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PORTFÓLIO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

I. IDENTIFICAÇÃO DO GRUPO

Curso: LETRAS-PORTUGUÊS
Disciplina: Prática Pedagógica: Desafios Contemporâneos
Nome do acadêmico: JOÃO RICARDO MACHADO TRINDADE Matrícula: 6198801

II. ATIVIDADES DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO 2° MÓDULO (DESCRIÇÃO)

O recorte de trabalho para contemplar esta prática pedagógica pautou-se no processo de


inclusão – hoje necessária e imprescindível – em qualquer ambiente formal de ensino. Nesse
contexto, a observação pretendeu descrever como a disciplina de Redação pode oferecer, em sua
prática, caminhos de melhor aproveitamento para os alunos que estão diagnosticados com algum
transtorno de ordem cognitiva e, principalmente, com ações inclusivas, como tais alunos são
capazes de alcançar nas avaliações a que são submetidos um resultado nominal mais satisfatório.
Para cumprir esse objetivo, foram escolhidos um aluno do 2º ano do ensino médio e outro do curso
Assistente (Pré-Vestibular). Entre as entrevistas com a diretora pedagógica e com o professor da
disciplina e as observações do trabalho prático, foram realizadas 9 visitas. Não é possível afirmar
que todos os alunos que carecem de atenção específica são contemplados com esse olhar e
cuidado porque o contexto da sala de aula com suas variadas e múltiplas demandas cotidianas
tisnam a visão dos educadores para essas individualidades, mas na disciplina de Rdação no Colégio
Ideal – objeto desta prática – há uma boa formulação que aponta para uma possibilidade bastante
consistente no processo de inclusão educacional.

III. INTRODUÇÃO (elaborado pelo grupo)

Os relatos a seguir referem-se às observações do ambiente escolar realizadas no contexto


da disciplina de Prática Pedagógica: Desafios Contemporâneos.
O acadêmico JOÃO RICARDO MACHADO TRINDADE realizou as observações do
ambiente escolar no COLÉGIO IDEAL, nos ambientes de sala de aula regular e no espaço
destinado exclusivamente ao atendimento individual de correção das produções de texto, no
período de 26/09/2023 a 07/11/2023. Entre os desafios observados, o que se mostrou mais
relevante no contexto desta disciplina, foi entender como alunos com transtornos cognitivos ou
com déficit de aprendizagem conseguem alcançar relativa autonomia nas produções de texto
dissertativo, que sempre exigem um alto grau de acuidade crítica, analítica e de conhecimento
interdisciplinar, como Sociologia, Filosofia e História.

IV. ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO (elaborado pelo grupo)

O momento da produção de texto é descrito por muitos alunos da educação básica como um
momento de angústia, já que eles ficam completamente expostos a possíveis fragilidades: domínio
lexical, segurança sintática e semântica, conhecimento de mundo e controle sobre a tipologia
textual. Essa angústia se adensa ainda mais quando se trata de alunos que estão dentro do
espectro autista ou diagnosticados com TPAC (Transtorno do Processamento Auditivo Central), por
exemplo, uma vez que a sua condição individual não permite a mesma percepção e expressão de
ideias como ocorre com aluno que estão fora dessa realidade que exige processos inclusivos
específicos para cada caso. Entretanto, os processos avaliativos nasceram com a premissa da
massificação: todos os alunos devem estar aptos a responderem às mesmas provas, supondo que
todos eles tiveram a mesma oportunidade de aprendizagem e a mesma capacidade de
decodificação dos conceitos. Hoje o avanço dos estudos psicológicos e psiquiátricos demonstra que
cada indivíduo tem sua velocidade de compreensão e apreensão dos conteúdos e que a escola
(junto com a família) deve desenvolver e aplicar métodos que ofereçam aos alunos e suas
especificidades naturais a condição de igualdade de aproveitamento.
O objetivo principal desta observação foi compreender como o ensino tem oferecido tal
possibilidade inclusiva aos alunos que necessitam desses instrumentos.

