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ÍNDICE
Prefácio 2
Apresentação 4
A Pesquisa 6
Contribuição na aprendizagem 10
Formação de professores 23
Vínculo com o Educador 27
Envolvimento familiar 31
Empréstimo de livros 32
Considerações Finais 34
Interação entre o ler e o brincar
para a aprendizagem da criança 35
Desenvolvimento do hábito de leitura 36
Envolvimento da família 36
Formação de professores 37
Bibliografia 38
CONTRIBUIÇÕES DA INTERAÇÃO ENTRE
O LER E O BRINCAR PARA OS PROCESSOS
DE APRENDIZAGEM DA CRIANÇA,
NOS ASPECTOS SÓCIO-COGNITIVOS
RESUMO DA PESQUISA
MAIO DE 2015
2 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 3
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
NOSSOS PROGRAMAS
Os programas que compreendem o entendimento da leitura, as leituras desde o nascimento da criança,
planejamento e organização da biblioteca e entendimento do acervo, são para a formação do leitor e
nasceram de uma necessidade, assim que entramos na creche.
Percebemos que vínhamos com uma visão da leitura, da criança e do brincar muito diversa daquilo
que tivemos como sendo a realidade das escolas: sem livros, brinquedos, espaços e com professores trans-
missores do conhecimento. Famílias, apenas ausentes, sem culpa ou responsabilidade de ambas as partes.
E a biblioteca chegava com muito estudo, formando um espaço holístico onde tudo dentro dela
convergia, conversava: livros com os brinquedos e com os móveis, numa clara interação com a criança
PREFÁCIO
protagonista mediada pelo educador leitor e com formação sócio-construtivista, que acompanhava
com a família o crescer e aprender das crianças. Um sonho perfeito, longe de ser compreendido porque,
além de tudo, falávamos que a leitura precede a palavra escrita e que a interação do ler e do brincar
propiciada pela biblioteca era a prática da leitura de mundo dessa criança.
A bagagem era grande e então nosso projeto não podia apenas chegar, tinha que começar como
uma história a ser construída com a sociedade local, com os educadores e com as famílias até chegar
O Instituto Brasil Leitor, desde sua fundação nos anos 2000, buscou incrementar o hábito da leitura na à criança e possivelmente torná-la protagonista e construtora de seu conhecimento. Por isso, tornou-se
população brasileira, seja pela oferta de livros em inúmeros projetos de leitura, aumentando o número um programa de leitura que tem a biblioteca como ferrament a.
de leitores ou qualificando os já existentes em todo o território nacional, seja por intermédio de pro- Foi então que tornamos possível a autonomia da criança por uma boa causa, dando um espaço/tem-
gramas para desenvolver esse hábito por meio da interação da criança e do jovem com a escola e sua po na programação, para ser partícipe na montagem da biblioteca com a mediação de seus educadores.
família, ressignificando o espaço da biblioteca enquanto ferramenta mediadora. Essa ação foi inserida no programa que hoje consiste em falar com a escola, família e poder público
A ressignificação da biblioteca começa com seu deslocamento, quando decidimos que ela precisava sobre quem somos e o que vamos fazer, dando uma agenda pragmática desde a entrega física, insta-
ir ao encontro das pessoas e sair de seu lugar-comum, indo parar dentro do Metrô Paulistano, numa lação, montagem, formação presencial (quando abrimos toda aquela nossa bagagem) e à distância.
clara atitude de intimidade com aquele cidadão que está sempre correndo e se encontra muito envolvi- Nesse caminho, seguimos instalando muitas bibliotecas (80).
do em seu dia a dia, sem tempo para demorar-se. Com tudo isso, nosso sonho perfeito ainda não era totalmente realidade, então iniciamos esta pes-
Em seguida, invadiu locais de trabalho , indo para dentro de usinas e fábricas de setores variados, quisa para saber o quanto tudo isso podia contribuir para o desenvolvimento sócio-cognitivo da crian-
transformando-se, subitamente, em um espaço de descanso aos olhos daquele que trabalha madruga- ça, quais interações a biblioteca proporcionaria entre a criança, a escola e a família.
da adentro. Foi parar numa ilha, a de Fernando de Noronha (PE) e numa travessia de balsa em Vicente Enquanto este sonho foi sendo concretizado, fomos levados para a Alemanha como o projeto mais
de Carvalho (SP). completo, profundo e bem amarradinho para ser partilhado no primeiro congresso mundial sobre
A biblioteca foi caminhando junto com o cidadão, mergulhando com ele em seus espaços e che- letramento e linguagem na primeira infância com 115 especialistas do mundo, em 2013 (Prepare for
gando aos hospitais, às instituições sociais, às creches e às escolas. Hoje está presente em 12 estados Life! Raising Awareness for Early Literacy Education).
brasileiros. Andou bastante. Hoje temos o prazer de partilhar tudo isso com vocês!
Esse caminho percorrido, chamado de Projeto Ler é Saber, tornou-se uma estrada de mão dupla,
pois, ao mesmo tempo em que uma grande equipe se formou e se afinou com a visão do instituto, sou-
be construir e aprender com o coletivo em que se inseriu, neste espaço transformador e acolhedor que Ivani Capelossa Nacked
chamamos de biblioteca. Diretora do Instituto Brasil Leitor
Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 5
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
O
Instituto Brasil Leitor (IBL) tem como Sendo assim, o projeto apoia e propicia o há-
princípio o desenvolvimento de proje- bito de leitura de maneira lúdica – com o auxílio
tos apoiados em instituições de massa, de mobiliários e objetos especialmente desenvol-
em especial, a escola. Dessa forma, busca expan- vidos para tornar essa prática ativa no cotidiano
dir o uso e a familiaridade das pessoas com li- das crianças.
