Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 1
Psicopatologia na Aprendizagem
Concepções de aprendizagem
Como podemos ver, a exclusão das pessoas que apresentavam diferenças era uma
prática legitimada pelo modelo médico. Não havia sequer qualquer diferenciação entre
dificuldade de aprendizagem e déficit cognitivo.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 2
Esta visão mais qualitativa de avaliação da inteligência lançou luz sobre a importância
das atividades lúdicas na primeira infância. A ausência de situações de
brincadeira no desenvolvimento inicial causa prejuízos na esfera cognitiva difíceis de
serem revertidos. O exemplo do menino selvagem mostra que ele não desenvolveu
linguagem oral, somente pôde se tornar um pouco sociável, depois de tanto tempo
apartado do seu grupo, devido aos esforços de um professor em humanizá-lo,
oferecendo-lhe alguns suportes necessários.
O que aconteceu com o menino foi o que podemos chamar de uma deficiência
intelectual circunstancial ou contextual, devido à privação aguda de cuidados e
de uma língua. Se ele não tivesse sido estimulado, provavelmente teria sido mantido
no asilo para loucos, onde não teria desenvolvido aprendizagem alguma.
1) Promove perguntas capazes de ajudar a criança a focar a sua atenção nos seus
próprios processos de pensamento e encorajam-nas a “ocuparem-se em ‘pequenas
conversas’ similares com elas próprias”. Exemplo: “Como podemos encontrar uma
solução para este problema? O que devemos fazer primeiro? Como você descobriu
isso?”.
2) Promove atividades que exijam que conceitos, princípios e estratégias que são
aplicados aos contextos mais habituais sejam aplicados em uma variedade de
situações. Ao ensinar aos alunos da Educação Infantil os conceitos de muito e
pouco a partir de materiais concretos, a professora poderá fazer perguntas sobre
quantidades no momento em que estiverem no refeitório, por exemplo.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 3
3) Promove provocações ou solicita justificações. Um ambiente facilitador para a
aprendizagem deve ser capaz de comparar respostas corretas com incorretas.
Exemplo: “Como é que você sabe que esta deveria ser a resposta correta? Porque
esta é melhor resposta do que qualquer outra?”.
Desta forma, devemos levar em consideração que crianças e jovens com problemas
de aprendizagem são mais capazes de raciocínio lógico do que pensamos, já que,
como vimos anteriormente, possuem inteligência para se beneficiar das intervenções
e mediações.
Adaptações Curriculares
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 4
formais, como a escola. Neste contexto, as mediatizações são denominadas
“adaptações curriculares”. As adaptações curriculares podem ser entendidas como um
conjunto de modificações que se realizam nos objetivos, conteúdos, critérios e
procedimentos de avaliação, atividades e metodologia. (BRASIL, 1999)
Elas também podem ser de grande porte ou significativas e de pequeno porte ou não
significativas.
Para você refletir melhor sobre este tema, imagine uma escola que receba um aluno
com uma dificuldade específica de leitura e escrita – como é o caso da dislexia –, ou
seja, a escola garante a matrícula e o acesso, insere este aluno no ano de escolaridade
referente ao seu grupo de origem, de acordo com a idade cronológica, incentiva a
participação do aluno nos diversos momentos pedagógicos, mas não elabora
adaptações curriculares que respeitem as particularidades trazidas pela dificuldade que
ele apresenta.
O aluno, então, não terá disponíveis os materiais adaptados que permitem que os
procedimentos didáticos e as avaliações sejam realizados de forma justa.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 5
processual – deve ser a escolhida. Esta seria uma adaptação curricular do tipo
avaliativa.
A avaliação processual, mesmo nas escolas em que está presente, parece, porém, não
ser prioritária nos casos de dificuldade de aprendizagem. Fica a impressão de que,
justamente porque o aluno se mostra capaz de aprender em alguns contextos, e não
em outros, espera-se que ele supere sozinho as suas dificuldades e a avaliação de sua
participação em sala de aula fica em segundo plano.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 6
Adaptações no Acesso ao Currículo
- Mobiliário adequado;
- Equipamentos específicos;
- Recursos e materiais pedagógicos adaptados;
- Formas alternativas e ampliadas de comunicação;
- Modalidades variadas de apoio para participação nas atividades escolares;
- Adaptações arquitetônicas de acessibilidade e desenho universal.
