14 de maio de 2010
2
Sumário
1 Equação de Euler 5
1.1 Uma variável independente e uma dependente . . . . . . . . . . . 5
1.1.1 Parâmetro variacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.2 Dedução da equação de Euler . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.3 Identidade de Beltrami . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.2 Aplicações da equação de Euler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.2.1 Menor distância entre dois pontos . . . . . . . . . . . . . 8
1.2.2 Braquistócrona . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.2.3 Superfı́cies de revolução e filmes de sabão . . . . . . . . . 12
1.2.4 Túnel em uma esfera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3 Uma variável independente e várias dependentes . . . . . . . . . 19
1.3.1 Equações de Euler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.3.2 Princı́pio de Hamilton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.4 Uma variável dependente e várias variáveis independentes . . . . 23
1.4.1 Equação de Euler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.4.2 Equação de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.5 Várias variáveis independentes e dependentes . . . . . . . . . . . 25
1.6 Problemas variacionais com vı́nculos . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.6.1 Vı́nculos e multiplicadores de Lagrange . . . . . . . . . . 26
1.6.2 Exemplos de vı́nculos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.6.3 Equações de Euler com vı́nculos . . . . . . . . . . . . . . 28
1.6.4 Problemas mecânicos com vı́nculos . . . . . . . . . . . . . 32
1.7 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3
4 SUMÁRIO
Capı́tulo 1
Equação de Euler
5
6 CAPÍTULO 1. EQUAÇÃO DE EULER
y α=α
2 2
y
2
α=α 1
α=0
y
1 1 α=α
3
x
0 x x x
1 α=α 2
2
onde η(x) representa a deformação, portanto deve ser uma função continuamente
diferenciável (suave) em todos os pontos do intervalo x1 < x < x2 , anulando-se
nos seus extremos: η(x1 ) = η(x2 ) = 0.
Como um exemplo de parametrização consideremos os pontos fixos no plano
(x1 , y1 ) = (0, 0) e (x2 , y2 ) = (1, 0), onde o caminho ótimo seja o segmento de
reta que os une:
y(x, 0) = {(x, y)|y = 0, 0 ≤ x ≤ 1}.
Uma famı́lia de curvas suaves parametrizadas por α que conectam os pontos
fixos é (α ∈ R)
y(x, α) = αx(1 − x),
onde α = 0 fornece o caminho ótimo: y(x, 0) = 0. Logo η(x) = x(1 − x), que
satisfaz η(0) = η(1) = 0.
Observe que a deformação η(x) deve ser uma função suave no intervalo
[x1 , x2 ], ou seja, deve ser diferenciável em todos os seus pontos. No exemplo
anterior, isso significa que não podemos usar uma função como (α ∈ R)
(
2αx, se 0 ≤ x ≤ 1/2,
η(x) =
2α(x − 1), se 1/2 ≤ x ≤ 1,
Como todas as curvas parametrizadas por α devem passar pelos pontos fixos,
∂y ∂y
= 0, = 0, (1.7)
∂α x1 ∂α x2
tal que a primeira parcela resultante da integração por partes é identicamente
nula, restando, então
Z x2
∂J ∂f d ∂f ∂y
= − dx. (1.8)
∂α x1 ∂y dx ∂y x ∂α
Multiplicando por dα e calculando as derivadas em relação a α para o cami-
nho ótimo α = 0 teremos
Z x2
∂J ∂f d ∂f ∂y
dα = − dαdx. (1.9)
∂α α=0 x1 ∂y dx ∂y x ∂α
Vamos denominar variação da integral J a seguinte expressão
∂J
δJ ≡ dα, (1.10)
∂α α=0
assim como, analogamente, a variação de y será
∂y
δy ≡ dα, (1.11)
∂α α=0
com as quais reescrevemos (1.9) como
Z x2
∂f d ∂f
δJ = − δydx. (1.12)
x1 ∂y dx ∂yx
A condição (1.4) para que a integral J seja estacionária é, portanto, simples-
mente
δJ = 0. (1.13)
Impondo essa condição em (1.12), como δy é arbitrário, concluimos que, neces-
sariamente, o termo entre colchetes deve anular-se, o que fornece a equação de
Euler
∂f d ∂f
− = 0. (1.14)
∂y dx ∂yx
Leonhard Euler chegou à equação acima em 1744, no seu trabalho Método
para achar curvas planas que mostram algumas propriedades de máximos e
mı́nimos. Posteriormente, em 1760, Joseph Louis Lagrange aprofundou a análise
prévia de Euler no seu trabalho Ensaio sobre um novo método para determinar
os máximos e mı́nimos de fórmulas integrais indefinidas. Por esse motivo, den-
tro do contexto da mecânica, a expressão (1.14) é também chamada de equação
de Euler-Lagrange.
