comigo. Estão te
tratando bem?

— Está brincando, menina? — perguntou, apontando


para si mesma. — Olhe para mim! Estou fantástica. Este
lugar é o paraíso.

Ri tanto que quase me engasguei, ouvindo Letty. —


Nana!

— Oh, fique quieta. — disse — Tenho 80 anos. Posso


dizer o que quiser.

— Bem, parece que está muito bem, Nana. — disse. —


E também está bonita. Adorei o leopardo.

Letty sorriu. — Coloquei strass para aumentar o brilho.


– comentou. — Precisa se sobressair por aqui, entende. Ser
notada. Há um monte de competição aqui.

— Com quem está competindo?


— Há mais mulheres do que homens aqui, então
preciso me certificar de que estou em minha melhor forma.
– declarou, enquanto olhava os meus braços. — Fez
tatuagens novas, perto do seu ombro? Gostei. Acho que
preciso de algumas tatuagens.

Ri. — Nana, o que deu em você?

Inclinou-se para frente, baixou a voz, em um tom


conspiratório. — Quem não me deu, Tempest?

— Oh meu Deus, está falando sobre o que acho que


está falando? — perguntei. — Está namorando alguém?

Ela se sentou novamente na cadeira, cruzou os braços


sobre o peito e franziu as sobrancelhas sugestivamente. —
Oh, querida, não estou namorando ninguém. — disse —
Estou na pista. Aproveitando. O tempo todo.

Fiquei boquiaberta — Nana, nem sei o que dizer.

— Ah, sim. – comentou. — Este lugar é o céu na terra.


Quer dizer, as acomodações em si não são tão boas e a
comida freqüentemente é horrível, mas a minha vida social
nunca esteve melhor. Nunca fiz tanto sexo nem quando o
seu avô estava vivo, que Deus tenha sua alma. — fez o sinal
da cruz, embora soubesse que não era religiosa.

— Estou feliz que esteja se divertindo. — disse, incapaz


de reprimir minha risada.
— Diversão não seria a palavra. — falou. — Estou
aproveitando a minha vida. Há homens elegíveis com
prescrições para a pequena pílula azul em todo este lugar.

— Oh, Senhor. — Falei. — Não tenho certeza se o


pessoal daqui tem condições de lidar com você.

— Eles não têm. — falou com naturalidade. — E você


não os alertará, também. Deixe-me ter um pouco de
diversão antes de morrer.

— Sempre e contanto que não morra. — repliquei. —


Não por um bom tempo.

— Tenho alguns anos ainda. – comentou. — Não se


preocupe com isso.

— Bom, se continuar festejando como se estivesse com


21, pode chutar o balde, mais cedo do que isso Nana. —
disse.

— Bem, então irei para a sepultura exultante. — disse


— Como uma estrela do rock.

Ri. — Senti muito a sua falta, Letty.

— É tão bom te ver, Tempest. — disse — Mas há uma


razão pela qual queria que passasse por aqui.

— Não era para que me contar suas histórias


depravadas? — perguntei.
— Bem, se quiser ouvi-las, posso dizer-lhe tudo sobre o
Sr. Johnson, do quarto 122. — Disse — Ele sorrateiramente
entrou aqui a outra noite e...

Levantei minha mão. — Nana. — adverti. — Não me


conte essa história. Terei que insistir. Sabe algo sobre meus
pais?

Ela balançou a cabeça, um olhar sombrio em seu rosto.


— Seus pais. — comentou franzindo o cenho. — A pergunta
mais apropriada é se você sabe alguma coisa sobre eles.

— Eu lhe diria se tivesse notícias – respondi. — Claro


que não. Não soube mais deles desde que fiquei por minha
conta.

— Como vão as coisas? — perguntou com a voz pouco


mais que um sussurro. — Sei que não contará todos os seus
segredos, mas derrubou algum bandido ultimamente?

Contei a verdade para minha avó anos atrás. Disse-lhe


que seguia os passos dos meus pais, mas de um jeito
diferente. Sorriu quando expliquei por que roubava. Disse
que corrigir os erros do jeito que fazia era uma profissão
nobre o suficiente.

— Acabei de finalizar um caso, Nana.

— Alguém que merecia tudo o que teve?


Balancei a cabeça. — Definitivamente. — disse. — E
conseguimos algum dinheiro para a família que prejudicou,
as pessoas que realmente lutavam.

Ela sorriu. — Sabe, quando sua mãe foi embora com


seu pai, fiquei arrasada. Sabia que ele era um vigarista no
momento em que o vi. Ele apenas tinha essa vibe sobre ele.
Ele arruinou a nossa relação. E quando ela te afastou de
mim quando era uma criança, pensei que te arruinariam.
Mas aqui está, crescida, caminhando com seus próprios pés
e fazendo o que é certo.

Senti-me corar. — Bem, não estou fazendo exatamente


o que é certo. – mencionei. — Estou quebrando a lei.

Ela acenou com a mão. — Bah! — disse. — Às vezes as


pessoas se safam fazendo coisas terríveis e a lei nunca as
castigam por isso. A vida precisa de pessoas como você para
acertar as coisas. Mesmo que não seja necessariamente
legal.

— Definitivamente não é legal. — comentei.

Letty me olhou por um longo tempo. — Legal ou não,


não poderia estar mais orgulhosa de você, querida.
Capítulo Dezessete
Silas
— Então não acha mais que sou louco, hein? — me
inclinei na cadeira, com os braços cruzados sobre o peito.

— Por favor. — Luke sorriu — Você é e sempre será


louco, irmãozinho. Mas acho que a sua teoria sobre a morte
da mãe tem algum mérito.

— É por isso que está em West Bend, Luke? — sondei.


— Porque está interessado em quem teria razão para querer
nossos pais mortos?

O rosto de Luke avermelhou. Não conseguia me


lembrar de uma época que tenha visto Luke corar. Olhei
para Elias do outro lado da sala e este sorriu.

— Não. — disse Elias, atravessando a sala e puxando


uma cadeira na mesa da cozinha. — Existe uma garota, não
é?

Luke balançou a cabeça. — Não quero falar sobre isso.


— Luke tem uma namorada. — afirmou Elias, com a
voz provocativa. — Merda, queria que Killian estivesse aqui.
Ele te atormentaria, cara.

— Calem a boca, imbecis. – Luke vociferou.

— Se não quer falar sobre isso, deixe-o sozinho, Elias.


— refleti, de repente, pensando em minha reação quando
Trigg perguntou sobre Tempest.

Elias me analisou, estreitando seus olhos — O que faz,


tomando as suas dores? — questionou. — Geralmente é o
que começa a provocar.

— Sim, bem. — respondi. —Talvez ele não queira falar


sobre isso, porque é alguém que significa algo para ele.

— Parem de falar como se eu não estivesse na sala,


caras. — disse Luke. — Estou aqui.

Mas Elias ignorou, ainda olhando para mim. — Desde


quando se tornou o Sr. Sensível? — perguntou. — O
próximo passo será sentarmos todos juntos para falar sobre
nossos sentimentos. Talvez comecemos a chorar também.

— Cala a boca. — respondi. — Você é o único saltando


sobre a River.

— Sim, porque é a River. — respondeu. — Você a viu?


— ele não conseguia parar de sorrir e sabia que estava feliz.
Era bom vê-lo assim.
— Por que não voltamos a falar sobre o assunto
anterior? — sugeri. — Pare de desviar do tema. A morte de
nossos pais.

Podia sentir os olhos de Elias ainda em mim, mas ele


cedeu. — Tudo bem. Ainda acho que a ideia de que foram
assassinados é ridícula. Todo mundo queria o idiota morto.
— refletiu, referindo-se ao nosso bêbado e abusivo pai. — Se
tivesse sido assassinado, aconteceria em uma briga de bar a
céu aberto e não na mina abandonada atrás da nossa casa.

— Ou um de nós o teria matado. — comentou Luke


sombriamente. Mas se fosse verdade, o fato de que um de
nós não o assassinou era em si um milagre. — Só acho que
não faz sentido ela ter uma overdose com comprimidos e
bebidas. Ela sequer bebia.

— Muitas coisas não faziam sentido quando se tratava


dela. — pontuou Elias. — Ela era instável. Mas... como diz
aquele ditado? A melhor explicação é a mais simples, certo?
Esse é o caso aqui. Deixe de buscar formas complicadas
para dar sentido às coisas.

— Talvez esteja certo. – comentei sem entusiasmo.


Elias estava naquela fase lúdica da lua de mel com River e
tinha certeza de que isso era parte de sua relutância em
pensar no assunto.
Não podia culpá-lo. Se tivesse algo como o que tem
com River, talvez não me preocupasse com essa besteira
também.

Uma imagem de Tempest deitada no piano enquanto


colocava minha cabeça entre suas pernas brilhou em minha
mente e a afastei. Não teria nada como Elias e River tinham,
não com Tempest. Mesmo que quisesse.

— Não, não está certo. — alegou Luke. — Vocês sabem


que ela teve uma oferta pela propriedade antes de morrer.
Há uma conexão. Silas, me ajude... essa era a sua teoria
inicial.

— Já pensei nisso. — disse Elias. — Mas não parece


relacionado. O terreno é um pedaço de merda afastado da
cidade e ela sequer considerava a oferta.

— Bem, ela não queria falar sobre isso. — disse — Não


significava que não considerasse. Ou que estivesse
relacionado.

— Creio que não deveríamos remexer nesta merda


somente para agitá-la. — sentenciou Elias.

— Bem, as pessoas são assassinadas por motivos


pessoais ou financeiros, certo? — perguntou Luke.

— De onde tirou isso? — perguntou Elias. — Tem


assistido muitos programas criminais?
— Cala a boca. — refutou Luke. — Não iremos a lugar
nenhum com isso. Essas são as principais razões pelas quais
as pessoas são assassinadas. Então, se foram mortos, seria
por uma dessas razões.

— Ou atos aleatórios. — sugeriu Elias.

Luke assentiu. — Ok, ou atos aleatórios.

— Bem, isso já está descartado. — falou Elias. — A


probabilidade de o idiota ter sido assassinado por razões
pessoais e depois disfarçado como um acidente na mina é
baixa e não existe nenhuma razão para a nossa mãe ter sido
morta. Ela era bastante inofensiva.

Inofensiva — pensei, lembrando como destruiu a carta


de Tempest, pegou todo o dinheiro que guardei para estar
com ela. Ela arruinou as coisas entre nós. Estava longe de
ser inofensiva nos meus livros.

— Poderia ser a motivação financeira. — observou


Luke. — Se a empresa a queria fora da propriedade.

— Então, o que? — perguntou Elias. — Alguma


empresa de mineração apenas elimina os moradores da
cidade que não vendem as suas terras? É uma ideia
completamente ridícula.

— Bem, e se não foi só isso? — refleti. — Talvez o


imbecil encontrou algo na montanha perto da área de
mineração. Ou talvez procurava por alguma coisa. Isso
explicaria por que estava lá, quando a mina foi abandonada
por anos.

Luke deu uma gargalhada, o som ecoando pela


cozinha. — Sim. — falou. — Abandonada por sua culpa,
Silas.

Elias riu. — É engraçado agora. — argumentou. — Não


foi engraçado na época.

— Não, não foi engraçado. — Ratifiquei. Nosso pai me


chutou pelo que aconteceu, a maneira que perdi a licença de
mineração que lhe permitia vender carvão para as pessoas
na cidade quando éramos crianças. Foi por essa razão que
acabou como zelador na escola, que por si só já era castigo
mais do que suficiente para mim. Mas antes disso, meu
castigo resultou em duas costelas quebradas.

— Bem, a explosão foi bastante lendária. — disse Elias.

— Claro que foi. — confirmou Luke. — De qualquer


forma, vim até aqui e disse a mesma coisa para Elias. Mas
fui à propriedade e não vi nada, então não sei o que pensar.
Não encontrei a oferta da empresa que a mãe recebeu.

— Já repassei todas as minhas lembranças. — disse


Elias. — Creio que existe uma explicação melhor do que a de
que o idiota estava bêbado como um gambá e brincando na
mina quando algo caiu sobre sua cabeça causando um
trauma. O escritório do legista disse que provavelmente foi
uma rocha. Houve deslizamento de terra.

Resmunguei uma resposta. Não tinha certeza do que


pensava. Nem sabia se me importava, não era como se fosse
próximo de qualquer um deles. Além disso, descobrir que
minha mãe me traiu da maneira como fez com Tempest me
deixou amargurado sobre a coisa toda. Talvez fosse melhor
deixar isso pra lá.

Ainda assim, não faria mal passar pela propriedade e


dar uma olhada.

— Talvez passe por lá e dê uma olhada. — propus. —


Ver o que encontro.

Elias negou com a cabeça.

— Não esperem que me junte a vocês. — disse — Ainda


faremos coisas na casa.

— Entendo. — esclareci. — Tenho uma boa idéia das


coisas que fará.

— Merda, sim. — disse Elias, sorrindo amplamente.

— Luke? — perguntei. — Quer ir comigo?

— Quando

Dei de ombros. — Amanhã, acho. Já está ficando tarde.


Escurecerá em breve e não quero voltar ali no escuro.
Luke olhou para a mesa. — Oh. — disse. — Sim. Não.
Quer dizer... não posso. Não amanhã.

Elias levantou uma sobrancelha. — Oh, é? —


perguntou. — Tem grandes planos?

— Cala a boca. — exclamou Luke. — Tenho planos.


Planos nos quais não preciso que os idiotas sejam incluídos.

Elias zombou antes de virar na minha direção. — O


calendário social de Luke está cheio. Desculpe, cara. Terá
que fazer isso sozinho.
Capítulo Dezoito

Tempest
— Então, o que precisa falar comigo Nana? —
perguntei. — Por favor, me diga que não são apenas fofocas
sobre sua vida sexual.

— Não vou te entreter com histórias da minha vida


social. — respondeu. — Neste momento, de qualquer
maneira. Queria falar sobre a casa.

— O que tem a casa? — perguntei. — Acho que


devemos ficar com ela, Nana. — Não estava preparada para
que vendesse sua casa, mesmo que quisesse se livrar dela.
Em meus vinte e três anos era o único lugar em que me
senti verdadeiramente em casa. O tempo em West Bend foi
o período mais longo que passei com ela, um dos mais
longos períodos que passei em qualquer lugar e tinha boas
lembranças.

Não queria que essas lembranças desaparecessem.

Principalmente as que tinha de Silas.


— Quero que olhe a papelada, querida. — disse — Você
tem um olho para os detalhes e entende sobre golpe. Quero
ter certeza que não estou sendo enganada.

— O que fez, Nana? — perguntei com a voz alta. — Será


que a colocou no mercado? Alguém fez uma oferta?

Ela acenou com a mão. — Não, nada disso. —


contestou. — Mas esta empresa de mineração, que parece
estar se instalando em West Bend. Estão fazendo ofertas
aqui e ali para as pessoas, a maioria tem propriedade em
West Bend.

— Qual é a oferta? — perguntei. — É justa?

— Bom, não sei. — disse — É por isso que quero que a


veja.

— Não acho que deva vendê-la Nana. — falei. — A


menos que precise do dinheiro e, nesse caso, me certificarei
de que tenha.

- Querida, não digo que quero vendê-la. — falou. — Só


acho que tem algo estranho sobre esta empresa.

— O que quer dizer? — perguntei. — Eles fizeram


alguma coisa?

— Isso é o que quero saber. — observou — Ia pesquisar


na internet, tentar descobrir mais sobre esta empresa, mas
sabe que não entendo nada de computadores.
Ri. Descrever minha avó como avessa a tecnologia
seria o mínimo.

— Sim, Nana, eu sei.

— Então, pensei que poderia fazer alguma pesquisa na


internet, descobrir um pouco mais sobre eles, descobrir o
que fazem.

— Sabe que sou uma vigarista e não detetive particular,


certo? — perguntei.

— Silêncio. — protestou. — Claro que sei. Mas precisa


ter habilidades de pesquisa para ser uma vigarista. Sei que
você tem e não tente me convencer do contrário. Como
descobriria sobre as empresas que aplica golpear?

Sorri. — Você me pegou, Nana.

Ela levantou o dedo para mim. — Não tente me


enganar. Quero que investigue. Tenho uma estranha
sensação.

Gemi. — Nana e seus palpites.

— Tenho razões para suspeitar. — respondeu.

— Ok. — concordei sentando novamente na cadeira e


me preparando para uma longa história. — Sou toda
ouvidos.

— Lembra de Esther Saint, a Sra. Saint? —perguntou.


Meu peito apertou com a menção de seu nome.

— Sim. — disse lentamente. — Sei quem ela é.

Ela assentiu com a cabeça, com um olhar penetrante.


— Pensei que se lembraria dela. — falou. — Você e o garoto
Saint, Silas, era o nome dele? Se davam bem, se bem me
lembro.

Nos dávamos bem. Isso era um eufemismo.

Não pense em Silas, disse para mim mesma.

Limpei a garganta. — O que aconteceu?

— Ele cresceu para ser um jovem lindo, esse Silas. —


revelou. — Aqueles olhos azuis... Oh, ele parece um jovem
Paul Newman. Sabe quem era Paul Newman?

— Claro que sei quem é Paul Newman, Nana. Estava


no filme Golpe de Mestre, é praticamente um requisito que
um vigarista o assista. — disse distraidamente, minha
mente agitada. Ela falava sobre Silas no presente. A imagem
de Silas saindo da banheira, a água escorrendo por suas
costas musculosas e sobre sua bunda perfeita passou pela
minha mente.

— Bem, esse Silas é um Paul Newman. — disse Letty.

— Ouvi que se mudou daqui. — falei com a voz


trêmula.
— Oh, ele se mudou por um tempo — disse — Foi para
a faculdade por um ano ou dois, acho, depois saiu e fez
algumas lutas. Mas voltou para cá alguns meses atrás. Por
quê? Está interessada?

Suspirei. — Estou apenas curiosa, Nana, isso é tudo. —


Mas meu coração estava disparado. Como Silas voltou para
West Bend?

— Uh-huh. — murmurou. — Bom, se sua curiosidade a


vencer, ele está na casa do treinador Westmoreland, no
apartamento acima da garagem. Não que esteja curiosa.

Ignorei-a. — Nana, o que isso tem a ver com a


propriedade ou a empresa de mineração.

— Já chego lá – afirmou. — Não me apresse. Esther


Saint cometeu suicídio não faz muito tempo.

— Oh! — disse. — Isso é terrível! — Silas não me disse


nada e me perguntava por quê.

— Bem, a conhecia. — mencionou. — Esteve deprimida


por anos, miserável e infeliz com o seu marido. Ele só dava
trabalho. Não era bom, um bêbado grosseiro e bruto. Mas
não acho que se matou. Dizem que teve uma overdose com
comprimidos e álcool, porém sei que não bebia, por causa
do marido bêbado.
Não sabia o quanto acreditava no que Letty dizia. A
única vez que vi a mãe de Silas, ela parecia um pouco fora
de sintonia. Claro, também tinha acabado de levar uma
surra um pouco antes de conhecê-la. — Não entendo o que
isso tem a ver com a casa, Nana.

— O marido teve um acidente, também. — observou —


Alguns meses atrás. Foi atrás de sua casa, perto da mina.

— Uma mina? — perguntei — Eles tinham uma mina?


— Quebrei a cabeça tentando lembrar se vi uma mina
quando estava na casa de Silas nesse tempo.

Quem tem a uma mina em seu quintal? — pensei.

— Oh, não dessa forma que pensa, querida. — disse —


As pessoas faziam sua própria mineração o tempo todo,
exploravam as laterais das montanhas. Esse material era
regulamentado há muito tempo atrás. Não precisava ter
uma empresa, só precisava de uma autorização para
explorar. O marido dela vencia carvão na cidade para poder
chegar ao final do mês e, é claro, gastou a maior parte no
bar.

— Então, houve um acidente de mineração… —


perguntei. Queria saber o que aconteceu com a família de
Silas.

Ele não disse nada a respeito disso. Claro, não diria,


certo?
— Bem, isso é o que disseram que aconteceu.
Chamaram de acidente, disse que estava explodindo em seu
quintal. — disse. — Claro, duvido que alguém o olhou muito.
Aquele homem não era exatamente amado aqui.

— Não... — disse. Definitivamente não era amado por


Silas. Silas odiava o pai. Queria dar o fora de West Bend o
mais rápido possível. De alguma maneira duvidava que
estivesse de coração partido com a morte de seu pai. E pelo
que Silas me contou ele, suspeitava que a cidade sentisse o
mesmo. - Mas não acha que aconteceu dessa maneira?

— Bem, pensei que sim. — disse Letty. — E, em


seguida, Esther Saint se matou. E isso me fez questionar.
Não fazia sentido para mim que fizesse isso. Se matar
depois que o estorvo do seu marido finalmente estava
morto. Além disso, havia o álcool e não bebia. Estava vendo
o prefeito.

— O que significa estava vendo o Prefeito? —


perguntei.

— Quero dizer, vendo. – afirmou. – Fodendo, acredito


que vocês, jovens, chamem assim.

Ri. — Sim, Nana. — admiti. — Fodendo. É algo que


sabe com certeza?

Ela encolheu os ombros. — Tenho minhas fontes. —


disse.
— Está bem. – Argumentei. — O que isso tem a ver
com a propriedade?

— Não me venha com esse olhar. — disse.

— Que olhar?

— Aquele que diz que acha que sou uma velha senil.

— Definitivamente não acho que seja senil, Nana. —


esclareci. — Você é a pessoa que dorme com metade dos
homens neste lugar.

— Cale a boca. — advertiu, olhando para a porta. —


Todos pensam que somos exclusivos. Não quero que ouçam
por acaso.

— Nana! — censurei.

— Não me venha com sermões. — disse — Sou maior


de idade.