Adaptações Organizativas
Do espaço
- Referem-se ao tipo de agrupamento de alunos para realizar as atividades, bem como
à organização didática da aula.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 7
- Seleção, inclusão e priorização de objetivos.
- Eliminação e acréscimo de conteúdos, quando for necessário.
Adaptações Avaliativas
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 8
5- Lugar onde aconteciam as lutas dos gladiadores.”
Podem ser:
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 9
2. Introdução de Atividades Complementares ou Alternativas Além das
Planejadas para a Turma
Agora veja como ficaria o texto adaptado para um aluno com déficit intelectual:
“Antigamente, a igreja tinha um papel muito forte na vida das pessoas. O padre era a
pessoa que informava a população sobre o que estava acontecendo e era ele também
que ordenava a distribuição para os pobres do dinheiro que a igreja recolhia. Foi assim
que surgiu a tradição do sermão, que é aquele momento da missa em que o padre dá
conselhos para os cristãos”. (Adaptado pela autora)
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 10
Adaptações na temporalidade
Consistem em:
Alteração no tempo previsto para realização das atividades ou conteúdos:
Este item, apesar de figurar no material apresentado pelo MEC como uma
possibilidade de adaptação na temporalidade para alunos com dificuldades de
aprendizagem ou problemas de desenvolvimento, se contrapõe a outro princípio
fundamental da LDB9394/96, que é a orientação para que crianças especiais
sigam com o seu grupo de origem independentemente das suas dificuldades.
Assim sendo, podemos compreender que aqueles alunos com dificuldades de
aprendizagem podem se beneficiar de um maior tempo em uma série, fase,
ciclo ou etapa, uma vez que será capaz de superar a dificuldade se uma nova
mediação for realizada, e para os alunos com impedimentos importantes caberia
seguir com o seu grupo de origem, já que sua dificuldade é estrutural, orgânica
e não será capaz de se beneficiar de uma nova mediação.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 11
As adaptações denominadas “de pequeno porte” ou “não significativas” são aquelas
elaboradas e realizadas pelo professor em sala de aula para que os alunos que
apresentem dificuldades de aprendizagem ou qualquer outro transtorno no
desenvolvimento possam se beneficiar do espaço escolar e aprender. É importante
lembrar que em uma escola inclusiva é aquela que precisa se adaptar às necessidades
dos alunos, e não o contrário.
Diagnosticar é, etimologicamente, “ver através de’” e, neste sentido, deve fazer parte
do ofício de quem ensina “ver” as condições de aprendizagem de quem aprende.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 12
depois de um período de alfabetização, isto é, depois de tentativas sistemáticas de
mediação a fim de ensinar leitura e escrita.
Comunicação;
Autocuidado;
Vida familiar;
Vida social;
Participação comunitária;
Autonomia;
Saúde e segurança;
Funcionalidade acadêmica;
Lazer e trabalho.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 13
Diante das diferenças apresentadas, a caracterização do contexto em que podemos
compreender a dislexia e o déficit cognitivo é muito importante.
Considere primeiro a especificidade da dislexia. Por definição, como já foi visto, trata-
se de um funcionamento específico do cérebro para a decodificação de símbolos
linguísticos, no nosso caso, símbolos grafofonêmicos, isto é, grafemas que
representam fonemas ou letras que representam sons. Por ser específico, nada tem a
ver com inteligência. Se isso é verdade, por que, então, o equívoco na avaliação?
Porque, em geral, as pessoas associam aprender a ler e escrever com inteligência e,
consequentemente, não aprender a ler e escrever com falta de inteligência. No caso
da dislexia, todas as habilidades que demonstram inteligência são depreciadas em
função do não domínio do código alfabético.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 14
Ao ser perguntado se sabia o que era um GPS, o aluno de uma turma do quarto ano
de escolaridade, prontamente, respondeu: “Sim, é um aparelhinho que mostra o
caminho quando a gente está no carro!”. Em seguida, a professora perguntou se ele
saberia explicar como um GPS funcionava. Diante do seu silêncio, seguiu-se uma
explicação sobre o significado da sigla e o seu funcionamento.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 15
O GPS, basicamente, funciona com uma constelação de 24
satélites (NAVSTAR) que orbitam a terra duas vezes por dia,
emitindo sinais de rádio a uma dada frequência para
receptores localizados na Terra, que podem ser até
portáteis (como um “palm”).