8 CAPÍTULO 1. EQUAÇÃO DE EULER
∂f
f − yx = C = constante. (1.15)
∂yx
de tal sorte que o comprimento total de uma curva plana ligando os pontos de
coordenadas (x1 , y1 ) e (x2 , y2 ) é
Z 2 Z x2 p
L= ds = dx 1 + yx2 , (1.23)
1 x1
ax1 + b = y1 ,
ax2 + b = y2 ,
isto é,
y1 − y2
a = , (1.24)
x1 − x2
y2 x 1 − y1 x 2
b = . (1.25)
x1 − x2
onde yxα = yx (x, α), e comparar com o comprimento da curva ótima (1.26):
Z x2 q
L[y(x, 0)] = dx 2 ,
1 + yx0 (1.28)
x1
∆L = αI1 + α2 I2 + . . .
onde
a
I1 = √ [η(x2 ) − η(x1 )] = 0
2 1 + a2
e Z x2
1 3a2 + 4
I2 = η 2 dx ≥ 0
8 (1 + a2 )3/2 x1 x
| {z } | {z }
≥0 ≥0
donde ∆L ≥ 0, ou L[y(x, α)] ≥ L[y(x, 0)], a igualdade só valendo para o caso
onde α = 0. Em geral, L[y(x, α)] será sempre maior do que L[y(x, 0)], onde o
último é, de fato, um mı́nimo.
Em geral, curvas que fornecem a menor distância entre dois pontos sobre uma
superfı́cie são chamadas geodésicas. Numa superfı́cie esférica, por exemplo, a
geodésica entre dois pontos é o menor arco de cı́rculo máximo (o centro coincide
com o centro da esfera) que conecta estes pontos. Na relatividade geral, uma
partı́cula livre sempre move-se ao longo de uma geodésica.
1.2.2 Braquistócrona
O problema da braquistócrona consiste em achar a trajetória pela qual uma
partı́cula deslizando a partir do repouso, sem atrito, e acelerada unicamente
pela gravidade, vai de um ponto a outro (num plano vertical) no menor tempo
possı́vel. Ele foi formulado pela primeira vez por Johann Bernoulli em 1696, sob
a forma de um desafio lançado aos maiores matemáticos do seu tempo. Cinco
deles enviaram suas soluções: Newton, Jacob Bernoulli (irmão de Johann), Leib-
nitz, L’Hôpital, além do próprio Johann Bernoulli. Todos eles, usando diferentes
métodos geométricos, encontraram corretamente a curva como sendo um arco de
ciclóide. Os métodos usados pelos irmãos Bernoulli para resolver o problema da
braquistócrona e assemelhados levaram, anos após, Euler e Lagrange a criarem
o cálculo variacional.