— Não pode usar isso como uma desculpa para tudo.

— Na maioria das vezes funciona. — declarou. — De


qualquer forma, como dizia antes, acho que há algo
estranho nesta empresa de mineração. Não sei sobre todas
essas coisas. Tenho essa sensação. Mas acho que as mortes
podem estar relacionadas.

Suspirei. — Tudo bem, Nana. — considerei. — Tem


alguma evidência?
— Bem, sei o que ouvi da própria Esther. — disse.

— OK.

— Ela disse que seu marido descobriu algo que os


tornariam ricos. — Letty declarou, em seguida, aprumou-se
na cadeira com os braços cruzados, visivelmente, satisfeita
consigo mesma.

— É só isso? — perguntei.

— É só isso? — frisou. — Isso é tudo. Claramente, o pai


descobriu alguma coisa ou soube algo que a empresa estava
interessada. Talvez algo em sua propriedade, talvez algo em
outro imóvel aqui, não sei. Mas disse a sua esposa e ela
disse alguma coisa para o prefeito ou alguma outra pessoa.
E isso a matou.

— Você é uma aficionada por Agatha Christie. —


insinuei.

— Não me falte com o respeito. — repreendeu. — O que


acha?

— Acho... — minha voz sumiu e escolhi as minhas


palavras com cuidado. — Acho que está certamente dentro
do reino das possibilidades.

— Não acredita em mim.


— Acho que é menos provável que o fato de que o
marido era um bêbado louco e era cheio de merda. –
afirmei. — E isso da Esther Saint se matar porque tomou
um monte de comprimidos com álcool é mais conveniente e
mais fácil do que fazê-lo de outra maneira.

— Te darei a documentação da empresa. — disse —


Promete?

Suspirei. — Se fosse qualquer outra pessoa, Nana...

— Sei disso. — sorriu. — Fará feliz uma mulher


moribunda.

— Nana! — exclamei.

— O quê? — levantou as mãos. — Todos morreremos


um dia, Tempest. Não disse que morrerei agora.

Às vezes, não tinha certeza se a minha parte vigarista


realmente veio dos meus pais. Ou dela.

Andava pela cidade, pensando na possibilidade de ser


reconhecida, apesar da minha cabeça e rosto estarem
escondidos pelo capacete da moto. Sabia que era um
pensamento irracional. Mesmo se não estivesse com o
capacete, passaram-se anos desde que estive aqui e era
adulta agora, não uma adolescente. Era pouco plausível que
alguém me reconhecesse.

Pelo menos meus pais foram inteligentes sobre quem


enganaram aqui, aproveitando-se do prefeito na época e de
alguns dos homens de negócios, sendo que nenhum deles
apresentou queixa. Todos tinham algo a perder se fossem
atrás dos meus pais. Essa era outra regra vigarista que
aprendi, sempre encontrar uma vítima que perderia tudo, se
revelasse que foi enganado. Na maioria das vezes, os
empresários que foram vítimas não podiam se dar ao luxo
de divulgar essa informação, que faria os investidores
perderem a fé em detrimento de sua posição, ou pior, serem
implicados na possível corrupção.

Claro, isso não significava que um desses homens de


negócios simplesmente assumisse o controle de outra
maneira, fora dos canais legais. É aí que os vigaristas
precisavam cuidar das suas costas.

Poderia simplesmente sair da cidade agora, pensei.


Poderia viajar, deitar na praia e tomar margaritas.

E esquecer Silas.

Essa seria a coisa certa a fazer.


Mas, em vez disso, dirigia para a pousada que
encontrei pela internet. West Bend não oferecia muito em
termos de alojamento, mesmo depois de todos esses anos.

Este lugar era bonito o suficiente — pensei enquanto


estacionava na entrada garagem e desligava o motor. Era
como algo saído de um filme: uma pequena casa de fazenda
branca, com uma grande varanda e cadeiras de balanço na
parte da frente.

Inclusive um cachorro border collie veio correndo para


me cumprimentar quando saí da moto.

Tudo era exatamente o oposto do tipo de lugar onde


uma garota tatuada com uma Harley Road King deveria
ficar.

Especialmente se tentasse passar despercebida na


cidade.

Porém disse a mim mesma que estava apenas de


passagem. Seria apenas por uma noite e então estaria fora
daqui. Apenas visitava minha avó.

É isso aí.

Estava segura que não voltei aqui para rever meu


passado, com nostalgia por meu relacionamento com Silas.
E certamente não estava interessada em me hospedar
em West Bend após dizer que Silas estaria aqui e não
vivendo em Las Vegas, do jeito que pensava.

Certamente não.

— Olá. — Agachei-me para brincar com o cachorro e


virei a etiqueta com o nome na coleira — Oi, Bailey. Bem,
você é uma garota linda, não é?

Uma mulher apareceu e uma criança correu pela


varanda.

— Papai! — exclamou a criança.

— Não querida. — disse enquanto subia os degraus. —


Não é o papai. Você é Molly?

Balancei a cabeça. — Liguei mais cedo e fiz uma


reserva.

Ela estendeu a mão. — Sou June. — disse. — É bom


conhecê-la. Stan ouviu a moto e pensou que era o seu pai.
Por um minuto, eu também. Meu marido Cade tem uma
moto, é dono de uma loja na cidade. Ele faz trabalhos de
pintura personalizada.

— Sério? – exclamei. — Não imaginei essa mulher de


aparência doce e grávida como a esposa de um motoqueiro.
— Terei que ir à loja dar uma olhada.
— Venha. — disse June. — Por quanto tempo ficará?

— Só por alguns dias, acho.

June tagarelava enquanto pegava meu cartão de


crédito, uma das muitas falsificações que possuía,
recomendando algumas das atrações turísticas fora da
cidade. Se ofereceu para me acompanhar até a casa, mas
não aceitei.

— Você sabe. — disse. — Estou muito cansada e tenho


algum trabalho a fazer, então ficarei muito bem no quarto.

— Oh, que tipo de trabalho? — June abriu a porta para


um dos quartos. — O banheiro fica ali naquela porta.

— Sou advogada. — respondi. Ou melhor, Molly era


uma advogada. Molly McAdams era uma advogada de Los
Angeles, que andava de moto para se divertir com um
namorado chamado Tyler e uma gata chamada Alice. Molly
era uma das dez principais identidades que mantinha em
rotação, cujos detalhes sabia como se fossem parte da
minha própria história e que me servia bem.

— Que tipo de lei você pratica? — perguntou June.

— Direito de Entretenimento. — respondi.

— Oh, isso é interessante. — comentou. — Tenho


certeza que já ouviu falar que West Bend tem sua própria
estrela de cinema.
— Não ouvi falar. – respondi distraidamente. Tudo o
que conseguia pensar era no fato de que queria ficar dentro
do quarto e lavar a poeira da estrada de mim. O hotel que
fiquei na noite anterior, na estrada de Las Vegas, não era
exatamente o melhor e me sentia suja.

— Temos. — afirmou — River Andrews. Ela faz


comédias românticas. Casou-se com Elias Saint e se mudou
para West Bend.

Meu coração disparou no nome. Droga — pensei. O


que havia com os irmãos Saint que apareciam em todos os
lugares? Era como se o destino jogasse o meu caso com Silas
bem na minha cara.

— Bem. — disse June, inclinando-se para pegar seu


filho. — Há café e chá na cozinha, nessas garrafas térmicas,
assim pode se servir a vontade. E há alguns petiscos e frutas
no balcão. Se não tiver jantado ainda, posso recomendar
alguns restaurantes. E costumo servir o café da manhã por
volta das nove na sala de jantar.

— Isso é ótimo, June. — comentei. — Entre o café e a


internet, acho que ficarei bem até amanhã.

— Muito bem. Isso foi fácil. — admitiu June. —


Estamos na casa ao lado se precisar de alguma coisa. O
número de telefone está na geladeira.
Assim que a porta fechou, coloquei minha mochila na
cama e desempacotei, mastigando uma barra de proteína
enquanto preparava um banho. Afundei na banheira, a água
quente me envolvendo e apoiei minha cabeça na porcelana,
fechando os olhos.

Não podia tirar Silas da cabeça, nem a lembrança do


nosso, não tão distante, encontro.

Silas traçando seu dedo sobre meu ombro e pelo meu


braço enquanto se sentava na banheira a minha frente.
Silas, seu rosto perto do meu, sua voz pouco mais que um
sussurro, deslizando os dedos ao longo da minha coxa e
entre as minhas pernas, então os colocando dentro de mim
na varanda no restaurante do hotel. Silas me olhando, com
o rosto entre as minhas pernas enquanto estava ao piano.

Silas debaixo de mim enquanto o montava no riacho


quando tinha dezessete anos. Silas agarrando minha bunda
quando me girou, minhas pernas em sua cintura, depois
que ganhou o campeonato de luta livre do estado. Silas, seu
rosto perto do meu enquanto se movia dentro de mim, me
dizendo que se casaria comigo algum dia.

Os destaques de minha vida eram como um maldito


replay. E agora, estar aqui em West Bend, tornava essas
lembranças ainda mais vivas.
Lembrei-me que aquilo que aconteceu com Silas em
Las Vegas foi apenas uma aventura.

Uma aventura que não conseguia tirar da minha


cabeça.

Calor percorreu meu corpo e passei a minha mão sobre


os meus seios, em seguida, para baixo no meu estômago.
Sabia que deveria tirar da cabeça as lembranças com Silas,
não criar novas.

Ao invés disso, inclinei minha cabeça na banheira e


deixei a imagem de Silas dominar meus pensamentos,
minha mão se movendo entre as minhas pernas e sobre o
meu clitóris continuamente até que finalmente gozei. E o
rosto de Silas foi a única coisa que vi.
Capítulo Dezenove
Silas
Não tinha certeza de como me sentia, voltando para a
casa. Não voltei desde o funeral, quando viajei com Elias a
Hollywood atrás de River. Luke me disse que precisávamos
ir ao lugar, limpá-lo e decidir o que fazer com as coisas.
Minha mãe escreveu um testamento deixando tudo para nós
quatro, um mês antes de morrer, outra coisa que me fez
desconfiar. Desde quando a minha mãe era responsável o
suficiente para escrever um testamento com antecedência?

Não me convencia.

Ainda assim, também não sabia o que fazia aqui.


Depois de tudo que meus pais fizeram, me preocupar se
foram assassinados parecia ser perda de tempo. Mas disse a
mim mesmo que levaria uma hora e satisfaria a minha
curiosidade.

Descobri que não estava sozinho logo que cheguei a


casa. Uma caminhonete branca sem identificação estava
estacionada. Contemplei entrar na casa e pegar a arma
apenas no caso, mas decidi contra.
Provavelmente apenas algum empregado, pensei
enquanto caminhava para a parte de trás. Ou algumas
crianças do ensino médio que sabiam que o lugar estava
vazio.

Ao invés disso, um homem com um capacete de


construção descansava no limite da propriedade, perto do
local da detonação. Quando me viu, imediatamente se
endireitou, tirando um walkie-talkie da cintura e falando
nele.

Estava muito longe para ouvir o que falava. — Ei! —


gritei. — O que faz aqui?

Um segundo homem surgiu da entrada da mina e tirou


seu celular assim que me viu. Estava de costas para mim,
mas podia ver que falava com o outro cara.

Corri em direção a eles. — Você tem alguma razão para


estar aqui? Esta é a minha propriedade.

Um dos homens levantou as mãos. — Somos


topógrafos. Apenas olhávamos a terra.

— Então acho que tem alguma identificação para


mostrar? — perguntei. — É da cidade ou do município?

Os homens se entreolharam. — Apenas fazemos um


exame de rotina da mina.
— Sim, entendo — disse — Então, quem exatamente é o
seu empregador? E onde está sua identificação? Perdoe-me
se não sou exatamente amável com estranhos pensando que
têm o direito para bisbilhotar a minha propriedade
particular.

Eles trocaram olhares novamente.

Agora começava a ficar chateado.

— Você tem dois segundos para me dizer o que faz aqui


e para quem exatamente trabalha ou voltarei para minha
casa e pegarei a espingarda que minha mãe costumava
manter sobre a chaminé. Quanto quer apostar que ainda
está carregada? — perguntei.

— Ei, ei. — O primeiro homem disse. Colocou a mão no


bolso de trás. — Só estou pegando minha carteira. Somos da
empresa de mineração.

— Quem lhe deu permissão para vir aqui? — perguntei,


olhando para a identificação que mostrou. — Esta é uma
propriedade particular.

— Não mate o mensageiro. — Disse o outro. — Apenas


fazemos nosso trabalho.

— Seu trabalho envolve invasão de propriedade


particular?
Ele não respondeu, apenas recolheu as malas e
começou a recuar para longe. — Não queremos nenhum
problema. — disse o primeiro, levantando as mãos
novamente.

— Bem, problema é o que terá. – falei. — Dei passos


largos em direção a casa. Tanto quanto conseguia lembrar, a
espingarda ainda estava sobre a chaminé.

— Merda. — Ouvi um deles dizer atrás de mim.

Melhor que corram — pensei.

Minha mente girava enquanto me aproximava da casa.


Se já não estivesse paranóico sobre o que acontecia nesta
cidade, isso levantaria algumas bandeiras vermelhas. Minha
teoria sobre coisas estranhas acontecendo nesta cidade não
era tão louca quando pessoas da empresa de mineração
apareceram em minha propriedade e bisbilhotar.

Coloquei a chave na fechadura da porta da frente, mas


parei quando ouvi o barulho de pneus no cascalho na
entrada da garagem. Assim que vi o carro do xerife, o
sangue subiu a minha cabeça. Sequer precisei esperar a
porta do carro abrir para saber quem estava lá dentro.

Jed Easton saiu e caminhou até a calçada como se


tivesse todo o tempo do mundo. Lamentei o fato de que
perdi tempo falando com os dois caras lá fora ao invés de
pegar a minha espingarda como deveria ter feito.
— Está aqui para prender os dois idiotas que invadiram
a minha propriedade? — perguntei.

Jed sequer olhou para os dois homens, que estavam


ocupados entrando em seu caminhão. Ouvi o caminhão dar
partida e balancei a cabeça. — Não, acho que não. Está no
bolso da mineradora, então?

Jed sorriu, me olhando por trás dos óculos de sol


espelhados.

Filho da puta presunçoso.

Jed tratou minha família como merda por anos, me


incomodando quando voltei à cidade, da mesma maneira
que fez com Elias.

Não gostava do maldito cara.

— Não acho que seja da sua conta qual bolso esteja ou


não, Elias. — Disse Jed. — Ou é Silas? Não consigo ver sua
perna, por isso é difícil dizer. Bem, não está aqui com aquele
lixo branco, a noiva estrela, então não pode ser Elias.

— Tem uma namorada, Jed? — perguntei. — Ou


apenas se masturba a noite com imagens de sua mãe?

O rosto de Jed escureceu. Tirou os óculos espelhados e


me olhou com os olhos faiscando. — Ignorarei isso. — disse
— Mas será minha única advertência.
— Advertência? — perguntei, rindo — Ou o quê? Vai
me levar até a delegacia por desrespeitar o distintivo de
xerife que tem aí? Ou por sugerir que é literalmente um
filho da puta? Não tenho certeza qual parte viola a lei.

Jed sorriu, mas a expressão era sinistra. — Somos os


únicos aqui agora. E acredito que os homens da empresa de
mineração atestarão o fato de que se comportou de forma
ameaçadora. Deveria ter muito cuidado.

— Está me ameaçando por fazer um comentário sobre


a sua mãe? — fiz uma pausa, com meus pensamentos
confusos. Não tinha considerado que Jed estaria envolvido
em tudo isso.

Até agora.

Havia algo na forma como apareceu aqui tão rápido e


do jeito que me ameaçou.

— Não. — disse. — Essa não é a razão, não é?

Jed sorriu novamente, os cantos de sua boca bem


apertados. — Somos os únicos aqui na periferia da cidade,
Silas. A casa mais próxima está o que, há um quilometro de
distância? Ninguém nos vê. E tenho certeza que na casa da
sua mãe tem algumas armas. Pelo que me lembro, seu
bêbado pai gostava de uma arma. Sempre me surpreendeu
que sua mãe terminasse do jeito que terminou. Imaginei
que ela, eventualmente, terminaria com a cabeça estourada
por seu pai, não engolindo uma garrafa de pílulas. Mas acho
que nunca sabe sobre as pessoas, não é?

— Foda-se, Jed. — cerrei os punhos, avançando em sua


direção. — Se fala merda sobre a minha família, fala merda
sobre mim. Por que não atira em mim como um homem de
verdade? — perguntei, imediatamente lamentando a minha
escolha de frase. A última coisa que precisava era levar um
tiro de um policial com gatilho fácil.

Como se fosse uma sugestão, Jed sacou a arma e a


apontou para mim. Parei no meu caminho, levantando
minhas mãos no ar, incapaz de falar pela minha raiva.

— Então é assim que será, Jed? — perguntei. — Atirará


em mim aqui mesmo no meio do jardim da casa de minha
mãe?

— Mantenha suas mãos no ar onde possa vê-las. —


disse Jed. Ele levantou, com a arma apontada para mim,
inabalável. Queria acabar com ele, mas, em vez disso, fiquei
ali, engolindo minha raiva.

— Não estou resistindo, Jed. – falei. — E deve pensar


muito se quer outro corpo em suas mãos. — Olhei para ele
significativamente. Escolhi minhas palavras com cuidado,
sabendo que queria dizer que tinha algo a ver com a morte
de meus pais.
Queria avaliar sua reação. Não tinha certeza que tipo
de reação que esperava.

Ele estreitou os olhos, ainda não se movendo e tinha


certeza que pensava em atirar. Mas não perguntou o que eu
falava.

Não sabia o que acontecia aqui, mas fosse o que fosse,


Jed estava metido até o pescoço.

Tinha certeza disso. Sabia instintivamente.

Quando Jed finalmente começou a andar, parou em


minhas costas. Preparei-me, pensando que seria o meu fim.
— Atirará em mim pelas costas, Jed? — perguntei. — Isso
parece errado até para alguém como você.

Mas em vez de um tiro, o escutei dizer — No chão.


Coloque suas mãos acima de sua cabeça.

— Está brincando, porra?

— No chão e assuma a posição. — disse Jed. — Ou


ainda não entendeu o fato de que sou a lei por aqui?

Ri com o ridículo da sua declaração, mas fiquei de


joelhos, depois de bruços. — Você soa como um vilão dos
desenhos animados. — disse. — Não pode dizer qualquer
coisa mais criativa do que Sou a lei por estas bandas?
Jed me ignorou, puxando minhas mãos atrás das
minhas costas para amarrar meus pulsos forte o suficiente
para que machucassem a minha pele.

— Está bem assim? — perguntou. — Não quero que


fique desconfortável. O escritório do xerife se orgulha do
nosso tratamento humano com os prisioneiros.

Ele me levantou, rindo enquanto me empurrava em


direção ao carro da polícia, abria a porta e me empurrava
para dentro.

— Foda-se, Jed. — cuspi.

Ele ligou o motor e colocou novamente seus óculos


escuros espelhados no rosto.

— Disse anteriormente, Saint. — disse — Você e seus


irmãos devem ter cuidado. Seria uma boa ideia recomeçar
em algum lugar fora de West Bend.

— Se acha que isso me fará menos curioso sobre o que


acontece aqui, você está louco. — disse.

Se não estava interessado antes, estava agora.


Capítulo Vinte

Tempest
Sentei-me em uma das cadeiras de balanço na varanda
da frente, tomando uma xícara de café e fazendo uma
pesquisa na Internet sobre a empresa de mineração que
minha avó mencionou. Não era uma grande empresa, por
isso não havia um monte de notícias na mídia, mas tiveram
algum problema há alguns anos atrás, um acidente que foi
resolvido fora do tribunal. Havia um artigo em um pequeno
jornal da cidade que citava a esposa de um dos mineiros que
se recusara a entrar em acordo, acusando a empresa das
coisas de sempre, condições inseguras e assim por diante.
Fiz uma nota de seu nome, mas o caso parecia bastante
simples.

Não achava muitas evidências de que a empresa foi


acusada de nada nefasto no passado, apesar de que seria
muito mais fácil se tivesse a capacidade de hacker na
internet como Emir. Pensei em telefonar, mas então teria
que explicar o que fazia em West Bend e era a última coisa
que queria fazer.
Estava tão perdida em meus pensamentos que levei
um susto quando meu celular tocou. — Alô?

— Tempest? É você? É difícil ouvir com o barulho no


fundo aqui. — era a voz de minha avó e podia ouvir o
barulho de vozes na área comum na casa de repouso, pelo
posto de enfermagem.

— Sim, Nana, sou eu. — falei. — Iria visitá-la. Dei uma


olhada na documentação que me deu. Parece uma oferta
direta para comprar sua casa. Não há nada estranho sobre
isso, pelo menos.

— Oh, querida, isso é ótimo — disse. — Mas não liguei


para falar sobre isso.

— O que aconteceu? — perguntei.

— É sobre os irmãos Saint. — disse.

Gemi. Não entendia porque me ligaria para falar sobre


Silas, especialmente quando passei uma manhã inteira sem
pensar nele.

— Nana, não quero falar sobre Silas Saint.

— Precisa me ouvir. — disse, então sua voz ficou


abafada. — Diga-lhe que jogarei bridge em cinco minutos.

— O quê? — perguntei, confusa.


— Não é com você, querida. — disse — falava com
Michael, aqui.

— Passarei por ai em breve, Nana. — falei. — Te vejo


em poucos minutos e então falaremos sobre isso depois. —
Queria distraí-la de qualquer bobagem que tinha em sua
cabeça sobre Silas.

— Não, Tempest. — refutou. — Isso é o que queria te


dizer. Não deve vir aqui.

— O quê? Por que não?