vros, jornais, revistas e computadores. Entretanto, não é somente com materiais e li-
Um dos trabalhos de- vros que se consegue a qua-
Proposta da Biblioteca:
senvolvidos pelo instituto lidade das atividades de-
propiciar um espaço em que a criança,
é o Projeto Ler é Saber, que desde os primeiros meses de vida, possa senvolvidas na biblioteca. É
está baseado na idealiza- aprender a ouvir, interagir, pensar, preciso investir na formação
ção do conceito e de sua investigar, comunicar-se e explorar o dos educadores e no envol-
mundo ao seu redor a partir das vivências
implantação, que abrange vimento da família, pois
ocorridas no âmbito da leitura e do lúdico.
a existência de três mode- são eles os mediadores de
los de Bibliotecas: Primeira Infância, Comunitá- leitura e de brincadeiras. Somente a implantação
rias e Jovem. da Biblioteca é insuficiente para o pleno desenvol-
O Projeto Biblioteca para Primeira Infância vimento das suas possibilidades. É necessário um
(BPI) tem o objetivo de apoiar ações de leitura projeto de formação de mediadores, não somente
para crianças de 0 a 6 anos por meio da intera- para complementar a utilização do espaço, como
ção com livros, brinquedos e brincadeiras. também para tecer teias simbólicas que conectem
Este projeto trabalha o conteúdo trabalhado na
A Biblioteca é um ambiente onde as
com duas premissas: a inte- Biblioteca com as relações e
várias linguagens da criança podem
gração do ato de ler com o manifestar-se. Esse contexto ativa a situações da vida em socie-
APRESEN
de brincar e a ideia de que a criança a ser agente da sua própria dade, o que faz do projeto
leitura do mundo precede à cultura e fornece cenários materiais para mais do que uma alavan-
interações intrapessoais e interpessoais.
da palavra (FREIRE, 2009). ca para o desenvolvimento
Leitura de mundo implica a vivência do dia a cognitivo pelos meios tradicionais de aprendizado:
dia do sujeito e as relações sociais que se estabe- ele se transforma em um instrumento de desenvol-
lecem no seu contexto cultural, fator importante vimento social e cultural.
TAÇÃO
para o desenvolvimento das práticas sociais de
leitura. Desse modo, compreendemos que existem
ACERVO DA BIBLIOTECA:
diferentes formas de leitura para além da palavra 600 itens (móveis adequados em relação
escrita e que o cotidiano da criança é preenchido à segurança e à compatibilidade com a
estatura da criança; estudo da região onde será
por essas diversas situações de leitura.
implantada; e sua diversidade de recursos).
Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 7
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
E
sta pesquisa surgiu a partir das inquie- dança cultural. Ela é re(produtora) de cultura em
tações acerca de que dadas as condições seu contexto. No entanto, o estudo se concentrou
materiais e interativas necessárias para o na abordagem qualitativa, com o apoio do estudo
desenvolvimento cognitivo, intelectual, cultural de caso (O Projeto Biblioteca Primeira Infância).
e social, toda criança pode desenvolver plena- A pesquisa foi realizada em um Centro de
mente sua estrutura cognitiva, sua autonomia Educação Infantil (CEI) e em uma Escola Muni-
na formação de pensamento e na resolução de cipal de Educação Infantil (EMEI) na cidade de
problemas, bem como a noção de seu lugar na São Paulo com a participação de dois grupos de
sociedade. Nesse sentido, verificou-se a necessi- crianças com idades entre 2 e 6 anos. Dividida
dade de analisar os processos de leitura, brinca- em duas etapas, na primeira, anterior à implan-
deira e aprendizagem da criança no espaço da tação da Biblioteca, foi feito um mapeamento
Biblioteca, o diagnóstico para avaliar o projeto das crianças atendidas pelas instituições, a estru-
e buscar caminhos, aliado às soluções baseadas tura e o perfil destas. Nesse mapeamento, foram
nos resultados da pesquisa coletadas informações, por
para a garantia da quali- O objetivo da pesquisa foi investigar meio de questionários às
e analisar as contribuições da interação
dade do Projeto. Trata-se famílias, sobre as carac-
entre o ler e brincar presentes na
de um estudo interdisci- Biblioteca da Primeira Infância para terísticas individuais das
plinar com abordagens da os processos de aprendizagem da crianças e momentos de
psicologia, pedagogia, so- criança, no que se refere aos aspectos leitura e brincadeiras com
sociocognitivos e fornecer subsídios para
ciologia e biblioteconomia, elas. Foram realizadas ain-
políticas de leitura e do brincar (criança,
entre outras áreas. da, entrevistas semiabertas
família) e de formação de professores
Na perspectiva constru- para se obter informações
tivista (PIAGET,1956) a existência da Biblioteca da equipe profissional da Instituição.
fornece as condições necessárias para o desenvol- Esta etapa contou também com observações
vimento cognitivo das crianças devido a seu con- semanais em campo realizadas com um grupo
A
teúdo lúdico e interdisciplinar. Já Vygotsky (2000) formado por 12 crianças aproximadamente de
propiciou, por intermédio de pesquisas realizadas cada instituição participante. Houve a elabora-
nas escolas, a observação do desenvolvimento so- ção de relatórios semanais e mensais com o regis-
cial e cultural, não apenas das crianças individu- tro das falas das crianças, de suas interações entre
almente, mas de todos os agentes envolvidos no si, com a professora e o meio. Foram elaboradas
processo, como os professores, o corpo administra- fichas individuais de cada criança e a equipe res-
PESQUISA
tivo escolar e os familiares. ponsável pela pesquisa tabulou todos os dados
A perspectiva da Sociologia da Infância (SAR- colhidos e os analisou segundo as categorias do
MENTO,1997) contribuiu para a alteração do Instrumento Child Observation Record (COR), de
olhar para a criança, que se transforma em agen- observação e análise do programa de educação
te social, competente, criativo e produtor de mu- infantil High Scope dos Estados Unidos (2003).