V. TEXTO DISSERTATIVO COM FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA (elaborado pelo grupo)

UM OLHAR HUMANIZADO SOBRE A PRODUÇÃO TEXTUAL

Ao pensar o processo educacional de ensino e aprendizagem no século XXI, serão


encontrados perfis bem distintos se comparado com o papel das escolas até o século passado.
Um ponto distintivo essencial encontrado nessa comparação é a meta nº 4 das Diretrizes Gerais
do PNE/2014-2024. Nessa meta está descrito que “a inclusão de portadores de necessidades
especiais e com transtornos de aprendizagem é um objetivo presente em todas as políticas
educacionais de teor humanista”. Dessa maneira, de acordo com esse documento, além de
universalizar o acesso à educação básica para toda a população de 4 a 17 anos, é necessária a
adaptação e utilização de espaços e recursos educacionais que permitam concretamente a
escolarização desse segmento. O espírito da lei é irretocável, mas, infelizmente, parece óbvio que
a letra não corresponde à realidade dos alunos que necessitam dessa intervenção, uma vez que
nos processos avaliativos da escola predominam os aspectos qualitativos que visam, sobretudo, à
correspondência daquilo que é considerado média aceitável pelo Exame Nacional do Ensino
Médio e demais meios vestibulares que buscam um valor nominal, mas não qualitativo do aluno. E
nesse ínterim como ficam os alunos tipificados como portadores de necessidades especiais, por
sua condição física ou cognitiva? É necessário que as escolas universalizem não só o acesso do
aluno à instituição, mas também a sua garantia de acesso ao conhecimento e seus benefícios
práticos, afinal só a educação é capaz de promover a mobilidade social dos indivíduos.

Em sociedades de países em desenvolvimento, muitas pessoas têm acesso restrito ou


limitado aos direitos e recursos necessários para uma participação efetiva e plena na sociedade.
Não existe, sob esse prisma, cidadania parcial. Ou os indivíduos têm todos os seus direitos civis,
políticos e sociais garantidos ou ele não é cidadão. Foi a isso que o renomado geógrafo brasileiro
Milton Santos chamou de Cidadania Mutilada (SANTOS, 2000). Um dos principais direitos
violados, nesse caso, é a educação. A contemporaneidade exige uma nova dinâmica das politicas
públicas. É importante que todas as crianças em idade escola estejam na escola. Mas isso não é
tudo. Estar na escola é o primeiro passo para efetivação da cidadania plena, entretanto, além da
presença regular nas instituições, as crianças e adolescentes têm de ser compreendidos e
atendidos em suas necessidades essenciais. O que a realidade nos demonstra é essa educação
ideal ainda está distante. Embora haja esforços nos setores públicos e privados para efetivar os
cenários de inclusão, a realidade para muitos desses jovens é desanimadora.

Nesse cenário, desenha-se um traço impeditivo que é o financeiro. A fim de ofertar os


aparatos instrumentais que efetivem a inclusão educacional, é preciso pensar investimento em
formação docente, contratação de equipe multidisciplinar e ampliação de carga horária de
professores e de componentes curriculares. Mesmo que haja sinais que apontem para algumas
modificações no quadro tradicional das escolas, ainda são tímidos os passos dados nessa
direção. A triste consequência disso, é um panorama de desânimo e de alunos sendo taxados
como incapazes, desinteressados, preguiçosos, incompetentes. Essa situação se agrava ainda
mais com os resultados das avaliações, quando se materializa, em forma de notas, a inadequação
entre as formas tradicionais de provas e a necessidade de um novo olhar sobre aqueles que
carecem de um acolhimento mais voltado para suas especificidades e de formas de avaliação que
sejam mais operatórias que levem o aluno a romper com uma única forma de resposta esperada e
que o levem a relacionar-se com os conteúdos de forma crescente: primeiro identificando os
conceitos, depois explicando esses conceitos e finalmente emitindo juízo de valor sobre eles. A
prova operatória tem o grande mérito de romper com a clássica forma de perguntas e respostas,
interrompendo de maneira drástica o ciclo maniqueísta que só estabelece o certo e o errado, o
falso e o verdadeiro. Mas o processo de educação vai muito além de redução a um gabarito
monoliteral. De acordo com RONCA e TERZI (2018, p. 37):

Essa prova, como já dissemos, tem a intenção de orientar o aluno passo a passo,
deixando sempre muito claras as intenções das questões. Parte delas podem ser
apresentadas a partir de um texto a ser cuidadosamente lido. O texto tem como meta
apresentar o contexto, tornando a análise obrigatoriamente mais profunda e
abrangente. As questões não são mais isoladas, fragmenta das ou subtraídas da
conjuntura existencial.

Os autores chamam a atenção, ainda, que, no caso de alunos dentro do perfil da educação
inclusiva, o sistema de avaliação pode ser acrescido com o papel de um mediador, ou transcritor
ou ledor, conforme a necessidade do aluno. É esse empenho da equipe técnico-pedagógica que
pode transformar o processo de recepção dos alunos com algum nível de déficit na
aprendizagem, levando-os a um outro nível de relação com o ensino e possibilitando que outros
benefícios surjam como consequência.