— Ouvíamos o rádio da polícia. — explicou. — As


meninas e eu.

— Jesus, Nana. — disse. — O rádio da polícia? Sério?

— Eu gosto. — afirmou. — Isso me mantém informada


sobre o que acontece nesta cidade. Não podemos contar
com o jornal, você sabe. Gosto das minhas informações na
hora. Além disso, existem alguns caminhoneiros com quem
falo no rádio BC4. Têm algumas bocas muito sujas, também,
como para fazer sexo por telefone.

Sufoquei uma risada. — Não preciso saber sobre as


obscenidades que fala com caminhoneiros, Nana.

4BC: Banda Cidade. É uma freqüência de rádio destinada à comunicação


entre os cidadãos.
— Disse que falava obscenidades com caminhoneiros?
— perguntou. — Eles falam sujo comigo. Eu gosto de ouvir.
Não me dê sermões sobre meus hobbies, qualquer que seja.
Sou uma mulher velha.

— Velha, o caramba. — respondi. — É pior do que


alguém com um terço da sua idade.

Ela riu. — Envelhecer é se libertar, querida. — disse —


Como deveria ser.

— Ok, Nana. — Tentei levá-la de volta nos trilhos,


pensando que certamente lamentaria a minha próxima
pergunta, mas incapaz de evitá-la.

— O que ouviu no rádio da polícia?

— Oh sim. O rádio. Bem, essa é a coisa. O xerife. Não


acho que conheça Jed Easton. — não esperou pela minha
resposta. — Ele é uma sujo como um porco na merda,
sempre foi. Nunca gostei dele, mesmo quando era criança.
Jed comunicou um incidente na casa dos Saint.

— Ok. E daí? — perguntei. Minha voz estava


indiferente, mas meu coração quase saía pela boca. Silas
não estava aqui, disse a mim mesma. Estava em Las
Vegas.

— Então. — continuou — Pensei que conhecia os


irmãos Saint, Silas em particular. Então pensei que podia se
interessar. Aparentemente houve algum tipo de briga e Jed
Easton prendeu um deles. Foi há poucas horas.

— Disseram quem? — perguntei.

— Claro que não. Apenas ‘o suspeito isso’ e ‘o suspeito


aquilo’. – explicou. — Então pensei que, possivelmente, é
alguém que você conheça, pensei que estaria interessada em
ir até a cadeia e oferecer sua ajuda.

— Conheci-os há muito tempo. — Menti. Vi Silas há


alguns dias.

Na mais Bíblica de maneiras.

Senti minhas bochechas aquecerem lembrando da


respiração de Silas em meu pescoço, suas mãos prendendo
meus pulsos acima da minha cabeça. Meu coração batia
rapidamente.

E se fosse Silas o irmão Saint preso?

Não, disse a mim mesma. O pensamento era ridículo.


Acabei de deixar Silas em Las Vegas. Mesmo que se
hospedasse em West Bend, a probabilidade de que estivesse
aqui agora era infinitamente pequena.

Ainda.

— Uh-huh — disse Letty.


— Que tipo de assistência oferecereu na delegacia,
afinal? — perguntei.

— Bem, Molly. — Disse, usando o meu nome da vez. —


Não sei. Mas acho que pode resolver isso por si mesma,
sendo uma advogada figurona de Los Angeles e tudo mais.

— Nana. — disse. — Como conseguiu essa informação?


— Isto era clássico de Letty. Tão inútil quanto era para a
tecnologia, não sabia fazer uma simples busca na internet,
mas caramba, ainda assim era capaz de inteirar-se sobre
todos os assuntos nesta cidade no momento em que
aconteciam.

— O quê? — perguntou. — Não consigo ouvi-la. Meus


ouvidos, não funcionam mais tão bem.

Ri. — Ouviu-me muito bem. — assegurei.

— Oh, tenho que ir. Minhas meninas e eu jogaremos


um pouco de bridge. Não espero vê-la aqui esta tarde,
querida.

Suspirei ante a indireta não tão sutil da minha avó de


que deveria ir até a prisão.

— Não se divirta muito, Nana.

— Não irei. – assegurou. — Preciso me certificar de que


meu coração ainda funcione. Odiaria capotar e deixar todos
esses homens aqui maduros para a colheita de Ethel.
Desliguei o telefone, recuperando-me do que me disse.

Não era Silas quem estava preso. Ele ainda estava em


Las Vegas. Ele diria se voltasse para West Bend.

Da mesma forma que mencionei que viria para cá?

Silas era parte do meu passado, pensei, enquanto


organizava tudo o que precisava levar para a Delegacia.

— Foi rápida. — disse a mulher de uniforme por trás da


mesa, com o cabelo preso um coque apertado. — Não sabia
que tínhamos caçadores de ambulância 5 em West Bend.
Sabia, Daryl?

Um homem de uniforme, com uma barriga saliente,


estava sentado em uma mesa do outro lado da sala,
verificando resultados desportivos em seu computador. Ele
resmungou uma resposta sem desviar o olhar.

Dei-lhe um sorriso profissional. — Isso acontece


quando você já tem um advogado. — disse. — E gostaria
saber do que o meu cliente é acusado.

5Caçadores de ambulância – Refere-se ao advogado que consegue o cliente


no próprio local do acidente. Este tipo de advogado chega a perseguir a
ambulância nos hospitais para ‘pegar’ o cliente.
— Bem, Sra. McAdams. — disse, inclinando-se para
frente, com os braços sobre a mesa. — Sendo advogada,
sabe que é preciso tempo para processar os prisioneiros.
Silas Saint ainda não foi processado. — exalei quando ouvi o
seu nome. Portando, era Silas. A maneira como falou, o fez
parecer como um peru no forno, como se não terminasse de
assar. — Sequer mostrou as suas credenciais. E não parece
velha o bastante para ser uma advogada. E está de jeans.

— Bem, Sra. Edwards. — disse, lendo seu crachá de


identificação e imitando seu tom. — Imagine sair de LA para
passar as férias aqui nesta pequena e idílica cidade,
desfrutando de um croissant e fugindo das demandas
constantes de seu escritório de advocacia. Então, imagine
que sabe que um cliente seu, uma querida e uma das
minhas melhores clientes, tem um cunhado que foi
injustamente preso.

— Você é advogada de River Andrews? — perguntou,


olhando para Daryl.

— Não pedi a ajuda de Daryl, Oficial Edwards. — disse.


— Simplesmente pedi para confiar em seus poderes de
imaginação. Imagine o que pensaria, sendo uma advogada.
Talvez pudesse supor que esta é uma grande campanha de
assédio contra o seu cliente e aqueles que são importantes
para ela. Talvez comece a pensar sobre as várias e diversas
maneiras que moveria uma ação contra o departamento do
xerife por negar os direitos constitucionais do Sr. Saint.
Talvez queira considerar as demandas pessoais que
apresentaria. Ppode imaginar esse cenário comigo, Oficial
Edwards?

A mulher parecia nervosa, olhando novamente para


Daryl e escondi um sorriso quando peguei a minha carteira
e tirei o meu cartão de identificação — um falso, obviamente
— que era parte do kit de identidade da Molly. Agradeci
silenciosamente aos deuses vigaristas por ter escolhido essa
identidade em particular. Molly nunca usou seu cartão
falso, o que a identificava como advogada, mas havia uma
primeira vez para tudo.

Coloquei-o no balcão e ela o olhou. — Agora, sabe que


meu cliente tem direito a um advogado. Odiaria pensar que
infringisse os seus direitos. Também odiaria pensar que
precisarua chamar um amigo na mídia. Eles amam tanto
essas histórias sobre abuso do poder em cidades pequenas.

Em caso de dúvida, ameace chamar a mídia.

Esperava soar como uma advogada para ser razoável.

Daryl finalmente tirou os olhos do computador. —


Vamos, Ruby — disse ele. — Deixe-a falar com ele. Já sabe
que foi processado. Não precisamos de qualquer besteira.

A policial fez uma careta. — Daryl, sabe que foi o


próprio xerife Easton que o trouxe. Quer lidar com ele
quando descobrir que autorizou um advogado da cidade
grande entrar aqui?

— Não se preocupe Daryl. — intervi. – Providenciarei


que seja mencionado nos artigos do jornal como o dedicado
oficial que se manteve forte contra o abuso desenfreado de
poder e corrupção no departamento do xerife. A história
praticamente se escreve por si só.

Daryl me ignorou. — Basta deixá-la passar Ruby. —


disse. — Sabe que não temos mais ninguém lá dentro,
exceto o Sr. Jenkins e ele está caindo de bêbado. De todo
modo, Silas Saint sairá sob fiança de qualquer maneira,
agora que seu irmão está com essa estrela de cinema.

Inclinei-me para frente, com os braços sobre o balcão.


— É assim Ruby.

Sua expressão se suavizou e ela suspirou. — Bem. —


parou por um momento e então se aproximou — Então você
é advogada de River Andrews? Aposto que conhece um
monte de estrelas de cinema, certo?

Balancei a cabeça, levantando um dedo em meus


lábios. — Não posso responder a essa pergunta, Oficial
Edwards. — falei. — Privilégio advogado-cliente e outras
coisas.

Não conseguia sequer me lembrar se o privilégio de


advogado-cliente se aplicava a este cenário, se era
semelhante à forma como psiquiatras não poderiam dizer se
alguém era seu cliente. Mas Ruby aceitou a resposta.

Levantou-se, afastou-se do balcão com uma expressão


decepcionada em seu rosto, então decidi jogar-lhe um osso.

— Embora, apenas entre nós duas. — disse, abaixando


minha voz de forma conspiratória — Conheço alguém que
representa essa grande estrela de cinema, aquele que foi
preso por ter relações sexuais com uma prostituta em
Londres há algumas semanas.

Ruby arregalou os olhos — Simplesmente não consigo


acreditar nisso. — disse. — Ele sempre me pareceu um cara
tão legal em seus filmes. Acho que nunca sabe se uma
pessoa te engana ou não.

— Não, Ruby. — falei balançando a cabeça. —


Certamente não sabemos. Há um monte de pessoas falsas
neste mundo. — guardei meu cartão falsificado novamente
no seu devido lugar na carteira de Molly.

— Não precisa me dizer isso. — disse — Terá que deixar


sua bolsa e celular aqui. Caneta e bloco somente.

Quinze minutos depois, Ruby me levou pelo corredor


até uma sala. — Não temos todos os acessórios como nos
lugares maiores. — disse — Mas esta é uma das nossas salas
de interrogatório. Funciona como uma sala de visita. O som
está desligado para que não possamos ouvir as conversas
legais. Mas estará no vídeo de circuito fechado na frente,
apenas no caso de alguma coisa dar errado.

Olhei pela janela pequena no topo da porta, onde Silas


estava sentado com um macacão, as mãos algemadas
descansando sobre a mesa de alumínio. — As algemas
podem ser removidas?

Ela balançou a cabeça. — Desculpe, Sra. McAdams. —


disse. — Precisamos seguir o protocolo. Estarei lá na frente
se precisar de alguma coisa. O botão de pânico está na
parede. Mantenha-se próximo da porta. O preso permanece
no banco mais distante. Não dê nada ao prisioneiro, sequer
uma caneta. Tenho certeza que sabe de todas as regras.

— Claro. — respondi olhando para a janela novamente.

Ela abriu a porta. — Saint. — disse ela. — Sua advogada


está aqui.

Para seu crédito, Silas permaneceu sem reação facial.

— Obrigado, Ruby. — disse, caminhando até a mesa,


com uma caneta e papel na mão. A porta fechou.

— Advogada? — perguntou — É isso que é?

— Quando me convém. — disse. — E às vezes quando


tenho que tirar um amigo de uma enrascada.
— Amigos? — perguntou — Não me chame dessa
merda. Não somos amigos.

Irritei-me com a sua declaração. — Isso parece ódio,


Silas. — disse. — Éramos amigos, há muito tempo atrás.

Silas se inclinou para frente. — Nunca quis ser apenas


amigo, Tempest. — disse.

Engoli em seco, com a implicação de suas palavras.


Não precisava ouvir Silas dizer que queria algo mais
comigo. — Bem, não somos amigos, Silas. Amigos dizem
coisas uns aos outros. Como o fato de que ainda vivem em
suas cidades de origem. — as palavras soaram mais
agressivas do que pretendia e me arrependi logo que saíram
da minha boca.

Silas estreitou os olhos e sua voz era dura. — Você


também não disse exatamente que voltaria para West Bend.
Então o que faz aqui, Sra. McAdams?
Parte Três

O lugar que amamos é a nossa


casa; uma casa que nossos
pés podem abandonar, mas
não os nossos corações.

Lord Oliver Wendall Holmes, Sr. Homesick in Heaven


Capítulo Vinte e Um
Silas
— O que faço aqui? — perguntou. — Parece que não
está feliz que esteja aqui. Estou aqui para ajudá-lo.

Ri. — Feliz? — Não sei como me sentia com Tempest


aqui. Mas feliz? Definitivamente não era a palavra. Essa era
uma forma muito simples para definir a nossa complicada
relação.

Não conseguia decidir se queria rasgar a sua roupa e


fazê-la minha ou dizer-lhe que não queria vê-la novamente.

— Estou aqui para livrá-lo de uma enrascada. —


continuou — Deveria ajoelhar e me agradecer.

Evitei de sorrir. A imagem de Tempest de joelhos entre


as minhas pernas, tomando meu pênis em sua boca,
imediatamente relampejou em minha mente.

Podia sentir meu pau endurecer só de pensar em seus


lábios sobre ele, inclusive enquanto estava aqui na prisão.
Isso não era nada engraçado.
— Dê-me duas horas. — disse, inclinando para frente,
com a voz baixa. — E estarei de joelhos expressando minha
gratidão com a minha língua.

Ela estreitou os olhos, mas notei um ligeiro corar se


iniciar em suas bochechas.

— Pensa que estou interessada em sua forma de


expressar gratidão.

— Oh, olhos brilhantes, vamos lá. — disse. — Não finja


que é imune ao que aconteceu entre nós.

— O que aconteceu entre nós foi uma coisa de uma vez.


— contestou. — Encerramento.

— E, ainda assim, aqui está você, sentada a minha


frente. – indicou. — Em West Bend, Colorado. Na cadeia.
Fingindo ser minha advogada.

— Esta é a minha boa ação para o ano. — replicou. —


Preciso de algum bom karma.

— Caridade? — questionei. — Isso não parece muito


apropriado para uma vigarista, não é?

Ela me olhou, com os lábios entreabertos como se


estivesse prestes a me dar uma resposta inteligente. Mas em
vez disso, perguntou — Me dirá por que foi preso?
— Continuará com toda esta farsa de advogada? —
perguntei.

— Não sabe se sou advogada ou não. — respondeu. —


Estivemos separados por anos, Silas. Poderia ter feito
faculdade de direito.

— Fez?

Ela sorriu. — Não. — confessou. — Mas tenho um


cartão de identificação em minha bolsa que diz que sou um
membro da Ordem dos Advogados.

Não pude deixar de rir. — Claro que sim. — disse. —


Bem, não estou em um apuro que precise de sua ajuda,
Tempest.

Ela encolheu os ombros. — Você é quem está na


cadeia, não eu. — comentou. — Apenas pensei em oferecer
meus serviços, pagar sua fiança, se precisar. Tenho certeza
de que o seu companheiro de cela ficará mais do que feliz se
ficar mais tempo.

Ri. — Estamos em West Bend, não Las Vegas. —


observei. — Tenho certeza que ficarei bem.

— Isso é tudo o que precisava saber, então. — disse


levantando-se. — Vou avisá-los que terminamos.

Suspirei. — Espera.
Tempest se voltou para mim, com as sobrancelhas
levantadas. — Sim?

— Sente-se. — disse.

— Você é horrivelmente mandão para alguém com


algemas. — repreendeu. — Tem certeza de que quer dar
ordens? Poderia simplesmente ir embora.

— Poderia. — ela assentiu. — Mas não quer ir. Ainda


pensa como estávamos bem juntos em Las Vegas, não é?

Ela ficou de pé, imóvel, exceto pela língua que passava


sobre seu lábio inferior.

A única coisa que me deixava louco.

— Não penso nem por um momento. — afirmou.

— Não? — questionei. — Porque eu penso. Na verdade,


não consegui parar de pensar nisso.

A porta abriu e uma policial feminina colocou a cabeça


do lado de dentro da sala. — Já terminou? — perguntou.

— Não. — respondeu Tempest. — Apenas esticava


minhas pernas. Permanecerei sentada. Obrigada, Oficial
Edwards. — sentou novamente em sua cadeira. — Você
andou pensando nisso.
Não tinha certeza se fazia uma declaração ou uma
pergunta. — Claro que pensei nisso. — disse. — Não paro de
pensar em seu sabor.

— Diga-me o que aconteceu. — pediu — Diga-me por


que foi preso.

Ignorei-a, incapaz de resistir em brincar um pouco


com ela. — Não consigo parar de pensar em colocar minha
cabeça entre suas pernas. — revelei. — Passar minha língua
sobre a sua boceta, chupar seu clitóris.

— Silas. — repreendeu com voz severa. Mas mudou de


posição na cadeira e suas pupilas estavam dilatadas. — Por
que foi preso?

Ainda a ignorei. — Não consigo parar de pensar em


chupar seu doce clitóris, colocando meus dedos dentro de
você e levá-la para o ponto onde implora pelo meu pau. —
Fiz uma pausa. — Por que está em West Bend, Tempest?

Ela inspirou, os lábios entreabertos. — Visitando


minha avó, Silas.

Não tinha certeza se era honesta ou não. Na verdade,


esse era todo o problema entre nós. Não sabia dizer quando
ela mentia. Ela era uma vigarista, assim como seus pais.
Não sabia se era mesmo capaz de ser genuína.
— Agora, você, Silas. — disse — A detenção. O que
aconteceu?

— Como sabia que estava aqui? — perguntei.

— Minha Nana. — respondeu. — Ela ouviu no rádio da


polícia na casa de repouso.

— Perguntei a sério, Tempest. — protestei.

— Essa é a verdade. — se justificou. — Juro por Deus.


Minha Nana e suas amigas gostam de ouvir o rádio da
polícia, porque são um pouco intrometidas. Ela me ligou.

Ri e depois que ela fez o mesmo, a tensão entre nós se


dissipou de repente, auxiliado por uma senhora de idade e
seu rádio da polícia.

— Agora você. — repetiu. — Por que foi preso?

— Estava na casa da minha mãe. – respondi. – Jed, o


xerife da cidade, apareceu, brigamos, falamos merda, aí ele
apontou a arma para mim e me prendeu. Isso é besteira.
Por isso não estou preocupado com isso. As acusações serão
rejeitadas.

— Não sabia sobre sua mãe, Silas. — disse — Minha


avó me contou. Sinto muito pelo o que passou.

Dei de ombros. — Você lembra como ela era. –


comentei. — Não era como se fossemos próximos. E então,
descobri a merda que fez conosco... Ela pegou aquela carta e
o dinheiro. Quando isso aconteceu, me destruiu. Ela causou
isso.

— Minha avó disse que foi uma overdose.

Apertei minha mandíbula. — É o que dizem.

— Não acredita nisso? — perguntou.

— Não sei no que acreditar. – queixei-me. — Já não sei


o que acontece nesta cidade.

Tempest me deu um longo olhar. — Huh.

— Huh, o quê? — perguntei.

— Isso foi exatamente o que minha Nana disse. —


declarou Tempest. Bateu a caneta em sua caderneta,
olhando para mim, pensativa.
Capítulo Vinte e Dois
Tempest

— Nem parece que passou a noite na cadeia. —


brinquei. — Você está positivamente radiante.

— Sinto-me totalmente radiante. – afirmou Silas,


esfregando a barba. Os círculos escuros alinhados nos olhos.
— Obrigado por me afiançar. Mesmo que não venha para a
audiência.

— De nada. — disse, sorrindo. — Foi fácil, já que foi


liberado sob sua própria fiança. Você faria o mesmo.

— Para que é o capacete?

Saímos para a rua.

— Minha moto. — disse. — Sua carona.

— Vai me levar para casa na sua bicicleta? —


perguntou.

— Se por bicicleta, quer dizer moto, então sim. –


respondi, apontando a moto. — Aquele é o meu transporte,
bem ali.

— Você está brincando? — perguntou.


Balancei minha cabeça. — Não. – respondi. — É pegar
ou largar.

— Puta merda. — disse — Essa é uma moto muito boa.


É uma Harley?

— Sim, uma King Road. Suba. — disse. — Só tenho


meu capacete, então espero que fique bem sem um.

— Tenho uma cabeça dura. Mas me fará andar na


garupa? — perguntou. Mas sorria. — Está bem. Não tem
problema. Sempre e quando seja em sua garupa.

— Minha moto, minhas regras.

Subi na moto e esperei enquanto Silas sentava atrás de


mim, envolvendo os braços em minha cintura. Em seguida,
subiu suas mãos, tocando meus seios e inclinou-se para
sussurrar em meu ouvido. — Gosto de uma mulher que
assume o controle. — disse.

Tirei suas mãos dos meus seios. — Cale-se e segure-se.


— Quer entrar? — perguntou, tornando o momento
constrangedor.

Ficamos na parte inferior das escadas que levavam a


seu apartamento acima da garagem, como duas pessoas
remanescentes no final da noite, decidindo o que devem ou
não fazer.

— Eu... — Comecei a falar, mas Silas me interrompeu.

— Gostaria que entrasse. — disse, aproximando-se de


mim. — O apartamento não é grande coisa, somente um
lugar que aluguei do meu antigo treinador. Nada
extravagante. Não como Las Vegas, quero dizer.

— Não tenho certeza se é uma boa ideia, Silas. —


minha respiração falhou e meu coração disparou com sua
proximidade. — Você e eu. Não posso...