8 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 9
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
Questões orientadoras da pesquisa: A segunda etapa foi realizada posteriormente das atividades das crianças na sua rotina e para
à implantação da Biblioteca e também contou criar um perfil objetivo e abrangente da aprendi-
1. As interações entre o Ler com observações semanais com um grupo for- zagem de cada uma. Este instrumento permitiu
e o Brincar propiciados pelo mado por 12 crianças, a elaboração de fichas a anotação e análise dos episódios das crianças
Projeto Biblioteca da Primeira individuais e a tabulação de dados COR. Foram e é complementado com documentos nacionais
Infância colaboram para os consideradas as atividades realizadas por elas, a como Indicadores de qualidade de Educação In-
processos de aprendizagem da mediação dos educadores no espaço e as respostas fantil e Diretrizes Curriculares de Educação Infan-
criança, no que se refere aos das crianças às atividades e aos estímulos. A co- til do Ministério da Educação (MEC, 2010).
aspectos sócio-cognitivos? leta de dados das crianças foi realizada por meio Esses instrumentos permitiram obter conheci-
de observações. Os métodos de observação foram: mentos sobre os processos de aprendizagem das
2. As interações entre o Ler Diário de campo e Observação semanal com ano- crianças, desenvolvimento infantil, a cultura
e o Brincar propiciados tação de diálogos e comportamentos das crianças. da infância, as maneiras de cuidar e educar a COR (Child Observation Record),
pelo Projeto Biblioteca Primeira No final da segunda etapa foram enviados criança pequena em ambientes coletivos, a for-
Infância contribuem para questionários para as famílias com o intuito de mação de profissionais, o envolvimento com a traduzido como Registro de
as práticas sociais de leitura? obter informações sobre as características das família e o registro das atividades segundo a me- Observação – Versão Creche (0-3
crianças, momentos de leitura e brincadeira com todologia proposta. anos), avalia as habilidades de
3. A formação dos mediadores elas e desenvolvimento do Projeto Biblioteca Pri- Ao fim, a pesquisa demonstrou a contribui- aprendizagem das crianças em 6
participantes do Projeto contribui meira Infância. ção da Biblioteca Primeira Infância para o de- categorias: Noção de Self, Relações
para as interações entre as crianças, Foram realizadas formações com educadores, senvolvimento sócio-cognitivo de crianças de 0 Sociais, Representação Criativa,
a família e o espaço? profissionais da instituição e famílias com apre- a 6 anos, assim como colaborou para o desen- Movimento, Comunicação e
sentação do projeto, formação inicial de oito ho- volvimento da prática social de leitura, tanto no Linguagem e Exploração Lógica.
4. O envolvimento da família no ras, oficinas de música, artes, matemática, con- ambiente escolar como no ambiente familiar/
Projeto Biblioteca Primeira Infância tação de histórias, registro e documentação. particular das crianças. Preschool Child Observation Record
contribui para o desenvolvimento No final desta etapa foram aplicados questio- A pesquisa será apresentada em seminários (4-6 anos) – avalia as habilidades
dos processos sócio-cognitivos nários à equipe profissional da Instituição para co- para sua divulgação e com o intuito de criar um de aprendizagem das crianças em
de aprendizagem da criança e as leta de dados sobre a importância do Projeto para canal de discussão a repeito do tema, que propicie 6 categorias: Iniciativa, Relações
práticas de leitura? os educadores, crianças e Instituição. Durante o o enriquecimento do projeto, levando em conta Sociais, Representação Criativa,
processo de observação foram realizados planeja- diferentes diretrizes e diversas áreas que abordem Movimento e Música, Letramento e
mentos quinzenais com as professoras e discussões a temática do desenvolvimento cognitivo, tanto Linguagem, Matemática e Ciências.
sobre os dados recolhidos durante pesquisa. Essas na psicologia, como na pedagogia, na sociologia
reflexões foram essenciais para a análise de dados e na antropologia. Possibilitará, ainda, um co- Cada categoria dos dois
semanais, para a construção das fichas individuais nhecimento aprofundado do Projeto Biblioteca instrumentos contém 32 itens
de cada criança e para a análise final dos dados. para a Primeira Infância, permitindo um plane- para observação e cada item é
O Instrumento Child Observation Record (COR jamento mais aprimorado para futuras inovações subdividido em cinco níveis de
-HIGH SCOPE, 2003) é uma ferramenta de ava- e melhorias em todas as Bibliotecas já implanta- desenvolvimento que variam de
liação que permite interpretar e anotar episódios das e nas próximas que virão. (1) simples até (5) mais complexo.
10 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 11
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
para seu desenvolvimento integral. São indissociáveis e não podem ser fragmen-
tadas no processo de ensino aprendizagem, pois só assim as crianças conseguem 51%
chegar às suas próprias conclusões e construir o conhecimento com maior facilidade. 25%
6% 7% 12%
Prosseguindo em nossa explanação, apresentamos a análise dos dados coleta- 0% 1% 0% 1%
nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5 nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5
dos por meio de observações e anotações das falas das crianças e interpretadas nas
Gráfico 5 Gráfico 6
categorias do Instrumento COR.
Com relação às categorias de Noção de self e Iniciativa da criança, os gráficos 2
Cat. 2: Relações Sociais Cat. 2: Relações Sociais
(94% nível 5) e 4 (86% nível 5) em comparação com os dados sem o projeto – gráfi- Resultados Gerais Divididas em Níveis
(1ª etapa) - EMEI (2ª etapa) - EMEI
co 1 (54% no nível 2) e gráfico 3 (42% nível)demonstram que após a implantação
do projeto de Biblioteca a exploração de materiais pelas crianças foi ativa, ocasio- 100%
nando a responsabilidade de cada uma delas pelas suas próprias necessidade, bem
55%
como o desenvolvimento de autonomia e protagonismo.