1.2. APLICAÇÕES DA EQUAÇÃO DE EULER 11
y
1 x
0 x
2
y
Desejamos achar a forma da curva y(x) para a qual, dados os pontos fixos
1 e 2, o tempo de percurso é mı́nimo. Este é um problema variacional para o
qual a solução é obtida resolvendo-se a equação de Euler (1.14) para a função
1/2 −1/2
f (y, yx ) = (1 + yx2 ) (2gy) . Como ela não depende explicitamente de x
podemos usar, alternativamente, a identidade de Beltrami (1.15):
∂f −1/2 −1/2 1/2 −1/2
f − yx = −yx2 (1 + yx2 ) (2gy) + (1 + yx2 ) (2gy)
∂yx
−1/2 −1/2
C = (2gy) (1 + yx2 ) −yx2 + (1 + yx2 )
−1/2 −1/2
= (2gy) (1 + yx2 ) .
tal que a outra coordenada pode ser encontrada, sob a forma paramétrica, por
integração dessa expressão
Z Z
θ k2
x = dx = k 2 sin2 dθ = (θ − sin θ) + k12 , (1.36)
2 2
onde k12 é uma nova constante de integração, que se anula pela condição de
contorno y(0) = 0. A braquistócrona, então, é determinada pelas seguintes
equações paramétricas:
k2
x(θ) = (θ − sin θ), (1.37)
2
k2
y(θ) = (1 − cos θ), (1.38)
2
que são as equações de uma ciclóide.
A ciclóide é a curva traçada por um ponto fixo num cı́rculo de raio a = k 2 /2
que rola sem deslizar por uma linha reta. Podemos interpretar o parâmetro
θ como o ângulo que o raio vetor do ponto fixo faz com um raio vetor de
referência. Num ciclo completo, portanto, o parâmetro vai de zero a 2π. Ela
foi estudada primeiramente por Galileu em 1599, que tentou achar a sua área
experimentalmente (!) cortando e pesando pedaços de metal. A área sob a curva
após um ciclo completo, dada por 3πa2 , foi encontrada por Torricelli, Fermat e
Descartes usando métodos geométricos. O comprimento de um ciclo completo
da ciclóide é 8a.
A braquistócrona tem uma outra propriedade notável, e aparentemente pa-
radoxal: uma partı́cula colocada em qualquer posição (não necessariamente a
origem), vai alcançar o ponto final no mesmo tempo, ou seja, t12 , além de ser
mı́nimo, independe da posição inicial (ver o Problema 2)! Por esse motivo a
ciclóide é também uma tautócrona. Essa propriedade foi descoberta por 1673
por Huyghens, que a utilizou no (também sua invenção) relógio de pêndulo. Para
garantir o isocronismo das suas oscilações, ele adaptou no ponto de suspensão
do pêndulo duas guias na forma de arcos de ciclóide, o que fez com que o próprio
pêndulo oscilasse não em arcos de cı́rculo (aproximadamente isócronos), mas em
arcos de ciclóide (isócronos), o que melhorou a precisão do relógio usando essa
adaptação.
y
y
2
ds
y y
1
0 x1 x2 x
y
o
−xo 0 xo x
−yo
(1.45) não é verificada para todos os valores de x0 e y0 . Para mostrar esse fato,
vamos encontrar o valor máximo da razão x0 /y0 para o qual (1.46) é satisfeita.
Fazendo p = 1/a essa condição é reescrita como
1 2
r r
o
R θ R
φ
mg0 r2
U (r) = , (1.52)
2R
Finalmente, por simetria o tempo total de percurso entre dois pontos na su-
perfı́cie será s r
R2 − r02 r 2
0
T = 2τ = π = 1− T0 , (1.66)
Rg0 R
onde s
R
T0 ≡ π (1.67)
g0
é o tempo de percurso para uma trajetória que passe pelo centro da esfera, isto
é, com r0 = 0, conectando dois pontos antipodais na sua superfı́cie. Em geral,
os tempos de trânsito para todas as cordas são idênticos, sendo o diâmetro a
maior corda possı́vel na esfera, evidentemente, Para uma hipociclóide, porém,
na medida em que r0 ≥ 0, então T ≤ T0 , significando que o tempo de percurso
por uma hipociclóide é sempre menor do que o tempo de percurso pela corda
que une os dois pontos.
Como um exemplo numérico, supondo que a Terra seja uma esfera perfeita
onde R = 6370km e g0 = 9, 8m/s2 , temos que T0 = 2, 53 × 103 s = 42, 2min.