Sequer sabia o que dizer. Eram tantos ‘não posso’...

Não posso ficar em West Bend. Com você.

Não posso deixar de ser uma golpista. Sou quem sou.

Não posso ser honesta. Não sei como.

Não posso te amar. Não acredito no amor.

— Você voltou para West Bend, Tempest. — disse, a


intensidade do seu olhar me enervando. — Vai me dizer que
a única razão pela qual apareceu aqui foi para visitar sua
avó? Depois de todo esse tempo?

— Pensei que vivia em Las Vegas. — disse. Mas minhas


palavras soaram fracas, mesmo para mim.

— Besteira. — acusou. — Isso é o que diz para si


mesma.

Dei de ombros. — É a verdade. — menti.

— Tempest Wilde, estou sendo educado agora. — disse


— Estou lhe pedindo, como um cavalheiro e tudo mais, para
entrar em minha casa, quando deveria pegá-la, colocá-la
sobre o meu ombro e bater nessa sua bunda cheia de curvas.

Ri, mas Silas tinha um jeito de falar sujo que me fazia


querer fazer exatamente o que queria. — Um cavalheiro é a
última coisa no mundo que é, Silas Saint.

— Está certa. — disse — E digo agora que quero que


entre em minha casa.

— E então o que, Silas? — questionei

Ele se aproximou de mim, colocando sua boca perto do


meu ouvido. — E então farei o que te fiz para você em Las
Vegas parecer com nada.
Senti um calor pelo meu corpo, o calor de sua
respiração em meu pescoço provocando arrepios em minha
pele. — Silas. — disse, ainda hesitando.

Hesitando até que tocou seus lábios em meu pescoço,


no local perto da minha orelha que sempre causou arrepios
em minha espinha. Soltei um gemido quando passou seus
lábios em meu queixo e então cobriu minha boca com a sua.
A maneira como me beijou fez meus joelhos fraquejarem e
me derreti nele.

Era consumida pela luxúria. Mas tudo o que conseguia


pensar era na forma como me levou para dentro de sua
casa, como um noivo carrega a sua esposa na noite de
núpcias.

Era um lembrete do que seria, se as coisas tivessem


sido diferentes entre nós.

Silas parou na porta, ainda me segurando. — O que


está errado? — perguntou. — Está com aquele olhar.

Balancei minha cabeça. Não tinha certeza do que


sentia, apenas que estava triste.

— Coloque-me no chão, Silas. — resmunguei. Minha


voz soava rouca.

Ele obedeceu, em seguida, colocou a mão no bolso para


pegar as chaves e abriu a porta.
— Eu sei. — disse.

— Sabe o que?

— Está com medo. Posso ver isso em seus olhos. –


falou. — Você quer fugir.

— Eu... — comecei.

— Não. — Disse com um tom ríspido. — Não quero


ouvir nenhuma besteira, Tempest. Desta vez não fugirá. —
me beijou novamente, com avidez, sua língua encontrando a
minha e cada parte do meu corpo clamava por seu toque.

Mas o queria. Agora, antes que ouvisse essa voz em


minha mente, a que me dava todas as razões pelas quais não
deveria estar com ele. Agora mesmo o desejava.

Não quero pensar no amanhã. Somente no agora.

— Toma-me, Silas. — sussurrei. — Agora.

Ele fez um som baixo e gutural em sua garganta e me


pegou no colo. Suas mãos seguravam a minha bunda e
envolvi minhas pernas firmemente em sua cintura. Ele
chutou e a porta fechou, ainda me carregando, seus lábios
nunca deixando os meus.

O apartamento era pequeno, mas nem chegamos ao


quarto. Silas me colocou no balcão na cozinha, tirando a
minha camisa com um movimento rápido. Soltei o fecho do
meu sutiã e o joguei no chão. Ele gemeu quando me arqueei
para beijá-lo, meus seios pressionados no seu peito e
tentava tirar a sua camisa.

— Droga de camisa. — disse, separando-se para


arrancar a camisa sobre a cabeça.

Inspirei bruscamente quando o vi.

— O quê? — perguntou.

Balancei minha cabeça. — Nada. — falei. — Só acho


que nunca me cansarei de te olhar sem roupa.

Silas me beijou, colocando a mão sobre meu seio. Meu


mamilo endureceu ao seu toque e o acariciou com o polegar,
movendo-o em círculos até que estava quase delirando de
excitação.

— Bem, então. — disse. — Deixe-me fazer o seu dia


feliz.

Observei com admiração enquanto tirava sua calça


jeans e chutou suas roupas pelo chão de ladrilhos. Quando
virou, já estava duro como uma rocha.

— Que tal isso? — perguntou. — Melhor?

Ri. — Venha aqui e te mostrarei o quanto gosto.

— Como serei capaz de dizer? — questionou com a


boca perto do meu ouvido. Desabotoou minha calça e
arqueei as costas para o balcão, o que lhe permitiu abaixar
meu jeans dos meus quadris. Depois que desceu a calça
pelas minhas pernas, se levantou, olhando cada centímetro
do meu corpo.

— Ficará aí parado? — perguntei.

— Pare de choramingar. — respondeu Silas, sorrindo.


— Ficarei aqui parado, olhando esse seu doce corpo se
quiser.

Corei sob seu olhar, mas durou apenas um instante


antes que me tocasse novamente.

Voltando para onde pertencia.

Arrastou suas mãos pelas laterais do meu corpo e


enganchou um dedo em minha calcinha, puxando-a pelas
minhas pernas.

— Está com calcinha dessa vez, hein? — perguntou. —


Quero ver o quanto gosta dela. — colocou um dedo entre as
minhas pernas, gemendo quando sentiu minha umidade.
Inclinando-se, me beijou tão forte que pensei que
machucaria meus lábios.

— Tire-a. — sussurrei. — Quero você, agora. Não posso


esperar. — Praticamente implorei. Meu corpo parecia sentir
como se tivesse passado uma eternidade e não apenas dias,
desde que me tocou.
Ansiava por ele.

Quando Silas finalmente me despiu, minha bunda


sobre a superfície fria do balcão da cozinha, não perdeu
tempo. Entrou em mim com um movimento rápido e me
segurei em seus ombros, as pernas ao redor da sua cintura
enquanto me fodia.

Apenas as primeiras estocadas foram lentas.

Depois disso, estocou com força, com golpes rápidos e


arqueei para ele, querendo tudo, tão profundamente quanto
poderia tê-lo.

— Não me canso de você. — disse.

Apertei-me contra ele, minhas pernas ao seu redor,


guiando-nos mais profundamente, minha mente muito
nublada com desejo para sequer pronunciar uma resposta.
Queria que se fundisse em mim. Queria tudo o que tinha.

Não conseguia pensar em nada, exceto como me sentia


com seu pênis dentro de mim, a sensação de sua pele contra
a minha, a forma como a sua respiração estava quente no
meu pescoço.

— Mais, Silas. — engasguei. Era tudo que podia dizer.

Mais.
Minhas palavras o estimularam e ele me fodeu com
mais força, deixando-me mais e mais alta como se montasse
uma onda do mar que estava perto da crista. Enterrei minha
cabeça em seu ombro e me agarrei a ele, apertando minhas
unhas em sua pele enquanto enterrava seu pênis mais
profundo dentro de mim.

— Tempest. — Silas disse com a voz pouco mais que


um grunhido. – Goza comigo antes que exploda.

Suas palavras me empurraram para a borda e gritei o


seu nome enquanto gozava, sentindo-o derramar dentro de
mim.

Depois, sentei-me com minhas pernas ao redor de seu


corpo e minha cabeça no seu peito, todo o meu corpo ainda
tremendo do meu orgasmo. Ficamos assim, quase imóveis
durante o que pareceu uma eternidade enquanto a nossa
respiração voltava ao normal.

Ouvia as batidas de seu coração, com meu ouvido


encostado a seu peito. Isso me acalmou. — Seu coração
parece que vai explodir. — comentei.

Silas acariciou meu cabelo. — Você me faz sentir como


um homem velho. — disse

— O quê? — olhei para ele. — Nenhum de nós está


velho.
— Você vai me provocar um maldito ataque cardíaco —
disse sorrindo — Com o que faz comigo.

— O que faço com você, exatamente? – perguntei com


a voz suave.

— Você ainda me mata, olhos brilhantes. — Disse,


beijando meu pescoço. — Não consigo parar de pensar em
você. Ou de te comer. Ou de pensar em te comer.

Não respondi. Queria ser honesta, lhe dizer que me


sentia da mesma maneira.

Estava dividida entre o meu instinto de fugir e meu


desejo de ficar.

— Espera aí. — disse. — Vou levá-la novamente para o


quarto. Onde pertence.

Ri, mas mantive meus braços e pernas ao redor de seu


corpo, somente descendo quando chegou ao quarto.

— Ficou de pé? — perguntou. — Iria colocá-la na cama.

— Ah, é? — disse. — Acha que tem muita resistência,


velho? Agora mesmo se lamentava sobre como te deixei
exausto.

Silas pegou minha bunda e me esquivei de sua mão,


saltando sobre o colchão macio e pousando com um salto.
Ele subiu na cama depois de mim, me puxando para ele.
— Poderia até precisar de um minuto para recuperar o
fôlego, Tempest. — disse — Mas não há nenhuma chance de
que me desgaste.

Coloquei minha mão sobre seu peito, meus olhos


absorvendo cada centímetro do seu corpo, tentando
memorizar cada ondulação de seus músculos, as tatuagens
que cobriam sua pele. Tinha certeza de que, assim como as
minhas, cada uma tinha uma história e isso me fez pensar
sobre o quanto de sua vida que perdi.

Quantas histórias que teve que não me incluíam.

— Sabe que se ficasse, te esgotaria. — disse.

Não falava sobre sexo e nós dois sabíamos disso.

Silas pegou meu pulso, segurando-o. — Olhe para


mim. – falou.

— Silas. — adverti. Mas olhei em seus olhos, apesar da


vibração rápida do meu coração, do medo que bombeava
por minhas veias.

O medo de ser conhecida.

— Acha que mudou Tempest. — disse — Ou que o fato


de que o que aconteceu com seus pais significa que nada é o
mesmo entre nós.
— Silas, sabemos que se descobrisse quem era, que
meus pais e eu éramos mentirosos, mudaria tudo.

— Isso é besteira. — negou. — Sentiu em Las Vegas. O


mesmo calor que estava em Las Vegas está agora entre nós.

— É química, Silas. — disse. — Isso é tudo o que é.

Silas estreitou os olhos e me olhou por um longo


tempo. Temia tê-lo magoado com as minhas palavras e quis
levá-las de volta.

Tive que me convencer de que era apenas química


entre nós e nada mais. O que mais poderia haver?

— Isso é tudo o que acha que é? — perguntou,


apertando sua mandíbula. — Sem besteira, Tempest. Pela
primeira vez, seja honesta comigo. Realmente acha que isso
é tudo o que há entre nós? Bom sexo e nada mais?

— Isto não é um conto de fadas Silas. – respondi. —


Sou uma vigarista. Meus pais são vigaristas. Não há finais
felizes para pessoas como eu. Isso não é um filme. Não há
nenhuma cavalgada rumo ao pôr do sol.

— Acha que sou idiota? — disse, soltando meu pulso e


colocando a mão em minha cintura, para descansar na parte
inferior das minhas costas. — Acho que mente para si
mesma agora, Tempest.
De repente, me senti claustrofóbica, como se não
pudesse respirar. Coloquei minha mão em seu peito e o
empurrei. Queria fugir.

— Algumas crianças jogam futebol e tem aulas de balé.


— disse. — Cresci aprendendo a roubar carteiras e contar
cartas. Minto. Engano as pessoas. Roubo.

— Sabe como contar cartas? — Silas perguntou um


sorriso maroto. — Essa é uma habilidade impressionante.

Bati no seu peito. — Não estou brincando, Silas.

— Nem eu. — disse — Você não é como seus pais. Não


acredito que seja alguém terrível.

— Então é ingênuo.

Não sei por que o afastava, porque queria que pensasse


que eu era uma pessoa horrível. Não acho que era alguém
horrível. Enganava bandidos. Acreditava no que fazia.

A perspectiva de deixá-lo entrar era tão aterrorizante.


Usei tantas máscaras, tantas identidades por tanto tempo
que não sabia se podia deixar alguém me ver.

Silas balançou a cabeça. — Acha que pode se esconder


de mim, mas sei muito bem quem é, Tempest. Te vi o tempo
todo.
— A parte vigarista em mim é quem sou. — disse. —
Não há nada mais. Isso é tudo que existe.

Silas me olhou longamente. — Enganou Coker em Las


Vegas, não é? — perguntou.
Capítulo Vinte e Três
Silas
— Claro que sim. — disse – Pensei que tivesse
percebido. Sabia que não era uma produtora de televisão.

— Sabia que não era uma executiva de TV, mas não


sabia exatamente qual era o jogo. — disse. Isso era verdade.
Porém, assim que Deborah devolveu o dinheiro que ganhei
na luta, comecei realmente a querer saber o que Tempest
fazia com Coker em Las Vegas.

Tempest encolheu os ombros. — Você me pegou. —


disse. — Enganei Coker. E daí? Já sabia que era uma
vigarista. Não é uma grande surpresa.

Por que era tão teimosa sobre isso? É quase como se


quisesse que a odiasse.

Parte de mim queria poder odiá-la.

— Foi você quem deu o dinheiro para Johnny e


Deborah. — disse.

— Não sei do que fala. — respondeu rapidamente.


— É tão cheia de merda, Tempest. – falei. Mas o fato de
que evitava me dizer que fez essa coisa incrível para Johnny
e sua família já não me irritava.

Ao contrário, começava a achar cativante.

Coloquei meu dedo sob o seu queixo e levantei seu


rosto para mim. — Você e sua equipe roubaram dinheiro de
Coker e deram para a família.

— Sim. — disse — Coker merecia isso. Ele é um idiota.

Não conseguia esconder o sorriso que nasceu em meu


rosto com a ideia de uma garota destruir Coker.

— Porra. E como merecia.

— Então não se importa?

— Importar-me que enganou o idiota e deu o dinheiro


para o Johnny e sua família? — perguntei. — Por que me
importaria?

— Porque não é exatamente legal, Silas. — disse

Ri da ironia de seu pensamento — que me importaria


se participasse de alguma atividade ilegal enquanto
considerava levar Coker para o deserto.

— O quê? — perguntou. — Por que ri?

— Dou risada porque é ingênua, Tempest. — disse.


— O que quer dizer?

— Coker e eu temos um passado. — disse. — Pensei que


vocês vigaristas faziam uma investigação melhor.

— Não pesquisamos os lutadores individualmente. –


explicou. — Isto foi sobre Johnny. Não sabia que era um dos
seus lutadores. Quer dizer, sabíamos que ele fez alguma
merda real...

— Por um tempo fui um de seus lutadores. — disse. —


O fodido me pediu para entregar a luta, apostou contra e
estava cansado de sua besteira e pronto para sair de
qualquer maneira. Iria contra o outro lutador. Era minha
última luta e apostei em mim… Portanto, de maneira
alguma eu perderia.

— Então ele se certificou de que perdesse. — disse


Tempest. Senti a palma da sua mão quente em meu peito e
ela olhou para mim, com raiva em seus olhos.

— Ele sabia que não confiava nele. — disse. — Mas eu


estava saindo com alguém... — vi a mudança na expressão
de Tempest e a senti endurecer em meus braços.

— Não quero ouvir sobre alguém...

— Não era alguém importante para mim. — disse. Mas


tive que esconder um sorriso. O fato de que estava chateada
quando mencionei outra mulher era encantador. Gostei
desta pequena raia ciumenta que Tempest demonstrou. — A
garota com quem saía me deu algo antes da luta. Colocou
algo em minha água e... bem... a merda aconteceu.

— Jesus, Silas. — disse Tempest. – A minha equipe


disse que Coker tinha antecedentes desse tipo de coisa. No
entanto, não sabia que machucaram você.

— Eu estou bem. — disse. — Agora. Mas me deram


uma surra feroz. Então, depois disso precisei sair de Las
Vegas e voltei para West Bend.

— Por que estava em Las Vegas, lutando novamente? –


perguntou balançando a cabeça.

— Apenas fazia um favor a um amigo. — respondi. —


Ele me queria no seu canto em uma luta porque era a única
pessoa em quem confiava. E então ele foi atropelado
enquanto corria. Foi um negócio de uma vez... O meu
médico disse que eu não deveria lutar novamente, depois do
que Coker me fez, por causa do ferimento na cabeça. Mas
não podia dizer não.

Tempest assentiu. — Isso foi nossa culpa, Silas. — disse


— Demos corda para Coker, mas não achei que iria tão
longe.

— Deram corda?
— Sim, demos corda. — explicou. — Cercando-o.
Começamos rumores sobre um programa de televisão em
algumas das outras academias, sabendo que Coker gostaria
de nos impressionar. Imaginamos que garantiria a luta para
isso, pelo menos, pareceria real. Mas não pensamos que ele
iria tão longe, sabe? Nada em seu passado indicou que se
utilizou de um atropelamento.

— O lutador que foi atropelado, Abel, está bem. —


disse. — Quer dizer, não estaria bem se não tivesse
segurado. Mas está bem.

Tempest sacudiu a cabeça. — Sinto muito que


aconteceu dessa forma.

— Tudo isso, o que fez com Coker, é a sua maneira de


fazer as coisas ou foi alguma exceção à regra? — perguntei.

Essa era a pergunta de um milhão de dólares.

Poderia viver com ela enganando idiotas e dando o


dinheiro para as pessoas que se prejudicaram. Não poderia
simplesmente viver com isso, poderia respaldá-lo. Havia
algo absolutamente nobre nisso, pelo menos em meus
livros.

Mas se apenas enganava as pessoas por enganá-las, se


tirava dinheiro de pessoas boas, pessoas honestas que
trabalharam duro... Bem, isso era uma coisa totalmente
diferente.
— O que quer dizer? — perguntou.

— Isso que faz. — disse. — Engana idiotas? Ou Coker


foi algum tipo de exceção à regra?

Tempest exalou pesadamente. — Quando meus pais


me expulsaram, jurei que faria as coisas de forma diferente.
— disse. — Estava em Vegas e pensei que poderia começar
um trabalho real, um com um cheque de pagamento
regular, você sabe. Mas não é quem era. Sou uma vigarista.
Então fiz coisas pequenas: truque do cartão, roubo de
carteiras, esse tipo de coisa, para sobreviver. Então, quando
cheguei à minha primeira vítima sem meus pais, sabia que
queria fazer diferente, então escolhi alguém sujo, alguém
que merecia ser enganado.

— E isso é o que faz agora. — disse com uma palpável


sensação de alívio. Sabia que Tempest não era a mesma
coisa que seus pais, não importava o que pensava. Sabia que
era diferente deles.

— Enganamos bandidos. — disse — Assassinos,


pedófilos, executivos de empresas responsáveis por roubar
pensões dos seus empregados. Nós os fazemos pagar. E
então cuidamos das vítimas, as pessoas que foram feridas
por eles. Antes, não havia justiça para Johnny, Deborah e
sua filha. Agora serão cuidados, por muito tempo, pelo
menos. É o suficiente para que sigam em frente.
— É diferente do que os seus pais faziam. — observei.

— Meus pais enganavam indiscriminadamente, não


importando se a pessoa era honesta ou desonesta.
Furtariam uma freira se achassem que ela estava com
dinheiro. Essa é a forma como fui criada. Meu pai dizia que
todo mundo era uma vítima em potencial. Acontece que é
mais fácil aplicar um golpe em um cara mau, porque... bem,
eles tendem a ser desonestos e gananciosos, então é assim
que muitos de meus golpes ocorrem.

— Foi assim que aconteceu em West Bend? —


perguntei. Passei a mão pelas suas costas, sentindo a maciez
de sua pele sob meus dedos. Demorei-me em suas
tatuagens, traçando o contorno de uma das aves em seu
ombro.

Tempest levantou as sobrancelhas.

— Bom, as pessoas que enganaram aqui nunca


prestaram queixa. Não os perseguiram de qualquer forma.
Então, o que isso lhe diz?

— Que eram desonestos. — respondi. Meus dedos


persistentes nas asas da tatuagem do pássaro. Olhei para as
penas, os roxos e azuis que rodavam juntos. — O que
significa a tatuagem do pássaro?
— Eram desonestos. — respondeu. Fez uma pausa,
olhando para seu ombro antes de responder a minha
pergunta. — É uma andorinha.

Tracei ao longo das bordas. — É linda. — disse. –


Muito bonita a tatuagem. O que significa?

Tempest olhou para mim e passou a língua sobre seu


lábio inferior e por um momento, estava distraído com o
que fazia.

— Os viajantes a vêem muito. — disse — Antigamente,


os marinheiros faziam tatuagens de andorinhas para marcar
o número de quilômetros que viajaram. Por isso, é um
símbolo de liberdade, sabe? Estar na estrada. Nunca olhar
para trás.

— É isso que faz? — perguntei, traçando meu dedo ao


redor da tatuagem, fazendo sua pele se arrepiar. — Indo
embora e nunca olhando para trás?

Ela exalou pesadamente. Cansada, pensei.

— É o que faço Silas. – disse. – É uma das regras.

— Que regras? — perguntei.

— Regras dos vigaristas. — respondeu. — Minhas


regras. Nunca parar de se mover. Não olhar para trás.
— Então, essas são as duas regras com as quais vive? —
perguntei. — Algum tipo de código de vigarista?

Ela negou, balançando a cabeça. — São as minhas.

— Quaisquer outras regras ou é tudo?

— Mais uma. — disse — Não se apaixonar.

Fiquei em silêncio, meu dedo rastreando por seu braço


antes que voltasse até seu ombro e para baixo entre seus
seios. Seus mamilos ficaram duros ao meu toque e se
contorceu na minha frente.