27%
3% 9% 6% 0% 0% 0% 0%
Cat. 1: Noção de Self Cat. 1: Noção de Self
nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5 nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5
Resultados Gerais em Níveis Resultados Gerais em Níveis
(1ª etapa) - CEI (2ª etapa) - CEI Gráfico 7 Gráfico 8
94%
As experiências com outras crianças e com adultos foi intensificada a partir da
54%
implantação do projeto, como notamos nos gráficos 5 (51%5) em comparação com
23% o gráfico 6 (98%), e nos gráficos 7 (55% nível 3) em comparação com o gráfico 8
15%
8% 4%
0% 0% 1% 1% (100%). Com a interação social entre pares e adultos as crianças conseguem cons-
nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5 nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5
truir sua lógica, seus valores sociais e morais. Segundo Kamii:
Gráfico 1 Gráfico 2
86%
De acordo com Vygotsky (2000), a cultura, as crenças, os valores, as tradições e
42% as habilidades de um grupo social são transmitidas de geração para geração. Para
25% 29%
ele, o crescimento cognitivo é uma atividade socialmente mediada (SHAFER, 2005).
14%
4% 0% 0% 0% 0% Por meio do registro da fala das crianças, foi possível perceber que, no cotidiano
nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5 nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5
das atividades na Biblioteca, elas observaram o que os outros falavam e por que
Gráfico 3 Gráfico 4
12 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 13
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
A representação criativa, principalmente o envolvimento no jogo simbólico, re- MI pega pelúcia de porco, mexe na barriga dos filhotes e fala:
presentados no gráfico 10 (82%) em relação ao gráfico 9 (49%), prova a oportu- Olha, ela tá grávida.
nidade que a Biblioteca proporciona para o desempenho de papéis e situações de
faz-de-conta. O projeto deu oportunidade das crianças interagirem com seus pares, adultos,
objetos e espaço proporcionando o ingresso na imaginação e, por consequência,
“No jogo simbólico a criança expressa medos e preocupações e representa de experiências criativas.
emoções observadas na vida real, começa e termina a construção e a
organização de seu mundo, forma e reforma a realidade de acordo com
suas necessidades. Assim, o jogo simbólico é um elemento necessário ao
desenvolvimento intelectual e emocional da criança”. Bomtempo (sd, s/p)
14 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 15
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
92%
“As crianças, de maneira geral, expressam as emoções mais facilmente
pela música do que pelas palavras. Nesse sentido, a música pode ser uma
32% 37%
26% ferramenta para o desenvolvimento cognitivo e emocional delas. A música
5% 0% 0% 0% 2% 5%
estimula a flexibilidade mental e a coesão social fortalecendo os vínculos
nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5 nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5
e o compartilhamento de emoções que nos fazem perceber que o outro faz
Gráfico 13 Gráfico 14
parte do nosso sistema de referência. Movimento pode ser entendido como
aquilo que possibilita a vivência sonora”. (MUSZKAT, 2002 s/p).
Cat. 4: Movimento e Música Cat. 4: Movimento e Música
Resultados Gerais em Níveis Resultados Gerais em Níveis
(1ª etapa) - EMEI (2ª etapa) - EMEI
Podemos perceber essas situações com as atividades das crianças abaixo:
93%
Quando os observadores chegaram no dia da visita, as crianças da EMEI
50% 50% estavam em roda, sentadas no chão e brincando por conta própria de imitar
um animal e as outras crianças tinham que adivinhar qual era. A professora
7%
0% 0% 0% 0% 0% 0% presente no momento falou que eles decidiram começar a brincadeira.
nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5 nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5
Eles cantavam uma música “tiro, tiro, tiro lá e para continuar” aí uma
Gráfico 15 Gráfico 16
criança falava sobre o animal:
G: é fofinho e tem orelha. Todos falam, mas E. acerta: coelho.
Os gráficos acima representam a música e movimento como meio de expressão Crianças cantam novamente “tiro, tiro, lá...”. Todos querem falar e todos
e comunicação da criança, proporcionando um desenvolvimento criativo e parti- levantam a mão.
cipativo. A música é um instrumento integrador e transformador para a criança E assim, sucessivamente, com vários animais.
desenvolver seus potenciais e interagir.
Na 2ª etapa foram realizadas atividades elaboradas em planejamento com as Outro episódio no CEI mostra as crianças reproduzindo uma brincadeira canta-
professoras de música e movimento. da que a professora ensinou:
Situações de movimento e música proporcionaram o trabalho com o corpo, o
uso da voz, a criação e experiência musical, contribuindo para a aprendizagem ME pega tambor, bate e canta: “gato pintado que cor que te pintou?”
da criança como demonstrado nos gráficos 14 (92%) 2ª etapa e gráfico 16 (93%). pergunta para R.: “que cor”
Na 1ª etapa os níveis nessa categoria estavam: gráfico 13 (26%) e gráfico 15 (0%). R: “vermelho”
ME continua cantando “gato pintado que cor que te pintou? Pergunta
“Os acontecimentos com sons e movimentos transcritos em linguagens, para observador “que cor”?
sensações, percepções e afetos, que se fazem nas palavras, nas cores, nos Observador: amarelo. E ME continua cantando “gato pintado...”
sons, nas coisas, nos lugares e eventos são experiências que propiciam o e pergunta para Y.
saber e conhecimento”. (FAVARETTO, 2012, s/p) Y: “branco”. ME faz batida que professora ensinou “Tum, Tum”.
16 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 17
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
Gráfico 19 Gráfico 20
Data: 30/10/2013
Y para observador: “olha o meu sapato tia”.