Para uma trajetória (num hipotético túnel) onde r0 = R/2, o tempo de per-
curso será T = 0, 0625T0 = 2, 64min. Esse valor é espantosamente baixo, con-
siderando que, como o ângulo central subtendendo os pontos inicial e final é,
de (1.60), φ = π/4,
√ um cálculo simples mostra que a corda ligando esses dois
pontos mede R 2 = 9008km, e que a profundidade máxima de um túnel ao
longo da corda seria h = R(1 − cos φ) = 1865km. Além disso, a distância entre
esses pontos ao longo da superfı́cie é s = Rπ/4 = 5000km.
Este problema tem uma história curiosa. Em 1888 Collignon apresentou
perante o Congresso da Associação Francesa para o Avanço da Ciência um
1.3. UMA VARIÁVEL INDEPENDENTE E VÁRIAS DEPENDENTES 19
vertical
θ
z
y
centro de massa
Mg
ψ x
φ
linha nodal
tal que
Z 2 Z 2 Z 2
∂J ∂f
dx1 dx2 · · · η+ dxn
∂α 1 1 1 ∂yi
n Z 2 Z 2 Z 2
X d ∂f
dx1 dx2 · · · dxn η dxj
j=1 1 1 1 dxj ∂yj
Z 2 Z 2 Z 2 n
∂f X d ∂f
= dx1 dx2 · · · dxn η − .
1 1 1 ∂yi j=1 dxj ∂yj
para η(xj ) arbitrárioss, o que nos leva à equação de Euler para várias variáveis
dependentes
n
∂f X d ∂f
− =0 (1.97)
∂yi j=1 dxj ∂yj
Esta situação bastante geral pode ocorrer em problemas variacionais com vı́nculos,
como se verá a seguir.
26 CAPÍTULO 1. EQUAÇÃO DE EULER
m
∂f X ∂ϕk
+ λk = 0, (i = 1, 2, . . . n) (1.113)
∂xi ∂xi
k=1
∂S ∂ϕ
+λ = 2πh + 4πr + λ(2πr)h = 0, (1.117)
∂r ∂r
∂S ∂ϕ
+λ = 2πr + λ(πr2 ) = 0 (1.118)
∂h ∂h
ϕk (y1 , y2 , . . . yn ; x1 , x2 , . . . xn ) = 0, (k = 1, 2, . . . m) (1.125)
y(x)
−a 0 a x
tal que a variação correspondente seja também identicamente nula para cada
vı́nculo Z 2
δ λk (xj )ϕk (yi , xj )dxj = 0, (k = 1, 2, . . . m). (1.127)
1
Por outro lado, sabemos que também é nula a variação do funcional (1.102)
Z 2
δ f (yi , yij , xj )dxj = 0. (1.128)
1
onde definimos
m
X
g(yi , yij , xj ) = f (yi , yij , xj ) + λk (xj )ϕk (yi , xj ). (1.130)
k=1
n
∂g X ∂ ∂g
− = 0. (i = 1, 2, . . . n) (1.131)
∂yi j=1 ∂xj ∂yij
O problema isoperimétrico
Um dos mais famosos problemas variacionais com vı́nculo é o isoperimétrico,
também chamado “problema de Dido”: dentre todas as curvas de um dado
comprimento ℓ no semi-plano superior, ligando dois pontos fixos 1 : (−a, 0) e
30 CAPÍTULO 1. EQUAÇÃO DE EULER
2 : (a, 0), encontrar a curva que, juntamente com o intevalo [−a, a], envolve a
maior área possı́vel [Figura 1.8].
A área sob a curva y(x)
Z a
A(y, x) = ydx, (1.132)
−a
x 2 + y 2 = a2 . (1.138)
0 x
L
em dar a ela tanta terra quanto ela pudesse envolver com um pelego de boi. A
esperta Rainha instruiu seus seguidores a cortar o pelego em fitas muito finas
e atá-las uma à outra, de modo que ela pôde envolver uma área muito grande
de terra em frente ao Mar Mediterrâneo, que tornou-se a cidade de Cartago.