Não lhe disse que estava errada sobre a tatuagem da


andorinha. Andorinhas podem representar liberdade e
viagens, mas esqueceu a parte mais importante.

E isso era o fato de que não importava quantos


quilômetros viajavam, as andorinhas sempre voltavam para
casa.
Capítulo Vinte e Quatro

Tempest
Acordei com Silas se mexendo a meu lado.

— Desculpe. — Disse — Não tentava acordá-la. Só


queria levantar para escovar meus dentes. E urinar.

— Elegante. – comentei, virando de bruços na cama e


me aconchegando em seu corpo até que minha cabeça
estava em seu peito, minha bochecha pressionada em sua
pele quente.

Não queria sair de onde estava deitada. Queria ficar


assim por tanto tempo quanto pudesse.

Esse fato era assustador. Ficar aqui por alguns dias era
uma coisa, mas mais do que isso? Acostumando-me com
isso e com Silas não era uma boa ideia.

No entanto, é a única coisa que queria fazer.

Silas passou a mão em meu cabelo, segurando os fios


momentaneamente e depois soltando-os. — Como dormiu?

— Bem. —disse. A resposta automática. A lembrança


da noite anterior estava gravada em meu cérebro. Silas e eu
nos movendo em sincronia, o suor em nossa pele. Adormeci
nos braços de Silas, minha vontade completamente saciada.
Não dormi muito bem nos últimos anos. — E você?

— Humm — murmurou, me puxando para cima dele


para que os meus seios roçassem em seu peito. Ele me
beijou de leve nos lábios, mas o empurrei.

— Tenho hálito da manhã. — falei.

— Obviamente. — Disse — Esta é a vida real, não um


romance.

Ri. — Bem, deixe-me escovar os dentes, então.

Silas apertou a minha bunda e me apertou contra ele.

— Oh, não quer sair da cama, não é? Está tão agradável


e quente aqui. Está frio e solitário lá fora.

— Realmente tenho que fazer xixi. — disse, afastando-


me dele.

Ele gemia alto. — Ah, Olhos Brilhantes. Você sabe que


quer um pedaço disso.

Ri enquanto entrava no banheiro e fechava a porta.


Estar aqui com Silas em sua casa me deixava confortável.
Não foi como na manhã depois que passamos a noite juntos
em Las Vegas, aquela em que me senti desajeitada e
hesitante. Agora me sentia como se estivesse em algum
lugar familiar.

Sentia-me em casa.

Ignorei o pensamento, me distrai com facilidade tão


logo abri a porta do banheiro. Silas deitado na cama, sem as
cobertas, completamente nu, exibindo orgulhosamente sua
ereção.

Ele sorriu. — Ia me levantar para fazer o café da


manhã. — disse — Mas logo pensei... bem, não gostaria que
essa magnífica ereção se perdesse.

Revirei os olhos. — Quanta classe. — comentei. —


Percebo que não aprendeu boas maneiras nos sete anos
desde que fui embora, não é?

— Maneiras? — perguntou. — Não entendo. Quais são


essas maneiras de que fala?

Caminhei até a cama, desfrutando do olhar de Silas em


mim enquanto caminhava. Não perdeu tempo quando me
aproximei, colocando as mãos imediatamente em minha
cintura, me puxando à cama. Levantando uma perna sobre
seu corpo, coloquei meus joelhos em cada lado dele.
Envolveu sua mão ao redor da base de seu pênis rígido e
guiou a ponta para minha entrada, esfregando-o em minha
umidade antes que me provocasse, pressionando-o contra o
meu clitóris.
— Pare de me provocar. — disse. — Sabe que estou
molhada.

—Diga-me que me quer.

— Quero seu pau em mim, Silas. — disse, estendendo a


mão entre minhas pernas e movendo a mão. Troquei a sua
mão dele pela minha, segurando seu pênis firme quando
afundei nele.

— E o que te parece? — perguntou, mudando sua


expressão para uma de prazer quando comecei a cavalgá-lo.

Revirei os olhos. — Isso é perfeito.

Silas passou as mãos pelas minhas laterais e sobre os


meus seios até que chegou a meus ombros. — Não creio que
isso ficará velho. — disse.

— O quê? — perguntei com minha respiração falhando.


Ele falava como se ficássemos juntos no futuro e o problema
era que, quando dizia coisas assim, parecia.... Bom.

— Vê-la assim, nua, me montando. — disse com as


mãos em minha cintura, me guiando para cima e para baixo
em seu pênis. Deslizava sobre ele, empurrando-o mais
profundo dentro de mim enquanto suas mãos percorriam
meu corpo.

— Eu também. — concordei. Minha respiração falhou


novamente, mas não pela mesma razão como antes. Agora
era por causa da minha excitação crescente, meu desejo por
ele. Comecei a aumentar o meu ritmo, levando-o para
dentro de mim mais forte à medida que encontrei o ritmo
perfeito.

Silas entrelaçou os dedos nos meus e levantei nossas


mãos enquanto me rendia ao meu prazer crescente. Quando
olhou para mim, seus olhos estavam nublados com luxúria.

— Eu te...

Empurrei as palmas das mãos para cima perto de sua


cabeça, impedindo-o de terminar a frase. Não queria que
dissesse o que pensava que diria. A própria ideia fazia meu
coração acelerar. Com meus dedos ainda entrelaçados nos
dele, o trouxe até sua dura longitude para que sentisse seu
pênis dentro de mim, arrancando um gemido alto dele.

O som provocou um calor que fluiu por todo o caminho


até meus dedos. — Silas. — disse com a voz baixa. Meu
cabelo caiu ao redor do meu rosto e inclinei para frente,
meu rosto muito perto do seu. – Silas. — repeti.

— Eu te amo, Tempest. — apertou minhas nádegas,


garantindo que ficasse firmemente sobre ele e que seu pênis
permanecesse dentro de mim e me virou de costas na cama.
Uma vez que estava por cima, prendeu minhas mãos no
colchão sobre a minha cabeça.
— Oh meu Deus, Silas. — mal podia falar enquanto me
fodia com movimentos rápidos e curtos, me levando para
mais perto do orgasmo.

— O que, Tempest. — sussurrou, pontuando suas


palavras pelos seus impulsos. — Do que gosta?

— Disto, Silas. — O que ele fazia era o que tornava


muito difícil pensar.

— Diga-me o quanto gosta de mim dentro de você.

— Merda... Silas. — Não conseguia falar nada mais do


que o seu nome. Não conseguia pensar em nada, exceto no
que fazia com seu pênis.

— Diga-me. — ordenou. — Porque amo o quão


apertada é. Amo como está molhada. Amo como se encaixa
como uma luva.

Cada palavra que falou me deixava mais quente. —


Silas. — implorei. — Estou tão perto. Vai me fazer gozar.

Ele se inclinou para perto de mim, sua língua passando


rapidamente em minha orelha. Quando falou, suas palavras
eram musicais — Não. — respondeu. — Não gozará ainda.
Primeiro me dirá o quanto gosta do meu pau dentro de
você, o quanto quer me deixar deslizar em sua boceta...

— Silas. — adverti. Meu corpo parecia em chamas... O


calor da minha excitação e o calor do corpo dele eram tão
avassaladores. Estava consumida por ele... Pelo seu toque,
seu calor, sua presença.

— Diga-me, Olhos Brilhantes. — disse, movendo-se


dentro de mim lentamente, seu pênis pressionando o ponto
mais sensível dentro de mim.

— Te a... — parei ciente de quão perto estava de dizer a


palavra amor.

— O que, Tempest. — disse em voz baixa, parando, me


provocando. — diga isso. Quero ouvir.

— Amo seu pênis. — falei, arqueando-me para tocar


meus lábios nos dele e ele me apertou com um grunhido.

— Bom o suficiente. — Quando me beijou, fundi-me


com ele, esquecendo todo o resto, exceto a sensação de sua
pele na minha. Agora, éramos as únicas coisas no mundo
que importava para mim. — Goze comigo, Tempest.

Assim como antes, seu comando me empurrou sobre a


borda e me agarrei a ele, minha cabeça em seu ombro,
gritando enquanto gozava. Silas gritou o meu nome quando
bateu em mim, enterrando-se totalmente e gozando.

Quando finalmente abri meus olhos, o pulsar entre as


minhas pernas ainda insistente, os olhos de Silas eram as
únicas coisas que vi. — Silas. — sussurrei.
Ele cobriu a lateral do meu rosto com a palma da mão,
acariciando minha bochecha com o polegar. — Tempest. —
sussurrou, beijando meus lábios novamente. — Por que te
foder é tão incrível?

— É, provavelmente, porque sou impressionante. —


respondi, sorrindo. Sentia-me tonta pela labareda do sexo.

— Isso é um fato. — disse me olhando por um longo


tempo antes que eu finalmente desviasse o olhar. O jeito
que me olhava... Isso me fez sentir como se pudesse haver
algo mais.

— Olhe para mim, Tempest. — pediu.

— Silas, eu não... — comecei. — É muito...

Eu não disse o que pensava.

É muito. É muito... Íntimo.

— Tempest. — disse. — Fique aqui comigo. — não se


moveu de onde estava, enterrado dentro de mim.

— Não posso, Silas, tenho que...

Ele me interrompeu. — Não disse para ficar comigo


para sempre. — falou. — Só agora. Fique comigo aqui por
um tempo. Se esconda comigo. O que quer que tenha fora
daqui pode esperar. Pressione o botão de pausa em todo o
resto.
Abri minha boca, meus pensamentos cheios de todas
as razões pelas quais não deveria fazer exatamente o que
Silas pedia que fizesse.

Precisava ir embora... Fazia parte de uma equipe que


precisava de mim.

Não poderia amar ninguém.

Era uma fraude.

Não poderia lhe dar o que queria. Não poderia


desnudar minha alma. Era tarde demais para mim.
Estava muito acostumada a jogar um milhão de papéis
diferentes.

— Você não me disse não, Tempest. — falou,


antecipando todas as minhas objeções tácitas, como se
pudesse ler minha mente.

E, por isso, apesar de todos os meus medos, toda a


merda que rodava em minha cabeça, ameaçando me
oprimir, disse que sim.

— Tudo bem. — disse. — Farei isso. Colocarei tudo em


espera. Pressionarei o botão de pausa.
Capítulo Vinte e Cinco
Silas
— Não dará certo. — falou sentada na poltrona, com as
costas eretas, os dois pés no chão.

— Basta abrir a boca e parar de choramingar. — falei.


— Não se mexa.

— Apresse-se e acabe logo com isso. — protestou. —


Cinco dólares que não conseguirá acertar o tiro.

Estava na entrada da sala de estar, um saco de pipoca


em uma mão e uma pipoca na outra.

— Cinco dólares. — concordei — Mas não tente me


enganar e mexer a cabeça no último minuto.

— A honra do vigarista. — assegurou Tempest,


piscando. Sentou na beira da cadeira e abriu a boca. — Ok.
Faça isso.

Joguei a pipoca e quando bateu na sua testa, riu. —


Que pontaria ruim você tem.

— Não foi isso o que disse ontem à noite. – rebati,


olhando lascivamente para ela.
Tempest riu. — Cinco dólares, amigo. – cobrou. — E
não aceito moedas

Cruzando o quarto, peguei o controle remoto e apertei


o botão play, começando o filme, alguma comédia
romântica que Tempest escolheu. Levantando-a, sentei por
trás dela na poltrona e puxei-a para o meu colo, seus pés
pairando sobre os braços.

— Posso te pagar com sexo? — perguntei.

Tempest arqueou uma sobrancelha. — Cinco dólares?


Você é uma foda barata.

— Nunca disse que não era. — repliquei, colocando


minha mão no saco de pipoca que estava em seu colo.
Propositadamente deixei cair algumas pipocas no seu peito,
coberto pelo fino tecido de uma de minhas camisetas de
algodão que usava. — Oops. Acho que terei de recuperar
essa.

Tempest riu quando tirou minhas mãos dos seus seios.


— Você é terrível. — disse.

— Por terrível, obviamente quer dizer quente e sexy. –


contestei, agarrando um seio dela.

Ela riu e me deu um tapa, distraída com o filme.

— Esta é a River, não é? — perguntou, apontando para


a atriz na tela.
— Sim, é. — disse.

— Ela é maravilhosa.

— Você acredita que meu irmão está com ela? —


perguntei.

— Acredito. — Tempest disse, dando-me um sorriso


perverso. — Um cara quente? Ficaria com ele.

Passei a mão sobre seu seio novamente. — É melhor


não. — afirmei. — Estes são meus.

Tempest riu. — Não se preocupe. — comentou. Você é


o gêmeo mais bonito.

— Vou ter que repensar sobre deixá-la a sós com ele. —


reclamei, balançando a cabeça. — Ela se mudou para cá com
ele e tudo, saiu completamente de Hollywood.

Tempest se endireitou no meu colo e se virou para


mim. — Você acha que as pessoas podem realmente fazer?

— Fazer o que? — perguntei, mas já sabia sobre o que


falava. Só queria ouvi-la dizer isso. Queria saber o que
pensava sobre nós.

A verdade era que sabia o que queria.

Sabia desde que tinha dezessete anos. E estar


novamente aqui com ela, apertando o botão de pausa no
mundo exterior, só confirmava tudo o que sentia.
— Acha que é possível simplesmente deixar tudo para
trás? — perguntou. — Como River fez pelo Elias?

— Não é o que faz? — perguntei.

Ela balançou a cabeça. — Não entendo. — disse. — O


que quer dizer?

— A mulher com mil identidades me pergunta se é


possível reinventar a si mesma? — perguntei.

Ela exalou pesadamente. — Não é a mesma coisa. –


justificou.

— Não, não é. — Tirei uma mecha de cabelo que caiu


na frente de seus olhos e coloquei-a atrás da orelha. — É
fácil simplesmente pegar uma nova identidade. É muito
mais difícil voltar para casa. Reinventar a si mesma e
tornar-se alguém é simples. Aceitar quem você é, isso é o
mais difícil, Tempest.

Ela me olhou por um longo tempo com olhos suaves,


antes de falar novamente. — Nunca tive uma casa, Silas.

— Não falo de um lugar, Tempest. – expliquei. — Meus


pais, já sabe como eram. Meu pai era um babaca bêbado e
minha mãe era... bom, ela fez o seu melhor para ficar entre
nós naquela ocasião, para deter qualquer coisa que poderia
ter acontecido entre nós. E quase todo mundo nesta cidade
pensava que meus irmãos e eu éramos a desova do lixo dos
meus inúteis pais.

— Mas você voltou para cá. — disse — Ainda sente este


lugar como a sua casa.

— Não. — rebati, negando. — Sabe que não é do que


falo, Tempest. Não é este lugar.

Ela passou o dedo em meu ombro por um tempo,


seguindo-o com os olhos, antes que finalmente olhasse para
mim. — West Bend é o único lugar no qual estive onde senti
como se pertencesse. – comentou.

Respirando profundamente, envolvi minha mão em


seu pulso suavemente, parando-a de distrair-se por me
tocar. — Você é a razão deste lugar me fazer sentir em casa,
Tempest.

— Fico inquieta... — esclareceu, balançando a cabeça.


— Nunca fiquei em um lugar.

Beijei-a nos lábios, colocando minha mão novamente


em sua nuca e puxando-a para mim. Queria essa garota
mais do que jamais quis algo na minha vida.

Fechando os olhos, respirei profundamente seu aroma


familiar. Queria bebê-la.

Queria amá-la. Não tinha certeza se ela me deixaria.


Tempest

Deitei-me de bruços na cama de Silas, usando apenas


sua camisa e mais nada. Silas e eu decidimos apertar o
botão de pausa para tudo fora deste lugar.

Nunca fiz algo assim antes.

Não tinha certeza de que podia.

Quando disse que tinha que voltar para a pousada


onde estava hospedada, tive certeza de que Silas pensou que
sairia permanentemente. Ele me beijou longamente, suas
mãos em minhas costas e em meu cabelo, o tipo de beijo
que dá em alguém quando estão se despedindo e nunca o
verá novamente.

Era o tipo de beijo que deixa com alguém, esperando


que seja a última coisa que lembre de você.

Em toda o caminho até a pousada, pensei sobre o quão


fácil seria apenas sair, subir na minha moto no pôr do sol e
esquecer Silas.
Da mesma forma que fiz antes.

Só que nunca foi fácil esquecê-lo. Fiz um trabalho de


merda. Silas nunca me deixou, sempre foi uma parte de
mim. Podia ter ido embora de West Bend, mas nunca
realmente o deixei para trás.

Disse a mim mesma que era estúpido ficar aqui.


Deveria arrancar o curativo e sair agora, antes que fosse
doloroso demais.

Então fiz o check out da pousada, virei minha moto e


voltei diretamente para cá.

De volta para Silas.

Silas veio por trás, me puxou para a cama e envolveu


os seus braços em mim. — No que pensa?

— Nada. — menti, mudando de assunto. — Apenas


olhava para sua cama. É tão bonita, assim como seus outros
móveis. É algo local?

— Eu que fiz. — disse.

Sentei-me e estendi a mão para passar meus dedos


pela cabeceira da cama. — Você quem fez isso. — repeti. —
Você mesmo.

Silas assentiu. — Não fique tão surpresa. – protestou.


— Não sabe tudo sobre mim.
— Claramente. — afirmei. — É um homem de
mistérios, Silas Saint.

— Sou como o James Bond de West Bend, Colorado. —


disse, piscando.

— Então, realmente fez tudo isso?

Silas deu de ombros. — Depois que se foi, estava


chateado com tudo e todos. — disse — Joguei-me na luta
livre e o treinador e a cidade sabiam que meus pais não
eram os melhores, então gastei muito tempo na prática de
outras coisas. Ele e sua esposa me convidavam para ir à casa
deles para jantares, esse tipo de coisa. Não tinham filhos,
então me trataram como se eu fosse filho deles. Melhor do
que meus pais fizeram.

— Seu treinador é quem te aluga este lugar agora. —


indiquei.

— Sim, sua esposa morreu há alguns anos, não estava


aqui quando aconteceu, mas sei que foi muito difícil para
ele. Este foi o primeiro lugar que vim quando voltei para
West Bend, há alguns meses. Nem vi minha mãe durante
um tempo depois que cheguei aqui. — acrescentou. — Vim
direto ver o treinador.

— E sobre os móveis? — perguntei. — Foi quem te


ensinou a fazer isso?
— Ah, sim, os móveis. — comentou. — Foi coisa do
treinador. Sua garagem era uma oficina e ficava por lá até
fazer as coisas. Depois que você foi embora, ele me ensinou
como fazer. Disse que eu precisava de algo diferente da luta
livre para ocupar minha mente e trabalhar com madeira era
relaxante.

Queria dizer a Silas que não foi o único que ficou


devastado quando fugi. Mas ao invés disso, toquei na
superfície da madeira que foi meticulosamente esculpida e
lixada até que ficou suave e macia. — Isso é muito legal,
Silas. — assegurei.

— É Aspen. — explicou. — É madeira local.

— Deveria fazer peças como esta e vendê-las. Você é


realmente bom.

Acenou com a mão com desdém. — Não, nunca faria


isso.

— Por que não?

Silas deu de ombros. — Não sei. — contestou. — As


pessoas não comprariam essas coisas. Não de mim, de
qualquer maneira. É apenas um hobby.

Deitando-me novamente na cama, puxei Silas ao meu


lado para me encarar. — Poderia fazer algo muito legal com
isso. — animei. — Quando se tem um talento como esse, não
deve desperdiçá-lo.

— O talento que tenho é bater nas pessoas. — disse —


Mesmo que não seja exatamente um talento.

— Isso é o que esteve fazendo? — perguntei.

De repente, percebi que Silas sondou o que fiz durante


os últimos sete anos, buscando informação peça por peça.
Enquanto isso, só sabia o que assumi sobre ele e isso
demonstrava ser diferente da vida real.

— O que, desde que se foi? — perguntou Silas. — Não


fiz muita coisa. Nada de importante.

— Diga-me de qualquer maneira. — insisti, minha mão


alisando o tecido de sua camisa sobre o peito, sentindo a
dureza de seus músculos enquanto se flexionavam debaixo
de sua camisa, em resposta ao meu toque. — Conseguiu a
bolsa que queria para a faculdade? A de luta?

— Para o Estado de Oklahoma? — perguntou Silas com


o rosto corado.

— O quê? — perguntei. — Disse algo errado?

— Não. — respondeu negando. — Quer dizer, sim,


consegui a bolsa de estudos. Não, não disse nada de errado.
É só que... fui expulso.
— Foi expulso da faculdade?

— Aconteceu no início do segundo ano. — relatou. —


Depois que fui para Albuquerque, fiz alguns bicos e entrei
no circuito de luta de lá. Há um monte de coisas não oficiais
nessa área, como, MMA, boxe, esse tipo de coisa. Lutava
com qualquer coisa ou pessoa, não importava o que era.

— Por que foi expulso da faculdade? — perguntei. — O


que aconteceu?

Silas exalou pesadamente. — Bati em um cara. —


começou. — E fui expulso por agressão. Não era para ser
grande coisa, mas o garoto tinha dinheiro. Seus pais doaram
uma ala de um edifício ou algo assim. Não apresentaram
queixa, somente porque aconteceu em público.

— O que quer dizer?

— Estávamos em uma festa e ele discutia com uma


menina, não sabia quem eram, mas ele bateu nela. E porra,
a menina estava com o nariz sangrando, quer dizer, ela
sangrava por todo o lugar. E alguém filmava com o celular.
Então bati nele e levei a menina para o hospital.

— Então te expulsaram por isso? — perguntei. Não fui


para a faculdade, mas achava que não quisessem alguém
como estudante que espancava sua namorada.
— O dinheiro manda. — replicou. — Você, de todas as
pessoas, deveria saber disso melhor do que ninguém. De
qualquer forma, o que faria com um grau? Não precisa de
um diploma para lutar no ringue.