As relações com o outro, com o espaço e com os materiais geram possibilidades de Y pega o livro “Uma letra puxa a outra”
aprendizagem de signos e, dessa forma, a comunicação e linguagem com o adulto Y: “olha aqui “cachorro”
e com outras crianças. Y conta números na mão “1, 2,3,7,8,9,
As atividades na Biblioteca possibilitaram um aumento no nível de aprendiza- Y pega livro “criaturas do oceano e criança 3 vem junto para a mesa ler com observador
Y aponta e fala “peixe”
gem das crianças como podemos verificar nos gráficos 17 e 18, nos quais houve
Y repete as cores que R falou “verde, amarelo, preto...”
um salto de 45% para 89% no nível 5, e nos gráficos 19 e 20, com um salto de 13%
Y pega outro livro: “Uma gota mágica”
para 69% no nível 5.
Observador: O que é isso?
Este progresso na comunicação e linguagem dá-se porque, de acordo com Vy- Y: água
gotsky (1998) as palavras são um meio e modo de comunicação com o outro e ME canta “gato pintado...” e pergunta para Criança: que cor
desempenham um papel central não só no desenvolvimento do pensamento, mas Y responde: “branco”. ME faz batida que professora ensinou “Tum, Tum”
na evolução histórica da consciência como um todo. Para este autor, a habilidade Criança pega livro e fala “1, 2, 3, 4, 5, 6, 7,8”, “Era uma vez”
Nome do livro “a viagem da seretibá”
de leitura tem suas origens na atividade social e coletiva desde o momento em que
Y continua lendo “ela dormiu”
a criança ouve e fala em voz alta para outros e para si mesma.
Professora comenta que Y fala agora.
Nesse sentido, as interações na zona de desenvolvimento proximal (VYGOTSKY, Y para observador: “quero fazer comida”
2000) são a prova final do desenvolvimento e da cultura, na medida em que per- Y traz comida para observador e fala: “quem quer feijão”
mitem que as crianças participem de atividades que seriam impossíveis de realizar Y oferece comida para G: “Comida de carne, arroz e feijão”
18 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 19
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
Y vira a folha. MI se aproxima e fala: “Golfinho” Todos falam Vitor: vejo uma coisa
Y volta para o início do livro e fala: “Tubarão”, “Tataruga”, “Peixe” e “Goolfiinhooo”. C: geladeira redonda.
V: Vejo coisa azul Todos falam.
Todos falam C: bolo.
I: panela C: vejo uma coisa grande
C: Vejo coisa branca e de escrever.
Data: 11/11/2013
Todos falam e não acertam. Todos falam e não adivinham.
Y na cabana em mesa: “Tia, eu gostei dessa casa, a janela tá aberta. Pega livro “Cachinhos dourados
e os três ursos” e fala para observador: Vou ler para você. “A comida do papai, “Eu quero comer C: galinha. C: lousa.
mamãe”, mas NE, dá uma papinha”, “Chega em casa, a porta. “chega, entra”, “leva um susto” “mais V: V
ejo coisa amarela V: v ejo uma coisa vermelha
urso fazendo comida”.
e vermelha com bolinhas.
K para Y: “Vamos virar a página?”
Todos falam. Todos falam.
Y: “bebê urso tá triste? Faz a pergunta para Y
G: panela. C: joaninha.
Y: porque quebrou a cadeira, ele quer comer.
Y para observador: Ai minha orelha tá no sol. C: Vejo coisa de madeira. G: vejo coisa vermelha
Todos falam. com poucas bolinhas.
Cat. 5: Comunicação e Linguagem Cat. 5: Comunicação e Linguagem Linguagem e Letramento Linguagem e Letramento
Resultados Gerais em Itens Resultados Gerais em Itens (1ª etapa) - EMEI (2ª etapa) - EMEI
(1ª etapa) - CEI (2ª etapa) - CEI
0% 4% 0%
4%
20% 30% 38% item Q
item Q
item R
item R
49% item S
40% 10% item S
27% 30% item T
18% item U
10% 9% 10% 10% item U
4% 2% 0% 1% item X 54%
30% item V
item R item S item T item U item V item W item R item S item T item U item V item W
Item R – ouvir e responder. Item S. Comunicar interesses de forma não verbal. Item T. Participar na comunicação bilateral. Item U – Falar. Item Q – Ouvir e entender uma fala – Item R- usar vocabulário – Item S – Usar complexos padrões de fala – Item T – Mostrar consciência
Item V. Explorar livros com imagens. Item W. Demonstrar interesse em histórias, rimas e canções. dos sons das palavras – Item U – Demonstrar conhecimento sobre livros Item V- usar nome das letras e sons Item W. Ler. Item X - escrever
contação de histórias, das brincadeiras e atividades diversificadas. Os professores No caso da EMEI, as atividades planejadas no espaço propiciaram o uso da
deram oportunidade às crianças de perguntarem e darem respostas para aumen- linguagem nas interações entre criança/criança e criança/observador/professor,
tar o vocabulário e apoio nas comunicações. Quando ouvem palavras diferentes como aponta o gráfico 24 (Item R - 58% e item Q 38%).
podem apropiar-se delas.
100%
79%
21%
0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5 nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5
Gráfico 27 Gráfico 28
22 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 23
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
CEI EMEI
Nesta categoria as crianças entraram em contato com as primeiras ideias bá-
1ª etapa 2ª etapa 1ª fase 2ª fase
sicas de matemática como a investigação e designação dos atributos das coisas,
Nível 1 3% 0 30% 0
semelhanças e diferenças, seleção e agrupamento, comparação. Esse contexto
Nível 2 7% 0 9% 0
permitiu que elas compreendessem e representassem sua realidade por meio de
Nível 3 21% 2% 42% 0
brincadeiras e leituras, interações. Dessa forma, entraram em contato com a mate-
Nível 4 27% 5% 14% 17%
mática levantando hipóteses e as atividades realizadas na Biblioteca propiciaram
Nível 5 42% 92% 5% 83%
um aumento no nível de conhecimento delas representados pelos gráficos 25 (52%
Quadro 1
nível 3) e 26 (69% nível 5) e pelo gráfico 27 (100% nível 1) e 28 (79% nível 5).