Os gregos antigos já sabiam que o arco de cı́rculo era a solução do problema
isoperimétrico.
A catenária
Uma corrente ou cabo pesado de comprimento C está suspenso num plano
vertical entre os pontos de coordenadas 1 : (0, a) e 2 : (L, b) [Fig. 1.9], tal
que sua forma seja descrita pela função y(x), escolhida de forma a minimizar a
energia potencial. Seja ρ = dm/dℓ a densidade de massa do cabo. A energia
potencial será o seguinte funcional
Z 2 Z 2 Z 2 Z L p
V (y, yx ) = dV = dmgy = ρg yds = ρg dxy 1 + yx2 , (1.139)
1 1 1 0
∂g
g − yx = k = constante
∂y
" #
p yx yx
(ρgy + λ) 1 + yx2 − yx ρgy p + λp =
2
1 + yx 1 + yx2
p yx
(ρgy + λ) 1 + yx2 − yx (ρgy + λ) p =
1 + yx2
r
x θ
h
l−x
φ
θ R
0 x
1.7 Problemas
1. Encontre a função y(x) que torna a integral
Z 1
J= (2x + 3y + yx2 )dx
0
(b) O tempo decorrido para uma partı́cula se deslocar do ponto genérico (x0 , y0 ),
ou seja, tal que θ = θ0 , até o ponto mais baixo da trajetória, é
sin θ2
r Z π
a
T32 = dθ;
g θ0
q
cos2 θ0 − cos2 θ
2 2
1.7. PROBLEMAS 37
(c) Usando a substituição de variável u = cos(θ/2)/ cos(θ0 /2), T32 = T12 , inde-
pendentemente do valor de θ0 (ponto inicial).
que tem uma solução positiva em u0 = 1, 211. Usando esse resultado em (1.47)
mostre que
x0 cosh−1 u0
= = 0, 527
y0 u0
de forma que se
que é maior do que a área de uma única catenóide, mas é um mı́nimo relativo;
(c) Plateau propôs que filmes de sabão sempre se conectam de três em três,
fazendo ângulos de 120o entre as respectivas tangentes. Aplicando essa regra
√ à
conexão entre as catenóides e o disco central, mostre que c3 = sinh−1 (1/ 3) =
0, 549, tal que cosh2 (c3 ) − sinh(2c3 ) = 0.
(d) Mostre que o valor máximo da razão x0 /y0 para a ocorrência dessa terceira
solução é 0, 377.
38 CAPÍTULO 1. EQUAÇÃO DE EULER
10. O pêndulo esférico consiste de uma massa m pendurada por um fio de compri-
mento ℓ. A massa m é livre para mover-se no espaço, cuja posição é determinada
pelos seus ângulos θ e φ (em coordenadas esféricas).
(a) Obtenha a Lagrangeana da partı́cula e escreva as equações de Lagrange.
(b) Considere o caso particular em que p o fio do pêndulo descreve um cone de
pequena abertura θ0 . Mostre que φ̇ = g/d, onde d = ℓ cos θ0 é a distância
vertical do plano de rotação abaixo do ponto de suspensão.
(c) Suponha, agora, que o movimento é quase-cônico, ou seja, que θ = θ0 + δθ,
onde δθ ≪ θ0 . Expandindo a equação de Lagrange em série de potências mostre
que p
θ(t) ≈ θ0 + δθ0 cos tφ̇0 1 + 3 cos2 θ0
15. Uma partı́cula de massa m está constrangida a mover-se ao longo de uma haste
sem atrito que gira com velocidade angular constante ω sobre um plano horizon-
tal. Ache a Lagrangeana, condição de vı́nculo, as equações de Euler-Lagrange.
Obtenha a posição radial em função do tempo para as condições iniciais r(0) = r0
e ṙ(0) = 0. Ache a força de vı́nculo exercida sobre a partı́cula pela haste.
40 CAPÍTULO 1. EQUAÇÃO DE EULER
Capı́tulo 2
Métodos variacionais
aplicados
e duas soluções são ortogonais se o produto interno entre elas for nulo: <
y1 , y2 >= 0.