— É uma das pessoas mais inteligentes que conheço


Silas. — assegurei. — Sempre lia todos os livros quando
estávamos na escola.

— Sim, mas saber um monte de merda sobre história e


filosofia não paga as contas, não é? — perguntou com a voz
amarga. Então sorriu e tocou no meu braço. — É coisa do
passado, certo? Não adianta chorar sobre o leite derramado.
Existe algum outro provérbio que seria apropriado aqui?

Ri. — O passado é o passado?

— Exatamente. — sentenciou com a mão em minha


bunda. — Aliás, por que não me distrai com o presente?

— Humm – resmunguei enquanto Silas se inclinava


para me beijar. Ele começou a puxar minha camisa, mas o
interrompi. — Espere.

Silas balançou a cabeça. — Esperar?

— Quero ver sua oficina. — pedi. — Onde construiu


todo este material. Quero ver no que trabalha.

— Vamos fazer uma troca. — propôs colocando a mão


por baixo da minha camisa, segurando meu seio.
— O que seria? — gemi, distraída pelo fato de que a
palma da sua mão era áspera contra meu mamilo.

— Você encontra uma maneira de me distrair agora e


lhe mostrarei a oficina quando terminarmos. — explicou.
Seus dedos apertando meu mamilo já duro com o seu toque.

— Isso parece um bom negócio também. — concordei.


Capítulo Vinte e Seis
Silas
— Quanto tempo passou? — Tempest encostou-se ao
balcão, de costas para mim, mexendo em uma tigela de
massa para cookies com uma colher de pau. Meu moletom,
grande demais para ela, pendurado ao redor dos seus
quadris e usava uma de minhas camisas amarrada debaixo
dos seus seios, mostrando sua barriga. Olhou-me por cima
do ombro, seu cabelo preso em um rabo de cavalo e meu
coração se alegrou apenas de olhar para ela.

— O quê? — perguntei. Estava distraído, muito


distraído pelo fato de que esta garota, esta garota que amei
por tanto tempo, esta vigarista que enganou Coker, estava
em meu apartamento, usando minhas roupas e assando
cookies.

Cookies.

Como se fosse Martha Stewart ou algo assim.

Tempest virou, ficando de costas para o balcão, com a


tigela e a colher na mão. — Você me olha fixamente. —
disse. — Olha para mim como... não sei o que é, mas assim
me assusta.

Sorri. — Oh, te assusto, é?

— Sim, quer dizer, não tenho certeza se está com fome


ou...

— Definitivamente estou com fome. — assegurei.

Tempest sorriu. — Esteve dentro de mim esta manhã.

— Eu sei. E agora estou faminto novamente. — disse. —


O que perguntou? Estou muito distraído pelo fato de que
posso ver através da camisa que usa.

— Espere. — Tempest disse, virando e colocando a


tigela no balcão. — Tem uma assadeira aqui?

— Pareço com o tipo de cara que tem assadeiras em


sua casa? — perguntei. — Deveria ter falado que queria que
pegasse algumas na loja quando me mandou comprar os
ingredientes para o cookie.

Tempest suspirou. — Tem uma panela, pelo menos? —


perguntou. — E me perguntava quanto tempo passou desde
que estou aqui...

Abri uma porta do armário e entreguei-lhe uma panela


plana. — Os dias estão se misturando, não estão?

Tempest olhou para a panela, com o rosto contorcido.


— Acho que isso vai funcionar. — disse. — Será um
cookie gigante...

Vi quando colocou a massa na panela, nós dois na


cozinha agora era uma rotina regular. Fazia três semanas
desde que concordou em ficar aqui, desde que decidiu
apertar o botão de pausa em tudo o mais que existia fora
deste lugar. Quando saiu para pegar suas coisas na pousada
onde estava hospedada, tinha certeza que não voltaria.

Mas retornou uma hora mais tarde.

No dia seguinte, estava certo de que faria as malas e


fugiria. Mas ela ficou. E um dia se transformou em três, que
se transformou em dez e agora havia passado três semanas.

Estava me acostumando a tê-la aqui.

Ela se sentia em casa.

Não queria voltar para a realidade. Havia coisas que


sabia que precisava lidar. Elias ligou na semana passada
depois que alguém disse que estive preso e começou a pegar
no meu pé, então sabia que se perguntava o que acontecia.
Precisaria voltar ao mundo real em algum ponto.

Mas ficar aqui com Tempest era o mais próximo que


senti de paz em um longo tempo. E creio que ela se sentia
da mesma maneira.
Meu celular tocou, interrompendo meus pensamentos.
Ignorei as duas primeiras vezes, mas na terceira, Tempest
insistiu. — Sério, Silas. — disse — Atenda a maldita coisa já.
Só porque estamos entrincheirados aqui não significa que
não deve atender o telefone.

Ri enquanto entrava na sala para pegá-lo. — Alô.

— Onde estava? — perguntou Trigg. — Porra, cara! Te


mandei mensagem e te liguei. Que merda!

— Estive ocupado. — disse.

— Muito ocupado para seus amigos? — perguntou. — O


que aconteceu, pegou uma garota que está fora de sua liga e
de repente está muito ocupado?

Fiquei em silêncio. — Espere. — disse — Ainda está


transando com ela? Não está em Las Vegas, não é?

— Não, não estou em Las Vegas. — respondi.

— Não disse que não estava mais transando.

— Porque é ridículo e não responderei isso.

— Mas está. — disse Trigg. — Merda, cara, te conheço


há quantos anos agora? Sei quando evita merda ou tenta
mentir. Você é o pior mentiroso no mundo.

— Trigg — suspirei. — O que quer?


— Bem, quero saber sobre a produtora de TV. — disse
— Mas desde que não falará sobre isso, te direi por que
liguei.

— Isso seria ótimo. — disse. — Chegar ao ponto seria


maravilhoso.

— Estou te fazendo um maldito favor, Silas. — disse —


Poderia ser um pouco mais amável.

— Desculpe, Trigg. — disse com a voz suave. —


Machuquei seus sentimentos? Direi por favor.

— Deveria. — disse, fungando falsamente. — Pare de


trepar. Queria dizer que algumas coisas estranhas vêm
acontecendo com Coker.

— O que quer dizer? — perguntei cautelosamente,


esperando ouvir que Coker procurava por Tempest e o resto
de sua equipe.

— Ele procura lutadores por todo o circuito de luta,


comentando sobre alguma grande oportunidade de fazer
dinheiro. — explicou Trigg. — Lutas internacionais. Está
falando em converter os lutadores em estrelas. Abel e eu
não somos idiotas. Mas alguns caras caíram.

Exalei, meu alívio era palpável. Seja o que for que


Tempest prometeu, Coker aparentemente estava muito
ocupado para perceber que não fariam nada.
— Sim, ficarei de fora dessa Trigg.

— Sabe algo a respeito? — perguntou Trigg.

Parei. Tempest com certeza gostaria que fosse discreto.

— Não, não sei de nada. — menti. — Mas se é algo que


envolva Coker, você não gostaria de se envolver.

Trigg ficou em silêncio por um minuto. — Entendido.


— disse – No entanto, há outra oportunidade para você.
Coker não está envolvido nessa. Um promotor te quer,
tentou entrar em contato. Há uma luta se aproximando que
tem uma bolsa grande. Dez mil. Você tem treinado?

Se tenho treinado? Corri com Tempest pela manhã e


uso o saco no canto da garagem para praticar.

Não deveria lutar. Ordens médica. A última luta foi de


improviso e inesperada. Fazia um favor a Abel.

Não tentava voltar para as lutas, mas a atração era


forte. — Sim. — disse. — Tenho treinado.

— Deve fazer esta luta. — disse. — Sei que era a última,


que pagou a sua dívida com Big Johnny, mas são dez mil.
Isso seria um monte de finais de semana nos divertindo,
sabe?

— Não sei. — disse, pensando em Tempest no outro


quarto. Sabia que odiaria a ideia voltar a lutar.
— São dez mil Silas. — disse — Esse cara tinha um
tesão específico por você. Tentou rastreá-lo. O que poderia
fazer com dez mil?

— Pensarei nisso. — disse, ouvindo Tempest atrás de


mim.

— O que há para pensar? — perguntou Trigg.

— Cara. Disse que pensaria nisso. – protestei.

— Bem, pense bem nisso. — disse — E rápido. Ele


chegará em breve. Preciso saber o mais rápido possível.

Suspirei. — Sim. Te avisarei.

Desliguei o telefone e virei para Tempest, que passou


os braços ao meu redor.— O que foi? — perguntou

— Era um dos caras com quem treinei em Las Vegas. —


disse. — Sabia que Coker ainda não descobriu que o
enganou? Ele procura lutadores para algum canal de TV
internacional ou algo assim.

Tempest sorriu. — Te disse que somos bons nisso. —


comentou. — Geralmente os deixamos esperar um tempo.
Emir criou um dispositivo para responder automaticamente
ao e-mail do alvo por algumas semanas e depois excluí-los.
No momento em que percebem que foram enganados,
estamos em outro lugar.
— Diria que é uma cadela sorrateira, mas aprovo que
engane Coker, então não vou.

— Sou uma cadela sorrateira. — disse com um sorriso


radiante. Deslizou sua mão por dentro do cós da minha
calça de moletom. — Quer ver como sou sorrateira? Acha
que pode fazê-lo antes dos biscoitos saírem do forno?

— Quanto tempo ficarão no forno?

— Doze minutos. — disse.

— Corra! — disse.
Capítulo Vinte e Sete

Tempest
— Desculpe sobre os cookies. — disse. Mas não estava
nem um pouco arrependida.

Silas riu. — Valeu a pena um cookie gigante queimado.


E uma casa cheia de fumaça.

— Minha Nana ligou ontem. — soltei. Não disse a Silas


sobre ela. Passamos as últimas três semanas fodendo e
falando sobre coisas que aconteceram em nossas vidas
desde que éramos adolescentes. Mas não falamos sobre
West Bend. Ou sobre a merda que aconteceu com o xerife.
Ou sobre como minha avó pediu para olhar as coisas. Não
queria que a realidade se intrometesse e furasse esta
pequena bolha perfeita que tínhamos.

Vivíamos neste pequeno universo de fantasia que


criamos e não queria sair. E, ainda, queria que conhecesse a
pessoa mais importante para mim, a minha avó.

— Ela está em West Bend?


— Ela está em um lugar para idosos da cidade. — disse.
— Desculpe-me... uma casa de repouso.

— Ouvi falar que se mudou. — disse Silas. — Depois do


que aconteceu com seus pais e outras coisas...

— Ela não se mudou para muito longe. — esclareci. —


Está aqui na cidade agora. Quero levá-lo para conhecê-la.

O sorriso que atravessou o rosto de Silas não podia ser


maior, mesmo se tentasse. — Tudo certo.

— Não é grande coisa. — assegurei. — Quer dizer, não é


alguma coisa gigante. Não faça uma grande coisa sobre isso.

Estava mentindo. Era a maior das coisas. Não podia


acreditar que acabei de chamar Silas para conhecer minha
avó. Ela pensaria que nos casaríamos.

Silas ainda sorria. — Sim. – afirmou. — Nada demais.


Quando?

— Sério. — respondi. — Você está fazendo uma grande


coisa. Posso ver em seu rosto. Não. Pode conhecê-la quando
quiser. Talvez amanhã depois.

— De jeito nenhum. – disse. — Que tal agora?

— Agora é inesperado.

— Exatamente. — disse — Não preciso te dar uma


oportunidade para mudar de opinião.
Nana engasgou com a mão sobre sua boca, fazendo o
possível para ser tão dramática. — Oh, céus. – exclamou. —
Este é o Silas, não é? Olhe para esses olhos.

Silas riu. — É um prazer conhecê-la, Sra. Weston.

— Oh e ele é tão educado quanto bonito, não é? —


perguntou, apontando para as cadeiras no quarto. —
Chame-me de Letty. Sra. Weston me faz sentir como a
minha mãe e isso me faz sentir como se estivesse com 100
anos e ainda não cheguei lá. Sente-se um pouco para
conversar. Disse que ele era um jovem Paul Newman, não
disse? Esses olhos. Claro, não vi pessoalmente, apenas nas
fotos de sua mãe.

— Era amiga da minha mãe. — aventurou Silas.

Letty sentou em sua poltrona e alisou a perna da calça


do agasalho, uma rosa e roxo com strass cravejado.

— Não sei se éramos, exatamente, amigas. — disse —


Sua mãe, que Deus a tenha, não quero falar mal dos mortos,
era uma... pessoa complicada.
Silas fez um som que parecia algo entre riso e tosse. —
Complicada é uma boa maneira de descrever.

— Bom, então sabe, não acho que sua mãe realmente


tinha amigos. — disse Letty. — Não tenho certeza se era
realmente capaz de algo dessa natureza. Mas éramos boas
conhecidas, diria em virtude de sermos ambas as ovelhas
negras na cidade. Sua família e a minha, tínhamos isso em
comum.

— As pessoas não aceitaram muito bem eu e os meus


pais fugindo da maneira que fizemos. — esclareci. Eu me
senti mal sobre o efeito que tivemos em tantas pessoas.

— Oh, agora, posso ver a linha de preocupação no meio


da sua testa. — Informou Letty. — Uma menina jovem como
você não deveria ter linhas. Pare de se preocupar com coisas
que aconteceram anos atrás. Sempre fui uma ovelha negra,
bem antes dos seus pais aplicarem seus golpes. E, além
disso, adiciona um pouco de cor a minha vida, ter uma
história lasciva como a que minha filha e seu marido
vigarista têm. Não me machuca nem um pouco.

Ri. — Nana, não tenho certeza se precisa de mais


alguma emoção adicionada à sua vida.

Minha avó se inclinou para frente e olhou para Silas.

— Ela fala sobre a minha vida social ativa aqui. —


explicou, piscando. — É claro que, se fosse 70 anos mais
jovem, daria a alguém como você uma corrida pelo seu
dinheiro, meu jovem.

— Oh meu Deus, Nana. — interrompi. - Por favor, não


dê em cima de Silas. Puta merda.

— Cuidado com a boca. — admoestou e não pude


deixar de rir.

— Você foi a única a dizer que estava fodendo


fantástico da última vez que vim te ver, Nana.

— Não falo sobre o meu vocabulário. – afirmou. — Falo


sobre o seu, dizendo para não dar em cima deste homem a
minha frente que é uma cópia do Paul Newman, ou quem é
aquele outro jovem ator de olhos azuis?

— Não sei, Nana. — respondi rindo e balançando a


cabeça. Silas recostou-se na cadeira, braços cruzados sobre
o peito, sorrindo, enquanto observava-nos ir e voltar.

Minha avó acenou com a mão. — Sabe de quem falo. –


insistiu. — Aquele ator. Aquele que joga videogame nu na
sua casa.

Silas riu alto. — Fala de Matthew McConaughey. —


disse — Bem, muito obrigado, Letty.

Balancei minha cabeça. — Não a incentive. — adverti.


— A próxima coisa que fará, será pedir para se levantar para
que veja melhor sua bunda.
— Oh, quer que vire Letty? — perguntou Silas sorrindo
e fingindo se levantar. – Ficarei feliz em fazer.

— Vocês me fazem parecer uma mulher velha lasciva.


— lamentou Letty.

Levantei minhas sobrancelhas. — Bem, certamente não


é uma freira.

Letty riu. — Não há como confundir-me com uma


freira, isso é certo. — disse — Agora, mais importante ainda,
este Silas. Ele é seu namorado? — virou para mim,
ignorando Silas.

— Nana! — repreendi. — Ele está bem ali.

— Exatamente por isso que perguntei. — afirmou


dirigindo sua atenção para Silas. — Tem namorada?

Olhei para Silas com os olhos arregalados e ele sorriu,


inclinando-se em sua cadeira. — Gostaria de ter, Letty. —
disse — Mais do que isso, inclusive.

Letty gritou e virou para mim enquanto olhava para


Silas, com meu coração acelerado. Não conseguia pensar em
nada a não ser o fato de que o trouxe aqui para conhecer
minha avó e agora me emboscava, na frente dela.

Minha cabeça girava.


A voz de Letty rompeu os meus pensamentos. —
Espero que tenha escutado isso, menina. — disse,
estreitando os olhos enquanto me olhava.

— Estou velha demais para um namorado. — disse, o


olhando — Não somos adolescentes.

— Não. — Silas respondeu sem quebrar o contato


visual. — Não somos adolescentes. E está certa sobre ser
velha demais para um namorado. Concordamos com isso.

Meu coração fraquejou. Isso era repentino, seu mudar


de ideia. Não sabia se estava aliviada ou decepcionada.

Estava com medo que estivesse mais decepcionada.

Mas quando olhei para Silas, ele parecia perplexo.


Sorriu e piscou para mim. No que ele pensava?

— Você sabe. — disse Letty. — A vida é muito curta


para vadiar sem saber o que quer. Precisa descobrir essa
merda. Caso contrário, tudo o que terá é arrependimento.

— Letty, não preciso de um sermão... — comecei,


ignorando o fato de que sentia os olhos de Silas em mim.

— Todos precisamos desse sermão de vez em quando.


— admoestou. — A vida é muito curta para não ter o que
deseja dela e isso inclui ter relacionamento com as pessoas,
pessoas que importam. Estar sozinha, à deriva, é divertido
por um tempo, se tiver algum lugar, alguém, para voltar.
Não disse nada, apenas escutei quando Letty me dava
um sermão. O que pensava, trazendo o Silas aqui? Deveria
saber que Letty gostaria demais dele.

Tentei ignorar a voz em minha mente, aquela que dizia


que essa era a razão exata pela qual trouxe Silas para
conhecê-la.

— Agora. — sua voz atravessou meus pensamentos. —


Agora que estão aqui, vamos falar sobre esta cidade. Pedi a
Tempest para fazer alguma pesquisa para mim.
Capítulo Vinte e Oito
Silas
— Tem certeza que quer fazer isso? — perguntei.

Tempest me olhou do banco do passageiro. — Está


bem me trazendo aqui?

— Estou bem se estiver bem. — disse. Deus, parecia


um idiota. A pergunta de Letty sobre ser o namorado de
Tempest me deslocou.

O problema era que não queria ser o namorado de


Tempest. Tínhamos 24 anos, velhos demais para essa
merda. Aos vinte e quatro se considerava jovem a maioria
das pessoas que ainda saiam para se divertir sem
compromisso. Mas Tempest e eu, não éramos jovens aos 24
anos. Passamos por muita coisa.

E tivemos uma maldita história para sair em


encontros. Não podia imaginar levando-a para jantar e
tentar conhecê-la.

Não queria levá-la para jantar e cinema. Queria esta


garota em minha casa. Para sempre.
Esta garota era minha. Sempre foi minha.

— É estranho voltar aqui?

Dei de ombros. — Mais ou menos. — disse. — Na


verdade, não. Quer dizer, fiquei um tempo na casa da minha
mãe quando voltei para West Bend. E voltamos aqui depois
do funeral e tudo mais. Também pensei em voltar a algumas
semanas.

— Mas foi preso. — disse Tempest.

— Sim, antes que tivesse a chance de entrar. — disse. —


E desde então, bem...

— Bem... —Tempest colocou o cabelo atrás da orelha e


lambeu o lábio. Esse maldito lábio. Meu pau se agitou ao
observá-la e tive que dizer a mim mesmo para me controlar.

— Sim. — disse. — Desde então, estive com você. —


Abri a porta do carro. — Vamos lá.

Antes de colocar a chave na porta da frente, avisei. —


É... não é o que está acostumada, você sabe. Quer dizer,
éramos pobres e...

Tempest colocou a mão no meu braço. — Silas. – disse.


— Não precisa explicar nada sobre sua infância. Entendo.
Estive na sua casa antes.

— Oh, sim. — Tinha me esquecido disso.


— Sim. — disse. Na porta, olhou ao redor. — Então,
procuramos qualquer coisa que vincule sua mãe e empresa
de mineração.

— Ou com Jed. — disse. — Ou com o prefeito. Elias


disse que alguém fez um comentário sobre ela dormir com o
prefeito.

Tempest inspirou profundamente — Tudo bem. —


disse. — Começa em um lado da casa e eu no outro?

— Obrigado por fazer isso. — Não poderia colocar em


palavras o que sentia. O que significava ter Tempest aqui
comigo. Sabia que me levar para conhecer sua avó era um
grande negócio, apesar de seus protestos.

Ela olhou para trás enquanto ia para o corredor. —


Estou feliz que me trouxe. — disse.
Não passou mais do que 30 minutos quando Tempest
gritou do outro lado da casa. — Silas. — disse. — Encontrei o
que procurávamos.

Segui sua voz até o quarto da minha mãe, onde


segurava um pequeno livro. — O que é isso?

— O diário de sua mãe. — disse. — Comecei a folheá-lo,


olhando para o que escreveu na época da sua morte.

— Luke passou por aqui e não viu nada. — disse. —


Onde estava?

Tempest apontou para a parede. — Peguei-o da saída


de ar da parede, ali — respondeu.

— Como sabia que precisava olhar lá?

Tempest encolheu os ombros. — Pensei que se


houvesse qualquer coisa que vinculasse o xerife a algo
suspeito, provavelmente, ele teria passado por aqui e levado
qualquer coisa escondida em um lugar óbvio, como debaixo
do colchão ou em uma gaveta. O lugar não parece com se
tivesse sido revirado, mas se ele for inteligente, é o que teria
feito. A saída de ar é onde eu esconderia alguma coisa, se
precisasse. Ou debaixo de uma tábua de chão. Ou no
exterior, sob um forro. Ou...

Eu a interrompi. — Ok. Entendi. Você leu?