Nesse contexto, os objetos da Biblioteca e as atividades propostas foram media-
dores entre a criança e a construção da ideia de número. A criança teve oportuni- Este quadro apresenta a evolução no nível de aprendizagem das crianças com o
dade de construir alicerces para aquisição de conceitos e princípios matemáticos e projeto implantado. Esta análise foi realizada pelo Instrumento Child Observation
capacidade de levantar hipóteses. Por meio da investigação, puderam discriminar, Record (COR-Hich Scope 2003).
abstrair e analisar as qualidades dos objetos.
Após a análise desses dados percebe-se que a contribuição da Biblioteca da Pri-
meira Infância é promover habilidades de iniciativa, elaboração e ideias, fazer FORMAÇÃO DE PROFESSORES
perguntas e resolver problemas bem como relacionar uma informação à outra A formação foi elaborada com o intuito de propiciar aos professores e à equipe
para o aprendizado da criança, assim, ela será atenta, curiosa, crítica e confiante profissional da Instituição um olhar para o processo de ensino-aprendizagem de
para expressar seu pensamento. Para que o desenvolvimento ocorra é preciso que uma maneira crítica, reflexiva e informada.
as crianças se apropriem gradualmente do mundo adulto por meio de trocas de Os depoimentos abaixo, dos professores e coordenadores das Instituições no pro-
experiências e culturas. cesso de formação e planejamento das atividades, mostram que quando há um
Do 1 ano aos 3 anos: As crianças devem aprender a ser autônomas – a se ali- acompanhamento por parte dos monitores de atividades realizadas na sala, os
mentar e se vestir sozinhas, a cuidar da própria higiene e assim por diante. Falha professores percebem a possibilidade de realizá-las. Essa constatação surgiu porque
em alcançar essa dependência pode forçar a criança a duvidar de suas próprias os monitores realizaram planejamento juntamente com os professores, organiza-
habilidades e se sentir envergonhada. Os pais são os principais agentes sociais. ram espaço e materiais, solicitaram a participação das crianças e participaram das
De 3 anos a 6 anos: As crianças tentam agir como adultas e tentam aceitar res- atividades e interações com as crianças.
ponsabilidades maiores que sua capacidade. Algumas vezes, assumem objetivos
ou atividades que conflitam com aquelas dos pais ou outros membros da família, Professor EMEI: “A ideia que elas tiveram uma vez, vamos fazer o
e esses conflitos podem fazer com que ela se sinta culpada. restaurante, vamos fazer uma vendinha, tudo isso são temas pra
Após analisarmos cada categoria e níveis de desenvolvimento, notamos que trabalhar, levantar e planejar, porque aí dá (para coordenadora)”.
existe uma articulação entre eles e que esses fenômenos não se dão de forma isola-
da, mas sim de uma maneira integrada e simultânea. Coordenadora EMEI: “Essa questão, por exemplo, uma das últimas que
vocês fizeram aquele que foi com a música, que teve aquele lençol, o pano
que vocês, vocês não tem registro filmado?”.
24 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 25
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
Coordenadora EMEI: “Eu acho assim, quanto mais eu olho pro Brasil “mas por que você tá jogando?” ele disse “porque é fogo” então fazia parte
Leitor, mais eu acho que tem tudo a ver com... na realidade alguém dessa TV, desses programas, dos heróis. Aí eu descobri porque esse interesse
colocou na avaliação que todas as salas de aula deveriam ter esse... e não era só ele. Então eles escorregavam, quando chegou ali, eles pegavam
eu acho que mais que a sala ambiente, talvez.... Porque é um espaço a terra e jogavam, então bate a luz e vira uma fumaça. Uma fumaça
riquíssimos de exploração lá dentro, qualquer área, quanto mais eu olho dourada. Daí eu falei: “Ah, eu nem comentei isso, mas assim, você vai
pro projeto em si, fica muito evidente isso” percebendo. É nesse brincar, nesse brincar rico deles que olha, eles entram.
Coordenadora EMEI: “a questão de que nitidamente quando a gente vai Este gráfico demonstra a satisfação dos professores com relação ao projeto e a
pro Brasil Leitor e faz por exemplo o projeto da vendinha, do restaurante, importância que dão à leitura na primeira infância.
essa criança já está ativa naquele processo.
Opinião sobre o projeto
“Biblioteca para a Primeira Infância”
Coordenadora EMEI: “E aí eu acho que assim, esta questão que é mais
do que simplesmente uma motivação, ela realmente está mexida por 14% D
ificuldades
dentro então ela tem que participar disso. Então quando eu tive, essa somente no início
14% D
ificuldades em
aula foi antes, aí teve o planejamento, e a filmagem, aí eu falei, casou e mater o espaço
por isso a gente teve que o projeto do Brasil leitor ta todo dentro, porque arrumado
72% Elogiou o projeto
a criança tem que realmente que participar, não dá pra pensar, por isso
acho que a professora sentiu que quando a gente planejava sozinho, sem
Gráfico 29
a participação da criança, é diferente o envolvimento. No Brasil Leitor
fica nítido isso. A gente tem que acomodar a participação da criança no
planejamento sim”. Por outro lado os professores elogiaram o projeto:
Professor EMEI: “até porque eu sempre falei que eu sempre tenho Professor EMEI: “A biblioteca trouxe uma nova proposta de exploração
dificuldade de planejar por conta disso, porque eu fico com aquela de seu acervo, onde ler e brincar são ações associadas, podendo então ser
angústia. A coordenadora sabe, porque sou eu que tô fazendo, não é a simultâneas. Confesso que no início mexeu com minhas estruturas, mas
criança. É diferente mesmo, e quando você tem o envolvimento, e aquilo me colocando na posição das crianças, de experimentar sem resistência,
vai rolando, vai solto. Mas eu preciso aprender a ter esse planejamento por tornou-se fácil e prazeroso, período em que substitui a professora”.