A norma de uma solução y(x) é definida como
√
||y(x)|| = < y, y >. (2.6)
41
42 CAPÍTULO 2. MÉTODOS VARIACIONAIS APLICADOS
as soluções y(x) devem ser funções de quadrado integral, de modo que o espaço
das funções é denotado L2 [a, b]. Em geral, para funções complexas, esse espaço
é dito de Hilbert.
Para a discussão atual basta considerarmos condições de contorno de Diri-
chlet homogêneas:
y(a) = y(b) = 0 (2.8)
para as quais a equação de Sturm-Liouville só apresenta soluções aceitáveis para
determinados valores de λ = λn , denominados autovalores do operador (2.2).
A cada autovalor corresponde um e somente uma solução correspondente, dita
autofunção φn (x), e que satisfaz a equação
que, dividindo por −2, resulta na equação de Sturm-Liouville (2.1), como querı́amos
demonstrar.
Integrando por partes a primeira parcela do integrando do funcional K,
temos que
Z b Z b Z b
dy b d
pyx2 dx = pyx dx = pyx y|a − y (py )dx (2.14)
a a |{z} dx
| {z } a |{z} |dx {zx }
=u =v
=dv =du
Pelas condições de contorno (2.8) o primeiro termo do lado direito é nulo, pois
2
K[y] = − < y, L[y] > − < y, λr(x)y >= − < y, L[y] > −λ||y|| (2.17)
donde (2.18) é
Z b
J[ξ] = (pξx2 + sξ 2 )dx
a
= [p(ψ 2 + 2ψy + y 2 ) + s(ψx2 + 2ψx yx + yx2 )]dx
Z b Z b
= 2 (pψx yx + sψy)dx + (pψx2 + sψ 2 ) + J[y].
|a {z } a
=I
donde
Z b Z b
d d
I=− ψ (pyx ) − sψy dx = − ψ (pyx ) − sy dx = 0, (2.24)
a dx a dx
| {z }
=0
em vista de (2.20).
Logo, subsituindo em (2.22),
Z b
∆J = (pψx2 + sψ 2 )dx ≥ 0 (2.25)
a
∞
de modo que {φn (x)}n=1 é dita uma sequência de Cauchy.
∞
No momento, as funções {φn (x)}n=1 satisfazem as condições de contorno
mas não são necessariamente soluções da equação de Sturm-Liouville. O obje-
tivo dessa seção é mostrar, através de métodos variacionais, que o conjunto de
autofunções do operador de Sturm-Liouville é completo no sentido acima, ou
seja, que as autofunções servem de base para o espaço das soluções y(x).
Começamos substituindo a série infinita (2.26) no funcional (2.18):
* ∞ "∞ #+
X X X
J[y] = − cm φ m , L cn φ n =− cm cn hφm , L [φn ]i (2.28)
m=1 n=1 m,n
onde integramos por partes para obter o resultado final, e denotamos φnx =
dφn /dx, etc. Desta forma o funcional (2.28) pode ser escrito como uma expansão
bilinear nos coeficientes cn .