Ela abriu uma página. — Só um pouco. — disse — Só
para ver se havia alguma coisa.

— Existe?

Ela assentiu com a cabeça. — Provavelmente deve se


sentar.

— Bem — disse. — Então Luke e eu estávamos certos.


Alguma coisa acontecia e Jed e seu pai estão sujos. Isso não
me surpreende.

— Pelo menos, agora tem respostas. — disse Tempest.


— Como se sente sobre a sua mãe?

— Quer dizer, sua confissão sobre matar o meu pai? —


perguntei, balançando a cabeça. — Irritado.

— Sinto muito, Silas. — disse.

— Nem é porque o matou. — disse. — Quer dizer, ele


foi um idiota toda a minha vida. Batia em todos nós. É por
que o matou agora ao invés de anos atrás, quando éramos
crianças.
— Na época em que te aterrorizava — disse Tempest.

— Exatamente. — disse. — Quer dizer, ele nos bateu na


sua frente dela, sabe? Ver seus filhos levarem uma maldita
surra e deixar aquele monstro bater e não fazer nada sobre
isso? Mas o matar por dinheiro? Isso é fodido.

Tempest sacudiu a cabeça. — É um assunto de merda,


Silas.

Dei de ombros. — Suponho que seja. — disse. — Não


derramei nenhuma lágrima por ela antes, com certeza, não
farei agora.

— Também sabemos o que acontece na cidade. — disse


— E temos uma ideia de quem a matou.

— Devemos contar para meus irmãos. — disse.

O rosto de Tempest parecia abatido. — Não sei se


deveria ir com você. — disse.

Cobri a sua mão com a minha. — Acha que Elias a


odeia? — perguntei.

— Sei que não ficou feliz com o que aconteceu, Silas. —


disse — Te deixar e tudo mais. Sim, acho que ele me odeia.

Sorri. — E o que importa o que ele pensa? — perguntei.


— Esta Tempest que se importa com o que os outros
pensam é realmente cativante. A Tempest nervosa é muito
bonita também.

— Cala a boca, Silas — disse — Sequer disse que iria.

— Estou com o carro. — disse. —Você irá.

— Onde estava? — perguntou Elias com a voz alta.


Então, olhou atrás de mim. — Quem é? Tem uma
namorada. Por que não disse isso?

Revirei os olhos. — Elias, esta é Tempest.

— Oi, Elias. — saudou. Cheguei ao seu lado e entrelacei


nossas mãos. Estava fria e me olhou mordendo o lábio
inferior. Não podia deixar de me sentir feliz que estava
nervosa; isso significava que se importava o suficiente para
se preocupar com o que Elias pensava dela.

— Aquela Tempest? — perguntou. — Sequer a


reconheci. — estava na porta, sem se mover ou nos
convidando a entrar. — O que ela faz aqui? E o que faz com
ela? Esta garota te destruiu quando te deixou.

O rosto de Tempest corou, mas não disse nada. —


Elias. — disse com os dentes cerrados. — Não é da sua
conta.

— Dane-se. — disse — É claro que é a da minha conta.


Sou seu maldito gêmeo.

— Elias Saint. — a voz de River cortou a tensão e Elias


virou a cabeça uma fração de centímetro, ainda me olhando.
— Saia dessa porta e convide-os para entrar.

Olhei para Tempest e murmurei — Está tudo bem. —


Enquanto Elias virou e caminhou pelo corredor em direção
a River, deixando a porta aberta atrás dele.

— Entrem. — disse enquanto Elias passava por ela com


raiva. — Tempest, não é? É um prazer conhecê-la. Estou
feliz em ver Silas parecendo tão radiante. Sou River.

Tempest sorriu. — Assistimos um de seus filmes outro


dia. — disse — Silas me falou de você.

— Coisas boas, espero. — disse River.

— Só coisa boa. — disse Tempest.


River fez sinal para entrarmos, levando-nos para a sala
de estar. — Entre. — disse — Ignore Elias. Ele é todo
bravata. Não quis dizer nada com isso.

Elias andou por trás de River e colocou um braço ao


redor dela, o gesto de proteção. — Claro que sim, quis dizer
algo para ela. — disse ele.

— Elias. — River disse, em tom de aviso.

Tempest empalideceu e assustava como havia estado


sobre nós, tive medo que isto lhe desse uma razão para sair.

— Cala a boca. — disse. — Minha vida amorosa não é


assunto seu e estou feliz. Então cresça. Não viemos aqui
para sermos interrogados. Viemos porque encontramos algo
importante. – Coloquei o diário no meio da mesa de café. –
Agora, sugiro que comece a ler.
Uma hora mais tarde, a sala estava silenciosa, a
discórdia entre Elias e Tempest esquecida.

— Então, foi Jed quem a matou. — disse Elias, sua


mandíbula definida.

— Parece que sim. — falei.

— Explique que não entendi nada. — pediu River. —


Sabemos que sua mãe matou seu pai.

— O motivo apresentado no diário. — disse. — A mina


no quintal atrás da casa ficou abandonada por anos depois
que meu pai perdeu a licença para explorá-la.

— Porque Silas fez merda por lá. — disse Elias.

— Sim, porque fodi tudo. — concordei. — De qualquer


forma, para resumir, meu pai encontrou algo na mina,
escavando sem que ninguém soubesse. Levou para seu
antigo professor de geologia da escola, já que ainda
trabalhava como zelador. O professor da geologia se
interessou porque era európio e poderia valer muito à pena
se alguém quisesse começar a escavar.

— Foi aí quando disse a sua mãe que tinha um plano


para torná-los ricos — disse River.

— Sim e, lendo nas entrelinhas, parece que o professor


da geologia fez planos pelas suas costas, conversou com o
prefeito e...
— Não vi nada que relacione a nossa mãe com o
prefeito. — disse Elias.

Tempest olhou para mim. — Está lá. — disse — Está


um pouco antes no diário. Ela e o pai de Jed Easton
mantiveram um romance por um tempo. Soou como se
fosse gentil com ela.

Elias resmungou. — Ele era casado. — disse — Homem,


com certeza poderia ter encontrado homens melhores.

— Não acho que era tão encantada com ele. — disse. —


De qualquer forma, o idiota ficou bêbado e disse a nossa
mãe que ficariam ricos. Ela não acreditou no início, mas
depois falou com o prefeito.

— Que já sabia. — disse River. — Por causa do


professor da geologia. Por que o professor não foi direto
para a empresa de mineração?

— Parece que muitas delas estão em terras


particulares. — disse Tempest. — Minha avó recebeu uma
oferta por sua casa, fora de West Bend, mas disse que
existem outras ofertas, principalmente nas casas da cidade.

— Não entendo. — disse River. — Como seria isso? A


empresa de mineração compra o imóvel e a mina, certo?
— Bom, em primeiro lugar, tratam de conseguir uma
pechincha. — disse. — Os moradores não sabem exatamente
o que possuem. Essa é a parte mais importante.

— E ninguém pode estabelecer uma mina na cidade. —


disse Elias, voltando-se para River.

— Oh, está bem. — disse River. — Teriam que zonear


para a mineração ou qualquer outra coisa, certo?

— Exatamente. — disse Elias.

— Então é aí que o prefeito entra. — disse River.

Assenti. — O prefeito e Jed seriam capazes de lubrificar


as engrenagens. — disse.

— Mas, se sua mãe estava nisso, por que Jed a matou?


— perguntou River.

— Falou no diário. — disse. — Era gananciosa. Não


queria apenas vender a terra. Pensou em subornar Jed e o
prefeito. Então, ameaçou o prefeito. Ele pensou que poderia
argumentar, mas ela disse que explodiria todo o assunto, no
caso, o fato de que Jed e o prefeito estavam sujos e a
empresa de mineração dando golpes nos moradores da
cidade com um preço injusto sobre a terra.

— Presumimos que Jed a matou. — disse River. — Não


sabemos com certeza.
— Está certa. – concordei. — O diário apenas sugere
isso. Não diz diretamente. Só fala que Jed foi vê-la e a
ameaçou.

— Jed ou seu pai. — disse Tempest. — Foi um deles.

— Então a questão é... — disse River — O que faremos


com o que sabemos?

— Essa é definitivamente a questão. — disse Elias. — E


não sei a resposta.
Capítulo vinte e nove
Tempest
— Está bem? — Silas ficou em silêncio todo o caminho
até sua casa, falando somente quando voltamos ao
apartamento.

— Foi um longo dia. — disse. Senti-a pensativa e


mentalmente cansada pelas coisas que aconteceram ao
longo do dia. Ficar aqui com Silas, brincando de casinha e
fingindo que o mundo real não existia era uma coisa. Ter o
mundo real se intrometendo e golpeando a realidade sobre
nossas cabeças era outra coisa completamente diferente.

— Elias não tinha o direito de falar daquele jeito. —


disse Silas.

— Na verdade, ele tinha razão. — disse. — Ele me odeia


e com bom motivo. — cruzei os braços e me encostei no
balcão da cozinha.

— Ele te odeia pelo que fez para mim. — disse — Mas


foi há muito tempo atrás e não tem motivos para ser um
idiota agora. — ficou na minha frente, passou o dedo pelo
meu braço, mas não me mexi.
— Não. — disse, balançando a cabeça. - O que fazemos
aqui, Silas?

Silas exalou pesadamente. — Tempest. — disse — Não


deixe que aquilo que meu irmão disse nos foda agora. O
passado é passado.

Exceto quando não é.

— O passado nunca é realmente passado, Silas. —


disse. Fiquei aqui, brincando de casinha com Silas, mas só
me iludi em pensar que havia uma possibilidade de que
pudesse deixar as coisas para trás.

— Nunca deixei de te amar, Tempest. — disse Silas. Ele


colocou o dedo embaixo do meu queixo, inclinou minha
cabeça para a dele e me beijou.

— Odiava-me, naquela época. — protestei.

— Mas não queria parar de te amar. — disse — E sei


que sente o mesmo por mim.

O celular de Silas zumbiu alto em seu bolso e gemeu. —


Tempo perfeito, porra. — disse — Ignore.

— Deveria atender — disse. — Provavelmente é Elias.

— Não. — insistiu. — Ignore.


Tocou mais duas vezes e Silas amaldiçoou em voz
baixa. — Tudo bem. — disse — Mas não terminamos essa
maldita conversa.

Afundei de volta contra o balcão, escutando partes da


conversa quando entrou na sala de estar. Algo sobre uma
luta. Silas parecia agitado, mas quando voltou, sorriu. —
Quero que fique. — disse — Aqui, em West Bend.

— Recebe um telefonema e de repente quer que fique?


— disse, balançando a cabeça. — Do que falava, de uma
luta?

— Há uma luta em Las Vegas, meu amigo Trigg me


ligou. — disse — Com um bom prêmio.

— Pensei que não podia lutar. — falei. — Ordens


médicas.

Silas deu de ombros. — Você me viu lutar em Las


Vegas. — disse cruzando a cozinha e colocando as mãos em
minha cintura. — Não deveria lutar lá, também. Mas lutei e
estou bem.

Coloquei minhas mãos em seu peito e o afastei. — Por


que faria algo assim, Silas?

— Calma. — disse — Por que está nervosa sobre isso? É


uma luta. São dez mil. Posso conseguir um lugar melhor e
assim pode ficar comigo. Em algum lugar... diferente deste
casebre. Além disso, pode ir me ver. Será o meu amuleto de
sorte.

O medo se instalou em meu peito com o pensamento


de Silas lutar novamente. — No que está pensando? O
médico falou para não lutar novamente. Tinha um
ferimento na cabeça. Se levar outra batida na cabeça, pode
morrer.

Silas se afastou de mim, cerrando os punhos. — Os


médicos dizem merdas assim. — disse — É o que fazem.
Para cobrir suas bundas, no caso de ações judiciais.

— Sabe, para alguém tão inteligente, às vezes é


realmente estúpido, Silas. — disse.

— Por que você age como uma estraga prazeres sobre


isto? – perguntou. — É a nossa chance. É dinheiro fácil e
teríamos algo para conseguir e nos estabelecer, algo para
nós.

— Por que é tão impulsivo? — perguntei. — Pode


morrer. Não há tal coisa como dinheiro fácil.

Silas inclinou a cabeça para o lado. — Diz a vigarista.

— Sim, diz a vigarista, Silas. — disse alto. — Então deve


me ouvir. É uma estupidez colossal fazer isso. Além disso,
tenho dinheiro.
Silas franziu a testa e fez um som baixinho. — Não
quero o seu dinheiro.

— Porque é dinheiro de golpe? — Ouvi a minha voz


ficando mais aguda.

— Não, porque quero ser capaz de cuidar de você.

— Não te pedi para cuidar de mim, Silas. — disse. —


Nunca precisei de cuidado antes e com certeza não preciso
agora. E por que ainda discutimos sobre isso, afinal? Não
disse que me mudaria novamente para West Bend ou para
algum lugar para que pudesse cuidar de mim.

Silas parou, apertando sua mandíbula. Sua presunção


de que voltaria para cá para que cuidasse de mim me
irritava.

Ele gemeu alto e andou por toda a sala para calçar um


par de tênis. — Merda. Não posso pensar aqui. — rosnou. –
Farei uma caminhada.

— Bom. – Gritei enquanto saia. — Que seja longa.


Talvez volte agindo menos como um homem das cavernas.
Ouvi a porta bater.
Uma hora mais tarde, estava escuro e eu fervendo,
meus pensamentos ainda revoltos. Como Silas podia ser tão
irresponsável com a sua vida? Ele se colocava em perigo e
então, tentava agir de forma responsável comigo, como se
fôssemos comprar uma casa de madeira branca e ficarmos
juntos para sempre. Lamentei todos os pensamentos que
passaram pela minha cabeça ultimamente, aqueles sobre
como poderia estar com Silas, sossegar e viver uma vida
normal.Fantasias sobre como poderia desistir de aplicar
golpes e apenas estar com ele.

Então fez algo que demonstrou que era simplesmente


impulsivo, um Neanderthal no coração. E recuou quando
disse que tinha dinheiro, como se fosse manchado ou algo
assim.

Quando ouvi uma batida na porta, abri-a, pronta para


atacar Silas. — O que, esqueceu sua chave?

Mas não era Silas parado na porta. Era Iver.


— Problemas no paraíso? — perguntou.

Olhei para ele. — Você me seguiu?

— Precisamos de você, querida. — disse — E perdeu o


encontro em Nova York. Não a deixaria escorregar para o
éter sem saber se estava viva ou se Coker chegou a você.

— Coker é um idiota ainda maior do que pensávamos -


Informei, momentaneamente esquecendo quão zangada
estava com Silas. — Ele não percebeu nada ainda.

Iver balançou a cabeça e suspirou. — Às vezes é como


tirar doce de uma criança, não é?

— Como me encontrou aqui? — perguntei.

Iver ergueu as sobrancelhas. — Precisa perguntar?


Emir sabe tudo.

Exalei pesadamente. — Claro que sabe. — disse.

— Então? — perguntou Iver. — Ficará aqui no meio do


nada ou se juntará a nós, na terra dos vivos?

Fiquei ali, paralisada pela indecisão. Tinha uma


equipe, amigos, esperando por mim em Nova York. E
alguém que significava algo para mim aqui. Alguém que
dizia ter certeza do que queria, mas agia de maneira
totalmente oposta disso.

O que faria?
Capítulo Trinta
Silas
Quando voltei para o apartamento estava tudo escuro.
Sai para correr, fiz cinco quilômetros e estava pegajoso de
suor. Acendi a luz no corredor e gritei por Tempest, embora
soubesse, antes mesmo de entrar pela porta, que ela tinha
ido embora. Sua moto não estava estacionada na calçada e
tentei me convencer de que saiu para ter seu próprio tempo,
exceto que sua mochila e as roupas não estavam onde
estavam em meu quarto.

Estava no quarto, encharcado de suor, exausto,


examinando olhando ao redor. Era como se ela nunca
tivesse estado aqui.

Senti-me entorpecido. Todo esse maldito dia, do


princípio ao fim, foi como uma gigantesca bola de merda,
terminando com a nossa estúpida discussão.

Fui um idiota. Esse tempo todo que corri, pensei que


era um idiota. Essa luta que fiz por Abel era para ser uma
coisa de uma vez, apenas porque era Abel... e porque
quitaria a minha dívida, fazendo com que Big Harry não
quebrasse minhas pernas. Era o último dinheiro que devia.
Fiquei arrogante e estúpido, pensando simplesmente que
conseguiria rapidamente outros dez mil com outra luta
rápida.

Queria algo para mostrar a Tempest que tinha algo.


Que não era um perdedor. Queria que ela desse uma chance
para nós.

Não queria ir para ela com nada e pedir-lhe para ficar


comigo. E nada era exatamente o que tinha.

Tinha esse maldito anel, essa estupidez que comprei


quando tinha 17 anos, ainda guardado em meu armário.
Pensei que fosse tão romântico naquela época, comprar-lhe
um anel feito de uma pedra com o seu nome, a pedra
Tempest6.

Estava acostumada com coisas boas, coisas como as


tinha em Las Vegas e não tinha nada parecido com aquilo.
Até mesmo o maldito anel que lhe daria era tão barato
quanto eu.

Aqui estava eu, sozinho, pensando em todas essas


coisas. Mas, principalmente, estava chateado que não disse
adeus.

Mais uma vez.

6Pedra Tempestade, também conhecida como olho de águia ou Pedra


Pietersite. Era um estranho óxido de quartzo que só se encontra na África e na
China. Contém várias cores. Quando colocado na luz muda de cor.
Tempest

— Por que insistiu em jantar? — perguntei a Iver.


Estava irritada com Silas por sua imprudência, irritada
comigo mesma por brigar com ele e irritada com Iver por
aparecer aqui. Mal podia conter minha raiva e agora na
frente de Iver, neste pequeno restaurante na periferia da
cidade.

— Por favor. Dirigi do aeroporto, que fica no meio do


nada em Colorado, para resgatá-la desta cidade. Não
almocei e agora já passa da hora do jantar e estou faminto
— comentou Iver, olhando para a garçonete que se
aproximava — Suponho que não tenha uma carta de vinhos,
não é, querida?

Ela colocou a mão na cintura, ergueu as sobrancelhas e


deu a Iver um olhar que podia derrubar o quadro da parede.
— Não tenho uma carta de vinhos, docinho. — respondeu.
Iver me olhou, arqueando as sobrancelhas. — O que
disse? — perguntou.

— Acho que foi o querida que a irritou. — indiquei.

Ele pegou seu menu. — Perdi todo o meu charme? —


questionou. — Este lugar é algum tipo de realidade
alternativa onde não tenho nenhum efeito sobre as
mulheres?

— Não é para tanto. — disse, revirando os olhos.

— Tenho dois bilhetes saindo de Denver. – disse. —


Para Nova York.

— Temos uma vítima?

— Oscar tem algumas possibilidades, mas nada que


tenha especialmente chamado nossa atenção. — disse. —
Mas... você não terá o seu bilhete até que me fale sobre o
homem que foi a razão para perder a reunião.

Balancei minha cabeça negando. — Iver, não quero


falar sobre isso. — disse, cansada. — É... nem sei o que é.
Acabou, acho. Não tenho certeza.

Iver recostou-se na cadeira e cruzou os braços sobre o


peito. — Conte-me tudo. – insistiu. — Não sairei.

Então lhe contei toda a história... A minha história e de


Silas do começo ao fim. O tempo todo Iver comeu seu bife e
eu beliscava a comida em meu prato, meu estômago
revirando. Eles serviam vinho e Iver ordenou uma taça do
tinto da casa, fazendo uma careta e declarando-o intragável
assim que o bebeu.

Quando terminei, Iver recostou-se na cadeira e me


olhou com cuidado. — Bem, está decidido.

— O que está resolvido? — me senti exausta, no final


pagava o pedágio por todo um dia emocional.

— O que deve ser feito. — Iver limpou sua boca com o


guardanapo.

— Do que está falando? — perguntei, mal-humorada.


— Não aceitarei conselhos amorosos do homem que nunca
gasta mais de uma noite com uma mulher.

— Não falava sobre sua vida amorosa. — explicou. —


Falava sobre a cidade. Decidi o que precisa ser feito sobre
isso.

— Não, não, não. — discuti, balançando a minha mão.


— Não trará Oscar e Emir para cá.

— Claro que sim, querida. — assegurou, inclinando-se


para perto, com a voz baixa. — E daremos um golpe na
cidade.

Neguei. — Já estive lá, fiz isso. — indiquei. — Além


disso, não é a cidade que é o problema.
Iver acenou com a mão. — Eu sei. – comentou. — Mas
golpear a cidade soa muito mais dramático do que golpear
o xerife, o prefeito e a empresa de mineração. Pare de
tentar estragar minha diversão.

— Uma ideia perfeita. — sentenciei, bebendo o meu


café. — Especialmente quando foi visto em público comigo.

Iver deu de ombros. — Então, desta vez, ficarei nos


bastidores. – rebateu. — Ou você. Qualquer um dos dois.
Detalhes a serem trabalhados mais tarde.

— Eu não estou nisso, Iver. — Bom, então faça as pazes


com o seu namorado e entre a bordo. — disse Iver. — Não
acho o conceito de monogamia atraente, mas está
claramente apaixonada por ele.

— Não estou apaixonada — Protestei fracamente. Mas


estava. Sabia que estava.

— Pessoalmente, acho que deveria se aposentar do


jogo? Não. — Iver determinou.

— Não disse que me aposentaria. – rebati. — Sequer


respire essa palavra.

Mas Iver levantou a mão novamente. — Deixe-me


terminar, querida. — disse — Você apenas me ouvirá
pronunciar estas palavras uma vez e se algum dia disser a
alguém que as falei, negarei tudo.
— Isso tenho que ouvir. — disse.