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 16
Todas estas interferências na transmissão civil são por
causa da possibilidade deste sistema ser utilizado
inadequadamente por terroristas, ou algo parecido. Então,
o DoD criou uma hierarquia de acesso aos dados onde os
“usuários autorizados”, o DoD, recebem dados com
precisão melhor, enquanto que os “usuários não
autorizados”, civis, recebem dados com precisão de 15 a
100 metros.
Fonte: http://www.infoescola.com/cartografia/gps-
sistema-de-posicionamento-global/
Dias depois desta aula, a mãe do aluno com transtorno de aprendizagem relatou que,
ao saírem de carro, a filho foi capaz de explicar como funcionava o GPS e, para a
surpresa da mãe, explicou ainda que este sistema não servia somente para pessoas
encontrarem os lugares onde iam, mas também servia para “vigiar” pessoas que
quisessem fazer mal para os americanos (sic).
Outro exemplo de como o PEI pôde auxiliar este aluno se deu através da provocação
ou solicitação de justificação em uma atividade denominada binômio fantástico, criada
por Gianni Rodari (1982), escritor italiano.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 17
Provavelmente se reuniriam em assembleia e fariam uma
cooperativa para trocar as pérolas por sua liberdade, em
negociação com o dono do zoológico. E, livres, teriam um
bem-sucedido escritório de advocacia criminal”. (RODARI,
1982)
Lev Semionovitch Vygotsky (1993) se tornou conhecido como o homem que percebeu
a determinação histórica da consciência e do intelecto humanos. É dele a ideia de que
o homem é modelado pelos instrumentos e ferramentas que usa, e como principal
ferramenta elegeu a palavra.
Vygotsky (1993) sugeriu que as crianças pequenas apresentam uma fase pré-
linguística, no que diz respeito ao uso do pensamento, e uma fase pré-intelectual,
quanto ao uso da fala.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 18
e duas larguras da superfície horizontal (larga e estreita).
Na face inferior de cada bloco, que não é vista pelo sujeito
observado, está escrita uma das quatro palavras sem
sentido: lag, bik, mur, cev. Sem considerar a cor ou a
forma, lag está escrito em todos os blocos altos e largos,
bik em todos os baixos e largos, mur nos blocos altos e
estreitos, e cev nos blocos baixos e estreitos. No início do
experimento, todos os blocos, bem misturados quanto às
cores, tamanhos e formas, estão espalhados sobre uma
mesa à frente do sujeito. O examinador vira um dos blocos
(a “amostra”), mostra-o e lê seu nome para o sujeito e pede
a ele que pegue todos os blocos que pareçam ser do
mesmo tipo. Após o sujeito ter feito isso, o examinador vira
um dos blocos “erradamente” selecionados, mostra que
aquele bloco é de um tipo diferente e incentiva o sujeito a
continuar tentando. Depois de cada nova tentativa, outro
dos blocos erradamente retirados é virado. À medida que o
número de blocos virados aumenta, o sujeito gradualmente
adquire uma base para descobrir a que características dos
blocos as palavras sem sentido se referem. Assim que faz
essa descoberta, as palavras passam a referir-se a tipos
definidos de objetos (por exemplo, lag para os blocos altos
e largos, bik para os baixos e largos), e assim são criados
novos conceitos para os quais a linguagem não dá nomes.
O sujeito é então capaz de completar a tarefa de separar
os quatro tipos de blocos indicados pelas palavras sem
sentido”. (VYGOTSKY: 1993, p. 49-50n)
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 19
pelo outro. Esta mediação se dá, primordialmente, através da palavra. Para o autor, a
unidade do pensamento verbal se encontra no significado das palavras.