X
J[y] = Amn cm cn (2.30)
m,n
onde definimos Z b
Rmn = hφm , r(x)φn i = φm r(x)φn dx. (2.32)
a
∞
Sendo dado o conjunto completo de funções {φn (x)}n=1 , os coeficientes Amn
e Rmn são conhecidos a priori, de forma que os valores estacionários de K ficam
determinados pelas condições variacionais
∂K
= 0, (j = 1, 2, . . .) (2.34)
∂cj
∂K X
= (Amn − λRmn )(cm δnj + δmj cn )
∂cj m,n
X X
0 = (Amj − λRmj )cm + (Ajn − λRjn )cn
m n
X
0 = [(Anj + Ajn ) − λ(Rnj + Rjn )]cn
n
∂ K̂
= 0, (j = 1, 2, . . . N ) (2.43)
∂ĉj
Se desejamos que este sistema tenha soluções não-triviaix, ou seja, que ĉj 6=
0, então o determinante dos coeficientes deve ser nulo:
que satisfaz as condições de contorno φ̂1 (±1) = 0, de modo que a solução apro-
ximada é
ŷ(x) = ĉ1 φ̂1 (x) = ĉ(1 − x2 ). (2.48)
O funcional (2.40) é, em vista de (2.12), dado por
Z 1
K̂[ŷ] = ŷx2 − λ̂ŷ 2 dx
−1
Z 1
2
= 4ĉx2 − λ̂ĉ2 (1 − x2 ) dx
−1
2 8 16
= ĉ − λ̂ (2.49)
3 15
temos que
5
= 2, 5
λ̂ =
2
Naturalmente esse problema tem uma solução exata, que é
πx
y(x) = cos
2
que, derivada duas vezes, fornece
π 2 πx πx
yxx = − cos = −λy = −λ cos ,
2 2 2
2.4. O MÉTODO DE RAYLEIGH-RITZ 49
exata
aproximada
0,8
0,6
y(x)
0,4
0,2
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
0.5
0.4
0.3
0.2
J3(x) 0.1
−0.1
−0.2
−0.3
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
x
que satisfaz as condições de contorno, pois φ̂1 (0) = 0 e φ̂1 (1) = 0; de modo que
ŷ = ĉx3 (1 − x) e montamos o funcional (2.49):
Z 1h i
K̂[ŷ] = p(x)ŷx2 + s(x)ŷ 2 − k̂ 2 r(x)ŷ 2 dx
0
Z 1
9
= xŷx2 + ŷ 2 − k̂ 2 r(x)ŷ 2 dx
0 x
Z 1 h i 9
2 2 2
= ĉ2 x 9x4 (1 − x) − 6x5 (1 − x) + x6 + [x6 (1 − x) − k̂ 2 x7 (1 − x) dx
x
0
1 1 2
= ĉ2 − k̂
8 360
Aplicando
√ a condição variacional ∂ K̂/∂ĉ = 0 chegamos ao autovalor aproximado
k̂ = 45 = 6, 708.... Comparando esse resultado com a menor raiz da função
de Bessel, que é 6, 380..., vemos que o erro cometido é de 5, 14%.
Embora δ não seja uma diferencial autêntica, ela satisfaz às mesmas propri-
edades de cálculo de uma diferencial, de forma que podemos realizar operações
elementares sobre funcionais, como
dentre outras, que podem ser demonstradas a partir da definição (2.54). Por
exemplo,
∂(c1 J1 + c2 J2 )
δ(c1 J1 + c2 J2 ) = dα
∂α α=0
∂J1 ∂J2
= c1 dα + c2 dα
∂α α=0 ∂α α=0
= c1 δJ1 + c2 δJ2 ,
Tomando o complexo conjugado dessa expressão e usando a propriedade < y, z >∗ =<
z, y > temos que
< F [y], y >= λ∗ < G[y], y > . (2.64)
Usando a propriedade (2.60) podemos escrever
∗
já que y 6= 0. Logo λ = λ , portanto é sempre real, como querı́amos demonstrar.
Se x e y forem funções definidas num certo intervalo I ⊆ R, podemos cons-
truir funcionais sobre esse intervalo a partir dos produtos internos e dos opera-
dores acima definidos:
Z Z
J[y] =< y, F [y] >= y ∗ (x)F [y(x)]dx, N [y] =< y, G[y] >= y ∗ (x)G[y(x)]dx,
I I
(2.67)
tal que podemos definir um novo funcional como a razão destes dois:
J[y]
ω[y] = . (2.68)
N [y]
V(x)
Eo
−a 0 a x
Observe que, como < H > não depende do parâmetro variacional não é ne-
cessário minimizar < H > em relação a ele.