— Apaixonei-me uma vez. – disse e quando abri minha


boca para falar, Iver me silenciou. — Fui casado. Não olhe
para mim como se fosse a coisa mais bizarra que já ouviu.
Foi há muito tempo. Ela morreu. Só ficamos juntos por um
ano antes de ela morrer e esse ano foi o mais feliz que já
tive, mesmo que os últimos seis meses envolviam estar ao
lado de sua cama em um hospital observando-a definhar
em, literalmente, um esqueleto de quem era. Não mudaria
isso por nada no mundo.

— Iver, eu...

— Calma, querida. — pediu. — Estou repartindo a


minha sabedoria no momento. É raro, encontrar alguém
que te entende. E é ainda mais raro quando se trata de
pessoas como você e eu. Alguém que pode cortar todas as
loucuras, que te vê apesar de todas as máscaras que usa? É
impossível. Quando acha isso, você o segura. Não importa
se é por um momento ou se é para toda a vida.

— Não sei se posso, Iver. — queixei-me. — E se não


houver nada lá, debaixo de tudo isso?

— Todo mundo tem medo, querida. — indicou. — E


todos nos sentimos como fraudes. E todo mundo usa
máscaras, ocorre que os vigaristas as usam de forma mais
visível do que outros. Silas a vê por quem é e isso é algo.
— Estou apavorada. — confessei.

— Bom. — disse Iver. Tomou um gole de café e então


fez uma careta. — É assim que sabe que é amor. Porque te
assusta muito.
Capítulo Trinta e Um
Silas
Sentei-me na poltrona, cochilando mesmo que não
fosse tão tarde. A batida na porta da frente me assustou.

Quando abri a porta, Tempest falou antes que pudesse


dizer algo. — Não quero que lute. — disse. — Porque não
quero te perder, ok?

Balancei a cabeça. — Está bem.

— Está bem, como admitindo que ouve o que digo ou


que concorda?

— Está bem, como entendo que agi como um idiota por


ser imprudente. — respondi. — E que fui um idiota mais
cedo, saindo no meio de uma discussão. E, porra, por brigar
com você, também.

— Nós dois fomos estúpidos. — afirmou. — Não estou


acostumada com nada disto, você sabe. Não estou
acostumada a estar com alguém. Sempre foi apenas você.
Não houve ninguém depois de você.

— Ninguém que significasse tanto. — comentei.


— Isso também. — concordou. — Mas não, quero dizer
literalmente, nunca houve ninguém além de você. Nenhuma
foda, nenhum encontro.

Sete anos e não esteve com ninguém além de mim?


Esta garota por quem os homens se atiravam nela por todos
os lados, que era tão bonita que quase não conseguia pensar
direito? Merda, estava no hotel com aquele cara de sua
equipe vigarista, aquele que parecia saído das páginas de
uma revista e que eu queria dar um soco na cara dele
imediatamente ao vê-lo, porque pensei que estavam juntos.
Esta garota não esteve com ninguém além de mim. Era
ridículo.

Riria em voz alta, exceto que ela parecia séria sobre


isso.

— Diga alguma coisa, Silas. — pediu. — Disse uma


coisa muito pessoal e você me olha como se tivesse duas
cabeças. Minhas mãos tremem.

Não disse nada. Dei um passo para frente, minha mão


em sua nuca e puxei-a para mim. Beijei-a, minha boca
envolvendo a dela, querendo tudo dela. Não havia nada que
pudesse dizer agora. Não tinha palavras.

O que queria dizer era demais.

Então a peguei e levei-a para dentro, direto para o


quarto, onde a coloquei no chão na minha frente. Não disse
nada enquanto tirava sua roupa e deixei-a completamente
nua à minha frente. Não disse nada enquanto tirava minha
roupa e fiquei nu na sua frente.

E não disse nada quando comecei beijar seu pescoço,


sobre os seios, na barriga e para baixo ou quando me
ajoelhei entre suas pernas e cobri sua boceta com a minha
boca. Provei-a em minha língua, mas todos os meus
sentidos beberam-na quando gozou em mim, agarrando-se
a minha cabeça e puxando meu rosto para ela.

Mal a deixei recuperar o fôlego antes de pegá-la em


meus braços, mesmo que a cama estivesse apenas a poucos
passos de distância.

— Silas. — sussurrou, finalmente quebrando o silêncio


entre nós. — Preciso de você.

Preciso de você.

Ela poderia ter falado sobre sexo ou mais do que isso,


não me importava. Arqueando contra mim enquanto a
beijava, gemia baixinho em minha boca quando pressionei a
cabeça do meu pau em sua entrada. Parei por um minuto,
saboreando a sensação de sua umidade sobre a pele nua,
antes que entrasse em sua boceta.

Desta vez, fiz amor com ela, com estocadas longas,


lentos, ouvi suas respirações curtas, a maneira como
choramingou quando se tornou mais excitada. Beijei seu
pescoço, logo abaixo do lóbulo da orelha, o lugar que lhe
dava arrepios e a fiz gemer de desejo.

— Está tão molhada. — sussurrei.

— Isso é o que me faz — gemeu, arqueando contra


mim, com as mãos em minha cintura, me puxando para si
com força.

— Isso é o que quer? — perguntei enquanto entrava


nela tão profundamente que pensei que a atravessaria.

— Oh Deus, Silas. — sua voz estava rouca e sua


respiração irregular. — Mais forte.

Empurrei nela de novo e novamente, mais profundo a


cada golpe. — Está tão inchada. — disse. — Tão apertada.

Ela gritou o meu nome novamente. — Estou tão perto.


– ofegou. — Vai me fazer gozar.

Inclinei-me, colocando um de seus seios em minha


mão e puxando-o para a minha boca, chupando seu mamilo
duro e o mordiscando.

— Merda, Silas. — praguejou. — Me faça gozar. Por


favor.

Beijei-a com força, estocando de novo e mais uma vez.


— Quer que goze em você?
— Merda. — Sua respiração estava irregular e olhou
para mim, com a boca aberta. Ofegante. Era a respiração
ofegante que me faria chegar lá.

— Diga-me o quanto quer isso. — exigi.

— Silas. — sussurrou.

— Sim, baby. — Não conseguia pensar em nada a não


ser o quanto queria gozar dentro dela. — Diga-me.

Ela gemeu. — Eu te amo, Silas.

Essas três palavras.

Estoquei uma última vez e gozei.

Tempest
Olhei para Silas, de onde estava com a cabeça
pressionada em seu peito e ele olhou para mim.

— Lembra do que disse ou foi apenas uma daquelas


coisas que diz quando está prestes a gozar? — perguntou. —
Como gritar o nome errado?
Ri, levantando para sentar ao seu lado, minha mão
traçando seu caminho preguiçosamente em torno de seu
peito. — Será que isso aconteceu muito com você? —
perguntei. – Gritar o nome errado durante o sexo?

Silas sorriu. — Não precisa se preocupar com isso. —


afirmou. — Sou o tipo de cara de uma só mulher. Sei a quem
pertenço. — passou o dedo em meu ombro, contornando a
minha tatuagem. — Algo como essa andorinha em seu
ombro. Acertou sobre os marinheiros, sabe? Os marinheiros
usam para mostrar o quão longe viajam. Mas também para
trazer sorte e guiá-los de volta para onde pertenciam.

Sorri. — Não sabia essa parte. — admiti. — Mas sim,


me lembro do que disse e quis dizer isso.

Silas assentiu. — Bom. — disse.

— Isso é tudo o que tem para dizer? — perguntei. —


Digo que te amo e que você diz, bom?

Silas sorriu. — Só queria ouvi-la dizer novamente,


Tempest. — zombou.

Dei-lhe um tapa no peito. — É um idiota.

Silas riu. — Mas sou o seu idiota, agora.

Saí da cama enquanto Silas protestava, fazendo uma


tentativa inútil de me pegar. — Pensando bem. — zombei. —
Talvez devesse retirar o que disse.
Silas deu um pulo e gritei quando agarrou meu pulso e
me puxou contra ele. — Nunca diga isso. — advertiu. —
Está presa comigo agora.

— Ah, é? — perguntei.

Ele se afastou de mim. — É isso mesmo. — confessou.


— Quis dizer o que disse antes. Não namoro com você. Não
quero ver se é certa para mim ou seja lá o que as pessoas
normais fazem. A nossa história é muito complicada para
isso. Você é a pessoa para mim. Conheço-a desde que
éramos adolescentes e sei disso agora. Você é minha. Quero
que seja minha. Eu te amo. Te amo desde que te conheci. Te
amei nos últimos sete anos.

— O que está me dizendo? — perguntei com meu


coração batendo acelerado. — Não sou o tipo de garota de
cerca branca, Silas.

Silas se afastou e, por um minuto, pensei que o


machucaria, mas ele caminhou até sua cômoda, abriu a
gaveta e tirou uma pequena caixa. Minha respiração falhou
enquanto caminhava novamente até a mim, ainda nu.

— Guardei isso desde que éramos crianças. — disse —


Conversamos sobre nos casarmos e realmente ia perguntar,
sabe? Mas fugiu.

— Silas. — Não sabia o que dizer. Conversamos sobre


nos casarmos, mas nunca pensei que realmente tivesse ido e
comprado um anel e muito menos que o guardou durante
esse tempo todo.

— Você pode odiá-lo e achar que é estúpido. –


explicou. — Não é nada caro. Na verdade, é muito barato.
Mas isso significava algo para mim naquela época. — abriu
a caixa e estendeu o anel. — Economizava para isso, naquela
época. Pedi para fazer para você. É uma Pietersite. É uma
pedra rara, mas não é preciosa ou qualquer coisa do tipo.
Consegui-a porque é chamada de Tempest, porque têm
estes redemoinhos nela que se parece com uma tempestade,
sabe?

— Silas, é lindo. — assegurei.

— É estúpido e brega. — gaguejou.

— Pare de falar e me beije. — pedi e ele fez isso.


Quando finalmente interrompeu o beijo, olhou para mim. —
Entendeu que lhe pedi para casar comigo, certo? — disse.

Ri. — Sim, Silas, entendi. — afirmei. — Quer dizer, foi


uma proposta muito crua e não ficou em um joelho ou
qualquer coisa, mas...

— Não temos, exatamente, um relacionamento


tradicional. — interveio. — Mas se quiser, posso me
ajoelhar.
Ri e bati na sua mão enquanto viajavam pelo meu
abdômen, rumo ao destino, entre as minhas pernas. — Você
é doce em um minuto e imundo no próximo.

Ele se inclinou e me beijou, tateando minha bunda


com uma mão.

— Acostume-se, Olhos Brilhantes. — comentou. —


Porque isso nunca mudará.
Epílogo

”A verdadeira esperança
é rápida e voa com as
asas da andorinha.“

William Shakespeare, O Rei Ricardo III


Silas
— É realmente muito pitoresca. — disse Oscar, olhando
ao redor. — Acolhedora, é claro. Mas pitoresca.

— A conexão é uma merda aqui. — queixou-se Emir. —


É abaixo de zero. Tem que ser, certo?

— Obrigado a todos por virem aqui. — Tempest disse,


com a voz excessivamente paciente, a que usava muito
comigo. — Apesar de se queixarem e gemerem sobre tudo.

Oscar sorriu. — West Bend é adorável. — disse —


Pitoresca. Isso me lembra dos Alpes Suíços. Além disso,
Emir deve aprender a esquiar enquanto estiver aqui. Ter um
pouco de ar fresco.

Emir fez uma pausa, levantando-se de onde estava


procurando algo em uma maleta. — Oh, não, não. — disse. –
Não esquiarei. Este golpe não envolve que eu esquie, não é?

Apertei minhas mãos na cintura de Tempest e puxei-a


para perto de mim, rindo. — Posso te ensinar. – falei. —
Estou ensinando a ela.

— Já esquiava muito bem antes, muito obrigada. —


protestou.
— Oh, tenho certeza que sim, querida. — disse,
beijando o topo de sua cabeça. Então balancei a cabeça
negando e murmurei a palavra exagerada e Tempest se
afastou, me socando no braço.

— Eu esquio bem. — protestou.

— Se por bem, queira dizer, bem como os turistas... —


comentei.

— Isso não é ruim. Aceitarei.

— Quis dizer as crianças turistas. — falei.

— Ignorarei isso. — disse Tempest. – Este lugar é de


baixo perfil o suficiente para todos?

— Acho que servirá muito bem. — Iver se endireitou de


onde estava, olhando na geladeira. — Teremos que tomar as
precauções adequadas, nos separar quando adotarmos as
nossas identidades, mas é bom como um acampamento
base. Literalmente quase um acampamento, neste caso.

— Estamos muito longe de West Bend. — disse Oscar.


— Mais de uma hora e no meio do nada. E todos estão em
um alojamento. Ninguém foi seguido. Todas as precauções
foram tomadas.

— E, o mais importante é que você mesma nos


abasteceu com champanhe. — disse Iver, segurando uma
garrafa.
— Pode agradecer a Silas por isso. — disse Tempest. —
Ele encomendou, especialmente, no armazém geral.

— Silas, cada vez me cai melhor. — disse Iver enquanto


abria a garrafa. — Servirei as taças e brindaremos ao novo
golpe. — Houve uma batida na porta e ele fez uma careta. -
Agora quem está prestes a arruinar um perfeito brinde?

— Luke. — disse, atravessando a sala. — Não se


preocupe, ele está ciente. Foi instruído sobre as precauções
que precisava tomar, evitando ser seguido, tudo isso.

— Espero que revelou todos os segredos comerciais. —


disse Iver.

— Que segredos comerciais? — perguntou Luke.

— É este o gêmeo? — perguntou Emir. — Não são tão


iguais.

— Somos apenas irmãos. — disse Luke.

— Sim, infelizmente. — disse, enquanto Luke colocou


seu braço em volta do meu pescoço, me deixando preso.

— Infelizmente? — perguntou Luke.

— Esqueceu que sou um lutador? — disse, facilmente


puxando o braço de Luke do meu pescoço.

— Sim, mas sou maior e mais velho do que você. —


disse Luke. — E em forma.
— É isso que fazem no Colorado? — perguntou Iver.

Tempest revirou os olhos. — Meninos, por favor, não


destruam este lugar.

Ri. — Sim, tudo bem. — disse, soltando o braço de meu


irmão. Puxei Tempest contra mim, deslizei as mãos ao redor
das costas e beijei a ponta de seu nariz. — Feliz?

— Com certeza. — disse ela. — Você?

— Muito. — E estava. Poderia estar em qualquer lugar


com Tempest, em qualquer lugar no mundo e estaria
insanamente feliz. Não havia nada que pudesse mudar isso.

Tempest
— Oh meu Deus, vocês só querem se beijar o tempo
todo. — Luke gritou. — Arrumem um quarto.

— Cale a boca. — disse Silas. — Só está com ciúmes.


— O que foi isso? — perguntei e Silas encolheu os
ombros.

— Ele está interessado em uma garota. — disse Silas.

— Então, está provocando por causa disso? —


perguntei. — Você é um total idiota?

— É o que fazemos. — disse Silas.

— Onde está o outro? — Emir elevou a voz do outro


lado da sala. — Não há um gêmeo?

— Está em Hollywood. — disse. — Ele namora com


River Andrews.

Emir me olhou sem expressão. — Quem?

— É uma atriz. — respondi. — Comédias românticas.

— Oh. — Emir olhou para baixo e voltou para o que


fazia.

— Foi receber um prêmio. — disse. — Um grande. Elias


foi com ela para a premiação. Estarão ao vivo na televisão.

— Começará em cerca de 20 minutos. — disse Luke


enquanto caminhava ao redor. — Existe uma TV? Disse a
Elias que queria vê-lo em um terno de macaco.

— Aham. — Iver bateu uma colher na lateral de sua


taça. – Um brinde. Todos peguem uma taça de champanhe,
por favor.
Quando fizemos e o zumbido de conversa na sala
acalmou, Iver pigarreou. — Agora. — disse. — Quando
descobri que o membro mais atraente da nossa equipe fugiu
para uma cidade pequena no Colorado com alguém, não
podia imaginar que era verdade.

As mãos de Silas envolveram protetoramente em meu


ombro. — A mais atraente, com certeza. — sussurrou no
meu ouvido.

— Até... — disse Iver, limpando a garganta novamente.


— Até que a ouvi falar sobre ele. E então entendi que era a
única coisa possível que poderia fazer. Porque quando você
encontra a pessoa que te faz querer deixar tudo para trás,
não pode fazer nada, além disso.

Oscar ergueu a taça. — Para Ariana e Silas.

— Quem é Ariana? — perguntou Silas.

— Sobre isso…

Silas virou-se para mim. — Seu nome verdadeiro não é


Ariana, não é?

Ri. — Não. — disse. — É Tempest. Eles me conhecem


como Ariana. — gritou em voz alta. — É Tempest, rapazes.
Meu nome não é Ariana.

Oscar colocou a mão sobre o coração. — Estou


magoado que nos deu um golpe. — disse.
— Sabia o tempo todo. — disse Emir, abrindo um de
seus laptops sobre a mesa.

Iver virou para ele. — E não disse nada, Emir?

Ele deu de ombros. — Você deve apenas supor que sei


tudo. Porque provavelmente sei.

— Acho igualmente admirável e reprovável. — disse


Iver.

— Obrigado. — Emir sentou, digitando furiosamente


em seu teclado.

— É esta a parte onde planejamos o golpe? —


perguntou Silas antes de beijar minha bochecha. Senti um
arrepio de prazer ao mero toque e me aninhei contra ele.

— Oh, não. — disse. — Ainda não. Esta é a parte onde


bebemos champanhe e conversamos.

— O champanhe não deveria vir depois do golpe? —


perguntou.

— Permita-me ensinar-lhes sobre isso. — Iver apareceu


ao nosso lado, enchendo a taça de Silas. — Bebemos
champanhe a qualquer momento. Esta é a parte onde nos
deliciamos com histórias de Aria... quer dizer, as lendárias
palhaçadas vigaristas de Tempest.
Olhei para Iver, estreitando os olhos. — Não as
histórias embaraçosas. — disse.

— É claro que são as que compartilharemos. — disse


Oscar. Tomou um gole de sua taça de champanhe. — São as
mais importantes de todas. Lembra-se do tempo em
Mônaco quando...

Gemi. — Vamos, rapazes.

Luke interrompeu na frente da televisão. — A câmera


acabou de passar por Elias e River no meio da multidão. —
disse — Acho que sua categoria é a próxima.

— Salva... Por enquanto. — disse Oscar.

Assistimos, de pé em torno da televisão, enquanto


River, com um vestido dourado até o chão que brilhava sob
as luzes, entrou no palco para receber seu prêmio. A câmera
mostrou brevemente Elias, que estava na platéia, sorrindo
amplamente.

— Volta, homem. — gritou Silas. — Não podemos ouvir


o que ela diz.

A boca de River se movia e Luke aumentou volume. —


Ela agradece as pessoas. — disse — Consegue ouvir?

— Quem é esse? — perguntei, vendo quando um


homem de calça de couro apertada e uma camisa preta
subiu ao palco, tirando o microfone da mão dela.
— Puta merda. — disse Silas. — Esse é o seu ex-noivo
imbecil.

Oh meu Deus, aquele que a traiu? — perguntei. — Com


a irmã dela?

Iver e Oscar conversavam e Luke os silenciou. — Esse é


o babaca do Viper — disse — Acha que River o empurrará
para fora do palco?

Vimos quando Viper pegou o microfone da sua mão e


ficou de joelhos, proclamando seu amor por ela e pedindo
desculpas por suas indiscrições. Ao meu lado, Silas
resmungou. — Merda, se River não o socar, Elias subirá e o
chutará ao vivo na TV.

Mas Viper não disse mais de duas frases antes de River


arrancar o microfone da sua mão. — Seu estúpido — disse
ela. E então, quando ele tentava se levantar, ela lhe deu um
soco na cara.

Luke e Silas gritaram. Luke se afastou da televisão,


agora cortando para o intervalo, rindo.

— River pode se defender. — disse — Mal posso


esperar para Elias nos contar toda a história.

— Ela é uma de nós agora. — disse Silas. Uma Saint. E


você simplesmente não fode conosco.
— Por falar nisso. — disse Oscar. — Temos uma
atualização sobre Coker?

— Descobriu que foi enganado. — disse. — Finalmente.


Levou tempo suficiente.

— Mas, também devia dinheiro a alguns europeus. —


disse Silas. — Um dos meus amigos em Las Vegas disse que
ele desapareceu.

— Bem, querida. — disse Iver. — É felizes para sempre


por todos os lados.

— No estilo vigaristas. — disse Oscar.

— Bem, felizes para sempre para todos, exceto para as


pessoas que estamos prestes a golpear. — disse, sorrindo. O
delegado e o prefeito não sabem o que os esperam.

Nunca pensei que voltaria para West Bend novamente.


Nunca pensei que estaria com Silas, mas assim que o
encontrei, não deixaria desta vez. Estava feliz e Silas
também e no momento, nada mais no mundo, incluindo o
golpe, importava. A única coisa que importava éramos nós.

FIM
Playlist
Esta é a primeira vez que adiciono uma playlist para
um livro, mas é algo que queria fazer a algum tempo.
Algumas dessas canções são mencionadas no próprio livro
e algumas são músicas que me inspiraram durante o
processo de escrita, mas que não tornaram-se parte no
texto. Espero que gostem!

"Stay with Me" (Sam Smith)

"First Day of My Life" (Bright Eyes)

"Samson" (Regina Spektor)

"Come On, Get Higher" (Matt Nathanson)

"Thinking Out Loud" (Ed Sheerhan)

"Something I Need" (One Republic)

"Let Her Go" (Passageiro)

"Em meus ossos" (Ron Pope)

"I Choose You" (Sara Barellis)

"You’re the Reason I Come Home" (Ron Pope)

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