isso que eu me policiei a pegar o livrinho e ter esses recursos. Pra não me
perder nas atividades porque sem ao você fica, como é que eu vou fazer?”. Professor EMEI, 2ª etapa: “Todas as salas e escolas deveriam ter a
biblioteca para a 1ª infância. Assim, abrindo as possibilidades para cada
Professor 1 EMEI: “Esse olhar ele não pode mesmo se limitar só a sala grupo ou sala diversificarem o trabalho em sala ou da sala e fora”,
porque a riqueza maior tá no brincar da criança. Eu me lembro que no ano
passado a criança pegava a areia assim e os professores um pouco bravos. Professor CEI -2013: “Tanto as crianças quanto as famílias mostraram-se
“Pára de jogar!!” E eu me perguntei, por que essa criança tá lançando, envolvidos e maravilhadas com o projeto! Adquiriam hábitos e gostos pela
então é a terra, a terra fininha, e conforme ele jogava assim baixo e eu leitura, livros e histórias”.
26 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 27
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
Professor CEI, 2ª etapa: “Eles adoraram, aprenderam a gostar mais de EMEI - Atividades
(2ª etapa)
livros, escolher o que querem, o lúdico também foi bem trabalhado”.
27% 27%
Professor EMEI, 2ª etapa: “Muitíssimo bem, percebi maior concentração das 18%
crianças, alegria e prazer no brincar e um envolvimento maior com os livros”.
9% 9% 9% 9%
de leitura nas crianças, a autonomia que a equipe profissional deu a elas. Isso
ainda mostra a diversificação de atividades na 2ª etapa em comparação com a 1ª
etapa que eram somente atividades gráficas e parque (gráficos 30 e 31). 21
0 1 1 1 0 0 0 1
nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5 nível 1 nível 2 nível 3 nível 4 nível 5
Gráfico 32 Gráfico 33
EMEI - Atividades
(1ª etapa)
40% Estes gráficos mostram a interação do professor com a criança. Quando o professor
se envolve com as crianças e sustentam a atividade ela está estimulando impulsos
24%
20% de aprendizagem.
8% 8% Esses dados demonstram que a partir da implantação da Biblioteca (gráfico 33,
89%) houve uma interação maior do professor com as crianças e conforme mostra
Empréstimo Produção Parque Jogos Filmes
de Livros Gráfica Vygotsky (2000), essa interação social facilita o desenvolvimento da linguagem, do
Gráfico 30 pensamento e da atenção.
De acordo com a ideia âncora de Vygotsky (2000), chamada de Zona de desen-
volvimento proximal, cabe ao educador encontrar um momento onde uma nova
28 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 29
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
instrução possa ser possível. Pois quando o sujeito se encontra num momento no “Roda de conversa, de leitura, contos diversificados de livre escolha, jogos
qual ele já é capaz de resolver problemas sozinho, onde é capaz de elaborar men- diversos, brincadeiras, e faz de conta.”
talmente um problema, a ação externa nãose faz tão necessária,no entanto, é na
zona de desenvolvimento proximal que mais o sujeito recebe influência propulsora “Rodas de conversas, histórias, cantigas de roda, brincadeiras,
de seu desenvolvimento. Portanto, é importante ressaltar a importância dada pelo apresentações com fantoches, pelúcias vídeos.”
projeto ao planejamento de atividades, uma vez que com esse é possível identificar
o processo de desenvolvimento da criança e assim, apontar possíveis intervenções Coordenadora CEI:. “Eu acredito que a grande variedade, o espaço bonito
e instruções. O professor ou mediador atento à essas questões dá à escola um papel que tem, chama muita atenção pro lado do brincar, do lúdico, de usar um
de fundamental importância na construção e na elaboração do processos psicoló- pouco de tudo. Agora, usar para fazer uma atividade planejada”.
gicos do sujeito adulto.
Alguns autores como Laevers (2005), indicam que o estilo das interações entre o De acordo com Tardif (2010), o próprio sujeito se constrói nas relações sociais,
educador e a criança é um fator promotor da eficácia da experiência da aprendizagem. nas relações com o mundo, com o outro, e consigo mesmo, pois o sujeito, nesse con-
Alguns depoimentos coletados na segunda fase do projeto mostram como a prá- texto, é confrontado com a necessidade de aprender, de saber e de conhecimento.
tica em relação à leitura mudou nas Instituições:
CEI - Atividades CEI - Atividades
(1ª etapa) (2ª etapa)
“Com a biblioteca da Primeira Infância conseguimos relacionar as
atividades às histórias contadas em diversas formas, além de interagir o A
tividade Gráfica 9% Atividade Gráfica
27%
41% F
az de Conta 14% Faz de Conta
brincar como aprendizagem”.
C
ontação C
ontação
de História de História
A
tividade A
tividade
“Não tivemos dificuldades. A biblioteca nos permite trabalhar as vivências com Regras com Regras
53%
e também o despertar da imaginação, isso nos ajuda como um apoio para Brincadeira Livre 18% 32% Brincadeira Livre
0%
0% 6%
desenvolver os nossos trabalhos”
Gráfico 34 Gráfico 35
Empenhamento do Adulto, baseada no trabalho de Rogers, comenta que a quali- CEI e EMEI
criança. Este autor cita a categoria, a autonomia que se refere ao grau de liberdade Leitura em casa 69% 81%
que o adulto concede à criança para experimentar, emitir juízo, escolher ativida- Brincadeiras em casa 41% 95%
des e expressar ideias e opiniões. Além disso, ele cita o modo como o adulto lida Quadro 2
“De leitura assim, é o projeto pra biblioteca móvel. Para eles poderem
levar os livros pra casa e tentar ter essa participação da família.”