O problema do poço quadrado infinito é exatamente solúvel. A autofunção
(normalizada) do estado fundamental é [veja, por exemplo, [6], pg. 47]
1 πx
ψ(x) = √ cos ,
a 2a
correspondente ao autovalor de energia
~2 π 2
E0 = ,
m 8a2
de modo que o método variacional foi capaz de estimar esse valor com um erro
de 1, 63%. Nov
d2 ψ̂
= −2c,
dx2
os funcionais (2.80) e (2.81) serão
Z a ! Z a
∗ ~2 d2 ψ̂ ~2 2 2 4c2 ~2 a3
J[ψ̂] = = ψ̂ (x) − dx = − c(−2c) (a − x )dx = (2.91)
−a 2m dx2 2m −a 3m
Z a Z a 2 5
16c a
N [ψ̂] = ψ̂ ∗ (x)ψ̂(x)dx = c2 (a2 − x2 )dx = (2.92)
−a −a 15
Observe que, como < H > não depende do parâmetro variacional não é ne-
cessário minimizar < H > em relação a ele.
O problema do poço quadrado infinito é exatamente solúvel. A autofunção
(normalizada) do estado fundamental é [veja, por exemplo, ]
1 πx
ψ(x) = √ cos ,
a 2a
correspondente ao autovalor de energia
~2 π 2
E0 = ,
m 8a2
de modo que o método variacional foi capaz de estimar esse valor com um erro
de 1, 63%. Novamente, esse bom resultado se justifica pela proximidade entre a
função de onda verdadeira e aquela usada como tentativa [veja a Fig. 2.4].
Oscilador harmônico
[[5], pg. 1151]
O potencial para um oscilador harmônico unidimensional é [Fig. 2.5]
1
V (x) = mω 2 x2 , (2.94)
2
58 CAPÍTULO 2. MÉTODOS VARIACIONAIS APLICADOS
exata
aproximada
0,8
0,6
ψ
0,4
0,2
0
-1 -0,5 0 0,5 1
x
V(x)
Eo
0 x
ψ(x) → 0, se|x| → ∞.
~2 α 1 1
< H > [ψ̂] = + mω 2 (2.99)
2m 8 α
Aplicando a condição variacional (2.85)
∂<H> ~2 1 1
= − mω 2 2 = 0, (2.100)
∂α α0 2m 8 α
2.6 Problemas
1. Mostre que o operador de Sturm-Liouville é
(a) linear: L[c1 y1 + c2 y2 ] = c1 L[y1 ] + c2 L[y2 ];
(b) auto-adjunto: < L[y1 ], y2 >=< y1 , L[y2 ] >
60 CAPÍTULO 2. MÉTODOS VARIACIONAIS APLICADOS
2. Demonstre que:
(a) os autovalores do operador L são reais;
(b) as autofunções de L correspondentes a autovalores distintos são ortogonais
1
yxx + yx + λy = 0, (0 ≤ x ≤ 1)
x
com as condições de contorno y(0) < ∞ e y(1) = 0. Use o método de Rayleigh-
Ritz com a função tentativa
8. Você pode usar o método variacional para obter a energia do primeiro estado
excitado do oscilador harmônico (n = 2). Use a função tentativa
2
ψ̂(x) = xe−βx
9. Considere uma partı́cula sujeita ao potencial V (x) = λx4 . Use o método varia-
cional para estimar a energia do estado fundamental, usando a função tentativa
2
ψ̂(x) = e−αx
2
~
Compare seu resultado com a solução exata desse problema: E0 = 1, 06 2m k1/3 ,
2
onde k = 2mλ/~ .
2.6. PROBLEMAS 61
10. O método variacional na mecânica quântica pode ser generalizado para três
dimensões. Os funcionais (2.80) e (2.81) serão dados por
Z 2
~
J[ψ] = < ψ(r)|Hψ(r) >= d3 r (∇ψ ∗ · ∇ψ) + V (r)ψ ∗ (r)ψ(r)
2m
Z
3 ∗
N [ψ] = < ψ(r)|ψ(r) >= d rψ (r)ψ(r)
[6] S. Gasiorowicz, Quantum Physics, 3rd. Ed. (Wiley, New York, 2003)
63