A experiência observada no Colégio Ideal aponta para a veracidade de como a mediação


oferecida a alunos autistas e com TPAC surte efeitos positivos. A produção autônoma de
Leonardo Vieira, aluno da 2ª série do Ensino Médio e diagnosticado, desde os 4 anos de idade, no
espectro autista, não apresenta unidade informativa nem obedece à tipologia textual exigida. Mas,
a cada semana, o aluno tem um horário agendado para um atendimento individual com um
professor que orienta a produção textual e, quando necessário, propõe a refacção da redação.
Em pouco menos de dois anos nesse sistema de orientação, individualizado, dentro da realidade
do aluno, o seu rendimento saltou de 4,5 para 7,8, demonstrando que inclusão não é apenas
aceitar a matrícula do aluno com necessidades especiais, mas, para muito além disso, oferecer-
lhes os meios para que eles possam, de fato, usar a educação como um meio de transformação
de sua realidade.

Resultado semelhante é visto com a aluna Isadora Dantas, matriculada no Pré-Vestibular


da mesma escola. Isadora é diagnosticada com TPAC. Esse transtorno a leva a muitos desvios
decorrentes da troca de letras na escrita, podendo inverter letras parecidas (b, d, p, q) ou troca
letras com sons parecidos (p/b, t/d, f/v, m/n); pouca habilidade ortográfica além de uma caligrafia
que apresenta dificuldade de ser compreendida. Essa condição do Transtorno do Processamento
Auditivo Central, geralmente, é entendida pelos professores apenas como desvios de língua
portuguesa, que nominalmente leva a uma perda significativa na nota da avaliação, não
expressando necessariamente o nível real da habilidade linguística do aluno. Mais uma vez, com
os atendimentos individualizados, o professor atua como um ledor e transcritor, distinguindo o que
é desvio da norma padrão e de convenções sintáticas e morfológicas e o que é provocado pelo
TPAC. Essa conduta oferecida pela escola levou a aluna, inclusive, a ampliar a sua nota no
Exame Nacional do Ensino Médio tanto pelo processo de correção adequada à sua condição
quanto pela segurança de ter adquirido autoconfiança no seu desempenho intelectual, já que não
fora taxada como incompetente.

Dessa forma, é razoável pensar que os esforços que o Estado e a iniciativa privada
promovam em favor de uma efetivação da inclusão educacional serão revertidos naquilo que é
denominado como cidadania integral. A educação é um direito, mas para ser significativo como
tal, a segregação tem de ser rejeitada a e integração tem de ser ressignificada para que todos se
beneficiem dos efeitos que ela é capaz de produzir. Há histórias tristes de exclusão, mas há
experiências, como a promovida pelo colégio Ideal em Aracaju, com os atendimentos
individualizados para os alunos do Ensino Médio, ou como a crescente “cultura maker”, que
demonstram que, sim, é possível as escolas corresponderem às expectativas e exigências dos
novos tempos. Entretanto, ainda são ações tímidas frente à demanda que a questão apresenta. É
necessário que esse momento de contato individual entre aluno e professor seja ampliado para
todas as séries do Ensino Fundamental Maior e Ensino Médio e que sejam oferecidas
capacitações aos professores a fim de que a percepção desses profissionais seja um instrumento
a mais na efetivação de uma educação que atenda significativamente a todos.

REFERÊNCIAS CITADAS:

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
Rio de Janeiro: Record. 2000.
RONCA, Paulo Afonso Caruso; TERZI, Cleide Amaral. A Prova Operatória: Contribuições da
Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Questão Demais. 2018.

VI. DOCUMENTOS, PRODUÇÃO E EVIDÊNCIAS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA


(produções individuais - anexar o que está sendo solicitado)

ANEXO 1:
1. Texto Síntese das Observações do Acadêmico 1
2. Declaração de Comparecimento e Frequência do Acadêmico 1
ANEXO 1 – Registros do Acadêmico 1

O que pude perceber no processo de observação e acompanhamento da


acompanhamento individualizado é que a escola faz um investimento significativo para que
os alunos tenham uma orientação condizente com as suas necessidades de fato, não
importando se eles possuem relatórios atestando déficits ou transtornos na aprendizagem.
É um direito que eles têm dentro da instituição e essa prática tem contribuído tanto para a
vida acadêmica quanto para a garantia da autoestima de cada um deles. O Colégio Ideal
mantém, pelo que percebo, uma equipe de psicólogos e psicopedagogos bastante ativa
para essa demanda, não se limitando, entretanto, a essas ações. As disciplinas que
costumam oferecer mais dificuldade, como Matemática e Ciências da Natureza, têm carga
horária estendida com o objetivo de os alunos terem aulas práticas e de exercícios
orientados por outros professores que não necessariamente aqueles que os acompanham
nas aulas regulares. Certamente há muitos caminhos que podem ser criados, ampliados,
melhorados, mas não há dúvida de que há um olhar humanizado voltado para o grupo
discente.

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