Um estudo realizado por Clarke (1976, s/p) indica que “o gosto pelo livro, pela ças têm a atenção dos pais e responsáveis e em que se privilegia a infância e esta
leitura, pela narrativa, nasce em famílias em que se experimenta o prazer em fa- missão da família é o principal espaço para estimular a leitura. Nesse contexto,
lar, de contar histórias, e também em eventos de todos os dias em que a criança é acontece o vínculo afetivo da família com a criança.
reconhecida”. Nesses depoimentos percebe-se que a parceria família-instituição ocasionou re-
O projeto Biblioteca Primeira Infância é um momento de aumentar a interação sultados positivos para o envolvimento familiar na formação leitora da criança,
das crianças com os pais, é preciso acolhê-los na Instituição e mostrar a eles as pois a família é a principal influência na iniciação, enraizamento do hábito de
possibilidades de leitura e brincadeira com seu filho. leitura e na promoção cultural da criança. As famílias responderam a questões
sobre o projeto e, de acordo com o gráfico 37, informaram que o projeto Biblioteca
contribuiu para o desenvolvimento infantil e aprendizagem da criança (76%) e
EMPRÉSTIMO DE LIVROS para mais interesse pela leitura (12%).
O projeto estimula o empréstimo de livros e brinquedos para promover a interação
da criança com a família. Sendo assim, foram confeccionadas sacolas de pano
Qual é a sua opinião sobre a Biblioteca? Comente sobre o Projeto
para as crianças levarem para casa um livro a cada semana com um caderno de
4% Mais interesse 7% Incentivo à leitura
anotações para relatar a experiência. 12%
pela leitura 32% umento das
A
Depoimentos dos cadernos de empréstimo: 8% Desenvolvimento aprendizagens
da criatividade mpliação do
A
32%
Desenvolvimento conhecimento
“A leitura do livro foi um momento muito gostoso em família. Lemos infantil e de mundo
aprendizagem umento da
A
3 vezes o livro, a G. pôde conhecer os bichos e relembrar bichinhos Não, ele aprende 4% 14% criatividade
76% 11%
mais em casa
que já conhecia, fico feliz e muito empolgada com essa atividade, esse logiaram
E
o projeto
momento.” alaram da
F
qualidade
dos materiais
“Ao ler o livro que Y escolheu percebi que ela gostava quando eu falava
Gráfico 37 Gráfico 38
do sapo. Ficou toda feliz quando apontava as flores, o vagalume e triste
quando falei que o sapo ficou no escuro. Mandou eu ler o livro várias
vezes. Percebi que ela gostava de ouvir história. Comprei até uns livros No gráfico anterior, nota-se a percepção das famílias com relação ao incentivo à
para ler mais para ela”. leitura (32%) e o lado positivo do projeto (32%), contudo, elas não têm uma visão
mais esclarecedora sobre a contribuição da leitura e da brincadeira no aumento da
“Tivemos uma experiência muito positiva esse final de semana. O livro aprendizagem da criança (14%), na ampliação de conhecimento de mundo (11%)
Creeck foi lido para a L. pelo seu irmão de 7 anos. Se divertiram muito e no aumento da criatividade (4%). Nesse sentido, há a necessidade de realizar um
brincando de adivinhar. O papai também brincou de ler. Adoramos a trabalho mais sólido com relação ao envolvimento da família com a leitura e a
experiência na qual todos leram brincando e a L. aproveitou muito esses brincadeira.
momentos, lendo o livro para todos nós.”
A
interação entre o ler e o brincar, presentes no Projeto Biblioteca Primeira
Infância, possibilita à criança ampliar suas descobertas, se expressar
por meio de diversas linguagens, reproduzir e ressignificar momentos
e interações entre elas. Nesse sentido, os mediadores – professores, a família, os
espaços e os materiais – têm um papel fundamental no processo.
É por meio desta perspectiva que este estudo buscou compreender o grande sig-
nificado que a leitura em interação com o brincar possui na aprendizagem e no
desenvolvimento integral da criança e na sua formação como um futuro leitor.
Durante todo o seu desenvolvimento, foi considerado o envolvimento da equipe
profissional da Instituição e das famílias.
Com isso, ressaltamos a grande contribuição do Projeto nos seguintes aspectos:
CONSIDE
dicidade e, ao manusear os livros, as crianças entram em contato com a grafia,
facilitando a aprendizagem da leitura e da escrita.
A aprendizagem ocorre quando as crianças têm oportunidade de serem críticas,
curiosas, confiantes na habilidade de resolver problemas e poderem expressar o
que pensam.
O Projeto propiciou essas experiências para as crianças permeadas pela intera-
RAÇÕES
ção delas com o meio e com as pessoas, estimulando sua autonomia por meio da
escuta de seus interesses, do acesso aos espaços, aos livros, brinquedos e a mate-
riais que possibilitaram uma grande influência no nível de desenvolvimento delas
com relação à iniciativa, comunicação, linguagem, criatividade por intermédio
de expressões simbólicas a artísticas, noções de matemática, natureza e sociedade.
Todas essas áreas de conhecimento foram contempladas no estudo.
FINAIS
O contato das crianças com os livros e materiais permitiu a convivência com histó-
rias e textos que as ajudarão a serem leitoras autônomas e críticas no futuro. Duran-
te as atividades na Biblioteca e nos momentos de contação de histórias, as crianças
tornaram-se mais participativas e ativas. Desse modo, acreditamos que a construção
do conhecimento tenha se mostrado mais interessante e desafiadora para elas.
36 Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos Contribuições da interação entre o ler e o brincar para os processos 37
de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos de aprendizagem da criança, nos aspectos sócio-cognitivos
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