As funções executivas são habilidades mentais que nos possibilitam atingir os nossos
objetivos. As principais funções executivas são:
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 20
Atividades Mediatizadas
Questionamento
O jogo consiste em escolher um tema e uma letra e dizer três itens do tema com
aquela letra em trinta segundos. A letra é “A” e o tema é “Países”. A criança com
dificuldade de aprendizagem fala “Austrália, Argentina e Angola” no tempo estipulado
e marca o ponto. O objetivo foi alcançado com sucesso, mas cabe ao mediador
questionar a criança sobre sua resposta. “Onde fica a Austrália?”, ele pergunta, e
diante da resposta “No Canadá” percebe-se que há um longo questionamento a ser
feito. Seguem-se, então, as perguntas: “A Austrália fica no Canadá? Mas o Canadá não
é um país? E como pode um país ficar dentro do outro? Vamos ver no mapa mundi
onde o Canadá e a Austrália aparecem? Já diante do planisfério, vamos procurar os
nomes dos países?” Depois de encontrar o Canadá no mapa, buscou-se a Austrália,
com dicas espaciais e a atenta leitura dos nomes escritos sobre os lugares.
A partir da experiência com esta proposta de mediação, seria possível propor à escola
do referido aluno a seguinte adaptação do conteúdo de geografia: trabalhar com os
mais diferentes ‘mapas mudos’, facilmente encontrados em papelarias, a visualização
de continentes, países e algumas cidades.
Transferência
Utilizamos o tipo de mediação (mediatização) denominado transferência quando
solicitamos à criança que aplique um conceito cognitivo, princípio ou estratégia
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 21
aprendido em uma situação a outro contexto. Costuma-se chamar o resultado de uma
transferência de generalização.
Provocação ou Justificação
Esta estratégia de mediação requer que se façam perguntas com o intuito de que a
criança desvende os caminhos que seu pensamento percorreu para chegar até a
resposta. Alguns exemplos são: ”Como é que você sabe que esta é a resposta
correta?”; ”Por que é que esta é a melhor resposta para este problema?”;” Você já
pensou se este fenômeno poderia ser explicado de outra forma? ” ou ”Você pode me
dizer ou mostrar como descobriu a resposta certa?”.
A partir destas colocações, crianças e adultos poderão empreender uma busca por
textos, imagens e vídeos explicativos do fenômeno que foi trabalhado.
Ensino de Regras
Quando a criança compreende por que uma regra é aplicável, saberá o que fazer em
uma situação similar.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 22
Exemplo:
“Podemos fazer uma regra acerca de como devemos fazer
este tipo de problema? Se os pássaros vermelhos têm
penas, os pássaros azuis têm penas, as águias têm penas
e os pardais têm penas, você consegue pensar numa regra
sobre os pássaros? Esta regra aplica-se ao falcão? E aos
pinguins?”. (FONSECA, 2009, p. 135)
Sistematização
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 23
Nesta aula, veremos como é possível reabilitar as funções matemáticas para alunos
com dificuldades de aprendizagem. Tal como vimos nas aulas anteriores, as atividades
mediatizadas deverão contemplar as estratégias de questionamento; transferência;
provocação ou justificação; ensino de regras e sistematização.
Questionamento
Veja um exemplo:
Fonte: http://www.sol.eti.br
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 24
Transferência
Perguntamos a dois alunos do terceiro ano do ensino médio qual conteúdo aprendido
na escola eles consideram que foi possível aplicar no cotidiano. Ambos concordaram
que regra de três é um conteúdo que utilizam em suas vidas.
Provocação ou Justificação
Para que crianças e jovens sejam capazes de comparar respostas corretas com
incorretas, é necessário ensiná-los a olhar de maneiras diferentes para os fenômenos.
A intencionalidade com que o examinador apresenta as questões deve produzir nos
alunos “novas formas de análise, comparação e verificação das respostas e novos
processos de atenção, processamento, planificação de dados e execução de
respostas”. (FONSECA: 2007, p. 135)
Veja alguns questionamentos que poderiam direcionar o debate com os alunos após
assistirem ao vídeo:
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 25
- Você já havia pensado nisto antes?
- A quem você sugeriria assistir a este vídeo?
Ensino de Regras
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 26
Ser capaz de aplicar a regra aprendida, como o fechamento da conta de um
restaurante ou o número de parcelas necessárias para saldar uma dívida, é uma
possibilidade de transferir o conhecimento adquirido a outros contextos de interação,
tal como vimos acima.
Sistematização
Quase sempre ouvimos que matemática se aprende fazendo exercícios. Por que é
assim? Porque números, quantidades, operações matemáticas estão ordenadas em
sistemas e se somos capazes de compreender a que regras obedecem estes sistemas,
seremos capazes também de calcular ou deduzir fórmulas matemáticas.
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 27
Referências
PSICOPATOLOGIA NA APRENDIZAGEM 29